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HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA NO BRASIL

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HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA NO BRASIL
Na Idade Antiga (entre 4000 a.C. e 395 d.C.) houve uma grande preocupação com doenças e cuidados com o corpo. Neste período salienta-se uma forte preocupação com as doenças (chamadas “diferenças incômodas”), e uma maior preocupação em eliminá-las através de técnicas, instrumentos, procedimentos, etc., fazendo uso de agentes físicos como finalidade terapêutica, como por exemplo os movimentos corporais como meio terapêutico que já eram utilizados vários séculos antes da era cristã, ou ainda a utilização do “peixe elétrico” no tratamento de algumas doenças, o equivalente hoje à eletroterapia. Percebe-se nestes relatos a pretensão de curar o indivíduo, caracterizando maior ênfase com a ação terapêutica voltada a partes isoladas do corpo.
Em 2.698 a.C., o Imperador chinês Hoong-Ti criou um tipo de ginástica curativa que continha exercícios respiratórios e exercícios para evitar a obstrução dos órgãos.
Galeno (130 a 199 d.C.) aplicava princípios de ginástica corretiva baseada em tronco e pulmões para reeducação torácica.
Embora na Grécia antiga em algumas regiões vigorasse a concepção de “Mens Sana in Corpore Sano”, essa preocupação não chegou a ter grande influência nas ações relativas aos cuidados com o corpo.
Na Idade Média (entre séc. IV e XV) a sociedade dividia-se em clero, nobreza e camadas populares. O camponês devia trabalhar, a nobreza guerrear e o clero era responsável pelo serviço divino, onde a fé era uma obrigação do homem da época. A administração da sociedade e as ideias vigentes refletiam uma organização social que interessava aos que dela se beneficiavam e procuraram perpetuar essa conveniência. O acúmulo de bens materiais era condenado, pois interessava ao sistema de poder as relações de servidão, onde uma minoria era beneficiada por meio da produção dos camponeses. Houve pouco avanço dos estudos e da atuação na área da saúde, o corpo humano era considerado como algo “inferior”, tudo que acontecia com o corpo era causado pelo que acontecia dentro dele; as salas dos doentes ficavam bem ao lado das capelas e possuíam altares, dificultando pelo espaço a realização de exercícios.
As camadas mais privilegiadas, nobreza e clero, começaram a se interessar por uma atividade física dirigida para o aumento da potência física (controle da população, bens e guerra), e para os camponeses a atividade física era um tipo de lazer barato e acessível, que compensava as más condições em que viviam e trabalhavam. Essas concepções do uso do exercício foram difundidas mais concretamente no Renascimento, que veio imediatamente depois.
 
O Renascimento (período compreendido entre o séc. XV e XVI) foi um movimento artístico e literário que se iniciou na Itália e depois difundiu-se em toda Europa; houve o desenvolvimento da arquitetura, escultura, pintura, artes decorativas, literatura, música e também de estudos relativos aos cuidados com o corpo e a revitalização ao culto do físico.
Neste período, a beleza do homem foi mais valorizada, e os valores rígidos sofreram uma decadência; houve o surgimento inicialmente das Universidades onde buscava-se conhecimentos e compreensão do mundo. Hieronymus Mercurialis, professor de medicina em Pádua, Itália, foi o autor da obra De Arte Gymnastica, de 1569 e desenvolveu os princípios da ginástica médica:
exercícios para conservar um estado saudável já existente
regularidade no exercício
exercícios para enfermos cujo estado pode exacerbar-se
exercícios individuais especiais para convalescentes
exercícios para pessoas com ocupações sedentárias
Neste período a preocupação não se dirigia somente para o “tratamento” ou para o “corpo doente”, mas também para a manutenção dos indivíduos considerados sãos, fortalecendo o conceito da medicina preventiva. Ao final do Renascimento, o interesse pelo corpo denota sinais de especialização, onde diversos autores produziram trabalhos relativos ao exercício físico com influência no mundo ocidental, como por exemplo Don Francisco y Ondeano Amorós que não era médico e definiu a Cinesioterapia da seguinte maneira:
manutenção de uma saúde forte
tratamento de enfermidades
reeducação de convalescentes
correção de deformidades
No ano de 1864, a Sociedade Médica de Berlim apoiava a ginástica para moças e diferenciava os exercícios para enfermos dos exercícios para pessoas sadias. A partir daí, as ações profissionais eram realizadas de acordo com a população a ser atendida, mas ainda com uma visão restrita ao atendimento de indivíduos já lesados.
 
A Industrialização (entre o séc. XVIII e XIX) foi um período caracterizado por grandes mudanças sociais, houve o aparecimento da mecanização e aumento dos sistemas de produção com uma intensificação do trabalho operário, mudando de certa forma o conceito de corpo.
As jornadas de trabalho eram estafantes (16hs/dia), associadas a condições precárias de moradia e más condições de trabalho com o aparecimento de doenças até então pouco frequentes e conhecidas, do alcoolismo, etc.
O aumento do número de acidentes de trabalho fez com que a metodologia científica até então voltada para construção de máquinas e formação de engenheiros fosse canalizada também para as Escolas de Medicina. O saber médico estava a serviço das classes dominantes, às quais não convinham modificações profundas nas relações de trabalho, sob pena de diminuir a produção; interessava mais o tratamento puro e simples das doenças decorrentes da condição adversa de trabalho do que mudar esta situação.
Essa forma de tratamento dada às relações do homem com seu trabalho influenciou grandemente as atividades profissionais e áreas de estudo ligadas à saúde do homem, concentrando esforços na busca de novos métodos de tratamento. A preocupação passou a ser o doente, descontextualizado de todas as contribuições que contribuíram para a industrialização da doença.
Houve o surgimento do atendimento hospitalar, onde o hospital, além de prestar atendimento aos doentes, serviu na época como local de treinamento de profissionais destinados ao atendimento à população, com ênfase no tratamento das doenças, mas também servindo como laboratório de estudos clínicos e anatômicos. Esse direcionamento da pesquisa contribuiu para o surgimento das especializações, ainda no séc. XIX.
Surgem então na Medicina as especialidades da dermatologia, pediatria, oftalmologia, otorrinolaringologia entre outras, derivadas de um tronco central formado pela cirurgia, obstetrícia e clínica médica.
No início do século, Klapp desenvolveu seus exercícios na “posição de gato”, para tratamento da coluna vertebral. Kohlransch (1920) criou um tratamento para enfermidades ginecológicas, baseado em exercícios terapêuticos.1
As grandes guerras contribuíram de forma decisiva para a fragmentação das áreas de atuação, com seus mutilados e sequelados. As epidemias de poliomielite influenciaram também fortemente o desenvolvimento da Fisioterapia em grande parte do mundo. A primeira grande epidemia de poliomielite nos Estados Unidos ocorreu em 1916, levando a milhares de mortes. O presidente norte-americano Franklin D. Roosevelt contraiu a pólio em 1921 e criou a Fundação Nacional para Paralisia Infantil, que investiu mais de um milhão de dólares para o avanço da Fisioterapia em seu tratamento. Acredita-se que a poliomielite teve uma enorme contribuição para o desenvolvimento da Fisioterapia e suas técnicas em todo o mundo.2
Escolas de cinesioterapia foram criadas a partir de clínicas universitárias, as especializações de tratamento tornaram-se convenientes ao sistema existente, pelo compromisso implícito com a recuperação da parte afetada, sem se preocupar com as causas que originaram as doenças.1
Fazendo parte da “área da saúde” e tendo sofrido oscilações no decorrer da história, a Fisioterapia teve os seus recursos quase que exclusivamente direcionados a uma prática de atendimento ao indivíduo doente. O próprio nome “Fisioterapia” já evidencia esta atuação terapêutica, sob as formas de Cinesioterapia, Eletroterapia, Termoterapia, Massoterapia,Crioterapia. O objeto de trabalho da fisioterapia parece, hoje, não se apresentar de forma muito diferente daquela época do seu surgimento, quando havia a preocupação com as “diferenças incômodas”. Essa somatória de fatores gerou avanços tecnológicos para muitos campos e atividades, ao mesmo tempo em que gerou uma diferença e um compromisso com essa concepção do papel do Fisioterapeuta.
No período do descobrimento, segundo as descrições, os índios que ocupavam a região litorânea do Brasil eram robustos e ágeis, e desconheciam as mortais enfermidades que atingiam milhares de vidas no continente europeu neste período. No século XVII a recém descoberta colônia portuguesa era chamada de “inferno” , pois nela haviam poucas chances de sobrevivência sobretudo devido à grande quantidade de enfermidades que atingiam a todos, colonizadores brancos e escravos africanos.
Foram criados os cargos de físico-mor e cirurgião-mor pelo órgão responsável pela administração das colônias (Conselho Ultramarino Português) para zelar pela saúde da população, mas raros profissionais aceitavam transferência para o país devido a baixos salários e por medo dos conflitos e guerras entre colonizadores e indígenas. Os tratamentos médicos eram baseados em purgantes e sangrias (ato de extrair o sangue do doente com o objetivo de curá-lo) que enfraqueciam e levavam os doentes à morte e a população preferia utilizar o tratamento dos curandeiros negros ou indígenas.
Em 1746 havia apenas seis médicos graduados em universidades européias que eram considerados caros, bem mais do que os chamados boticários (espécie de farmacêuticos) que se negavam a atender enfermos sem dinheiro. A ausência de serviços de saúde eficientes fazia com que a orientação dos médicos só fosse aceita em épocas de epidemia, por exemplo, em surtos de varíola. Sugere-se que a varíola tenha chegado ao continente americano com os escravos africanos provocando um grande número de mortes de índios e escravos.
A vinda da Corte Portuguesa para o Brasil em 1808 determinou mudanças na administração pública colonial, inclusive na área da saúde, onde o Rio de Janeiro era o centro das ações sanitárias. Havia a necessidade de se criar rapidamente centros de formação de médicos, então por ordem real, foram fundadas as academias médico-cirúrgicas do Rio de Janeiro (1813) e da Bahia (1815), logo transformadas nas duas primeiras escolas de medicina do país.
Em 1796 foi criada a vacina contra a varíola pelo médico inglês Edward Jenner, produzida com o pus retirado de bovinos infectados pelo vírus da varíola, que teve rápida aceitação no mundo ocidental.
Em 1828 foi organizada a Inspetoria de Saúde dos Portos, e todas as embarcações suspeitas de transportarem passageiros enfermos passaram a ser obrigatoriamente submetidas a quarentena, numa ilha próxima à Baía de Guanabara.
Alguns médicos concluíram que as enfermidades cariocas eram causadas pelo “ar corrompido” que, vindo do mar, pairava sobre a cidade. Por precaução orientavam os mais ricos a se afastarem da Corte nos períodos de crise sanitária e procurassem refúgio nas cidades serranas, principalmente em Petrópolis. Para aqueles que não podiam sair do Rio de Janeiro, os médicos proibiam o consumo de bebidas e frutas geladas que, segundo eles, facilitavam as infecções; e ainda convocavam a milícia a disparar periodicamente tiros de canhão para movimentar o ar e afastar os perigosos “miasmas” estacionados sobre a cidade.
Em casos de doenças graves, os doentes ricos buscavam assistência médica na Europa ou em clínicas particulares, e os pobres buscavam ajuda nos curandeiros negros; os doentes tinham medo de serem internados nas Santas Casas e hospitais públicos, em suas enfermarias era comum dois ou mais doentes dividirem o mesmo leito. Até o fim do Império, o Estado não solucionou os graves problemas de saúde da coletividade, apesar de Dom Pedro II ser sempre lembrado como monarca que incentivava as pesquisas científicas e premiava intelectuais que se destacavam no Brasil e no exterior.
Em 1498 a regente portuguesa dona Leonor fundou o primeiro hospital da Santa Casa de Misericórdia na vila de Santos, cumprindo a promessa cristã de socorrer todos os enfermos, principalmente os mais pobres, depois foram fundadas a do Espírito Santo, da Bahia, do Rio de Janeiro e da vila de São Paulo, ainda no séc XVI.
Século XIX
Em decorrência do desenvolvimento da Medicina europeia, por volta de 1879 e 1883 surge no Rio de Janeiro o gabinete de Eletroterapia da América do Sul, e em 1871 a Casa das Duchas, que utilizava água doce e água do mar para tratamento das doenças.1
Século XX
O surgimento da Medicina inicialmente e do profissional Fisioterapeuta posteriormente, tem origem nas Grandes Guerras Mundiais, devido ao número enorme de indivíduos feridos e incapacitados físicos, na sua maioria jovens com expectativa de futuro, necessitando restituir suas capacidades individuais e sociais.1
Década de 20
A prática de Fisioterapia no Brasil iniciou em 1919, com a fundação do Departamento de Eletricidade Médica pelo Professor Raphael de Barros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.2
Dez anos mais tarde, em 1929, o médico Dr. Waldo Rolim de Moraes instalou o serviço de Fisioterapia do Instituto do Radium Arnaldo Vieira de Carvalho no local do Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Ele ainda planejou e instalou, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o Serviço de Fisioterapia do Hospital das Clínicas de São Paulo.2
Década de 30/40
Em 1932 foi inaugurada na Faculdade de Ciências Médicas no Rio de Janeiro a cátedra de Fisioterapia Médica, reconhecida como a primeira escola de Medicina do Brasil a ensinar Fisioterapia para seus estudantes, mas apenas em 1947 foi inaugurado o primeiro serviço de Medicina Física e Reabilitação no Rio de Janeiro1. Paralelamente, no Estado do Rio Grande do Sul, o Hospital São Luiz Gonzaga fundado em 1941, iniciou em 1945 um serviço de laborterapia, destinado a oferecer ocupações aos pacientes tuberculosos internados.1
A partir de 1930, diversas capitais brasileiras foram fortemente afetadas pela paralisia infantil: Porto Alegre (1935), Santos (1937), São Paulo e Rio de Janeiro (1939). Nos anos 40, Belém (1943), Florianópolis (1943 e 1947), Recife (1946) e Porto Alegre (1945)39.3
Em São Paulo, no ano de 1946, Maria Hecilda Campos Salgado fundou o Lar Escola São Francisco, com o objetivo de atender crianças portadoras de necessidades especiais, sendo que em 1991 foi firmado um convênio com a Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo para melhor aperfeiçoar o serviço prestado.1
No Rio de Janeiro, a antiga Escola Nacional de Educação Física e Desportos da Universidade do Brasil - ENEFD (atualmente Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ) e a Escola de Educação Física do Exército ofereciam disciplinas de fisioterapia na formação de educadores físicos e de médicos especializados em medicina desportiva61. O professor Camilo Abud, catedrático em fisioterapia da ENEFD, ministrou também cursos de “instrução de recuperadores”, “treinamento e massagem” e formação em massagem desde a criação da Escola em 1939. Os serviços de fisioterapia existentes em diversos hospitais do Rio de Janeiro (Hospital Carlos Chagas, Barata Ribeiro e Santa Casa de Misericórdia) treinavam seus próprios funcionários em serviço ou recebiam os egressos dos cursos ministrados pelo professor Camilo Abud.3
 
Década de 50/60
No Brasil, as Instituições de Reabilitação surgiram efetivamente pela grande epidemia de poliomielite na década de 50. A ONU-Organização das Nações Unidas tinha como meta a implantação de um Instituto de Reabilitação em um país da América Latina, e foi escolhida a cidade de São Paulo que na época tinha um grande número de pessoas que necessitavam de reabilitação, em função do grande número de fábricas (29.000) e 840.000 operários1.
Nesse período a Fisioterapia era voltada ao tratamento principalmente de Doenças OcupacionaisRelacionadas ao Trabalho (DORT), decorrentes de um processo crescente de industrialização no Brasil, por influência de princípios tayloristas que defendiam a adaptação do homem à máquina, e visavam ter o the right man in the right place, ou seja, “o homem certo no lugar certo”.4
A cidade na época já contava com o Hospital das Clínicas, um hospital-escola com foco na pesquisa, ensino e treinamento de seus profissionais, que teve seu projeto de complexo hospitalar finalizado entre 1938 e 19441.
Além das DORTs, a partir da década de 1950, ocorreu no país uma alta incidência da doença Poliomielite, deixando muitos portadores com sequelas motoras e, apesar de todo o crescimento da Fisioterapia que era aplicada somente pelo médico, foi necessária a formação de auxiliares de médicos para a reabilitação desses pacientes.4
Segundo o Glossário do Ministério da Saúde (2011, p.1566): “A poliomielite ou ‘paralisia infantil’ é uma doença infectocontagiosa viral aguda, caracterizada por um quadro de paralisia flácida, de início súbito. O déficit motor instala-se subitamente e a evolução dessa manifestação, frequentemente, não ultrapassa três dias. Acomete em geral os membros inferiores, de forma assimétrica, tendo como principal característica a flacidez muscular, com sensibilidade conservada e arreflexia no segmento atingido. Esta doença encontra-se erradicada no país desde o início dos anos 90, em virtude do êxito da política de prevenção, vigilância e controle desenvolvida pelos três níveis do Sistema Único de Saúde (SUS)”.4
Em São Paulo, ainda no início da década de 50, instalada a epidemia de poliomielite, o Instituto de Ortopedia e Traumatologia tinha a função de receber esses casos, quando em 1953 foi inaugurado o prédio da Clínica Ortopédica e Traumatológica, onde em uma das alas ficava a Reabilitação Ortopédica. No Serviço de Fisioterapia foi instalada uma piscina de água quente com 54m² de área, dois tanques de Hubbard, um turbilhão, além de cubículos destinados aos diferentes tratamentos mecânicos e elétricos, sendo o local de maior movimento do Hospital; todo o material necessário e indispensável como fornos de Bier, ultra-som, aparelhos de Ondas Curtas, ultravioleta, etc se distribuíam por esses compartimentos.1
As primeiras instituições de ensino a formar fisioterapeutas regularmente no país, antes mesmo da regulamentação da profissão, foram a Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro (ERRJ), em 1956, o Instituto de Reabilitação de São Paulo (INAR), em 1958, e a Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (Fundação Arapiara), em 1962.3
Em São Paulo, existia a formação de técnicos para trabalharem em hospitais. Um exemplo deste tipo de formação foi o curso “Raphael de Barros”, oferecido no início dos anos 1950. O objetivo da formação era capacitar profissionais auxiliares médicos chamados de “técnicos operadores em fisioterapia”, em um curso com um ano de duração. A formação era uma exigência para todos que trabalhavam no serviço de fisioterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP. Este curso teve início em 1951 e encerrou suas atividades em 1956. O curso regular do Instituto de Reabilitação em São Paulo (ligado à USP) iniciou sua primeira turma em 1958. De acordo com Robin F. Hindley-Smith, médico consultor da Organização Mundial de Saúde (OMS), e um dos responsáveis pelo curso do INAR, a primeira turma de técnicos em fisioterapia graduou-se no final de 1959, após a conclusão de um curso regular de dois anos de duração. Foi estabelecida cooperação internacional com a USP para a criação do Instituto de Reabilitação (INAR). As Nações Unidas participaram do planejamento geral, próteses e fisioterapia; a Oficina Internacional do Trabalho (OIT) participou da orientação profissional e recolocação para o trabalho; e a Organização Mundial da Saúde tomou parte com a Medicina Física e coordenação de programas. O projeto era tornar o INAR um modelo de reabilitação para outros países da América Latina. De acordo com o relatório das Nações Unidas sobre a formação dos fisioterapeutas, no INAR eram oferecidos cursos com dois anos de duração. Segundo o mesmo relatório, a Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro já havia instituído anteriormente um “programa especial para a formação de fisioterapeutas”, baseado em um plano de estudos de três anos.3
Este Instituto surgiu do esforço de alguns médicos brasileiros, entre eles o Professor Godoy Moreira (catedrático de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP), por meio de entendimentos com algumas organizações como: a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a World Confederation for Physical Therapy (WCPT).
Em 1959 foi criada a Associação Brasileira de Fisioterapeutas (ABF), que se filiou a WCPT (World Confederation for Physical Therapy), cujo objetivo era buscar o amparo técnico-científico e sócio-cultural para o desenvolvimento da profissão. Somente no dia 13 de outubro de 1969, a profissão adquiriu seus direitos, por meio do Decreto-lei nº 938/69, no qual a Fisioterapia foi reconhecida como um curso de nível superior e definitivamente regulamentada.5
A criação do INAR em São Paulo fez parte de um projeto mais amplo de criação de vários Institutos na América Latina e foi a partir daí que se iniciou o primeiro curso de Fisioterapia com padrão internacional mínimo, com duração de dois anos para atender aos programas de reabilitação, que a OPAS quis desenvolver na América Latina.2
Os cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (TO) da USP por estarem vinculados ao Instituto de Reabilitação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IR-FMUSP) foram reconhecidos e regulamentados em 1967, com duração de três anos, carga horária mínima de 2.160 horas e disciplinas mais voltadas à reabilitação e não às especificidades da saúde, como Fundamentos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Ética e História da Reabilitação, e Administração Aplicada e Matérias específicas, como Fisioterapia Geral e Fisioterapia Aplicada.2
De forma diferente, a formação na ERRJ, além de não ter sido realizada dentro de uma instituição pública como em São Paulo, não teve seu currículo definido pela OMS, foi iniciada como de nível superior desde o início e inspirada nos currículos de países desenvolvidos da América do Norte e Europa, com duração de três anos.3
O fisioterapeuta, neste momento, passou a ser um profissional de nível superior, porém, com a função de Auxiliar Médico e com atividade de fisioterapia somente recomendada pelo médico. Suas práticas terapêuticas, apesar do conhecimento teórico, ficaram restritas à execução de técnicas, aprendizagens e exercícios, cabendo ao médico o diagnóstico da doença.4
Neste período, a autonomia do profissional fisioterapeuta avançou, devido à regulamentação da profissão, em 13 de outubro de 1969, com o Decreto-Lei n° 938, que assegura o exercício da profissão de fisioterapeuta não mais como Auxiliar Médico, mas determinando a fisioterapia como atividade privativa do fisioterapeuta. Assim, o diagnóstico, que antes era função do médico, passou a contemplar um dos atos profissionais do fisioterapeuta.4
 
Década de 70
Faltava, ainda, à Fisioterapia um órgão fiscalizador da profissão. Isso ocorreu em 17 de dezembro de 1975 com a promulgação da Lei n° 6.316/75, que determinou a criação do Conselho Federal e Conselhos Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, com a incumbência de fiscalizar o exercício das profissões de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional. Ambos consolidam a legalidade da Fisioterapia no Brasil, que atendem aos preceitos éticos e deontológicos do profissional e da profissão.4
Até esse momento, por meio do Decreto no 72.493, de 19 de julho de 1973, o fisioterapeuta no Serviço Público Federal (SPF) era enquadrado na categoria funcional de “Técnico de Reabilitação”, e não como Fisioterapeuta, mesmo sendo de nível superior e legalmente reconhecido, ao contrário de outros profissionais da saúde como enfermeiros, médicos, psicólogos,nutricionistas, odontólogos, farmacêuticos, médicos veterinários, que já estavam enquadrados no Serviço Público Federal. Sua inclusão como categoria funcional de fisioterapeuta no Grupo – “Outras Atividades de Nível Superior”, e não mais como “Técnico de Reabilitação”, ocorreu somente em 10 de dezembro de 1984, por meio do Decreto n° 9.640/8 4 que, então, permitiu isonomia no trabalho, frente a outras profissões da área da saúde. Quanto à carga horária, o artigo 5º do mesmo Decreto n° 9.64 0/84 determina que os integrantes da Categoria Funcional de Fisioterapeuta ficarão sujeitos à prestação mínima de 40 (quarenta) horas semanais de trabalho, porém, essa carga horária é alterada em 01 de março de 1994, pela Lei n° 8.856/94, que determinou ao fisioterapeuta à prestação máxima de 30 horas semanais de trabalho.4
Década de 80
No início dos anos 80 houve há necessidade implantar uma reforma curricular dos cursos de Fisioterapia, promulgada através da Resolução nº. 4, de 28 de fevereiro de 1983 pelo Conselho Federal de Educação (CFE). Essa reforma curricular não foi precedida de uma pesquisa ampla que gerasse um levantamento das condições de atuação junto à comunidade, nem das necessidades da população assistida pelos recursos fisioterápicos. A ausência desse diagnóstico contribuiu para a elaboração de um currículo baseado apenas no conhecimento existente e divulgado.4
O avanço do número de Universidades na década de 80 ocorre ao mesmo tempo em que o fisioterapeuta atinge novos campos de atuação, como a promoção e a prevenção da saúde da população. Essa situação decorre de novas concepções no cenário mundial do processo saúde-doença, que respaldam uma reformulação das políticas de saúde no Brasil, dando ênfase às condições de vida e à garantia do direito de exercício da cidadania.4
Essas novas políticas públicas de saúde se alicerçam com a promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988, que em seu Art. 196 declara: “Que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e o acesso universal e às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (CF, 1988).4
Década de 90
No início da década de 90, não se evidenciava preocupação com a expansão de matrículas e melhoria da qualidade dos serviços ofertados nas instituições públicas. Por outro lado, favoreceu-se a expansão do ensino privado.4
Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a LDB nº 9.394/96 amplia-se o exercício da autonomia pelas Universidades. A partir da atribuição às IES – Instituições de Ensino Superior de fixar os currículos dos seus cursos e programas, os cursos de Fisioterapia passam a incorporar a prevenção nas suas estruturas curriculares. Até então, os currículos dos cursos de Fisioterapia eram fundamentados na lógica curativo-reabilitadora, modelo de formação tecnicista médico, por ser uma atividade desenvolvida quase sempre em clínicas privadas, centros de reabilitação ou hospitais e voltada para a reabilitação de disfunções do sistema musculoesquelético.4
A Partir dos anos 2000
Em 2001, a Comissão de Especialistas de Ensino de Fisioterapia (CEEFisio) da SESu/MEC recomenda à Câmara de Educação Superior do CNE, a aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Fisioterapia.4
No ano seguinte, a Câmara de Educação Superior do CNE promulga a Resolução CNE/CES 4, de 19 de fevereiro de 2002 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) do Curso de Graduação em Fisioterapia, a serem observadas na organização curricular das Instituições do Sistema de Educação Superior do País, e resolve:
“O Curso de Graduação em Fisioterapia tem como perfil do formando egresso/profissional o Fisioterapeuta, com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva, capacitado a atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base no rigor científico e intelectual. Detém visão ampla e global, respeitando os princípios éticos/bioéticos, e culturais do indivíduo e da coletividade. Capaz de ter como objeto de estudo o movimento humano em todas as suas formas de expressão e potencialidades, quer nas alterações patológicas, cinético-funcionais, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas, objetivando a preservar, desenvolver, restaurar a integridade de órgãos, sistemas e funções, desde a elaboração do diagnóstico físico e funcional, eleição e execução dos procedimentos fisioterapêuticos pertinentes a cada situação” (RES.CNE/CES 4/2002).4
As novas diretrizes curriculares ressaltam que a formação do Fisioterapeuta tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício de competências e habilidades. Os termos “competência” e “habilidades” estão presentes, tanto na formação como na execução, ou seja, na educação e no mundo do trabalho.
No Brasil, em 2003, somavam-se 296 cursos de Fisioterapia. Destes, 261 cursos privados e 35 públicos (9 federais, 15 estaduais e 11 municipais), com um total de 12.443 concluintes em 2002. Como exemplo de lutas anteriores na história da Fisioterapia, as conquistas no ensino e na profissão somente foram possíveis com o comprometimento dos docentes, discentes, profissionais e entidades da classe. Quando há envolvimento destes nas políticas institucionais e governamentais os resultados são promissores, em prol do ensino e da profissão na Fisioterapia.
Nota-se que até o início da década de 90, o currículo dos cursos de Fisioterapia contava com a carga horária mínima de 3.240 (três mil duzentas e quarenta) horas e duração de 4 anos, e caracterizava-se por excessiva rigidez curricular, mas na segunda metade da década de 90 estava presente uma orientação para flexibilização dos currículos dos cursos superiores de graduação.4
Após 10 anos de discussões, reuniões e pareceres entre as entidades representativas da área da saúde e o CNE/CES foi promulgada a Resolução CNE/CES nº 4/2009, que elevou para 4.000 horas a carga horária mínima dos cursos de graduação de Fisioterapia.4
Para exercer sua profissão o fisioterapeuta necessita do registro profissional previsto na Lei nº 6.316/75, por meio da obtenção de diploma do curso superior em Fisioterapia, reconhecido pelo MEC e inscrição no órgão fiscalizador da classe, o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO) respectivo de sua região.
Atualmente a Fisioterapia é uma profissão consolidada, devidamente regulamentada e controlada pelas autarquias, em pleno desenvolvimento e que colabora e cumpre seu papel na melhora constante da Saúde no Brasil.

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