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PROJETO DE ESTRADAS Fernanda Dresch Revisão técnica Shanna Trichês Lucchesi Mestre em Engenharia de Produção (UFRGS) Professora do curso de Engenharia Civil (FSG) Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147 D773p Dresch, Fernanda. Projeto de estradas / Fernanda Dresch ; [revisão técnica : Shanna Trichês Lucchesi]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018. 204 p. : il. ; 22,5 cm ISBN 978-85-9502-303-1 1. Engenharia civil. 2. Estradas. I. Título. CDU 625.7 NOTA As Normas ABNT são protegidas pelos direitos autorais por força da legislação nacional e dos acordos, convenções e tratados em vigor, não podendo ser reproduzidas no todo ou em parte sem a autorização prévia da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. As Normas ABNT citadas nesta obra foram reproduzidas mediante autorização especial da ABNT. Bases estabilizadas granulométricamente Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Caracterizar a estabilização e suas principais características. � Diferenciar os principais métodos de estabilização. � Projetar a estabilização granulométrica. Introdução Para construir um pavimento necessitamos de diferentes materiais na composição de suas camadas. O ideal seria aproveitar os materiais, como, por exemplo, o solo já existente no local a ser realizado a obra. Contudo, muitas vezes, os materiais presentes no local da obra não atendem as especificações mínimas exigidas para a sua utilização. Por esse motivo, surgiu a necessidade de criar métodos para tornar esses materiais mais apropriado para a sua utilização, por meio da técnica de estabilização desse material. Neste capítulo, você aprenderá sobre a importância de fazer a estabi- lização de materiais. Além disso, saberá diferenciar os principais métodos de estabilização e ainda entenderá, em especial, a estabilização granu- lométrica de bases de pavimentos. Estabilização e suas principais características Os solos são utilizados nas mais diferentes áreas construtivas da engenharia civil e, em alguns casos, o solo não pode ser utilizado com o mesmo estado em que foi retido do local das jazidas, ou ainda, não atendendo uma série de especificações técnicas de serviço, fez-se necessário o emprego da técnica de estabilização. A estabilização, não é um procedimento novo, e sim uma técnica que a anos vem sendo utilizada. Com o auxílio da literatura, é possível constatar que uma das primeiras técnicas de estabilização criadas pelo homem foi a mistura de argila e areia, que além de visar a estabilização do material, tinha como objetivo melhorar as vias utilizadas para o transporte. Segundo Ingles e Metcalf (1972), para um solo se tornar adequado para utilização é necessário avaliar: � se adaptamos os projetos conforme os padrões suficientes para conseguir atender as restrições impostas; � se optamos pela remoção do material e o substituímos por um de qua- lidade superior; � ou ainda, se alteramos as características do solo existente criando um material capaz de aguentar as exigências para determinada utilização. No meio rodoviário, um pavimento deve resistir as cargas oriundas do tráfego e por meio do procedimento de estabilização, o qual está diretamente relacionado aos procedimentos de tratamento de uma camada para uma melhor resistência, o mesmo ser capaz de suportar essas cargas. Para esse serviço os materiais asfálticos utilizados são cimento, cal e também a técnica de granu- lometria. Esses aditivos são considerados materiais convencionais usados na estabilização de solos, em especial na estabilização de camadas de pavimento rodoviário. Conforme Houben e Guillaud (1994), a definição de estabilização de solo faz referência a qualquer processo, seja ele natural ou artificial, pelo qual o solo sobre efeito de cargas aplicadas se torna mais resistente à deformação e ao deslocamento do que o solo natural. Esses processos consistem em alterar as características do sistema solo-água-ar, tendo a intenção de obter propriedades de longa duração compatíveis com uma aplicação particular. Marques (2006) ressalta que o processo de estabilização, utilizados para um determinado solo ou material, apresenta como finalidade atribuir a esse uma capacidade de resistir e suportar as cargas e aos esforços provenientes do tráfego, visto que, frequentemente, são aplicados sobre o pavimento. Dessa maneira, por meio da técnica de estabilização, temos os subleitos, as sub-bases e bases preparados para resistir ao longo da sua vida útil, sem deslocamentos apreciáveis, desgaste excessivos e desagregação devido às intempéries. Ainda, com o conhecimento das técnicas apropriadas de estabilização, consegue-se nortear a consideráveis reduções nos tempos de execução de obras, e com isso, possibilita-se uma redução considerável do custo para o empreendimento. Lima, Rohm e Barbosa (1993) comenta que a estabilização de um solo envolve alguns requisitos como, por exemplo, suas propriedades de resistência Bases estabilizadas granulométricamente86 mecânica e suplementação necessária para um determinado uso em termos físicos, químicos e mecânicos; além da escolha de um método com bases econômicas e práticas para o estudo dos materiais e, ainda, a construção a qual consiste, geralmente, na mistura dos materiais, na compactação e nas considerações de ordem econômica com relação ao custo de cada material. Conforme Ingles e Metcalf (1972), um solo pode ter suas características alteradas a partir de várias maneiras, por exemplo, através de tratamentos químicos, térmicos, mecânicos e de outros meios, porém, deve se levar em consideração que nem sempre a estabilização será necessariamente uma solução 100% eficiente. O uso correto, dessas técnicas, exige reconhecimento de quais as propriedades do solo devem ser melhoradas, e esta exigência específica de engenharia é fator importante na decisão de estabilizar ou não. A estabilização em pavimentos é direcionada, além do subleito, para as camadas sob o revestimento utilizado, como bases e sub-bases. Com relação as camadas de base, essas podem ser construídas de fragmentos de pedra, escórias, solo-agregados, materiais granulares tratados com cimento, entre outros. No caso de pavimentos asfálticos, a camada de base encontra-se perto da superfície, por conseguinte, deve possuir elevada resistência de deformação, a fim de resistir às altas pressões que lhe são impostas. Sendo assim, estas camadas podem ser executadas com algum tipo de estabilização para melhorar seu desempenho. Van Impe (1989) nomeia sua obra em técnica de melhorias sendo como “state of the art” (estado da arte), em que os seguintes grupos são distinguidos em: � as técnicas de melhoria de solo temporárias: limitada ao período de construção; � e melhoramento do solo permanente: técnicas são aplicadas para melho- rar o solo natural em si, sem a adição de materiais; melhoria permanente do solo com a adição de materiais. Para Ingles e Metcalf (1972) as principais propriedades de um solo com as quais devem haver preocupações na construção são a estabilidade de volume, resistências, permeabilidade e durabilidade. Embora os tratamentos de cor- reção disponham de ferramentas para melhorar mais de um desses fatores ao mesmo tempo, é importante que os engenheiros projetistas avaliem cada um particularmente antes de englobá-los. E assim, como citado anteriormente, Ingles e Metcalf também mencionam que a estabilização deve ser considerada não só em termos de melhoria, mas também como uma medida preventiva 87Bases estabilizadas granulométricamente contra situações adversas que possam ocorrer durante as execuções e durante toda vida da estrutura. Principais métodos de estabilização Estabilização mecânica Segundo Marques (2006), o objetivo da estabilização mecânica é atribuir ao solo (ou mistura de diferentes solos) uma condição de densidade máxima relacionada a uma energia de compactação e umidadeótima. Além disso, também conhecida como estabilização por compactação, sua metodologia é aplicada na construção das camadas de um pavimento, sendo complementar a outras metodologias de estabilização. Alguns autores afirmam que a esta- bilidade mecânica depende, em sua maior parte, dos materiais empregados e da sua compactação, pois qualquer material bem compactado aumenta sua densidade, tornando-se mais resistente. Conforme Medina e Motta (2005), a estabilização mecânica é o método mais utilizado e mais antigo na construção de estradas. Por aplicação de uma energia externa de compactação aplicada ao solo, sua compressibilidade e a permeabilidade diminuem o volume de vazios, tornando-os mais resistentes aos esforços externos. Cristelo (2011) comenta que outras razões para que se procure sempre atingir o menor índice de vazios possível deve-se à possibilidade de ocorrência de fenômenos de liquefação ou mesmo devido ao fato de alguns solos, que possuem grande volume de vazios, apresentarem comportamento colapsível, sendo assim, a introdução de água em uma estrutura desse tipo diminui as forças entre as partículas e funciona como um lubrificante que permite que essas partículas deslizem umas em relação às outras, ocupando os espaços antes vazios. Sendo assim, uma compactação adequada reduz o risco de colapso. Estabilização granulométrica Esse procedimento consiste em modificar as propriedades dos solos, por meio da adição ou retirada de partículas de solo. Essa metodologia é fundamentada basicamente na aplicação de alguns materiais ou na mistura de dois ou mais, de forma que se enquadram em uma determinada especificação. Bases estabilizadas granulométricamente88 Estabilização química Quando uma combinação de materiais com estabilidade mecânica apropriada, não pode ser alcançada, ou ainda em que a resistência deve ser melhorada, é preciso ser empregado a estabilizaçã32 o por meio da adição de estabilizantes químicos. Conforme Yoder e Witczak (1975), podem ser utilizados para a estabilização de solos variados tipos de aditivos como, por exemplo, agentes de cimentação, modificadores, impermeabilizantes, agentes de retenção de água e produtos químicos diversos. O uso de cada uma dessas mistura dependerá das características que se deseja alcançar, devido a seus comportamentos serem bem diferentes e cada uma apresentar um uso particular e suas próprias limitações. Segundo Marques (2006), a estabilização química quando utilizada em solos mais granulares tem o papel de proporcionar uma melhora significativa em sua resistência ao cisalhamento mediante a adição de quantidades reduzidas de ligantes nas interfaces de contato dos grãos. Os ligantes usualmente empregados são o cimento portland, a cal, pozolanas, materiais betuminosos, resinas, etc. A melhora provocada pelo procedimento de estabilização do solo obedece não apenas as características do material agregador, mas também do tipo de material e das condições climáticas. As variadas modificações causadas pelo processo de estabilização são como, por exemplo, o aumento da resistência e, por conseguinte o aumento da sua capacidade de suporte; melhora no grau de compactação; menor expansão; aumento do limite de contração; melhor trabalhabilidade, pois ocorre uma redução do índice de plasticidade; menor permeabilidade e um aumento da durabilidade. Estabilização química com solo-cimento No Brasil, é utilizado desde 1948 na pavimentação, porém o solo-cimento já existia desde 1940 na construção civil. Os distintos tipos de solos melhorados com cimento são (MARQUES, 2006): a) Mistura solo-cimento: produto obtido pela compactação e cura de uma mistura de solo, cimento e água, de modo a satisfazer os critérios de estabilidade e durabilidade exigidos. b) Solo melhorado com cimento: quando um solo se mostra economica- mente inviável de ser estabilizado com cimento, pode ser utilizado para fins de pavimentação por meio da adição de pequenas quantidades de cimento (1 a 5%), que visam modificar algumas de suas propriedades 89Bases estabilizadas granulométricamente físicas, como a diminuição do índice de plasticidade pelo aumento do LP e da diminuição do LL , ou a redução das mudanças de volume e inchaço do solo. c) Solo-cimento plástico: material endurecido formado pela cura de uma mistura de solo, cimento e água, em uma quantidade suficiente para produzir uma consistência de argamassa. A quantidade de água no solo-cimento é apenas para permitir uma boa compactação e completa hidratação do cimento. Segundo Marques (2006), o procedimento de estabilização de um solo com o cimento acontece por meio do desenvolvimento das reações químicas que são originadas na hidratação do cimento (mistura do cimento com água). Com base nisso, são desenvolvidas associações químicas entre as superfícies dos grãos do cimento e as partículas de solo que estão em contato com o mesmo. Em solos com maior fração graúda são desenvolvidos vínculos de coesão nos pontos de contato entre os grãos (semelhante ao concreto, entretanto o ligante não ocupa todos os espaços). Nos solos argilosos, isto é, com uma fração mais fina, a ação da cal originada sobre a sílica e alumina do solo resulta o surgi- mento de fortes pontos entre as partículas de solo. Solo-cimento é o resultado do endurecimento decorrente da mistura compactada de solo, cimento e água. Essa mistura é feita por meio de proporções estabelecidas com uma dosagem coerente e realizada mediante as normas aplicáveis ao solo em estudo. Conforme Vargas (1977), solo-cimento consiste no produto da mistura de solo compactado com cimento e água, gerando assim, um produto novo, muito aplicado em obras que apresentam uma boa resistência, baixa deforma- bilidade, durabilidade a fatores agressores, como a água, aos efeitos térmicos e as baixas temperaturas. Ingles e Metcalf (1972) mencionavam em sua obra que a estabilização química utilizando cimento já tinha extenso emprego na construção de rodovias da época e a técnica de emprego do cimento abrange, geralmente, o espalhamento do cimento sobre a superfície do solo, mistura e posterior compactação na devida umidade. Alguns autores relatam, que com a adição de cimento em pequenas quanti- dades, até 2%, transformam as propriedades do solo, enquanto que em grandes quantidades, entre 5 e 10%, modificam radicalmente as propriedades. De acordo com Yoder e Witczak (1975), os fatores e que mais afetam as ca- racterísticas físicas da mistura incluem o tipo de solo, a quantidade de cimento, o grau da mistura, o tempo de cura e a densidade seca da mistura compactada. Outros autores salientam a demanda do tempo de cura da mistura, sendo Bases estabilizadas granulométricamente90 essencial a cura na presença de água, antes da abertura do tráfego. Naquela época, foi extensa o emprego da mistura de solo-cimento para restauração de estradas, onde o cascalho era escarificado, estabilizado com cimento, e então compactado. Nos Estados Unidos, este tipo de estabilização, sempre foi de grande utilização para bases e sub-bases em estradas secundárias, e ainda citam ser muito difícil encontrar resultados de RCS entre 6,5 e 13,5 MPa. Conforme Yoder e Witczak (1975), a quantidade de cimento demandada para estabilizar um material granular depende da quantidade e da qualidade dos finos contidos, bem como a densidade final da mistura compactada, sendo que os valores típicos variam entre 2 e 6% em peso do material final compactado. A estabilização com cimento portland pode ser usada tanto para transformar e aperfeiçoar a característica do solo como para transformar o solo em um material cimentado com maior resistência e durabilidade. Portanto, a quantidade de cimento empregado dependerá do fato de que o solo é para ser modificado ou estabilizado. Devem ser levadas em consideração as caracte- rísticas mecânicas das misturas compactadas de solo e cimento. Devido sua importância na compactação estar ligada não apenas ao grau decompactação, mas também ao tempo, uma vez que se realizada após a hidratação do cimento apresentará resultados ineficientes. O tempo de cura influencia positivamente na rentabilidade dessa resistência, o que interfere até mesmo no tipo de cimento utilizado na mistura (DELLABIANCA, 2004; GUYER, 2011). Estabilização química com cal Uma base ou uma sub-base executada corretamente, com uma mistura de solo e cal, homogeneizada e compactada, ainda recoberta com uma camada de rolamento, deve proporcionar capacidade de suportar as cargas verticais provenientes do trafego, para que haja uma boa distribuição dessas cargas de maneira que não prejudique o desempenho do pavimento (SENÇO, 2001). Logo, a escolha da cal a ser utilizada, deve ser um fator levado em consideração, pois as cales hidratadas podem conferir ao material maiores valores de resistência. Solos mais finos também apresentam melhores resultados para a estabilização com cal e assim como para a mistura solo-cimento, esta é avaliada a partir do ensaio índice de suporte Califórnia, com os valores de CBR. Entretanto, para esse tipo de mistura, no Brasil, ainda não existem metodologias para a dosagem, e por isso, tem vezes que se usa dosagens experimentais. 91Bases estabilizadas granulométricamente Estabilização química com cinza de casca de arroz (CCA) Atualmente, existem poucos trabalhos sobre a utilização da CCA como aditivo para estabilização de camadas de pavimentos. A CCA, segundo a maioria dos pesquisadores, deve ser utilizada como aditivo a outro material já adicionado para estabilização ou melhoria da mistura em estudo, para que ocorram as reações pozolânicas necessárias. Os materiais mais utilizados são o cimento portland e a cal. Por ser um produto muito utilizado na construção civil, as pesquisas em concreto de cimento portland com adição de CCA já estão em estágio bem avançado em relação àquelas de aplicação em camadas de base e sub-bases para os pavimentos flexíveis. Segundo Behak (2007), a partir dos anos de 1980 e 1990, foi desenvolvido um maior número de pesquisas relacionadas à estabilização de solos com CCA e cal ou cimento. Ali, Adnan e Choy (1992) pesquisaram os efeitos da estabilização de solos da Malásia por adição de CCA com cal ou cimento. Concluíram que nos países tropicais, onde a casca de arroz é abundante e considerada como resíduo, o uso de CCA em obras de pavimentação é particularmente atrativo, porque ajudariam a reduzir custos construtivos e de deposição, bem como danos ambientais, preservando, ainda, os materiais de maior qualidade para usos prioritários. De acordo com Edeh, Onche e Osinubi (2012), o uso de material fresado e da CCA na construção de pavimentos tem benefícios não só em reduzir a quantidade de resíduos que necessitam de eliminação, mas também de proporcionar um novo material para construção de uma economia significativa. Estabilização elétrica Conforme Marques (2006), para a estabilização do solo, a partir da estabilização elétrica, é introduzida uma corrente elétrica no mesmo e as descargas sucessi- vas de alta tensão são utilizadas no adensamento de solos arenosos saturados e as de baixa tensão contínua são usadas em solos argilosos utilizando os fenômenos de eletrosmose, eletroforese e consolidação eletroquímica, porém essa metodologia não é aplicada para estabilização de solos para pavimentos. Bases estabilizadas granulométricamente92 Estabilização térmica Segundo Marques (2006), a estabilização térmica é realizada por meio da utilização da energia térmica mediante o congelamento, o aquecimento ou a termosmose. A metodologia de congelamento geralmente é provisória, alterando-se a textura do solo. Já o aquecimento tem a finalidade em arranjar a rede cristalina dos minerais constituintes do solo, enquanto a termosmose é uma metodologia de drenagem em que se promove a difusão de um fluido em um meio poroso pela ação de gradientes de temperatura, sendo assim a estabilização térmica, também não é utilizada para a estabilização de solos para pavimentos. Leia sobre estabilização no link a seguir, na obra de Bernucci et al. Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros. https://goo.gl/gvkZTr Estabilização granulométrica Segundo Vizcarra (2010), a estabilização granulométrica é um processo que objetiva ter um material de estabilidade melhor do que os solos de origem e de porcentagem limitada de partículas finas, com a mistura íntima homogeneizada de dois ou mais solos e sua posterior compactação. Consiste, então, na alteração das propriedades do solo por meio da adição ou da retirada de partículas do mesmo, procurando obter como produto final um material adequado para a aplicação em cada caso particular. Segundo Vargas (1977), não é aceitável uma simples correção de material, visto que é necessário conciliar o material artificial de solo estabilizado, usando uma proporção adequada de cada um deles a fim de obter a granulometria final desejada. A maioria dos solos, em sua fase sólida apresenta partículas de diferentes tamanhos com proporções variadas, e através da determinação do tamanho das partículas e suas respectivas porcentagens de ocorrência é 93Bases estabilizadas granulométricamente https://goo.gl/gvkZTr possível obter a função de distribuição das partículas do solo, que é denominada distribuição granulométrica. De acordo com as especificações do DNER/DNIT de materiais para base ou sub-base recebem o nome de “base estabilizada granulometricamente” e os fatores que influenciam no comportamento da composição granulométrica são (MEDINA; MOTTA, 2005): � a natureza da partícula, pois a mesma deve apresentar resistência su- ficiente e não sofrer alterações indesejáveis; � a estabilização da composição deve ser levada à densificação ótima, que pode ser entendida como o melhor arranjo das partículas aprimorando a distribuição dos esforços. Conforme Yoder e Witczak (1975), uma mistura para se tornar estabilizada depende da forma e do tamanho das partículas, de sua distribuição granulo- métrica, da densidade relativa, da fricção interna e da coesão. Um material granular concebido para a máxima estabilidade deve possuir fricção interna alta para resistir à deformação imposta pelas cargas, tendo como fatores mais importante a distribuição granulométrica e a proporção de finos para a fração de agregados graúdos (Figura 1). Figura 1. Distribuição granulométrica e de finos. Fonte: Yoder e Witczak (1975). (a) (b) (c) Bases estabilizadas granulométricamente94 Conforme a Figura 1 em (a) é possível perceber uma mistura de agregados que contém pouco ou nada de material fino e ganha a sua estabilidade a partir do contato grão-a-grão. Um agregado que não contêm finos normalmente tem uma densidade relativamente baixa, mas é permeável e não suscetíveis a temperaturas baixas. Por não ser coesivo é de difícil manuseio para construção; já em (b) a mistura contém finos suficientes para preencher todos os espaços vazios entre os grãos, ganhando sua força pelo contato entre os grãos, mas com maior resistência ao cisalhamento. A sua densidade é alta e pouco menos permeável que no primeiro caso (a). Seu manuseio é de moderada dificuldade, mas é ideal do ponto de vista da estabilidade. E por fim, em (c) a mistura contém uma grande quantidade de finos e não tem qualquer contato entre os grãos maiores, o agregado “flutua” no solo. A sua densidade é baixa e a estabilidade é fortemente afetada na presença de água. O material é bastante fácil de manusear durante a construção e se compacta facilmente. Segundo especificações do DNIT (2006), para solos a serem utilizados como base granular para pavimentação, a composição dos mesmos deve atender a faixas de granulometria em proporções específicas. Dessa forma, porcentagens de agregado grosso, médio e fino são ajustadas obedecendo as faixas de distribuição granulométrica do DNIT, conforme a Tabela 1. Fonte: DNIT (2006). Peneira A B C D E F mm 2”50,8 100 100 100 100 100 100 1” 25,4 100 75-90 100 100 100 100 3/8” 9,53 30-65 40-75 50-85 60-100 100 100 Nº 4 4,80 25-55 30-60 35-65 50-85 55-100 70-100 Nº 10 2,09 15-40 20-45 25-50 40-70 40-100 55-100 Nº 40 0,42 8-20 15-30 15-30 25-45 20-50 30-70 Nº 200 0,075 2-8 5-15 5-15 10-25 6-20 8-25 Quadro 1. Granulometria para base granular em % de peso passando. 95Bases estabilizadas granulométricamente Conforme Machado (2013), existem três métodos de correção granulométrica: � Método de Rothfuchs: plota-se uma curva média de especificação de serviço ou da faixa de material desejado como diagonal de uma figura retangular e representa-se a porcentagem que passa no eixo das ordenadas em escala aritmética de 0 a 100%. Define-se uma escala de peneiras no eixo das abscissas a partir da curva plotada e traçam-se, no mesmo gráfico, as curvas granulométricas dos materiais disponíveis. A partir de considerações geométricas, definem-se os quantitativos de cada um dos materiais de empréstimo de modo a se produzir um novo material que atenda as especificações de serviço. � Método analítico: a determinação das frações constituintes do solo obtido pela composição de outros disponíveis processa-se pela solução de um sistema de equações em que as variáveis são as frações procu- radas e as constantes são as quantidades dos vários solos disponíveis. � Método do triângulo: se conhecendo as porcentagens de área e pedre- gulho, silte e argila, é possível representar os diferentes solos disponíveis e aquele referente ao material desejado, pontualmente, em um gráfico triangular. A partir desse gráfico, determinam-se os percentuais de cada solo para reproduzir outro material que atenda às exigências do material desejado. Leia mais sobre camada de base solo-cimento, na obra Departamento Nacional de Estradas de Rodagem do DNER, 1997. Bases estabilizadas granulométricamente96 1. Sobre estabilização, marque a alternativa correta: a) a definição de estabilização de solo faz referência ao processo natural pelo qual o solo sobre efeito de cargas aplicados se torna mais resistente a deformação e ao deslocamento. b) estabilização consiste em alterar as características do sistema solo-água, tendo a intuito de se obter propriedades de longa duração compatíveis com uma aplicação em qualquer local. c) a técnica de estabilização, tendo subleitos, as sub-bases e bases, preparados para resistir ao longo da sua vida útil, com pequenos deslocamentos apreciáveis, desgaste e desagregação. d) um solo pode ter suas características alteradas a partir de várias maneiras, como por exemplo, através da estabilização químicas, térmicas, mecânicas, granulométrica e de outros meios. e) a estabilização deve ser considerada só em termos de melhoria das propriedades do material. 2. Camada de pavimentação cuja mistura apresenta um material de estabilidade melhor do que os solos de origem e de porcentagem limitada de partículas finas, com a mistura íntima homogeneizada de dois ou mais solos e sua posterior compactação. a) Base de Brita Graduada Simples. b) Sub-base de solo estabilizado granulometricamente. c) Macadame Hidráulico. d) Brita graduada tratada com cimento. e) Macadame Seco. 3. Marque a alternativa sobre os principais métodos de estabilização que está correta. a) Estabilização química com Solo-Cimento: conhecida como estabilização por compactação, sua metodologia é aplicada na construção das camadas de um pavimento, sendo complementar a outras metodologias de estabilização b) Estabilização Térmica: é introduzida uma corrente elétrica no mesmo e as descargas sucessivas de alta tensão são utilizadas no adensamento de solos arenosos saturados e as de baixa tensão contínua são usadas em solos argilosos utilizando os fenômenos de eletrosmose, eletroforese e consolidação eletroquímica, porém essa metodologia não é aplicada para estabilização de solos para pavimentos. c) Estabilização Granulométrica: é realizada por meio da utilização da energia térmica mediante congelamento, aquecimento ou termosmose. d) Estabilização Química: Esse procedimento consiste em modificar as propriedades dos solos, por meio da adição ou retirada de partículas de solo. e) Estabilização Mecânica: a 97Bases estabilizadas granulométricamente estabilização mecânica, é o método mais utilizado e mais antigo na construção de estradas. Por aplicação de uma energia externa de compactação aplicada ao solo, sua compressibilidade e a permeabilidade diminuem o volume de vazios, tornando-os mais resistentes aos esforços externos. 4. Existem os métodos de correção granulométrica, marque a alternativa correta em relação a estes métodos. a) Método do Sintético: A partir de considerações geométricas, definem-se os quantitativos de cada um dos materiais de empréstimo de modo a se produzir um novo material que atenda as especificações de serviço. b) Método de Rothfuchs: a determinação das frações constituintes do solo obtido pela composição de outros disponíveis processa-se pela solução de um sistema de equações onde as variáveis são as frações procuradas e as constantes são as quantidades dos vários solos disponíveis c) Método do Triângulo: se conhecendo as porcentagens de área e pedregulho, silte e argila, é possível representar os diferentes solos disponíveis e aquele referente ao material desejado, pontualmente, em um gráfico triangular. d) Método Analítico: através de um gráfico , nesse método determinam-se os percentuais de cada solo de modo a reproduzir outro material que atenda às exigências do material desejado. e) Método Analítico: plota-se uma curva média de especificação de serviço ou da faixa de material desejado como diagonal de uma figura retangular e representa-se a porcentagem que passa no eixo das ordenadas em escala aritmética de 0 a 100% 5. Marque a alternativa correta sobre a estabilização granulométrica. a) A estabilização granulométrica consiste em manter as propriedades dos solos, por meio da adição ou retirada de partículas de solo. Essa metodologia é fundamentada, basicamente na aplicação de alguns materiais ou na mistura de dois ou mais, de forma que se enquadram em uma determinada especificação. b) Utilizada em solos mais granulares tem o papel de proporcionar uma melhora, significativa, em sua resistência ao cisalhamento mediante a adição de quantidades reduzidas de ligantes nas interfaces de contato dos grãos. Os ligantes usualmente empregados são o cimento portland, cal, pozolanas, materiais betuminosos, resinas, etc. c) O fator que influencia no comportamento da composição granulométrica é o tamanho da partícula, pois a mesma deve apresentar resistência suficiente e não sofrer alterações indesejáveis. d) Um material granular concebido para a máxima estabilidade deve possuir fricção interna Bases estabilizadas granulométricamente98 ALI, F. H.; ADNAN, A.; CHOY, C. K. Geotechnical Properties of a Chemically Stabilized Soil from Malaysia with Rice Husk Ash as an Additive. Geotechnical and Geological Engineering, Amsterdam, v. 10, n. 2, p. 117-134, 1992. BEHAK, L. Metodologías de Utilización de los Materiales Basálticos del Descompuesto y Desagregado de la Formación Arapey en Pavimentos Económicos. In: 3er. CONGRESO DE LA VIALIDAD URUGUAYA, disponível em CD, 12 p., Montevideo, 2001. BRASIL. Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Pavimentação: sub-base estabilizada granulometricamente. 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