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Monalisa Cirqueira – MEDUFOB INTRODUÇÃO O que é? A incapacidade do coração em bombear o sangue em uma taxa proporcional as necessidades dos tecidos, ou é capaz disso, mas à custa de elevação da sua pressão de enchimento. ▪ A IC resulta de disfunção estrutural ou funcional do coração → com isso, ocorre hipoperfusão + congestão. o Exceto na IC de alto débito, em que há apenas congestão. ▪ Incapaz de manter o débito cardíaco (DC) adequado. ▪ A resposta compensatória, envolvendo ativação neuro-hormonal (sistema adrenérgico e SRAA), é responsável pela cardiotoxicidade de mediadores como: noradrenalina, angiotensina II e aldosterona. EPIDEMIOLOGIA ▪ Primeira causa de internação pelo SUS nos pacientes acima de 60 anos. ✓ A incidência e a prevalência de IC aumenta com o crescimento da população acima de 65 anos, maior prevalência das doenças precursoras (HAS, obesidade, DM), etc. ▪ A IC com fração de ejeção preservada (antes IC diastólica) é responsável por, aproximadamente, metade dos casos → acomete preferencialmente mulheres, idosos e hipertensos. ETIOLOGIA I - Secundária a doenças cardiovasculares: HA, doença coronariana, aterosclerose, valvopatias, etc. ▪ Etiologias da ICSistólica: cardiomiopatia dilatada idiopática, Chagas, isquemia, HAS, valvar, alcóolica, etc. ▪ Etiologias da ICDiastólica: Hipertensão, cardiomiopatia hipertrófica, doenças infiltrativas ou de depósito, DAC, DR e estenose aórtica. ▪ A causa mais comum no Brasil é a cardiopatia isquêmica crônica. FISIOPATOLOGIA Disfunção ventricular (diastólica ou sistólica) → congestão e/ou hipoperfusão tecidual → ativação neuro-humoral: SRAA, barorreceptores – sistema adrenérgico, peptídeo natriurético (A e B) → crescimento e remodelamento → causa apoptose e alteração na expressão gênica, cardiotoxicidade, isquemia e depleção energética → necrose. 1. Mecanismo de Frank-Starling: aumento do volume e pressão diastólica → maior estiramento das fibras miocárdicas no final da diástole → maior contratilidade Monalisa Cirqueira – MEDUFOB INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Monalisa Cirqueira – MEDUFOB ocorre o aumento progressivo de desempenho cardíaco até que se atinja um platô de adaptação a partir do qual não ocorre mais a intensificação da resposta miocárdica. 2. Sistemas neuro-hormonais: ocorre devido a redução do DC e aumento das pressões de enchimento das câmaras cardíacas. ✓ SRAA ativado na hipoperfusão renal → aumenta a volemia ✓ O baixo DC estimula o sistema adrenérgico (barorreceptores), com liberação de noradrenalina e adrenalina → efeito inotrópico compensatório e aumento da FC → progride para exaustão dos miócitos. ✓ O ventrículo produz BNP (brain natriuretic peptide), que é estimulador da natriurese, buscando contrabalancear os efeitos do SRAA e adrenérgicos, mas não é suficiente. O aumento do estresse ventricular é que determina o aumento do BNP e pró-BNP. ✓ São responsáveis pelo remodelamento cardíaco 3. Remodelamento cardíaco: dilatação e perda da conformação cardíaca → forma elíptica para esferoide, com paredes mais delgadas. ✓ Os mecanismos compensatórios passam a ser lesivos. ✓ Noradrenalina → injúria e apoptose dos miócitos. ✓ A angiotensina II: nos receptores ATI causa apoptose dos miócitos, fibrose, liberação de noradrenalina e de angiotensina. ✓ Aldosterona: hiperproliferação de fibroblastos → fibrose. Como a fração de ejeção é calculada? ▪ Ela é a relação entre o débito sistólico, que foi ejetado do coração, tendo em vista o volume diastólico final (volume total antes da sístole). FE: DS/VDF O que é a pré-carga? ▪ É o volume diastólico final, ou seja, todo sangue que chega ao coração pelo sistema venoso. ▪ Lembre-se, o retorno venoso depende da volemia e do tônus venoso. O que é pós-carga? ▪ É a dificuldade imposta à sístole. O aumento da pós-carga reduz o débito sistólico e eleva o consumo miocárdico de oxigênio. ▪ Fatores influentes: tônus arteriolar periférico, resistência aórtica. Aumento da pós-carga na IC sintomática: 1. Vasoconstrição arteriolar periférica 2. Retenção hídrica causando hipervolemia e aumento do volume diastólico ventricular 3. Remodelamento cardíaco CLASSIFICAÇÃO DA IC I - Duração: aguda, quando inferior a 6 meses, e crônica quando superior a 6 meses. II - Manifestação de ventrículo direito e/ou esquerdo Monalisa Cirqueira – MEDUFOB ▪ IC esquerda: sinais e sintomas de congestão pulmonar e hipoperfusão → é a maioria dos casos. o Pode ser causada por: IAM, cardiopatia hipertensiva, miocardiopatia, doença valvar (estenose mitral). ▪ IC direita: sinais e sintomas de congestão sistêmica. o Pode ser causada por: cor pulmonale (relacionado a DPOC, obesidade mórbida, pneumopatias, TEP), infarto do VD e miocardiopatias ▪ IC biventricular: causa congestão pulmonar e sistêmica. A maioria das cardiopatias que levam à IC começa como insuficiência de VE e evolui para o VD. OBS.: A disfunção do ventrículo esquerdo pode causar disfunção do ventrículo direito → causa mais comum de IVD é a IVE. OBS2.: Doença de Chagas tem manifestações de esquerdo e direito. III - Débito Cardíaco ▪ Alto: tireotoxicose, fístula arteriovenosa, beribéri, cirrose e anemia → perfusão aumentada de pele e demanda periférica aumentada. ▪ Baixo: é a maioria dos casos. Geralmente apresenta pele fria, sudorese e congestão → má perfusão da pele. IV – Mecanismo fisiopatológico: IC sistólica: quando a fração de ejeção do ventrículo está comprometida (FE<50%). ▪ Perda da capacidade contrátil do ventrículo. ▪ Na maioria das vezes a ICS provoca a dilatação do ventrículo → cardiopatia dilatada. ▪ Sx de baixo débito + Sx de congestão. ▪ Ex: IAM, isquemia miocárdica, fase dilatada da cardiopatia hipertensiva, etc. IC diastólica: quando a fração de ejeção está preservada ou pouco alterada → dificuldade de enchimento do coração ou enchimento através de pressões elevadas. ▪ Ocorre uma alteração no relaxamento muscular e/ou uma redução da complacência ventricular. Na maioria das vezes existe hipertrofia muscular concêntrica, com redução da cavidade. ▪ O aumento da pressão de enchimento ventricular causa aumento da pressão venocapilar → congestão ▪ Ex: fase hipertrófica da cardiopatia hipertensiva e cardiopatia hipertrófica. ▪ Fatores de risco: idade, mulher, obesidade, HA, diabetes, DAC, DR e estenose aórtica. Monalisa Cirqueira – MEDUFOB CLASSE FUNCIONAL - NYHA CLASSIFICAÇÃO EVOLUTIVA Quanto à estabilidade da IC: ▪ Compensada: classificação evolutiva B e C. ▪ Descompensada: classificação evolutiva D. IMPORTANTE A insuficiência cardíaca em casos de isquemia e pós-parto acontece de forma abrupta e são graves. o EX.: Eclâmpsia, pré-eclâmpsia e hemorragia. Monalisa Cirqueira – MEDUFOB PATOGENIA DA IC IC SISTÓLICA O que é? A perda da capacidade contrátil do miocárdio, com redução do débito cardíaco e o aumento do volume de enchimento, consequentemente, há o aumento da pressão de enchimento ventricular. ▪ Na maioria das vezes ocorre dilatação ventricular (cardiopatia dilatada). Principais causas: ▪ Lesão ou disfunção isquêmica o IAM o Isquemia persistente ▪ Sobrecarga crônica de pressão o HA o Doença valvar obstrutiva ▪ Sobrecarga crônica de volume o Regurgitação valvar o Shunt ▪ Cardiomiopatia dilatada o Cardiomiopatia chagásica o Cardiomiopatia viral Mecanismos resultantes da dilatação: 1. Esvaziamento incompleto do ventrículo 2. Hipervolemia decorrente da retenção de sódio e água pelos rins: ✓ Hipoperfusão renal ativa o SRAA → Lei de Frank-Starling x limitação causando o aumento das pressões de enchimento. IC DIASTÓLICA Como é caracterizada? Por alterações da função diastólica, com contração miocárdica normal – relaxamento diminuído, restrição ao enchimento diastólico, causando elevação nas pressões deenchimento. ▪ Pode ser por alterações no relaxamento muscular e/ou redução da complacência ventricular. Na maioria das vezes existe HV concêntrica, com redução da cavidade. ▪ Hipertrofia miocárdica patologia o Primária – cardiomiopatia hipertrófica o Secundária - HA MANIFESTAÇÃO E DIAGNÓSTICO CLÍNICO Pode estar associada a outras doenças como: anemia, hipotireoidismo, hipertireoidismo, DPOC, obesidade, infecção, insuficiência renal (IR), etc. Monalisa Cirqueira – MEDUFOB Os sintomas podem ser associados a síndrome de hipoperfusão e/ou congestão. SINAIS E SINTOMAS Sintomas relacionados à congestão Congestão pulmonar: acúmulo de líquido intersticial e intra-alveolar. ▪ Dispneia: inicialmente aos esforços. ▪ Ortopneia (redistribuição de volume – aumento da pressão intracapilar pulmonar) e dispneia paroxística noturna (DPN – associada a congestão pulmonar grave). ▪ Tosse seca, caracteristicamente noturna → congestão da mucosa brônquica, se muito acentuada pode levar ao surgimento de asma cardíaca. Edema agudo de pulmão → presença de estertores (crepitos) pulmonares, taquidispneia e ortopneia, associada a insuficiência respiratória ▪ Em casos de IC crônica, frequentemente os estertores estão ausentes devido ao aumento da drenagem linfática do líquido alveolar. Da mesma forma, os sinais radiográficos de edema intersticial e/ou pulmonar podem estar ausentes Derrame pleural: ocorre por elevação da pressão capilar pleural. Geralmente ocorre de forma bilateral, quando unilateral, é mais frequente no lado direito. (obs: as veias pleurais drenam tanto para veias sistêmicas, quanto para veias pulmonares). Congestão sistêmica: ▪ Edema de MMII ▪ Edema de bolsa escrotal ▪ Turgência jugular ▪ Hepatomegalia congestiva ▪ Ascite → é mais incomum, ocorre por aumento da pressão nas veias hepáticas e nas veias de drenam o peritônio ▪ Icterícia: ocorre por disfunção hepática e hipoxemia hepatocelular devido a congestão aumento de BD e BI ▪ Edema de mucosa intestinal: saciedade precoce, dor abdominal difusa, náuseas, diarreia e enteropatia perdedora de proteína (raro) ▪ Oligúria e noctúria ▪ Dor epigástrica e hipocôndrio direito hepatomegalia dolorosa Sinais e sintomas relacionados à hipoperfusão Fadiga, indisposição, mialgia, cansaço → má perfusão muscular ao esforço físico Outros: ▪ Perda de massa muscular e emagrecimento. ▪ Lipotimia ▪ Tempo de enchimento capilar lentificado ▪ Dispneia e/ou taquipneia ▪ Síncope Dilatação vascular no ápice + infiltrado bilateral em asa de borboleta Monalisa Cirqueira – MEDUFOB ▪ Cianose ▪ Taquicardia ▪ Dor torácica → de característica anginosa, atípica ou ventilatório-dependente ▪ Palpitação O choque cardiogênico é o extremo da IC e está associado a hipotensão grave (PAS< 80mmHg) Exame físico ▪ Palidez cutânea e redução da perfusão periférica (aumento do tônus adrenérgico) ▪ Pulso fino, alternantes (sinal de DC extremamente baixo – péssimo prognóstico) ▪ Turgência jugular patológica ▪ Refluxo hepatojugular → pressão sobre o fígado faz com que uma coluna de sangue fique visível na jugular ▪ Hipotensão → PA convergente ▪ Taquicardia, arritmias, FA ▪ Presença de B3 e/ou B4 ▪ Sopros de IM ou IT ▪ Estertores pulmonares, sibilos ▪ Hepatomegalia, ascite ▪ Edema de MMII ▪ Desvio do ictus cordis para baixo e para esquerda → cardiomegalia ▪ Elevação da pressão venosa jugular (especialmente se for superior a 4cm do ângulo esternal) CRITÉRIOS DE FRAMINGHAM PARA DIAGNÓSTICO DE ICC CRITÉRIOS MAIORES: são sinais e sintomas que não são tão comuns para outras síndromes. CRITÉRIOS MENORES: são sinais e sintomas que aparecem com maior frequência em outras síndromes. Para diagnóstico de IC é preciso: 2 MAIORES ou 1 MAIOR + 2 MENORES Qual a fisiopatologia da dispneia paroxística noturna? O edema intersticial, acumulado durante o dia, é reabsorvido mais facilmente quando o paciente se deita e a gravidade age igualmente no corpo. Com isso, há o Monalisa Cirqueira – MEDUFOB acúmulo de líquido nos vasos do pulmão, com compressão dos alvéolos, levando a dispneia. O paciente acorda com falta de ar e respira aceleradamente, fazendo a expansão dos alvéolos e estimulando o fluxo de líquido nos vasos, com alívio do sintoma! ✓ O paciente também costuma acordar com edema na região dos olhos. Quesitos fundamentais para diagnóstico de IC com fração de ejeção preservada 1. Presença de sinais e sintomas de IC 2. Presença de função ventricular esquerda preservada ou pouco alterada 3. Evidências de relaxamento anormal do ventrículo esquerdo ou distensibilidade reduzida EXAMES COMPLEMENTARES Lembre-se, o diagnóstico da IC é clínico. ECG ▪ Sobrecarga de câmaras esquerdas ▪ Isquemia RX de tórax: permite avaliar a área cardíaca, informações sobre o parênquima e vasculatura pulmonares. ▪ Devido ao aumento da drenagem linfática do líquido alveolar, os sinais radiográficos de edema intersticial e/ou pulmonar podem estar ausentes ECO: método de eleição. Permite definir o tamanho das câmaras, espessura das paredes, a massa ventricular, presença de trombos, fração de ejeção → auxilia na etiologia. ▪ Um eco normal não afasta IC, principalmente nos indivíduos assintomáticos em repouso. Da mesma forma, uma fração de ejeção normal também não afasta (IC com fração de ejeção preservada). BNP – peptídeo natriurético cardíaco ▪ É muito sensível, mas não é específico → usar considerando o cenário clínico. ▪ Também aumenta em: isquemia miocárdica, fibrilação atrial, embolia pulmonar, hipertrofia de VE, insuficiência renal, em idosos, etc. Laboratoriais: hemograma, eletrólitos, função renal e eletrólitos, glicemia, função hepática, uroanálise, lipidograma e perfil tireoidiano. Em locais endêmicos → sorologia para Chagas. IMPORTANTE ▪ Asma cardíaca → edema de parede do brônquio, fazendo com que ocorra a presença de sibilos. Monalisa Cirqueira – MEDUFOB ▪ Hilo aumentado no Rx de tórax, aumento da trama (asa de borboleta) – a congestão é de cima para baixo e derrame pleural (líquido livre – depende da posição do paciente; estando em pé, parábola na base, deitado – liquido disperso) ▪ Área cardíaca – corresponde em metade da distância, na radiografia. Na cardiomegalia, o índice cardiotorácico está > 0,50 ▪ Janela aorto-pulmonar, entre os arcos da aorta e artéria pulmonar → local que passa o nervo laríngeo recorrente TAQUICARDIA NA ICC ▪ O aumento exagerado da FC não é acompanhado do aumento do débito cardíaco (apenas dentro de certos limites), pois o coração passa a contrair sem ejetar sangue para o corpo. Isso reflete na diferença da frequência cardíaca e o pulso periférico. o A taquicardia acentuada diminui o débito por encurtar o tempo de enchimento do ventrículo → bater no vazio.
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