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Filosofia da Educação no Mundo Ocidental

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1 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO 
 
 
 
 
 
Filosofia da Educação no Mundo Ocidental 
 
 
 
 
Relações entre o conceito filosófico abordado em Hemispheres e 
os conceitos sobre influências e impulsos apolíneos e dionisíacos 
tratados a partir dos estudos de Nietzsche 
 
 
 
Luiz Gustavo da Silveira Silva 
 
 
Rio de Janeiro, 2011 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
INTRODUÇÃO 
 
Trata-se de um trabalho acadêmico, requerido pelo professor Dr. Alexandre 
Barboza, como componente obrigatório para a conclusão da disciplina Filosofia da 
Educação no Mundo Ocidental (componente do quadro de disciplinas obrigatórias do 
curso de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro). 
 
Apolo e Dionísio, deuses cultuados pela população helena, na Grécia antiga, 
foram personagens fundamentais, embora se configurando como santidades para os 
gregos, para o surgimento das tragédias gregas e, posteriormente, para o modelo 
sofístico de educação. 
 
Hemispheres, álbum lançado em 1978 pela banda canadense Rush, traz como 
seu principal tema um conflito entre a razão e sentimentos ligados ao domínio afetivo e 
inconsciente. 
 
O presente estudo buscará relacionar, comparar e complementar os conceitos de 
influências apolíneas e dionisíacas, abordados por autores que utilizaram o tema citado 
em suas publicações (principalmente Nietzche), com o álbum Hemispheres da banda 
Rush, a fim de discutir relações entre a obra de Neil Peart e os conceitos citados. 
 
Conceitos apolíneos e dionisíacos, momento heleno na Grécia Clássica, 
conteúdo filosófico de Hemispheres (1978) e possíveis relações entre o álbum citado e 
os conceitos abordados por Nietzche (posteriormente estudados por Machado em 1999) 
são questões a serem levantadas pelo presente estudo. 
 
Na sequência, serão apresentados os seguintes tópicos de estudo: 
 
1. O momento na Grécia clássica 
 
2. Dionísio e o princípio dionisíaco 
2.1. Dionísio 
2.2. Princípio dionisíaco 
3 
 
 
3. Apolo e o princípio apolíneo 
3.1. Apolo 
3.2. Princípio apolíneo 
 
4. Rush - Hemispheres (Hemisférios) 
4.1. O álbum 
4.2. A Capa 
4.3. Cygnus X-1: Book II - Hemispheres 
 
5. Relações entre o álbum Hemispheres (1978) e os conceitos dionisíacos e 
apolíneos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
I – O momento na Grécia clássica 
 
A Grécia clássica vivia em um momento de racionalidade humana, um dos 
poucos instantes em que imperaram as luzes em meio a um mundo de superstição, 
assustado pelas malignidades sobrenaturais. Nessa época, porém, existiam elementos 
que faziam a sociedade grega ter outra configuração. A partir de um estudo moderno, 
pelos filósofos Hölderlin e Nietzsche, os mesmos vêem uma sociedade que, além do 
elemento racional, também estava associada ao assombroso, pela superstição, 
misticismo e medo do oculto (pelo menos numa escala bem maior do que suspeitavam 
os historiadores iluministas e positivistas do século passado). (SCHILLING, 2011) 
 
A tragédia Grega surgiu entre os séculos 500 A.C. e 400 A.C., em um momento 
que a sociedade grega tinha “... uma sensibilidade exarcebada para o sofrimento e uma 
extraordinária sensibilidade artística que caracteriza os gregos e que explica pela força 
de seus instintos.” (MACHADO, 1999, p.17). 
 
Nietzsche determina como “sabedoria popular”, ou “filosofia do povo”, a 
extrema sensibilidade, do mesmo, para o sofrimento, devido a vida levada na época, que 
era de grande sofrimento e violência, o que levava o povo a ser extremamente 
pessimista. 
 
“Diz a lenda que Midas, rei da Prígia, 
encontrando nos bosques o sabio Silenio, que por lá 
vivia bebendo, rindo e cantando, perguntou-lhe o 
que existe de mais desejável para o homem, isto é, 
qual é o bem supremo. A princípio, sem querer 
responder, pressionado, o sábio afinal responde: 
“Miserável raça de enfemeros, filhos do acaso e da 
pena, por que me obrigar a dizer o que não tens 
menor interesse em escutar? O bem supremo te é 
absolutamente inacessível: é nao ter nacsido, nao 
ser, nada ser. Em compensação, o segundo dos bens 
5 
 
tu pode ter: é logo morrer”. (MACHADO, p. 
17) 
 
Com isso, a arte grega, que era intimamente ligada a religião, fez com que se 
tornasse possivel ou desejável a vida, com a criação da arte apolinea - a idéia que 
acompanha Nietzsche em sua reflexão. “A vida só é possivel pelas miragens artisticas.”, 
deu um novo sentido ao povo grego, fazendo mascarar os terrores e atrocidades da 
existência com os deuses olímpicos. 
 
A epopéia, poesia homérica, da civiliazação apolinea, fazia com que o povo 
pessimista da época reagisse a esse pensamento de aniquilamento da vida, e ao mal 
supremo, como dito pelo sábio Sileno. Para os gregos, a beleza, característica de Apolo, 
era tornar belo, era medida, harmonia, ordem, proporção, delimitação, mas também 
significa calma e liberdade com relação às emoções. Nietzsche em sua obra, “O 
nascimento da tragédia”, defende a tese de que o ser verdadeiro tem necessidade da bela 
aparência para a sua libertação. Uma libertação da dor pela aparência. (MACHADO, 
1999) 
 
Porém esse mundo era um mundo individual, onde a “vontade”, termo utilizado 
por Nietzsche, que tem como signifiacado núcleo do mundo, essência das coisas, era 
mascarada pelo lema apolineo: “Conhece-te a ti mesmo”. 
 
Nietzsche, então, em sua análise, afirma que os gregos tinham a aparência como 
um método para encobrir a “vontade”, um saber que era perigoso para eles. A apologia 
à arte significa, para Nietzsche, uma apologia a aparência como necessária não apenas à 
manutenção, mas à intensificação da vida. Porém esse mascaramento do mundo 
essencial, deixa de lado uma verdade que desconsidera um outro instinto estético que 
nao pode ser esquecido – o dionisíaco. (MACHADO, 1999) 
 
É essa cultura, uma religião ou arte, que veio com poder destruidor, trazendo o 
pessimismo de volta ao povo grego. As palavras do sábio Sileno retornavam a fazer 
sentido. O desmascaramento da verdade estava acontecendo, a essência estava vindo a 
tona, fazendo com que a medida, a harmonia e o individualismo dessem lugar à 
reconsiliação do homem com a natureza e com os outros homens. Os efeitos dionisiacos 
6 
 
faziam ser esquecidos tudo o que foi vivido e construído no passado: é uma negação do 
indivíduo, da conciência, do Estado, da civilização da hitória (MACHADO, 1999). 
Logo, com a verdade desmascarada pela essência da natureza, que mostra aos homens 
que o mundo belo por eles construído era, na verdade, um mundo de horror e absurdo, 
torna a experiência dionisiaca uma “embriageuz do sofrimento” que destroi o “belo 
sonho” (MACHADO, 1999). 
 
Mas nao é esse, porém, o sentido dionisíaco que Nietzsche resalta. 
 
“... é novamente pela arte que o grego é 
salvo do perigo representado por essa religião 
dionisíaca bruta, selvagem, natural, destruidora. Ou 
melhor, pela segunda vez a própria vida salva o 
grego utilizando a arte como instrumento. “A arte o 
salva, mas pela arte é a vida que o salva em seu 
proveito”, diz Nietzsche...” (MACHADO, p.23) 
 
É nessa perspectiva, da filosofia de Nietzsche, que surge a poesia épica, que 
dava um novo ar à estratégia artística que ao invés de tentar reprimir o culto a dionísio, 
ela o agregava, transformando um fenômeno natural em fenômeno estético, graças a 
apolo que atraiu a verdade dionisíaca para o mundo da bela aparência. 
 
Para Nietzsche, essa reconcialização tinha um efeito terapêutico, e eficaz para o 
ato de cura, tendo como o princípio a prática da experiência dionisíaca, através da arte, 
ou seja, “uma experiência de embriaguez sem perda de lucidez” (MACHADO, 1999). 
 
“... A arte dionisíaca, a arte trágica, é um 
jogo com a embriaguez, uma representação da 
embriguez que tem justamente por objetivo aliviar aembriguez:... Essa noção de jogo é fundamental 
para compreender a diferença entre dionisíaco 
orgiástico e o dionisíaco artístico e como o grego, 
atráves da beleza, reprimiu no dionisíaco bárbaro 
seus elementos destruidores, ensinando-lhe a 
medida e transformando-o em arte.” 
(MACHADO, p.24) 
 
7 
 
 E segundo Machado (1999), em sua obra, diz que Nietzsche deixa 
evidente a distinção entre as duas manifestações dionisíacas, da seguinte maneira: 
 
“ Está claro também que o dinisíaco 
artístico não se opõe ao apolíneo, mas supera esta 
oposição justamente por ser artístico e implicar 
necessariamente aparência. E, finalmente também o 
dionisíaco celebrado por ele não é o culto orgiástico 
mas o do artista trágico.” (MACHADO, 2010) 
 
 Logo a tragédia permitia a articulação entre a aparência e a essência, não 
se limitando ao nível da aparência, mas possibilitando uma experiência trágica da 
essência do mundo. Essa união dá-se através do conflito entre o apolíneo e o dionisíaco, 
representando derrota do saber apolíneo e a vitória do saber dionisíaco (MACHADO, 
1999). 
 
Na tragédia é necessário viver uma antítese, onde o herói trágico deve perecer 
por onde ele deve vencer. Ou seja, na tragédia o destino do herói é sofrer, como sofreu 
Dionisio. 
 
 Nietzsche, então, segundo o estudo de Machado (1999), faz uma leitura 
da tragédia como algo que trás a alegria, pois o sofrimento vivido pelo herói é o 
mascaramento de nossa dor, é a expressão de uma resistência ao próprio sofrimento. Na 
experiência trágica, que a arte proporciona, o homem se torna o próprio ser originário, 
sentindo o seu desejo e o seu prazer de existir. 
 
 Nietzsche, por fim, afirma que não pode haver dionisíaco sem o apolíneo. É um 
equilibrio entre a ilusão e a verdade, entre a aparência e a essência, o único modo de 
superar a radical oposição metafísica de valores. 
 
II - DIONÍSIO E O PRINCÍPIO DIONISÍACO 
 
2.1 - Dionísio: 
 
8 
 
Filho de Zeus e da princesa Semele, era o único deus olimpiano que era filho de 
uma mortal, fato este que o tornava um deus grego diferente dos demais. Dionísio era o 
deus dos ciclos vitais, das festas, das orgias, do vinho, da embriaguez, da insanidade, 
mas, especificamente, do frenesi que provoca um estado de desordem e inconsciente. 
Assemelha-se ao Deus Baco, da mitologia romana, pela ligação ao estado alcoólico. 
 
Segundo Machado (1999), Dionísio era considerado um deus estrangeiro, 
pertencente à outra religião. Mas seu culto seduziu os gregos e, de pouco-a-pouco, fora 
ganhando espaço no povo heleno. 
 
2.2 - Princípio Dionisíaco: 
 
A essência dos cultos a Dionísio eram as festividades nas quais os indivíduos se 
utilizavam de substâncias inebriantes, que na maioria das vezes era o álcool que havia 
no vinho que era bebido. Essas substâncias tinham o propósito de induzir a transes que 
anulassem as inibições e que fizessem com que as pessoas se entregassem ao êxtase 
místico das comemorações dionisíacas. (DALBY, 2005) 
 
A antítese que mostra os cultos dionisíacos em contraposição aos princípios 
apolíneos indica que um complementa o outro, de forma que, o que falta a um tem no 
oposto. (MACHADO 1999) 
 
Podemos exemplificar o parágrafo anterior com o seguinte fragmento: 
 
“Pretendendo substituir o mundo da verdade, ou a 
verdade do mundo, pelas belas formas, a arte apolínea deixa 
de lado algo essencial; virando as costas para a realidade, 
dissimulando a verdade, ela desconsidera o outro instinto 
estético da natureza que não pode ser esquecido - o 
dionisíaco.” (MACHADO, 1999, p. 20) 
 
Outra característica na qual podemos diferir os dois seriam as concepções de 
indivíduo, onde Machado (1999) diz: 
 
9 
 
“A experiência dionisíaca, em vez de individuação, 
assinala justamente uma ruptura com o principium 
individuationis e uma total reconciliação do homem com a 
natureza e os outros homens,[...] que abole a subjetividade até 
um total esquecimento de si...” (p. 21) 
 
Pode-se constatar esse princípio da falta de individualização dentro do teatro, 
que começou a se desenhar dentro das festividades dionisíacas, em Atenas. Eram 
organizados festivais, denominados de Dionísias Urbanas, onde haviam competições 
que eram apresentadas tetralogias, que eram constituídas de três tragédias e uma sátira. 
 
 Os atores das peças executadas, que eram todas em honra a Dionísio, utilizavam 
máscaras, que significavam a submersão de suas identidades. A perda da identidade, 
inclusive, era demonstrada não apenas pela utilização das máscaras, mas também era 
percebida pelo coro, nos quais os membros dançavam e cantavam em uníssono, onde 
cantavam as mesmas palavras. Toda a força de vontade e a individualidade eram 
ofertadas a Dionísio. Além de ser sugerido que o herói que morre em cada peça é o 
próprio Dionísio, onde o festival estaria honrando o deus ao reproduzir a sua morte. 
(DALBY, 2005) 
 
III - APOLO E O PRINCÍPIO APOLÍNEO 
 
3.1 – Apolo: 
 
De acordo com a mitologia grega, o deus Apolo nasceu de Leto (deusa do 
anoitecer), ao pé de uma palmeira, no pobre e deserto rochedo de Delos. Seu 
nascimento foi sinalizado por sete cisnes, que deram sete voltas ao redor de Delos 
cantando e, na oitava volta, desta vez sem cantar, Leto deu luz a Apolo. Por conta disto, 
dá-se sua forte ligação com os cisnes. (POUZADOUX, 2001, p.31) 
 
Esta ligação de Apolo com os cisnes pode explicar a escolha de Neil Peart pelo 
nome (“Cygnus” pode ser traduzido como “Cisne”) do personagem fictício do qual o 
utilizará no decorrer na estória contada na faixa Cygnus X-1: Book II – Hemispheres. 
10 
 
Na mitologia grega, Apolo era considerado o Deus da clareza, da razão, por fim, 
da ordem. Nietzsche considera, então, que esse espírito apolíneo se interliga com o 
‘’mundo dos sonhos’’, sendo ele visto na forma da beleza definida e estabelecida, na 
estética vazia, nas formas superficiais dotadas de extremo individualismo, assim então 
mascarando de bela uma realidade que, de fato, não é assim. 
 
3.2 - Apolíneo: 
 
Enquanto o princípio dionisíaco vem arrebatar as concepções de forma, 
realidade e racionalidade, como se fosse um estado de embriaguez, o princípio apolíneo 
tem por caracterização: o equilíbrio, a sobriedade, a racionalidade, a ordem. Vejamos 
essa dualidade no fragmento: 
‘’Apolíneo e dionisíaco devem ser pensados como tendências ou 
impulsos artísticos antitéticos; e a natureza de qualquer arte, em 
qualquer época, varia conforme o [impulso ou tendência] que é 
operativo.” (SILK & STEM, 2011, p.63).’ 
 
Para Nietzsche, foi na Grécia Socrática onde ocorreu essa separação e 
valorização apolínea em detrimento ao princípio dionisíaco. Por uma racionalização 
extrema do pensamento, relegando todo e qualquer pensamento que quebrasse com essa 
amarração e seqüenciamento de idéias, o ‘’espírito’’ dionisíaco foi tido como algo que 
viesse em perturbação a essa aparente paz apolínea. (COTRIM, 2000) 
 
Embora opostos, estes dois espíritos/princípios, compõem a tragédia. A razão 
apolínea, sendo antídoto dos devaneios da embriaguez dionisíaca. O conhecimento da 
verdade não só por aparências, mas sim através de experiências que mostram a mostram 
em sua totalidade, que é a significância da união dos dois princípios. (MACHADO, 
1999) 
 
União essa que observamos mais diretamente no fragmento: ‘’A arte trágica 
contra o que há de desmesurado no instinto dionisíaco como se Apolo ensinasse a 
medida a Dionísio. ’’ (MACHADO, 1999, p. 24) 
 
IV - RUSH - HEMISPHERES (HEMISFÉRIOS) 
11 
 
 
4.1 - O álbum: 
 
O álbum Hemispheres, da banda canadense Rush, foi lançado no dia 14 de 
dezembro de 1978 por Mercury Records e Anthem Entertainment, gravado no estúdio 
de Rockfield, no País de Gales em junho de 1977. (RUSH, 1978) 
 
Este álbum se dá na continuação da última faixa do álbum anterior ao mesmo, o 
A Farewell to Kings, cuja faixa se chama "CygnusX-1 Book I". 
 
Todas as letras contidas nas faixas do álbum foram escritas pelo baterista da 
banda, Neil Peart. Melodias e arranjos por Alex Lifeson e Geddy Lee. (Rush, 1978) 
 
Cygnus X-1 conta a história de um buraco negro e termina com a frase "to be 
continued", que pode ser traduzida, para o português, como "a continuar". A Farewell to 
Kings foi lançado em 1977, antecedendo o álbum Hemispheres. 
 
Hemispheres contém 4 faixas: 
Cygnus X-1: Book II - Hemispheres (18' 05'') 
 (I) Prelude 
(II) Apollo/Dionysus 
(III) Armageddon 
(IV) Cygnus 
(V) The Sphere 
Circumstances (3' 41'') 
The Trees (4' 46'') 
La Villa Strangiato (9' 45'') 
 
 A primeira, e principal, faixa do álbum leva o título da obra (Hemispheres). É a 
continuação de Cygnus X-1: Book I - The Voyage. A faixa conta uma estória sobre um 
duelo entre Apolo e Dionísio (personagens míticos helenos) e suas características; 
Circumstances, segunda faixa do álbum, traz uma reflexão sobre a "verdade" da vida; 
The Trees conta sobre um desentendimento entre um carvalho e um bordo (árvores) em 
12 
 
função da ocupação de um lugar onde as árvores possam receber a luz solar; La Villa 
Strangiato é uma faixa inteiramente instrumental. (RUSH, 1978) 
 
4.2 - A Capa: 
 
 
 
 
A arte contida na capa deste álbum trata-se de um homem nu e um homem de 
terno sobre um cérebro, cada um em um lado do mesmo. 
 
Por meio da observação de pacientes com lesões cerebrais, a 
ciência, aos poucos, descobriu que uma lesão ocorrida no hemisfério 
esquerdo, dependendo da sua intensidade, pode provocar a perda da fala. 
Isso ocorre porque, ao que tudo indica, a capacidade de falar e o 
domínio da linguagem oral estão relacionados ao hemisfério esquerdo e 
este, por sua vez, compreende a capacidade de raciocínio, pensamento e 
desempenho das atividades intelectuais. (PEYCHAUX, 2008, p.14) 
 
Ao lado esquerdo do cérebro, contido na imagem que retrata a capa do álbum 
Hemispheres, há um homem de camisa, paletó, gravata, chapéu, bengala e sapatos, 
portando um traje linear e que se é montado sob uma determinada seqüência de peças de 
roupa (camisa, gravata, paletó); Um traje que é usado conforme um molde padronizado 
(questão de medidas e formas) e pode ser relacionado ao hemisfério esquerdo do 
cérebro, segundo os estudos de Peychaux (2008), levando em consideração a função de 
assimilar conhecimentos através da racionalidade e de dimensionamento de proporções. 
 
13 
 
Ainda comprovou-se que o hemisfério direito, que é não verbal, 
experimenta sensações e reações emocionais, processando a informação 
por sua própria conta; como se atuassem duas pessoas numa só. E o que 
isso tudo tem a ver com o mundo da imagem? A resposta é muito simples. 
O lado direito se especializa na percepção da imagem da forma global e 
sua função consiste, principalmente, em sintetizar a informação que 
recebe através da modalidade visual. (PEYCHAUX, 2008, p. 15) 
 
Ao lado direito do cérebro, exposto na figura que representa a capa do álbum 
Hemispheres, há um homem nu, sem nenhuma vestimenta, sem nenhum acessório que 
esteja fundamentado num método racional de existência de algo. Ele está de uma forma 
natural, sem portar traços inorgânicos que remetem a uma seqüência baseada em 
formas, medidas e ordem. Não é necessária uma análise de formas/medidas para 
entender que a pessoa retratada está nua, pois não há o que medir, verificar ou avaliar. 
Este fato pode ser relacionado ao hemisfério direito do cérebro, segundo os estudos de 
Peychaux (2008), pois não há processamento com critérios avaliativos sobre a 
vestimenta do personagem. Ele está de forma natural, como realmente é. 
 
4.3 - Cygnus X-1: Book II - Hemispheres 
 
"Cygnus X-1 
Livro II: Hemisférios 
 
I. Prelúdio 
 
Quando nosso esgotado mundo era jovem 
A batalha dos ancestrais começou 
Os deuses do Amor e da Razão 
Procuraram sozinhos 
Para governar o destino do Homem 
Eles batalharam através das eras 
Mas ainda nenhuma força iria se entregar 
As pessoas estavam divididas 
Cada alma era um campo de batalha 
 
II. Apollo: Aquele que traz Sabedoria 
 
14 
 
“Eu trago verdade e entendimento, 
Eu trago juízo e justa sabedoria 
Dons preciosos além de comparação 
Nós podemos construir 
Um mundo de maravilhas, 
Eu posso deixá-los todos atentos 
Eu encontrarei comida e abrigo para você 
Mostrar-lhe a chama para mantê-lo quente 
Através da interminável 
Tempestade de inverno 
Você pode viver em encanto e conforto 
No mundo que você transforma.” 
 
As pessoas estavam encantadas 
Vindo à frente para reclamar seu prêmio 
Eles correram para construir suas cidades 
E conversar entre os sábios. 
Mas um dias as ruas ficaram silenciosas, 
Ainda que eles não soubessem 
O que estava errado 
O desejo de construir tais belas coisas 
Não parecia ser tão forte 
Os homens sábios foram consultados, 
E a Ponte da Morte havia sido atravessada 
Em busca de Dionysus. 
Para descobrir o que eles haviam perdido 
 
III. Dionísio: Aquele que traz Amor 
 
“Eu trago amor para lhe dar conforto 
Na escuridão da noite, 
No Coração da luz eterna 
Você precisa apenas 
Confiar em seus sentimentos; 
Apenas o amor pode guiá-lo corretamente 
Eu trago risadas, eu trago música, 
Eu trago alegria e eu trago lágrimas 
Eu irei acalmar seus medos primitivos 
Jogue fora as correntes da razão 
E sua prisão desaparece” 
15 
 
 
As cidades foram abandonadas, 
E as florestas ecoaram canções. 
Eles dançaram e viveram como irmãos; 
Eles sabiam que o amor 
Não poderia estar errado 
Eles tinham comida e vinho à vontade 
E eles dormiam sob as estrelas 
As pessoas estavam contentes 
E os Deuses os observavam ao longe 
Mas o inverno caiu sobre eles 
E os pegou despreparados 
Trazendo lobos e fome gelada 
E os corações dos homens se desesperaram 
 
IV. Armageddon: 
A Batalha do Coração e da Mente 
 
O Universo dividido 
Enquanto o Coração e a Mente colidiram, 
Com as pessoas deixadas desguiadas 
Por tantos anos problemáticos 
Em uma nuvem de dúvidas e temores 
Seu mundo estava quebrado 
Separado em vazios Hemisférios 
 
Alguns lutaram consigo mesmos, 
Alguns lutaram contra outros 
Muitos apenas seguiram um outro 
Perdidos e sem objetivos como seus irmãos, 
Pois seus corações estavam tão obscuros, 
E a verdade não poderia aparecer 
Seus espíritos estavam divididos 
Entre cegos Hemisférios 
 
Alguns que não lutaram 
Trouxeram contos para velhos iluminarem 
Meu Rocinante navegou pela noite 
Em seu vôo final 
Para o coração da terrível força de Cisne 
16 
 
Nós marcamos nosso destino 
Giramos através de tempo sem tempo 
Para este lugar imortal 
 
V. Cisne: Aquele que traz Equilíbrio 
 
Eu tenho memória e consciência 
Mas eu não tenho forma 
Como um espírito sem corpo 
Eu estou morto e ao mesmo tempo não nasci 
Eu passei para dentro do Olimpo 
Como contado em contos de velhos, 
Para a cidade dos Imortais, 
Mármore branco e o mais puro ouro 
 
Eu vejo os deuses de batalha enfurecerem-se 
Raios através do céu 
Não posso me mover, 
Não posso me esconder 
Eu sinto um grito silencioso se formar 
 
Então de uma vez o caos cessou 
Uma calmaria surgiu, uma paz repentina 
Os guerreiros sentiram meu choro silencioso 
E pararam sua batalha, mistificados 
 
Apollo estava surpreso 
Dionísio achou que eu estava louco 
Mas eles ouviram minha história 
E eles pensaram, e eles estavam tristes 
 
Olhando para baixo do Olimpo 
Em um mundo de dúvidas e medo 
Sua superfície estilhaçou 
Em tristes Hemisférios 
 
Eles sentaram em silêncio por algum tempo 
E finalmente eles viraram-se para mim 
“Nós o chamaremos de Cisne, 
O deus do equilíbrio você será.” 
17 
 
 
VI. A Esfera: Um Tipo de Sonho 
 
Nós podemos andar em nossa estrada juntos 
Se nossos objetivos são os mesmos 
Nós podemos correr sozinhos e livres 
Se nós perseguimos um objetivo diferente 
Deixe a verdade do amorse iluminar 
Deixe o amor da verdade brilhar claramente 
Sensibilidade, armada com senso e liberdade 
Com o Coração e a Mente 
Unidos em uma única e perfeita Esfera." (PEART, 1974) 
 
A primeira faixa do álbum Hemispheres, da banda Rush, conta sobre um duelo 
entre Apolo e Dionísio. Como citado anteriormente neste estudo, Apolo é significado de 
razão (formas, medidas) e Dionísio é significado de embriaguez, luxúria, ausência do 
logus... 
 
Com a imagem contida na capa do álbum, é possível relacionar os dois 
personagens citados a Apolo e a Dionísio. 
 
"A arte apolínea é a arte da beleza: se os deuses olímpicos não são 
necessariamente bons ou verdadeiros - como o deus das religiões morais 
depois analisadas por Nietzsche -, eles são belos. Para o grego beleza é 
medida, harmonia, ordem, proporção, delimitação mas também significa 
calma e liberdade com relação às emoções, isto é, serenidade." 
(MACHADO, 1999, p. 21) 
 
 Tendo como base os estudos de Peychaux (2008) e a citação de Machado (1999), pode-
se depreender que o personagem que porta um traje composto por paletó, gravata e etc. 
faz uma menção à racionalidade ligada ao hemisfério direito do cérebro (posição na 
qual o personagem está sobre), logo produzindo uma alusão ao aspecto apolíneo. 
 
"A experiência dionisíaca, em vez de individuação, assinala 
justamente uma ruptura com o principium individuationis e uma total 
harmonia universal e um sentimento místico de unidade; em vez de 
autoconsciência significa uma desintegração do eu, que é superficial, e 
18 
 
uma emoção que abole a subjetividade até o total esquecimento de si; em 
vez de medida é a eclosão da bybris, da desmesura da natureza 
considerada como verdade e 'exultando na alegria, no sofrimento e no 
conhecimento'; em vez de delimitação, calma, tranqüilidade, serenidade, 
é um comportamento marcado por um êxtase, por um enfeitiçamento, por 
uma extravagância de frenesi sexual que destrói a família, por uma 
bestialidade natural constituída de volúpia e crueldade, de força grotesca 
e bruta; em vez de sonho, visão onírica, é embriaguez, experiência 
orgiástica." (MACHADO, 1999, p. 21-22) 
 
Tendo como base os estudos de Peychaux (2008) e a citação de Machado 
(1999), pode-se depreender que o personagem que está nu na imagem (capa) está 
relacionado com o dionisíaco que, deste modo, está nu (sem acessórios que remetem 
idéias de formas, delimitações, proporções e ordens) e sobre o hemisfério esquerdo do 
cérebro, que, segundo Peychaux (2008), é responsável por assimilar aspectos sem 
avaliar formas, proporções, medidas e etc. 
 
V - Relações entre o álbum Hemispheres (1978) e os conceitos dionisíacos e 
apolíneos. 
 
Como citado, anteriormente, neste estudo, a capa do álbum Hemispheres (1978) 
já faz menções aos conceitos apolíneos e dionisíacos, através do uso do conhecimento 
sobre os hemisférios cerebrais e ilustrações de dois homens, cada um com uma 
determinada aparência. 
 
A relação da capa do álbum, e toda sua carga filosófica, com o conteúdo contido 
nas letras musicais (mais precisamente a faixa Cygnus X-1: Book II - Hemisferes) de 
Hemispheres (1978), pode ser entendida através de estudos que buscam proporcionar o 
entendimento dos conceitos dionisíacos e apolíneos. 
 
A faixa Cygnus X-1: Book II - Hemispheres, como citada anteriormente neste 
estudo, é a única faixa que do álbum que faz menção direta aos conceitos de Apolo e 
Dionísio. Circumstances se trata de uma faixa que fala sobre verdade, assunto 
explorado por Machado (1999) através dos conceitos escritos por Nietzche. 
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The Trees aborda uma história de um conflito entre duas árvores. Segundo comentários 
do documentário Rush - Hemispheres to Exit Stage Left (GRIFFITHS & 
CARRUTHERS, 2004), a banda (Rush) sempre é perguntada sobre a existência de uma 
crítica ao sistema governamental canadense contida na letra da música e, como resposta, 
Neil Peart (autor da faixa) nega a alusão e diz que a canção trata somente de um simples 
conflito entre duas árvores. Mas vale a pena ressaltar que a música aborda um tema 
conflituoso, assim como o tema abordado na primeira faixa (conflito entre Apolo e 
Dionísio). 
La Villa Strangiato, por ser uma faixa instrumental, não se pode considerar alguma 
alusão direta aos conceitos abordados por Machado (1999) assim como as outras faixas 
do álbum. 
 
 Relações da primeira faixa do álbum com os conceitos apolíneos e dionisíacos 
são claros, na medida em que já se tem conhecimento dos conceitos anteriormente 
retratados neste estudo. A seguir serão compararados/relacionados os versos contidos na 
faixa Cygnus X-1: Book II – Hemisferes, que é dividida em sete trechos/partes, com os 
conceitos dionisíacos e apolíneos a partir de estudos promovidos por autores que 
abordaram os conceitos citados em suas publicações. 
 
 No início, havia sim a divisão entre os dois deuses, o da razão (Apolo) e 
o do amor (Dionísio). Cada qual com seu princípio, sua cultura, mas os 
dois com o mesmo objetivo de ter nos homens a sua própria imagem. 
Cada homem optava por qual destino tomar, onde dentro de si, essa 
decisão seria angustiante e dolorosa. Essa primeira parte da faixa se diz 
respeito ao confronto entre os dois deuses; Apolo que representava a 
beleza, e Dionísio, que representa essência. Porém, pode-se discutir, 
segundo a visão de Nietzsche, a afirmação de que, na tragédia, não pode 
haver dionisíaco sem o apolíneo. É um equilibrio entre a ilusão e a 
verdade, entre a aparência e a essência, o único modo de superar a radical 
oposição metafísica de valores.(MACHADO, 1999). 
 
 Pode-se observar que, no trecho II, parte da letra da faixa, que aborda o 
tema dionisíaco, Peart procurou retratar como os indivíduos se sentiam 
em relação às festividades dionisíacas, onde um grande torpor tomava 
20 
 
conta da população, a que se refere à canção, e as pessoas acabam 
interagindo umas com as outras, fazendo com que a individualidade 
tivesse menor importância, como afirmava Machado (2005), e após o 
estado inebriante passar, eles se sentiam esgotados fisicamente, devido às 
extravagâncias cometidas enquanto não estavam sóbrios. Assim como 
diz Machado: 
"A experiência dionisíaca, em vez de individuação, 
assinala justamente uma ruptura com o principium 
individuationis e uma total harmonia universal e um 
sentimento místico de unidade; em vez de autoconsciência 
significa uma desintegração do eu, que é superficial, e uma 
emoção que abole a subjetividade até o total esquecimento de 
si; em vez de medida é a eclosão da bybris, da desmesura da 
natureza considerada como verdade e 'exultando na alegria, 
no sofrimento e no conhecimento'; em vez de delimitação, 
calma, tranqüilidade, serenidade, é um comportamento 
marcado por um êxtase, por um enfeitiçamento, por uma 
extravagância de frenesi sexual que destrói a família, por uma 
bestialidade natural constituída de volúpia e crueldade, de 
força grotesca e bruta; em vez de sonho, visão onírica, é 
embriaguez, experiência orgiástica." (MACHADO, 1999, 
p. 21-22) 
 
Percebe-se que Machado (1999) demonstra, nesse trecho, a mesma abordagem 
que Neil Peart (1978) retratou, evidenciando o quão avassalador os impulsos 
dionisíacos podem ser, mostrando que ele é “o estado alcoólico”, e que o mesmo acaba 
por tomar controle das pessoas, fazendo com que elas se deleitem em luxúria, onde a 
embriaguez, enquanto influenciando as mesmas, as fazem ter experiências sublimes e 
frenéticas. 
 
 No terceiro trecho da faixa explorada, em que Neil Peart cita Apolo e 
suas características e efeitos de suas influências, Apolo é citado como 
aquele que vem como quem que traz a razão, que traz a possibilidade da 
construção do belo, ou ainda que vem acolher as angústias existenciais 
de cada ser individual. Podemos relacionar esse fragmento da música 
diretamente com este trecho de Machado: 
21 
 
 
‘’Apoloé o brilhante, o resplandecente, o solar; ao mesmo 
tempo, conceber o mundo apolíneo como brilhante significa criar 
um tipo específico de proteção contra o sombrio, o tenebroso da 
vida: a proteção pela aparência’’(MACHADO, 2005) 
 
Ao final deste mesmo fragmento, observa-se essa idéia de opostos 
entre Apolo e Dionísio. Há uma mudança do comportamento apolíneo, por 
parte das pessoas, deixando de lado a ‘’segurança’’ e o ‘’abrigo’’ de Apolo, 
para entrarem na ‘’alma’’ dionisíaca, imbuídos de um espírito de curiosidade 
por experiências que transcendessem as aparências, rumo ao doce inebriante 
caos de prazer de Dionísio. 
 
 Segundo o conteúdo apresentado no trecho IV, da faixa explorada neste 
estudo, que se chama Armageddon, o povo abordado no contexto 
apresentado por Neil Peart em Cygnus X-1: Book II – Hemispheres tem o 
sentimento de desgaste em função das repetitivas conversões de cultos 
entre dionisíaco e apolíneo. Machado (1999) diz, em seu estudo, que os 
impulsos dionisíacos vinham e ofuscavam os princípios apolíneos. Logo, 
pode-se propor a existência de uma relação entre o trecho de Neil Peart e 
as idéias de Nietzsche contidas na obra de Machado (1999). 
Então, Peart cita um personagem criado pelo próprio para, então, tentar 
resolver esta questão das conseqüentes conversões de cultos exercidas 
pelo povo em questão, que geraram desgaste e conflitos. Peart chama seu 
personagem de ”Cygnus”, que pode ser traduzido, para o português, 
como “Cisne” (possível alusão à ligação de Apolo com os cisnes). 
 
 No trecho V, da faixa em questão neste estudo, Peart (autor) exibe seu 
personagem criado, o “Cygnus”, e o mostra como um ser abstrato que irá 
propor um equilíbrio entre os impulsos dionisíacos e apolíneos. Peart 
ainda diz que Apolo e Dionísio se redimem ao “Cygnus” e percebem 
que, ao haver a repulsão entre os dois impulsos (apolíneos e dionisíacos), 
há a geração de conflitos e desequilíbrio. Então, Peart diz que Apolo e 
22 
 
Dionísio, já num domínio fictício, dão ao “Cygnus” o título de “Deus do 
Equilíbrio”. 
 
 No último trecho (VI) da faixa citada, Neil Peart propõe, em sua letra, o 
equilíbrio entre os impulsos dionisíacos e apolíneos, dizendo que há a 
possibilidade de se conviver usufruindo de ambos os cultos. Peart chama, 
em Cygnus X-1: Book II – Hemispheres, nos trechos II e III, Dionísio de 
“quem traz o amor” e, Apolo de “quem traz a verdade e entendimento”. 
No trecho VI, Peart diz “Deixe a verdade do amor se iluminar. Deixe o 
amor da verdade brilhar claramente” (PEART, 1978). “Luz” pode 
significar "verdade", assim como os iluministas consideram o sentido da 
palavra desta forma usada. Então, Peart sugere, desta forma, o equilíbrio 
e uso de ambas as influências, tanto emotivas quanto fundamentadas na 
razão, “unidas numa única e perfeita esfera” (PEART, 1978). 
 
Peart não cita as tragédias gregas no corpo do texto da faixa, mas 
Machado (1999, p. 24) diz que a tragédia grega é a união entre as 
tendências dionisíacas e apolíneas. 
 
“A arte dionisíaca, a arte trágica é um jogo com a 
embriaguez, uma representação da embriaguez que tem 
justamente por objetivo aliviar a embriaguez; ou, em outras 
palavras, não propriamente embriaguez ou orgia, mas 
idealização da embriaguez ou da orgia. [...] O servidor de 
Dionísio deve estar em estado de embriaguez e ao mesmo 
tempo permanecer postado atrás de si como um observador. 
Não é na alternância entre lucidez e embriaguez, mas em sua 
simultaneidade, que se encontra o estado estético 
dionisíaco”. (MACHADO, 1999, p.24) 
 
Estado estético é conceito relacionado a formas e medidas, 
propriedades estas ligadas ao conceito apolíneo. E já que este estado 
estético se encontra na arte dionisíaca, pode-se entender a tragédia como 
23 
 
uma arte em que há a união de ambos os impulsos, dionisíacos e 
apolíneos. 
 
Desta forma, pode-se classificar a tragédia grega como uma 
“única e perfeita esfera” (PEART, 1974), já que, para Peart (1974), esta 
esfera é composta pelo equilíbrio entre as forças dionisíacas, “do amor e 
da natureza”, e apolíneas, da “verdade e do entendimento”. 
 
 
 
 
 
CONCLUSÃO 
 
Como levantado na introdução deste estudo, o presente trabalho acadêmico teve 
como objetivo relacionar, comparar e complementar os conceitos de influências 
apolíneas e dionisíacas, abordados por autores que utilizaram o tema citado em suas 
publicações (principalmente Nietzche), com o álbum Hemispheres da banda Rush, a fim 
de propor a existência de uma relação entre a obra de Neil Peart e os conceitos citados. 
 
À partir de um levantamento bibliográfico, de maioria baseados em obras de 
Nietzche, pôde-se comparar e depreender uma possível existência de relação entre o 
álbum Hemispheres, da banda Rush, com os conceitos sobre influências e impulsos 
apolíneos e dionisíacos, já que o álbum traz a estória de um conflito entre Apolo e 
Dionísio, abordando suas conseqüências sobre uma determinada população. A partir 
desta temática, pôde-se, com citações publicadas sobre influências apolíneas e 
dionisíacas, relacionar, comparar e complementar o conteúdo filosófico da obra de Neil 
Peart com o conteúdo filosófico levantado a partir das referências bibliográficas 
utilizadas neste presente estudo. 
 
 
 
 
24 
 
REFERÊNCIAS 
 
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2000. 
 
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Documentário cinematográfico: Rush - Hemispheres to Exit to Stage Left. Direção por 
CARRUTHERS, Bob. Produção por: GRIFFITHS, Rachael. Indústia brasileira: Rock 
Story, 2004. 
 
MACHADO, R. Nietzsche e a Verdade. 2ª edição. Rio de Janeiro: Graal, 1999. 
 
MACHADO, R. Nietzsche e o renascimento trágico. Kriterion, Belo Horizonte, v. 46, 
n. 112, 2005 
 
POUZADOUX, Claude. Contos e Lendas da Mitologia Grega. São Paulo: Cia. das 
Letras, 2001. p.31. 
 
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PEYCHAUX, Lidia. Acessando o Hemisfério Direito do Cérebro - A Arte como 
Ferramenta para Desenvolver a Criatividade. Rio de Janeiro: Papel Virtual, 2008. 
 
RUSH, Official Website: Disponível em <http://www.rush.com/rush/>. Acesso em 12 
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SCHILLING, Voltaire. História por Voltaire Schilling – A Tragédia Grega: Terra, 
2011. Disponível em: 
< http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/tragedia_grega1.htm> Acesso em 
13/07/2011. 
 
25 
 
SILK, M.S. & STERN, J.P. Nietzsche on Tragedy. Cambridge, Cambridge University 
Press, 1995.

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