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Jennifer Taylor - Noites espanholas (Bianca Esp. 26.1) 39993

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Noites Espanholas 
Spanish Nights 
Jennifer Taylor 
Bianca Esp 26.1 
 
 
 
Laura ainda podia sentir o sabor dos lábios de Luís nos seus, os braços fortes e 
másculos envolvendo-a com paixão. Porém, tinha de resistir ao charme devastador 
desse homem e ao sentimento que renascia em seu peito. Já o amara uma vez, já fora 
sua mulher, e o destino destruíra sua felicidade. Agora, aquelas noites na Espanha 
ameaçavam fazer o passado reviver com a força de uma surpreendente paixão... 
 
Digitalização: Tatja 
Revisão: Alice Akeru 
 
 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
2 
Querida leitora, 
O verão está uma delícia, não é mesmo? Eu tenho aproveitado muito bem meus 
fins de semana: cuidando do jardim, tratando dos passarinhos que vêm beliscar as 
pitangas que há tanto tempo cultivo e... lendo muitos e muitos romances. Este Bianca 
Especial foi feito especialmente para você. Não dá para não se apaixonar! Você vai 
vibrar de emoção. Esteja onde estiver — na piscina, na praia, no campo, em casa, em 
qualquer lugar —, não deixe de ter à mão um Romance Nova Cultural! 
Janice Florido 
Editora 
 
 
Copyright © 1994 by Jennifer Taylor 
Originalmente publicado em 1994 pela Silhouette Books, divisão da Harlequin 
Enterprises Limited. 
 
Título original: Spanish nights 
 
Tradução: Débora S. Guimarães 
Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou 
parcial, sob qualquer forma. 
Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Enterprises 
Limited, Toronto, Canadá. Silhouette, Silhouette Desire e colofão são marcas 
registradas da Harlequin Enterprises B.V. 
Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com 
pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. 
Copyright para a língua portuguesa: 1995 
CIRCULO DO LIVRO LTDA. 
EDITORA NOVA CULTURAL uma divisão do Círculo do Livro Ltda. 
Alameda Ministro Rocha Azevedo, 346 - 9º andar CEP: 01410-901 - São Paulo - Brasil 
Fotocomposição: Círculo do Livro 
Impressão e acabamento: Gráfica Círculo 
 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
3 
CAPÍTULO I 
 
 
 
Sabia que ele a encontraria. Ao fugir, esperava apenas ganhar tempo, respirar 
e reunir forças para se fazer ouvir quando o momento chegasse. Mas agora, ao vê-lo 
parado na soleira com o rosto frio e impenetrável, Laura tinha certeza de que não 
conseguiria. 
— É melhor entrar — disse, afastando-se para que ele passasse. 
Depois de fechar a porta, respirou fundo e virou-se para encará-lo, 
aproveitando para apreciar a beleza dos cabelos negros e da pele morena e viçosa. Ele 
não parecia diferente de quando o deixara, dois meses antes, e o rosto não mostrava 
sinais de sofrimento ou tensão. Teria sentido sua falta, ou viera buscá-la apenas por 
orgulho, para cumprir seu dever? Se soubesse, poderia lidar melhor com a situação. 
— Você parece ótima, Laura. É óbvio que o clima inglês lhe faz bem. Melhor 
que o espanhol... 
Havia sarcasmo em sua voz e na maneira como examinava seu rosto pálido, 
seus cabelos loiros e os olhos cinzentos sob as longas pestanas. Laura ficou vermelha, 
consciente da intensidade daquele olhar e do efeito que provocava nela. Luís fora 
educado na Inglaterra, como toda a família, e falava o idioma perfeitamente, mas 
havia sempre uma leve inflexão em sua voz profunda, um acento que dava às palavras 
um adorável toque estrangeiro. Ao ouvir sua voz, Laura tentou conter os arrepios 
provocados pelo som que sempre julgara sensual e estimulante. 
— Estou muito bem, mas duvido que tenha vindo até aqui para informar-se 
sobre minha saúde — respondeu, dirigindo-se à sala de estar. 
Luís a seguiu, examinando a mobília simples com ar de desprezo. 
— Sei que não é o tipo de ambiente com que está habituado, mas não há outro 
lugar onde possamos conversar. Quer um café? 
— Não, obrigado. Almocei a caminho daqui — ele suspirou, sentando-se em 
uma das poltronas e cruzando as pernas, os olhos fixos em seu rosto. — Vamos 
dispensar as formalidades, está bem? Acho que não são necessárias. 
Forçando-se a sustentar seu olhar gelado, Laura sentou-se diante dele. 
— Concordo com você. Por que veio me procurar, Luís? 
Ele sorriu, recostando-se na poltrona e apoiando a cabeça no espaldar estofado. 
— É isso que aprecio em você, minha querida. Nenhuma demonstração de 
surpresa e nada de perguntas tolas, tão próprias da maioria das mulheres. Qualquer 
uma ia querer saber como a encontrei. 
Luís podia estar representando o papel do homem calmo e civilizado, mas o 
conhecia o suficiente para saber que não devia deixar-se enganar. Jamais a perdoaria 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
4 
por ter ferido sua honra e a de sua família, como havia dito, e dois meses não haviam 
sido suficientes para aplacar sua ira e torná-lo mais compreensivo, como esperara. 
— Por que eu faria uma pergunta tão inútil? Você tem dinheiro e influência 
para conseguir tudo o que quer, não? Só estou surpresa por ter levado tanto tempo 
para me localizar. Por acaso o nome dos Rivera está perdendo o poder? 
— Cuidado, minha querida. Não cometa o engano de me aborrecer, ou terá de 
arcar com as desagradáveis consequências. 
Laura riu com amargura, tentando ignorar a dor que dilacerava seu coração. 
— Acha que alguma coisa pode ser pior do que o que suportei há dois meses? 
Tem esperança de poder me fazer sentir mais baixa e menos digna da grande honra 
que me dispensou? Sou sua esposa, Luís, e você me tratou como uma... 
— E como esperava que eu reagisse? O que pensou que eu diria quando 
terminasse de ouvir sua confissão? Acreditou que eu poderia simplesmente perdoar e 
esquecer? 
— Pensei que me amasse! Apesar de ferido, aborrecido, talvez até furioso, tinha 
certeza de que acabaria me ouvindo e tentando compreender. Mas não foi o que fez, 
Luís — e levantou-se para ir até a janela. Quantas vezes havia imaginado esse 
encontro, ensaiado o que pretendia dizer e o que deveria fazer? Centenas de vezes... e 
agora que o momento chegara, não conseguia impedir que a velha amargura os 
dominasse novamente. O fato simples e inegável era que Luís não a amava o suficiente 
para aceitar algo que fora parte de seu passado. Virando-se, encarou-o e tentou vencer 
a agonia que a inundava. — Acho que não temos mais nada a discutir. É evidente que 
não está disposto a me ouvir, mesmo depois de dois meses. Sendo assim, agradeceria 
se fosse embora. 
— Tenho certeza que sim, mas isso seria muito simples, minha doce esposa — 
Luís sorriu com ironia, levantando-se e aproximando-se dela com passos lentos. — 
Parece que perdeu peso desde a última vez em que a vi. Andou sofrendo por mim? 
Talvez tenha tomado a decisão acertada ao vir procurá-la. Pensei em adiar esse 
encontro por mais algum tempo, mas... — e encolheu os ombros. 
Como sempre, Luís estava vestido com perfeição e seus sapatos de couro 
brilhavam, apesar da chuva que caía lá fora. Fazia parte da imagem que ele projetava 
e do homem que era, alguém que esperava perfeição em tudo o que fazia e tocava, 
inclusive em sua esposa. Essa havia sido a raiz do problema, a razão pela qual o breve 
casamento fracassara: Laura não fora perfeita, e Luís não pudera aceitá-la. 
Afastando as dolorosas memórias da mente, encarou-o e ergueu os ombros. 
— Se está perguntando se senti sua falta, a resposta é sim. Mas não o bastante 
para enfrentar todo aquele sofrimento novamente. Portanto, diga de uma vez o que 
quer aqui, ou vá embora. Acho que não temos mais nada a discutir. 
— Pelo contrário, minha querida. Temos muito o que conversar. Como deve 
saber, eu podia ter vindo há semanas, mas preferi esperar, mesmo sabendo onde você 
estava. 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
5 
— Se sabia onde me encontrar, por que não veio antes? Se isso é algum tipo de 
jogo, achomelhor parar. Rachel deve estar chegando, e não quero que ela se aborreça 
com qualquer coisa que possa escutar. 
— Tenho certeza que não. De qualquer forma, sua amiga ainda vai demorar a 
voltar. Ela tem um compromisso na cidade. 
A voz dele era contida, mas Laura não pôde evitar a sensação de desconforto, 
como se houvesse muito mais por trás do comentário aparentemente inofensivo. 
Tentou descobrir as respostas em seu rosto, mas era impossível penetrar a máscara de 
frieza. Luís era o homem mais bonito que já havia visto, mas o medo que começava a 
congelar seu sangue não permitia que pensasse em coisas tão fúteis. 
Percebendo suas emoções, ele sorriu com arrogância e ergueu uma sobrancelha. 
— Não vai perguntar como sei onde Rachel está, minha querida? Ou acha que 
foi apenas um palpite, um golpe de sorte? 
Sabia que tinha de manter o controle até descobrir o que ele estava planejando, 
e por isso respirou fundo para normalizar as batidas do coração. 
— Você nunca foi adepto de palpites, Luís. Costuma planejar tudo com 
detalhes, e jamais confiou em conceitos subjetivos como sorte, por exemplo. 
Não sabia que sua voz traía a amargura que a invadia, mas Luís a percebeu. 
Subitamente tenso, o rosto carrancudo e sério, aproximou-se até quase tocar seu corpo 
com o dele. 
— E acha que pode me culpar? Confiei em você, e veja o que aconteceu! 
Laura desviou os olhos dos dele, odiando o brilho frio e arrogante que os 
iluminava. Esse homem havia sido seu mundo, tudo o que sempre quisera da vida, 
mas não pudera contentá-lo com seu amor. Sabia que ela cometera um engano no 
passado, e jamais a perdoaria por isso. 
— Não sei qual é a relação entre Rachel e essa nossa discussão — disse. — Ela 
não tem nada a ver com isso. Tudo o que fez foi me acolher em sua casa quando voltei 
para a Inglaterra. 
— É verdade. Mas, às vezes, as mais inocentes vítimas descobrem-se enredadas 
pelos eventos. Rachel não tem nada a ver com a nossa vida, Laura, mas será uma 
espécie de instrumento para a resolução do nosso futuro. 
— Não sei do que está falando! — ela gritou, o rosto pálido e os olhos 
arregalados pelo choque. — Nós não temos nenhum futuro, Luís! 
— Você é minha esposa, querida. É evidente que estaremos ligados até o dia 
em que um de nós morrer! 
Agora sua voz era mais cortante, menos controlada, e Laura teve certeza de que 
o momento crucial aproximava-se. 
Irritado com seu silêncio, ele a segurou pelo queixo e obrigou-a a encará-lo. 
— Não vai protestar? Não ouvi nenhum grito horrorizado. Talvez isso seja mais 
fácil do que imaginava. Não devia ter perdido tanto tempo nas últimas semanas para 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
6 
garantir seu retorno à Espanha. Podia ter simplesmente vindo até aqui e dito que 
queria levá-la de volta. 
— Eu... não! — e soltou-se, o corpo todo tremendo de medo e raiva. — Você 
não me quer como sua esposa, Luís! Já deixou isso bem claro há dois meses. 
— Nem sempre podemos ter aquilo que desejamos. Você é minha esposa, 
Laura, quer queira, quer não, e é assim que as coisas vão permanecer. 
— Por quê? Está tentando dizer que me ama? Que quer me levar de volta por 
causa desse amor? 
A esperança era como uma chama a aquecer seu coração gelado, queimando e 
tomando-se cada vez mais clara e brilhante, só para ser apagada pelas palavras duras 
de Luís. 
— Estou dizendo que você é minha esposa, e continuará sendo. Minha religião 
não permite o divórcio, se era isso que estava esperando. 
Era difícil ficar ali parada enquanto todos os sonhos doces que acalentara nos 
últimos dois meses eram destruídos, transformados em poeira. Apenas o orgulho a 
impediu de atirar-se ao chão e chorar até a exaustão, orgulho que ainda a fazia pensar 
na própria dignidade, apesar de todas as humilhações. 
— E uma anulação? Tenho certeza de que isso pode ser providenciado. 
— Talvez. Mas ninguém de minha família enfrentou a desgraça de expor-se a 
essa vergonha, e não tenho a menor intenção de ser o primeiro a manchar o nome dos 
Rivera diante de meus compatriotas. Espero que mantenha os votos que fez em nosso 
casamento, Laura. 
— Votos? —-ela riu com amargura, usando a dor provocada pelas lembranças 
para alimentar a coragem. — E quanto a você? Por quanto tempo foi capaz de manter 
as promessas? Uma semana, duas? Depois disso, simplesmente as esqueceu! Não 
sentiu-se comprometido com nenhum dos juramentos que havia feito! Eu teria 
mantido meus votos de casamento, se você houvesse me dado uma chance para isso! 
Os olhos que a fitavam eram negros como o carvão e brilhantes como o fogo. 
— Ainda atreve-se a me acusar, depois de tudo o que fez? 
— Eu não fiz nadai Por que não é capaz de aceitar que não pretendia magoá-
lo? 
— Porque você mentiu para mim! Fingiu que era inocente e me deixou acreditar 
que jamais havia dormido com outro homem. Foi tudo um truque, um golpe para me 
arrastar ao casamento antes de pular em minha cama! 
— Isso não é verdade! Eu não fiz nada para enganá-lo, Luís! Apenas... não 
soube como revelar um fato que podia ter prejudicado nosso relacionamento. Você 
havia construído uma imagem em sua mente, e não consegui encontrar uma maneira 
de revelar a existência de outro homem em meu passado. Eu o amava muito, Luís, e 
não queria perdê-lo. E também não queria repetir o engano de me entregar a um 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
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homem que não fosse meu marido. Talvez seja culpada, mas já paguei pelo erro com 
muito sofrimento! 
— Um erro? É assim que chama seu envolvimento com outro homem? E deve 
achar que mentir para mim foi apenas outro engano que lamenta, mas não pode 
reparar. É conveniente, minha querida, poder classificar todas as falhas em termos tão 
amenos. Cometeu um engano, mas tudo pode ser resolvido através de uma simples 
confissão, sem sofrimento ou consequências! — Descontrolado, segurou-a pelos 
braços com força, ignorando os gemidos de dor. — Pode imaginar o que senti ao saber 
sobre seus enganos, ao descobrir que minha esposa pura e virginal, sempre tão 
determinada a conter meus mais inocentes avanços, já havia dormido com outro 
homem? Talvez outros homens! 
— Luís, não... 
— Jamais havia sentido tanta raiva, minha querida — ele sorriu com sarcasmo, 
os olhos iluminados pela fúria. — Senti vontade de matá-la, sabe? Pensei em apertar 
seu pescoço até arrancar a vida de seu corpo. Era o castigo que merecia por ter mentido 
tão descaradamente. E agora tem a audácia de questionar meu compromisso com os 
votos do casamento? 
Luís a soltou com tanta violência, que Laura chocou-se contra a parede e ficou 
parada, tentando vencer o pavor e a dor que rasgava seu coração. 
— Não foram outros homens, Luís! Apenas um! Pensei que estivesse 
apaixonada por ele, mas... — e parou para conter um soluço, certa de que não 
conseguiria fazê-lo compreender o medo que havia sentido de perdê-lo, ou de repetir 
o mesmo engano. 
Sempre o amara, mas jamais conseguira ignorar as diferenças que os 
separavam. A família dele ocupava uma posição de destaque em seu país de origem, 
algo que sua mãe sempre fizera questão de apontar. Mesmo julgando-se amada, Laura 
jamais conseguira vencer o medo de ser abandonada novamente à dor e ao sofrimento. 
Não seria capaz de enfrentar a culpa e o sentimento de rejeição que quase a 
enlouqueceram antes. 
Agora sabia que errara ao não revelar a verdade sobre seu passado antes do 
casamento. Agira movida pelo amor e pelo medo, mas Luís não compreendia. 
— Luís, não sabe o quanto lamento... 
— Já chega, Laura! Não quero mais discutir esse assunto. É inútil. 
— E eu devo simplesmente aceitar seu ponto de vista, não é? Sinto muito, mas 
eu quero discutir o assunto. Quero falar sobre ele até que finalmente escute o que 
tentei lhe dizer tantas vezes antes! 
— O que há para ser dito? Acha que estou interessado nos detalhes íntimos de 
seu casode amor? — O sarcasmo tomava sua voz cortante como uma lâmina afiada e 
brilhava -no fundo de seus olhos negros e ameaçadores. — Não, minha querida, 
obrigado. Ainda posso lembrar de como se comportou em minha cama, e é fácil 
deduzir que deve ter agido com o mesmo entusiasmo nos braços de outro homem. 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
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— Sabe muito bem que não era sobre isso que eu estava falando! 
Vermelha, fechou os olhos para escapar às sensações provocadas por aquele 
olhar profundo e provocante, mas arrependeu-se imediatamente. Era a prova de 
fraqueza que sua mente esperava para envolvê-la em recordações, projetando 
imagens eróticas e sensuais contra suas pálpebras cerradas. Luís inclinando-se para 
beijá-la, a mão acariciando seu corpo nu e os olhos iluminados pelo fogo do desejo. 
Luís possuindo-a com desespero, arrastando-a para um mundo de prazer e 
loucura. 
Desesperada, abriu os olhos e viu-se novamente diante daquele rosto que, como 
uma tela, refletia todas as imagens que acabara de recordar. 
— Luís, eu... — Não tinha consciência de estar falando, muito menos de ter 
estendido a mão para tocá-lo. 
Mas ele afastou-se com tamanha violência, que o encanto foi rompido e Laura 
foi atingida pelo impacto da realidade. Tentando esconder as lágrimas que 
inundavam seus olhos, abaixou a cabeça e cerrou os punhos num gesto defensivo. 
— Não vou mais discutir esse assunto, Laura. Está encerrado. A única coisa que 
ainda precisamos definir é em quanto tempo pode arrumar suas malas e preparar-se 
para partir. 
— Malas? Por que devo preparar-me para partir? Não vou a lugar nenhum, 
Luís! 
— Está enganada, minha querida. Vai voltar para casa comigo imediatamente, 
e por isso precisa arrumar suas coisas — e olhou para o relógio, encarando-a com um 
sorriso significativo nos lábios. 
Pois se esperava ser obedecido, estava completamente enganado! 
— Não vou a lugar algum, muito menos com você, entendeu? 
— É você quem precisa entender a situação. Ainda é minha esposa, e seu lugar 
é ao meu lado, em minha casa. Vim até aqui para levá-la de volta à Espanha, e é o que 
vou fazer. Você tem uma hora para preparar-se e deixar esta casa. Espero que possa 
arrumar as malas nesse espaço de tempo, ou seremos obrigados a seguir para o 
aeroporto sem elas. 
Luís virou-se e dirigiu-se à porta, mas Laura o seguiu e segurou-o pelo braço. 
— Espere um minuto! Acha mesmo que vou voltar com você depois de tudo o 
que disse? Posso ser sua esposa, Luís, mas isso não lhe dá o direito de me obrigar a ir 
a lugares onde não quero estar. E não quero voltar para a Espanha! 
— Tenho certeza de que vai mudar de ideia, minha querida. Assim que Rachel 
voltar para casa e contar as novidades, aposto que me acompanhará de volta à 
Espanha sem protestar. 
— Rachel? O que ela tem a ver com isso? 
— Digamos que ela é uma peça crucial em meu plano. Uma espécie de garantia 
de que voltará a ocupar seu lugar como minha esposa. Para simplificar as coisas, 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
9 
querida, se não voltar comigo, Rachel sofrerá as consequências. Sei que são próximas 
como irmãs, e tenho certeza de que não a deixará sofrer, se puder impedir. 
Então era isso. Vingança! Luís queria vingar-se por ter sido abandonado, por 
ela ter fugido quando, em desespero, julgara-se incapaz de suportar suas cruéis 
acusações. E na busca dessa vingança, faria tudo o que considerasse necessário. 
Arruinaria sua vida, e destruiria Rachel sem a menor sombra de compaixão ou 
arrependimento. 
 
 
 
 
CAPÍTULO II 
 
 
 
O silêncio era tão intenso que Laura podia ouvir as batidas do próprio coração. 
Tinha de fazer alguma coisa para que ele percebesse o quanto estava errado, mas sabia 
que seria um esforço inútil. Apesar de terem sido casados por tão pouco tempo, 
aprendera rapidamente que convencê-lo a mudar de ideia era algo impossível. 
— Vejo que está começando a entender, Laura. Sugiro que vá arrumar suas 
malas de uma vez por todas. Não queremos perder o avião, certo? 
— Entender? Não estou entendendo nada! Por que quer atingir Rachel? O que 
ela fez para merecer sua raiva? 
— Nada. Na verdade, mal conheço essa sua amiga. Infelizmente, as 
circunstâncias me obrigam a usá-la como um meio de fazer minha esposa a me 
acompanhar. 
— Isso não é justo! Talvez consiga entender sua necessidade de me atingir, mas 
Rachel... Por favor, Luís, eu posso... 
— Não, Laura. Não perca seu tempo com palavras inúteis. A felicidade de sua 
amiga depende de você. Faça o que estou dizendo, e Rachel só terá a ganhar. Mas tente 
me desafiar, e será a única culpada por tudo o que acontecer. 
— O que pretende fazer? Pode estar blefando para me obrigar a segui-lo de 
volta à Espanha. Por que acha que vou acreditar no que está dizendo, se não sei quais 
são seus planos para atingir minha amiga? 
Luís sorriu com frieza. 
— Não duvide de minhas ameaças, pequena. Sabe que não costumo fazê-las 
em vão. — O som da porta de um carro o fez sorrir novamente e, sarcástico, ele 
prosseguiu — De qualquer forma, parece que não terá de acreditar apenas em minhas 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
10 
ameaças, Laura. Se não estou enganado, Rachel acaba de chegar. Tenho certeza de que 
ela a fará entender a situação. 
Sem dizer mais nada, Luís saiu e, no portão, cumprimentou Rachel 
rapidamente, sem encará-la. Em seguida entrou em seu automóvel e partiu. Laura 
apoiava-se na porta de casa como se temesse cair a qualquer momento. Tantas coisas 
haviam acontecido no curto espaço de tempo, que tinha a impressão de estar vivendo 
um pesadelo. Mesmo assim, tinha de entender as ameaças de Luís e descobrir o que 
ele pretendia fazer. 
— Você está bem? Aquele era Luís, não era? — Rachel perguntou preocupada 
ao passar pela porta, os olhos fixos no rosto pálido da amiga. 
Laura forçou um sorriso, fechou a porta e usou os segundos necessários à ação 
para acalmar-se e recuperar o controle. 
— Ele chegou há pouco mais de meia hora, e eu... eu... Bem, fiquei surpresa ao 
vê-lo, só isso. 
— Surpresa? — Rachel estranhou. — Mas você sempre soube que ele acabaria 
conseguindo encontrá-la. Cansou de dizer que um dia ele viria, lembra-se? Aposto 
que até esperava por esse encontro. Ainda o ama, não é? 
Laura abaixou a cabeça. 
— Não sei mais o que sinto, Rachel. Estou tão confusa! 
— Então somos duas — ela suspirou, o rosto marcado por linhas de cansaço e 
os olhos cercados por sombras escuras. Ao notar que a amiga a encarava com 
expressão alarmada, forçou-se a sorrir. — Desculpe. Esqueça o que eu disse, está bem? 
Você já tem problemas demais. O que Luís queria, afinal? Levá-la de volta? 
— Mais ou menos. Rachel, sobre o que estava falando? Aconteceu alguma 
coisa? Que compromisso era esse na cidade? 
Rachel suspirou e foi sentar-se em uma das poltronas. 
— Papai está bem? — perguntou com ar cansado. 
— Sim. Fui vê-lo pouco antes de Luís chegar, e ele estava dormindo 
tranquilamente. Também, depois de todas as vezes em que levantou-se para lhe dar o 
remédio ao longo da noite! O que quer que tenha acontecido hoje, Rachel, é melhor 
não deixar que ele saiba. 
— É claro. Não quero que meu pai se preocupe. Ele ainda está se recuperando 
de um derrame, e qualquer sobrecarga provocaria uma recaída. E isso... é mais do que 
ele pode suportar. 
Horrorizada, Laura viu as lágrimas que corriam pelo rosto da amiga, mas 
quando aproximou-se para oferecer consolo, Rachel estendeu a mão num gesto de 
protesto. 
— Por favor, Laura. Se tentar me consolar agora, acabarei perdendo a força, e 
ainda não posso fraquejar. Preciso ser forte, ou não conseguirei consertar essa 
confusão... se é que há conserto para tudo isso. 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
11 
Laura sentou-se diante dela e entrelaçou os dedos,tentando conter o tremor 
das mãos e esconder o medo que a invadia lentamente. Temia ouvir o que Rachel 
estava prestes a dizer, mas se algo estava acontecendo por sua causa, precisava saber! 
— Não quer me contar o que houve? Talvez eu possa ajudar. 
Rachel riu com amargura. 
— Se tiver setecentos mil dólares... 
A preocupação havia marcado seu rosto, e as noites que passara em claro, 
cuidando do pai doente, deixaram sombras escuras em torno de seus olhos. 
Laura lembrou-se subitamente de como Rachel parecia radiante alguns meses 
antes de saírem em férias para conhecer parte do mundo. Stephanie as acompanhara 
na aventura, e fora então que Laura havia conhecido Luís e decidido permanecer na 
Espanha para viver o novo amor. Stephanie e Rachel seguiram cumprindo o itinerário, 
até que o pai de Rachel sofrera o derrame e ela fora forçada a voltar para a Inglaterra 
para cuidar dele, enquanto Stephanie completava a viagem sozinha e ia para a Flórida, 
onde conhecera Logan e casara-se com ele. Todas foram afetadas por aquela viagem, 
e não era justo que Rachel continuasse sofrendo as piores consequências. E por sua 
causa! 
— Por que precisa de tanto dinheiro? 
— Para manter um teto sobre nossas cabeças. 
— Não entendi. Fez algum tipo de dívida? 
— Lembra-se de quando lhe contei sobre o negócio que meu irmão pretendia 
abrir? Papai fez um empréstimo para ajudar Jack a se estabelecer, e usou a casa como 
garantia. Tinha confiança de que seu salário e os lucros de Jack seriam suficientes para 
saldar a dívida em alguns meses, mas então ficou doente e teve de afastar-se do 
trabalho. E como se não bastasse, meu irmão tem perdido vários contratos. Não sei o 
que fazer... 
Rachel enxugou as lágrimas com as mãos e Laura esperou que ela se 
recompusesse, certa de que Luís estava envolvido na história. 
— O que aconteceu? O banco cobrou o empréstimo? — perguntou, tentando 
descobrir até onde ia o envolvimento do marido. 
— Papai não conseguiu levantar o dinheiro no banco. Ele recorreu a uma 
financeira, e agora está sendo pressionado. Se Jack não houvesse perdido tantos 
contratos, teríamos conseguido saldar algumas parcelas, mas parece que uma empresa 
concorrente está tentando arruiná-lo. 
— Essa empresa... sabe qual é? 
— Não consigo lembrar o nome da companhia. Sei que é estrangeiro, mas 
estava atordoada demais para gravá-lo. Tudo o que sei é que, a menos que possamos 
saldar a dívida, dentro de uma semana estaremos recebendo a notificação formal de 
cobrança. Não sei o que fazer. Mesmo que conseguisse um emprego, o que está fora 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
12 
de cogitação com meu pai nesse estado, levaria anos para juntar a quantia necessária, 
e eles não estão dispostos a esperar. 
— Seu irmão não tem outros contratos em vista? 
— Ele tem tentado, mas essa outra companhia sempre se adianta. É como se 
estivessem tentando arruiná-lo por vingança, mas isso não faz sentido. Por que 
haveriam de tentar destrui-lo, se Jack nunca fez nada para prejudicá-los? Se 
perdermos a casa, o que acontecerá com meu pai? O choque poderá matá-lo! 
Laura levantou-se e abraçou Rachel, sentindo vontade de dar vazão ao pranto. 
Mas tinha de conter-se, ou não conseguiria ajudar a melhor amiga. Luís estava por 
trás disso. Tinha dinheiro, influência e determinação para conseguir tudo o que queria, 
e sabia que não poderia ameaçá-la pessoalmente. Por isso virara-se contra Rachel, um 
alvo fácil e indefeso. Sabia que eram muito próximas, e conhecia todos os laços que as 
uniam. Havia sido Rachel quem a ajudara a superar os dias de tristeza e agonia que 
seguiram-se ao terrível acidente que tirara a vida de seu pai, e fora ela quem, mais 
uma vez, a auxiliara a recolher os pedaços depois do fracasso daquele breve romance. 
Os laços de amizade haviam sobrevivido e tornado-se mais fortes ao longo dos anos, 
e quando Laura aparecera em sua porta, dois meses antes, Rachel havia lhe oferecido 
um lar e apoio incondicional. Agora era sua vez de retribuir. Não permitiria que 
Rachel fosse atingida pelo veneno da vingança de Luís. 
Firme, ajudou a amiga a levantar-se e levou-a até o quarto, obrigando-a a 
deitar-se e descansar. Assim que a viu acomodada, voltou para a sala e esperou que 
Luís retomasse, entregando-se às imagens que enchiam sua mente. Queria recordar 
tudo, toda a alegria e a toda a dor que conhecera ao lado dele, pois só assim 
conseguiria reunir forças para fazer o que tinha de ser feito. 
As imagens eram tão claras, que era quase como se as vivesse novamente. 
Estava saindo de um supermercado carregando uma sacola com pão e queijo que 
havia comprado para o almoço. Ela, Rachel e Stephanie haviam chegado a Jerez de la 
Frontera naquela manhã, e pretendiam seguir viagem no dia seguinte. Estavam 
hospedadas num quarto do mais modesto hotel da cidade, e pretendiam fazer uma 
refeição leve antes de dar um passeio para conhecer os pontos pitorescos do lugar. 
Estava tão distraída, que não vira o homem abaixado na calçada e tropeçara nele, 
caindo e derrubando a sacola. Luís a ajudara a levantar-se e pedira desculpas, 
envolvendo-a imediatamente com aquela voz profunda e sensual. Insistira em levá-la 
de volta ao hotel e a convidara para jantar, uma maneira de desculpar-se pelo 
transtorno. Laura aceitara de imediato e, no final da semana, depois de ter convencido 
as duas amigas a prolongarem a estadia, estava perdidamente apaixonada pelo 
fascinante estrangeiro. 
Mesmo agora, depois de tudo o que havia acontecido, ainda podia lembrar a 
excitação e a necessidade urgente de estar ao lado dele. Quando Rachel e Stephanie 
decidiram seguir viagem, ela ficara em Jerez e conseguira um emprego num hotel 
local. Algumas semanas mais tarde Luís a pedira em casamento, e Laura acreditara 
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13 
ter alcançado toda a felicidade que um ser humano podia conhecer. Amava-o com 
desespero, e acreditava ter despertado o mesmo sentimento nele. O fato de Luís ter 
aceito os limites que ela colocara para a relação alimentara esse amor. Podia ver o 
desejo em seus olhos, e sentia a tensão cada vez que se tocavam, mas ele a respeitara 
e não tentara possui-la antes da noite de núpcias. 
Várias vezes, começara a falar sobre o breve caso de amor que tivera com outro 
homem, mas sempre perdera a coragem antes de revelar o principal. Na verdade, 
amava-o tanto que não suportava a ideia de correr o risco de perdê-lo por um engano 
do passado. Finalmente convencera-se de que, quando lhe contasse tudo, após o 
casamento, ele compreenderia. Ficaria furioso, aborrecido, mas amava-a, e isso seria o 
bastante para superarem a delicada situação. Mas enganara-se. 
Com lágrimas nos olhos, lembrou a noite de núpcias. A cerimônia havia sido 
encantadora, e a recepção na casa da família Rivera imitara o fascínio de um conto de 
fadas. A gentileza e a consideração que Luís havia demonstrado ao possui-la, mais 
tarde, eram tudo com que sempre sonhara, mas em seguida ele tornara-se 
estranhamente silencioso e sombrio, e Laura soubera que o momento da verdade 
havia chegado. 
Ele a chamara de nomes horríveis, acusando-a de mentir e trapacear. Havia 
ficado mais furioso do que Laura previra, e recusara-se a ouvir explicações e 
justificativas. As semanas foram se arrastando em meio à tristeza e ao ressentimento, 
até que, incapaz de suportar por mais tempo, ela fugira. Luís jamais a perdoaria, 
simplesmente porque não a amava o bastante. 
O som de um carro parando diante da casa a arrancou do devaneio e, rápida, 
Laura levantou-se e foi encontrá-lo lá fora, disposta a ter uma conversa franca e direta 
longe dos ouvidos de Rachel e seu pai. 
— Vejo que já conversou com sua amiga — ele comentou ao vê-la sentar-se no 
banco do passageiro. 
Laura ignorou o sarcasmo e tentou manter-se firme. 
— Sim, já conversamos. Deve estar orgulhosodo que fez com essa família! 
— Fiz o que foi necessário, e não tive prazer algum com isso — ele respondeu, 
subitamente sério. 
— Pois eu aposto que saboreou cada momento! Você é desprezível, Luís! 
Absolutamente desprezível! — Assim que acabou de falar, sentiu que ele a agarrava 
pelo pulso e não teve forças para impedir que a puxasse de encontro ao peito. 
— Você é minha esposa, e não vou admitir que fale comigo nesse tom. 
— E o que pretende fazer para impedir? Vai encontrar outras formas de me 
punir pela ousadia de dizer a verdade? Vai recorrer à violência física? Depois do que 
já fez, não existem muitas outras opções. 
— Por que acha que preciso recorrer à violência para colocá-la na linha? 
Existem maneiras mais efetivas, minha querida — e inclinou-se, beijando-a de forma 
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14 
a fazê-la perceber o quanto a desprezava. Quando a encarou novamente, o brilho 
arrogante em seus olhos era tão intenso que Laura não pôde conter as lágrimas. — 
Espero que tenha compreendido que não vou mais tolerar insultos. 
— Compreendi perfeitamente. Não se preocupe, não cometerei o mesmo 
engano novamente. Não tenho a menor intenção de receber outra lição como essa! 
— Cuidado, minha querida. Está se aproximando do limite outra vez. 
— Que padrões utiliza para estabelecer limites? Os seus? — ela riu furiosa. — 
É esse o problema! Não alcanço seus elevados padrões de perfeição, e isso é algo que 
não pode aceitar. De qualquer forma, antes de seguirmos em frente, acho que devemos 
esclarecer algumas coisas. 
— Você não está em condições de impor coisa alguma, Laura. Eu tenho as 
cartas. O futuro de sua amiga está em minhas mãos, e a única coisa que você pode 
fazer é ceder aos meus desejos e ajudar essa pobre família. 
— Teria mesmo coragem de prejudicar Rachel e sua família? Seria capaz de 
manejar suas cartas para fazê-los perder a casa? Deve saber que o pai dela é um 
homem muito doente, e um choque dessa natureza certamente o mataria! 
— Mas você não vai permitir que as coisas cheguem a esse ponto, vai? Não vai 
deixar que sua amiga sofra... 
— Não acredito que um ser humano possa ser tão frio e cruel. E Deus sabe que 
já conheci sua crueldade no passado! 
— Não sei por que está tão surpresa. Achou mesmo que eu a deixaria partir, 
depois do que fez? 
— Seria menos doloroso para nós dois. Acredita que poderá desfrutar de 
alguma felicidade, mesmo sabendo que só estarei a seu lado porque fui forçada a 
aceitar o papel de sua esposa? 
Luís encolheu os ombros: 
— Está fazendo a situação parecer mais dramática do que é. Só quero minha 
esposa de volta, Laura. Divórcio é algo fora de cogitação. Sendo assim, só nos resta a 
opção de retomar nosso casamento. 
— E o que sua família pensa disso? O que sua mãe acha de receber a nora de 
volta? Afinal, ela fez questão de demonstrar toda a antipatia que sentia por mim. 
Agora, depois de tudo o que aconteceu, ela deve me odiar com todas as forças. 
— Não discuti nossos problemas com minha mãe. Na verdade, não comentei 
nada disso com ninguém. Para sua informação, Laura, todos os membros da família 
acham que viajou com o meu consentimento. Você não é a única adepta dos pequenos 
segredos, minha querida. 
— Mas como? Por quê? O que disse para justificar minha ausência? 
— Expliquei que você havia voltado à Inglaterra para cuidar de uma amiga 
doente. Uma pequena distorção da realidade, certo? Quanto ao por quê... Bem, não vi 
nenhum motivo para discutir problemas tão íntimos com quem quer que fosse. Já é o 
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bastante ter de conviver com sua mentira. Imaginar que outros estão comentando-a 
seria inaceitável. 
— Estou surpresa por saber que é capaz de suportar minha presença em sua 
casa. Tem certeza de que pode dividir sua vida com uma mulher como eu, só para 
manter as aparências e preservar o bom nome dos Rivera? 
— Não será fácil, mas terei algumas compensações. 
— Quais? 
— Nosso casamento é um fato que não pode ser mudado, minha querida. Sendo 
assim, devemos aproveitar o que ele tem de bom. Não podemos negar a atração que 
ainda existe entre nós. Aquele desejo incontrolável ainda nos perturba, e satisfazer 
essa inquietação será compensação suficiente... por enquanto. 
Laura odiava a maneira simples como ele percebia e interpretava todas as suas 
emoções. O relacionamento entre eles sempre fora sensual, mesmo nos momentos 
mais tensos e sombrios, mas não suportava a ideia de ser novamente ameaçada, como 
antes. 
— Não vou permitir que isso aconteça. Nunca mais conseguirá me usar, Luís. 
Não suportaria ser tocada novamente como... como aconteceu antes de minha partida. 
— Você não tem escolha. É minha esposa, Laura, e como tal, terá de partilhar 
de minha vida, minha casa e minha cama. 
— Não! — ela exclamou, tocando a maçaneta num gesto desesperado para pôr 
um ponto final no encontro. 
— Sim — ele a puxou de volta, o rosto expressando determinação. — Será um 
casamento em todos os sentidos da palavra. E pare de se fazer de vítima, porque está 
farta de saber que não será nenhum sacrifício. Já esteve em meus braços antes, e aposto 
que ainda lembra a maneira como eu costumava incendiá-la. 
Os dedos deslizavam por seu braço de forma provocante, e o arrepio que a 
sacudiu foi inevitável. 
Ao ver o sorriso em seu rosto, ela irritou-se e gritou: 
— Pare com isso! 
— Do que tem medo, minha querida? É evidente que ainda deseja meus beijos 
e carícias. Embora tenha dito odiar a maneira como a possuí depois de descobrir toda 
a verdade, reagia exatamente como está reagindo agora. 
Envergonhada, fechou os olhos contra a verdade do que ele acabara de dizer. 
— Odeio você — murmurou com tom ressentido. 
— É mesmo? Sinto muito, mas não estou interessado em seus sentimentos. Já 
arrumou as malas? 
— É claro que não! Como posso sair daqui, se Rachel está absolutamente 
devastada com o que você fez? 
— E como pode ficar, se essa decisão só servirá para prejudicá-la ainda mais? 
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— Luís, não posso simplesmente pegar minhas malas e ir embora, justamente 
no dia em que tudo aconteceu! 
— Rachel é adulta, e não precisa de você para segurar sua mão no meio da noite. 
— Não, mas precisa de apoio, precisa de alguém que a ajude a acalmar-se e sair 
dessa depressão. Pretende realmente resolver esse problema, Luís? Ou está apenas 
blefando para me obrigar a voltar com você? 
— Começarei a tomar minhas providências assim que disser que embarcará 
comigo para a Espanha esta noite. E não sou nenhum tolo, minha querida. Portanto, 
não tente me enganar. Assim que concordar em voltar comigo, o irmão de Rachel 
conseguirá o contrato pelo qual está lutando e poderá pagar parte da dívida. No 
entanto, o futuro de sua amiga ainda dependerá de seu comportamento. Comporte-se 
como a esposa de Luís de Rivera deve comportar-se, e Rachel não terá mais que se 
preocupar com dinheiro. Mas se fizer alguma bobagem, como fugir novamente, pode 
estar certa de que ela sofrerá as consequências. Estou lhe dando uma chance para 
salvar sua amiga, mas será a única. Fui claro? 
— Absolutamente claro! Você é desprezível, cruel, frio e calculista. Não tem 
coração? 
— Não. E se tivesse, você já o teria destruído com suas mentiras! — respirando 
fundo para controlar-se, Luís consultou o relógio de pulso. — Há um voo às sete da 
noite. Vou remarcar nossas passagens para esse horário, mas não tolerarei um novo 
atraso. Esteja pronta, minha querida, porque não aceitarei desculpas e não farei 
concessões. O futuro de Rachel e sua família depende de você. 
Luís partiu sem olhar para trás, como se houvesse apenas concluído uma 
transação comercial de pouca importância. 
Jamais conseguiria romper o bloco de gelo que ele tinha no lugar do coração. 
Odiava-a pelo que consideravauma mentira premeditada, e ela o odiava pela forma 
vil como pretendia puni-la. Como poderiam construir uma vida juntos se só havia 
amargura e ressentimento entre eles? Acabariam destruindo um ao outro! 
Mas Luís estava determinado a levar sua vingança adiante, e nada o faria 
mudar de ideia. 
 
 
 
 
CAPÍTULO III 
 
 
 
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O avião iniciou o pouso em Jerez de la Frontera e Laura respirou fundo, 
preparando-se para o encontro com a família Rivera. Viajavam há várias horas, e a 
conexão em Madri a deixara ainda mais exausta. 
— O que foi? — Luís perguntou em voz baixa. — Se há algum problema, prefiro 
discuti-lo antes de chegarmos em casa. 
— É exatamente esse o problema. Chegar em casa! Ninguém vai acreditar nesse 
casamento, Luís! 
— Especialmente se continuar agindo dessa maneira. Lembre-se que o destino 
de sua amiga só depende de você, Laura. Deve fazer o que for possível para convencer 
minha família sobre nosso amor. Quero que eles acreditem em nossa felicidade 
conjugai, entendeu? 
Como pretendia enganar a família e os amigos, se cada palavra que dizia traía 
o ódio que sentia por ela? 
— Não vai dar certo, Luís. Ninguém vai acreditar que estamos apaixonados. 
— Não? As pessoas verão aquilo que mostrarmos, e acreditarão exatamente 
naquilo que quisermos que acreditem. É simples! Ainda sentimos o mesmo desejo de 
antes. Além do mais, se fui tolo o bastante para me deixar enganar por suas 
demonstrações de amor, qualquer um pode acreditar, desde que represente bem, 
como fez antes de nos casarmos. Você é uma excelente atriz, mi esposa! Só precisa 
utilizar seu talento mais uma vez. 
— Quando vai acreditar que não foi uma representação? Queria me casar com 
você por amor, mas jamais usaria truques baixos para realizar meu sonho. 
O motorista passou pelos portões imponentes da Casa de Flores, a residência 
dos Rivera. Nenhum dos dois havia falado desde o aeroporto, mergulhados nos 
próprios pensamentos ou tentando evitar novos confrontos dolorosos. 
A noite era tão escura, que Laura mal podia divisar as videiras onde as famosas 
uvas eram cultivadas. A família de Luís possuía uma bodega, pequena em 
comparação às outras existentes na cidade, mas o vinho que produziam era de 
excelente qualidade e muito apreciado em todo o mundo. Nos anos mais recentes, a 
procura pelo vinho da região diminuíra bastante, seguindo tendências da moda, e 
milhares de acres de terra estavam sendo mantidos sem nenhuma plantação para 
evitar que o excesso de oferta derrubasse os preços no mercado. Mas o vinho 
produzido pelos Rivera ainda era muito consumido, especialmente na Holanda, onde 
a bebida sempre havia sido popular. De acordo com os padrões locais, Luís era um 
homem rico e poderoso, respeitado em sua comunidade, e todos esperavam que ela 
vivesse de acordo com esses mesmos padrões. Nas atuais circunstâncias, a ideia a 
enchia de pavor. 
— Não há como voltar atrás, Laura. Você empenhou sua palavra, e sabe quais 
serão as consequências se deixar de cumpri-la. 
Como podia saber em que estava pensando? Em silêncio, olhou para a casa e 
sentiu que a tensão atingia níveis insuportáveis. A família Rivera jamais a recebera 
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com alegria, pois preferiam que ele se casasse com alguém mais compatível com seu 
estilo de vida, mas Luís mostrara-se determinado. Como devia estar arrependido! 
Assim que desceram do carro, ele dispensou o motorista e segurou o braço da 
esposa numa demonstração de etiqueta, guiando-a pela escada que levava à porta 
principal. Lustres de cristal refletiam o brilho elegante da mobília de mogno, e 
maçanetas de bronze atestavam a passagem dos séculos de história que se 
desenrolaram entre aquelas paredes. A família Rivera construíra a residência no 
século dezessete, um fato que Doña Elena jamais cansara-se de repetir diante de Laura, 
evidentemente enfatizando ás diferenças que os separavam. 
O som de passos sobre o piso de mármore a fez virar-se devagar, certa de que 
o momento que tanto temera havia chegado. 
Mas ao deparar-se com a mulher que acabara de entrar na sala, Laura sentiu o 
sangue gelar nas veias. A confiança que depositava nela era ainda menor do que 
aquela dispensada à sogra! 
— Está atrasado, Luís. Doña Elena manda pedir desculpas, mas já se recolheu. 
Ofereci-me para ficar e recebê-lo. — Mercedes Lorca aproximou-se, os olhos escuros 
fixos no casal. Como sempre, vestia-se com perfeição e usava os cabelos negros presos 
num penteado clássico. Os lábios cheios, pintados de vermelho, combinavam com o 
vestido justo que realçava suas curvas exuberantes. 
Lembrando-se das roupas amarrotadas depois da longa viagem, Laura teve 
certeza de que Mercedes arrumara-se com a intenção de humilhá-la. 
Sempre a odiara, e demonstrara sua hostilidade em todas as vezes em que 
haviam estado sozinhas. Na verdade, comportava-se como o restante da família. 
Todos esperavam que Luís e Mercedes se casassem, concretizando uma união bastante 
conveniente entre duas das mais importantes famílias no cenário da produção de 
vinho. 
Laura teria até tentado conquistar a amizade de Mercedes e vencer sua 
hostilidade inicial, mas jamais esqueceria a maneira como ela aproximara-se de Luís 
na primeira oportunidade. Ao perceber que algo estranho ocorria entre os dois, 
oferecera-se para confortá-lo e ouvi-lo, e Luís aceitara! 
— Como vai, Laura? Parece que a estadia longe de nós não lhe fez muito bem. 
Está com uma aparência tão cansada! 
— Foi uma viagem exaustiva, e os dois últimos meses foram muito tensos. 
Felizmente Luís insistiu em me trazer de volta, ou acabaria sofrendo uma estafa. Mas 
aqui, perto dele, logo estarei em excelentes condições. 
Laura segurou o braço de Luís e percebeu o brilho de ódio nos olhos de 
Mercedes que, rapidamente, tratou de disfarçar. Resmungando alguma coisa 
incompreensível, ela dirigiu-se à sala do andar superior e deixou que o casal decidisse 
se devia ou não segui-la. 
— O que significa isso? Não vou permitir que seja rude com os hóspedes, Laura. 
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— Fui tão educada quanto Mercedes. Talvez não perceba as intenções dela, mas 
não sou cega, e sei muito bem o que sua prezada hóspede pretende. 
— E o que ela pretende? — sorriu com malícia, segurando a mão delicada sobre 
seu braço. 
— Ela... nunca gostou de mim. Fez tudo o que podia para criar problemas entre 
nós e arruinar nosso casamento. 
— Ela fez isso? — Luís riu com amargura e sarcasmo. — Quem arruinou nosso 
casamento foi você, minha querida! 
— Sei que mereço parte da culpa, mas se ela não se aproximasse de você, talvez 
houvéssemos conversado e resolvido o problema. Se Mercedes não fosse tão rápida 
em oferecer apoio incondicional, poderíamos ter discutido e superado nossa crise. 
— Acha que teria sido tão simples? Se Mercedes houvesse fechado a porta para 
um velho amigo, ainda estaríamos vivendo um casamento feliz e verdadeiro, e não 
essa palhaçada? 
— Mercedes não só devia ter fechado a porta, como também linha obrigação 
moral de mantê-lo fora de sua cama! 
Luís ficou subitamente rígido, tenso, mas em seguida riu como se realmente 
estivesse se divertindo. Segurando seu rosto com uma das mãos, deslizou o dedo até 
tocá-la nos lábios, deixando um rastro de fogo que a impedia de ouvir o que ele estava 
dizendo. Só quando notou que ele a fitava de maneira triunfante e zombeteira, 
conseguiu reunir forças para vencer o encanto. 
— O que foi que disse? — perguntou com voz rouca, traindo as próprias 
emoções e ampliando o sorriso que ele tinha nos lábios. 
— Disse que estou lisonjeado com sua demonstração de ciúmes, especialmente 
depois de ter tentado me convencer de sua indiferença. 
— Não estou com ciúmes! Não quero nem saber com quem sai ou...— Durmo? Era isso que pretendia dizer? É bom saber. Nem todos os homens 
têm a sorte de conquistar uma esposa tão compreensiva, capaz de aceitar pequenos 
pecados. 
Laura desviou os olhos dos dele, temendo trair os verdadeiros sentimentos. Se 
o odiava, por que ficava tão perturbada ao imaginá-lo com outra mulher? 
Em silêncio, deixou que ele a conduzisse ao pequeno e elegante salão onde 
Mercedes servia café em delicadas xícaras de porcelana. Ao perceber a aproximação 
do casal, a espanhola virou-se e sorriu com satisfação, notando a evidente tensão entre 
eles. Depois de oferecer a bebida quente e aromática aos dois, sentou-se em uma das 
poltronas e disparou uma torrente de palavras em espanhol, interrompendo-se em 
seguida com um riso rápido e falso. 
— Desculpe, Laura! Sempre esqueço que seu conhecimento de nosso idioma é 
limitado. Agora que voltou, devia fazer um esforço para aprender a comunicar-se 
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adequadamente na língua local. Isto é, presumindo que tenha vindo em caráter 
definitivo, desta vez; 
Notando o tom irônico, Laura virou-se para Luís com uma dúvida estampada 
nos olhos. Ele havia dito que não revelara a verdade a ninguém, mas Mercedes falava 
como se... De repente, não pôde suportar a ideia de partilhar seu infeliz segredo com 
aquela víbora. 
Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Luís pegou sua mão e levou-a aos 
lábios. 
— Ela prometeu que nada mais a afastará de mim. Não é assim, mi esposa! 
Suas palavras eram uma paródia da realidade, e Laura o encarou com um 
sorriso forçado nos lábios. 
— É verdade. Sabe que prometi ficar a seu lado, querido. 
Aborrecida com as demonstrações de afeto, Mercedes deixou a xícara sobre a 
mesa e levantou-se, alisando o vestido sobre os quadris. 
— Tenho certeza de que sua mãe ficará feliz com as novidades, Luís. A 
prolongada ausência da nora a deixou bastante preocupada, e em seu estado de saúde, 
isso é algo que certamente deve evitar. 
— É claro. E sou grato pelo tempo que dedicou a ela, Mercedes. Com minha 
irmã estudando em Paris e eu indo à Inglaterra para trazer Laura de volta. Madre teria 
ficado sozinha nesses últimos dias. 
Mercedes sorriu satisfeita, olhando para Laura e certificando-se de que ela 
acompanhava a conversa com atenção. 
— O que mais esperava de uma amiga tão íntima, Luís? Sabe que fico feliz 
sempre que posso ajudá-lo, seja como for. Afinal, esta casa é quase meu segundo lar! 
Passei a maior parte de minha juventude aqui, visitando sua família e conversando 
com você, lembra-se? — piscou, como se estivesse se referindo a algum segredo. — 
Bem, se me dão licença, acho que é hora de ir. 
— Como veio até aqui? Não vi nenhum carro lá fora — Luís levantou-se solícito, 
tão elegante e aristocrata quanto sua antipática c arrogante amiga. Estaria arrependido 
de ter se casado com ela, em vez de seguir os desígnios da família e desposar 
Mercedes? 
Se houvesse escutado os conselhos, agora não estariam vivendo momentos tão 
dolorosos e difíceis. 
— Meu carro está na oficina. Domingo me trouxe até aqui esta tarde, e agora 
vou telefonar para casa e verificar se ele pode vir me buscar. 
— Não faça isso! Por favor, Mercedes, o mínimo que posso fazer para retribuir 
sua gentileza é levá-la para casa. Além do mais, conhecendo seu irmão como conheço, 
duvido que ele esteja em casa a esta hora da noite — Luís riu. 
— Se tem certeza... Espero que não se importe, Laura. 
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— É claro que não — ela sorriu com firmeza, recusando-se a demonstrar o 
quanto a ideia a aborrecia. 
— Não vou demorar — Luís indicou, inclinando-se para beijá-la no rosto. — 
Deve estar cansada depois dessa longa viagem, minha querida. Não precisa esperar 
por mim, está bem? 
— Ah, não se preocupe — ela respondeu, fitando-o nos olhos para demonstrar 
o que pensava de sua sugestão. — Não pretendia mesmo esperar. Fique a vontade, 
querido. Não precisa voltar correndo por minha causa. Tenho certeza de que você e 
Mercedes têm muito o que conversar. 
Luís encarou-a com ar sério, furioso com o sarcasmo velado em sua voz, mas 
saiu sem dizer nada, os olhos prometendo problemas para mais tarde. 
Mas Laura não se importava. Estava cansada de inclinar-se diante de seus 
desejos e ordens, e decidira fazê-lo compreender que acabaria se arrependendo de tê-
la forçado a voltar. 
Por outro lado, Luís parecia cada vez mais determinado a vingar-se, e não havia 
nada que pudesse fazer para convencê-lo a mudar de ideia. 
 
 
Laura acordou no meio da noite, vítima de pesadelos. 
— O que foi? O que está sentindo? — Luís perguntou, mais aborrecido do que 
preocupado. — Está doente? 
Livrando-se dos últimos vestígios de pânico, ela sentou-se na cama e acendeu 
o abajur. 
— Estou ótima! O que poderia estar sentindo, se acabei de voltar para os braços 
amorosos e protetores de meu marido? 
— Chega, Laura! Por que insiste em me provocar? — Ainda usava a camisa 
branca e a calça escura com que havia viajado, embora houvesse tirado o paletó e a 
gravata, deixando entrever o peito forte e bronzeado. — Qual é o propósito disso? 
— Nenhum! — respondeu, furiosa com as reações do próprio corpo. — Ou 
melhor, serve para não me deixar esquecer que me casei com um bastardo! 
— E precisa agarrar-se a um fato qualquer para não esquecer que me odeia? 
— Não, Luís. Na verdade, acho que jamais conseguirei esquecer o que fez 
comigo. E, por favor, vamos mudar de assunto, está bem? E então? Divertiu-se muito 
com sua velha amiga? 
— Estou detectando uma ponta de ciúme em sua voz, minha devotada esposa? 
Sabe que eu só tenho olhos para você — e inclinou-se. 
Rápida, Laura virou o rosto antes que ele pudesse beijá-la. 
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— Acha que eu o aceitaria depois de ter estado com ela? Pode ter conseguido 
me obrigar a voltar para salvar minha amiga, mas não vai me obrigar a suportar coisas 
tão baixas! 
— E seu eu disser que passei apenas dez minutos na casa de Mercedes, 
discutindo negócios com o pai dela? Faria alguma diferença? 
— Não, porque eu não acreditaria. Deve achar que sou uma idiota, não? Sei 
muito bem a que horas saiu daqui para levá-la, e estou vendo o relógio sobre o criado-
mudo! 
— Só não sabe a que horas cheguei em casa, porque dormia como um anjo, 
esgotada em função de tantos... traumas, imagino — e aproximou-se, encurralando-a 
contra a cabeceira da cama. — Não pode imaginar como seu rosto é lindo quando está 
dormindo. E a camisola que está usando... Quase cedi à tentação de acordá-la. Mas, 
como um marido consciente, contive meus impulsos e decidi deixá-la dormir. Para 
não perturbá-la, instalei-me no quarto de vestir. Mas agora isso já não é necessário, 
certo, minha querida? 
As mãos dele deslizavam por seus braços, despertando seu corpo de maneira 
súbita e incontrolável. 
— Pare com isso! 
— Parar com o quê? — ele sorriu malicioso, sem deixar de acariciar seus braços. 
— Por favor, pare com isso! 
Laura pretendia demonstrar firmeza, mas a voz era fraca e rouca, uma espécie 
de confissão dos verdadeiros sentimentos. Não queria sentir essas coisas, não queria 
que o corpo respondesse ao toque daquelas mãos, mas agora ele acariciava suas costas 
e deslizava os lábios por seu pescoço, impossibilitando qualquer tentativa de defesa. 
Mas... não suportaria entregar-se a um homem que a odiava, mesmo ardendo 
de desejo por ele. 
— Não faça isso, por favor — suplicou. — Não está ajudando a nenhum de nós. 
— Não é verdade. Isso tudo está me ajudando muito, Laura. Não sabe quantas 
noites sonhei com esse momento, quando a teria novamente em minha cama e faria 
amor com você. Sinto-me inteiro novamente, mi esposa. 
Luís moveu-se com tanta rapidez, que foi impossível fugir ao beijo. Os lábios 
pressionavam os dela com força brutal,sem considerar sentimentos ou emoções. Se 
tinha a intenção de magoá-la e fazê-la pagar pelo sofrimento que havia enfrentado, 
não podia ter encontrado uma maneira mais eficiente. Quando ele ergueu a cabeça, 
Laura tinha os olhos cheios de lágrimas e tremia como se estivesse apavorada. 
— Sei que me odeia, mas isso é muito cruel, Luís! 
— É verdade. Tenho odiado você nas últimas semanas, odiado e detestado tudo 
o que fez a mim, ao nosso casamento e à nossa felicidade, mas... o ódio não é a emoção 
mais forte que estou experimentando agora. Eu quero você, Laura! Quero sentir 
Bianca Esp 26.1 – Noites Espanholas – (Spanish Nights) Jennifer Taylor 
 
 
23 
novamente a doçura de seu corpo e fingir, nem que seja por pouco tempo, que ainda 
é a mulher com quem me casei. 
— Não! Não pode fingir, porque sabe que agora tudo é diferente. Ou aceita meu 
passado, ou... 
— Nunca! 
— Então é inútil. 
— Não concordo, minha querida — ele sorriu, impedindo-a de afastar-se. — A 
ideia de fazer amor com você é tentadora demais, e o fato de sermos casados me dá o 
direito de ceder à essa deliciosa tentação. 
— Direito? Não seja ridículo! Está pretendendo usar a força para me obrigar a 
aceitá-lo e há um nome para isso: estupro! 
— Uma palavra tão feia, brotando de lábios tão lindos! Está enganada, Laura. 
Não tenho a menor intenção de usar a força, e sua acusação me ofende. Mesmo que 
fosse um selvagem, não teria de apelar para a supremacia física, porque ainda me 
deseja o bastante para implorar por meus beijos, suplicar por minhas carícias e pela 
satisfação que só eu posso lhe oferecer. 
— Você é o sujeito mais arrogante e presunçoso que já... 
O beijo a impediu de concluir a frase. Laura tentou afastar-se, mas ele a segurou 
pelos cabelos e impediu que virasse a cabeça. Mesmo assim, não podia forçá-la a 
corresponder. Nunca mais cederia aos encantos desse homem. E quanto a suplicar e 
implorar por beijos e carícias... preferia morrer! 
— Por que está se fazendo de difícil? Sempre gostou de ser beijada por mim. 
— Mas agora acabou. Não quero mais seus beijos, e não estou interessada cm 
nada que venha de você. 
— Sua mente pode estar dizendo que não quer, mas o corpo... — e acariciou a 
pele macia e branca sobre seus seios, descendo lentamente até quase tocá-los. 
Desesperada, Laura segurou seu pulso e o obrigou a afastar-se. 
— Pare, por favor! Sabe que isso não é certo! 
— Talvez, mas não estou agindo de acordo com minha cabeça. Ouço apenas as 
necessidades de meu corpo, e ele quer você mesmo que não seja certo — e deslizou a 
mão sob o tecido fino da camisola, acariciando um dos seios até arrancar um gemido 
rouco de seus lábios. — Está vendo? Eu disse a verdade, Laura. Você também me quer, 
mesmo que sua cabeça esteja tentando provar o contrário. 
Era inútil tentar resistir. Luís já havia conseguido ultrapassar a última barreira, 
e despertara uma urgência que só ele poderia satisfazer. 
As mãos deslizavam por seu corpo como se pretendessem enlouquecê-la e os 
lábios tocavam recantos secretos, provocando um prazer tão intenso que era como se, 
de repente, houvesse perdido toda a lucidez, toda a capacidade de raciocínio. Agora, 
todo seu ser resumia-se às sensações que Luís despertava, ao desejo desesperado de 
entregar-se e senti-lo novamente em seu corpo. 
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— Você me quer, minha querida? 
— Sim... Você sabe que sim, Luís... 
— Então diga, Laura. Diga que ainda me quer. 
— Ainda quero você, mais que tudo. Quero que faça amor comigo... agora! 
Quando ele a penetrou, Laura fechou os olhos e deixou-se invadir pela magia 
de ser mulher, de ser amada por um homem capaz de levá-la ao limite entre o prazer 
e a loucura. 
— Você me quer, Laura! — ele gemia, movendo-se cada vez mais depressa em 
busca da satisfação total. 
Mas havia algo em sua voz que a fez abrir os olhos, uma espécie de riso 
triunfante e irado que foi confirmado na expressão furiosa de seu rosto. 
— Não... Não. Não, Luís! 
Mas o corpo traía a negativa que os lábios sussurravam. 
Quando Luís levantou-se e deixou-a sem dizer nada, Laura encolheu-se e ficou 
quieta, incapaz de transformar a dor dilacerante em lágrimas. A noite terminou num 
novo dia, trazendo a promessa de muitos outros dias e noites. 
Mas em todos esses dias e noites, não haveria amor. Apenas aquele ódio frio, 
cruel e amargo. 
Como poderia suportar? 
 
 
 
 
CAPÍTULO IV 
 
 
 
A luz da manhã entrava pela janela e refletia-se sobre os lençóis brancos. Laura 
envolveu o corpo com os braços, sentindo-se gelada, apesar do calor do sol. 
Como fora tola por deixar a emoção superar a razão. Depois do que havia 
acontecido, não tinha mais motivos para duvidar da intenção de vingança de Luís, e 
nem para esperar alguma mudança em suas atitudes. 
A porta do quarto de vestir abriu-se repentinamente e ela virou-se, em pânico. 
Mas era apenas Pilar, a jovem criada. Laura obrigou-se a sorrir diante do pedido de 
desculpas da garota, consciente do olhar curioso que a moça lançava em sua direção. 
Agora que havia voltado, teria de aprender a conviver com os comentários sobre ela 
e o marido e com a certeza de ser o alvo de todas as fofocas locais. 
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Ao deixar o quarto e descer para o terraço, Laura já havia decidido manter a 
calma diante dos eventos, mas isso não a ajudou a conter a fúria ao ver Luís sentado à 
mesa, vestindo roupas próprias para cavalgar. 
Ao vê-la, ele levantou-se e segurou uma cadeira para que se acomodasse, 
demonstrando a mesma educação impecável de sempre. Assim que Laura sentou-se, 
ele mesmo serviu o café como se fosse uma rotina com a qual estivesse habituado. 
— Deve estar muito satisfeito com o que fez, não? Na noite passada, submeteu-
me à primeira lição. 
— Não tinha a menor intenção de lhe ensinar qualquer coisa que já não 
soubesse, Laura. Você me queria, eu também a desejava... Simples, não acha? 
— Não, não acho! Não concordo com essa... encenação! E não tente novamente, 
ouviu bem? Porque, se algum dia voltar a repetir façanha da noite passada, juro que... 
— O quê? 
— Encontrarei uma maneira de fazer com que se arrependa de tudo isso! 
— Estou morrendo de medo! — ele riu. 
Sem pensar nas consequências, Laura tentou esbofeteá-lo, mas ele foi mais 
rápido e segurou seu pulso antes que pudesse atingi-lo. Lentamente, beijou a palma 
de sua mão e obrigou-a a cerrar os dedos em torno da fonte de calor que criara com os 
lábios. 
— Odeio você, Luís! 
— Está se tornando repetitiva, minha querida. Acha que me importo com o que 
sente? Acredita que me deixarei influenciar por seus sentimentos? Lamento, Laura, 
mas perdeu o direito a qualquer tipo de consideração quando mentiu para mim. 
Agora, espero apenas que faça sua parte sem causar problemas. 
— E isso inclui dormir com você? 
— Se esse for meu desejo, sim. Você é minha esposa, e é óbvio que dividiremos 
uma cama e algumas intimidades. 
— Não vou me sujeitar à humilhação da noite passada! Foi horrível, Luís! 
— Horrível? Se me lembro bem, você parecia gostar do que estávamos fazendo. 
E agora chama nosso ato de amor de... horrível? Por que está mentindo outra vez? Por 
acaso é incapaz de dizer a verdade? 
— Estou dizendo a verdade! Odiei o que fez comigo! 
— Odiou tanto que se comportou como uma gata selvagem — abriu os 
primeiros botões da camisa, mostrando as marcas que ela deixara ao mordê-lo na noite 
anterior, quando tentara abafar os gritos de prazer. — É inútil mentir, Laura. Estava 
comigo em cada passo do caminho. Eu não a forcei a nada; não foi necessário. O desejo 
que sentimos um pelo outro é muito grande, e tenho certeza de que voltaremos a fazer 
amor com a mesma intensidade. 
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26 
— Amor? Não se iluda, Luís! O que tivemos na noitepassada não pode ser 
chamado de amor. 
— Talvez não, mas foi uma experiência agradável e satisfatória que repetiremos 
muitas vezes ao longo dos próximos anos. O que mais a incomoda em tudo isso? O 
fato de julgar-se enganada por mim, embora eu não saiba exatamente como, a ou a 
certeza de ainda me desejar, apesar do ódio que afirma sentir? 
— Eu... 
— Buenos dias, Luís... Laura. 
A voz contida e suave de Doña Elena a impediu de responder. Enquanto Luís 
puxava uma cadeira para a mãe, Laura tentava engolir a resposta ríspida que 
ameaçava sufocá-la. Pretendia mostrar-se polida no primeiro encontro com a sogra, 
mas era pouco provável que conseguisse manter a compostura. 
Nervosa, piscou várias vezes ao perceber que Doña Elena havia falado com ela. 
— Desculpe, eu... não ouvi o que disse. 
Elegante como sempre, os cabelos grisalhos presos no alto da cabeça e o vestido 
negro de corte impecável realçando o corpo magro, Elena sorriu com indulgência. 
— Perguntei se dormiu bem, Laura. Depois de uma viagem tão cansativa e das 
tensões que suportou ultimamente... 
— Tensões? 
— Cuidar de sua amiga doente, querida — Luís interferiu. — Madre comentou 
que chegou a temer por sua saúde. 
— Eu... Sim, dormi bem, obrigada. 
— Fico feliz em saber. Já estávamos começando a pensar que nunca mais 
voltaria, sabe? O pobre Luís já passou muito tempo sozinho. Felizmente é um marido 
compreensivo. 
— Sim, muito compreensivo — Laura sorriu, tomando o cuidado de evitar os 
olhos do marido. 
Sabia que ele havia percebido a ironia velada em suas palavras, e sentiu uma 
forte contração no estômago ao virar-se e ver a raiva estampada em seu rosto. 
— Existe um limite para a compreensão de um homem, e eu acabei de atingi-
lo, Laura — ele sorriu, mantendo a calma. — Por isso a trouxe de volta para casa, seu 
verdadeiro lugar. 
Sem deixar de sorrir, Luís levantou-se, contornou a mesa e estendeu a mão para 
a esposa. 
— Venha comigo, querida. Preciso mudar de roupa para ir ao escritório, uma 
necessidade lamentável e aborrecida, mas absolutamente inevitável. Vamos desfrutar 
de alguns minutos de privacidade antes de minha partida. 
Consciente do olhar atento de Elena, Laura deixou-se levar, mas empurrou-o 
assim que teve certeza de que ninguém podia vê-los. 
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— Muito emocionante! Quem espera beneficiar com toda essa palhaçada, Luís? 
Sua mãe? 
Firme, ele a segurou pelo braço e praticamente arrastou-a até o quarto, 
fechando a porta antes de responder: 
— Quando vai aprender a ser mais discreta? Não quero que os empregados 
ouçam seus comentários grosseiros e histéricos! 
— Grosseiros e histéricos? Ora, seu arrogante, insuportável... — Os lábios que 
se apossaram dos dela a impediram de prosseguir. 
— Isso mesmo — Luís confirmou ao erguer a cabeça para fitá-la. — E a ideia de 
acalmá-la é cada vez mais excitante, sabe? O que acha? 
— Não! — ela exclamou, afastando-se com um movimento violento e 
caminhando até a janela, mantendo-se de costas para que ele não visse o rubor em seu 
rosto. 
Afinal, por que ficava tão excitada com a ideia de atormentá-lo, de aborrecê-lo 
até fazê-lo atingir o limite de sua paciência? E por que Luís tinha sempre de adivinhar 
seus sentimentos e pensamentos? 
— Felizmente a safra deste ano já foi colhida — ele riu. — Caso contrário, seria 
capaz de azedar o vinho com esse olhar fulminante. 
Irritada com a piada, virou-se e sentiu que a visão do peito nu e bronzeado 
provocava uma onda de desejo capaz de sufocá-la. Luís havia tirado a camisa para 
vestir-se para o trabalho, e de repente ela teve de admitir que gostaria de abraçá-lo e 
sentir mais uma vez a força daquele corpo perfeito contra o seu. 
— Algum problema? 
— Eu... não, nenhum. Queria falar comigo, ou aquela encenação no terraço foi 
apenas uma maneira de conquistar a confiança de sua mãe? 
— Laura, minha mãe não tem estado bem ultimamente, e não quero que ela 
tenha preocupações, entendeu? Nosso casamento tem de parecer perfeito para quem 
quer que nos veja juntos. 
— Só se todos forem cegos! 
— Se desempenhar sua parte com o talento que demonstrou antes, tenho 
certeza de que poderá convencer até o mais atento espectador. E se não demonstrar 
empenho, Rachel e seu pobre pai doente sofrerão as consequências. Imagine só! Sem 
casa, sem dinheiro, com fome... E tudo por sua culpa. 
— Minha culpa? De acordo com sua opinião, sou culpada de tudo, não é? E no 
entanto, meu único erro foi amá-lo e imaginar que também me amava! 
— Não tenho a menor intenção de discutir isso agora, Laura. Já expressei meus 
sentimentos, e acho que fui claro o bastante para acabar com todas as dúvidas que 
pudesse ter a respeito deles. 
— O grande Luís de Rivera acabou de encerrar a discussão! Como é a sensação 
de ser sempre tão seguro e poderoso? Confortável, ou às vezes se cansa de permanecer 
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28 
imóvel no alto desse pedestal? Gostaria de ser tão perfeita quanto evidentemente 
acredita ser! 
— Eu nunca disse que era perfeito. 
— Está insinuando que eu disse? Luís, jamais menti para você! Jamais disse 
uma só palavra para fazê-lo acreditar que era virgem! 
— Não, não disse, É esperta demais para cometer um erro tão elementar, minha 
doce esposa. Apenas convenceu-me de sua inocência demonstrando relutância em ir 
além de alguns beijos e carícias inocentes. Quase me enlouqueceu de desejo, e sabia 
que eu faria qualquer coisa para tê-la em minha cama! 
— Eu estava com medo! Quantas vezes vou ter que repetir? Nunca pensei em 
enganá-lo para obrigá-lo a se casar comigo. Na verdade, a única idiota que se deixou 
levar pelas aparências nessa história fui eu! Pensei que me amava, mas estava 
enganada. 
— E inútil continuarmos discutindo esse assunto. Trouxe você até aqui porque 
queria tranquilizar minha mãe com uma demonstração de intimidade, e para dizer 
que vou esperá-la para o almoço na bodega 
— Almoço? — Laura repetiu confusa, sem compreender a súbita mudança no 
rumo da conversa. 
— Exatamente. Tenho uma reunião de negócios com o comprador de uma nova 
cadeia de supermercados, e pensei em levá-la ao almoço para dar um toque de 
informalidade ao evento. Descobri que essas pessoas apreciam um tratamento menos 
comercial. 
— Você é mesmo frio e calculista. Alguma vez agiu com espontaneidade, Luís? 
Ou sempre planeja cada movimento antecipadamente para estar sempre em posição 
de vantagem? 
— Eu apenas tento cobrir todos os aspectos, Nos negócios, Laura, não há espaço 
para os sentimentos. Isso era algo que meu pai sempre dizia. Um homem precisa 
realizar e conquistar coisas e, para isso, deve usar todos os meios possíveis. 
— Mesmo que não sejam exatamente honestos? Com você é diferente, não é? 
Mais um dos ensinamentos de seu pai... Os Rivera podem fazer o que quiserem sem 
sentir culpa ou vergonha. 
— Meu pai era um homem de princípios. Ele transmitiu suas crenças ao filho, 
e não devo pedir desculpas pelo homem em que me transformei. Orgulho-me do 
nome da família, e não permitirei que nada o prejudique. Até logo, Laura. Estarei 
esperando por você uma. José a levará até a cidade. 
Luís estava quase fechando a porta do quarto de vestir, quando Laura retrucou: 
— Pena que seu pai não tenha lhe ensinado a perdoar os erros de pessoas menos 
perfeitas que você. 
Ele terminou de fechar a porta como se não houvesse escutado, desafiando sua 
paciência. 
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Luís jamais a perdoaria, mas tinha de encontrar uma maneira de obrigá-lo a 
ouvi-la, mesmo que não aceitasse suas explicações. Não suportava a ideia de passar o 
resto da vida nessa agonia. 
 
 
Os sapatos haviam sido um engano. O couro cor de creme combinava com o 
vestido da mesma cor e os saltos altos acrescentavam Um toque de elegância à sua 
silhuetaesbelta, mas agora, a um quilômetro da cidade, tendo percorrido a mesma 
distância desde casa, Laura tinha certeza de que havia cometido um erro ao escolher. 
Ou então, enganara-se ao decidir caminhar, em vez de pedir a José que levasse de 
carro. 
Abanando-se com a bolsa cor de creme, tentou reunir forças e não pensar em 
como Luís ficaria aborrecido quando sua esposa chegasse atrasada para o almoço. 
Apesar da tentativa, uma onda de medo a invadiu quando viu o automóvel familiar 
parar do outro lado da estrada e fazer o retorno sem muitas precauções. 
— Entre! 
Luís estava furioso, mas Laura recusava-se a cumprir mais uma ordem. 
— Não, obrigada. Prefiro andar até cair de cansaço, a suportar sua companhia 
nesse estado de humor. 
— Madre de Diós! Você é capaz de acabar com a paciência de um santo! Entre 
de uma vez, antes que eu a obrigue a entrar. 
Reconhecendo que havia abusado da sorte, Laura entrou no carro e manteve-
se em silêncio enquanto ele dirigia. 
— O que estava tentando fazer? 
Disfarçando enquanto tirava os sapatos, ela encolheu os ombros: 
— Nada. Apenas senti vontade de caminhar. 
— Sem avisar? Mamãe está preocupada, Laura! Telefonei para casa, e ela 
simplesmente não conseguiu encontrá-la em parte alguma! 
— Não tive a intenção de aborrecê-la. Sua mãe sabia que eu ia almoçar com 
você, e achei que não havia necessidade de maiores explicações. Só queria alguns 
minutos de solidão. 
— E nem pensou no que podia acontecer a uma mulher sozinha no meio da 
estrada! Laura, não pode ser estúpida a ponto de não ter percebido que estava 
correndo perigo — e segurou seu braço como se quisesse sacudi-la. 
— Mas não aconteceu nada! Estou ótima, se descontarmos os hematomas que 
está deixando em meu braço — e soltou-se, odiando ser tratada como uma criança 
irresponsável. 
— Eu devia fazer mais que sacudi-la! 
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Ao vê-lo esmurrar o volante, Laura teve certeza de que já havia suportado mais 
do que podia. Agora era hora de fazê-lo parar. 
— Continue assim, querido, e vou achar que está preocupado comigo. 
— E estava! — ele confessou. Em seguida fitou-a e, sorrindo com cinismo, 
corrigiu-se: — Estava preocupado com sua demora, porque achei que acabaria 
arruinando o que prometia ser um brilhante e bem sucedido encontro comercial. 
Falando nisso, podemos retomar os planos originais? Já perdi muito tempo. 
Enquanto ele acelerava para aumentar a velocidade, Laura virou-se para a 
janela a fim de esconder as lágrimas que corriam por seu rosto. Luís acabara de dar 
mais um passo em seu projeto de vingança, e mais uma vez havia conseguido feri-la 
com suas palavras cruéis. 
 
 
O almoço foi menos desagradável do que ela imaginara, graças à presença de 
Miguel Moreno, um homem de sessenta anos de idade, simpático e sorridente, 
responsável pela área de contratos internacionais da empresa. Mesmo assim, Laura 
tinha dificuldades para participar da conversa, aturdida com os eventos que vivera 
pouco antes. 
Irritado com seu silêncio, Luís lançava olhares de censura em sua direção. 
Parecia prestes a lhe dizer alguma coisa, quando uma voz familiar invadiu a 
tranquilidade do pequeno grupo de negócios. 
— Luís! Não sabia que pretendia almoçar aqui! Se tivesse nos avisado, teríamos 
combinado um encontro. 
Mercedes parou ao lado da mesa, elegante como sempre em seu vestido branco 
e insinuante. Sorrindo, esperou que Luís se levantasse e a cumprimentasse com dois 
beijos no rosto, enquanto os outros dois participantes da mesa levantavam-se e 
inclinavam-se como cavalheiros que eram. 
— É um encontro de negócios, Mercedes, como já deve ter percebido. Caso 
contrário, ficaríamos encantados em contar com sua companhia. Não é mesmo, 
querida? 
Laura conseguiu resmungar uma resposta educada, mas era difícil esconder a 
antipatia que sentia pela espanhola. Furiosa, viu que ela puxava Luís para mais perto 
e sussurrava algo em seu ouvido, rindo como se o segredo fosse engraçado ou picante. 
— Não dê muita importância à minha irmã, Laura. Ela é inofensiva. 
Assustada, virou-se e viu um rapaz sorridente colocando uma cadeira ao lado 
da sua e acomodando-se sem a menor cerimônia. 
— Eu sou Domingo, irmão de Mercedes. 
— Oh, sim! Desculpe, mas não o reconheci de imediato. Como vai? 
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— Bem, obrigado. Melhor agora, depois de encontrá-la novamente — e cravou 
os olhos azuis em seu rosto com verdadeira admiração, um bálsamo depois da frieza 
com que Luís a tratava. 
— Você é muito gentil — respondeu encabulada. 
Domingo sorriu novamente, um sorriso amplo que, segundo as fofocas, já havia 
conquistado dezenas de corações femininos. Era alguns anos mais jovem que ela, mas 
infinitamente mais experiente em assuntos amorosos. Enquanto Laura protestava com 
um sorriso constrangido, ele prosseguia com os elogios. 
— Lamento interromper, Laura, mas meu irmão e eu devemos retornar à nossa 
mesa. Espero encontrá-la amanhã, no torneio de polo. Vai acompanhar seu marido, 
não? Você e Domingo se entenderam tão bem, que tenho certeza de que poderão fazer 
companhia um ao outro. 
— Estaremos lá, Mercedes. E ansiosos para reencontrar você e Domingo. 
A voz de Luís era calma, mas seus olhos brilharam mais intensamente quando 
Domingo levantou-se e beijou a mão de Laura num gesto galante. 
Quando o almoço chegou ao fim, Luís dirigiu de volta à casa sem dizer uma só 
palavra. A tensão era tão grande, que Laura pensou em tentar escapar do confronto, 
mas ele estacionou diante da porta principal, segurou seu braço e levou-a para o 
quarto, fechando a porta antes de começar a falar. 
— Muito bem, Laura. O que tem a dizer? 
— Não sei do que está falando. Por que está agindo de maneira tão estranha? 
— Tem coragem de perguntar, depois do que fez no restaurante? 
— Só tentei ser agradável com o comprador! Não estou entendendo! 
— Houve um tempo em que eu acreditava em suas representações, minha 
querida, mas hoje sei que ingenuidade e inocência são coisas estranhas à sua 
personalidade. Você e Domingo deram um espetáculo ridículo, e não vou admitir que 
minha esposa tenha esse tipo de comportamento. Daqui para frente, trate de agir de 
maneira mais adequada! 
— É muito atrevimento! Tem coragem de falar sobre o meu comportamento, 
depois de ter trocado sussurros com Mercedes como se fossem amantes? Não se atreva 
a falar comigo nesse tom de censura, quando o maior errado é você! 
— Não estamos discutindo o meu comportamento, Laura, mas o seu. Você é 
minha esposa! 
— E você é meu marido! 
— Pensei que houvesse esquecido esse detalhe, depois dos dois meses que 
passou na Inglaterra. 
Notando que ele aproximava-se lentamente, compreendeu que a havia se 
transformado em outra emoção e tentou evitar o que sabia estar prestes a acontecer. 
— Luís, eu... 
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— Você o quê? — ele sorriu, abraçando-a de forma sensual. — Quer mostrar 
que ainda sabe cumprir seu papel de esposa? Ou quer que eu prove que ainda sou seu 
marido? 
— Pare com isso, Luís! Pare imediatamente! 
Tentou empurrá-lo, mas ele imobilizou suas mãos às costas e a fez aproximar-
se ainda mais, colando o corpo ao dela. Quando o viu inclinar-se para beijá-la, Laura 
soube que havia perdido a batalha mais uma vez. Assim que os lábios tocaram os dela, 
um fogo intenso espalhou-se por seu corpo e incinerou sua força de vontade, 
deixando-a à mercê do desejo e da necessidade que só Luís poderia satisfazer. 
 
 
Mais tarde, enquanto tentavam voltar a respirar com normalidade e controlar 
as batidas do coração, Laura soube que já era hora de confessar algo que admitira para 
si mesma no momento em que alcançara o êxtase. Amava Luís de Rivera. Sempre 
amara e sempre amaria, e ele tinha o direito de saber. 
— Luís, quero que saiba

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