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VIVENDO E APRENDENDO GEOGRAFIAS: estudo sobre desastres naturais em Vitória-ES Organizadores: Francismar Cunha Ferreira Larissa Marques de Antônio Universidade Federal do Espírito Santo Centro de Educação Departamento de Educação Política e Sociedade Vitória 2011 VIVENDO E APRENDENDO GEOGRAFIAS: estudos sobre desastres naturais em Vitória - ES Cartilha desenvolvida como parte das atividades do trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Geografia – UFES – 2011. Professora Orientadora Marisa Valladares Componentes: Francismar Cunha Ferreira Larissa Marques de Antônio Raphael Gama Revisão Djalma Vazzoler Capa: VITÓRIA - VISTA AÉREA Disponível em: <http://www.panoramio.com/photo/9551938>. Acesso em: 08 out. 2011. Apresentação A presente cartilha problematiza os desastres naturais, em especial, os deslizamentos de terra, num esforço para mostrar à população escolar seu potencial de intervenção nesses acontecimentos. Os noticiários, frequentemente, nos contam como pessoas perderam suas casas, seus bens e até mesmo suas famílias em decorrência dos chamados desastres naturais. Com a mesma frequência repete-se a questão: como evitar esses acontecimentos? Poderíamos responder: desocupando essas áreas, fazendo obras de contenção ou proibindo a ocupação de áreas com risco. Todas essas respostas são válidas. Contudo, na prática, a situação não é tão simples assim, pois em um único local com risco temos problemas relacionados às características do ambiente e às questões sociais, econômicas, políticas e históricas da população. Tendo em vista essas questões e conhecimento de que a Geografia tem como objetivo estudar os espaços com todos os seus atributos, esta cartilha pretende ser uma proposta didática destinada a professores de escolas públicas de Vitória - ES, que poderão dela se servir como material de discussão com seus alunos. Estes, por sua vez, terão oportunidade de, por meio de ações simples, mas eficazes, aprender e viver as Geografias de seu cotidiano. VIVENDO E APRENDENDO GEOGRAFIAS: estudo sobre desastres naturais em Vitória-ES Os desastres naturais são catástrofes que ocorrem quando um evento natural, por alguma circunstância, foge dos “padrões” de uma determinada localidade e que, de maneira direta ou indireta, causa danos à humanidade. Estes eventos podem ser: furacões, erupções vulcânicas, terremotos, enchentes e escorregamentos, erosões, estiagem, entre vários outros. Aprendendo desastre Você sabe o que é um desastre natural? Furacão Erupção Vulcânica Terremoto Inundação Deslizamento Aprendendo o que são desastres... Os desastres naturais são fenômenos que ocorrem em todos os lugares do mundo, e suas origens estão relacionadas a condicionantes ambientais, naturais ou induzidos, e a duas modalidades de dinâmicas terrestres, uma interna e outra externa. A dinâmica interna se caracteriza por provocar desastres de grande magnitude, como terremotos, vulcões, tsunamis. Tais eventos ocorrem, principalmente, em regiões limítrofes de placas tectônicas. A dinâmica externa se caracteriza pela atuação de condicionantes climáticos das mais variadas formas. Eles podem ser exemplificados pelos deslizamentos de terra e de rochas, enchentes, furacões, erosões e tempestades, dentre outros. No Brasil, os desastres naturais são gerados principalmente pela dinâmica externa da Terra. Podem-se destacar vários tipos de desastres, conforme o mapa que segue. Contudo, pretende-se aqui enfatizar os escorregamentos. Esse fenômeno é um dos que mais causaram (e causam) vítimas fatais em nosso país, inclusive em nosso Estado. Aprendendo sobre desastres naturais! Mapeando desastres! Os escorregamentos O relevo, em seu processo evolutivo natural, possui, como uma de suas características, os escorregamentos. Eles são fluxos ou quedas de massa de solo ou rocha que por ação da gravidade se deslocam em superfícies inclinadas (vertentes). Trata-se de um tipo de processo que ocorre comumente em regiões onde predomina clima úmido, com um relevo composto por serras, montanhas, morros e até colinas. Aprendendo Desastres! Esse processo se destaca como grande causador de vitimas fatais, devido, muitas vezes, à interferência humana, que frequentemente potencializa ou acelera os processos evolutivos das encostas. O gráfico abaixo demonstra a gravidade deste tipo de desastre no Brasil. Alegre - ES DESLIZAMENTOS no Espírito Santo Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4993676-EI17544,00 ES+populacao+comeca+a+voltar+a+suas+casas+mas+ainda+ha+ris cos.html>. Acesso em: 07 out. 2011 Fonte: IPT, 2009. Número de mortes por deslizamentos entre 1988 a 2008 Nas grandes cidades, devido a um modelo excludente de acesso a terra, as encostas acabam se tornando local de moradia de muitas pessoas, e a falta de políticas públicas adequadas permite situações de risco. Vale lembrar que não são apenas pessoas de menor poder aquisitivo que sofrem com esses problemas. A ocupação de uma encosta que apresenta instabilidade, torna-se problema de todos. Muitos escorregamentos que ocorrem nas cidades resultam da ação do homem. Relacionam-se com o manejo do espaço, pois, além das inclinações das vertentes e da grande quantidade de chuvas, efetivam-se cortes de estradas, desmatamentos, depósito de lixo e etc. Além disso, precárias redes de água e esgoto, plantio de bananeiras, modificação da drenagem podem promover o desastre. Essas interferências atuam diretamente nas condições processuais das vertentes, e muitas vezes podem resultar na precocidade dos escorregamentos. Aprendendo deslizamentos Conceitos Básicos! Nova Friburgo – RJ ENCOSTA perigosa preocupa moradores em São Paulo Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4322389- EI8139,00 vc+reporter+encosta+perigosa+preocupa+moradores+em+ Sao+Paulo.html>. Acesso em: 10 out. 2011. São Paulo – SP DESLIZAMENTOS Rio de Janeiro Disponível em: <http:// DESLIZAMENTO Disponível em: <http://www.defesacivil.gov.br/desastres/recomendacoe s/deslizamento.asp>. Acesso em: 10 out. 2011. Aprendendo com escorregamentos... Tendo em vista que os escorregamentos fazem parte de um processo natural de evolução do relevo e que a interferência humana, neste espaço, pode alterar as dinâmicas naturais, acarretando a precocidade dos deslizamentos, surge a inegável questão: o que fazer? Alguns Estados e municípios desapropriam as áreas com risco, transferindo os moradores para outros locais. Embora tal medida seja teoricamente pertinente, nem sempre resolve o problema, pois, muitas das vezes, moradores dessas áreas se recusam a sair de suas residências. A mídia, por sua vez, critica os moradores que se recusam a serem transferidos. Ao dar a notícia, negligencia o processo histórico daquela comunidade, a história das pessoas, e não relaciona esses fatos ao próprio movimento de expansão urbana. Ela acaba produzindo um discurso de uma natureza que se revolta contra um homem vilão. Deste modo, imagina-se que a natureza se resume a rios, relevos, clima, enchente, deslizamento, como se o ser humano não fosse parte disto. Passa ainda a ideia de que o pobre é o vilão, aquele que ocupa o lugar errado, aquele que suja, estraga, polui... A vítima vira vilão... Quando a autoridade tenta tirar uma pessoa ou comunidade de seu lugar, de seu fazer cotidiano, ela abala os ritos, os costumes e a identidade dessa população, tanto do ponto de vista social quanto territorial. Quando uma pessoa deixa seu lugar, de certa forma, pode acabar perdendo seus referenciais concretos e simbólicos. Esta cartilha está longe de encerrar toda a discussão sobre a questão; contudo, pode ser um ponto de partida para a reflexão a respeito do assunto. Aprendendo com escorregamentos... A fim de buscar minimizar esses desastres, existem entidades específicas que trabalham com sua prevenção e consequências. Por exemplo, os bombeiros e a Defesa Civil, em suas instâncias nacional, estadual e municipal. No EspíritoSanto, a Defesa Civil surgiu por causa de grandes tragédias relacionadas a enchentes e deslizamentos por volta dos anos 1980. Então, organizou-se juridicamente vinculada ao Corpo de Bombeiros. A Defesa Civil é uma instituição que busca promover ações preventivas, de socorro, além de reconstruir áreas destruídas por desastres e de buscar restabelecer a ordem social. É uma instituição que atua desde 1940, mas sua organização efetiva veio com a criação do Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec) em 1988, atualizada por intermédio do Decreto nº 5.376 de 2005. Logomarca da Defesa Civil nacional Logomarca da Defesa Civil estadual Aprendendo com escorregamentos... E em Vitória? Esses desastres também ocorrem aqui? A resposta para essa questão é SIM, e ela é incontestável. No município de Vitória (ES) os deslizamentos de terra e rochas fazem parte do cotidiano. E em Vitória? Esses desastres também ocorrem aqui? A cidade já sofreu com várias perdas humanas, materiais e econômicas em decorrência desses processos. Sem dúvida, o que mais marcou foi o deslizamento ocorrido na região do Morro do Macaco, situado no bairro Tabuazeiro. O desastre aconteceu na madrugada do dia 14 de janeiro de 1985, causando 40 mortes, deixando mais de 600 famílias desabrigadas. Imagens da tragédia do Morro do Macaco Fonte: Gazeta Online Visto que esses desastres ocorrem em Vitória, ainda falta entender o que os origina e identificar os condicionantes ambientais que submetem Vitória aos deslizamentos de terra e rocha. São os elementos constituintes da paisagem do município que explicam esse risco. Deste modo, faz-se necessário contextualizar as Geografias de Vitória. E em Vitória? Esses desastres também ocorrem aqui? Modelo de elevação (hipsometria) do relevo de Vitória Fonte: GOULART apud SEMAM – PMV (2005) O município de Vitória está localizado na região metropolitana do Estado do Espírito Santo, que, por sua vez, faz parte da região Sudeste do Brasil. Sua população é estimada em 327.801 habitantes (IBGE, 2010), distribuídos em 83 bairros. O mapa abaixo mostra a localização do município. Vitória! E suas geografias. . . Mapa 2: Vitória localização Para estudarmos Vitória podemos dividi-la em duas partes: uma insular e outra continental. Vitória! E suas geografias. . . Na parte insular, também denominada Ilha de Vitória, há uma formação montanhosa – o Maciço Central. É sobre as características geológicas e geomorfológicas dessa formação que nos debruçaremos, a fim de identificar as causas dos deslizamentos. Mapa 3: Vitória – Parte continental e insular PAGINAS Ambientais Disponível em: <http://paginasambientais.wordpress.com/2009/12/09/aumento- do-nivel-do-mar-e-a-cidade-de-vitoria/>. Acesso em: 12 nov. 2011. Nesse maciço há uma ubiquidade de vertentes com comportamentos distintos. Essas vertentes, ora são constituídas por espessas camadas de solos, ora por blocos rochosos fraturados. A paisagem do maciço pode ser sintetizada da seguinte forma: Vitória e suas Geografias: o Maciço Central! Foto de vertente: Rocha/solo espesso Maciço fraturado Campo de matacões Fonte: Projeto MAPENCO Fonte: Projeto MAPENCO Fonte: Projeto MAPENCO Estes condicionantes naturais que favorecem a ocorrência de deslizamentos, são elementos comuns para a evolução do relevo. Assim, a aparente vulnerabilidade não se pretende risco. São locais próprios à ocorrência de rastejo de solo e rocha, deslizamento de solo e queda de blocos rochosos. Esses locais são áreas que se tornam arriscadas para moradia por serem naturalmente instáveis. Logo, não se discute a legalidade das habitações inseridas em taludes e/ou em topos de morro. Discute-se o risco de morar nelas. Problematiza-se: como identificar tais riscos e com eles conviver, para que se evitem perdas físicas e materiais? Vitória e suas Geografias: identificando o risco!!! Identificar o risco ou uma área com risco nem sempre é fácil. Sua verificação demanda o trabalho de um profissional qualificado. Entretanto, a natureza nos dá sinais que podem ser facilmente observados e identificados. Os sinais mais comuns de uma área com risco são: •Rachaduras nas paredes e nos pisos das casas. •Trincas no solo, principalmente na parte superior da superfície. •Blocos ou pedaços de rochas soltos ou instáveis nas vertentes. •Árvores, cercas ou postes inclinados. •Água minando no sopé da vertente. •Muros de arrimo “embarrigados” ou trincados. Após esse movimento de reconhecimento do conteúdo físico do espaço, os sujeitos podem identificar os riscos e tomar medidas cabíveis, como chamar os agentes especializados. Identificando o risco! Identificando o risco! Rachaduras e trincas no terreno e nas moradias Trincas no Solo Fonte:Ministério das Cidades Fonte:Ministério das Cidades Fonte:Ministério das Cidades Fonte:Ministério das Cidades Blocos e/ou pedaços de rocha soltos ou instáveis Árvores, postes ou cercas inclinados Muros de arrimo “embarrigados” Fonte:Ministério das Cidades Fonte:Ministério das Cidades Fonte:Ministério das Cidades Fonte:Ministério das Cidades Fonte:Ministério das Cidades Fonte:Ministério das Cidades Caso você leitor se depare com as situações apontadas, ligue para a Defesa Civil de seu município e solicite uma vistoria. Caso o seu município não tenha Defesa Civil, ligue para a Defesa Civil estadual; em caso de uma ameaça visível ou um acontecimento já deflagrado, ligue para o Corpo de Bombeiros. Após a identificação destes sinais, o que fazer? Para acionar esses serviços basta ligar para: Defesa Civil nacional - Telefones: (11) 2193-8335 / 8888 ou 199 Defesa Civil do Espírito Santo - Telefone: (27) 3137-4432 / 4440 Defesa Civil de Vitória - Telefone: (27) 3227-1379 Corpo de Bombeiros Militar - 193 Até aqui muito se falou acerca da influência humana nas encostas como agente catalisador de deslizamentos; contudo, existem práticas simples que podem contribuir para a frenagem desses processos. Elas vão além da simples identificação de risco. Consiste na conscientização da população a respeito do uso do espaço. Exemplos de práticas: Aprendendo Geografias para evitar desastres Não plantar bananeiras nas encostas, pois essa planta concentra muita água em seu caule e folhas, além de possuir raízes curtas. Com o umedecimento do solo nos períodos de chuva, o peso da planta e seu baixo poder de fixação a tornam um agente catalisador dos deslizamentos. O que pode ser plantado em áreas com risco: laranjeiras, pitangueiras, gramíneas e etc. São plantas com raízes grandes e não concentram muita água. BANANEIRAS em encosta Disponível em: <http://www3.prefeitura.sp.gov.br/saffor_bueiros/FormsPublic/serv 10AreasRisco.aspx>. Acesso em: 10 out. 2011. Não jogar lixo nas encostas. Em vez disso, limpá-las com frequência. O lixo dificulta os fluxos de água, provocando seu acúmulo, aumentando o peso sobre a encosta. Aprendendo Geografias para evitar desastres Realizar vistoria na rede de esgoto e na de água para que não surjam vazamentos de água nas encostas. Desobstruir os caminhos da água de chuvas bem como construir canaletas ou tubos de escoamento. Não realizar cortes nas vertentes sem consultar a Defesa Civil ou a prefeitura. Nesta cartilha trabalhamos com conceitos básicos e com dicas de caráter didático e informativo que podem fazer grande diferença no viver cotidiano. Temos consciência de que esta cartilha não é capaz de registrar todas as causas de deslizamentos. Destarte, tendo em vista as limitações desta revista, bem como conhecimento de que o profissional professor é sempre pesquisador, segue uma listas de sites importantes que trabalham com a mesma temática aqui abordada. www.defesacivil.gov.br www.defesacivil.es.gov.br http://www.cidades.gov.br http://www.infoescola.com/geologia/deslizamento-de-terra leageo-ufes.blogspot.com www.rc.unesp.br/igce/aplicada/ead/interacao/pag02b.html Pesquisando Geografias para evitar desastresReferências CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA, Antonio José Teixeira. Geomorfologia: uma atualização de bases e conceitos. 4. ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA, Antonio José Teixeira. Geomorfologia e meio ambiente. 3. ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. GOULART, A.C.O. Condicionantes Geoambientais na Evolução do Relevo de um Maciço Costeiro. Tese de Doutorado em Geografia Física, FFLCH-USP. São Paulo, (2005). MARICATO, E. “As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias. In: ARANTES, O.; VAINER, C. MARICATO, E. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2002. 192 p. MOREIRA, Ruy. Para onde vai o pensamento geográfico?: por uma epistemologia crítica. São Paulo: Contexto, 2006. PENTEADO, Margarida Maria. Fundamentos da geomorfologia. 2. ed. - Rio de Janeiro: IBGE, 1978. PRESS, Frank. Para entender a Terra. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. PREVENÇÃO de Riscos Disponível em: <http://www.cidades.gov.br/>. Acesso em: 10 set. 2011. ROSS, Jurandyr L. Sanches. Geomorfologia: ambiente e planejamento. Fonte: MAPENCO
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