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Economia Teoria e Política F r a n c i s c o M O C H Ó N Revisão Técnica e Adaptação CARLOS ROBERTO MARTINS PASSOS Tradução da 5a edição Visite nosso site: www.mcgraw-hill.com.br Economia: Teoria e Política colabora com o professor na tarefa de apresentar ao aluno a forma de raciocinar própria da Economia ao oferecer uma introdução clara e rigorosa dos princípios da Economia moderna. Para despertar o interesse desse aluno que entra em contato pela primeira vez com a Economia e abordar de forma intuitiva os conceitos econômicos, o autor recorre a exemplos e aplicações, evitando, na medida do possível, os argumentos baseados na teoria econômica formal. Revisada e adaptada pelo Professor e Economista Carlos Roberto Martins Passos, a obra de Francisco Mochón destaca-se pelas seguintes características: Inserções ao longo do texto e novos apêndices no final dos capítulos tornam o livro mais próximo da realidade brasileira. Texto agradável, de fácil leitura e compreensão, faz uma abordagem de todos os conceitos que um estudante de Economia deve conhecer, mas de uma forma relativamente concisa. Problemas de caráter econômico são apresentados tanto no nível do Estado, como no das atividades profissionais e empresariais, e até mesmo na vida cotidiana. Gráficos, quadros, figuras e notas complementares ilustram e enriquecem o conteúdo estudado. Aplicações Livro-texto para as disciplinas Introdução à Economia e Teoria Econômica dos cursos de graduação em Economia e Administração. Recomendado também para economistas e administradores que desejem atualizar seus conhecimentos na área. � � � � Economia: Teoria e Política MOCHÓN 5 a edição Francisco MOCHÓN MORCILLO Catedrático de Teoria Econômica Facultad de Ciencias Económicas Universidad Nacional de Educación a Distancia Tradução Fátima Conceição Murad Leila de Barros Sheila Clara Dystyler Ladeira Revisão Técnica e Adaptação Carlos Roberto Martins Passos Economista com graduação e pós-graduação pela Universidade de São Paulo – USP Lecionou nos cursos de graduação da PUC/SP, FMU e UNIP, na pós-graduação da FASP e da Faculdade São Luís, e no MBA em Finanças do Ibmec e no IbmesLaw, do Ibmec Educacional Bangcoc Beijing Bogotá Caracas Cidade do México Cingapura Londres Madri Milão Montreal Nova Delhi Nova York Santiago São Paulo Seul Sydney Taipé Toronto ECONOMIA TEORIA E POLÍTICA Tradução da 5a Edição Espanhola Economia: Teoria e Política 5a Edição ISBN 85-8680476-2 Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou distribuída, de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada em um banco de dados ou sistema de recuperação, sem o consentimento, por escrito, da Editora, incluindo, mas não limitado a, qualquer rede ou outro dispositivo eletrônico de armazenamento ou transmissão ou difusão para ensino a distância. Tradução do original em espanhol Economía, teoría y política Copyright © 2005 da 5a edição em espanhol por McGraw-Hill/Interamericana de España, S. A. U. ISBN da obra original: 84-481-9850-6 Todos os direitos reservados. © 2006 de McGraw-Hill Interamericana do Brasil Ltda. Av. Engenheiro Luís Carlos Berrini, 1.253 – 10o andar 04571-010 – São Paulo – SP – Brasil Diretor-geral: Adilson Pereira Editora de Desenvolvimento: Ada Santos Seles Preparação de Texto: Maria Alice da Costa Editoração Eletrônica: Crontec Layout da Capa: CD Form, S. L. © Capa: Rafael Alberti, El Alba del Alhelí, S. L. Madri (Espanha). Todos os direitos reservados. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índice para catálogo sistemático: 1. Economia : Estudo e ensino 330.07 Se você tem dúvidas, críticas ou sugestões, entre em contato pelo endereço eletrônico mh_brasil@mcgraw-hill.com. Em Portugal, use o endereço servico_clientes@mcgraw-hill.com. Para contatar o Revisor e Adaptador, escreva para carlosrobertopassos@uol.com.br. Mochón Morcillo, Francisco Economia : teoria e política / Francisco Mochón ; tradução Fátima Conceição Murad, Leila de Barros, Sheila Clara Dystyler Ladeira ; revisão técnica e adaptação Carlos Roberto Martins Passos. -- São Paulo : McGraw-Hill, 2006. Título original: Economía, Teoría y Política 5. ed. espanhola. ISBN 85-86804-76-2 1. Economia 2. Economia - Estudo e ensino I. Passos, Carlos Roberto Martins. II. Título. 06-8613 CDD-330.07 C a p í t u l o 1 A ECONOMIA: CONCEITOS BÁSICOS INTRODUÇÃO Raciocinar em termos econômicos implica uma avalia- ção das diferentes opções possíveis. Os exemplos a seguir mostram que a todos nós são apresentadas alternativas entre as quais devemos escolher. Assim, quando um es- tudante decide passear nos dias anteriores a uma prova, ele sabe que, como conseqüência, poderá obter uma nota ruim. Se um casal jovem decide dar uma entrada para comprar um apartamento, é possível que nesse ano ele tenha de sacrifi car suas férias de verão e não possa trocar de carro. Um empresário que tenha obtido lucros razoá- veis pode reinvesti-los em sua empresa, para acelerar seu crescimento, ou então comprar um apartamento na praia. O governo, ao elaborar os orçamentos gerais do Estado, sabe que, se conceder mais dinheiro para obras públicas, terá que tirar de outras áreas, como a da saúde. 1.1 A economia e a necessidade de escolher A economia se ocupa com as questões que surgem em relação à satisfação das necessidades dos indivíduos e da sociedade. A satisfação de necessidades materiais (alimentação, vestimenta e moradia) e imateriais (educa- ção, lazer etc.) de uma sociedade obriga seus membros a realizar determinadas atividades produtivas. Por meio dessas atividades obtêm-se os bens e os serviços de que se necessita, entendendo por bem todo meio capaz de sa- tisfazer a uma necessidade, tanto dos indivíduos como da sociedade. A economia estuda a maneira pela qual se administram os recursos escassos, com o objetivo de produzir diversos bens e distribuí-los para consumo entre os membros da sociedade. Por isso, alguns autores a denominam também a ciência da escolha. A Economia estuda como as sociedades administram os recursos escassos para produzir bens e serviços e distribuí-los entre os diferentes indivíduos. Na vida real, fazemos escolhas constantemente. Às vezes, a escolha refere-se a temas menores, como a bebi- da que tomamos em um bar, a quantidade de dinheiro que destinamos ou para as férias ou para o lazer, mas, outras vezes, temos de optar entre assuntos mais importantes, como a profi ssão que desejamos exercer ou a aquisição de uma moradia. Os consumidores, as empresas e o setor público de- vem constantemente apresentar alternativas no momento de atuar e decidir qual delas é a mais conveniente. De fato, todas as sociedades defrontam com a escolha e, por- tanto, atuam no âmbito da Economia. O estudo da Economia tem lugar a partir de dois enfoques: o microeconômico e o macroeconômico. A Microeconomia estuda os comportamentos básicos dos agentes econômicos individuais (Capítulos 2 a 11). A Macroeconomia, ao contrá- rio, analisa comportamentos agregados ou globais e se ocu- pa de temas como o emprego, a infl ação ou o produto total de uma economia (Capítulos 12 a 23). A Microeconomia é o estudo da maneira pela qual as famílias e empresas tomam decisões e de como interagem entre si. A Macroeconomia é o estudo de fenômenos que afetam o conjunto da economia. 1.1.1 A escassez e a escolha O problema econômico e, conseqüentemente, a econo- mia, surge porque as necessidades humanas, na prática, são ilimitadas, ao passo que os recursos econômicos são limitados. Com conseqüência, os bens econômicos tam- bém são limitados. A escassez não é um problema tecno- lógico, mas sim uma disparidade entre desejos humanos e meios disponíveis para satisfazê-los. 2 - CAPÍTULO 1 -A ECONOMIA: CONCEITOS BÁSICOS A escassez é um conceito relativo, no sentido de que existe um desejo de adquirir uma quantidade de bens e serviços maior que a disponível. Os indivíduos tentam satisfazer inicialmente àquelas necessidades que são biológicas ou primitivas, isto é, as relacionadas com a alimentação, a habitação e o vestuá- rio. Da mesma forma, os indivíduos precisam prover-se de certos serviços como os de assistência médica, edu- cação, transporte etc. Uma vez supridas as necessidades anteriores, os indivíduos ocupam-se daquelas outras que tornam a vida prazerosa, se bem que o nível de satisfação destas dependerá do poder aquisitivo de cada indivíduo em particular. Além disso, os desejos são refi náveis e am- pliáveis de maneira que, uma vez satisfeitas as necessi- dades primárias, desejaremos algo mais, de modo que à medida que aumenta o nível de vida e aparecem novos produtos, surgem novos desejos. Assim, por exemplo, as férias, até alguns anos atrás, eram consideradas um luxo, ao passo que, atualmente, generalizou-se a postura de usufruí-las. 1.1.2 Fatores produtivos Os fatores ou recursos produtivos (inputs) são os recur- sos empregados pelas empresas ou unidades econômicas de produção para produzir bens ou serviços. Os inputs são combinados com a fi nalidade de se obter os produtos. Os produtos (outputs) consistem na ampla gama de bens ou serviços cujo objetivo é o consumo ou o seu uso pos- terior na produção. Os fatores produtivos, isto é, o trabalho, a terra, as máquinas, as ferramentas, os edifícios e as matérias-primas, são utilizados para produzir bens e serviços. A classifi cação tradicional dos fatores produtivos leva em conta três categorias, apesar de também ser freqüente considerar o empresário, enquanto promotor e gestor das empresas, um fator produtivo: • A terra (ou recursos naturais): tudo com o que a na- tureza contribui para o processo produtivo. • O trabalho: o tempo e as capacidades intelectuais dedicadas às atividades produtivas. • O capital: os bens duradouros não dedicados ao con- sumo, mas sim destinados à produção de outros bens. As economias capitalistas são denominadas assim porque esse capital costuma ser propriedade privada dos capitalistas. Em economia, a menos que se especifi que o contrário, o termo capital signifi ca capital físico, isto é, máquinas e edifícios, e não capital fi nanceiro. Um pacote de ações não constitui um recurso produtor de bens e serviços, e não é capital no sentido econômico. De forma similar, quando em economia falamos de in- vestimentos, nos referimos ao investimento real, ou seja, à acumulação de máquinas e edifícios, e não à compra de bens fi nanceiros. Ainda assim, em economia, é necessário diferenciar o capital físico, a que nos referimos anteriormente, do capi- tal humano. Os gastos com educação e formação profi s- sional supõem um investimento em capital, já que durante o período de aprendizagem e estudo existe um elemento de espera implícito. Esses gastos contribuem para incre- mentar a capacidade produtiva da economia, pois um tra- balhador formado e educado é geralmente mais produtivo que um trabalhador sem essas qualifi cações. O capital humano são os conhecimentos e qualifi cações adquiridos pelos indivíduos por meio da educação e da experiência. O capital humano é utilizado, assim como o capital físico, para produzir bens e serviços. Praticamente, todo trabalho requer algum capital humano. Assim, para ser professor, é necessário ter formação docente, da mesma forma que para ser relações públicas de uma rede hote- leira, deve-se dominar vários idiomas. O relevante é que, tanto do ponto de vista de um país quanto do ponto de vista individual, o acréscimo de capital humano é algo positivo, pois contribui para incrementar a produtividade dos indivíduos e, com isso, elevar seu nível de vida. 1.1.3 Os problemas econômicos fundamentais de toda sociedade Conforme assinalamos, o fato de os fatores produtivos estarem disponíveis em quantidades limitadas, juntamen- te com o fato de as necessidades humanas serem pratica- mente ilimitadas, estabelece a inevitabilidade da escolha. A necessidade de escolher é evidenciada ao considerar os três problemas fundamentais aos quais toda sociedade deve dar resposta. O que produzir? Como produzir? Para quem? • O que produzir? Que bens e serviços serão produzidos e em que quan- tidade? Serão produzidos muitos bens de consumo, como vestidos, ou será dada maior atenção aos bens de investimento, como fábricas, que permitirão in- crementar o consumo no futuro? Serão produzidos muitos vestidos de pouca qualidade ou poucos de ECONOMIA: TEORIA E POLÍTICA - 3 boa qualidade? A produção de bens materiais, como alimentos e automóveis, será incrementada, ou se potencializará a produção de serviços destinados a proporcionar mais lazer, como concertos e espetá- culos teatrais? • Como produzir? Como os bens e serviços serão produzidos? Com que recursos e com que técnica as empresas vão produzir? Que pessoas vão desenvolver cada uma das diferentes atividades? A energia que será empre- gada virá de centrais hidráulicas, térmicas, nuclea- res ou solares? A produção será prioritariamente ar- tesanal ou bastante mecanizada, incluindo a utilização de robôs? As grandes empresas serão de propriedade privada ou de propriedade pública? • Para quem? Para quem se destinará a produção? Quem consu- mirá os bens e serviços produzidos? Em outras pa- lavras, como os diferentes indivíduos e famílias des- frutarão do total da produção nacional? A tendência será para que a distribuição de renda seja igualitária ou, ao contrário, será permitido que se produzam di- ferenças de renda muito evidentes? Em uma economia como a espanhola, as respostas para as três perguntas básicas, que se estabelecem em toda sociedade, são dadas por diferentes agentes em uma multidão de mercados (ver Seção 2.5). Os indivíduos de- cidem que produtos e serviços irão comprar, a que pro- fi ssão irão se dedicar e quanto dinheiro irão poupar. As empresas decidem quais produtos e serviços irão produzir e como irão produzi-los. Os governos decidem quais pro- jetos e programas irão realizar e como serão fi nanciados. Essas decisões do governo se refl etem nos orçamentos do Estado (ver Capítulo 14). Em qualquer caso, a chave está na atuação de ampla rede de mercados. 1.1.4 A economia positiva e a economia normativa Os economistas não se dedicam apenas a comentar os fa- tos que observam, mas também em certas ocasiões fazem propostas e afi rmações sobre como as coisas deveriam ser. Por isso, cabe distinguir entre afi rmações positivas e afi rmações normativas. As afi rmações normativas oferecem prescrições para a ação baseadas em juízos de valor pessoais e subjetivos; tratam “do que deveria ser”. As afi rmações positivas são explicações objetivas do funcionamento dos fenômenos econômicos; tratam sobre “o que é ou poderia ser”. A Economia positiva dedica-se a estabelecer proposições do tipo “se se dão tais circunstâncias, então tais acontecimentos ocorrerão”. Do ponto de vista positivo, os posicionamentos de qualquer economista deveriam ser essencialmente os mesmos para um amplo leque de questões, sobre as quais há, na prática, uma unanimidade entre os profi ssionais da Economia. Com isso, não devemos concluir que em economia não existam discrepâncias, já que há temas que não estão completamente resolvidos e sobre os quais o debate con- tinua aberto. Nesse sentido, podemos afi rmar que as dis- crepâncias mais freqüentes entre os economistas surgem ao formularem afi rmações normativas. As propostas a respeito do que deveria ser respondem a alguns critérios éticos, ideológicos ou políticos sobre o que é considerado desejável ou indesejável. Do pon- to de vista normativo, o economista formula prescrições com relação ao sistema econômico baseando-se em seus próprios julgamentos e não exclusivamente em raciocí- nios científi cos. Assim,ao estudar o peso relativo do setor público, trata-se de responder à questão se este deveria aumentar ou reduzir sua importância no contexto global da atividade econômica. Ao contrário, um enfoque posi- tivo se limitaria a indicar a importância relativa do setor público sem entrar em juízos de valor. Na vida real, no entanto, os componentes positivo e normativo da ciência econômica, isto é, a economia po- sitiva e a economia normativa, se mesclam de forma que fi ca muito difícil separá-los. A maioria dos economistas possui pontos de vista pessoais sobre como deveria fun- cionar a sociedade e é muito difícil ignorá-los quando re- comenda-se determinada política. A economia positiva se ocupa de explicações objetivas sobre o funcionamento da economia. A economia normativa refere-se a preceitos éticos e normas de justiça. Não se deve esquecer que qualquer análise implica uma avaliação dos fatos, e estes, muitas vezes, são sus- cetíveis a mais de uma interpretação. É claro que, no mo- mento de estabelecer interpretações, é muito difícil evitar que nossos próprios valores infl uenciem na percepção de como funciona realmente o sistema econômico. Em qualquer caso, os economistas não se limitam apesar a formular afi rmações sobre o que deveria ser, mas também utilizam seu conhecimento da realidade e o suporte da teoria econômica para tentar incidir sobre 4 - CAPÍTULO 1 - A ECONOMIA: CONCEITOS BÁSICOS a economia e transformá-la no sentido que se considera conveniente. Se não houvesse possibilidade de infl uenciar sobre a atividade econômica por meio de políticas econô- micas, com o objetivo de mudar certos acontecimentos que consideramos desfavoráveis, a economia seria uma disciplina meramente descritiva e histórica. Para isso, pode-se buscar ajuda em dois tipos de po- líticas: as microeconômicas, que incidem no funciona- mento de mercados específi cos (por exemplo, as políticas que regulam a fi xação dos preços da energia), e as ma- croeconômicas, que tratam de temas tais como controlar a infl ação ou estimular a criação de emprego. 1.2 A fronteira de possibilidades de produção (FPP) e o custo de oportunidade Como nos diz a canção “todos queremos mais”, na vida real, as necessidades são ilimitadas. Sempre queremos mais estradas, mais serviços de saúde, mais pensões, mais educação, mais de quase tudo. No entanto, com os re- cursos de que dispomos, somente podemos conseguir de- terminado conjunto de bens e serviços. A representação gráfi ca desse conjunto de bens e serviços é denominada Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP). A curva de transformação ou Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP) mostra a quantidade máxima possível de dois bens ou serviços que certa economia pode produzir com os recursos e a tecnologia de que dispõe, considerando como dadas as quantidades de outros bens e serviços que também produz. 1.2.1 Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP) A FPP ilustra um fato importante: em uma economia que conta com milhares de produtos, as alternativas de esco- lha são numerosas. Para simplifi car o problema, consi- deremos uma economia que dispõe de uma dotação fi xa de fatores produtivos, que suporemos que estejam todos empregados, e na qual se produzem apenas dois tipos de bens: computadores pessoais e celulares. Se a partir de dada situação decide-se produzir mais computadores pessoais, e se orientam os esforços nessa direção, se deverá estar disposto a produzir menos celu- lares. Resulta, então, que, para poder atender melhor às necessidades de computadores pessoais, se deverá estar disposto a sacrifi car uma certa quantidade de celulares, já que se supôs que se produzem somente dois bens. Portanto, aumentar a produção de computadores pessoais tem um custo para a sociedade em termos de celulares que deixaram de ser produzidos. As diferentes possibilidades que se apresentam para a economia em questão podem ser mostradas utilizando-se um exemplo numérico. As diversas opções são as combi- nações possíveis de computadores pessoais e celulares, das quais cinco encontram-se no Quadro 1.1 e na Figura 1.1. A FPP ilustra uma característica fundamental: a eco- nomia é a ciência da escolha. Deve-se optar entre dife- rentes alternativas, pois a vida real sempre apresenta op- ções entre as quais deve-se estabelecer prioridades. Uma simples olhada ao nosso redor nos mostra que não existe nada grátis e que tomar decisões implica trocar um obje- tivo por outro. A fronteira de possibilidades de produção ou curva de transformação é formada por todos os pontos intermediá- rios entre as situações apresentadas no Quadro 1.1. Todos os pontos dessa curva são, em princípio, igualmente de- sejáveis. No entanto, as posições mais interessantes pare- (1) Opções (2) Computadores Pessoais (unidades) (3) Celulares (unidades) (4) Custo de oportunidade A 0 18 1 B 1 17 3 C 2 14 5 D 3 9 9 E 4 0 Quadro 1.1 - Tabela de possibil idades de produção A fronteira de possibilidades de produção mostra a quantida- de máxima de combinações de produtos que a economia pode produzir utilizando todos os recursos existentes, e manifesta o dilema de escolha existente no sentido de que maior quantidade produzida de uma mercadoria supõe diminuição de outra. 18 16 14 12 10 8 6 4 2 1 2 3 A B C D E 0 4 Quantidade de computadores pessoais Quantidade de celulares Figura 1.1 - Fronteira de Possibil idades de Produção ECONOMIA: TEORIA E POLÍTICA - 5 cem ser aquelas nas quais se produz certa quantidade de ambos os bens, pois tanto celulares como computadores são bens que os indivíduos desejam. No exemplo da tabe- la, partimos de uma situação extrema (A), pois não se pro- duzem computadores, já que todos os recursos estão sendo empregados na produção de celulares. A partir dessa situa- ção inicial vai aumentando-se a produção de computadores à custa da redução do número de unidades de celulares. 1.2.2 O custo de oportunidade A economia nos ensina que “não existe nada grátis”, o que equivaleria ao princípio de que tudo tem um custo que denominamos custo de oportunidade. O custo de oportunidade de uma coisa é aquilo que renunciamos para consegui-la. O verdadeiro custo de algo é aquilo a que temos de renunciar para obtê-lo. Isso é dessa forma tanto para os indivíduos, os lares ou famílias como para as empresas ou o Estado. Assim, por exemplo, para um estudante que conta com determinado orçamento para passar uma se- mana de férias, a alternativa que se lhe apresenta pode ser concretizada nos seguintes termos: 1. Viajar a um lugar relativamente perto, com um custo de transporte baixo, e assim contar com uma quanti- dade relativamente elevada de dinheiro para poder ir a bons hotéis e a restaurantes e ainda gastar mais em diversões e presentes. 2. Viajar a um lugar distante e exótico, mas destinan- do a maior parte de seu orçamento para o transporte e fi cando com pouco dinheiro para hotéis e demais gastos. Nesse sentido, podemos dizer que o custo de oportunidade de viajar para um lugar distante é contar com menor orçamento para o restante das despesas. O conceito de custo de oportunidade, entendido como aquilo que deve ser entregue para a obtenção de algo, pode ser formalizado a partir da fronteira de possibilidades de produção. Se uma economia encontra-se sobre a fron- teira de possibilidades de produção e todos os recursos estão sendo plenamente utilizados, a economia enfrenta um dilema de escolha: produzir maior quantidade de um bem exigirá necessariamente produzir menos de outro. A opção que deve ser abandonada para poder produzir ou obter outro bem se associa, em economia, ao conceito de custo de oportunidade. Em termos mais precisos, se estamos obtendo determi- nada combinação de bens, empregando efi cazmente todos os recursos de que a sociedade dispõe, e quiséssemos, não obstante, produzir algumas unidades a mais de um dos bens, isso só poderia ocorrer à custa da redução da produçãode outro. Essa escolha entre os dois bens indica que o custo de obter mais unidades de um, em nosso caso, computadores pessoais, é precisamente deixar de produzir algumas unida- des do outro, ou seja, de celulares (Figura 1.1). Nesse caso particular, chamamos custo de oportuni- dade de um computador pessoal ao número de unidades de celulares que é preciso deixar de produzir para obtê-lo. Como mostra o Quadro 1.1, coluna (4), os aumentos da produção de computadores que resultam do deslocamen- to desde A até E vão elevando cada vez mais o custo de oportunidade. Assim, o custo de oportunidade de produzir um com- putador pessoal é um celular (a diferença entre 18 e 17), que deve ser sacrifi cado para que haja um deslocamento do ponto A ao B. O computador seguinte tem um custo de oportunidade de três celulares (deslocamento de B a C) e o quarto computador exige o sacrifício de nove celulares. O custo de oportunidade de uma decisão é aquilo a que se deve renunciar para se obter algo. Mais concretamente, o custo de oportunidade de um bem ou serviço é a quantidade de outros bens ou serviços a que se deve renunciar para obtê-lo. Também os indivíduos se deparam com o custo de oportunidade. Por exemplo, a opção de cursar uma carrei- ra universitária signifi ca renunciar, no período de duração dos estudos, a outras coisas que poderíamos fazer, como trabalhar. Portanto, uma parte do custo de oportunidade de estudar é a possível perda de receita que poderia ser obtida com um trabalho. Na medida em que as oportuni- dades de trabalhar sejam mais atraentes, o custo de opor- tunidade de estudar aumenta, e vice-versa, se não existi- rem oportunidades de trabalho para os jovens, o custo de oportunidade de estudar fi ca menor. Por isso, os jovens que são contratados por um time de futebol com salários milionários têm um elevado custo de oportunidade para continuar com seus estudos. O custo de oportunidade na obtenção do título de bacharel em economia Qual é o custo de oportunidade do título de bacharel em economia? Se considerarmos que um estudante passa cin- co anos na universidade e paga 1.000 euros a cada ano pela matrícula e livros, a parte do custo de oportunidade por estar na universidade durante cinco anos será de 5.000 euros. Essa quantia poderia ter sido gasta conhecendo ou- tros países ou comprando um carro. Se em lugar de ir à 6 - CAPÍTULO 1 - A ECONOMIA: CONCEITOS BÁSICOS universidade, ele tivesse começado a trabalhar em uma empresa com um salário de 10.000 euros por ano, a outra parte do custo de oportunidade seriam os 50.000 euros que poderia ter ganho durante os cinco anos dedicados aos estudos. O custo total de oportunidade para obter a li- cenciatura em economia será, portanto, de 55.000 euros. Nesse cálculo, não foram incluídos os custos de ali- mentação e moradia, pois o estudante deve comer e morar em algum lugar mesmo que não vá à universidade. Se a moradia e a alimentação fossem mais caras na universi- dade ou se o estudante tivesse de deslocar-se para outra cidade para cursar economia, deveríamos incluir os cus- tos adicionais de moradia, alimentação e deslocamento nos cálculos anteriores. As mudanças marginais As pessoas racionais pensam em termos marginais. Na vida real, muitas das decisões tomadas requerem a reali- zação de pequenos ajustes adicionais. Em economia esses ajustes são conhecidos como mudanças marginais. As mudanças marginais são pequenos ajustes adicionais de um plano de ação. Precisamente ao apresentar o custo de oportunidade de produzir computadores pessoais em relação a celulares recorremos à análise marginal, pois o custo de oportuni- dade de obter um computador pessoal foi defi nido como o número de unidades de celulares que é preciso deixar de produzir para obtê-lo. N o t a C o m p l e m e n t a r 1 . 1 - A f o r m a d a F P P , a l e i d o s r e n d i m e n t o s d e c r e s c e n t e s e o c r e s c i m e n t o d o c u s t o d e o p o r t u n i d a d e A partir da análise dos valores contidos no Quadro 1.1, e em par- ticular da evolução do custo de oportunidade, podemos justifi car a forma da FPP. Pelo que vimos anteriormente, concluímos que, se são transferidos mais recursos da produção de celulares para a de computadores pessoais, a produção de computadores pessoais au- mentará, ao passo que diminuirá a de celulares. Conseqüentemente, a FPP da Figura 1.1 é uma curva descendente e, por conseguinte, com inclinação negativa. Como os recursos produtivos não são igualmente aptos para a produção de um bem ou do outro, os valores do custo de oportunidade aumentam da forma que mos- tram o Quadro 1.1 e a Figura 1.1. Por isso, normalmente a FPP tem a forma representada na Figura 1.1, isto é, côncava. A concavidade da fronteira de possibilidades de produção e, portanto, o aumento do custo de oportunidade podem ser justifi - cados recorrendo-se à lei dos rendimentos decrescentes. Essa lei se refere à relação entre os fatores produtivos e os bens obtidos no processo produtivo. De forma intuitiva, podemos estabelecê-la dizendo que existem rendimentos decrescentes na produção de um bem se a quantidade de produto adicional que obtemos, quando acrescentamos sucessivamente unidades adicionais iguais de al- guns fatores em relação a outro ou a outros fatores que permane- cem fi xos, for cada vez menor (ver Seção 5.2). Suponham que realizemos um experimento controlado que con- siste em adicionar unidades sucessivas de trabalho a uma quantida- de fi xa de capital e equipamento. Se inicialmente não empregarmos nenhum trabalhador, logicamente não obteremos nenhum produto (ver quadro ao lado). Imaginemos, agora, que adicionamos uma unidade de trabalho (oito horas de trabalho por dia) à quantidade fi xa de capital. Nessas condições, obtêm-se quatro computadores por ano. No quadro ao lado, observam-se os resultados das diferentes etapas do experi- mento, que consiste em ir acrescentando uma unidade de trabalho adicional. A primeira unidade de trabalho adiciona quatro compu- tadores à produção; a segunda, três, a terceira, dois e a quarta uni- dade, um computador. Dessa maneira, os resultados da experiência ilustram a lei dos rendimentos decrescentes. Essa é uma relação econômica freqüentemente observada, mas não tem validade uni- versal para todos os tipos de tecnologias e ela pode ser enunciada dizendo-se que ao acrescentar unidades adicionais iguais de traba- lho para uma dada unidade de fator fi xo (capital e equipamento), os incrementos que se obtém na produção de computadores são cada vez menores. A lei dos rendimentos decrescentes refl ete o fato que para conse- guir quantidades adicionais iguais de um bem, a sociedade utiliza quantidades crescentes de fatores. Se existem rendimentos decres- centes na produção de um bem, o custo de oportunidade de produ- zir unidades sucessivas desse bem é cada vez maior. Em uma eco- nomia com apenas dois bens, para se produzir unidades adicionais de um deles, supondo-se a existência de rendimentos decrescentes, será necessário subtrair cada vez mais recursos da produção do ou- tro bem. Conseqüentemente, o custo de oportunidade será crescen- te (ver Quadro 5.1, Capítulo 5). De forma intuitiva, podemos dizer que o custo de oportunidade aumenta em função da especialização dos fatores produtivos. Produção de computado- res pessoais Emprego na produção de computadores Produção total Variação da produção 0 0 4 1 4 3 2 7 2 3 9 1 4 10 Quadro - A lei dos rendimentos decrescentes Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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