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O artista norte-americano Calder inventou a escultura em movimento, chamada rnóbile. O conjunto de materiais e cores se agita de acordo com a intensidade do vento, mudando constantemente suas formas. Pela irnprevisibilidade, a escultura de Calder tem corno objetivo proporcionar surpresa e prazer. Por isso deve ser apreciada no seu todo, e não em partes. Também em relação à natureza é necessário esforço para conhecê-la e para captá-la em seu movimento. É o que nos fez ver Hegel, Marx e cientistas corno Darwin. Nas ciências humanas, a disposição de avaliar o todo e a atenção para com a irnprevisibilidade dos comportamentos são fundamentais para que o método adotado tenha em vista não apenas explicar, mas compreender. m u o ;;; <ri :3 o ê g: o "' ~ o o u ; D Explicar e compreender Embora a discussão a respeito da natureza humana tenha sido constante nas reflexões dos filósofos, apenas no século XIX as ciências huma- nas começaram a se desligar da filosofia, bus- cando seu próprio método. Surgiu, então, um problema: como abordar essas questões com objetividade? Testando hipóteses pela experi- mentação? Generalizando observações até des- cobrir leis gerais? Não é necessário muito esforço para perceber quais seriam as dificuldades diante da especificidade desse novo objeto das ciên- cias: o ser humano. Estudar esse "objeto", na sua complexa individualidade, liberdade e consciên- cia moral, não é o mesmo que investigar o que é uma "coisa". Diante disso, o filósofo alemão Wilhelm Dilthey (1833-1911) aprofundou o debate sobre o que cha- mava de "ciências do espírito", afirmando que explicamos a natureza, mas compreendemos a vida psíquica. A explicação é, em grande parte causal, isto é, explica-se um fato indicando sua causa, ou seja, estabelecendo a lei ou as leis causais. Foi assim que Galileu chegou à lei da queda dos corpos e Newton à teoria da gravitação universal. A compreensão depende de interpretação, encon- tra-se vinculada com a intencionalidade dos atos humanos, sempre voltados para motivações diver- sas, valores e finalidades, já que o ser humano é consciente de si. Na mesma direção afirma o filósofo finlandês Von Wright: Compreendem-se os objetivos e propósitos de um agente, o significado de um signo ou de um símbolo, o sentido de uma instituição social ou de um ritual religioso. Esta dimensão intencional ou , como também seguramente se poderia dizer, esta dimensão semâptica da compreensão chegou a exercer um papel relevante na discussão metodológica mais recente. 1 No entanto, nem todos pensam como Dilthey, e essas duas tendências marcaram as orientações assumidas pelos cientistas das ciências humanas, como veremos adiante. Antes, porém, levantare- mos alguns aspectos relevantes da especificidade do conhecimento sobre o ser humano. fJ Düiculdades metodológicas das ciências humanas Enquanto as ciências da natureza têm como objeto algo que se encontra fora do sujeito que conhece, as ciências humanas têm como objeto o próprio sujeito cognoscente. Podemos, portanto, imaginar as dificuldades da economia, da sociolo- gia, da psicologia, da geografia humana, da história para estudar com isenção aquilo que diz respeito ao próprio sujeito tão diretamente. Vejamos quais são as dificuldades enfrentadas pelas ciências humanas ao buscarem estabelecer seu método. O ser humano não é uma coisa que sej a explicada na sua generalidade. Mesmo um clone constituiria outro indivíduo, singular, com uma história personalíss ima. a) Complexidade A complexidade dos fenômenos humanos, sejam psíquicos, sociais ou econômicos, resiste às tenta- tivas de simplificação. Em física, por exemplo, ao estudar as condições de pressão, volume e tempe- ratura, é possível simplificar o fenômeno tornando constante um desses fatores. O comportamento humano, entretanto, resulta de múltiplas influên- cias, como hereditariedade, meio, impulsos, dese- jos, memória, bem como da ação da consciência e da vontade, o que o torna extremamente complexo. Já pensou o que significa avaliar a motivação do voto dos cidadãos numa eleição? Ou explicar o fenômeno do linchamento ou da vaia? Ou examinar as causas que determinam a escolha da profissão? > Semântico. Relativo à significação. 1 WRIGHT, Georg Henrik von. Explicación y comprensión. Madrid: Alianza, 1980. p. 24. O método das ciências humanas Capítulo 32 b) Experimentação A experimentação é possível para determinadas ciências humanas, mas é sempre difícil identifi- car e controlar os diversos aspectos que influen- ciam os atos humanos. Além disso, a natureza artificial dos experimentos controlados pode fal - sear os resultados. A motivação dos sujeitos tam- bém é variável, e as instruções do experimentador podem ser interpretadas de maneiras diferentes. Do mesmo modo, a repetição do fenômeno altera os efeitos, já que o indivíduo, como ser afetivo e consciente, nunca vive uma segunda situação de maneira idêntica à anterior. Certos experimentos oferecem restrições de cará- ter moral, por não ser lícito submeter o ser humano a situações que ponham em risco sua integridade física, psíquica ou moral. Por exemplo: as reações de pânico num grupo de pessoas presas numa sala em chamas só podem ser objeto de apreciação even- tual no caso de ocorrer o acidente. Jamais a situação poderia ser provocada para o estudo. u PARA REFLETIR O psicólogo John Calhoun fez uma experiência colo- cando ratos em uma gaiola e deixando-os procriar até que se criasse uma superpopulação. Observou, então, que eles se tornavam agressivos, atacavam-se sexualmente, matavam-se e até se canibalizavam. Seria possível transpor por analogia essa experiên- cia para os seres humanos? Que características pro- priamente humanas poderiam ser contrapostas a uma vida puramente animal? Também é preciso saber de que constatações está se partindo: se da observação do comporta- mento exterior do indivíduo ou de seu relato sobre o que sentiu, a chamada técnica de introspeccão. Esse procedimento é descartado por aqueles que julgam que esses dados não são confiáveis, pois podem ser falseados por mentiras ou involuntariamente. lY ETIMOLOGIA Introspecção. Do latim intro, "para dentro", e spec- tare, "olhar": olhar para dentro. c) Matematização Se a passagem da física aristotélica para a física clássica de Galileu deu-se pela transformação das qualidades em quantidades, poder-se-ia concluir que a ciência será tão rigorosa quanto mais ela for matematizável. Ora, esse ideal é problemático com relação às ciências humanas, cujos fenômenos são Filosofia das ciências essencialmente qualitativos. Por isso, quando é pos- sível aplicar a matemática, são utilizadas técnicas estatísticas, com resultados sempre aproximativos e sujeitos a interpretação. Composição com vermelho, amarelo e azul, 1939-1942. Piet Mondrian. Nesse quadro do pintor holandês Mondrian, vemos a matematização do espaço. O pintor buscou as formas mutáveis e puras da natureza e transformou-as em formas geométricas permanentes. d) Subjetividade As ciências da natureza aspiram à objetividade, que consiste na descentração do sujeito no pro- cesso de conhecer, na capacidade de lançar hipó- teses testáveis por todos, mediante instrumentos de controle, e na descentração das emoções e da própria subjetividade do cientista. Mas, se o sujeito que conhece é o objeto que se quer conhecer, parece ser difícil contornar a subjetividade, porque o ser humano não é estranho para outro ser humano. Imagine como interpretar fatos históricos enquanto estão sendo vivenciados ou analisar uma família quando se faz parte dela. e) Liberdade Se algumas leis das ciências da natureza supõem o determinismo - ou seja, na natureza tudo o que existe tem uma causa - , como fica a questão da liber- dade humana? As regularidades na natureza tornam possível estabelecer leis e por meio delas prever a incidência de um fenômeno. Como issoseria possí- vel, se admitirmos a liberdade humana? Mesmo se concordamos que o ser humano sofre condiciona- mentos, estes seriam da mesma natureza e intensi- dade dos que ocorrem com os seres inertes? Li~ PARA SABER MAIS Sobre a liberdade, consultar capítulo 19, "Podemos ser livres?". Essas dificuldades não foram levantadas para provar a inviabilidade de as disciplinas humanas se constituírem em ciências, pois elas aí estão, encon- trando seu espaço. Apenas pontuamos as diferenças entre as ciências da natureza e as ciências humanas e como o modo de enfrentar essas dificuldades tem determinado o tipo de metodologia que cada uma delas adota. Ou seja, o método utilizado depende, de certa maneira, dos pressupostos filosóficos que embasam a visão de mundo do cientista. IJ O nascimento das ciências humanas Diferentemente das c1encias da natureza, as ciências humanas demoraram mais tempo para se tornarem autônomas, o que começou a ocorrer no final do século XIX. A questão que se colocou para os primeiros estu- diosos foi o fundamento epistemológico: o que é este objeto que se pretende conhecer? E em seguida: que método usar para alcançar esse objetivo? Retomando a questão proposta por Dilthey, ao distinguir explicação e compreensão, destacam-se duas tendências, a positivista e a hermenêutica, que também poderíamos chamar de naturalista e humanista. m ETIMOLOGIA Hermenêutica. Do grego hermeneutiké, "arte de interpretar". A tendência positivista remonta a Augusto Com te e a Stuart Mill (séc. XIX) e influenciou o sur- gimento das primeiras ciências humanas, cujos procedimentos pretendiam ser semelhantes aos das ciências da natureza. Além disso, a física mate- mática, considerada por Comte o exemplo da ciên- cia positiva, impõe-se como um ideal metodológico. Por fim, a tradição positivista tem como princípio a explicação causal. Sob esse aspecto, são recusadas as explicações teleológicas (finalistas), descartadas como não científicas. A tendência hermenêutica procede à interpre- tação do que pensamos conhecer, a fim de decifrar o sentido oculto no sentido aparente, o que signi- fica compreender as peculiaridades únicas de seus objetos. Não se trata, porém, de uma tendência homogênea, por abrigar pensadores de diferentes linhas, mas que procura estabelecer uma metodolo- gia distinta daquela das ciências da natureza, tendo em vista a especificidade do ser humano. Li~ PARA SABER MAIS Já vimos sobre o pos itivismo no capítulo 15,"A crítica à metafísica", e sobre a hermenêut ica, no capítulo 10, "Ideologias". Vejamos como se opõem essas duas tendências que marcaram a busca do método, começando pela orientação positivista, mas examinando as ideias que a ela se ctmtrapõem. • A psicologia O início da psicologia como ciência foi marcado pela tendência positivista, que surgiu na Alemanha, no século XIX, com o trabalho de diversos médicos que se empenharam em questões relativas à percep- ção. Tratava-se propriamente de umapsicofisica, em que o método visava a quantificar e generalizar a relação entre as mudanças do estímulo e os efeitos sensoriais correspondentes. Dentre esses pesquisadores, destaca-se Wilhelm Wundt (1852-1920), que fundou em Leipzig, em 1879, o primeiro laboratório de psicologia, para rea- lizar processos de controle experimental. No livro Elementos de psicologia fisiológica expõe o conceito de método, pelo qual a psicologia imita claramente a fisiologia. Por isso Wundt não se aventura a estu- dar os processos mais complexos do pensamento, por considerá-los inacessíveis ao controle experi- mental. Volta-se para a observação da percepção sensorial, principalmente a visão, estabelecendo as relações entre os fenômenos psíquicos e seu subs- trato orgânico, sobretudo cerebral. Quanto ao esforço dos primeiros estudiosos da psicologia de se restringirem aos fenômenos psíquicos - como a percepção visual - , por poderem ser quantificados, os filósofos da cor- rente humanista, sobretudo da fenomenologia, respondem que não hájatos com a objetividade pretendida, pois não percebemos o mundo como um dado bruto, desprovido de significados. Ao contrário, o que percebo é um mundo para mim, daí a importância do sentido, da rede de signi- ficações que envolvem os objetos percebidos: a consciência "vive" imediatamente como doadora de sentido. O método das ciências humanas Capítulo 32 ~PARA SABER MAIS Para a fenomenologia, toda consciência é intencio- nal, o que significa que não há pura consciência, separada do mundo, pois toda consciência visa ao mundo. Do mesmo modo, não há objeto em si, inde- pendente da consciência que o percebe. Portanto, o objeto é um fenômeno (etimologicamente, "algo que aparece") para uma consciência. Sobre isso,con- su lta r o capítulo 16, "A crise da razão". A seguir, usaremos a psicologia para exemplifi- car essas duas tendências metodológicas. Veremos a escola comportamentalista norte-americana, fun- damentada na tendência positivista e, em contrapo- sição, a psicologia da forma (ou Gestalt) e a psicaná- lise, que se orientam numa perspectiva humanista. 9 A psicologia comportamentalista A psicologia comportamentalista ou behaviorismo desenvolveu-se principalmente nos Estados Unidos e até hoje é uma das tendências importantes da inves- tigação científica. Para melhor compreender essa corrente, comecemos com o trabalho de Pavlov. @ETIMOLOGIA Behaviorismo. Do inglês behaviour, "conduta". Portanto, estudo do comportamento. • Pavlov: o reflexo condicionado O médico russo Ivan Pavlov (1849-1936) encon- trava-se inicialmente interessado no funciona- mento dos fenômenos da digestão e salivação, mas as experiências com cães levaram-no à explica- ção da aprendizagem pelo reflexo condicionado. Observe o esquema: Segundo o esquema, observamos que os estí- mulos não condicionados - no caso, o alimento e o som - produzem, respectivamente, um reflexo simples imediato, não aprendido. Ou seja, diante do alimento, o cão saliva automaticamente; ao ouvir a campainha, fica com as orelhas em pé. Se associarmos os dois eventos, isto é, sempre que apresentar o alimento fazer soar a campainha, depois de um tempo, apenas o som provocará sali- vação, sem a presença do alimento. Isso significa que o som, antes um estímulo neutro para a saliva- ção, passou a ser um estímulo eficaz: criou-se um reflexo condicionado, houve aprendizagem. O estímulo alimento é chamado reforço positivo, pois é ele que torna a reação mais frequente, garan- tindo a manutenção da resposta. Se o reforço não for mais apresentado, a tendência é a extinção da resposta, isto é, desfaz-se o reflexo condicionado, e o cão não mais salivará ao som da campainha. As conclusões de Pavlov impulsionaram estudos mais complexos levados a efeito pela psicologia comportamentalista. • Skinner: o condicionamento operante Todos nós sabemos que desde a infância estamos submetidos a diversos condicionamentos: aprende- mos desde o controle da micção, passando pelo con- trole de reações emocionais como medo e raiva, até hábitos como dirigir um carro. Daí ser importante conhecer que estímulos são determinantes para a aquisição de comportamentos desejados ou para a extinção dos indesejados. A utilização de animais nessas experiências era um recurso frequente porque, por viverem menos, os efei- tos de certos testes nas diversas fases da vida deles podiam ser mais bem observados, assim como a veri- ficação de eventuais sequelas nas gerações seguintes. Além disso, havia possibilidade de lesar órgãos a fim de conhecer suas funções. É claro que, depois, as conclu- sões seriam extrapoladas para a psicologia humana. Com isso o behaviorismo pretende atingir o ideal positivista pelo qual a psicologia, para se tor- nar ciência, precisaria seguir o exemplo das ciências naturais, tornando-se materialista, mecanicista, determinista e objetiva. ESTÍMULO Alimento Reflexo simples- não condicionado RESPOSTASaliva Som Unidade 6 Reflexo simples- não condicionado Filosofia das ciências "Aprumar" as orelhas O ps icó logo Burrhur Skinner fazendo experiência com rato na "cai xa de Ski nner", 1964. Na "caixa de Skinner" é colocado um animal faminto: depois de, casualmente, esbarrar diversas vezes em uma alavanca, percebe que o alimento aparece sempre que a aciona; assim, realiza a associação entre alavanca e alimento. Apertar a alavanca é a resposta, dada antes do estimulo, que é o alimento. Skinner criou inúmeras variantes dessas caixas, inclusive aquelas em que o animal age visando a evitar uma punição, corno saltar para outro local depois de "avisado" por um sinal luminoso ou sonoro, antes que um choque elétrico seja acionado. São abandonadas todas as discussões a respeito da consciência, conceito filosófico considerado impróprio para uso científico. A introspecção é rejeitada, e o único objeto digno de estudo é o com- portamento, em toda sua exterioridade. Os com- portamentalistas costumam se referir à consciên- cia como uma "caixa-preta'', inacessível ao conheci- mento científico. O primeiro representante da psicologia compor- tamentalista foi o norte-americano John B. Watson (1878-1938), que lhe deu o nome de behaviorismo. Após Watson, o behaviorismo alcançou novo impulso com Burrhur Frederic Skinner (1904-1990), que, a partir de experiências com ratos e pombos, estabeleceu as leis de um tipo de condicionamento mais complexo do que o clássico ou pavloviano. Trata-se do condicionamento instrumental, também chamado operante ou skinneriano. O reflexo condicionado pavloviano - também chamado respondente - é determinado pela asso- ciação entre um estímulo externo ao qual se segue uma resposta, aprendida por meio de contiguidade, expresso por E-R (estímulo-resposta). No exemplo dado, o som, associado à comida, provoca a sali- vação. Trata-se de um comportamento reflexo ou involuntário. O condicionamento operante é determinado por suas consequências - e não por um estímulo que o precede. Por exemplo, um bebê esbarra casualmente em um brinquedo que emite sons; após perceber outras vezes o mesmo efeito, passa a tocá-lo inten- cionalmente, para ouvir o som. Nesse caso, a criança aprendeu um novo comportamento, por meio de um reforço: sempre que tocava no brinquedo, tinha o prazer de ouvir o som. Campos de aplicação As descobertas de Skinner foram amplamente utilizadas nos Estados Unidos em diversos campos da atividade humana. Por exemplo, a instrução pro- gramada: o aluno recebe um texto com uma série de espaços em branco para serem preenchidos em nível crescente de dificuldade. Partindo do princípio de que o reforço deve ser dado a cada passo do pro- cesso e imediatamente após o ato, a cada momento o aluno pode conferir o erro ou acerto de sua res- posta. O processo foi aperfeiçoado na "máquina de ensinar", que substitui o professor em várias etapas da aprendizagem. ltil PARA SABER MAIS A chamada educação tecnicista, implantada no Brasil durante a ditadura militar, tinha or ientação positivista e baseava-se nos ideais de organização, objetividade, eficiência e produtividade. O plane- jamento deveria definir objetivos instruciona is e operacionais rigorosamente esmiuçados, estabe- lecendo o ordenamento sequencial das metas a serem atingidas. O processo de condicionamento também é uti- lizado nas empresas, com o intuito de estimular o aumento da produção. A cada meta atingida, atri- buem-se pontos, que são acumulados e transforma- dos em benefícios para os considerados melhores. As técnicas skinnerianas usadas na educa- ção familiar visam a criar bons hábitos e corrigir O método das ciências humanas Capítulo 32 comportamentos, como reeducar uma criança manhosa, descondicionando a resposta manha para substituí-la por outro comportamento socialmente desejado. No tratamento psicológico de certos comporta- mentos, a terapia comportamental ou reflexologia visa a descondicionar os maus hábitos, levando, por exemplo, um alcoólatra a deixar de ingerir bebida alcoólica. No filme Laranja mecânica, de 1971, o diretor Stanley Kubrick critica o behaviorismo, ao mostrar o processo de descondicionamento de um indivíduo violento: ele é induzido quimicamente a ter náuseas enquanto assiste a cenas de violência. Os terapeutas comporta mentais discordam desse método, explicando que ele, além de ser baseado no pouco eficiente condicionamento pavloviano, não costuma ser usado por questões éticas. Uma obra de ficção Além de obras científicas, como Ciência e compor- tamento humano, Skinner escreveu o romance Walden !!, uma utopia em que todos os atos humanos seriam cientificamente planejados e controlados. Nesse mundo ideal, as pessoas são felizes, porque orientadas por técnicos e cientistas que cuidam para que todos queiram fazer precisamente o que é melhor para si mesmos e para a comunidade. Nos diálogos travados entre os visitantes e o personagem que representa um dos idealizadores do sistema (chamado Frazier, o E ~&1. de Skinner), as indagações sobre determinismo e liberdade são criticadas como pseudo-questões de ori- gem linguística. Assim diz Frazier: Planejei Walden li- não como um arquiteto planeja uma construção, mas como um cientista planeja um experimento de longa duração, incerto das condições que irá encontrar, mas sabendo como lidar com elas, quando as encontrar. Num certo sentido, Walden li é predeterminada, mas não como é determinado o comportamento de uma colmeia. A inteligência, não importa quanto seja modelada e ampliada por nosso sistema educacional , ainda funcionará como inteligência. Será usada para descobrir soluções para problemas, aos quais uma colmeia rap idamente sucumbiria. O que o plano faz é manter a inteligência no caminho certo, antes para o bem da sociedade do que para o indivíduo inteligente. Mais adiante, afirma: Eu nego que liberdade sequer exista. Devo negá-lo, ou meu programa seria absurdo. Não se pode ter uma ciência sobre um assunto que sa lte caprichosamente. Talvez não possamos nunca provar que o homem não é livre; é uma suposição. Mas o sucesso crescente de uma ciência do comportamento torna isto cada vez mais plausível.2 D A psicologia da forma Os teóricos da psicologia da forma, ou Gestalt, sofreram explicitamente a influência da fenomeno- logia e, nesse sentido, opõem-se às psicologias de tendência positivista. Seus principais representan- tes foram os alemães Wolfgang Kê:ihler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941). • A percepção A psicologia derivada da tendência empirista reduzia a percepção a uma análise rigorosa, até encontrar o "átomo'' psíquico fundamental. O mundo percebido seria inicialmente uma grande confusão de sensações, cujos fragmentos se organizariam tra- balhosamente pelo processo de associação, da qual resultam por fim as percepções e depois as ideias. Os gestaltistas, em oposição, afirmam que não há excitação sensorial isolada, mas complexos em que o parcial é função do conjunto. Isso significa que o objeto não é percebido em suas partes, para depois ser organizado mentalmente, mas se apresenta primeiro na totalidade (na sua forma, na sua configuração), e só depois o indivíduo atentará para os detalhes. O conjunto é mais que a soma das partes, e cada elemento depende da estrutura a que pertence. Quando ouvimos uma melodia, não percebemos inicialmente as notas de que ela se compõe: por isso podemos reconhecê-la mesmo se a ouvimos com todas as notas diferentes, se transposta para outro tom. No entanto, se uma só nota é alterada, altera-se 2 SKINNER, Burrhus. Walden 11: uma sociedade do futuro. São Paulo: EPU, 1975. p. 252 e 255. Unidade 6 Filosofia das ciências o todo. Na transposição para outro tom, a estrutura da melodia permanece a mesma, mas se mudamos uma nota há alteração estrutural. No dia a dia encontramos inúmeros exemplos da tendência à configuração: sempre identificamosformas nas nuvens (rosto, cachorro, dragão ... ); as constelações representam a cruz, o escorpião; reco- nhecemos um rosto familiar, mas longe dele mui- tas vezes não nos lembramos bem dos detalhes. Já pensaram como é difícil descrever alguém para um retrato falado? Isso porque percebemos o rosto no seu conjunto, e não nos detalhes. A tendência para organizar aquilo que é perce- bido significa a impossibilidade de apreender o fato bruto, pois o objeto é elaborado e nunca aparece na percepção como algo em si. O sujeito estrutura organicamente o que está apenas justaposto ou leva à perfeição formas apenas esboçadas. • O comportamento Tudo o que dissemos sobre a percepção vale para o comportamento dos animais e das pessoas: há que partir da admissão de um campo total em que o orga- nismo e o meio entram como dois polos correlativos que constituem o verdadeiro ambiente da ação. Assim, um mesmo espaço se estrutura de forma diferente se o percorro como faminto, fugitivo ou artista. Kõhler fez diversas experiências com chimpanzés. Numa jaula, o problema de alcançar uma banana ina- cessível é resolvido pelo chimpanzé quando ele sobe em um caixote para pegar a fruta ou quando usa um bambu para derrubá-la. Segundo Kõhler, para solu- cionar o problema, o chimpanzé deve perceber como um todo o campo onde se situa, ou seja, ele só tem o insight quando estabelece a relação fruta-caixote ou fruta-bambu. Dá-se então o "fechamento'', ou seja, a pre- dominância de uma determinada forma sobre outras. " \7 v Na percepção, a Gestalt estuda as figuras ambíguas em que, dependendo da função que damos às linhas, alteramos a relação entre figura e fundo. No primeiro desenho, vemos ora uma taça, ora dois perfis. O segundo exemplificao princípio do fechamento, quando se percebe um tr iângulo branco sobressaindo, apesar de apenas sugerido pelas falhas das outras figuras. • A Gestalt terapia A Gestaltterapiafoi desenvolvida pelo psicanalista alemão Friederich Perls ( 1893-1970 ), mais conhecido como Fritz Perls. Adaptou sua formação de origem à psicologia da Gestalt e nesse sentido entendia a ação humana como uma totalidade, em que ações men- tais e físicas estão entrelaçadas, assim como o orga- nismo e o ambiente que o circunda. O ser humano é, portanto, um ser de relação. Por exemplo, ao observarmos uma sala cheia de gente, percebemos o local como uma unidade, nas quais alguns aspectos sobressaem enquanto outros ficam em segundo plano (conceito de figura e fundo). Essa perspectiva pode ser alterada se outros aspectos passarem a ser w_gnantes, situação em que a forma do ambiente se altera. O que importa é que a cena muda, mas é sempre organizada de modo significa- tivo, dependendo do interesse que desperta em nós. Preocupado em privilegiar o que acontece "aqui e agora'', Fritz Perls não faz, como Freud, um retorno à história passada, mas prefere focar na experiên- cia de viver no presente. Ciente de que o neurótico não se sente como uma pessoa total, a terapia visa a recuperar seu sentido de totalidade, já que o equilí- brio psíquico foi quebrado pela neurose, impedindo que o indivíduo se relacione com o meio e se autor- regule. O tratamento gestáltico consiste em resta- belecer a capacidade do neurótico de discriminar, encaminhando-o para a integração: ao facilitar que gestalts inacabadas emerjam à consciência, elas poderão ser completadas. No Brasil, um dos importantes representantes da Gestalt terapia foi o psiquiatra e escritor Roberto Freire (1927-2008). l'fJ Freud e o inconsciente Já examinamos o pensamento de Sigmund Freud, fundador da psicanálise, no capítulo 7, "Em busca da felicidade". Retomaremos aqui alguns de seus princi- pais conceitos para examinar os fundamentos epis- temológicos dessa ciência. O conceito psicanálise possui três sentidos: é um método interpretativo (hermenêutica), um trata- mento psicológico (psicoterapia) e uma teoria, ou seja, um conhecimento que o método produz. A/ter ego. Do latim a/ter, "outro", e ego, "eu": um segundo eu; ou seja, o personagem Frazier canaliza o pensamento de Skinner. Gestalt. Em alemão, "forma", "configuração". Pregnância. No contexto, a figura que se destaca. O método das ciências humanas Capítulo 32 QUEM É? Sigmund Freud (1856-1939) nas- ceu em Freilberg, na Morávia, região que pertencia ao Império Austro-Húngaro. Fez medi- cina em Viena e trabalhou um tempo com o neurologista fran- Sigmund Freud, cês Jean-Martin Charcot, que 1931 _ tratava mulheres histéricas por meio de hipnose. Escreveu com Joseph Breuer Estudo sobre histeria. Abandonou a hipnose pela técnica da associação livre e desenvolveu a teo- ria psicanalítica. Em 1899, publicou A interpretação dos sonhos. Escreveu ainda : Psicopatologia da vida cotidiana, O chiste e sua relação com o inconsciente, Cinco lições de psicanálise, O futuro de uma ilusão, Mal-estar na civilização. A principal novidade dessa teoria encontra-se na hipótese do inconsciente e na compreensão da natureza sexual da conduta. A hipótese do incons- ciente tornou-se fecunda ao permitir compreen- der uma série de acontecimentos da vida psíquica. Para a psicanálise, todos os nossos atos têm uma realidade exterior representada na nossa conduta, bem como significados ocultos que podem ser interpretados. Usando de uma metáfora, podería- mos dizer que a vida consciente é apenas a ponta de um iceberg, cuja montanha submersa simboliza o inconsciente. A histeria foi uma doença tipica do final do século XIX, caracterizada por sintomas fisicos, sem causa aparente. Pela hipnose, Charcot amenizava os sintomas histéricos. Freud, que acompanhou suas aulas, usou a hipnose por um tempo, até resolver que seria melhor manter o paciente em estado normal, para que ele lhe contasse o que "nem ele mesmo sabia", devido à repressão de um desejo violento, considerado inconciliável com a moral. Desenvolveu, então, a teoria de que "os histéricos sofrem de reminiscências" A energia que preside os atos humanos é de natureza pulsional, e Freud põe em relevo a energia de natu- reza sexual chamada libido. Mas a sexualidade não deve ser identificada à genitalidade (ou aos atos que se referem explicitamente à atividade sexual propriamente dita); seu significado é muito mais amplo, abrangendo toda e qualquer forma de gratificação ou busca do prazer. IJ As três instâncias do aparelho psiquico Ao descrever o aparelho psíquico, Freud deli- mita três instâncias diferenciadas: o id, o ego e o superego. • O id (do latim, "isto'') constitui o polo pulsio- nal da personalidade, o reservatório primitivo da energia psíquica; seus conteúdos são incons- cientes, alguns inatos e outros recalcados. • O ego (do latim, "eu'') é a instância que age como intermediária entre o id e o mundo externo; em contraste com o id, que contém as paixões, o ego enfrenta conflitos para adequá-las pela razão às circunstâncias. Por isso o ego é tam- bém a sede do superego. • O superego (ou supereu) é o que resulta da internalização das proibições impostas pela educação, de acordo com os padrões da socie- dade em que vivemos. decorrentes do ocultamento de recordações conflituosas e traumáticas. Por meio da livre associação, era trazida à tona a memória sepultada. Charcot ensinando em Salpetriere, Paris. Pint ura de P. A. A. Brouillet, 1887. Independentemente de concordar ou não com a psicanálise, comente a importância do autoconhecirnento para uma melhor experiência de vida. Unidade 6 Filosofia das ciências A relação entre essas três instâncias é dinâmica. O id orienta-se pelo princípio do prazer e, nesse sentido, o curso dos processos mentais é regulado para bus- car o prazer e evitar a dor. Porém, em contato com as normas sociais forma-se o superego, que interioriza as forças inibidoras do mundo exterior. O conflito entre as duas forças antagônicas- a busca do pra- zer e a exigência dos deveres - é resolvido pelo ego a partirdo princípio de realidade. Ao levar em conta as condições impostas pelo mundo exterior, aprende a lidar com o desejo, decidindo sobre a conveniência de realizá-lo, proibir sua satisfação ou apenas adiá-la. Quando o conflito é muito grande e o ego não suporta a consciência do desejo, este é rejeitado, o que determina o processo chamado repressão. No entanto, o que foi reprimido não permanece no inconsciente, pois, sendo energia, precisa ser expandido. Reaparece, então, sob a forma de sintoma, ou representante do reprimido, como substituição para a gratificação ins- tintiva não atingida. Os sintomas devem ser decifra- dos na sua linguagem simbólica, já que o simbolismo é o modo de representação indireta e figurada de uma ideia, conflito ou desejo inconsciente. Enquanto os sintomas permanecem obscure- cidos pelo desconhecimento das causas, tem-se como consequência as neuroses ou até desordens mais graves. • A associacão livre ' Há várias maneiras de sondagem do incons- ciente, mas, para Freud, os sonhos são a "via régia'', o caminho real e privilegiado. O que recordamos de um sonho é o seu conteúdo manifesto, mas sob esse emedo, que às vezes nos parece incoerente e absurdo, há um conteúdo latente, a ser descoberto pela decifração do seu simbolismo. Para tanto, Freud propõe a técnica da associação livre, pela qual o pró- prio indivíduo, seguindo o fluxo espontâneo das ideias, dá as pistas para descobrir o sentido oculto. U' PARA REFLETIR Algumas pessoas procuram significados fixos para os sonhos, como se houvesse símbolos universais; outras têm a expectativa de que cabe ao terapeuta interpretar o sonho, quando, na verdade, tudo se ini- cia das associações feitas pelo próprio sonhador. Além dos sonhos, há outros fenômenos psíqui- cos privilegiados por Freud, como os atos falhos e os chistes. Freud (sentado, à esquerda), em 1909, na Cla rk University (EUA), onde, a convite de Stanley H ali (no centro), pronunciou a conferência que marcou o primeiro reconhecimento oficial da psicanál ise e se transformaria no livro Cinco lições de psicanálise. Sentado, à direita, seu discípulo Jung, com quem rompeu posteriormente, e outros seguidores: Abraham Brill, Ernest Jones e Sandor Ferenczi. Os atos falhos são pequenos deslizes, como esquecimentos, troca de nomes ou lapsos de lin- guagem aparentemente involuntários, mas que podem ser interpretados porque "traem" algum segredo. Por exemplo: em uma fila para dar pêsa- mes a alguém, confundir-se com um embaraçoso "parabéns". O chiste consiste em gracejos feitos sem aparente intenção de ofender ou seduzir, mas que revelam forças agressivas ou eróticas reprimidas. • Psicanálise e cultura Em Mal-estar na civilização, escrito em 1930, Freud reflete sobre o efeito da repressão dos instin- tos agressivos e sexuais e seus resultados na civili- zação. Pelo conceito de sublimação, Freud já expli- cara como muito da energia instintiva é desviada de maneira produtiva para o trabalho e as artes, tor- nando possível a civilização - não sem que se impe- disse a eclosão de um perigoso estado de frustração, infelicidade e neurose que acomete o ser humano. Conclui com pessimismo que é alto o preço pago pelo indivíduo para se tornar civilizado. Assim diz: A civilização consegue dominar o perigoso desejo de agressão do indivíduo, enfraquecendo-o, desarmando-o e estabelecendo no seu interior um agente para cuidar dele, como uma guarnição numa cidade conquistada 3 3 FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio de janeiro: Imago, 1997. p. 83. O método das ciências humanas Capítulo 32 Os homens da cidade. Fernand Léger, 1919. O pintor francês Léger foi um dos mais proeminentes artistas da primeira metade do século XX. Destaca em suas obras a integração homem-máquina e frequentemente utiliza elementos como circules, elipses, curvas, diagonais e retângulos, que aparecem ao lado de figuras humanas. Teria sido o avanço da ci.vi.lização tecnológica proporcional à capacidade humana de ser feliz? : Retomando a controvérsia Para os fenomenólogos que criticam o uso da terapia reflexológica na reeducação de uma criança manhosa, a manha não é, ela significa, ou seja, é pela emoção que a criança se exprime na totalidade do seu ser. Ela diz coisas com o choro, e esse choro pre- cisa ser interpretado. Do mesmo modo, a resposta dada a certos estímulos externos supõe que os pró- prios estímulos nunca sejam idênticos para todas as pessoas, mas que exercem influência de maneira singular. À relação mecânica estímulo-resposta, estabelecida pelo comportamentalismo, a fenome- nologia contrapõe o sinal e o símbolo. Enquanto o sinal faz parte do mundo físico do ser, o símbolo é parte do mundo humano do sentido. Os teóricos e terapeutas do comportamentalismo contra-argumentam, afirmando que geralmente não é usado o condicionamento respondente E-R, mas o operante, cuja base experimental permite a verificabilidade e a falseabilidade - conforme exi- gência das concepções empiristas. Nesse sentido, dizem preferir soluções pragmáticas e de resulta- dos a curto prazo e criticam as teorias hermenêu- ticas por se enredarem em conceitos metafísicos e teorias abstratas. No caminho percorrido pelas ciências huma- nas na busca de seu método, vimos que o empenho inicial era de conformá-lo aos procedimentos das ciências da natureza. Posteriormente, outros estu- diosos deles divergiram, para garantir a especifici- dade do objeto investigado e a exigência de métodos diferenciados. Como resultado, constatamos uma imensa diver- sidade entre os caminhos adotados pelos cientistas sociais e do comportamento, o que os distingue da comunidade dos cientistas da natureza. Entre estes últimos, embora coexistam teorias diferentes, elas são aceitas na medida em que se aplicam a aspec- tos diferentes dos mesmos fenômenos (como a teo- ria gravitacional e o eletromagnetismo). O mesmo não acontece no âmbito das ciências humanas, em que as divergências são mais fundamentais, como vimos com relação às tendências positivistas e as hermenêuticas. Supomos que a distinção feita entre "explicar" e "compreender" nos fornece pistas para discutir a tentativa de definir os métodos das ciências huma- nas, diante da especificidade desta última. Como diz Gilles-Gaston Granger: É limitado o campo em que a visão científica de conhecimento pode legitimamente se exercer? Devemos traçar fronteiras à ciência? A resposta é não, no sentido de que nenhuma razão derivada da natureza da ciência obrigue a se del imitar seu campo de investigação. No entanto, nem toda espécie de fenômeno lhe é igualmente acessível. O obstáculo único, mas radical , me parece ser a realidade individual dos acontecimentos e dos seres. O conhecimento científico exerce-se plenamente quando pode neutralizar essa individuação, sem alterar gravemente seu objeto, como acontece em geral nas ciências da natureza. No caso dos fatos humanos, ela [a ciência] se empenha por envolver cada vez mais estreitamente o individual em redes de conceitos, sem esperar um dia poder atingi-lo.4 4 GRANGER, Gilles-Gaston. A ciência e as ciências. São Paulo: Hucitec/ Editora Unesp, 1994. p. 113. Unidade 6 Filosofia das ciências o "' ~ () o " ~ ? Revendo o capitulo IJ Faça um quadro comparativo entre "explicação" e "compreensão". IJ Faça um esquema sobre as di.fi.culdades metodo- lógi.cas das ci.ênci.as humanas. IJ Qual é a di.ferença entre o reflexo condicionado respondente e o operante? IJ Destaque as pri.nci.pai.s li.nhas da psicanálise. ? Aplicando os conceitos ll A partir da frase de Di.lthey, identifique sua posi- ção no embate entre as duas orientações meto- dológi.cas das ci.ênci.as humanas e justi.fi.que sua resposta: "Expli.camos a natureza, mas compreen- demos o homem". IJ No texto a segui.r, identifique a orientação de Comte e expli.que qual é a consequênci.a dessa afirmacão para a escolha do método na psi.cologi.a: "o espi.ri.tohumano pode observar di.retamente todos os fenô- menos, exceto os seus próprios. Poi.s quem fari.a a observação? [. .. ] Ai.nda que cada um tivesse a oca- sião de fazer sobre si. tai.s observações, estas, evi.- dentemente, nunca poderiam ter grande i.mportãn- ci.a ci.entifica. Constitui. o melhor mei.o de conhecer as pai.xões sempre observá-las de fora. Portanto todo estado de pai.xão mui.to pronunciado, a saber, precisamente aquele que será mai.s essencial exa- mi.nar, necessariamente é i.ncompativel com o estado de observação". (Augusto Com te. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Abri.l Cultural, 1973. p. 19-20. Coleção Os Pensadores.) IJ A segui.r, transcrevemos doi.s trechos com pressu- postos antagônicos de psi.cologi.a. Identifique cada tendência e critique-as com base nos fundamen- tos metodológi.cos da orientação oposta. Ou seja, à i.denti.fi.cada como posi.ti.vi.sta, faça uma criti.ca baseada na fenomenologi.a e vi.ce-versa. a) "Trei.nar um soldado é em parte condicionar respostas emoci.onai.s. Se retratos do i.ni.mi.go, sua bandei.ra etc. forem associados a histó- rias ou fotografias de atrocidades, uma reação agressiva semelhante provavelmente ocorrerá quando o i.ni.mi.go for encontrado. As razões favoráveis são obti.das em geral da mesma maneira. Respostas a ali.mentos apetecíveis são facilmente transferidas para outros obje- tos. [...] O vendedor bem-sucedido é aquele que paga bebidas ao seu cliente ou convida-o para jantar. O vendedor não está apenas inte- ressado nas reações gástricas, mas si.m na pre- disposição favorável do cliente a seu respeito e com relação ao seu produto." (Burrhus Ski.nner. Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 1985. p. 62.) b) "Quaisquer que tenham si.do as declarações de principio de Freud, as investigações psi- canaliti.cas resultam de fato não em expli.- car o homem pela infraestrutura sexual, mas em reencontrar na sexuali.dade as relações e as atitudes que anteriormente passavam por relações e ati.tudes de consciência, e a signifi- cação da psi.canáli.se não é tanto a de tornar biológica a psicologia quanto a de descobrir um movimento dialéti.co em funções que se acreditavam 'puramente corporais', e reinte- grar a sexuali.dade no ser humano." (Maurice Merleau-Ponty. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Marti.ns Fontes, 1999. p. 218.) ? Dissertação IJ Elabore uma dissertação a partir do tema: "As feri- das narcisicas". Freud chamou de "feridas nar- cisicas" os acontecimentos que desde a moder- nidade golpearam a autoesti.ma da humanidade: com Copérni.co (heli.ocentri.smo) o homem dei.xou de estar no centro do Universo; com Darwi.n (evo- lucionismo), deixou de ser o centro do rei.no ani- mal; com o próprio Freud (inconsciente), deixou de ser o centro de si mesmo. A esses três, pode-se acrescentar Marx (luta de classes), com o qual o ser humano deixou de ser o centro da história. ? Seminário IJ Em grupo, façam um levantamento das diversas ciências humanas e investiguem as características de seus métodos. Atividades Capítulo 32
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