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Samara Pires- MED25 Bases da Microbiologia Vírus e replicação viral 1. Introdução à virologia ● Vírus significa veneno, pois, no século XIX, Pasteur designava os causadores das doenças como venenos. ● O primeiro registro de infecção viral é do Antigo Egito → 3700 a.C. ● Em 1892 → Dimitri demonstrou que extratos de plantas com a doença do tabaco poderiam transmitir para outras plantas mesmo após a passagem por filtros muito pequenos que podiam reter as bactérias. ● Propriedades gerais - Agentes infecciosos causadores de doenças em humanos, em animais e em plantas; - Genoma constituído de DNA ou de RNA; - Parasita intracelular que depende de um hospedeiro para ter atividade celular → a síntese dos componentes virais utiliza a maquinaria celular; - Não são capazes de crescer independentemente em meios de cultura artificiais, pois só replicam em células animais, vegetais ou em microrganismos. - Estão entre os menores agentes infecciosos → 18 a 300 nm. São visualizados por microscopia eletrônica. Somente os poxvírus, como o vírus da vacínia, que têm dimensões de 300 nm, podendo ser visualizados por microscopia óptica. ● Composição dos vírus - O vírion é o nome da partícula viral completa e infecciosa. Nem todas são infecciosas, pois a maioria é defeituosa. - O nucleocapsídeo é composto por material genético (DNA ou RNA), o qual é empacotado em uma estrutura proteica chamada de capsídeo ou cápside. Esse material genético pode estar ligado a outras proteínas e enzimas ou não. - Quando o vírus apresenta apenas o nucleocapsídeo → vírus nu. - Quando o vírus apresenta o nucleocapsídeo + membrana e glicoproteínas → vírus envelopado (com envelope ou envoltório). ● Capsídeo - Composto por proteínas (subunidades proteicas denominadas capsômeros, as quais são formadas por outras subunidades chamadas de protômeros); - Simetria do capsídeo: icosaédrico (face triangular e aspecto de esfera), helicoidal (ex.: vírus do mosaico do tabaco, de RNA), complexo (não tem simetria, é o caso dos bacteriófagos); Samara Pires- MED25 - Estrutura rígida e resistente a ressecamento, a detergentes e ao ácido; - Liberado da célula por lise; - Consequências do vírus ser formado apenas pelo capsídeo: disseminado facilmente (fômites, mão, poeira, perdigotos), pode ressecar e manter a infectividade, pode sobreviver às condições adversas do intestino, podem resistir a fracos tratamentos de esgoto e os anticorpos podem ser suficientes para imunoproteção. ● Envelope viral: por fora do capsídeo - Estrutura complexa formada a partir de componentes da membrana do hospedeiro → membrana formada por lipídios, proteínas e glicoproteínas; - Propriedades: vírus torna-se instável com envelope, por isso aquele sem envelope é mais resistente ao calor, ao ácido, ao ressecamento, etc. Pode ser liberado da célula por brotamento e pela lise; - Bicamada de lipídios (provenientes da célula do hospedeiro) e de proteínas (codificadas pelos vírus, sendo a maior parte glicoproteínas). Vírus envelopados diferentes cultivados no mesmo tipo de célula são muito semelhantes na composição lipídica; - As glicoproteínas são importantes para o reconhecimento imune, para as VAPs (partículas de adesão viral), como receptores de Fc (fração de cristalização do anticorpo) e de C3d (fração do complemento) e podem atuar na fusão da membrana (alguns vírus podem fundir duas membranas adjacentes para se proteger do reconhecimento do sistema imune, formando células multinucleadas); - O vírus do herpes simples é icosaédrico no capsídeo e seu envelope fica em volta; - Consequências do vírus envelopado: deve permanecer úmido (transmissão por aerossóis em grandes gotas, transplantes, transfusões), não pode Samara Pires- MED25 sobreviver às condições adversas do intestino, não precisa matar a célula para se disseminar (sai por brotamento), desencadeia hipersensibilidade e inflamação. ● Ácido nucleico - DNA: duplo (ds= double stranded), simples (ss= single stranded), linear, circular; - RNA: duplo, simples, linear, circular, sentido de polaridade positiva (o RNA tem o mesmo sentido do RNAm, então já funciona como um na síntese proteica), sentido de polaridade negativa (necessidade de produção de RNAm para ser traduzido nos ribossomos) ou segmentado (em pedaços, como o vírus Influenza); Obs.: genomas cujos RNA de fita simples têm a mesma polaridade do RNA mensageiro podem ser traduzidos diretamente nos ribossomos. Ex.: poliovírus e retrovírus (estes entram na célula e são processados para DNA). - Alguns possuem enzimas juntamente com os ácidos nucleicos. Ex.: o retrovírus precisa da transcriptase reversa, a qual já precisa estar pronta no momento da infecção. Alguns bacteriófagos possuem uma lisozima. 2. Replicação viral ● Adsorção → penetração → desnudamento → replicação → maturação → liberação. ● Adsorção : contato íntimo entre o vírus e a célula do hospedeiro por meio de um mecanismo de chave-fechadura (especificidade celular) → a proteína de ligação do vírus (antirreceptor) liga-se ao receptor celular. Por isso, os vírus infectam tecidos específicos do organismo, dependendo do receptor. - Vírus envelopados possuem glicoproteínas VAPs no seu envelope como antirreceptores, as quais se projetam como espículas; - Vírus nus têm as proteínas do próprio capsídeo como antirreceptores → podem formar depressões (canyon) ou projeções de fibras; - Os receptores celulares podem ser proteínas, lipídios ou polissacarídeos; - Algumas células precisam de um co-receptor na célula além do receptor, como o HIV: o CD4 é seu receptor e seu co-receptor é o CCR5 ou CXC. - A adição de cátions ao meio promove adsorção máxima de muitos vírus, como poliovírus, adenovírus e influenza. ● Penetração - Endocitose: vírus são englobados em uma vesícula endocítica e depois saem dela, liberando ácido nucleico. Ocorre com a maior parte dos vírus nus. - Fusão de envelope viral: ocorre mais com os vírus envelopados, pois o lipídio do envelope já é proveniente da membrana plasmática, enquanto a parte Samara Pires- MED25 proteica é viral. Então, o vírus deixa seu envelope ao se fundir e depois retorna a ele. - Translocação: o vírus inteiro liga-se a um receptor e é translocado inteiro para dentro da célula hospedeira. Obs.: mecanismo raro. - Injeção do ácido nucleico: os bacteriófagos, por exemplo, injetam seu ácido nucleico no interior da célula. Existem proteínas no capsídeo que liberam resíduos hidrofóbicos, interagem com a membrana e formam poros (canais) para a passagem do material genético. Obs.: após a adsorção, existe um tempo em que não há aumento do número departículas virais infecciosas: é o período de latência ou eclipse. ● Desnudamento ou desencapsidação: separação das proteínas do capsídeo e a liberação do genoma viral no citoplasma ou no núcleo. Os vírus de DNA (exceção do Poxvírus) são transferidos para o núcleo da célula, já os de RNA geralmente vão para o citoplasma. Obs.: como os Poxvírus são de DNA e se multiplicam no citoplasma, eles precisam de uma RNA polimerase- DNA dependente, já que a enzima celular equivalente não é encontrada fora do núcleo da célula. ● Síntese dos componentes virais: replicação do ácido nucleico e síntese de proteínas virais (enzimas associadas ao genoma, proteínas do capsídeo, glicoproteínas do envelope). Samara Pires- MED25 ● Classificação de Baltimore : divide os vírus de acordo com o tipo de material genético e a forma de replicação. Segundo Baltimore, todos os vírus da classificação são capazes de gerar, a partir do seu genoma, RNAm de polaridade positiva para produzirem proteínas e replicarem seus genomas. - Tipo I: DNA de dupla fita. Ex.: Herpesvirus, Poxvirus; - Tipo II: DNA de fita simples de polaridade positiva. Ex.: Parvovirus; - Tipo III: RNA de dupla fita. Ex.: Reovirus; - Tipo IV: RNA de fita simples de polaridade positiva. Ex.: Flavivírus, Picornavírus; - Tipo V: RNA de fita simples de polaridade negativa. Ex.: Orthomixovirus, Rabdovírus; - Tipo VI: RNA de fita simples de polaridade positiva com um ciclo intermediário de replicação do DNA. Ex.: Retrovirus; - Tipo VII: DNA de fita dupla com intermediário de RNA. Ex.: Hepadnavirus (hepatite B) ou retrovírus de DNA. ● Montagem : cada parte possui estruturas de reconhecimento que promovem a interação para a formação final do vírus. - Vírus de DNA é montado no núcleo; vírus de RNA e poxvírus são montados no citoplasma; Obs.: vírus que possuem DNA como material genético, similar às células, podem empregar diretamente a maquinaria celular para transcrição de seus genes, replicação e reparo de DNA. Já os vírus de RNA devem conter ou sintetizar enzimas próprias para serem processados, como RNA transcriptases e replicases. Samara Pires- MED25 - Alguns formam procapsídeos que, depois, são preenchidos com o genoma; outros formam o capsídeo ao redor do genoma; - Nos vírus envelopados, as glicoproteínas do envelope são transferidas para a membrana (citoplasmática, complexo de Golgi, retículo endoplasmático). Nesse processo, as chamadas proteínas matriz são importantes, porque mediam o alinhamento do nucleocápside abaixo das regiões da membrana molecular modificadas pelo vírus; - Cerca de 90 a 99% das partículas virais são defeituosas (somente 1 a 9% são vírions). ● Liberação - Por lise celular: caso dos vírus nus (comum em fagos virulentos); - Por brotamento: os vírus saem pela membrana citoplasmática brotando dela (evaginação) ou, caso essa membrana seja proveniente de uma organela interna, ocorre exocitose com lise. 3. Replicação viral da classe I de Baltimore ● Vírus de DNA de dupla fita; ● Vírus entra → núcleo → DNA é transcrito formando um RNAm precoce (para a produção de proteínas não estruturais, isto é, que vão atuar no processo de replicação) → simultaneamente, o DNA do vírus é transcrito em RNAm tardio (para a produção de proteínas estruturais, como as do envelope). Obs.: as proteínas precoces geralmente atuam na própria replicação e transcrição do ácido nucleico viral ou fatores que atuam sobre o metabolismo celular, modificando-o para favorecer a síntese de componentes virais. Obs.2: alguns grupos de vírus animais cujo DNA é de fita dupla integram seu genoma ao genoma celular, formando o provírus (análogo ao profago) → infecção latente → o vírus replica quando a célula o faz. Samara Pires- MED25 4. Replicação viral da classe II de Baltimore ● Vírus de DNA de fita simples; ● Vírus entra → núcleo → enzimas celulares reparam o DNA para formar uma molécula de fita dupla por complementaridade de bases → DNA é transcrito formando um RNAm precoce (para a produção de proteínas não estruturais, isto é, que vão atuar no processo de replicação) → simultaneamente, o DNA do vírus é transcrito em RNAm tardio (para a produção de proteínas estruturais, como as do envelope) → transformação do DNA de fita dupla em fita simples. 5. Replicação viral da classe III de Baltimore ● Vírus de RNA de fita dupla: precisa da enzima RNA polimerase-RNA dependente para transcrever RNA em RNAm; ● Vírus entra → citoplasma → RNAm precoce (não estruturais) e tardia (estruturais) simultâneas: transcrição e tradução → partículas subvirais de RNAm são transformadas em RNA de dupla fita pelas enzimas não estruturais → partícula viral madura. Samara Pires- MED25 6. Replicação viral da classe IV de Baltimore ● Vírus de RNA⁺ fita simples; ● Vírus entra → citoplasma → nem precisa de transcrição, mas sim apenas de tradução, pois a fita do vírus já pode ser transcrita → poliproteína precursora → proteínas estruturais (capsídeo) e não estruturais (fazem cópias do genoma). 7. Replicação viral da classe V de Baltimore ● Vírus de RNA⁻ fita simples: precisa da enzima RNA polimerase-RNA dependente para transcrever RNA em RNAm; ● Vírus entra → citoplasma → transcrição do RNA de polaridade negativa em RNAm (polaridade positiva) → tradução → proteínas estruturais (capsídeo) e não estruturais (fazem a replicação do RNA). Samara Pires- MED25 8. Replicação viral da classe VI de Baltimore ● Vírus de RNA⁺ fita simples com transcriptase reversa (passa por um estágio de DNA): precisa da enzima RNA polimerase RNA dependente para transcrever RNA em RNAm; ● Vírus entra → citoplasma → transcriptase reversa viral transcreve o RNA em DNA de fita simples, que depois torna-se fita dupla → vai para o núcleo → o DNA do vírus pode se integrar ao DNA da célula ou pode ser transcrito → RNAm → proteínas estruturais + formação do genoma do vírus, que já é RNA⁺ fita simples. 9. Replicação viral da classe VII de Baltimore ● Vírus de DNA de fita dupla com RNA intermediário; ● Vírus entra → núcleo → reparo do DNA → transcrição em RNA genômico e subgenômico → o primeiro atua como genoma e o segundo é traduzido em proteínas estruturais e não estruturais. O RNA genômico se associa à Samara Pires- MED25 transcriptase reversa para formar os procapsídeos e, nesse capsídeo, ela converte o RNA genômico em DNA de fita dupla. 10. Agentes subvirais ● Possuem algumas características de vírus, mas são mais simples; ● Viroides : formados por RNA simples de fita circular, não têm codificação de proteínas(dependem 100% da célula hospedeira) nem capsídeo, infectam plantas; ● Príons : são proteínas infecciosas → provocam doenças neurodegenerativas de progressão lenta (ex.: vaca louca, doença de Creutzfeldt-Jakob e de kuru). O gene que codifica a proteína anormal (versão PrPsc) está localizado num cromossomo que, acredita-se, esteja envolvido na regulação da morte celular.
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