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gestão empresarial comunicação e expressão Visão geral da noção de texto – conceito e tipologia: descrição 1 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula, o aluno deverá ser capaz de compreender o que é texto, conhecer as diferenças entre narração, des- crição e dissertação e ser capaz de elaborar uma descrição. COmpetênCias Compreensão do conceito de texto e do que seja descre- ver. Ampliação do repertório. Habilidades Associação dos conceitos de textualidade. Reconheci- mento dos gêneros narração, descrição, dissertação. Elaboração de uma descrição. comunicação e expressão Visão geral da noção de texto – conceito e tipologia: descrição ApresentAção Descrever é uma habilidade necessária a qualquer pro- fissional que utilize de algum modo a palavra. Pode-se dizer, sem medo de exagerar, que a necessidade de des- crever bem aparece diariamente na vida profissional. Esta aula fornece uma introdução ao assunto, mostra os aspectos mais importantes e propõe exercícios que per- mitam avaliar o domínio dessas características do texto descritivo. pArA ComeçAr É muito comum nos referirmos à palavra texto em várias situações, afinal ela é bastante conhecida de todos. Está presente no cotidiano em muitas atividades e não ape- nas na escola. Mas o que realmente sabemos a respeito do texto? Veja a seguir. Bananas abóboras lixa loira avental imponderável circunspecto abandono colorido imprescindível impetuosidade paráfrase co- ronel. Não se pode considerar, por exemplo, uma sequência desordenada de palavras como um texto. O banco fechou suas portas às cinco da tarde. Árvores são parte integrante das praças e as cidades estão sempre bonitas, quando limpas. Um aglomerado de frases sem sentido também não pode ser denominado como texto. Dessa forma, duas considerações podem ser feitas: → Não basta sequenciar palavras ou frases para que o texto se constitua; Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 4 → Todo texto traz em si um contexto mais amplo. Em outras palavras, nenhum texto é uma peça isolada, nem seu autor o dono da verdade. A palavra texto provém do latim textum, que significa “tecido, entrelaça- mento”. Há, portanto, uma razão etimológica que não devemos esquecer de que texto resulta de um trabalho, a ação de tecer, entrelaçar unidades e partes a fim de formar um todo. Assim, podemos falar também em textura ou tessitura de um texto, que é a rede de relações internas que garantem sua coesão, sua unidade. O produtor de textos escritos executa um trabalho que pressupõe qua- tro princípios: a repetição, a progressão, a não contradição e a relação. A repetição é o princípio segundo o qual um texto coerente produz retomadas de elementos (palavras, frases e sequências). Tais retomadas são feitas por meio de pronomes e pelas terminações verbais que os indi- cam ou por sinônimos. É preciso cuidado ao utilizar a repetição da mesma palavra, pois o texto pode perder o ritmo ou ficar cansativo. Triste história Há palavras que ninguém emprega. Apenas se encontram nos dicionários como velhas caducas num asilo. Às vezes uma que outra se escapa e vem luzir-se desdentadamente, em público, nalguma oração de paraninfo. Pobres velhinhas... Pobre velhinho! — Mário Quintana, Triste História O autor utiliza várias formas de retomar e não repetir o termo “palavras”. Ora utiliza o pronome (elas) oculto, ora as adjetiva (velhas caducas, pobres velhinhas), ora se vale de expressões (uma que outra). A repetição, dessa forma, enriquece o texto. A progressão, em um texto coerente, ocorre por meio de novas infor- mações que são adicionadas ao que já foi dito. Serve para complementar a repetição, que garante a retomada de elementos passados, sem que o texto se limite a repetições indefinidas. Nenhum homem é uma ilha Nenhum homem é uma ilha, porque por mais solitário que ele seja, sempre terá al- guém ao seu lado, dando aquela força. O homem nunca poderia ser uma ilha, pois está sempre procurando novas coisas, novas emoções, sempre se envolvendo com gente nova, por mais desconhecido que seja. Mesmo que a pessoa fosse muito soli- tária, nunca poderia ser comparada a uma ilha. Na verdade, nem mesmo a ilha está sempre solitária. Por mais feia e sombria que seja, sempre terá algo por perto: as aves, as pedras, as árvores, a água do mar, os peixes... Por isso e por muitas outras coisas, um homem não pode ser ilha, porque ele acima de tudo é um ser humano e por ele Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 5 ser um ser humano sempre terá alguém o amando ou o querendo bem, por mais longe que esteja ou por mais feio e sombrio que ele seja. — Aluno de ensino médio. Disponível em: http://www.fotolog.com.br/flores_ msg/16792230. Acesso em abril de 2010 Após colocar o tema, o autor utiliza palavras e expressões que introduzem novos fatos e conceitos para, com isso, fazer o texto avançar. Note que progressão e repetição ocorrem simultaneamente: o surgimento de novas informações é acompanhado pela retomada ao tema. A não contradição é o princípio que impede que elementos contradi- tórios façam parte do texto para que a coerência seja mantida. Contradi- ções podem destruir o texto, quando tomam como verdadeiro aquilo que já foi considerado como falso. Colocar em um mesmo texto frases como “O país atravessa um momento difícil” e “O país não atravessa um perío- do difícil” só faria sentido se o escritor pretendesse enfatizar que, apesar das dificuldades, o país ainda tivesse perspectivas ou se quisesse negar a existência daquela dificuldade. Veja um texto contraditório: [...] mas foi a Alemanha nazista, durante a Segunda Guerra Mundial, que realizou as experiências mais aterradoras. Só que as cobaias eram seres humanos. Prisioneiros de guerra, principalmente judeus, foram submetidos a todos os tipos de crueldades. — O Estado de S. Paulo, 3 out 1991 Disponível em: https://aplicweb.feevale.br/site/ files/documentos/doc/16220.doc. Acesso em março de 2010 A notícia diz que as experiências foram aterradoras porque as cobaias eram seres humanos. Porém ao utilizar a expressão só que, destrói o vínculo lógico da causa. É preciso muito cuidado ao produzir um texto para não criar uma con- tradição e destruir a argumentação do texto. A relação precisa estar presente para que o texto seja coerente, ou seja, fatos e conceitos devem estar relacionados. Não basta listar os elemen- tos que se vai utilizar. É necessário que haja um encadeamento entre as ideias, e que elas se aproximem, fortalecendo umas às outras. O espírito democrático da criança não conhece hierarquia: ele sofre da mesma forma diante da fadiga do trabalhador, da fome de um camarada, da miséria de um burro de carga, do suplício de uma galinha sendo degolada. O cachorro e o pássaro são seus próximos, a borboleta e a flor seus iguais. Ela descobre um irmão numa pedra ou numa concha. Ela se dessolidariza de nós em seu orgulho de novo-rico; ignora que só o homem possui alma. Nós não respeitamos a criança porque ela tem muitas horas de vida pela frente. https://aplicweb.feevale.br/site/files/documentos/doc/16220.doc https://aplicweb.feevale.br/site/files/documentos/doc/16220.doc Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 6 Enquanto nossos passos tornam-se passados, nossos gestos interesseiros, nossa percepção e nossos sentimentos empobrecem, a criança corre, salta, olha em sua vol- ta, se maravilha e interroga em pura gratuidade. Ela desperdiça suas lágrimas e pro- digaliza seu riso generosamente. [...] — Blog da creche São Vicente de Paulo – Disponível: http://crechesvpvotorantim.blo- gspot.com/2010/04/o-direito-da-crianca-ao-respeito.html. Acesso em agosto de 2010. Perceba que o texto começa com o tema “espírito democrático da crian- ça”. Veja que há um avanço ao acrescentar outras ideias, mas todaspro- curam se relacionar com a intenção de fortalecer o tema. Ao dizer, por exemplo, que “o cachorro e o pássaro são seus próximos”, mostra, com outras palavras, que a liberdade desses animais é a mesma da liberdade da democracia; ao se irmanar com a pedra e concha, reforça o espírito democrático da igualdade. Como vê, todo o texto se relaciona. Atenção A natureza do texto supõe alguns conceitos. Supõe ainda: estrutura, assunto, espaço, tempo, figuras, relações entre diferentes textos, contexto... Consideradas as diferenças que distinguem os textos, é possível classificá- -los de diversas maneiras. Assim, encontramos textos: poéticos, literários, científicos, políticos, religiosos, jurídicos, didáticos e vários outros. Nesta aula e na próxima, trataremos de uma classificação bastante útil para a leitura e para a produção de texto, que é sua divisão em: descri- tivos, narrativos e dissertativos. É preciso lembrar que dificilmente esses gêneros se apresentam em estado puro. É comum encontrar narração e descrição dentro de uma dissertação, descrições em narrações e assim por diante. Por vezes acontece de a descrição conter muito significado em poucas palavras. Leia os textos a seguir: No 1 Os companheiros de classe eram cerca de vinte; uma variedade de tipos que me di- vertia. O Gualtério, miúdo, redondo de costas, cabelos revoltos, mobilidade brusca e caretas de símio – palhaço dos outros, como dizia o professor; [...] o Maurílio, ner- voso, insofrido, fortíssimo na tabuada: cinco vezes dois, noves fora, vezes sete?... lá estava Maurílio, trêmulo, sacudindo no ar o dedinho esperto... olhos fúlgidos no rosto http://crechesvpvotorantim.blogspot.com/2010/04/o-direito-da-crianca-ao-respeito.html http://crechesvpvotorantim.blogspot.com/2010/04/o-direito-da-crianca-ao-respeito.html Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 7 moreno, marcado por uma pinta na testa; o Negrão, de ventas acesas, lábios inquie- tos, fisionomia agreste de cabra, canhoto e anguloso, incapaz de ficar sentado três minutos, sempre à mesa do professor e sempre enxotado, debulhando um risinho de pouca-vergonha [...] — Raul Pompeia, O Ateneu Este texto, predominantemente descritivo, tem como característica prin- cipal apresentar a imagem de pessoas em seus traços mais marcantes e típicos, captados por meio dos sentidos. Tal caracterização obedece a uma delimitação espacial. No 2 Baleia assustou-se. Que faziam aqueles animais soltos de noite? A obrigação dela era levantar-se e conduzi-los ao bebedouro. Franziu as ventas, procurando distinguir os meninos. Estranhou a ausência deles. Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um desastre, mas Baleia não atribuía a esse desastre a impotência em que se achava nem percebia que estava livre de responsabilidades. Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas. Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó onde Sinhá Vitória guardava o cachimbo. — Graciliano Ramos, Vidas Secas Este segundo texto, de caráter narrativo, constitui uma sequência tempo- ral de ações desencadeadas por personagens envolvidas em uma trama normalmente esclarecida ao final. No 3 [...] Todo especialista em marketing e em propaganda sabe que a cor é fundamental na apresentação e na aceitação do produto e, mais ainda, que isto é também condi- cionado ao sexo, idade ou extrato sociocultural do comprador visado. Um produto que se destina, principalmente, ao mercado feminino deverá ter, por exemplo, embalagem em que predominem cores “femininas”, isto é, que lembrem suavidade e delicadeza; já naquele que busque despertar no homem o desejo de comprar as cores serão “mas- culinas”, traduzindo agressividade e força. O efeito psicológico das cores pode, neste campo, ter grandes implicações. Não nos esqueçamos da pouca receptividade que, inicialmente, tiveram as geladeiras pintadas de vermelho, uma cor “quente”, pois as donas de casa não acreditavam que gelassem tão bem como as brancas... — Roberto Verdussen, Ergonomia: a racionalização humanizada do trabalho Este último, dissertativo, consiste na exposição lógica de ideias. Comporta um tema principal, argumentos e contra-argumentos. Ao final, o leitor é Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 8 conduzido a uma conclusão. Sua principal característica é a argumentati- vidade. Como vocês podem verificar, os três exemplos apresentam característi- cas bem marcantes, que caracterizam cada um dos gêneros comentados. DicAs Narrar x descrever x dissertar A narração é marcada pela temporalidade; a descrição, pela espacialidade; e a dissertação, pela racionalidade. Agora vamos nos aprofundar nas características da Descrição. FundAmentos Descrever é caracterizar uma cena, um estado, um momento vivido ou sonhado através de nossa percepção sensorial e de nossa imaginação criadora. A visão, o tato, a audição, o olfato e o paladar – nossos cinco sentidos – constituem os alicerces da descrição. (AMARAL, Patrocínio & SEVERINO, Antonio, 1999, p. 17) Descrição é o tipo de texto em que se relatam as características de uma pessoa, de um objeto ou de uma situação qualquer, inscritos num certo momento estático do tempo. [...] Como os fatos reproduzidos numa descrição são todos simultâneos, nesse tipo de texto não existe obvia- mente relação de anterioridade ou posterioridade entre os seus enuncia- dos. (FIORIN & SAVIOLI, 2009, p. 298) Descrever é um processo no qual se empregam os sentidos para cap- tar uma realidade e reprocessá-la num teto. Para a elaboração de texto final, concorrem a sua habilidade linguística [...] e as finalidades a que ele se propõe: informar ao leitor, convencê-lo, transmitir-lhe impressões ou comunicar-lhe emoções. (SCIPIONE, 2006, p. 136) Observando os conceitos comentados, é possível estabelecer que a descrição é um texto, literário ou não, em que se caracterizam seres, coi- sas e paisagens. Alguns itens podem ser verificados em relação à descrição: Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 9 1. O qUe desCrever Conforme já vimos, a descrição tem base sensorial. Assim, é possível des- crever o que vemos (e que está próximo), o que imaginamos (conhece- mos, mas não está próximo no momento da descrição) ou o que criamos com a imaginação (qualquer ser imaginado). Observe os três textos descritivos a seguir e perceba a sensação que cada um desperta em você. Há, desde a entrada, um sentimento de tempo na casa materna. As grades do portão têm uma velha ferrugem e o trinco se oculta num lugar que só a mão filial conhece. O jardim pequeno parece mais verde e úmido que os demais, com suas palmas, tinhorões e samambaias que a mão filial, fiel a um gesto de infância, desfolha ao longo da haste. É sempre quieta a casa materna, mesmo aos domingos, quando as mãos filiais se pousam sobre a mesa farta do almoço, repetindo uma antiga imagem. Há um tra- dicional silêncio em suas salas e um dorido repouso em suas poltronas. O assoalho encerado, sobre o qual ainda escorrega o fantasma da cachorrinha preta, guarda as mesmas manchas e o mesmo taco solto de outras primaveras. As coisas vivem como em prece, nos mesmos lugares onde as situaram as mãos maternas quando eram mo- ças e lisas. Rostos irmãos se olham dos porta-retratos, a se amarem e compreenderem mudamente [...] — Vinicius de Morais, A casa materna Prédio talvez um pouco antigo, porém limpo; desde o portão da chácara pressentia-se logo que ali habitava gente fina e de gosto bem-educado [...] bolhas de vidro de várias cores com pedestal de ferro fosco, e lampiões de três globos que surgiam de peque- ninos grupos de palmeiras sem tronco, e banco de madeira rústica, e tamboretes de faiança azul-nanquim, alcançava-seuma vistosa escadaria de granito, cujo patamar guarneciam duas grandes águias de bronze polido, com as asas em meio descanso, espalmando as nodosas garras sobre colunatas de pedra branca. Na sala de entrada, por entre muitos objetos de arte, notava-se, mesmo de passagem, meia dúzia de telas originais, umas em cavaletes, outras suspensas contra a parede por grossos cordéis de seda frouxa; e, afastando o soberbo reposteiro de redes verdes que havia na porta do fundo, penetrava-se imediatamente no principal salão da casa. — Aluísio Azevedo, O Homem De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio d’água que se dirige para o nor- te, e engrossado com os mananciais, que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se rio caudal. É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majes- tosamente em seu vasto leito. Dir-se-ia que vassalo e tributário desse rei das águas, o pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 10 do suserano. Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas: escravo submisso, sofre o látego do senhor [...] Aí o Paquequer lança-se rápido sobre o seu leito, e atravessa as florestas como o tapir, espumando, deixando o pelo esparso pelas pontas do rochedo e enchendo a solidão com o estampido de sua carreira. — José de Alencar, O Guarani 2. COmO desCrever Observando os textos, vemos que é possível escolher um entre os aspec- tos a seguir, para efetuar a descrição ou mesmo a associação de dois e até três aspectos. São eles: → Pormenorização: detalhamento das características daquilo que que- remos descrever (Aluísio de Azevedo); → Dinamização: captação dos movimentos dos objetos e seres (José de Alencar); → Impressão: interpretação subjetiva dos elementos observados (Vini- cius de Morais) É possível, em uma descrição, utilizarmos todos os órgãos dos sentidos, alguns deles ou apenas um. O importante, e que define a descrição, é que os sentidos são utilizados. PAPo técnico A descrição compreende algumas fases: enumeração de elementos, levantamento sensorial, comparação, imagi- nação criadora. Leva em conta, ainda, um sujeito e suas perspectivas. 3. elementOs predOminantes na desCriçãO Caso utilizarmos os sentidos, visão, audição, gustação, olfato e tato, as sensações são os elementos predominantes na descrição. Como a des- crição está ligada à experiência sensorial física e percepção subjetiva, é natural que os órgãos dos sentidos sejam utilizados em parte ou na sua totalidade. As descrições relacionadas aos órgãos dos sentidos (mais vi- suais, mais táteis...) são marcadas por certa objetividade, e aquelas que transmitem tristeza, dor, amor, fome, cansaço, são o veículo da subjetivi- dade. E há as descrições que misturam sensações: Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 11 Os sons se sacodem, berram, lutam, arrebentam no ar sonoro dos ventos, vaias, kla- xons, aços estrepitosos. Dentro dos sons movem-se cores, vivas, ardentes, pulando, dançando, desfilando sob o verde das árvores, em face do azul da baía no mundo dourado. Dentro dos sons e das cores, movem-se os cheiros, cheiro de negro, cheiro mulato, cheiro branco, cheiro de todos os matizes, de todas as excitações e de todas as náuseas. Dentro dos cheiros, o movimento dos tatos violentos, brutais, suaves, lúbri- cos, meigos, alucinantes. Tatos, sons, cores, cheiros se fundem em gostos de gengibre, de mendubim, de castanhas, de bananas, de laranja, de bocas e de mucosa. — Graça Aranha, A Viagem Maravilhosa Como você sabe, o som não é uma propriedade das cores ou dos cheiros. Mas no texto de Graça Aranha, os cinco sentidos se misturam, se fundem com a intenção de provocar uma sensação de completude. Veja, no esquema a seguir, a ligação entre sujeito, base sensorial e cria- tividade. conceito Descrever é um processo em que se capta a realidade por meio dos sentidos; é caracterizar uma cena, um estado, um momento vivido ou sonhado através da percepção sensorial e da imaginação criadora. objeto (percebido) imaginação criadora sujeito (percebedor) base sensorial percepção O esquema mostra que descrever envolve a percepção do objeto pelo su- jeito por meio da relação entre a base sensorial [representada pelos cinco sentidos: tato, visão, audição, olfato e visão] e a imaginação criadora. Figura 1. Descrição. Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 12 4. FigUras de lingUagem e desCriçãO A utilização de figuras de linguagem serve para facilitar a caracterização dos elementos que se quer descrever. As mais utilizadas são: metáfora (uso de uma palavra com sentido diferente daquele que lhe é próprio), comparação (confronto de duas ideias por meio de uma conjunção com- parativa: como, tal qual...), prosopopeia (atribuição de características ani- mais a seres inanimados [animação] e características humanas a seres não humanos [personificação]), sinestesia (cruzamento de sensações fí- sicas ou psicológicas diferentes), onomatopeia (imitação aproximada de ruídos e sons de qualquer natureza), assim como outras figuras de lingua- gem podem reforçar os sentidos nas descrições. Leia novamente o texto em que José de Alencar descreve o rio Paque- quer. Observe como é rico em metáforas, comparações, prosopopeias, si- nestesias. E perceba como essas figuras facilitam a visualização desse rio. De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio d’água que se dirige para o nor- te, e engrossado com os mananciais, que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se rio caudal. É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma serpente, vai depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majes- tosamente em seu vasto leito. Dir-se-ia que vassalo e tributário desse rei das águas, o pequeno rio, altivo e sobranceiro contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés do suserano. Perde então a beleza selvática; suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra os barcos e as canoas que resvalam sobre elas: escravo submisso, sofre o látego do senhor [...] Aí o Paquequer lança-se rápido sobre o seu leito, e atravessa as florestas como o tapir, espumando, deixando o pelo esparso pelas pontas do rochedo e enchendo a solidão com o estampido de sua carreira. — José de Alencar, O Guarani Uma COnstataçãO No Brasil, em pleno século XXI, as empresas se queixam da dificuldade de encontrar pessoas que escrevam bem. Particularmente importante é a habilidade de redigir descrições que sejam facilmente inteligíveis, que não desperdicem palavras e, na medida do possível, que sejam agradáveis de ler. Por exigências de políticas de qualidade cada vez mais sofisticadas e abrangentes e de necessidade de certificações (várias modalidades de ISO, Green Buildings e outras validações de produtos), há uma tendência da valorização de profissionais capazes de escrever descrições concisas e corretas. Assim, empenhe-se. antena pArAbóliCA Até meados dos anos 70, o recrutamento de profissionais por empresas usava a intuição como principal ferramenta. Hoje, há parâmetros que tornam a escolha de colaborado- res mais eficiente. Entre eles, está a descrição de cargos e funções. Pense nessa descrição como uma fotografia instan- tânea de um conjunto de atividades. Essa descrição precisa comunicar de forma clara e concisa as responsabilidades e tarefas e também indicar as qualificações fundamentais exigidas. Se possível, deve até mostrar os atributos que sus- tentam um desempenho de excelência. Lembre-se A descrição está presente em situações coti- dianas e sua utilizaçãoé tão comum que não nos damos conta que a estamos praticando. É largamente empregada nas organizações: especificação de produtos, serviços, locais, reuniões, projetos, relatórios e em várias ou- tras. outras instâncias... e AgorA, José? Agora que você já sabe o que é texto e conhece um pouco do gênero “descrição”, chegou o momento de dar mais um passo e verificar como contar um fato, um acontecimento, um evento. Para isso você aprenderá na próxima aula, o que é uma narração e como elaborá-la. Aprenderá também como o fato de conhecer a estrutura da narrativa poderá auxiliá-lo. Boa sorte! Comunicação e Expressão / UA 01 Visão Geral da Noção de Texto – Conceito e Tipologia: Descrição 14 reFerênCiAs AMARAL, E.; SEVERINO, A.; PATROCÍNIO, M. F. Português: Redação, gramática, litera- tura e Interpretação de Texto. São Paulo: Nova Cultural, Círculo do Livro, 1999. FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para Entender o Texto: Leitura e Redação. São Paulo: Áti- ca, 2009. SCIPIONI, U. Do Texto ao Texto – Curso práti- co de leitura e redação. São Paulo: Editora Scipioni, 2006. VERDUSSEN, R. Ergonomia: a racionalização humanizada do trabalho. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978. Gestão empresarial comunicação e expressão Visão geral da noção de texto: narração 2 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula, o aluno deverá ser capaz de compreen- der o que é narração, as diferenças práticas entre narra- ção e descrição e ser capaz de elaborar uma narração. COmpetênCias Compreensão do conceito de narração e ampliação do repertório. Habilidades Associação dos conceitos de descrição e narração. Reco- nhecimento dos gêneros narração, descrição, disserta- ção. Elaboração de uma narração. comunicação e expressão Visão geral da noção de texto: narração ApresentAção Descrever é basicamente estático: descreve-se um mo- mento, uma situação, um objeto ou um sistema. Narrar é dinâmico: narra-se uma sequência de eventos. Ainda que haja essas diferenças, é comum que se confunda descrição e narração. Esta aula se ocupa das técnicas de narração, úteis ao se apresentar ações sequenciais (como o desenvolvimento de um sistema) muito comuns na prática empresarial. pArA ComeçAr Agora que você já aprendeu o que é texto e sobre as diferenças entre os gêneros: descritivo, narrativo e dissertativo; agora que já sabe como identificar uma descrição, está na hora de conhecer o que é narração e como elaborar uma. O ato de escrever é prazer, diversão. É a sensação de poder, de domínio. Criar gente, fabricar fantasias, inventar cidades, dar vida e dar morte, criar um terremoto ou furacão, fazer o que eu quiser. Escrever é um jogo, brincadeira. Conseguir segurar, pren- der uma pessoa, mantê-la atrelada a si (é o leitor diante do livro: sua sensação divina). — Ignácio de Loyola Brandão As histórias apareceram junto com a linguagem e com a capacidade de simbolizar — a Antropologia utiliza as histórias como ferramenta importante para o estudo de qualquer cultura. As pinturas rupestres nas cavernas pré-históricas, primeira manifestação artística conheci- da, eram formas primitivas de narração existentes de- zenas de milhares de anos antes da invenção da escrita. Escrituras sagradas, como os Vedas da Índia e a própria Bíblia judaico-cristã apresentam grande quantidade de narrativas. As histórias da mitologia greco-romana, os contos de fadas da Europa medieval recolhidos pelos Comunicação e Expressão / UA 02 Visão Geral da Noção de Texto: Narração 4 Irmãos Grimm, a mitologia brasileira (saci, caipora, negrinho do pastoreio) são exemplos de narrativas. De maneiras diversas, contam histórias e dão forma a fantasias. Atenção Narrar é um ato inerente à natureza do homem. Desde que descobriu o poder de encantamento da palavra, ele deu asas ao pensamento e passou a criar mundos, divindades, crenças. Descrever e narrar são experiências muito próximas, que se misturam e se complementam. Às vezes precisamos introduzir descrições para escla- recer uma história. Outras, contamos histórias para ilustrar uma descri- ção. Lugar, tempo e personagem são elementos típicos da narração, po- rém é relativamente comum utilizarmos a descrição desses dados dentro de uma narração. As narrações se apresentam de diversos estilos, mas alguns elementos presentes em todos eles são: narrador, personagens, ação, tempo e lugar. Leia os textos a seguir: Sopa de Pedras Pedro ia andando por um caminho e sentiu muita fome. Catou umas pedras brancas, de cristal, lavou bem e levou para uma velha cozinhar. É para fazer uma sopa. E como é que se faz? Coisa fácil demais, Sá dona! Refoga as pedras com tempero e sal com alho, cebolinha verde, Tomate. Garra um punhado de macarrão, umas batatas, meia dúzia de ovos, uns pedaços de toicinho e de pele de porco, mistura tudo, deixa ferver, deixa cozinhar. E pronto. A mulher fez. Tudo em ordem, Pedro, só o que tem é que as pedrinhas estão duras. Não tem nada não, Sá dona! Eu como assim mesmo. Bateu bem pra dentro dois pratarros da sopa de pedra, largou as pedrinhas na panela e foi embora, que já estava na hora do homem dela voltar da roça. Quando o marido chegou, que ela contou tudo, tintim por tintim, ele falou: “Mulher burra! Já foi na onda do Pedro”. — Ruth Guimarães, A Saga de Malazarte Tragédia Brasileira Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa, — prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Está- cio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Comunicação e Expressão / UA 02 Visão Geral da Noção de Texto: Narração 5 Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos... Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inte- ligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em decúbito dorsal, vestida de organdi azul. — Manuel Bandeira, Estrela da Vida Inteira Chapeuzinho Vermelho Uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho foi visitar sua avó que morava distante e estava doente. Sua mãe queria notícias da velha senhora e mandou a filha fazer-lhe uma visita, levando alguns doces. O caminho era longo e passava por uma floresta. Matreiro o Lobo-Mau, dizendo ser o guarda da floresta abordou a menina no caminho, fingindo ser amigo, pois sua intenção era comer a neta e a avó. Ao chegar à casa da avó Chapeuzinho Vermelho foi tomada de surpresa, pois achou-a um tanto diferente de como a conhecia. O Lobo-Mau já tinha comido a velhinha e vestido sua roupa, metendo-se em sua cama esperava para dar o bote final na menina. — Irmãos Grimm — adaptação Como podem verificar, os três exemplos apresentam os elementos bási- cos da narração: narrador, personagens, ação, tempo e espaço. DicAs Quase sempre a narração se baseia em um conflito de in- teresses ou desejos entre as personagens que se dividem em protagonistas e antagonistas. Há também histórias com personagens-auxiliares. Agora vamos nos aprofundar nas características da Narração. FundAmentos Narrar é fundamentalmente contar uma história ou mostrar uma se- quência de eventos encadeados. Essa sequência de ações apresenta Comunicação e Expressão / UA 02 Visão Geral da Noção de Texto: Narração 6 personagens em tempos e espaços determinados. Os exemplos são mui- tos, da Bíblia às novelas de TV, passando pelas histórias em quadrinhos, notíciasna mídia e tantos outros. Na organização, um exemplo de narra- tiva é a ata de reunião, que apresenta todas as características citadas. É possível criar uma narrativa a partir de uma única frase, como “o ôni- bus chegou atrasado” ou “minha sogra ficou avó” (Oswald de Andrade). Existe uma narrativa moderna, a chamada twitteratura, que consiste de microcontos com exatamente 140 caracteres, como: Acordou com gosto de cabo de guarda-chuva na boca. O sonho, de lembrança muito vaga, tinha a ver com alguma situação aborrecida e prosaica. — Twitter bruno_andreoni. É de se notar que há ações, personagens e um narrador, que, ainda que possa não aparecer, sempre existe — as frases têm de ser enunciadas por alguém. No caso da frase de Oswald de Andrade, o narrador é o genro, os per- sonagens, além do próprio genro, são a sogra e o neto, a ação é a passa- gem da situação de não avó para a de avó e o tempo é o passado, marca- do pelo verbo ficar no pretérito perfeito (ficou). Atenção Perguntas respondidas durante a narração: quem, o quê, quando, onde, como, por quê. Alguns itens podem ser verificados na narração: 1. tipOs de disCUrsO Como você já sabe, existe um narrador que conta a história. Ele pode contá-la de duas maneiras: de modo direto ou indireto. No modo direto, o narrador descreve a personagem, apresenta diretamente suas carac- terísticas físicas, psicológicas, ideológicas. No modo indireto, a história é percebida por meio do diálogo; ela é construída. Observe os textos narrativos e perceba a diferença. No 1 Frederico Paciência era aquela solidariedade escandalosa. Trazia nos olhos grandes bem pretos, na boca larga, na musculatura quadrada da peitaria, em principal nas mãos enormes, uma franqueza, uma saúde, uma ausência ruja de segundas intenções. Comunicação e Expressão / UA 02 Visão Geral da Noção de Texto: Narração 7 E aquela cabelaça pesada, quase azul, numa desordem crespa. Filho de português e de carioca. Não era beleza, era vitória. Ficava impossível a gente não querer bem ele, não concordar com o que ele falava. — Mário de Andrade, Contos Novos No 2 Relicário No baile da Corte Foi o Conde D’Eu quem disse Pra Dona Bemvinda Que farinha de Sururu Pinga de parati Fumo de Baependi É comê bebè pitá e caí — Oswald de Andrade, Poesias Reunidas O texto 1 utiliza a apresentação direta: o narrador diz o que pensa a res- peito da personagem. O texto 2 apresenta as personagens por meio do diálogo (indiretamente) e é necessário construí-las. 2. FOCO narrativO O ato de narrar pressupõe que o narrador tome uma posição em relação ao acontecimento. Ele pode assumir três pontos de vista: a. O narrador participante ou personagem faz parte da história como principal ou secundário. É como se estivesse “dentro” do evento e “vê” as ocorrências de dentro para fora. A narrativa é elaborada em 1a pessoa do singular ou plural. b. O narrador observador apenas efetua um relato dos fatos, registra as ações e o que dizem as personagens. Ocupa o lugar de espectador em uma história vivida por outros. A narrativa, neste caso, é escrita em 3a pessoa. c. O narrador onisciente ou onipresente, uma testemunha invisível que conhece toda a ação e tudo o que os personagens pensam e sentem. 3. OrganizaçãO Você já sabe que as histórias se baseiam em um ou mais conflitos, mas relatá-los não é difícil, afinal fazemos isso o tempo inteiro. Desde mui- to pequenos reproduzimos eventos que nos acontecem. São narrações. Se pensarmos assim, somos grandes contadores de histórias. Ao narrar, exercitamos o relacionamento entre situações e indivíduos que participam Comunicação e Expressão / UA 02 Visão Geral da Noção de Texto: Narração 8 das nossas vidas. Os elementos fundamentais das nossas narrativas são as personagens e os acontecimentos (as ações). É preciso lembrar que não “contamos” de forma desordenada tudo o que nos acontece: estabelecemos uma ordem, para que nos compreendam. Essa organização do enredo ou tessitura da narrativa pode ser traduzi- da em respostas a perguntas essenciais: o que aconteceu, quem ou com quem, como, onde, quando, por quê. Releia o texto “Tragédia Brasileira”, de Manuel Bandeira. Perceba se res- ponde às perguntas colocadas no parágrafo anterior. Escreva as respostas. O ato de narrar implica em passar de um estado inicial de equilíbrio para um estado de desequilíbrio, que normalmente está representado pelo(s) conflito(s) e, por fim, o equilíbrio é restabelecido, embora de forma diferente daquele inicial. Reveja a “Tragédia Brasileira”: há um equilíbrio inicial representado pelo encontro de Misael e Maria Elvira e pelas ações positivas ou eufóricas resultantes desse encontro. Em seguida, estabelece-se um desequilíbrio, mostrado nas ações negativas ou disfóricas de Maria Elvira para com Mi- sael. Depois de várias tentativas de resolução, o equilíbrio é restabelecido, mas não como o início: as disforias cessam, mas Maria Elvira morre. PAPo técnico A narração está marcada por um estado inicial de equilíbrio que se rompe com a existência de um ou mais conflitos. Após a resolução dos conflitos, o equilíbrio é restabelecido, embora a situação seja diferente da inicial. 4. a estrUtUra dO textO narrativO Normalmente a narração segue uma estrutura formada por apresentação ou introdução, desenvolvimento (também chamado de enredo, entrecho, intriga, complicação, urdidura), clímax e desfecho (conclusão ou desenlace). A introdução é o momento em que se apresentam os personagens e são expostas algumas circunstâncias da história, como tempo e lugar. Evidentemente existem narrativas que não possuem a introdução — são aquelas que começam pela ação, pelo conflito, em pleno desenvolvimen- to. Neste caso, as personagens serão mostradas no decorrer da história. O desenvolvimento é marcado pelo estabelecimento de um ou mais conflitos — o momento da ação, que dá origem às transformações do estado inicial. Comunicação e Expressão / UA 02 Visão Geral da Noção de Texto: Narração 9 Após essa observação, podemos dizer que os enunciados ocorrem na narrativa de duas maneiras: os de estado e os de ação. Os enunciados de estado são os que estabelecem uma relação de posse ou privação entre um sujeito e um objeto qualquer. a. O agronegócio é exportador [um sujeito (agronegócio) está de posse de um objeto (exportação)]; b. A indústria eletroeletrônica não consegue competir [o sujeito está privado do objeto]. Os enunciados de ação mostram a passagem de um estado inicial para um estado final — há vários exemplos no texto “Tragédia Brasileira”. A frase a seguir é um exemplo interessante que utiliza o mesmo contexto de um dos exemplos de enunciado de estado: A Rússia passou a comprar carne bovina do Brasil. Nessa frase, você deduz que havia uma situação inicial (não exportação) que foi modificada por um sujeito (Rússia) para nova situação (exporta- ção). No caso foi necessária uma ação, representada pelo verbo (comprar). Embora pareça que a narração está associada aos textos ficcionais, não se restringe a eles, como se vê nos exemplos dos parágrafos anteriores. Quando você comunica que a empresa obteve um contrato ou colocará um produto no mercado, utiliza o formato narrativo. Quase tudo é “con- tado”. Evidentemente nem tudo será ação, mas sempre haverá narrador, personagem, tempo e ação/estado. conceito Fazem parte do texto narrativo: uma situação inicial eufó- rica, um ou mais conflitos, o clímax e o desfecho, em que o conflito é resolvido. A resolução do conflito restabelece a calma inicial, porém trata-se de situação nova. O clímax é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu momento críti- co, tornando inevitável seu desfecho. O desfecho ou desenlace é a solução do conflito produzido pelas ações dos personagens. O equilíbrio é restabelecido e pode haver espaço para uma avaliação de tudo o que foi narrado. Às vezes é inesperado, como acontece em textos de humor como o da charge mostrada a seguir. Comunicação e Expressão/ UA 02 Visão Geral da Noção de Texto: Narração 10 Não quero fazer como nossas mães, que aprendiam costura e tricô. Somos a geração da liberação, da tecnologia! Também acho! Quando crescer, vou querer uma máquina de tricô eletrônica! 4.1 Tipos de narração Como narramos desde criança, é fácil imaginar que existam vários tipos de narração. Comentaremos os mais comuns, mas eles não se esgotam aqui. Notícia de Jornal No último domingo, sob a acusação de ter tentado furtar dinheiro da Igreja Nossa Senhora do Brasil, no Jardim América, foi detido e encaminhado ao 15o Distrito, o meliante Emílio Santino Alves, de 68 anos que alegou estar fazendo uma oferenda àquela instituição pia. Segundo os fiéis, o sexagenário, aparentemente embriagado, tentava pescar o dízimo arrecadado durante a missa, usando um arame para retirá-lo do cofre. — E. Amaral, et al. Como você pode notar, o texto inicia com uma breve exposição do fato (tentativa de roubo), seguido da prisão do acusado (ação). Alguns fatos podem ser deduzidos pelo leitor, mas estão presentes todas as caracte- rísticas narrativas: há o narrador (repórter), que apresenta, por meio do discurso indireto: → As ações (tentativa de furto e detenção); → O tempo (no último domingo — para saber a que domingo se refere, basta verificar a data do jornal); → As personagens (Emílio Santino, aquele que o deteve, fiéis). Existe aí uma estrutura narrativa: ainda que a notícia não apresente uma sequência de eventos, há aspectos descritivos. De um estado inicial de equilíbrio, acontecido quando Emílio tentava pescar o dinheiro, passou-se a um conflito, quando aquele estado foi modificado pelo aparecimento da Comunicação e Expressão / UA 02 Visão Geral da Noção de Texto: Narração 11 polícia. Emílio foi preso, e a detenção levou a outro estado de equilíbrio diferente do inicial. O cartum Veja o seguinte exemplo de cartum: http://www.allposters.com/-sp/I-ve- already-told-Mom-about-my-day-ask-her-New-Yorker-Cartoon-Posters_ i9171783_.htm Cartum é uma história divertida contada em um quadro ou uma tira. As charges são cartuns que fazem um comentário ou crítica sobre algo atual. Esse quadro ou tira traz, ainda que muitas vezes de modo não totalmente claro, o processo narrativo em sua inteireza: personagens, ação, estado inicial de equilíbrio. Note que existe um narrador que estabelece dois tempos: o presente, representado no desenho da chegada do pai e do filho diante da TV; e o passado, representado pelos verbos (disse, foi). Está implícito um conflito entre a pergunta (subentendida) do pai e a resposta do filho. O desfecho está na resposta do filho. Poema/Canção Poemas e canções podem comportar narrativas quando ajustam a conci- são às informações necessárias a esse gênero: Valsinha Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar Olhou-a dum jeito mais quente do que comumente costumava olhar E não falou mal da poesia como mania sua de falar E nem deixou-a só num canto; pra seu grande espanto disse: vamos nos amar... Aí ela se recordou do tempo em que saíam para namorar E pôs seu vestido dourado cheirando a guardado de tanto esperar Depois os dois deram-se os braços como a gente antiga costumava dar E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a bailar... E logo toda a vizinhança ao som daquela dança foi e despertou E veio para a praça escura, e muita gente jura que se iluminou. E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais Que o mundo compreendeu E o dia amanheceu em paz. — Vinicius de Moraes, Chico Buarque Observe que todos os elementos narrativos estão aí presentes. Encontre- -os, escreva-os e comente. Procure outro poema e faça o mesmo. http://www.allposters.com/-sp/I-ve-already-told-Mom-about-my-day-ask-her-New-Yorker-Cartoon-Posters_i9171783_.htm http://www.allposters.com/-sp/I-ve-already-told-Mom-about-my-day-ask-her-New-Yorker-Cartoon-Posters_i9171783_.htm http://www.allposters.com/-sp/I-ve-already-told-Mom-about-my-day-ask-her-New-Yorker-Cartoon-Posters_i9171783_.htm Comunicação e Expressão / UA 02 Visão Geral da Noção de Texto: Narração 12 DicA Experimente narrar uma história amorosa e uma de terror. Elabore conflitos. Observe personagens e tempo. Se pos- sível, descreva o local. Não se esqueça de que o clímax e o desfecho são muito importantes. Fábula Fábulas são narrações de caráter alegórico que possuem um preceito mo- ral. Caracterizam-se pela linguagem simples que, no entanto, articulam um universo complexo, embora fantasioso. A Raposa e as Uvas Uma raposa, morta de fome, viu, ao passar diante de um pomar, penduradas nas grades de uma viçosa videira, alguns cachos de uvas negras e maduras. Ela então usou de todos os seus dotes e artifícios para pegá-las, mas como estavam fora do seu alcance, acabou se cansando em vão, e nada conseguiu. Por fim, deu meia volta e foi embora, e consolando a si mesma, meio desapontada disse: “olhando com mais atenção, percebo agora que as uvas estão todas estragadas, e não maduras como eu imaginei a princípio”. Moral da História: é mais fácil desprezar o que não se pode obter. — Esopo Veja que todos os elementos da narração estão presentes. Assim como a fábula, os contos de fadas e as chamadas histórias da carochinha são narrativas. Narração organizacional Todos os dias as crianças da Creche-Escola tiveram aulas regidas pelas professoras cedidas através de convênio, com o apoio de duas dinamizadoras e uma orientado- ra psicopedagógica. Após o almoço as crianças faziam a sesta de uma hora e meia. À tarde, as crianças, ainda com as monitoras, receberam orientações socioeducati- vas, reforço escolar, lazer interno, muitos momentos lúdicos dirigidos à sociabilidade, orientação e exercício de higiene pessoal e ambiental, músicas e outros temas contidos no currículo escolar. — Relatório de atividades do Centro Comunitário São Lucas, DF. Embora de maneira diferente, pois não se trata de ficção, a narrativa orga- nizacional também conta um fato, um evento, um acontecimento. Comunicação e Expressão / UA 02 Visão Geral da Noção de Texto: Narração 13 Estrutura da Narração O esquema a seguir mostra que a narrativa envolve uma complexidade bem maior do que percebemos quando contamos nossas histórias. Tal estrutura é inerente à narrativa, qualquer que seja sua origem. a história Equilíbrio inicial Ação/ conflito Desfecho Novo equilíbrio Tempo Espaço Personagens narrador Discurso Direto Indireto Foco narrativo Participante ou Personagem Observador Onisciente O esquema difere a História do Narrador e explicita: → Toda história começa com um equilíbrio inicial, parte para a ação/ conflito até seu desfecho se instaurando então um novo equilíbrio; → Ela envolve tempo, espaço e personagens; → O narrador pode utilizar o discurso direto ou indireto; → Seu foco narrativo pode ser participante ou personagem, um obser- vador ou ser onisciente. Figura 1. Estrutura de Narração. antena pArAbóliCA Até o final dos anos 50, as narrativas em jornais eram feitas em estilo rebuscado e não havia muito empenho em verificar as fontes e confirmar as histórias. Em um pequeno jornal do Rio, o Diário Carioca, uma equipe que incluía professores da Universidade do Brasil (que hoje é a UFRJ) efetuou uma verdadeira revolução e implantou a linguagem jornalística de hoje. Em alguns anos, aque- la equipe, capitaneada por Danton Jobim e Pompeu de Souza, mudou-se para o Jornal do Brasil. Só no início da década de 70 os outros grandes jornais do Rio de Janeiro (como O Globo) e de São Paulo (O Estado de S. Paulo, a Fo- lha de S. Paulo) — logo seguidos pela imprensa de todo o País — adotariam algumas das normas de redação e narrativa lançadas pelo Diário Carioca e fixadas no Jornal do Brasil. Curiosamente, o antigo estilo de narrativa subsiste em colunas sociais de jornais interioranos. Deve ser evitado com cuidado profissionais de qualquer área que escre- vamquando do exercício de suas funções. Lembre-se A narração está presente em situações co- tidianas e sua utilização é tão comum que não nos damos conta que a estamos pra- ticando. É empregada nas organizações para expor fatos, propor serviços, infor- mar sobre ocorrências, mostrar resultados após ações. e AgorA, José? Agora que você já sabe o que é texto e conhece o gêne- ro “narração”, é o momento de dar outro passo. Você aprenderá na próxima aula o que é uma dissertação e como elaborá-la. Boa sorte! Comunicação e Expressão / UA 02 Visão Geral da Noção de Texto: Narração 15 glossário Antropológico: (do grego anthropos, “ho- mem”, e logos, “razão”/“pensamento”) é a ciência preocupada em estudar o homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, que abrange todas as suas dimensões. A antropologia como ciência da humanidade e da cultura, tem um campo de investigação extremamente vasto: abrange todas as po- pulações socialmente organizadas. Eufórico: termo que serve para designar situa- ções e sentimentos positivo. Disfórico: oposto de eufórico. Enunciado: tudo que se diz ou escreve ante- riormente a qualquer análise linguística ou lógica. reFerênCiAs AMARAL, E.; SEVERINO, A.; PATROCÍNIO, M. F. Português: Redação, gramática, litera- tura e Interpretação de Texto. São Paulo: Nova Cultural, Círculo do Livro, 1999. SCIPIONI, U. Do Texto ao Texto – Curso prá- tico de leitura e redação. São Paulo: Sci- pioni, 2006. FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para Entender o Texto: Leitura e Redação. São Paulo: Áti- ca, 2009. Relatório de atividades do Centro Comu- nitário São Lucas. Distrito Federal, 2007. Disponível em: www.cecosal.org.br/site/ imagens/.../RELATORIO_ATIV_2007.doc. Acesso setembro de 2010. http://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_grega http://pt.wiktionary.org/wiki/antropo http://pt.wikipedia.org/wiki/Raz%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/Pensamento http://pt.wikipedia.org/wiki/Ci%C3%AAncia http://pt.wikipedia.org/wiki/Homem http://pt.wikipedia.org/wiki/Humanidade http://www.cecosal.org.br/site/imagens/.../RELATORIO_ATIV_2007.doc http://www.cecosal.org.br/site/imagens/.../RELATORIO_ATIV_2007.doc gestão empresarial comunicação e expressão Visão geral da noção de texto: dissertação 3 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final desta aula o aluno deverá ser capaz de estru- turar e redigir dissertações com coerência e clareza de apresentação de ideias. COmpetênCias Capacidade de definir, ordenar e discutir com precisão informações e ideias, valendo-se dos recursos apropria- dos à construção de textos dissertativos informativos ou polêmicos. Habilidades Dar expressão a informações e ideias na modalidade textual estudada, em linguagem adequada à situação de produção do texto. comunicação e expressão Visão geral da noção de texto: dissertação ApresentAção Nesta aula, você aprenderá a estruturar e redigir uma dissertação, partindo do reconhecimento da organização e da natureza essencialmente argumentativa desse tipo de texto. Aprenderá também a expor e relacionar ideias em cada uma das partes da dissertação; dominando es- sas informações, você poderá realizar tarefas de com- posição textual exigidas nos ambientes profissional e acadêmico. pArA ComeçAr Veja o link desta tirinha da página Geekcats.com. Na situação representada nesses quadrinhos, o gato preto e o malhado reagem com estranheza à fala do branco, certamente por que a linguagem deste é abstra- ta, com jeito de especulação filosófica... Ele fala como se dissertasse acerca de um tema cuja complexidade con- trasta visivelmente com os temas singelos comentados pelos outros dois. Por certo você já deparou com a necessidade de re- digir um texto de dissertação. Enganam-se aqueles que pensam que ela pode ser improvisada; esse tipo de texto tem uma organização muito precisa, para que seja real- mente eficaz. Ao longo desta aula, você poderá perceber que se trata de um gênero discursivo de extrema impor- tância, que merece sua atenção, de modo especial. Trataremos de questões que devem facilitar a reda- ção de textos dissertativos, presentes em atividades de caráter acadêmico (artigos, monografias) e das organiza- ções empresariais (relatórios, pareceres). Vamos lá? https://scontent.fgig1-3.fna.fbcdn.net/v/t31.0-8/337457_413535108696303_1604715079_o.jpg?oh=6e513ac9653477e73bb033f952c2d735&oe=58EACF67 Geekcats.com Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 4 FundAmentos Essa modalidade de texto é temática e toma por objeto teses em torno das quais se instala uma polêmica, com a exposição de pontos de vista e argumentos que lhe dão suporte; as partes componentes do texto disser- tativo são lógicas, havendo diversas formas de ordenamento das sequên- cias textuais responsáveis pela significação do todo. A rigor, o texto dissertativo desprende-se de situações concretas e pro- põe-se como análise destas, ultrapassando o particular, o único, e esten- dendo-se a muitos casos, pessoas e situações. A construção do raciocínio do enunciador do texto para defender e combater teses dá-se pela seleção de um léxico no qual predominam vo- cábulos abstratos (daí o principal elemento de que decorre a natureza temática desse tipo de texto). Isso não significa que não se encontrarão na dissertação termos concretos; eles estarão presentes nela, mas somente para dar suporte à abstração. As teses do enunciador e os argumentos de que se vale para prová- -las são fundadas na realidade histórica, política e humana na qual ele se insere; seu repertório (valores, leituras, estudos, experiências de vida) fornece-lhe os elementos de que necessita para desenvolver seu texto; seu objetivo sempre será conseguir a adesão do outro às ideias que de- fende; seu fazer é, pois, um fazer crer no que diz. Esse aspecto da disser- tação confere particular relevância às relações que se estabelecem entre o enunciador do texto e aquele a quem o texto se dirige, os enunciatários. O enunciador assume a responsabilidade sobre a afirmação / negação dos valores inscritos no texto e empreende a busca da adesão do enun- ciatário. O sucesso daquele será tanto maior quanto maior for a crença que este depositar tanto no discurso do enunciador quanto no objeto desse discurso. O reconhecimento da inscrição das estruturas de realida- de e dos valores de cultura no texto é fundamental para que as teses apa- reçam alicerçadas e, portanto, passíveis de passar por testes de validade. Nesse quadro, as relações que se estabelecem entre as partes do texto serão lógicas – e não cronológicas; caberá, por conseguinte, ordenação textual por restrição, paralelismo, inclusão, alternância, causa-efeito, con- tradição, enumeração, entre outras formas de ordenação. Além disso, a referência a tempo e espaço no texto dissertativo tem função de deflagrar o comentário que dele se abstrai. As mudanças, as transformações presentes no texto dissertativo não são apenas relatadas; são interpretadas. Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 5 estrUtUra da dissertaÇÃO É lugar-comum apresentar a estrutura da dissertação como sendo cons- tituída de Introdução, Desenvolvimento e Conclusão. Esses títulos são ge- néricos, aplicando-se, de resto, não somente à dissertação, mas a todo gênero de texto que pretenda objetividade, unidade de apresentação e coerência. Para que essa estrutura ganhe significação, é preciso saber que elementos caracterizam cada uma de suas partes e como desenvolvê-las. 1. Limitando o assunto e encontrando o tema Antes mesmo de pensar na Introdução, será preciso definir o recorte do assunto e o ângulo do qual será abordado – será necessário acertar o foco, fixar-se num aspecto do assunto, pois o mais das vezes ele apresen- ta uma generalidade tal, uma multiplicidade de opções de enfoque, que há risco de o redator perder-se no genérico e tratar o assunto superficial- mente, deixando escapar aspectos de real importânciapara uma polêmi- ca frutífera e criativa. Pensemos em uma sugestão de assunto como “problemas urbanos”, apresentado objetivamente como proposta de redação ou abstraído da leitura de outros textos. Esse assunto inicialmente se apresenta de for- ma bastante vaga para o redator, sendo, portanto, necessário limitar sua abrangência, definir seus contornos, selecionando, entre vários, o aspecto que será desenvolvido. Para abordá-lo, abrem-se várias possibilidades, tais como: → Objeto a ser considerado: metrópoles; qualquer cidade; os dois tipos de cidade, comparativamente; → Problemas: de infraestrutura (moradia, transportes, abastecimento etc.); socioculturais (educação, violência, lazer etc.). Feita a escolha, terá sido especificado, delimitado o tema e a dissertação se desenvolverá com contornos nítidos, expondo a real capacidade de análise e de crítica do redator. Este, por sua vez, terá muito maior segu- rança e possibilidade de mostrar domínio do tema, lastro para tratá-lo, habilidade para expor ideias e construir argumentos. Segue-se, daí, que o primeiro passo para começar a estruturar uma dissertação é fazer o recorte do assunto, delimitar seus contornos, definir o tema. Isso é condição para que se passe à introdução, já que esta apre- sentará o tema ao leitor e, desde logo, apontará o ponto de vista adotado no tratamento desse tema. Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 6 2. PreParando a introdução É comum que se diga que a introdução explicita a hipótese que o texto quer provar; de fato, é nas primeiras linhas do texto que se configuram o tema e o enfoque escolhidos pelo autor. Esse enfoque fica mais bem definido se o redator traça um objetivo claro; por exemplo, se o tema da dissertação for “a crise econômica no Brasil”, o objetivo do texto pode ser definido como “mostrar de que maneira a crise econômica mundial afeta os brasileiros”. Observe os três exemplos a seguir: Exemplo 1 Entender como Tolstoi constrói sua narração não é fácil. Aquilo que tantos narradores mantêm à mostra – esquemas simétricos, vigas mestras, contrapesos, dobradiças – nele permanece oculto. Oculto não significa inexistente: a impressão que Tolstoi dá de levar tal e qual para a página escrita “a vida” (esta misteriosa entidade que para ser definida nos obriga a partir da página escrita) não passa de um produto da arte, isto é, de um artifício mais complexo que tantos outros. — CALVINO, I. ‘Dois Hussardos’. In: Por que ler os clássicos. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. p. 162. Nota-se que a hipótese que deverá ser provada no texto de Calvino está explicitada na primeira linha do texto: não é fácil entender como Tolstoi constrói sua narração; em seus textos, os recursos construtivos não estão evidentes. Exemplo 2 Os modelos educacionais implantados no País e institucionalizados pelas políticas go- vernamentais em um sistema nacional de Educação demonstram uma clara desvincu- lação do trabalho produtivo. — M.NETO, P. E. Universidade: ação e reflexão. Fortaleza: UF do Ceará, 1983. p. 32. Nesse texto, a hipótese é a de que no Brasil não há vínculo entre os mo- delos educacionais e o trabalho produtivo; em outras palavras, que a edu- cação não se põe a serviço do trabalho. Exemplo 3 A constatação é geral e pode ser percebida por qualquer professor (ao menos, por qualquer professor de Letras): o nível intelectual dos alunos que ingressam nas Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 7 faculdades vem baixando a cada ano. Vez por outra, mas não com suficiente clareza e jamais com a energia que seria de esperar, fala-se na incapacidade dos alunos, em especial na sua incapacidade de redigir. Como solução, tem-se sugerido redação nos vestibulares e cursos de composição nas faculdades. Isto é tangenciar o problema e abordá-lo apenas de um lado. Não é só o aluno que está em causa; o professor tam- bém, como adiante veremos. — LINS, O. Reflexões sob um Quadro-Negro. In: Do ideal e da glória: problemas in- culturais brasileiros. São Paulo: Summus, 1977. p. 79. O que o texto se propõe demonstrar é que se deve considerar também o trabalho do professor para avaliar o problema das dificuldades em redigir apresentadas pelos alunos. Tratemos um pouco da importância da introdução de um texto disser- tativo para estabelecer o vínculo com o leitor. Reportemo-nos a nossas próprias experiências com leituras iniciadas e logo abandonadas e pode- remos encontrar, entre os vários e insondáveis motivos que nos levaram a deixar de lado um texto de revista, jornal ou livro, a falta de entusiasmo ocasionada pela natureza “morna” do texto, pelo início pouco atraente, que deixou de cooptar-nos, deixou de instigar nosso intelecto. Uma introdução pouco (ou nada) desafiadora, que não desperte o exer- cício intelectual do leitor pode condenar um texto que teria boa sequência a ser desprezado antes de a sequência ser conhecida. 3. redigindo a introdução Ao introduzir um assunto, podemos / devemos empregar recursos para atrair a atenção do leitor. Entre os muitos recursos disponíveis, lembra- mos os seguintes: Interrogação, citação, asserção polêmica, frase de efeito, definição, afirmação categórica, aforismo, generalização, referên- cia histórica. Vamos examinar alguns deles. Por sua natureza, podemos dizer que a referência histórica, a citação, o aforismo e a generalização constituem formas de introduzir o tema assentadas no conhecimento de algo que se supõe seja partilhado com o leitor, podendo, por isso, fazer nascer o interesse pela argumentação em que se sustentará a hipótese suposta- mente partilhada. Reportemo-nos à frase introdutória do parágrafo, já citado, de Osman Lins: A constatação é geral e pode ser percebida por qualquer professor (ao menos, por qualquer professor de Letras)... Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 8 Trata-se de uma frase contendo uma generalização que abrange o pró- prio leitor, que está incluído na asserção do autor (a constatação é geral). Com esse recurso, o autor laça o leitor, que é desafiado a conferir como será desenvolvido o argumento de que ele próprio seria enunciador. Vamos observar, a seguir, o efeito de sentido da afirmação categórica, que se combina com um desafio à experiência do leitor, na introdução de texto dissertativo de Angélica de Moraes, publicado no Caderno 2/Cultura, de O Estado de S. Paulo de 14/5/2000, p. 10: Nada melhor para entender a extensão de um desastre do que seu avesso, ou seja, o sucesso que ocorre quando as coisas são feitas como podem e devem ser feitas. Experimente sair de alguma das áreas de maior abuso cenográfico da Bienal do Re- descobrimento para outras onde houve o fundamental respeito às qualidades das obras expostas. O que se pode concluir é que a afirmação categórica pressupõe um co- nhecimento quase inquestionável, dado ao qual se soma o chamamento à experiência do leitor, para que faça constatações. Um outro exemplo: Claro que a história não se repete. Mas o reprimido sempre volta em nova roupagem, enquanto não é elevado à consciência e superado junto com suas condições. Europa, a mãe da modernidade capitalista, também deu à luz o fascismo e, com a versão alemã do nacional-socialismo, inaugurou o crime contra a humanidade. — KURZ, R. K. A síndrome neofascista da Fortaleza Europa. In: Mais! Folha de S. Paulo, 14/5/2000. p. 14. Efeito análogo provoca o aforismo, por remeter a um conhecimento anô- nimo, assentado na ciência popular: “Lobo velho perde o pelo, mas não perde a manha”, ensina velho ditado que aprendi na Argentina. Serve à perfeição para o Sr X, ou ao menos para o artigo que publicou ontem nesta Folha. Nele, esse senhor entoa um hino de amor à democracia e posa de campeão da luta pela liberdade no Brasil. Falso como nota de R$ 7,50. — ROSSI, C. As digitais de Maluf. In: Folha de S. Paulo, 20/8/ 1996. Texto adaptado. Observe,ainda, o efeito de sentido da citação na introdução do texto dissertativo: Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 9 O pensamento tornou-se mais imortal que nunca; ficou volátil, intangível, indestrutível. Mistura-se ao ar... Ele se transforma, agora, em revoada de pássaros, dispersa-se aos quatro ventos e escapa de uma só vez todos os pontos do ar e do espaço. Quem fala assim não é um apologista da Internet, e sim um entusiasta do livro. É Victor Hugo, que num capítulo de “Notre Dame de Paris” intitulado “Ceci Tuera Cela”, “isto matará aquilo”, afirma que a imprensa, levando a razão a todos os recantos da terra, expulsará os últimos resíduos da tirania e da superstição. Em seu conteúdo descritivo, as palavras de Hugo aplicam-se perfeitamente à nova era da comunicação digital. Mais do que nunca, o pensamento se desmaterializa, faz-se ar, voa, dispersa- -se, anula o tempo e o espaço. Mas Hugo não estava elogiando uma nova tecnologia. Estava tomando posição num debate político. — ROUANET, S. P. Da pólis digital à democracia cosmopolita, in Mais! Folha de S. Paulo, 21/5/2000, p. 15. A citação faz referência a uma personalidade consagrada pela cultura como especialista num determinado assunto e, com isso, a hipótese lan- çada pode conduzir o leitor a partilhar o reconhecimento do argumento. Os trechos a seguir exemplificam a introdução utilizando frase de efei- to, chocando a opinião do leitor, pelo conteúdo às vezes agressivo e sem- pre polêmico: O bazar de sandices culturais que Ziraldo Alves Pinto, presidente da Funarte, enviou ao ministro da Cultura, Aluísio Pimenta, contém seis equívocos básicos – além dos que deles derivam –, a saber: (...) — SUZUKI Jr., M. Um ideário confuso. In: 20 textos que fizeram história. São Paulo: Folha de S. Paulo. p. 183. Na barbárie se está atolado até o pescoço. Ninguém põe em dúvida a brutalidade do cotidiano, vivendo como está as agruras da cidade e a opacidade das relações humanas. — GIANOTTI, J. A. A universidade em ritmo de barbárie. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 9. É interessante observar que a polêmica frase introdutória de Gianotti vem precedida dos seguintes comentários, feitos nas “Preliminares” de seu li- vro: Escrevi este texto como um panfleto, fazendo das ideias armas de com- bate. Dessa forma, bem apropriado a tal objetivo é o emprego de uma fra- se de efeito para introduzir as ideias polêmicas sobre as quais discorrerá. A interrogação é outra maneira de introduzir texto que lança ganchos sobre o leitor: havendo uma pergunta, espera-se uma resposta; e posta aquela, cria-se a simulação de um diálogo no texto, cujo efeito de sentido Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 10 será uma interação de saberes – o texto se mostrará como o espaço de construção do conhecimento. Uma amostra: Que busca o escritor? O verdadeiro escritor, isto é: o que faz da palavra escrita sua razão de viver. — LINS, O. L. Op. cit., p. 43. 4. o desenvoLvimento do texto Com o desenvolvimento começa mais especificamente o trabalho de ar- gumentação em torno da hipótese lançada na introdução. Essa fase pode resumir-se a um único parágrafo, de uma dissertação breve, ou estender- -se por páginas e páginas de texto. Num e noutro caso, não importa a extensão, no texto haverá uma ordem lógica presidindo as sequências de ideias. E, se adentramos o terreno da lógica, devemos atentar para as de- clarações com as quais argumentamos, pois nossos argumentos podem estar baseados em fatos, em julgamentos ou em inferências. Caso argumentemos com base em inferências, teremos como resul- tado apenas certezas relativas ou presunções. Quanto aos julgamentos, guardam muito de subjetivismo, são meras declarações de aprovação ou desaprovação e, por isso mesmo, tendem a levar a declarações vagas e lugares-comuns que compõem o repertório popular. Finalmente, vêm os fatos, que são acontecimentos verificáveis e, portanto, dispensados de questionamento. Vejamos como uma declaração tem maior ou menor peso argumenta- tivo dependendo do suporte que a ela se dá: Fulano é um homem de sólida formação cultural a. Porque há muitos livros nas estantes de sua casa. ou b. Porque pertence a uma geração mais bem preparada. ou c. Porque estudou e diplomou-se na Universidade “X”. Na construção (a), a declaração se apoiou numa inferência, sendo, pois, baixa a probabilidade de a asserção ser verdadeira e, por consequência, menor o peso argumentativo. Em (b), a base do que se declara é um jul- gamento, uma opinião, bastante improvável, sendo também baixo o peso do argumento. Em (c), referem-se fatos para sustentar a declaração, o que garante a probabilidade e confere maior peso ao argumento apresentado. Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 11 Como já afirmamos, a construção das sequências de ideias obedece à lógica de concatenação de argumentos, e essa concatenação pode eviden- ciar, entre outras, as seguintes relações de sentido: Oposição, restrição, ressalva Com persistência rara, para o Brasil, 68 ainda povoa o nosso imaginário coletivo, mas não como objeto de reflexão. É uma vaga lembrança que se apresenta, ora como to- tem, ora como tabu: ou é a mitológica viagem de uma geração de heróis, ou a proeza irresponsável de um “bando de porralocas”, como se dizia então. Na verdade, a aventura dessa geração não é um folhetim de capa e espada, mas um romance sem ficção. O melhor do seu legado não está no gesto – muitas vezes de- sesperado; outras, autoritário –, mas na paixão com que foi à luta, dando a impressão de que estava disposta a entregar a vida para não morrer de tédio. Poucas – certamen- te uma depois dela – lutaram tão radicalmente por seu projeto, ou por sua utopia. Ela experimentou os limites de todos os horizontes: políticos, sexuais, comportamentais, existenciais, sonhando em aproximá-los todos. — VENTURA, Z. 1968 – o ano que não terminou. Texto com adaptações. Enumeração O problema é que medidas como essas causam espécie, primeiro, pelos excessivos prazos de carência para que entrem em vigor, e que são quase sempre prorrogados. Essa nova resolução do Conama só valerá a partir de janeiro de 2013, para os veículos a diesel, e a partir de janeiro de 2014, para os movidos a gasolina e álcool. Não serve de consolo o “antes tarde do que nunca”, porque o “tarde” quase sempre vira “nunca”. Em segundo lugar, desanima saber que mesmo daqui a três ou quatro anos, quando a poluição veicular no Brasil – nos carros novos apenas – será mais de um terço me- nor, ainda assim estará muito acima da que é tolerada, hoje, na Europa e nos Estados Unidos... — Tolerância com envenenamento. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/ estadaodehoje/20090908/not_imp430947,0.php>. Acesso em: maio de 2010. Interrogação Uma das características fundamentais do conhecimento contemporâneo é o seu uti- litarismo. Em que sentido o conhecimento utilitário das economias globalizadas na sociedade do conhecimento difere da utilidade ética constitutiva de todo conhecimento? Procurar responder a essa questão é também procurar entender, na lógica de funcionamento das tecnociências, como as grandes transformações tecnológicas http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090908/not_imp430947,0.php http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090908/not_imp430947,0.php Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 12 influenciam a ciência e como a ciência, ela própria, propicia novas tecnologias e ino- vações que dinamizam os mercados e ativam o consumo das novidades dos produtos delas decorrentes. — VOGT, C. Ética e conhecimento. Com Ciência- Revista Eletrônica de Jornalismo Cien- tífico – SBPC. Disponível em: <http://www.comciencia.br>. Acesso em: junho de 2007. Paralelismo O debate sobre a utilidade econômica e social da pesquisa está longe de ter-se encer- rado. Alguns pretendem queas descobertas científicas são a fonte essencial da tecno- logia e do progresso econômico e social que dela decorre. Em suma, os pesquisadores revelariam as leis da natureza, publicariam artigos, e os engenheiros e as empresas os transformariam, em seguida, em objetos ou equipamentos úteis. Daí resulta que a sociedade em geral, e os governos em particular, devem financiar a pesquisa funda- mental, fator insubstituível de progresso econômico e social. No outro extremo, alguns pensam que os resultados da pesquisa fundamental, no pior dos casos, são quase inúteis e, no melhor, tendo em vista o fato de que sua publi- cação é um “bem gratuito”, estão disponíveis a quem quer que os deseje utilizar. Con- sequentemente, os governos deveriam financiar a pesquisa fundamental nas mesmas bases que a arte, o esporte ou as outras formas da atividade cultural. — PAVITT, K. Tem a pesquisa uma utilidade econômica? In: WITKOWSKI, Nicolas (coord.). Ciência e Tecnologia Hoje. São Paulo: Ensaio, 1995, p. 85-6. Por fim, vejamos um exemplar de desenvolvimento por contraste: Ética e política não convergem com muita frequência na história do Brasil e do mundo. Esse enigma moral do processo histórico leva a indagar: pode a política ser conforme à época? A essa pergunta o realismo político, tal como formulado, por exemplo, por Maquiavel, no capítulo 15 de “O Príncipe”, responde pela negativa. A esta mesma e sempre recorrente pergunta André Franco Montoro deu uma clara resposta afirmativa, no percurso de sua fecunda e bem-sucedida vida pública. São precisamente as razões do seu sim à convergência entre ética e política o que me proponho discutir neste texto, que é uma homenagem à sua memória e uma celebração da importância de sua lição. — LAFER, Celso. Ética e política em Franco Montoro. Mais! Folha de S. Paulo, 14/5/2000. p. 17. Note-se a riqueza de recursos presentes na introdução desse trecho de Celso Lafer: há uma declaração inicial que remete à história, há interroga- ção, há citação (argumento de autoridade), todos esses elementos refor- çando, dando destaque ao contraste que se evidencia no desenvolvimen- to, a partir da frase: A essa pergunta... Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 13 5. a concLusão do texto Também chamada desfecho, a conclusão do texto dissertativo deve re- presentar, de modo lógico, o tratamento dado ao tema na fase de de- senvolvimento do texto. Será lógica a conclusão que, em decorrência dos argumentos apresentados, expressar a opinião do redator sobre o tema em discussão. Da mesma forma, será lógica a conclusão que resgatar os argumentos distribuídos no texto, apresentando uma súmula deles, com destaque para a informação central visada pelo autor. Seja de uma ou de outra espécie a conclusão escolhida, devem-se evi- tar certas soluções consideradas clichês ou fórmulas, quais sejam, os fi- nais forçadamente éticos, dos quais se extrai uma “moral”, um preceito, uma “lição de vida” a seguir; também os encerramentos que incitem o leitor a tomar posição, assumir compromissos, levantar e/ou portar ban- deiras ideológicas... Essas são todas soluções que, quase invariavelmente, caem no lugar-comum e, pior, ultrapassam os limites do tema, projetando conteúdos não incluídos na proposta textual escolhida. Evitem-se, pois, as referências a soluções mágicas, que se evocam para neutralizar ou anular o problema discutido (por exemplo, a classe políti- ca, as leis, o governo...); evitem-se, finalmente, os apelos à consciência, ao humanitarismo, à solidariedade, à adoção de medidas, à mudança de atitudes... são clichês que roubam ao texto toda originalidade de que ele tenha se revestido nas etapas anteriores. Conclua, como foi dito, com uma referência-síntese do conteúdo do de- senvolvimento, ressaltando os principais argumentos expostos. Isso será lógico e revestirá de naturalidade o encerramento do texto. antena pArAbóliCA Nas atividades de estudo, assim como nas profissionais e sociais, deparamos com a necessidade de lançar hi- póteses, expor teses e sustentar nossos pontos de vista com argumentos. Nos estudos, o suporte bibliográfico das disciplinas demanda o contato com textos de ciência e/ou tecnologia elaborados segundo a matriz da disser- tação. Como se pode notar, trata-se de um gênero dis- cursivo muito presente nas várias atividades de nosso dia a dia. Portanto, dominar as condições de produção e recepção desse gênero é de grande importância para o sucesso de várias de nossas ações. e AgorA, José? Bem, agora você já desenvolveu a habilidade de plane- jar e executar atividades de produção de textos disser- tativos, sejam eles opinativos ou informativos. Você já aprendeu as etapas de planejamento do texto e conta com recursos para compor o desenvolvimento adequa- do ao tema sobre o qual discorrerá, bem como para concluir coerentemente o texto. Esses elementos serão extremamente úteis para outras atividades de produção textual, especialmente para a elaboração de textos per- tinentes à área administrativa, tais como Propostas, Pro- jetos, Pareceres e Relatórios empresariais, assuntos de que trataremos em aulas posteriores. Coloque em prática seus novos conhecimentos, com- petências e habilidades! Comunicação e Expressão / UA 03 Visão Geral da Noção de Texto: Dissertação 15 glossário Afirmação categórica: declaração de caráter assertivo, geralmente indiscutível. Aforismo: ditado popular; frase, reflexão ou má- xima que sintetiza um princípio ou uma regra de caráter prático, moral ou costumeiro. Citação: referência a ideia ou manifestação, es- crita ou oral, de outrem. Asserção: proposição de intenção declarativa de sentido completo, que pode ser afirmati- va ou negativa, verdadeira ou falsa. Generalização: operação intelectual que con- siste em reunir um conjunto de fatos, fenômenos ou seres semelhantes em uma classe, termo ou proposição geral. Inferência : Processo pelo qual se chega a uma proposição, afirmada na base de uma ou ou- tras mais proposições aceitas como ponto de partida do processo. (COPI, Irving. Introdu- ção à lógica. São Paulo: Mestre Jou, 1977). Operação intelectual por meio da qual se afirma a verdade de uma proposição em de- corrência de sua ligação com outras já reco- nhecidas como verdadeiras. (Dicionário Ele- trônico Houaiss da língua portuguesa 1.0.7). reFerênCiAs bibliográFiCAs ABREU, A. S. �Curso de redação. São Paulo: Áti- ca, 2004. BECHARA, E. �Moderna gramática língua por- tuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001. BELLINE, A. H. C. DISSERtAção. 4A ED. São PAU- Lo: ÁtICA, 1999. EMEDIAto, W. �A fórmula do texto. Redação, argumentação e leitura. São Paulo: Geração, 2008. FARACo, C. A.; tEZZA, C. �Prática de texto para estudantes universitários. 17a ed. Petró- polis: Vozes, 2008. GARCIA, o. M. �Comunicação em prosa moder- na. 18a ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000. GIANottI, J. A. �A universidade em ritmo de barbárie. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 9. gestão empresarial comunicação e expressão Variação Linguística: diferenças e contextos 4 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula o aluno deverá ser capaz de utilizar dife- rentes registros da variedade linguística, sabendo ade- quá-los às circunstâncias das situações comunicativas de que participa. COmpetênCias Adequação dos diferentes registros da variedade linguís- tica a situações comunicativas. Habilidades Conhecer as variantes linguísticas da Língua Portuguesa e seus diferentes graus de formalismo; Distinguir as peculiaridades das situações comunicativas de que par- ticipa; Adequar a linguagem à situação comunicativa. comunicação e expressão Variação Linguística: diferenças e contextos ApresentAção Nesta aula, você aprenderá o que é variação linguística. Descobrirá que a Língua Portuguesa possui diferentes registros e que é necessário adequá-los às situações co- municativas de que participamos. pArA ComeçAr Você já paroupara pensar que dentro da Língua Portu- guesa falada no Brasil existem várias outras línguas? Você sabe que a Língua Portuguesa, como todas as lín- guas do mundo, não é utilizada da mesma forma em todo o território brasileiro? Seu uso varia de acordo com a épo- ca, com a região, com a classe social dos falantes e com a situação em que eles se encontram. Isso significa que até individualmente as variações acontecem. Uma mesma pessoa pode, por exemplo, utilizar diferentes variedades da língua, dependendo do contexto em que se insere. Neste capítulo aprenderemos o que são essas varia- ções, como se manifestam e como podem ser adequa- das às necessidades dos falantes. Vamos lá? FundAmentos Todos nós começamos a aprender a Língua Portuguesa em casa, no contato com nossa família e imitando o que ouvimos, tanto do ponto de vista do vocabulário utiliza- do quanto das estruturas e combinações da língua. À medida que entramos em contato com outras pes- soas e grupos sociais na rua, na escola, no trabalho, observamos que nem todos falam da mesma maneira, embora tenham nascido no mesmo país. Há pessoas que falam de modo diferente por serem de cidades ou regiões diferentes, por terem idade diferente da nossa, por serem de outro sexo ou por pertencerem a outro Comunicação e Expressão / UA 04 Variação Linguística: Diferenças e Contextos 4 grupo social ou cultural. Essas diferenças são chamadas de variações linguísticas. ConCeito Variações linguísticas são as diferenças que uma língua apre- senta, de acordo com as condições sociais, culturais, regio- nais e históricas em que essa língua é utilizada. Do ponto de vista estritamente linguístico, é importante que você saiba que não há variedades linguísticas cujas características nos permitam classificá-la como melhor ou pior que outra. Todas as variedades são per- feitamente adequadas para a expressão das necessidades comunicativas dos falantes que as utilizam. Considerar determinada variedade como melhor e depreciar outra, corresponde a emitir um juízo de valor sobre os falantes dessa variedade, utilizando as diferenças linguísticas como um pretexto para a discriminação social. Sendo assim, o preconceito linguís- tico é uma forma de discriminação que deve ser fortemente combatida. Atenção Não existe variedade linguística que possa ser considera- da certa ou errada. As variedades podem ser consideradas adequadas ou inadequadas a uma determinada situação comunicativa. De acordo com essa adequação, a língua é considerada um poderoso ins- trumento de ação social. A linguagem que utilizamos não transmite ape- nas nossas ideias, mas transmite também um conjunto de informações sobre quem somos socialmente: a região do país em que nascemos, nos- so nível social e escolar, nossa formação, nossas características pessoais. Nesse sentido, a língua pode tanto facilitar quanto dificultar nosso relacio- namento com as pessoas e a sociedade de modo geral. tipOs de variaçãO lingUístiCa Existem dois tipos de variedades linguísticas: os dialetos e os registros (CALLOU, 1995). Os Dialetos são variedades que ocorrem em função das pessoas que utilizam a língua e são determinados pelo lugar do qual elas provêm, pela Comunicação e Expressão / UA 04 Variação Linguística: Diferenças e Contextos 5 faixa etária, pelo sexo, pela classe social e cultural na qual elas se inserem e pela evolução da própria língua. Veja, a seguir, alguns exemplos dessas variedades: 1. Variedade determinada pelo lugar de proVeniência dos falantes: Tipos de ladrão1 Assaltante mineiro: Ô sô, prestenção. Issé um assarto, uai! Levantus bra- çu e fiketin quié mió pucê. Esse trem na minha mão tá chein di bala… Mió passá logo os trocado que eu num to bão hoje. Vai andano, uai! Xispa daqui!!! Tá esperanuquê, sô?! Assaltante baiano: Ô meu rei… (pausa). Isso é um assalto… (longa pau- sa). Levanta os braços, mas não se avexe não… (outra pausa). Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado. Vai passando a grana, bem devagarinho (pausa pra pausa). Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado (pausa maior ainda). Não esquenta, meu irmãozinho, (pausa) vou deixar teus documentos na en- cruzilhada. Assaltante carioca: Aí, perdeu, mermão! Seguiiiinnte, bicho. Isso é um assalto, sacô? Passa a grana e levanta os braço rapá … Não fica de caô que eu te passo o cerol. Vai andando e sem olhar pra trás senão o tam- bor vai rodar pro seu lado … Assaltante paulista: Isto é um assalto, meu! Erga os braço! Pô, meu… Passa logo a grana, meu. Mais rápido, mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pru jogo de futebol, meu … Pô, agora se manda, meu, vai… vai.. Assaltante gaúcho: O gurí, ficas atento… isso é um assalto. Levanta os braços e teaquieta, tchê ! Não tentes nada e cuidado que esse facão corta uma barbariiidaaade, tchê. Passa as pilas prá cá ! Tri-legal! Agora, te mandas, senão o quarenta e quatro fala. 2. Variedade determinada pela idade dos falantes: a. Jovem (cerca de 18 anos): – É cara. Tô azarando uma mina que é mó da hora e tem um papo supercabeça! b. Homem (cerca de 40 anos): – Estou interessado numa mulher mui- to bonita, elegante e inteligente. 1. Disponível em: http://search. creativecommons. org/?q=brasil+dife ren%E7as+regionai s&format=Image http://search.creativecommons.org/?q=brasil+diferen%E7as+regionais&format=Image http://search.creativecommons.org/?q=brasil+diferen%E7as+regionais&format=Image http://search.creativecommons.org/?q=brasil+diferen%E7as+regionais&format=Image http://search.creativecommons.org/?q=brasil+diferen%E7as+regionais&format=Image http://search.creativecommons.org/?q=brasil+diferen%E7as+regionais&format=Image Comunicação e Expressão / UA 04 Variação Linguística: Diferenças e Contextos 6 3. Variedade determinada pelo sexo dos falantes: a. Homem: – Cara. Vamos numa festa comigo? Péraí. Vou trocar de camisa. b. Mulher – Gentem!! Fui convidada para uma festa hoje em um lugar fashion. Preciso comprar uma roupa nova, ir ao cabeleireiro e fazer as unhas. Gíria A gíria ou jargão é um dos dialetos de uma língua. Trata-se de uma forma de linguagem baseada em um vocabulário especialmente criado por um determinado grupo ou categoria social com o objetivo de se criar uma identidade entre os membros do grupo, distinguindo-os dos demais fa- lantes da língua (CEREJA, 2004). Os Registros são variedades de estilo que ocorrem em função do uso que se faz da língua, dependendo do receptor, da mensagem e da situa- ção. Nesse sentido, envolvem o grau de formalismo da comunicação (lin- guagem formal, coloquial ou informal), o modo de expressão da lingua- gem (oral ou escrito) e a sintonia entre os interlocutores. Grau de formalismo Veja a seguir um exemplo da diferença no grau de formalismo na linguagem: → Formal: linguagem cuidada, na variedade culta e padrão. Exemplo: “Houve uma grande confusão na faculdade e muitos bri- garam.” → Informal: linguagem utilizada entre membros da família ou amigos íntimos, marcada pelo uso de abreviações, vocabulário de conheci- mento geral e construções simples. Exemplo: “Aconteceu o maior rebu na facul e o pau quebrou.” Modo de expressão: oralidade e escrita Enquanto a modalidade oral da linguagem é aprendida espontaneamente pelos falantes, a modalidade escrita exige um longo processo de instrução formal. PAPo téCniCo O ensino (...) da escrita pressupõe a exposição a diferentes tipos de textos escritos, assim como a apresentação organi- zada dos recursos formais e de conteúdo que permitem não Comunicação e Expressão / UA 04 Variação Linguística: Diferenças e Contextos 7 só a produção de textos (...), mas também a boa compre- ensão da leitura de textos mais elaborados (...) é por esse motivo que todos precisamos aprender redação na escola. (ABAURRE, M. L. et al., Coleção base: português. São Paulo: Moderna, 2000, p. 10.) Vale lembrar que, na linguagem oral (língua falada), há uma relação dire- ta entre falante e ouvintee a produção e execução do texto ocorrem de forma simultânea. Isso faz com que o texto oral seja marcado por pausas, interrupções, retomadas, correções auxiliadas pelo uso de gestos e ex- pressões faciais. Por outro lado, a linguagem escrita, geralmente, é marcada pela au- sência de um dos participantes do processo comunicativo, o que impede a interação direta entre os interlocutores. O texto escrito se apresenta acabado, já que houve um tempo para sua elaboração, impossibilitando interferências do produtor no momento da leitura. Sintonia entre interlocutores A Sintonia pode ser entendida como o ajustamento ou adequação que o falante realiza a partir do conhecimento que tem sobre seu interlocutor. Podem ser considerados exemplos de sintonia: → O registro usado por uma mãe ao falar com seu filho e o registro que ela utilizará para falar com seu chefe. Em ambos os casos as diferenças ocorrerão em função do grau de intimidade que o falante mantém com seu interlocutor; → Um especialista de um determinado assunto usará registros diferen- tes ao falar com um outro especialista da área e ao falar com um pú- blico de pessoas interessadas pelo assunto, mas que não o dominam; → Diferentes registros podem ser observados também em função do grau de dignidade que o falante julga apropriado ao seu interlocutor (seu superior ou seu subordinado) ou à ocasião. Serão usados re- gistros diferentes se se tem como interlocutor alguém que, em uma hierarquia, for seu superior ou seu subordinado. O mesmo ocorrerá se o falante se encontrar em uma situação formal como um velório ou informal como um churrasco; → Registros diferentes também serão utilizados por um jovem ao es- crever um bilhete para sua namorada, ao redigir uma carta, solici- tando emprego, ao dirigir-se a uma pessoa idosa e ao requerer algo de seu chefe. antena pArAbóliCA Você certamente já deve ter se divertido ao ouvir frases, geralmente pronunciadas por pessoas idosas e prove- nientes do meio rural como, por exemplo, “Cumi arguma coisa hoje que me fez mar. Tô cuma baita dor de estam- bo”. Se isso já aconteceu com você, cuidado! Você come- teu preconceito linguístico. Preconceito linguístico é a atitude que consiste em discriminar uma pessoa por meio da sátira ou do debo- che devido ao seu modo de falar. Então, tenha cuidado com sua atitude da próxima vez que ouvir uma variante diferente daquela que você utiliza. e AgorA, José? Agora que você já sabe o que é variação linguística, seus tipos e os fatores que a determinam, chegou a hora de aprender como utilizar esse conhecimento no proces- so de leitura e análise de textos. Para tanto, na próxima aula, você aprenderá a identificar os contrastes e seme- lhanças entre textos e a depreensão de seus temas ar- gumentos. Comunicação e Expressão / UA 04 Variação Linguística: Diferenças e Contextos 9 glossário Variação: consequência da propriedade da lin- guagem de nunca ser idêntica em suas for- mas em virtude da multiplicidade de usos e situações. Dialetos: variedades que ocorrem em função das pessoas que utilizam a língua. Registros: variedades que ocorrem em função do uso que se faz da língua, dependendo do receptor, da mensagem e da situação. Jargão: forma de linguagem baseada em um vocabulário especialmente criado por um determinado grupo ou categoria social. reFerênCiAs ABAURRE, M. L. Et AL. Coleção base: portu- guês. São Paulo: Moderna, 2000. CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, t .C. Gramática re- flexiva: texto, semântica e interação. São Paulo: Atual, 2004. CALLOU, D. VARiAçÃO E nORMA. in: Anais do II Simpósio Nacional do GT de Sociolin- guística da ANPOLL. Rio de Janeiro, UFRJ/ CNPQ. 1995. MOiSÉS, M. A literatura portuguesa através dos textos. 29a ed. São Paulo: Cultrix, 2004. tRAVAGLiA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no primeiro e segundo graus. São Paulo: Cor- tez, 1996. Gestão empresarial comunicação e expressão Leitura e anáLise de texto: contraste e semeLhanças entre textos 5 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula, o aluno deverá ser capaz de comparar e identificar estruturas, temas e características de per- sonagens com a intenção de perceber semelhanças e diferenças. COmpetênCias Desenvolvimento da capacidade de leitura e interpreta- ção de texto. Ampliação do repertório literário. Habilidades Associar informações a textos. comunicação e expressão Leitura e anáLise de texto: contraste e semeLhanças entre textos ApresentAção A interpretação de textos requer entendimento de cer- tos princípios e uso de técnicas. Embora textos simples possam ser compreendidos de modo intuitivo, nem sem- pre a intuição é suficiente para a compreensão de do- cumentos complexos. Nesta aula você verá princípios e técnicas que aprimoram a percepção textual à medida que sua cultura e experiência se desenvolvem. pArA ComeçAr Existem dois provérbios bastante conhecidos que apre- sentam sentidos diferentes. Leia os provérbios a seguir: Quem espera sempre alcança. Quem espera desespera. Embora as duas frases pareçam semelhantes na forma, é possível perceber diferenças de sentido. → A semelhança, mostrada na estrutura da frase, no sujeito e no verbo levam a pensar, nos dois casos, em indivíduos que supostamente estão em posição de aguardar e não de fazer. → A diferença está no sentido, que aparece na con- clusão do enunciado: a primeira frase é otimista e a segunda é pessimista. Agora leia a letra da música Bom Conselho, de Chico Buarque. Pense em provérbios que, de algum modo, o texto faz lembrar. Você é capaz de perceber contrastes entre a letra e os provérbios? E semelhanças? Ouça um bom conselho Que eu lhe dou de graça Inútil dormir que a dor não passa Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 4 Espere sentado Ou você se cansa Está provado, quem espera nunca alcança Venha, meu amigo Deixe esse regaço Brinque com meu fogo Venha se queimar Faça como eu digo Faça como eu faço Aja duas vezes antes de pensar Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio o vento Na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade — Chico Buarque, Bom Conselho O autor, por meio de jogo de palavras, faz uma paródia das expressões e dos provérbios a seguir: → Se conselho fosse bom não se dava, vendia; → Não espere sentado (ou “espere sentado”, dito em tom irônico); → Quem espera sempre alcança; → Quem brinca com fogo se queima; → Faça o que eu digo e não o que eu faço; → Pense duas vezes antes de agir; → Devagar se vai ao longe; → Quem semeia vento, colhe tempestade. Ao observar um texto, percebemos diferenças de sentido que podem ocorrer ao mudarmos alguns termos. Encontramos semelhanças temá- ticas e de sentido em gêneros textuais diferentes. As diferenças e seme- lhanças, no entanto, não se restringem a isso. Tanto diferenças como semelhanças podem aparecer marcadas por classes de palavras, pelo contexto, pela forma, pelo sentido. Neste capítulo aprenderemos como compreender melhor os textos a partir de semelhanças e diferenças. Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 5 Atenção Semelhanças e diferenças textuais dependem de vários re- quisitos. Uma mesma forma pode conter vários sentidos; um sentido pode ser escrito de várias formas. Um mesmo tema pode ser escrito de várias formas e sentidos diferentes. Vamos nos aprofundar na leitura e interpretação de alguns textos e verifi- car de que maneira os temas se aproximam ou se distanciam. FundAmentos Entendemos semelhança como “a apreensão intuitiva de certa afinidade entre duas ou mais grandezas, a qual permite reconhecer entre elas, sob certas condições e com a ajuda de procedimentos apropriados, uma rela- ção de identidade” (GREIMAS & COURTÉS, 2008, p. 440) e diferença como “a distância entre duas grandezas [...]”(op. cit., 140), que só pode ser re- conhecida a partir de semelhanças que lhe sirvam como suporte. Em ou- tras palavras, só existe a diferença quando existe uma possibilidade de semelhança. Dessa forma, semelhanças e diferenças podem ser consideradas como relações dentro de uma mesma categoria. Nesse sentido, são inúmeras as relações textuais que podem ser observadas. Vamos escolher, a título de ilustração, algumas relações possíveis. Lem- bre-se que não são todas. 1. Oralidade e esCrita. Apesar de haver correspondência entre textos falados e escritos, escrever apresenta características bastante diferentes de falar. Enquanto o interlo- cutor está presente durante o ato da fala, está ausente no momento em que escrevemos. Dessa forma, como localizar aquele para quem escre- vemos? Quem é nosso leitor? Como seremos compreendidos? Essas são algumas perguntas que nos ocorrem diante da escrita. Quando falamos, alguns problemas de interpretação ou compreensão podem ser percebidos e corrigidos com a interrupção daquele a quem estamos nos dirigindo. É possível, no momento da fala, retomarmos e dizermos de outras maneiras, com outras palavras até que sejamos com- preendidos. O evento da fala pressupõe algumas formas de comunicação Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 6 não verbais que servem de apoio à compreensão: gestos, expressão fa- cial, olhares, entonação... Por outro lado, ao escrever, esses elementos nos faltam e precisamos pressupor o entendimento do interlocutor apenas pela escolha lexical. Não é possível introduzir gestos no texto escrito ou supor que as palavras alcancem o mesmo significado. Dessa forma, escrever precisa de cuida- dos adicionais. Apesar das diferenças entre oralidade e escrita, as semelhanças permi- tem que sejam compreendidas. Vejamos dois textos que, embora apare- çam escritos, marcam diferentemente fala e a escrita. Texto I (falado) “Ela tava ali, lindinha e nos conformes, cara... Fiquei olhando, imaginando um jeito de dizer, bem, você sabe né? De di- zer aqueles negócios que fico pensando sem ela. Era hora, agora, vou lá, dou uma chavecada nela, buzino umas no ouvidi- nho dela, tá na minha... Bom, tava faltan- do coragem, puxa, foi me dando um frio, uma coisa, um estado... Virei as costas, meu irmão, e me mandei.” Texto II (escrito) “Digo a você que ela estava lá, diante dos meus olhos. Perfeita. Olhei-a imaginando um jeito de dizer o quanto era importan- te para mim, dizer o que pensava dela quando estava a sós comigo mesmo. Pen- sei ser a hora certa, conversa: Mas me fal- tou coragem. Fugi.”1 Como você pode observar, o texto escrito precisa apresentar um todo semântico, com as partes bem concatenadas. Uma de suas característi- cas é que seja desprovido das marcas de oralidade: repetições, pausas, inserções, expressões vulgares ou continuações. Há exigências que não se fazem no texto oral: regras gramaticais específicas para garantir a clareza, grafia das palavras, acentuação, coesão, coerência... Apesar dessas diferenças, um texto escrito que represente a fala (com marcas de oralidade) pode ser compreendido perfeitamente. Veja o texto a seguir. Caçador de paturis - Cumpadi, cumé que ocê costuma caçá paturi? - Cumo quarqué pessoa. Caçando nos mato. Que pergunta mais estapafúrdia, cum- padi. - Espera aí, cumpadi. Que é caçando, eu sei, mas quero sabê com o quê ocê custuma caçá. 1. As diferenças entre Fala e Escrita. Disponível em: http://www. algosobre.com. br/redacao/as- diferencas-entre-fala- e-escrita.html. Acesso em 16/5/2010. http://www.algosobre.com.br/redacao/as-diferencas-entre-fala-e-escrita.html http://www.algosobre.com.br/redacao/as-diferencas-entre-fala-e-escrita.html http://www.algosobre.com.br/redacao/as-diferencas-entre-fala-e-escrita.html http://www.algosobre.com.br/redacao/as-diferencas-entre-fala-e-escrita.html http://www.algosobre.com.br/redacao/as-diferencas-entre-fala-e-escrita.html Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 7 - Com o que haverá de? Com a minha espingarda de cartucho, ué? Ocê sabe que a carga é grande. Intão na hora que eu puxo o gatío, eu chaqueio o braço pra móde espaiá a porta. Derrubo uns 10 paturi só com um tiro da bicharêda. - Pois eu faço diferente. Caço de noite e sem espingarda nenhuma. A minha lanterna é daquelas que tem um facho grandão de luz que parece olofróte dos campo de aviação. - Ara! Já to querendo sabê como é isso. Caçá de noite e só com a lanterna, pra mim é nova, cumpadi. - Espia só. Os paturi chegam em bando e vão se aninhando naquela arve frondosa. Ficam ali apinhocado mais de 200. Tudo pronto pra drumi. Pois bem. Eu chego quieti- nho com a minha lanterna no escuro, aprumo pra riba, pra perto da arve e acendo o facho de luz, pro rumo do céu. Aí eu começo a rodopiá aquele facho de luz. De repente, os paturi percebe e entra naquele facho de luz que formou ansim quiném um anér. E entra mais outro, e mais outro. Eu continuo rodando aquele anér de luz... E quando a roda toda ta cheia de paturi... aí eu, num solavanco de surpresa, rodopio ao contrário. Os paturi trombam tudo uns nos ôtro e cai aquele despropó- sito no chão. Tudo tonto co as cabeçada que deram! — Rolando Boldrin, Contando Causos, Nova Alexandria, 2001 De qualquer forma, mesmo esse texto, por estar escrito segue algumas regras específicas. É preciso uma apresentação formal: os parágrafos ini- ciam com letra maiúscula, as palavras devem ser separadas umas das outras por espaços em branco, as orações são pontuadas e as palavras seguem a ortografia oficial. Atenção Não basta que o autor siga exigências ortográficas e de sin- taxe para que você leia com facilidade. As ideias precisam ser transpostas com clareza, o que é obtido por meio da coesão e coerência textuais. O assunto é bastante complexo e vasto e não podemos abranger todas as suas especificidades. Podemos afirmar, no entanto, que a própria oralida- de apresenta diferenças em situações diversas: um apresentador de tele- jornal, alguém que fale ao telefone, crianças conversando, adolescentes, homens de negócios, vendedores, professores universitários... Em cada uma dessas situações marcadas pela oralidade os textos são diferentes. Se escritos, mais diferentes ainda. Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 8 2. gênerOs e tipOs Antes de passarmos às diferenças e semelhanças, é preciso primeiro es- tabelecer o que seja tipologia textual e gênero textual, pois existe certa confusão teórica a esse respeito. É comum encontrarmos em livros de gramática a divisão de textos em três gêneros: narração, descrição e dissertação, o que veremos mais adiante. No entanto, e devido ao aparecimento de diversas mídias com formas comunicativas novas e próprias, aconteceu uma mistura que de- safia as relações entre oralidade e escrita. Ainda por conta disso, diferentes tipos de texto até então desconheci- dos passaram a existir e houve necessidade de uma divisão. Alguns teóricos consideram tipologia textual o que comumente se cha- mava gênero. Assim, os tipos (e não os gêneros) seriam: narração, descri- ção e dissertação e a palavra gênero passou a denominar as diversas ma- nifestações textuais que apresentam características sociocomunicativas definidas. São inúmeras: cartas, romance, bilhete, reportagem, reunião, notícia, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, ins- truções, cartazes, inquérito, resenha, edital, gênero jornalístico, televisivo, piada, conversação, conferência, e-mail, propaganda, novela, aula virtual... Além dos gêneros e dos tipos, existem os chamados domínios discursi- vos que propiciam discursos específicos. Assim, temos: discurso jurídico, religioso, jornalístico. As características de cada um dos gêneros e mesmo dos tipos são di- ferentes. As semelhanças que podem ocorrer, nessescasos, residem nos temas. Tomemos a cerveja como exemplo. É possível encontrar: propaganda, notícia, história da cerveja, conversa sobre cerveja, receita culinária com cerveja. Mas serão enfoques e leituras diferentes. A interpretação será efetuada de acordo com cada gênero. Lembre-se Os tipos de textos seriam: narração, descrição e disserta- ção. O gênero passou a caracterizar diversas manifestações textuais que apresentam características sociocomunicativas definidas, como cartas, romance, bilhete, reportagem, reu- nião, notícia, receita culinária, bula de remédio. E os domí- nios discursivos que propiciam discursos específicos são os discursos jurídico, religioso, jornalístico. Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 9 Leia a seguir um artigo opinativo publicado na Folha de S. Paulo. Compare- -o com o texto poético de Carlos Drummond de Andrade. Estabeleça as semelhanças e as diferenças. Um novo José Josias de Souza Calma José. A festa não começou, a luz não acendeu, a noite não esquentou O Malan não amoleceu, mas se voltar a pergunta: E agora, José Diga: ora Drummond, agora Camdessus. Continua sem mulher, continua sem discurso, continua sem carinho, ainda não pode beber, ainda não pode fumar, cuspir ainda não pode, a noite é fria, O dia ainda não veio, o riso ainda não veio, não veio ainda a utopia, o Malan tem miopia, mas nem tudo acabou, nem tudo fugiu, nem tudo mofou. Se voltar a pergunta: E agora, José? Diga: ora Drummond, Agora FMI. Se você gritasse, se você gemesse, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... O Malan nada faria, mas já há quem faça. Ainda só, no escuro, qual bicho do mato, ainda sem teogonia, ainda sem parede nua, pra se encostar, ainda sem cavalo preto, que fuja a galope, você ainda marcha José! Se voltar a pergunta: José para onde? Diga: ora Drummond, Por que tanta dúvida? Elementar, elementar, sigo pra Washington e, por favor, poeta, não me chame de José. Me chame Joseph. Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 10 José Carlos Drummond de Andrade E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? e agora, você? você que é sem nome, que zomba dos outros, você que faz versos, que ama, protesta? e agora, José? Está sem mulher, está sem discurso, está sem carinho, já não pode beber, já não pode fumar, cuspir já não pode, a noite esfriou, o dia não veio, o bonde não veio, o riso não veio, não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou, e agora, José? E agora, José? Sua doce palavra, seu instante de febre, sua gula e jejum, sua biblioteca, sua lavra de ouro, seu terno de vidro, sua incoerência, seu ódio – e agora? Com a chave na mão quer abrir a porta, não existe porta; quer morrer no mar, mas o mar secou; quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? Se você gritasse, se você gemesse, se você tocasse a valsa vienense, se você dormisse, se você cansasse, se você morresse... Mas você não morre, você é duro, José! Sozinho no escuro qual bicho do mato, sem teogonia, sem parede nua para se encostar, sem cavalo preto que fuja a galope, você marcha, José! José, para onde? Aproveitando esse exemplo, podemos passar para o próximo item: dife- renças e semelhanças na forma com que os textos se apresentam. 3. FOrma Como você viu, as diferenças entre textos orais e escritos residem na es- colha lexical, no cuidado com a escrita em relação à fala e suas semelhan- ças podem ser observadas no tema. Ou seja, você pode conversar sobre determinado assunto – e utilizará propriedades da linguagem oral – ou escrever sobre esse mesmo assunto – e precisará empregar certas regras da linguagem escrita. As diferenças entre os gêneros, assim como oralidade e escrita, tam- bém estão na maneira de dizer: propagandas, cartazes apresentam uma linguagem mais visual, em comparação a uma carta ou romance. Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 11 As semelhanças também se encontram no assunto. Pode-se falar de um mesmo assunto em diferentes gêneros. E a forma? As formas textuais estão ligadas mais à escrita. As formas levam em conta a estrutura escolhida para veicular determinado tema. Poema e prosa são diferentes formas, que seguem regras específicas no momento de sua criação. Observe a seguir, a forma como se apresenta a letra de uma música (versos) e uma crônica (prosa), sobre o mesmo tema, a chuva. Chuva de Prata Ed Wilson / Ronaldo Bastos Se tem luar no céu Retira o véu e faz chover Sobre o nosso amor... Chuva de prata Que cai sem parar (refrão) Quase me mata De tanto esperar Um beijo molhado de luz Sela o nosso amor... Basta um pouquinho De mel pra adoçar Deixa cair O seu véu sobre nós Oh Lua! Bonita no céu Molha o nosso amor... Toda vez Que o amor disser: Vem comigo! Vai sem medo De se arrepender... Você deve acreditar No que eu digo Pode ir fundo Isso é que é viver... Cola seu rosto no meu Vem dançar Pinga seu nome no breu Pra ficar Enquanto se esquece de mim Lembra da canção... Toda vez Que o amor disser: Vem comigo! Vai sem medo De se arrepender... Você deve acreditar No que eu digo Pode ir fundo Isso é que é viver... Chuva de prata ... (refrão) Um beijo molhado de luz Sela o nosso amor Enquanto se esquece de mim Lembra da canção Oh Lua! Bonita no céu Molha o nosso amor!... Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 12 Herói em dia de chuva Sonia Madruga Susto também passou a minha mãe nesta noite de tanta chuva. Ela mora aqui perto, em uma casa grande, com suas acompanhantes. Escurecia quando um som abafado fazia crer que alguma coisa tinha caído no jardim dos fundos. Misteriosamente, momentos depois, a campainha de trás começou a tocar intermitentemente. Todas se assustaram: ninguém entraria pelo jardim dos fundos e, por mais que perguntassem: Quem é? Quem é? ... não havia nenhuma resposta. Cheias de iniciativa, chamaram a polícia, mas assoberbados, não puderam dar atenção. Às 8 da noite, já à beira do pânico, me ligaram narrando o fato. Alguém no jardim, sem poder sair (é um jardim interno), durante todas aquelas horas debaixo de tanta água... é uma cena dantesca. Falei com Lauro Henrique e, homem varonil e decidido, pegou sua bengala, o guarda-chuva e foi lá dar apoio e averiguar. Para atravessar a rua, teve que ir de carro, tamanha a correnteza e volume de água. Ninguém queria abrir a porta dos fundos debaixo daquele temporal, por motivos óbvios. Fiquei monitorando pelo celular, fiz mil recomendações, e estava toda apavorada: que estava acontecendo? O cara da guarita aqui da rua negou fogo: melhor aguardar a polícia... Lauro entrou pela frente da casa, que tem entrada independente, verificou com sua potente lanterna o jardim, do segundo andar da casa e, depois de entrevistar os “mordomos”, e observar os toques espaçados da campainha, que obedeciam ao ritmo da chuva, chegou à sherlockiana conclusão de que se tratava de pequeno curto-circuito na tecla da campainha, causado pelo volume de água! Aliviadas, mas sem abrir a porta de jeito nenhum, a alegria voltou a reinar. Lauro Henrique voltou para casa perto da meia noite, tendo colocado a conversa em dia com minha mãe, falado de música e cantarolado o samba de breque de Moreira da Silva – CIDADE LAGOA. Todas dormiram um sono sossegado, mesmo com a campainha tocando por toda a noite. Embora possamos perceber diferenças na forma escolhida para a criação de um mesmo tema, é preciso lembrar que as possibilidades são inúmeras. Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 13 Lembre-se São muitas as semelhanças entre os textos; inúmeras as diferenças. Entre semelhanças e diferenças, os textos são universos em construção. O papel do leitor é desvendar tais universos... 4. sentidOJá se falou em forma, conteúdo, escolha lexical, tipos de texto, gêneros. Agora vamos comentar um pouco a respeito dos sentidos que se apresen- tam nos textos. Muitas palavras têm um significado genérico, mas podem ser utilizadas com outro sentido. Tomemos um exemplo bastante simples: a palavra manga tem alguns significados, conforme o dicionário Aurélio (1999): 1) parte do vestuário onde se enfia o braço; 2) filtro afunilado para líquidos; 3) qualquer peça de forma tubular que reveste ou protege outra peça; 4) parte do eixo de um veículo que se encontra dentro da caixa de graxa. Ainda segundo o mesmo dicionário, significa: 5) fruto da mangueira e, com sentidos derivados do espanhol: 6) espécie de corredor com paredes de varas, que conduz a um rio ou igarapé e serve para guiar os bois que embarcam; 7) pastagem cercada onde se guarda o gado; 8) parte da rede de pescar que fica nas extremidades. Como você vê, uma mesma palavra pode trazer muitos significados, que só serão percebidos pela leitura e conhecimento do leitor. Em síntese, o leitor também constrói o texto. Além desses significados, os textos possuem um sentido, ou seja, os produtores de texto têm uma intenção, ao escrever. É possível que tenha mais de uma intenção e nesse caso, seu texto poderá ser interpretado de várias maneiras, apresentará mais de uma leitura. Escrever implica em deixar marcas para que seja compreendido de acordo com os sentidos de quem o escreveu. Ler o texto implica em decifrar as marcas e sinais deixados pelo autor para compreender o sentido ou sentidos. Assim, o leitor precisa não só conhecer os significados genéricos que as palavras possuem e que podem ser encontrados nos dicionários, mas entender porque o escritor as esco- lheu e porque as dispôs daquela forma. Não vamos aqui descobrir como se constrói o sentido de um texto ou de que recursos o escritor dispõe para expressá-los ou até mesmo quais elementos ele pode utilizar. Porém sabe-se que esse sentido não se forma apenas pela decifração das marcas e sinais deixados pelo autor. Segundo uma Ingedore Koch, uma especialista importante em análise de textos, O Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 14 leitor também é um construtor de sentido, pois para essa construção são acionados: seu conhecimento de mundo, suas crenças, suas leituras; o contexto, o conhecimento comunicacional e interacional, os gêneros. Como você pode perceber, compreender os textos faz parte de uma atividade complexa. O leitor precisa estar atento a várias instâncias e ain- da ser um cocriador, ou seja, recriar o que o autor pretendeu dizer e al- cançar os significados pretendidos. Quanto mais aberto a interpretações for o texto, ou seja, quanto mais sentidos ele possuir, mais diferenças poderão ser encontradas e mais di- fícil será alcançar a que realmente o autor pretendeu dizer. Histórias em quadrinhos são um bom exemplo de que o leitor precisa construir o sentido, ou não entenderá a mensagem do autor. O leitor precisa ir além do que está escrito. É preciso acessar seu co- nhecimento de mundo, suas leituras, o contexto comunicacional. Há im- plícitos (subentendidos, pressupostos) que precisam ser desvendados para a compreensão do texto. ConCeito Implícitos são inferências, implicações, alusões e insinuações. Ducrot (1992) estabeleceu os dois implícitos que são consi- derados mais importantes: pressuposto e subentendido. 5. COnteúdO/tema Conforme se viu anteriormente, existem diferentes formas, gêneros e ti- pos de veicular os mesmos conteúdos. Por outro lado, conteúdos diferen- tes podem ser escritos em formatações iguais ou diferentes. As possibi- lidades são infinitas, cabe a cada um escolher a melhor forma, o melhor meio de dizer e compreender os textos. A letra da música “Chuva de Prata” e a crônica “Herói em dia de chuva” são exemplos de temas semelhantes escritos de formas diferentes. DiCA Uma mesma palavra pode trazer muitos significados, que só serão percebidos pela leitura e conhecimento do leitor. Em síntese, o leitor também constrói o texto... antena pArAbóliCA A Universidade de Harvard publicou há alguns anos os dez mandamentos do e-mail, que são desde então muito falados, muito badalados, mas nem sempre seguidos. É interessante procurar esses mandamentos na Internet. Vamos focar aqui um aspecto: o emprego do e-mail, que é de uso muito ácil, para assuntos que ficariam melhor em uma conversa face a face ou mesmo em um telefo- nema. Praticamente todos os que trabalham em empre- sa conhecem pelo menos uma história de e-mail desas- troso. A lição que fica é que a multiplicidade de meios de se comunicar obriga a pensar para escolher como cada comunicação deve ser feita. e AgorA, José? Agora que você já conhece as semelhanças e diferenças entre diversos tipos e gêneros textuais, vale a pena apro- fundar seus conhecimentos sobre temas. Bons estudos! Comunicação e Expressão / UA 05 Leitura e Análise de Texto: Contraste e Semelhanças Entre Textos 16 glossário Implícito: a maior parte dos enunciados tem, além de seu conteúdo explícito, literal, um ou vários conteúdos implícitos. O enuncia- do “faz calor” pode significar apenas que a temperatura ambiente está quente. Mas em um ambiente fechado com muitas pessoas, e dependendo do contexto em que for dito, pode significar, por exemplo, “abra a janela”, “posso tirar o casaco?”, “ desligue o aquece- dor”, “ligue o ar condicionado”. Subentendido: um dos tipos de conteúdo im- plícito definidos por Ducrot que, entre ou- tros fenômenos linguísticos estudou os im- plícitos. Se alguém pergunta: “poderia abrir a janela?”, nem sempre espera a resposta literal “Sim” ou “Não”, mas sim que seu in- terlocutor abra a janela. Trata-se, neste caso, de uma resposta indireta a uma pergunta subentendida. A pergunta subentende um pedido. Pressuposto: é o tipo de conteúdo implícito que se caracteriza por algo que está coloca- do antes do “posto”. Quando se diz: “Pedro parou de fumar” (este é o posto), há a pres- suposição que ele fumava. Só para de fumar quem já fumou... Escolha lexical: trata-se da escolha das pala- vras que o escritor/falante faz para enunciar seus textos. reFerênCiAs AMARAL, E.; SEVERINO, A.; PATROCÍNIO, M. F. Português: Redação, gramática, litera- tura e Interpretação de Texto. São Paulo: Nova Cultural, Círculo do Livro, 1999. BOLTRIN, R. Contando Causos. São Paulo: Nova Alexandria, 2001. CHARAUDEAU, P.; MAINGHENEAU, D. Dicionário de Análise do Discurso. São Paulo: Con- texto, 2004. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Aurélio da Lín- gua Portuguesa. Curitiba: Positivo, 2010. FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para Entender o Texto: Leitura e Redação. São Paulo: Áti- ca, 2009. GREIMAS, A. J,; COURTÉS, J. Dicionário de Semi- ótica. São Paulo: Contexto, 2008. KOCH, I. V. Desvendando os Segredos do tex- to. 2a ed. São Paulo: Cortez, 2003. gestão empresarial comunicação e expressão Leitura e anáLise de texto: temas 6 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula o aluno deverá ser capaz de reconhecer elementos temáticos presentes nos textos. COmpetênCias Compreensão e análise crítica de textos com base na identificação de temas, em diferentes níveis de leitura. Habilidades Aplicar as técnicas de leitura adequadas aos textos temá- ticos, vistos em suas relações com diferentes contextos e com outros textos. comunicação e expressão Leitura e anáLise de texto: temas ApresentAção Nesta aula, você desenvolverá habilidades de leitura en- volvidas na construção de sentido dos textos pelo reco- nhecimento de seus elementos temáticos. Aprenderá a compor relações de sentido baseadas nos contextos ex- plícito e implícito, e em diálogos temáticos – as leituras intertextuais. pArA ComeçAr É comum que, ao sairmos de uma sala de cinema ou de um espetáculo de teatro, comentemos o que acabamos de ver. Mas, será que nosso comentário selimita a “gos- tei, não gostei, foi legal, foi chato, não entendi...”? Por certo nossa intenção vai mais além; queremos ex- pressar nossa análise do que vimos, nossa compreensão daquele produto cultural. Para isso, precisamos desenvolver algumas habilida- des de leitura e análise, com foco nos temas propostos pela obra em questão. É o que vamos aprender nesta importante aula, que certamente vai tornar mais aguça- da nossa percepção dos textos que nos cercam. FundAmentos A leitura e a análise de um texto pressupõem a apre- ensão de seus temas, sua compreensão crítica, estabele- cendo-se relações de significação com o universo suge- rido por aquele. O trabalho de leitura compreende, inicialmente, a de- codificação dos signos distribuídos pelo texto, mobilizan- do o léxico e as estruturas de língua, que o leitor deve reconhecer e dominar para configurar um primeiro ní- vel de compreensão – o do significado literal das frases, enunciados e parágrafos do texto. Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 4 Vencida essa etapa, a leitura deve reconhecer o tipo predominante do texto; com isso, mobilizam-se informações que fornecem chaves para a compreensão da natureza daquele e dos signos que o tipo ostenta. Assim, caso se trate de um texto no qual predomina a descrição, saberá o leitor que terá de identificar os termos responsáveis pela caracterização do ser ou objeto descrito, terá de observar a adjetivação, os detalhes. Diferentemente, se predominar o tipo dissertativo, terá o leitor de trabalhar com as teses pre- sentes no texto, buscando a relação entre asserções, opiniões e argumentos e, ainda, com o contexto histórico-social que dialoga com tais teses. Final- mente, se estiver diante de um texto narrativo, deverá o leitor preparar-se para encontrar e decodificar o conjunto de figuras e de eventos que consti- tuem os núcleos de sentido responsáveis pela organização da trama. Finalmente, a leitura captará a constituição temática do texto e, para isso, o leitor estabelecerá diversas ordens de relações de significação, que incluem seu repertório (isto é, as informações que detém sobre o assun- to tratado), as informações novas que lhe são apresentadas e – muito importante – a(s) rede(s) de significação que se tece(m) no texto graças à interação deste também com o contexto implícito. Os temas do texto são depreendidos da escolha de palavras nele pre- dominante. Um bom exemplo está na passagem a seguir: Rescendia por toda a catedral um aroma agreste de pitangueira e trevo cheiroso. Pela porta da sacristia lobrigavam-se de relance padrecas apressados, que iam e vinham na carreira, vestindo as suas sobrepelizes dos dias de cerimônia. Havia na multidão um rumor impaciente de plateia de teatro. O sacristão, cuidando dos per- tences da missa, andava de um lado para o outro lado, ativo como um contrarregra quando o pano de boca vai subir. Afinal, à deixa fanhosa de um padre muito magro que aos pés do altar desafina- va uns salmos de ocasião, a orquestra tocou a sinfonia e começou o espetáculo. Cor- reu logo o surdo rumor dos corpos que se ajoelhavam; todas as vistas convergiram para a porta da sacristia; fez-se um sussurro de curiosidade, em que se destacavam ligeiras tosses e espirros, e o cônego Diogo apareceu, como se entrasse em cena, radiante, altivo, senhor do seu papel e acompanhado de acólito que dava voltas frenéticas a um turíbulo de metal branco. E o velho artista, entre uma nuvem de incenso, que nem um deus de mágica, e coberto de galões e lantejoulas, como um rei de feira, lançou, do alto da sua solenida- de, um olhar curioso e rápido sobre o público, irradiando-lhe na cara esse vitorioso sorriso dos grandes atores nunca traídos pelo sucesso. — Aluísio Azevedo, O mulato. Trata-se de um texto descritivo de ações, no qual se reconhecem pelo me- nos dois percursos temáticos: um deles centrado no tema da religiosidade Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 5 (observe as palavras em negrito); o outro, no tema do espetáculo teatral (observe as palavras sublinhadas). A convivência desses dois percursos temáticos na descrição do mesmo conjunto de seres e ações leva à leitura crítica: o narrador descreve a missa, os que dela participam e seus rituais como um espetáculo teatral, com o intuito de ridicularizá-los para o leitor. Vamos agora observar aspectos textuais vinculados aos temas que fa- zem a leitura produzir significações. 1. as relações entre partes de Um textO devem COmpOr Uma Unidade. A unidade do texto se expressa no vínculo de sentido entre suas partes: estas devem manter-se fiéis à temática selecionada, garantindo a sequ- ência das ideias. Tal sequência nem sempre se mostra como mera expan- são adesiva da temática escolhida; muitas vezes, o texto cria a sequência para instalar contrastes ou contradições que visam a estimular discussões entre polos divergentes de ideias, e instalar a polêmica; noutras vezes, simula-se uma mudança de rumos, introduzindo “outro assunto” que, de- pois, se mostrará como base para o desenvolvimento do tema. Um pe- queno trecho do denso ensaio denominado “A invenção do saber” – que dá nome ao livro de Gerardo Melo Mourão, de onde se extraiu – , permite observar a progressão das partes do texto em torno de sua unidade. O primeiro parágrafo começa por imitar uma situação de diálogo, pro- pondo perguntas ao leitor. O efeito de sentido dessa estratégia textual é criar a expectativa em torno das respostas e, ao mesmo tempo, excitar o conhecimento do interlocutor virtual, para que a elas responda. Assim, espera-se que as respostas surjam na sequência respondidas, seja para in- formar o leitor, seja para confirmar as respostas que ele tenha antecipado. Em princípio e afinal, que é o saber? Quando, onde e por que sua invenção incorpo- rou-se à história do mundo como a mais fascinante e a mais perigosa das aventuras ousadas pelo homem? — Gerardo Mello Mourão, A invenção do saber. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, p. 9. Para responder à primeira pergunta, será preciso criar outros suportes temáticos, cujo desenvolvimento adiantará os recursos necessários à ple- na compreensão da sequência. Assim, o segundo parágrafo surpreende o leitor com uma afirmação que desloca o prestígio da história e parece pouco conectada ao tema: A história, como caminho para o passado, isto é, para as fontes inaugurais de nos- sa pobre e estupenda raça planetária, é apenas um beco sem saída. Os próprios Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 6 historiadores sabem disso. Quando não conseguem dar mais um passo, no limiar dos caminhos imemoriais, costumam dizer que, daí para lá, as coisas “se perdem na noite dos tempos”. — Gerardo Mello Mourão, A invenção do saber. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, p. 9. Mas, a falta de conexão é apenas aparente: esse trecho é passagem obri- gatória ao prosseguimento do tema e prepara outra sequência, que forne- cerá as respostas pretendidas. Os próximos parágrafos ligam os anterio- res às perguntas iniciais e garantem a possibilidade de dar-lhes resposta: a rigor, os parágrafos quinto e sexto vão respondendo ao “quando”, “por quê”, e “onde”: Não é, pois, a história que nos há de ajudar, mas exatamente esse denso espaço de mistérios onde não entram os historiadores - a noite dos tempos. É dentro dela, de resto, que nasce o tempo histórico. Para lá dele – “ailleurs” – .... “irgendwo” – situa-se o tempo mítico, o tempo auroral do ser e do existir do homem. Não é por acaso que todos os profetas vão buscar a substância elementar de suas profecias nos acontecimentos ao mesmo tempo virginais e prístinos do tempo mítico. O mito precede a história e, pois, preside a história. O próprio materialismo histórico sabe disto, e Marx mergulha a teoria da luta de classes na madrugada do tempo míti- co, quando Caim, o primeiro senhor de terras e o pai da agroindústria, assassina seu irmão Abel, bucólicopastor do país primevo. Caim teria sido o braço dominador da classe industrial, que esmagou Abel, o primeiro representante da economia pastoril. Foi também no tempo auroral do mito que o homem se arriscou à invenção do saber. O saber foi sua primeira aventura humana, seu primeiro gesto de liberdade, seu primeiro anelo de grandeza e dominação, sua primeira rebelião contra os deu- ses, sua primeira aliança com o Demônio, o primeiro passo e o primeiro desafio ao perigo, para sentar-se ao lado da Divindade como Senhor do Mundo. Está no mito do Paraíso Terrestre, no Livro do Gênesis: “não comereis do fruto da árvore da ciência do bem e do mal”. E a voz da serpente: “por que não? No dia em que o comerdes, serei como deuses, tendo o saber de tudo”. A tentação do saber foi mais poderosa do que a ordem divina: o fruto era belo e deleitoso. Os pais da raça humana, investindo- -se pela primeira vez da própria liberdade, do privilégio do livre arbítrio, comeram e ficaram, desde então, de olhos abertos diante do mundo. A invenção do saber está marcada pelo mesmo sentido de rebelião contra os deu- ses em todas as mitologias. Bastem, para o entendimento de nossa cultura judaico- -helênica do mundo ocidental, os episódios da Bíblia e da mitologia grega. Pois, tam- bém na Grécia, o facho do saber é arrebatado aos deuses por Prometeu, no mesmo gesto de desafio e de audácia de Adão e Eva, sendo igualmente castigado pela cólera dos deuses. — Gerardo Mello Mourão, A invenção do saber. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, p. 9-10. Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 7 E garantem a resposta à pergunta “Em princípio e afinal, que é o saber?”, a qual é fornecida, inicialmente, pelo sétimo parágrafo: Parece claro, assim, que o saber é uma invenção do homem. Mais do que isto: a invenção, a única invenção, a invenção por excelência, de que foi capaz a criatura humana. — Gerardo Mello Mourão, A invenção do saber. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983, p. 10. O texto prossegue, aprofundando o conceito de saber, para tratar das relações entre saber e Universidade. 2. as relações entre as partes dO textO sãO neCessariamente fUndadas nUma Ordem de COesãO e COerênCia1 A coesão se reconhece na conexão entre as sequências constituintes do texto e os enunciados que as constituem; identificada uma determinação de sentido pretendida entre tais sequências e enunciados, selecionam-se palavras de nossa língua responsáveis pelas relações de sentido visadas. Esses elementos de coesão podem fazer referência a termos que lhes são anteriores ou posteriores (caso dos pronomes, p.ex.) ou estabelecer vín- culos entre sequências (caso dos conectivos). Na passagem a seguir, o pronome “outros”, que determina “interes- ses”, remete ao contexto anterior, a interesses que o texto já mencionou e que se contrapõem aos que entram em jogo; além disso, o conectivo “no entanto” estabelece, na sequência, um vínculo de sentido que reitera a contraposição contida em “outros interesses”, mais uma vez vinculando o sentido da presente sequência ao sentido da anterior. Começam a entrar em jogo, no entanto, outros interesses, que estavam latentes des- de 1976... —Ricardo Kotscho. Uma chaga de ouro na selva. In: 20 textos que fizeram história. São Paulo: Folha de S. Paulo. p. 114. A coerência vincula-se especificamente à unidade do texto, sendo garan- tia de sua interpretabilidade, porquanto cuida de compatibilizar o sentido de informações, argumentos e níveis de linguagem. Um texto que tratasse de representar, por exemplo, uma praça de guerra, compatibilizaria as imagens componentes do cenário em torno de objetos pertinentes ao campo de significação de “guerra”: armamentos, tanques, combatentes etc. Outro que tematizasse as relações de mem- bros de um grupo de falantes jovens representaria uniformemente seu 1. Estão expostas aqui apenas algumas noções sobre coesão e coerência, pois esse assunto é tratado detalhadamente em outra aula. Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 8 falar em estruturas e vocabulário próprios desse grupo, num nível de lin- guagem popular, possivelmente com registro de termos de gíria. 3. O COntextO explíCitO e O COntextO implíCitO sãO determinantes dO sentidO dO textO. A unidade de sentido textual nasce, principalmente, do vínculo que o tex- to mantém consigo mesmo e com o contexto de sua produção, seja ele explícito (a própria expressão verbal) ou implícito (a situação em que se produz). O contexto explícito é a própria unidade linguística maior em que se insere a unidade linguística menor. É da relação de um parágrafo com o restante do texto, ou de uma frase com o parágrafo, por exemplo, que surge o sentido. Observe-se a notícia de jornal: Jatene pede resistência à equipe econômica O ministro Adib Jatene (Saúde) pediu no Senado a volta do Imposto Provi- sório sobre Movimentação Financeira e disse que “o Congresso não deve se vincular aos interesses da equipe econômica do Governo”. Jatene quer utilizar em sua área os recursos do IPMF, que vigorou em 94 e descontava 0,25% de qualquer movimentação bancária. A equipe econômica é contra. Folha de S. Paulo Subtraído do contexto explícito, o título da matéria será lido com base na sintaxe do verbo “pedir”, que evidencia seus dois componentes com- plementares: “o quê” e “a quem”, como na frase: “João pede dinheiro aos amigos”. No contexto explícito, essa leitura é desmentida: a economia própria dos títulos de matéria jornalística apostou numa supostamente útil concisão, ao trocar uma frase oracional por uma frase nominal e criou, no mínimo, uma ambiguidade, que só o contexto explícito desfez, dando a direção de sentido ao enunciado-título da matéria. Efetivamente, a regên- cia incompleta de “pede” e de “resistência” destaca as seguintes leituras: → Jatene pede que a equipe econômica resista - e não se diz a que(m). → Jatene pede (a alguém, que não se diz quem seja) resistência (= que resista) à equipe econômica. Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 9 Esse aspecto pode ser desastroso, se não tiver havido predeterminação para produzir o duplo sentido; ou pode render alguns lucros, se tiver sido calculado para produzir, por exemplo, os efeitos da falácia semântica cha- mada ênfase. Posta no contexto, a frase – Jatene pede resistência à equipe econômica – tem outro sentido – e este, sim, é o visado pelo autor: Jatene pedia que o Congresso resistisse aos interesses da equipe econômica, contrários às pretensões do então ministro. O contexto implícito não tem manifestação linguística – é a própria situação na qual o texto se produz. Muitos de nós recordamos a compo- sição Samba de Orly, de Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Toquinho. A letra reedita um tema que foi caro aos românticos – o exílio – e remete aos tempos da ditadura de 64, no Brasil, quando muitos de nossos intelectuais, políticos e artistas tiveram de refugiar-se em outros países, pois aqui eram considerados personae non gratae. A composição reporta a essa situação, que lhe é externa, mas imprescindível para definir seu sentido. Vai, meu irmão, pegue esse avião Você tem razão de correr assim desse frio Mas veja o meu Rio de Janeiro Antes que um aventureiro lance mão Pede perdão pela duração desta temporada Mas não diga nada que me viu chorando E pros da pesada diz que eu vou levando Vê como é que anda aquela vida à toa E se puder me mande uma notícia boa. — Chico Buarque, Toquinho, Vinícius de Moraes Você pode acompanhar essa música pelo ambiente virtual. 4. afirmar Um tema para negar OUtrO Nem sempre o texto se enuncia exclusivamente no momento e do ponto de vista de sua enunciação: é muito comum que remeta a concepção di- versa da que defende, vindo a organizar seus temas dialeticamente. Essa tradição do texto-contraponto é comumente identificada nas estéticas li- terárias, nas quais se apresentam temáticas representativasde pontos de vista em oposição, para negar ou para afirmar. Lembremo-nos de algu- mas das teses realistas e vejamos como elas se afirmam negando outras (no caso, românticas), no texto de Machado de Assis: Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 10 Capítulo XXVII / VIRGÍLIA? Virgília? Mas então era a mesma senhora que alguns anos depois? ... A mesma; era justamente a senhora, que em 1869 devia assistir aos meus últimos dias, e que antes, muito antes, teve larga parte nas minhas mais íntimas sensações. Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a pri- mazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isso não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação. Era isso Virgília, e era clara, muito clara, faceira, ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos, muita preguiça e alguma devoção – devoção, ou talvez medo; creio que medo. Aí tem o leitor, em poucas linhas, o retrato físico e moral da pessoa que devia influir mais tarde na minha vida; era aquilo com dezesseis anos. Tu que me lês, se ainda fores viva, quando estas páginas vierem à luz, – tu que me lês, Virgília amada, não reparas na diferença entre a linguagem de hoje e a que primeiro empreguei quando te vi? Crê que era tão sincero então como agora; a morte não me tornou rabugento, nem injusto. – Mas, dirás tu, como é que podes assim discernir a verdade daquele tempo, e exprimi-la depois de tantos anos? Ah! Indiscreta! ah! ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz senhores da terra, é esse poder de restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossas impres- sões e a vaidade dos nossos afetos. Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes. — Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas Pontifica, no texto machadiano, a polêmica que contrapõe a visão idea- lizada à visão realista da mulher amada, da perspectiva de um narrador que promove a revisão de suas ideias de jovem. É a perspectiva dialética assumida pelo texto que o inscreve na história que o leitor reconhece, ao reconhecer as diferentes perspectivas de enunciação. 5. diálOgOs temátiCOs – a intertextUalidade A intertextualidade é um dos aspectos da composição temática muito im- portante para o ato de leitura e análise textual. Trata-se, em palavras mui- to simples, de um diálogo de textos, atuando na construção de percursos temáticos, percursos de significação na leitura. Sendo diálogo, envolvem Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 11 vozes que se alternam no texto, evidenciando pontos de vista acerca de determinados assuntos ou estilos, pela imitação. Assim, haverá sempre um texto imitado e outro que o imita, e, depen- dendo da natureza dessa imitação, fala-se em paródia e em estilização – uma e outra são modalidades dialógicas de texto, pois colocam em evi- dência pontos de vista sobre um estilo, pela imitação. Há duas espécies de imitação: a estilização e a paródia, as quais va- mos estudar na sequência. 5.1. Estilização Na estilização, o texto coloca em evidência um tema ou um estilo de compo- sição textual, pela imitação reverencial, de seus traços; capta, portanto, o es- tilo imitado para reafirmá-lo. O recurso consiste numa revitalização de temas ou de traços estilísticos próprios de uma corrente estética, gênero ou autor. Novamente remetemos você à obra de Chico Buarque de Holanda, à letra da composição “João e Maria”, com música de Mestre Sivuca, e cuja interpretação você pode acompanhar acessando o ambiente virtual. Agora eu era o herói e o meu cavalo só falava inglês a noiva do cowboy era você além das outras três eu enfrentava os batalhões os alemães e seus canhões guardava o meu bodoque e ensaiava um rock para as matinês Agora eu era o rei era o bedel e era também juiz e pela minha lei a gente era obrigada a ser feliz e você era a princesa que eu fiz coroar e era tão linda de se admirar que andava nua pelo meu país Não, não fuja não finja que agora eu era o seu brinquedo eu era o seu pião o seu bicho preferido sim, me dê a mão Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 12 a gente agora já não tinha medo no tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido Agora era fatal que o faz de conta terminasse assim pra lá deste quintal era uma noite que não tem mais fim pois você sumiu no mundo sem me avisar e agora eu era um louco a perguntar o que é que a vida vai fazer de mim — Chico Buarque de Holanda, João e Maria A temática dessa letra remete a diversos produtos da cultura; a base é a ficção, o faz de conta que o narrador assume e que tem passagem por figuras associadas a temas de vários outros textos: dos contos de fada (eu era o rei / você era a princesa que eu fiz coroar), ligados à lenda anglo- -saxônica de Lady Godiva2 (e era tão linda de se admirar / que andava nua pelo meu país); dos jogos infantis (eu era o seu brinquedo / eu era o seu pião / o seu bicho preferido); dos bangue-bangues (agora eu era o herói / e o meu cavalo só falava inglês / a noiva do cowboy era você ...); dos filmes de guerra (eu enfrentava os batalhões, alemães e seus canhões). Assim, ao ouvir ou ler a letra da composição, o leitor deverá analisar seu conteúdo pela referência ao diálogo entre esses temas diversos, mas uni- ficados na imaginação do narrador, descobrindo a riqueza da composição. Como se depreende, a intertextualidade não está restrita ao texto ver- bal e há bons exemplos dela também no cinema (o filme “Cliente morto não paga” dialoga com o chamado “cinema noir”), na pintura, como mos- tram as telas de Édouard Manet (Almoço na relva - 1863) e de Pablo Picas- so (Almoço na relva – 1960 – uma das 26 releituras da obra), na música (quem não se lembra das hilariantes paródias produzidas pelos Mamonas Assassinas?). 5.2. Paródia ConCeito Modalidade que também estabelece um diálogo textual, o texto paródico imita o estilo para subvertê-lo, valendo-se, para isso, da revisão crítica ou irônica de seus temas, esti- los, valores. 2. Conheça a lenda, do séc, XI, fazendo uma pesquisa na internet. Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 13 Vamos conhecer a imitação por paródia pela observação de dois poemas: “Vou-me embora pra Pasárgada”, de Ma- nuel Bandeira e “Vou-me embora de Pasárgada”, de Mil- lôr Fernandes. Vou-me embora pra Pasárgada Manuel Bandeira Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha falsa e demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive E como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d’água Pra me contar as histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora pra Pasárgada Em Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir a concepção Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem prostitutas bonitas Para a gente namorar E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de noite me der Vontade de me matar – Lá sou amigo do rei - Terei a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora praPasárgada Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 14 Que Manoel Bandeira me perdoe, mas Vou-me embora de Pasárgada Millôr Fernandes Vou-me embora de Pasárgada Sou inimigo do Rei Não tenho nada que eu quero Não tenho e nunca terei Aqui eu não sou feliz A existência é tão dura As elites tão senis Que Joana, a louca da Espanha, Ainda é mais coerente Do que os donos do país. A gente só faz ginástica Nos velhos trens da Central Se quer comer todo dia A polícia baixa o pau E como já estou cansado Sem esperança num país Em que tudo nos revolta Já comprei ida sem volta Pra qualquer outro lugar Aqui não quero ficar. Vou-me embora de Pasárgada Pasárgada já não tem nada Nem mesmo recordação E nem fome nem doença Impedem a concepção Telefone não telefona Drogas são falsificadas E prostitutas aidéticas São as nossas namoradas. E se hoje acordei alegre Não pensem que vou ficar Nosso futuro já era Nosso presente já foi Dou boiada pra ir embora Pra ficar não dou um boi . Dou quase nada, coisa pouca, Somente uma vaca louca. Os traços da paródia são identificados na negação – a visão ideal da Pa- sárgada de Bandeira é negada na paródia de Millôr; no primeiro, trata-se do espaço da evasão, para o qual se deseja partir, visto como lugar agra- dável; já no segundo, trata-se do lugar em que se está e do qual se deseja fugir. Pode-se notar que a perspectiva idílica da Pasárgada imitada altera- -se substancialmente, para uma perspectiva política e de crítica social na paródia. Seja na estilização seja na paródia, devemos reconhecer os traços e te- mas do estilo imitado, sob pena de não se captarem os efeitos de sentido visados pelo autor das recriações. Existe homologia entre a formação textual e as estruturas sociais. O tempo histórico e suas ideologias têm suas estruturas ressoando nos temas presentes nos textos produzidos por seus sujeitos; como há, Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 15 inevitavelmente, diversidade de ideologias, de interesses e de captação da realidade, a presença dos temas nos textos homologa essa diversidade, testemunhando as nuances das concepções de mundo que convivem e contrastam num mesmo tempo historicamente circunscrito. antena pArAbóliCA Em praticamente todas as situações de nosso dia a dia estamos diante da necessidade de reconhecer os temas de nossas conversações, dos textos que lemos nos jor- nais, nas notícias que ouvimos, nos comandos que da- mos ou recebemos, nos textos organizacionais que te- mos de redigir. É pela seleção e identificação dos temas que compomos as relações de sentido necessárias à co- municação eficaz. e AgorA, José? Agora que você já sabe como trabalhar os temas e suas conexões de sentido, é chegado o momento de conhe- cer os argumentos que poderá utilizar na construção de textos e aqueles que você deverá identificar nos textos produzidos por outros. Essa passagem para a próxima unidade é fundamental para lidar com situações diver- sas dentro das organizações. Bons estudos! Comunicação e Expressão / UA 06 Leitura e Análise de Texto: Temas 17 glossário Sentido literal: é o sentido próprio das pala- vras, por oposição ao sentido figurado. Homologia: semelhança, relação fundada em reconhecimento. Polêmica: debate de ideias; controvérsia. Perspectiva dialética: em sentido amplo, tipo de abordagem baseada em discussão, con- tradição, contraposição de ideias. reFerênCiAs FIORIN, J. L; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: lei- tura e redação. 2a ed. São Paulo: Ática, 1997. _____. Para entender o texto: leitura e reda- ção. São Paulo: Ática, 1997. gestão empresarial comunicação e expressão Leitura e anáLise de texto: argumentação 7 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula o aluno deverá ser capaz de reconhecer os diferentes recursos argumentativos utilizados em um texto e suas formas de elaboração. COmpetênCias Compreensão e análise crítica de textos caracterizados pela utilização de recursos argumentativos. Habilidades Conhecer as técnicas de leitura adequadas aos textos argumentativos, Reconhecer a funcionalidade desses textos e suas formas de composição. comunicação e expressão Leitura e anáLise de texto: argumentação ApresentAção Nesta aula, você conhecerá as principais técnicas de lei- tura adequadas aos textos argumentativos e aprenderá sobre a funcionalidade desses textos e suas formas de composição. pArA ComeçAr Você já se deu conta de quantas vezes na vida somos convencidos a fazer algo que, a princípio, não quería- mos? Veja um exemplo dessa situação: Esta é minha banana! A banana é tua... Não, a banana é minha! Eu quero essa banana. Me dá a banana ou eu chamo o meu amigo. Na cena apresentada anteriormente, vemos o diálogo entre dois personagens: um homem e um macaco, dis- putando uma banana. Nessa disputa, cada um deles faz uso de argumentos diferentes para defender o mesmo ponto de vista, qual seja, o direito de ficar com a banana. No entanto, observamos que, enquanto o homem se li- mita a dizer que a banana lhe pertence (“Minha banana”), usando essa afirmação como argumento por duas vezes, o macaco utiliza dois argumentos: o primeiro baseia-se no seu desejo (“Eu quero”), o segundo, mais convincente, fundamenta-se em uma relação de causa e consequência que pode ser explicitada da seguinte forma: causa consequência Dar a banana Sair ileso Não dar a banana Chamar o amigo gorila para resolver a situação Comunicação e Expressão / UA 07 Leitura e Análise de Texto: Argumentação 4 Esse exemplo demonstra o poder que pode ter um argumento quando se caracteriza pela qualidade, consistência e capacidade de fundamentar e aprofundar o ponto de vista de quem o utiliza. Geralmente, pensa-se que comunicar é simplesmente transmitir infor- mações. No entanto, a comunicação somente se realiza com eficiência quando o emissor da mensagem consegue agir sobre o receptor. Nesse sentido, quando se comunica não se pretende apenas que o receptor re- ceba e compreenda a mensagem, pretende-se, principalmente, que ele acredite nela e faça o que nela se propõe. Para tanto, a utilização de argu- mentos é fundamental. Neste capítulo aprenderemos o que é um argumento, quais são os ti- pos de argumentos existentes e quais são as principais estratégias argu- mentativas utilizadas na produção de textos. Vamos começar? FundAmentos Argumento é todo procedimento linguístico que tem por objetivo persu- adir, fazer o receptor aceitar o que lhe foi comunicado, crer no que foi dito e fazer o que foi proposto (FIORIN, 2003). Quando bem feita, a argu- mentação dá consistência ao texto, produzindo sensação de realidade ou impressão de verdade. No entanto, a boa argumentação não garante a veracidade e fidedig- nidade das ideias apresentadas no texto. Pode-se convencer uma pessoa de alguma coisa utilizando raciocínios que não são logicamente demons- tráveis, mas são plausíveis. Isso quer dizer que se pode argumentar uti- lizando como prova não só aquilo que é necessariamente certo ou real, mas também o que é provável, plausível, possível, lógico, racional. Daí a importância da habilidade do leitor capaz de detectar os argumentos uti- lizados em um texto e sua forma de composição. ConCeito A palavra argumento vem do latim argumentum cujo signi- ficado é prova, indício. Portanto, argumentar significa apre- sentar fatos, ideias, razões, provas que comprovem uma afirmação, um ponto de vista ou uma tese. Comunicação e Expressão / UA 07 Leitura e Análise de Texto: Argumentação 5 tipOs de argUmentOs Existem inúmeros tipos de argumentos. Entre eles destacam-se o argu- mento de autoridade, o argumento baseado no consenso, o argumento baseado em provas concretas, o argumento baseado no raciocínio lógico, o argumento baseado na competência linguística, o argumento baseado na comparação e o argumento baseado na alusão histórica (CEREJA, 2004). 1. argUmentO de aUtOridade O argumento de autoridade baseia-se na apresentaçãodo ponto de vista de autores renomados ou de uma pessoa reconhecida na área do assunto em discussão. Geralmente, essa apresentação é feita por meio de citações que, por um lado, criam a imagem de que o falante conhece profunda- mente o assunto que está apresentando e, por outro lado, torna as pes- soas citadas fiadoras da veracidade do ponto de vista apresentado. Observe a utilização desse tipo de argumento no fragmento apresen- tado a seguir: Sociedade do conhecimento1 (...) Pouco antes de falecer, Peter Drucker disse que a educação é o setor que mais crescerá nos próximos 20 anos. O motivo da expansão é o fim da sociedade industrial, caracterizada pelo dinheiro como capital, e o iní- cio da sociedade de serviços, cujo bem maior é o conhecimento. “Drucker referia-se essencialmente à educação continuada e sua afirmação está revelando-se uma realidade”, destaca Carlos Monteiro, diretor-presidente da CM Consultoria. (...) Para validar o ponto de vista apresentado no texto que ressalta a impor- tância da educação na sociedade contemporânea, o autor recorre a duas autoridades no assunto: Peter Drucker, filósofo e economista austríaco, considerado pai da administração moderna, e Carlos Monteiro, diretor- -presidente de uma empresa de consultoria para instituições de ensino superior. Atenção Para ter validade, um argumento de autoridade deve obe- decer a duas regras: a autoridade citada tem de ser reconhe- cidamente especialista do assunto em questão e não deve 1. Herança do bem. Disponível em: http://www. aprendervirtual.com. br/noticiaInterna. php?ID=63&IDx=52 http://www.aprendervirtual.com.br/noticiaInterna.php?ID=63&IDx=52 http://www.aprendervirtual.com.br/noticiaInterna.php?ID=63&IDx=52 http://www.aprendervirtual.com.br/noticiaInterna.php?ID=63&IDx=52 http://www.aprendervirtual.com.br/noticiaInterna.php?ID=63&IDx=52 Comunicação e Expressão / UA 07 Leitura e Análise de Texto: Argumentação 6 haver discordância significativa entre a opinião expressa por essa autoridade e as de outros especialistas da área. 2. argUmentO baseadO nO COnsensO Argumentos consensuais são aqueles que se baseiam em máximas e proposições universalmente aceitas como verdadeiras e que, portanto, não exigem demonstração. Por exemplo: Quando se mantém o jovem na escola, além de tirá-lo da rua e reduzir o risco de envolvimento com a violência, pode-se apostar (pelo menos apostar) que ele tenha menos dificuldade de obter um emprego. — Dimenstein, Gilberto. A melhor bolsa de Lula. Folha de S. Paulo, 28/8/ 2007. Embora esse tipo de argumento seja muito utilizado, não se deve confun- di-lo com o lugar-comum, expressões que são repetidas abusivamente, carentes de base científica e de validade discutível. 3. argUmentO baseadO em prOvas COnCretas Todo e qualquer ponto de vista poderá ser questionado e terá pouca va- lidade se não vier apoiado em fatos comprobatórios. Sendo assim, ar- gumentos baseados em provas concretas consistem na apresentação de dados estatísticos, resultados de enquetes, dados objetivos, cifras, estatís- ticas, dados históricos, fatos da experiência cotidiana etc. Veja um exemplo: Na crise, banco lucra US$ 5 milhões por hora O grupo financeiro JPMorgan lucrou US$ 5 milhões por hora no primeiro trimestre deste ano. Dá praticamente R$ 9 milhões, o que significa que um trabalhador bra- sileiro de salário mínimo levaria cerca de 1.500 anos para receber o que um grupo como esse ganha em uma hora. O JPMorgan não está sozinho em ganhos tão siderais: o Goldman Sachs registrou lucros de pelo menos US$ 25 milhões em cada um dos 63 dias úteis do ano (R$ 44 milhões). No total, os 14 maiores bancos de investimento tiveram uma receita conjunta de US$ 78,8 bilhões no primeiro trimestre, os melhores números em três anos, apenas US$ 1,2 bilhão abaixo do pico de US$ 80 bilhões registrado no primeiro trimestre de 2007 (antes da eclosão da crise chamada então de crise das “subprimes”). — ROSSI, Clóvis. Folha de S. Paulo. Caderno Dinheiro, 12/5/2010. Comunicação e Expressão / UA 07 Leitura e Análise de Texto: Argumentação 7 4. argUmentO baseadO nO raCiOCíniO lógiCO (CaUsa e COnseqUênCia) Argumentos baseados no raciocínio lógico são responsáveis pelo estabe- lecimento de relações de causalidade entre as ideias apresentadas em um texto e a tese defendida por seu autor. Observe como esse tipo de argumento é construído no texto apresen- tado a seguir: Violência epidêmica A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes sociais, é nos bairros pobres que ela adquire caracte- rísticas epidêmicas. A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes centros urbanos e se dissemi- na pelo interior. A incidência nem sempre é crescente, mudança de fatores ambientais e medidas mais eficazes de repressão, por exemplo, podem interferir em sua escalada. As estratégias que as sociedades adotam para combater a violência flutuam ao sabor das emoções, raramente o conhecimento científico sobre o tema é levado em consideração. Como reflexo, a prevenção das causas e o tratamento das pessoas violentas evoluíram muito pouco no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços ocorridos no campo das infecções, câncer, diabetes e outras enfermidades. A agressividade impulsiva é consequência de perturbações nos mecanismos bio- lógicos de controle emocional. Tendências agressivas surgem em indivíduos com di- ficuldades adaptativas que os tornam despreparados para lidar com as frustrações de seus desejos. A violência urbana é uma doença com múltiplos fatores de risco, dos quais os mais relevantes são a pobreza e a vulnerabilidade biológica. Os mais vulneráveis são os que tiveram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao desenvolvimento psicológico pleno. A revisão dos estudos científicos já publicados permite identificar três fatores princi- pais na formação das personalidades com maior inclinação ao comportamento violento: 1. Crianças que apanharam, foram abusadas sexualmente, humilhadas ou despre- zadas nos primeiros anos de vida. 2. Adolescência vivida em famílias que não lhes transmitiram valores sociais altruís- ticos, formação moral e não lhes impuseram limites de disciplina. 3. Associação com grupos de jovens portadores de comportamento antissocial. Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crianças que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à falta de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, à corrupção policial e ao péssimo exemplo de impunidade dado pelos chamados criminosos de colarinho-branco, esses fatores de risco criam o caldo de cultura que alimenta a violência crescente nas cidades. Comunicação e Expressão / UA 07 Leitura e Análise de Texto: Argumentação 8 Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a resposta do aprisionamen- to. Embora pareça haver consenso de que essa seja a medida ideal e de que lugar de bandido é na cadeia, não se pode esquecer que o custo social de tal solução está longe de ser desprezível. Além disso, seu efeito é passageiro: o criminoso fica impe- dido de delinquir apenas enquanto estiver preso. Ao sair, estará mais pobre, terá rompido laços familiares e sociais e dificilmente encontrará quem lhe dê emprego. Ao mesmo tempo, na prisão, terá criado novas amizades e conexões mais sólidas com o mundo do crime. Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda. Para agravar, obrigados a optar por uma repressão policial mais ativa, aumentaremos o número de prisio- neiros a ponto de não conseguirmos edificar prisões na velocidade necessária para albergá-los. As cadeias continuarão superlotadas, e o poder dentro delas, nas mãos dos criminosos organizados. Seria mais sensato investir o que gastamos com as cadeias em educação, para prevenir a criminalidade e tratar os que ingressaram nela. Mas, como reagirdiante da ousadia sem limites dos que fizeram do crime sua profissão sem investir pesado no aparelho repressor e no aprisionamento, mesmo reconhecendo que essa é uma guerra perdida? Estamos nesse impasse! Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. Precisamos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os policiais a executar sua função com dignidade, criar leis que acabem com a impunidade dos criminosos bem-sucedidos e construir cadeias novas para substituir as velhas, mas isso não resolverá o problema enquan- to a fábrica de ladrões colocar em circulação mais criminosos do que nossa capaci- dade de aprisioná-los. Só teremos tranquilidade nas ruas quando entendermos que ela depende do en- volvimento de cada um de nós na educação das crianças nascidas na periferia do tecido social. O desenvolvimento físico e psicológico das crianças acontece por imi- tação. Sem nunca ter visto um adulto, ela andará literalmente de quatro pelo resto da vida. Se não estivermos por perto para dar atenção e exemplo de condutas mais dignificantes para esse batalhão de meninos e meninas soltos nas ruas pobres das cidades brasileiras, vai faltar dinheiro para levantar prisões. Enquanto não aprendemos a educar e oferecer medidas preventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão capazes de criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-las na sociedade por meio da educação formal de bom nível, das práticas esportivas e da oportunidade de desenvolvimento artístico. — VARELA, Drauzio. Folha de S. Paulo. 9/3/2002. Partindo da tese de que a violência é epidêmica, ou seja, como uma epi- demia, atinge (contagia) simultaneamente um grande número de indiví- duos, o autor fundamenta seus textos apresentando fatos que corres- pondem às causas dessa epidemia: ambiente familiar desfavorável ao Comunicação e Expressão / UA 07 Leitura e Análise de Texto: Argumentação 9 desenvolvimento psicológico pleno, falta de acesso a recursos materiais, desigualdade social, corrupção policial e casos de impunidade aos chama- dos criminosos de colarinho-branco. Na análise da utilização desse tipo de argumento, você deve prestar atenção em alguns defeitos que geralmente o acometem: a fuga do tema e a tautologia que consiste em demonstrar uma tese, repetindo-a com pa- lavras diferentes. Por exemplo: A poluição faz mal à saúde porque prejudi- ca o organismo (prejudicar o organismo é exatamente fazer mal à saúde). 5. argUmentO baseadO na COmpetênCia lingUístiCa Esse tipo de argumento é utilizado em situações que exigem a utilização da variante culta da língua como forma de garantir maior confiabilidade ao que se diz. Nesse caso, a utilização de um vocabulário adequado à situ- ação comunicativa em que o falante se encontra dá maior credibilidade às informações veiculadas e pode impressionar o interlocutor (KOCH, 2000). Veja por exemplo a frase apresentada a seguir: A terapia teve um efeito idiossincrático com prognóstico favorável em caso de pronta supressão. — Língua e Poder. Disponível em http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=10929 Essa frase, aparentemente enigmática para as pessoas que desconhecem o vocabulário médico, significa que “o remédio teve efeito contrário, mas não causará problemas se for suspenso logo”. Embora seu significado seja facilmente compreendido pela maior parte dos falantes de Língua Portu- guesa, a maneira como ela foi apresentada no exemplo dado conferiu-lhe maior imponência e importância. 6. argUmentO baseadO na COmparaçãO O argumento baseado na comparação estabelece um confronto entre duas realidades diferentes, seja no tempo, no espaço, nas características etc. Por exemplo: Julgamento do último ditador da Argentina lembra que por lá a auto- anistia não funcionou2 Anthony W. Pereira O julgamento de Bignone é um forte lembrete das diferenças entre o últi- mo regime militar argentino e a ditadura brasileira. (...) 2. Disponível em: http://search. creativecommons.or g/?q=compara%E7% E3o+brasil+e+argen tina&format=Text http://search.creativecommons.org/?q=compara%E7%E3o+brasil+e+argentina&format=Text http://search.creativecommons.org/?q=compara%E7%E3o+brasil+e+argentina&format=Text http://search.creativecommons.org/?q=compara%E7%E3o+brasil+e+argentina&format=Text http://search.creativecommons.org/?q=compara%E7%E3o+brasil+e+argentina&format=Text http://search.creativecommons.org/?q=compara%E7%E3o+brasil+e+argentina&format=Text Comunicação e Expressão / UA 07 Leitura e Análise de Texto: Argumentação 10 Uma segunda diferença importante em relação ao Brasil foi que a ten- tativa de autoanistia dos militares argentinos fracassou. (...) Uma terceira diferença é que, após a anistia ser anulada, os julgamentos dos perpetra- dores de violência sob o regime militar foram uma marca da democracia argentina. (...) 7. argUmentO baseadO na alUsãO HistóriCa O argumento baseado na alusão histórica retoma acontecimentos do pas- sado para explicar fatos do presente. Veja como esse tipo de argumento é utilizado no texto apresentado a seguir: A crise de 1929 e a de agora, 80 anos depois3 Além de errarem na avaliação e na duração da crise que começou nos EUA, os economistas cometeram 62 cálculos equivocados, o que garante a todos eles um possível ou suposto Prêmio Nobel da idiotice, combinado com o da imprudência e da incompetência. Só que, apesar de tudo, são ouvidos e seguidos. Também insistem em comparar 1929 com 2009, Roo- sevelt com Obama. Algumas coisas são parecidas, mas o que vale mesmo é a dessemelhança (“O quão dessemelhante”). 80 anos depois, juram que as crises são iguais. São parecidas pelo fato de envolverem muito dinhei- ro, aventureiros financeiros e nenhuma fiscalização. Todo o resto é diferente, inteiramente diferente. 3. Disponível em: http://search. creativecommons.or g/?q=compara%E7% E3o+brasil+e+argen tina&format=Text http://search.creativecommons.org/?q=compara%E7%E3o+brasil+e+argentina&format=Text http://search.creativecommons.org/?q=compara%E7%E3o+brasil+e+argentina&format=Text http://search.creativecommons.org/?q=compara%E7%E3o+brasil+e+argentina&format=Text http://search.creativecommons.org/?q=compara%E7%E3o+brasil+e+argentina&format=Text http://search.creativecommons.org/?q=compara%E7%E3o+brasil+e+argentina&format=Text antena pArAbóliCA Bons cenários para a observação de disputas argumen- tativas são os debates políticos. Um argumento político é um exemplo de uma argumentação lógica aplicada à política. Portanto, da próxima vez que assistir a um de- bate, preste atenção nos discursos pronunciados pelos candidatos, verificando se são exemplos de argumenta- ção ou de persuasão. Não se deixe enganar! e AgorA, José? Agora que você já sabe o que é argumentação, seus ti- pos e seu processo de construção nos textos, chegou a hora de aprender como utilizar esse conhecimento no processo de Produção de textos da área administrativa. Para tanto, na próxima aula, você aprenderá a produ- zir os principais textos referentes à sua área de atuação profissional como resumos, resenhas, paráfrases, cor- respondências organizacionais, propostas e projetos. Bons estudos e até a próxima aula! Comunicação e Expressão / UA 07 Leitura e Análise de Texto: Argumentação 12 glossário Argumento: todo procedimento linguístico que tem por objetivo persuadir, fazer o receptor aceitar o que lhe foi comunicado, crer no que foi dito e fazer o que foi proposto. Subprimes: mercado obrigacionista/de crédito imobiliário de menor qualidade. Alusão: referência. reFerênCiAs CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T. C. �Gramática re- flexiva: texto, semântica e interação. São Paulo: Atual, 2004. FIORIN, L. J.; SAVIOLI, F. P. �Lições de texto: lei- tura e redação. 6a ed. São Paulo: Ática, 2003. KOCH, I. V. �Argumentação e linguagem. 6a ed. São Paulo: Cortez, 2000. gestão empresarial comunicação e expressão Produção de textos da área administrativa: resumo, resenha e Paráfrase 8 ObjetivOs da Unidade de aprendizagemAo final da aula o aluno deverá ser capaz de distinguir formas de composição de textos citantes. COmpetênCias Conhecimento e capacidade de utilização da modalidade de textos citantes, como forma de resgatar, sintetizar, criticar e interpretar informações. Habilidades Produção de textos a partir de outros textos, utilizando as técnicas de elaboração de resenhas de textos e fatos, resumos e paráfrases explicativas. comunicação e expressão Produção de textos da área administrativa: resumo, resenha e Paráfrase ApresentAção Nesta aula, você conhecerá técnicas envolvidas na com- posição textual que tem como ponto de partida a com- preensão e a apreensão de textos alheios. As modalida- des envolvidas pertencem ao gênero dos textos citantes, mobilizando domínio de vocabulário e habilidade de dis- tinguir ideias e informações principais e secundárias. pArA ComeçAr Você se lembra daquele livro de muitas páginas que você devia ler e utilizar como base de um trabalho na escola? Lembra-se de como tentou fazer um resumo, que aca- bou ficando tão extenso que rivalizou com o tamanho do livro? Quem sabe você desistiu no começo da em- preitada e buscou “ajuda mágica” na internet... Se isso aconteceu, você não foi conquistado nem pelo livro, nem pela atividade que lhe foi proposta. Faltou, quem sabe, conhecer a importância das técnicas de aproximação e apreensão dos textos, que facilitam o desenvolvimento de várias tarefas, na escola ou no ambiente profissional. Vamos aprender, nesta aula, como trabalhar com tex- tos sobre outros textos – os resumos, as resenhas e a pa- ráfrase. Você vai constatar que já sabe muita coisa sobre o assunto e que não é nenhum bicho de sete cabeças. FundAmentos Vamos começar entendendo que essas três espécies de texto, os resumos, as resenhas e a paráfrase, têm uma característica comum: são textos que podem referenciar outros textos, ou seja, textos que contém citações de outros autores, isso é, exigidos sempre que houver ne- cessidade de registrar informações importantes contidas em outros textos, ou, no caso das resenhas, também em Comunicação e Expressão / UA 08 Produção de Textos da Área Administrativa: Resumo, Resenha e Paráfrase 4 fatos. Sua aplicação é bastante ampla: nas atividades acadêmicas, faze- mos uso dessas modalidades textuais quando temos de entender, com- pilar e reproduzir informações e ideias contidas em textos de várias mí- dias (livros, jornais, revistas, CD, CDV...) as quais mencionamos em nosso próprio texto. O mesmo ocorre nas organizações, quando preparamos uma apresentação de assuntos técnicos, quando interpretamos um ma- nual, registramos as ocorrências de uma reunião... enfim, serão diversas as ocasiões em que faremos uso desses textos. Vamos conhecer cada um deles. 1. resUmO Todos nós certamente já vivemos alguma situação em que precisamos resumir algo: pode ter sido naquele dia em que você teve de contar a seus pais por onde você andou, chegando a casa só depois das três da manhã. Sua habilidade em resumir foi demonstrada, pois você relatou o essen- cial de suas ações, de seus percurso e permanência fora de casa. Você de- monstrou habilidade em suprimir informações supérfluas, impertinentes ou indesejáveis, focando-se no principal. Na vida profissional, temos o desafio de resumir quando colocamos em uma ou duas folhas de papel as informações a nosso respeito, fazendo nosso Curriculum Vitae, ou quando nos apresentamos a um entrevista- dor, relatando a ele nossas qualificações profissionais, dados pessoais e habilidades. Então: sabemos ou não resumir? Em sua forma escrita e quando tem por fonte (ou objeto) um texto, o resumo é parte componente de Relatórios, Pareceres da correspondência organizacional (modalidades de texto que você estudará na Aula 9), bem como das atividades de estudo, nos cursos superiores. Vamos manter o foco na forma escrita do resumo, pois se trata de um método de estudo que aponta nossa maior ou menor capacidade de apreensão e compreensão de informações e conceitos. Os resumos se propõem apresentar com fidelidade às ideias ou aos fatos essenciais contidos num texto; as opiniões do autor do texto resu- mido são levadas em conta, devendo-se evitar comentário ou julgamento do texto-objeto. O resumo deve buscar o essencial e apresentá-lo com fidelidade. Mas deve-se evitar, a todo custo, a reprodução de trechos do texto resumido. Se o texto é narrativo, reduz-se ao essencial, o encade- amento de ações e relações entre personagens, expondo-se o esqueleto da intriga; se o texto é dissertativo, acompanha-se o desenvolvimento das ideias nele contidas. Comunicação e Expressão / UA 08 Produção de Textos da Área Administrativa: Resumo, Resenha e Paráfrase 5 Há um aspecto subjetivo na atividade de resumir: o leitor interage com o texto-fonte e seleciona aquilo que se mostrou mais importante; em ou- tras palavras, a mente do leitor escolhe informações, com base em sua capacidade de apreensão e, até, em suas preferências. Pode-se dizer que aquilo de que nos lembramos ao final da leitura de um texto já é um resu- mo dele formatado por nós. Quais estratégias podemos utilizar para produzir bons resumos? 1.1. Selecionar o eSSencial. Essa estratégia consiste em fazer da leitura do texto-fonte uma operação de “limpeza” do que não interessa. E como se faz isso? Destacando as in- formações principais, tais como conceitos e exemplos, seja copiando-as ou sublinhando-as no texto-fonte. 1.2. reeScrever o trecho ou texto, com baSe no eSSencial Selecionado. Vamos ao exemplo. Crise e oportunidade são representadas pelos mesmos ideogramas chineses, como se ouve muito em palestras inspiradoras para empresários. Segundo a velha sabedo- ria chinesa, o azar de uns pode ser a sorte de outros; o que, para uns, é desastre, para outros, é bênção. Quando querem dar uma ideia da crise econômica na Alemanha durante a re- pública de Weimar, sempre recorrem à mesma imagem: a hiperinflação era tama- nha que, para se comprar um pão na padaria, era preciso levar marcos num car- rinho de mão. O valor de tudo era medido em carrinhos de mão cheios de marcos, e eram necessários cada vez mais carrinhos de mão para carregar os marcos cada vez mais desvalorizados. É possível imaginar os carrinhos de mão engarrafando o trânsito nas ruas de Berlim. E todos se queixando da situação, dizendo que aquilo não podia continuar, que era preciso um governo forte para acabar com aquilo, que assim não dava mais, etc. Todos, menos o Kurt. O Kurt estava feliz. Enquanto à sua volta os outros per- diam dinheiro e se lamentavam, o Kurt prosperava e exultava. Sua pequena in- dústria crescera e não parava de crescer. Em vez de desempregar, Kurt empregava. E enriquecia em meio à crise. Como aquilo era possível? Kurt, claro, tinha a única fábrica de carrinhos de mão da Alemanha. — Luís Fernando Veríssimo, Crise e consequência. Bom Dia, 19/4/2009. Texto adaptado. Os trechos em negrito são o resultado da operação “limpeza” – as infor- mações essenciais estão destacadas. Para completar o ciclo, a próxima Comunicação e Expressão / UA 08 Produção de Textos da Área Administrativa: Resumo, Resenha e Paráfrase 6 operação da estratégia é reescrever, isto é, produzir o resumo. E ele nasce facilmente: Crise e oportunidade andam juntas, pois aquilo que é prejudicial a uns pode beneficiar outros. Exemplo disso ocorreu na Alemanha durante a República de Weimar, num período em que a inflação altíssima fazia as pessoas transportarem o dinheiro até à padaria em carrinhos de mão; mas nessa crise, um comerciante prosperou: o fabricante dos carrinhos. Podemos notar claramente que, nesse resumo, o essencial do texto foi mantido e as informações secundárias foram descartadas. Vamos observar, agora, o resumo de um texto da área de gestão. Milhares de pessoas dentro do universo empresarial estão insatisfeitas com a sua situação. Ou ganham pouco ou estão desajustadas no ambiente de traba- lho, têm atritos com chefesou mesmo frustram-se ante as remotas possibilida- des de crescimento profissional. Abate-se sobre elas uma terrível frustração, que vai corroendo seu ânimo e exaurindo suas energias. Que fazer? Deixar que o processo de obsolescência acabe por mergulhar a pessoa em uma depressão profunda, tomar uma grande decisão e mudar completamente de rumo ou encontrar meios e for- mas que, integradamente, possam tirar a pessoa do estado letárgico em que se encontra? Pessoalmente, sou favorável à última alternativa. É arriscado mudar radicalmente de posição, aconselhando-se o bom sendo de se procurar via mais ló- gica de medidas que venham soerguer paulatinamente a pessoa. — TORQUATO, Gaudêncio. O marketing do profissional. In: _____. Cultura, poder, comu- nicação e imagem – fundamentos da nova empresa. São Paulo: Pioneira, 2003. p. 91. Os trechos sublinhados indicam o essencial, que se resume a: Há, no meio empresarial, pessoas insatisfeitas, por causa de sua remune- ração, desajustamento, atritos com seus superiores ou falta de perspectiva de ascensão profissional. Diante disso, entre deixar essas pessoas se depri- mirem, levá-las a mudar completamente de rumo e encontrar meios de fazê- -las reerguer-se, o autor indica sua preferência pela terceira opção. Nossas considerações sobre os resumos devem ser completadas com a norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) sobre o as- sunto – a NBR 6028/2002, que traz a regulamentação da elaboração de resumos em trabalhos como monografias, artigos, relatórios e teses. De acordo com essa NBR, tais resumos devem ser redigidos em um único parágrafo, vir acompanhado de palavras-chave e ter número de palavras definido em função do tipo de trabalho (até 500 palavras, nas teses, dis- sertações e relatórios; até 250 palavras, nas monografias e artigos; até 100 palavras nas notas e comunicações breves). Comunicação e Expressão / UA 08 Produção de Textos da Área Administrativa: Resumo, Resenha e Paráfrase 7 Ainda segundo a NBR 6028/2002, os resumos podem ser informativos ou indicativos. Os informativos são aqueles que fornecem ao leitor infor- mações suficientes para que o leitor conheça o fundamental, mesmo sem ler o texto citado; é mais completo, portanto. Já os resumos indicativos não fornecem pormenores, apenas prestam algumas informações sobre o texto-fonte – é o caso dos resumos utilizados para dar notícia de pros- pectos, produtos (industriais ou comerciais), catálogos, manuais. Dica Conheça o texto integral da NBR 6028/2002. Ele é muito importante, pois, como norma, deverá direcionar o desen- volvimento de suas atividades acadêmicas. 2. resenHa Denomina-se resenha o texto elaborado com a finalidade de prestar in- formações acerca de fatos ou de outros textos. Encontram-se, portanto: → Resenhas de fatos, que se reportam a referentes reais, tais como reuniões, eventos (jogos, atos públicos, reuniões etc); e → Resenhas de textos, que se reportam a referentes textuais, como livros, artigos, filmes. As do tipo (1) são as resenhas descritivas, entre as quais estão as atas de reuniões e assembleias, os relatos (por exemplo, os acontecimentos, os acidentes), as descrições (de lugares, objetos, processos). Pode-se dizer que as resenhas do segundo tipo são textos que sinteti- zam e comentam outro texto. Na aula 9 você conhecerá com detalhes as atas, principal texto organi- zacional pertencente à categoria das resenhas descritivas; hoje, vamo-nos dedicar ao tipo (2), às resenhas que têm por objeto os textos – também chamados textos-fonte. No âmbito acadêmico, emprega-se o termo “resenha” para designar um tipo de texto produzido por cientistas e por estudantes: estes costu- mam fazer resenha como parte do exercício de compreensão e de crítica de um texto; aqueles têm por tarefa escrever resenhas de livros. Tais rese- nhas permitem fazer a seleção bibliográfica, parte das mais importantes na fundamentação dos trabalhos acadêmicos. Nesse caso, espera-se que uma resenha informe o leitor sobre o as- sunto tratado no livro, suas características especiais (se as tiver), o modo Comunicação e Expressão / UA 08 Produção de Textos da Área Administrativa: Resumo, Resenha e Paráfrase 8 como o assunto é tratado, se é interessante e agradável, se o leitor deve possuir algum conhecimento prévio para lê-lo, se a organização do livro é boa, se terá utilidade para quem o ler, se tem vínculos com outros tex- tos. É nesse sentido que se diz que uma resenha é crítica, não porque ela traz comentários irônicos ou mordazes. Nessa modalidade de resenha, o autor analisa o texto resenhado, comentando-o, apontando qualidades, falhas, filiações ideológicas etc. Recomenda-se que os pontos mais importantes do texto resenhado estejam no início da resenha, que deve conter os seguintes dados: título (e subtítulo) do livro, nome(s) do(s) autor(es) ou do(s) organizador(es), data de publicação, número da edição (a partir da segunda), editora, local da publicação, número de páginas, número de tabelas, figuras e fotos, preço da obra. Mas não é só o texto-livro que pode ser resenhado. Por certo você já leu uma resenha que tem por objeto um game, um CD de sua banda pre- ferida, um DVD recém-lançado, etc. Os diversos gêneros midiáticos têm produtos que originam resenhas críticas – é com base nelas que nos inte- ressamos ou não pelo objeto, decidindo se vale ou não a pena comprá-lo ou fruí-lo. Note que, para fazer uma resenha, você deve saber como fazer um re- sumo, visto que há uma substancial participação do resumo na apresen- tação do produto-texto ao leitor da resenha. Por isso você primeiramente aprendeu a compor resumos. Vamos comentar, agora, um tipo de texto muito útil para a realização de atividades acadêmicas – a Ficha de leitura; também chamada de Fi- cha de Documentação Bibliográfica, combina descrição e resumo. A parte descritiva contém: → Título da obra ou artigo; → Nome do(s) autor(es); → Editor ou publicação e coleção (se for o caso); → Lugar e data de publicação; → Número de volumes e de páginas (quando for o caso); → Descrição sumária da estrutura (divisão em livros, capítulos) e; → Indicação de língua original (quando estrangeira) e nome do tradutor (em caso de tradução). A parte resumitiva é constituída de: → Indicação sumária do assunto tratado (conteúdo da obra); → Ponto de vista adotado pelo autor (tom, método, gênero); Comunicação e Expressão / UA 08 Produção de Textos da Área Administrativa: Resumo, Resenha e Paráfrase 9 → Resumo expondo o essencial, de acordo com o plano geral do texto; → Comentários pessoais ou observações, se necessário. 3. parÁFrase Segundo o dicionário Houaiss Eletrônico, paráfrase é “interpretação ou tra- dução em que o autor procura seguir mais o sentido do texto que a sua letra”, “interpretação, explicação ou nova apresentação de um texto”. O termo vem do grego para-phrasis (repetição de uma sentença). Na Antiguidade clássica empregava-se a paráfrase para transpor em prosa um texto em verso, desenvolvendo-o ou abreviando-o. Hoje, a pa- ráfrase é o desenvolvimento explicativo, interpretativo, de um texto. O termo é empregado para designar o desenvolvimento explicativo de um texto, de uma expressão ou de outra palavra. Pode-se considerar a paráfrase uma espécie de “tradução” dentro da própria língua – é, pois, um texto que esclarece o conteúdo de outro, conservando as informações essenciais do original. Note que o conteúdo do texto parafraseado permanece. O que muda é apenas a forma, o modo de dizer – mudam as palavras, mas se preservam as informações do texto parafraseado. Reiterando: paráfrase é citação do conteúdo do discurso alheio, mu- dando-se as palavras, o estilo (vocabulário e estrutura de frase). Observar que a paráfrase deve evidenciar o pleno entendimento do texto original. antena pArAbóliCA Utilize as técnicas que aprendeu nesta aula para praticar a elaboração de fichas de leitura, resumos e paráfrases, no contexto de seustrabalhos acadêmicos durante as outras disciplinas e trabalhos que terá pela frente. e AgorA, José? Muito bem. Agora que você já domina as informações e técnicas de apropriação de outros textos pelas mo- dalidades estudadas nesta unidade (resenha, resumo e paráfrase), você poderá conhecer textos da área admi- nistrativa que demandam o domínio prévio dessas téc- nicas. Nas próximas aulas, você terá contato com tais textos, para desempenhar da melhor maneira possível suas atividades profissionais nas corporações em que vier a atuar. Bons estudos! Comunicação e Expressão / UA 08 Produção de Textos da Área Administrativa: Resumo, Resenha e Paráfrase 11 glossário Artigo: texto que constitui uma unidade numa publicação; texto de caráter científico ou tecnológico para publicação em livros, revis- tas, anais de congressos etc. Dissertação: neste contexto, denominação da monografia produzida no final de cursos de pós-graduação, a qual o aluno tem de de- fender diante de uma banca para obter o título de Mestre. Monografia: trabalho escrito acerca de um de- terminado assunto. Tese: denominação da monografia produzida no final de cursos de pós-graduação, a qual o aluno tem de defender diante de uma banca para obter o título de Doutor. reFerênCiAs ANDRADE, M. L. O. �Resenha. São Paulo: Paulis- tana, 2006. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. �Resumos. NBR 6028/2002. Rio de Janeiro. GARCIA, O. M. �Comunicação em prosa moder- na. 18a ed. Rio de Janeiro: FGV, 2000. LEITE, M. Q. �Resumo. São Paulo: Paulistana, 2006. gestão empresarial comunicação e expressão CorrespondênCia organizaCional: Carta ComerCial, ata e e-mail 9 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula o aluno deverá ser capaz de distinguir as várias formas de comunicação organizacional e suas situações de uso. COmpetênCias Conhecimento e capacidade de utilização das várias for- mas de comunicação organizacional como ferramenta estratégica nas relações profissionais. Habilidades Compreender a importância da comunicação nas organi- zações, saber utilizar as diferentes formas da comunica- ção organizacional para o marketing pessoal, networking negociação e gerenciamento de conflitos. comunicação e expressão CorrespondênCia organizaCional: Carta ComerCial, ata e e-mail ApresentAção Nesta aula, você conhecerá a importância da comunica- ção nas organizações. Além disso, aprenderá a utilizar as diferentes formas da comunicação organizacional para o marketing pessoal, networking negociação e gerencia- mento de conflitos. pArA ComeçAr Você já percebeu como uma pequena falha no proces- so de comunicação dentro de uma empresa pode gerar consequências desastrosas? Embora, muitas vezes, pareça irrelevante, o modo como o processo de comunicação organizacional é ad- ministrado está diretamente relacionado com o padrão de eficácia de uma empresa, sendo fundamental para que se alcancem as metas relacionadas à produtividade e à longevidade. Por isso, neste capítulo aprenderemos o que é comu- nicação organizacional e três dos principais documentos desse tipo de comunicação: a carta comercial, a ata e o e-mail. Vamos começar? FundAmentos A comunicação organizacional é a comunicação pratica- da nas organizações para conduzir as ações e alcançar os resultados desejados, sendo parte integrante da maioria das atividades realizadas pelos colaboradores que nelas atuam. Esse tipo de comunicação pode ser utilizada nos am- bientes internos e externos à organização. Internamente, é usada entre funcionários e se caracteriza pela nature- za administrativa e operacional, destinando-se a produ- zir ações e provocar resultados. No ambiente externo, Comunicação e Expressão / UA 09 Correspondência Organizacional: Carta Comercial, Ata e E-mail 4 caracteriza-se pela natureza administrativa e negocial, sendo praticada na comunicação com clientes, fornecedores, concorrentes e quaisquer ou- tras entidades com as quais a organização se relaciona. A comunicação organizacional praticada no ambiente interno das em- presas é responsável por manter a união e a coesão dos recursos huma- nos em torno das atividades produtivas e na direção das metas estabele- cidas (MACHADO NETO, 2003). ConCeito A comunicação organizacional compreende um conjunto de atividades, ações, estratégias, produtos e processos desen- volvidos para criar e manter a imagem de uma organização junto aos seus públicos de interesse. Carta, ata e e-mail A carta comercial, a ata e o e-mail são três dos principais documentos utilizados na comunicação empresarial. A opção por um desses documen- tos depende do objetivo da mensagem e de seu destinatário, conforme veremos a seguir. 1. Carta COmerCial A carta comercial é um tipo de comunicação escrita endereçada a uma ou várias pessoas com o objetivo de transmitir uma mensagem que seja facil- mente compreendida e leve o receptor à ação. Portanto, deve ser escrita em linguagem clara, simples, objetiva, concreta, correta e sua elaboração deve obedecer a uma série de regras que regulamentam a confecção des- se tipo de documento (MEDEIROS, 2001). 1.1 Formato Quanto ao formato, a carta comercial deve seguir as seguintes orienta- ções: → Papel de 21 x 29,7 cm, ou 215,9 mm x 279,4 mm. → O texto deve ser impresso em um só lado do papel. → Margem direita: 2 cm; margem esquerda: 3 cm; margem superior: 2 cm; margem inferior: 2 cm. → Espaço: 1 e ½. Entre os parágrafos, é costume duplicar esse espaço interlinear. Comunicação e Expressão / UA 09 Correspondência Organizacional: Carta Comercial, Ata e E-mail 5 → O vocativo de uma carta, a expressão utilizada para chamar o inter- locutor, deve vir acompanhado de dois-pontos. Tendo em vista a objetividade e a rapidez exigidas nos dias de hoje, é fundamental que o texto prime pela clareza, pela apresentação das ideias em uma sequência lógica e pelo vocabulário exato. Sendo assim, é impor- tante que, antes de iniciar a redação, você: → Tenha um objetivo em mente; → Coloque-se no lugar de quem vai receber a carta; → Tenha à disposição informações suficientes sobre o assunto a ser tratado; → Planeje a estrutura do texto, seu começo, meio e fim; → Conheça o significado de todas as palavras utilizadas; → Saiba tratar o assunto com propriedade, conhecendo-o profunda- mente; → Selecione fatos para usar como argumentos; → Evite o uso de opiniões e julgamentos pessoais; → Reflita adequada e suficientemente sobre o assunto; → Seja natural, conciso e correto; → Use linguagem de fácil compreensão; → Responda a todas as perguntas que eventualmente tenham sido fei- tas pelo destinatário. Atenção A linguagem empolada, rebuscada é causa, muitas vezes, de obstáculo à comunicação. Portanto, o redator de cartas comerciais deve optar por palavras conhecidas e formas sim- ples para ser compreendido e obter uma resposta. Seu obje- tivo é ser claro mais do que causar boa impressão. Depois de redigir o texto, você deve considerá-lo como um rascunho que deve ser lido e corrigido até se encontrar uma forma adequada e que seja compreensível ao receptor. Nesse processo de correção, vale atentar para alguns enganos costu- meiros que devem ser evitados: → Estilo: evitar vocabulário rebuscado, períodos excessivamente longos, neologismos, estrangeirismos e frases de efeito (sobretudo latinas); Comunicação e Expressão / UA 09 Correspondência Organizacional: Carta Comercial, Ata e E-mail 6 → Abreviações: sempre que possível, as abreviações devem ser evita- das. Escreva por extenso; → Frases feitas: são expressões desaconselháveis, porque são inúteis como, por exemplo: venho por meio desta; → Escrita de algarismos: o procedimento de digitar o número seguido do numeral entre parênteses é inútil. Ou uma coisa ou outra, mas a preferência é pelo número; → Despedida: evitar expressões como não tenho nada mais para o mo- mento, que se constitui uma obviedade; → Pontuação: Deve-se colocar ponto finalapós local e data e dois-pon- tos ou vírgula após a saudação inicial (Prezado Senhor:); → Gramática: Devem-se evitar expressões como: Em anexo; Face à e Pedimos para. Tais expressões devem ser substituídas, respectiva- mente, por: Anexo(a); Em face de e Solicitamos que. Veja, a seguir, um exemplo de uma carta comercial redigida como respos- ta a uma consulta feita a uma empresa: São Paulo, 20 de outubro de 2020. Senhores: Em atenção a sua consulta sobre imóveis industriais, temos o prazer de anexar à presente relatório de alguns imóveis que se acham à venda por intermédio de nosso escritório. Maiores esclarecimentos a respeito dos imóveis relacionados poderão ser prestados pelo Sr. Fulano de Tal, que está pronto para atendê-lo. Queremos ainda frisar que as condições constantes no relatório estão sujeitas a alterações sem aviso prévio. Atenciosamente, Sicrano de Tal, Diretor. Comunicação e Expressão / UA 09 Correspondência Organizacional: Carta Comercial, Ata e E-mail 7 2. ata A ata é um documento no qual se registra o que se passou em uma reu- nião, assembleia ou convenção (MARTINS, 2000). Há dois tipos de ata: a ordinária e a extraordinária. A ata ordinária é aquela que resulta de reuniões estabelecidas em es- tatutos ou convocadas com regularidade. A extraordinária ocorre fora das datas costumeiramente previstas. Como a ata é um documento de valor jurídico, sua elaboração deve obedecer a algumas normas: → Deve ser lavrada em livro próprio ou em folhas soltas de tal modo que impossibilite a introdução de modificações; → Quando lavrada em livro próprio, este deve conter um termo de abertura e um termo de encerramento, assinados pela autoridade máxima da entidade; → Deve sintetizar de maneira clara e precisa as ocorrências verificadas na sessão; → Na ata do dia, são consignadas as alterações feitas à ata anterior; → O texto, digitado ou manuscrito, não pode apresentar rasuras; → O texto deve ser compacto, sem parágrafos ou com parágrafos nu- merados, mas não se deve fazer uso de alíneas; → Se manuscrito, nos casos de erros constatados no momento de redigi- -la, emprega-se a partícula corretiva “digo”, retificando o pensamento; → Quando o erro for notado após a redação de toda a ata, recorre-se à expressão “em tempo”. Exemplo: Em tempo: na linha 10 onde se lê “pote”, leia-se “bote”; → Os números devem ser grafados por extenso e as abreviações de- vem ser evitadas; → Quando ocorrem emendas à ata ou alguma contestação oportuna, a ata só será assinada após aprovadas as correções; → A ata deve ser redigida por um secretário efetivo. No caso de sua ausência nomeia-se outro secretário (ad hoc) designado para essa ocasião; → A ata deve ser assinada por todas as pessoas presentes à sessão ou, quando deliberado, apenas pelo presidente e pelo secretário. Comunicação e Expressão / UA 09 Correspondência Organizacional: Carta Comercial, Ata e E-mail 8 2.1 termo de abertura Contém este livro 100 (cem) folhas numeradas a máquina de 1 (um) a 100 (cem), por mim rubricadas, e se destina ao registro das Atas das Reuniões da Diretoria da Sociedade ����, com sede, nesta capital, na Rua ��������������������������������������, nº ������ . A minha rubrica é a seguinte: ������������������������������������������ São Paulo, ����������� de ������������������ de ����������� Presidente: ���������������������������������������������������������������� (Assinatura)������������������������������������������������������������������������������� (Nome em letra de forma) 2.2 termo de Fechamento Contém este livro 100 (cem) folhas numeradas a máquina de 1 (um) a 100 (cem), que, rubricadas pelo Presidente ����������������� ������������������������������������� destinaram-se ao registro das Atas das Reuniões da Diretoria da Sociedade ����������������������� ������������������������������������� conforme se lê no Termo de Abertura. São Paulo, ����������� de ������������������ de ����������� Presidente: ���������������������������������������������������������������� (Assinatura)������������������������������������������������������������������������������� (Nome em letra de forma) Devem constar de uma ata: → Dia, mês, ano e hora da reunião (por extenso); → Local da reunião; → Declaração do presidente e do secretário; → Ordem do dia; → Fecho; → Assinatura de presidente, secretário e participantes. Comunicação e Expressão / UA 09 Correspondência Organizacional: Carta Comercial, Ata e E-mail 9 2.3 modelo de Fecho … Nada mais havendo a tratar, Fulano de Tal agradece a presença do Senhor X, do Senhor Y, das demais autoridades presentes declara encerrada a reunião, da qual eu, ������������������������������, Secretário em exercício, lavrei a presente ata, que vai assinada pelo Senhor Presidente e por mim. São Paulo, ����������� de ������������������ de ����������� Fulano de Tal, Presidente. Fulano de Tal, Secretário. Veja, a seguir, um exemplo de ata: ATA DA REUNIÃO DA DIRETORIA RAZÃO SOCIAL: �������������������������������������������������������������������������������������� CNPJ: �������������������������������������������������������������������������������������������������� Aos _____________ ( ____ ) dias do mês de __________________ de 20____ , às ___________________ ( �������� ) horas, na sede social, sita nesta capital, na rua ����������������������������� ���������������� , nº ������� , reuniram-se os diretores de ������������������������������� , sob a presidência do Sr. ��������������������������������������������������������� , Diretor- Administrativo, que convidou a mim, ��������������������������������������������������������� , para secretariar a sessão. Abrindo os trabalhos, o Sr. Presidente fez ampla exposição da situação da sociedade e da necessidade de ampliar as suas atividades e aparelhar- se para melhor atender ao seu crescente desenvolvimento, dizendo da necessidade de instalar-se uma filial na cidade de ______________________________________ . Com a palavra, o Sr. ��������������������������������������������������������� , Diretor-Comercial, tendo por base a exposição do Sr. Presidente, propôs que se abrisse uma filial no ________________________ �������������� , já estando a Diretoria em entendimentos para a locação do prédio onde irá funcionar a referida filial, o de nº _______ da rua __________________________________________ , tudo conforme proposta já apresentada e em poder da mesa, sugerindo e propondo também que se atribuísse o capital de R$ ������������������ ( ���������������������������� _____________________________ reais) para a filial. Posta em discussão a proposta, sobre a mesma falou o Sr. ��������������������������������������������������������� , Diretor-Financeiro da sociedade, apoiando-a e fazendo sentir à Diretoria que o assunto era de caráter urgente, pois a expansão da sociedade estava a exigir medidas concretas e urgentes para o seu desenvolvimento. Posta em votação a proposta do Sr. ������������������������ ��������������������������������� , foi ela aprovada por unanimidade. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente suspendeu os trabalhos pelo tempo necessário para a lavratura desta ata. Reabertos os trabalhos, foi esta ata lida e, achada conforme, aprovada por todos os presentes. ������������������������������������������������� , ����������� de ������������������ de ����������� ������������������������������������������������� (Diretor Administrativo) ������������������������������������������������� (Diretor Comercial) Comunicação e Expressão / UA 09 Correspondência Organizacional: Carta Comercial, Ata e E-mail 10 3. e-mail (mensagens eletrôniCas) E-mail é um método que permite compor, enviar e receber mensagens por meio de sistemas eletrônicos de comunicação. O termo e-mail é apli- cado tanto aos sistemas que utilizam a Internet, como àqueles sistemas conhecidos como intranets, que permitem a troca demensagens dentro de uma empresa ou organização. Por ser um veículo de comunicação relativamente novo nas organi- zações, sua linguagem adequada ainda não possui regras ou princípios estabelecidos. Isso faz com que poucas organizações se preocupem em normalizar o uso desse veículo de comunicação. O resultado é que a co- municação por correio eletrônico vem sendo feita, muitas vezes, de forma desordenada e desestruturada, causando sérios prejuízos à imagem das organizações e seus colaboradores (MEDEIROS, 2001). Tendo isso em vista, são apresentadas a seguir algumas orientações que devem guiar a elaboração de uma mensagem eletrônica. → Tenha foco: o mais importante é saber o que se tem a comunicar e qual o objetivo; → Considere o nível de conhecimento de seu interlocutor: saiba que incorreções na escrita podem trazer sérios prejuízos a você, pois transmitem uma imagem ruim de sua pessoa; → Linguagem: utilize uma linguagem coloquial, mas respeitosa e gentil; → Priorize a objetividade: quanto mais curta uma mensagem melhor ela é, evitando-se o risco de ser obscuro, repetitivo e irrelevante. Se a mensagem ultrapassar o limite de três parágrafos, seu veículo ade- quado não é o e-mail, mas uma carta; → E-mail para alguém de um nível hierárquico superior ao seu: seja breve e diga apenas o necessário, sem formalismo, mas com res- peito e polidez. Em geral, essa comunicação é feita para comunicar ações já realizadas e seus resultados. Se precisar de mais do que dois parágrafos para redigi-la, cuidado! Você corre o risco de estar comunicando o que interessa a você e não ao seu leitor; → E-mail para alguém de um nível hierárquico igual ao seu: vá dire- to ao ponto. Quanto mais objetivo e direto, melhor. Tome cuidado apenas para não parecer impositivo e formal em demasia; → E-mail para alguém de um nível hierárquico inferior ao seu: nes- se caso a dica também é ser breve e dizer apenas o necessário, sem formalismo, mas com respeito e polidez. Geralmente, essa comuni- cação é feita para solicitar informações ou orientar subordinados sobre ações em andamento. Se o texto precisar de mais de dois http://pt.wikipedia.org/wiki/Eletr%C3%B4nica http://pt.wikipedia.org/wiki/Internet http://pt.wikipedia.org/wiki/Intranet Comunicação e Expressão / UA 09 Correspondência Organizacional: Carta Comercial, Ata e E-mail 11 parágrafos para ser escrito, faça um memorando ou uma circular e envie como Anexo; → Estrutura: o texto deve apresentar um assunto, ter um vocativo (saudação inicial), a mensagem propriamente dita, uma despedida respeitosa e assinatura (nome do remetente); → Clareza: a mensagem não pode ser excessivamente aberta, com ter- mos imprecisos, como semana que vem, depois do feriado, final do mês, de manhã etc. Substitua todas as expressões que você perceber que podem gerar dúvidas; → Formatação: evite o excesso de destaque, como o uso de letras maiúsculas, itálico, sublinhado, negrito, aspas, fontes coloridas e outros recursos que podem ofuscar o objetivo da mensagem. antena pArAbóliCA O mau uso dos meios de comunicação empresarial pode acarretar sérios problemas para as organizações e seus colaboradores. Como profissional você estará sujeito a cometer essas falhas e dependendo do grau do proble- ma ocasionado pode gerar até demissões por justa cau- sa, para evitar que isso ocorra, seja cuidadoso, atencioso e tenha bom senso ao se comunicar em seu trabalho. e AgorA, José? Agora que você já sabe o que é comunicação organiza- cional e como se escrevem cartas comerciais, e-mails e atas, chegou a hora de aprender outros tipos de docu- mentos utilizados nas organizações. Para tanto, na pró- xima aula, você aprenderá a produzir também Relatórios e Pareceres. Até a próxima aula! Comunicação e Expressão / UA 09 Correspondência Organizacional: Carta Comercial, Ata e E-mail 13 glossário Rebuscado: bastante aprimorado; esmerado, requintado. Neologismo: emprego de palavras novas, deri- vadas ou formadas de outras já existentes, na mesma língua ou não. Estrangeirismo: palavra ou expressão estran- geira. Alínea: primeira linha de um novo parágrafo. Ad hoc: pessoa designada, nomeada para exe- cutar determinada tarefa. Memorando: mensagem escrita, breve e infor- mal, usada como instrumento de comunica- ção administrativa, em impresso apropriado, geralmente em correspondência interna nas organizações. Circular: comunicação escrita de interesse co- mum, que é reproduzida em vários exem- plares e transmitida a diferentes pessoas ou entidades. reFerênCiAs MACHADO NETO, O. Competência em comu- nicação organizacional escrita: o manu- al da comunicação escrita utilizada nas empresas: novas técnicas, parâmetros e princípios para o planejamento e a pro- dução da comunicação escrita na ativi- dade profissional. Rio de Janeiro: Quality- mark, 2003. MARTINS, D. S.; ZILBERKNOP, L. S. Português instrumental. 21. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2000. MEDEIROS, J. B. Correspondência: técnica de comunicação criativa. 14a ed. São Paulo: Atlas, 2001. gestão empresarial comunicação e expressão CorrespondênCia organizaCional: relatório, pareCer, proposta e projeto 10 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula o aluno deverá ser capaz de distinguir as várias formas de comunicação organizacional e suas situações de uso. COmpetênCias Conhecimento e capacidade de utilização das várias for- mas de comunicação organizacional como ferramenta estratégica nas relações profissionais. Habilidades Compreender a importância da comunicação nas Organizações e saber utilizar as diferentes formas da comunicação organizacional para o marketing pessoal, networking, negociação e gerenciamento de conflitos. Transformar conjuntos de ideias em textos realistas e consequentes. comunicação e expressão CorrespondênCia organizaCional: relatório, pareCer, proposta e projeto ApresentAção Gestores escrevem bastante, mas habilidades e compe- tências na comunicação e na expressão escrita são tes- tadas e exercidas ao máximo na redação de documentos organizacionais. Nesta aula, você aprenderá as várias formas de comu- nicação organizacional e suas situações de uso. Apren- derá ainda a elaborar Relatórios, Pareceres, Propostas e Projetos, documentos que podem ser utilizados como ferramentas estratégicas nas relações organizacionais. A redação desses tipos de documentos deve ser concisa, organizada e clara. Em relação à elaboração de Proposta ou de Projeto é indispensável, por exemplo, situar esses documentos em um contexto sem despender mais que algumas frases. Esta aula mostra algumas técnicas en- volvidas nessa redação e fornece roteiros básicos. pArA ComeçAr Você já parou para pensar em quantas pessoas altamen- te qualificadas estão desempregadas nos dias de hoje? Com a grande oferta de mão de obra em algumas áreas, hoje é comum os funcionários serem selecionados pela demonstração de sua competência mais do que por um currículo extenso. Na área administrativa, uma das competências mais exigidas na contratação de um funcionário corresponde à sua capacidade de comunicação por meio da utilização da correspondência organizacional. Depois de estudar- mos a carta, a ata e o e-mail, chegou a hora de reconhe- cer e de aprender a elaborar outros documentos igual- mente importantes: o Relatório, o Parecer, a Proposta e o Projeto. Vamos começar? Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 4 FundAmentos Entre as características exigidas dos documentos que fazem parte da cor- respondência organizacional estão a clareza e a brevidade. Tão importante quanto a clareza e a brevidade são o respeito e a poli- dez ao se relacionar com seus colegas de trabalho. Portanto, essas serão também características exigidas ao se elaborarem Relatórios e Pareceres, documentos que têm em comum o fato de apresentarem uma visão bas- tante pessoal dos fatos relatados.ConCeito Relatório é uma exposição minuciosa dos fatos colhidos por meio da observação de uma determinada situação. Parecer é a opinião dada por alguém acerca de determi- nado assunto. 1 relatóriO O Relatório é um documento por meio do qual se expõe um ou vários fatos, em que se discriminam seus aspectos e elementos. É, geralmente, dirigido ao superior hierárquico e dele consta exposição circunstanciada sobre atividades em função do cargo que exerce o relator. Depois de lido e examinado, esse documento é arquivado. Desse modo, ele constitui-se um documento importante, disponível, a qualquer tempo, para consulta da organização. Decorre daí a necessidade de as pessoas encarregadas de sua elaboração aprimorarem ao máximo sua execução, obedecendo a algumas normas básicas que darão coerência ao documento, tornando-o claro, fácil de ser consultado e substancial (MAR- TINS, 2000). 1.1 Normas para elaboração de um relatório → Questões essenciais: antes de redigir o Relatório, o autor deve ela- borar um esquema, respondendo às seguintes questões: O quê? Por quê? Quem? Onde? Quando? Como? Quanto? E daí? → Extensão: a extensão do relatório vai depender da importância dos fatos relatados. No entanto, sempre que possível, convém evitar a elaboração de documentos muito longos, pressupondo que ele é feito exatamente para economizar o tempo da pessoa que o lê. Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 5 → Formato: deve-se usar, preferencialmente, papel com as seguintes di- mensões: 21 x 29,7 cm. A impressão deve ser feita de um só lado do papel. As margens superiores e inferiores deverão ter 2,5 cm; à esquer- da, 4 a 4,5 cm, para permitir a perfuração e a colocação em pastas, e, à direita, 2 cm. O título deverá ser grafado sempre em letra maiúscula. → Linguagem: sem omitir qualquer dado importante, a linguagem deve ser objetiva, despojada, precisa, clara e concisa. → Redação: o documento deve ser redigido de modo simples, com boa pontuação e ortografia padrão. → Objetividade: deve-se evitar, ao redigir o documento, a utilização de rodeios, floreios de linguagem e literatices, pois sua qualidade essencial deve ser a clareza. → Exatidão: as informações devem ser precisas, não deixando quais- quer dúvidas quanto aos dados apresentados. 1.2 partes de um relatório Uma sugestão para a montagem de um relatório é dividi-lo nas seguintes partes (MACHADO NETO, 2003): → Título: sintético e objetivo, deve dar uma ideia do todo; → Objeto: introdução ao problema, objetivo do trabalho; → Delimitação: mencionar o que deixou de ser abordado e por quê; → Referências: fontes de consulta; → Texto principal: observações, dados, números, comentários; → Conclusões: resumo, resultados e constatações; → Sugestões: providências recomendadas. 1.3 tipos de relatório Relatórios Organizacionais podem ser basicamente de dois tipos: Relató- rios Gerenciais e Relatórios de Projetos. 1.3.1 Relatórios Gerenciais Os Relatórios Gerenciais são diretos, concisos, objetivos e podem conter uma recomendação ou uma conclusão. São apresentados a seguir quatro tipos mais comuns de Relatórios Gerenciais: situacional, de reunião, de auditoria e de viagem. Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 6 1.3.2 Relatório Situacional (status report) → Descrição: documento de caráter informativo que descreve o que ocorreu em um determinado período, em relação a uma ou mais ações, projeto, tarefa ou atividade, de rotina ou especial. → Estrutura: → Abertura: resumo da situação anterior, o que deveria acontecer no período e por quê. → Corpo: o que foi realizado e por quê. → Fechamento: o que aconteceu e como está agora; em que fase se encontra; quais foram os resultados alcançados; o que falta alcan- çar; qual é o prognóstico em relação ao alcance da meta fixada. 1.3.3 Relatório de Reunião → Descrição: documento de caráter informativo que descreve o resulta- do de uma reunião, o que foi discutido, definido e os próximos passos. → Estrutura: → Abertura: a finalidade da reunião e sua pauta; → Corpo: o que foi decidido para cada item da pauta; quais os res- ponsáveis designados para conduzir as ações e os prazos estabe- lecidos; quais os resultados esperados; → Fechamento: próximos passos para que se alcance o resultado. 1.3.4 Relatório de Auditoria ou Inspetoria → Descrição: documento que detalha os trabalhos de verificação rea- lizados para avaliar se operações, processos e procedimentos estão em conformidade com normas, regulamentos e políticas. → Estrutura: → Abertura: a finalidade do relatório; → Corpo: o que foi verificado em relação a cada item e o que foi encontrado; → Fechamento: as conclusões específicas do auditor sobre suas verificações, os responsáveis por efetuar correções e os prazos alocados a cada um. Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 7 1.3.5 Relatório de Viagem → Descrição: documento de caráter informativo que descreve os acon- tecimentos principais de uma viagem de trabalho. → Estrutura: → Abertura: finalidade da viagem e o programa de trabalho; → Corpo: o que foi realizado em relação a cada item do programa e os resultados alcançados; → Fechamento: conclusões gerais, eventuais responsáveis por conduzir as ações e os prazos estabelecidos para isso, os próxi- mos passos para que se alcancem os resultados que motivaram a viagem. → Processo de produção do corpo do relatório gerencial → 1º parágrafo: deve ser iniciado com um período com frases posi- tivas e polidas sobre a empresa. Isso demonstra reconhecimento e favorece a recepção da mensagem. → 2º parágrafo: é constituído por dois até quatro períodos sobre o problema ou a situação que originou o relatório, descrevendo-o resumidamente. → 3º parágrafo: é a descrição do objetivo do relatório. A frase inicial deve ser “O objetivo deste relatório é...”. → 4º parágrafo: aborda os principais aspectos ligados ao problema ou situação. Contém exemplos explicações, testemunhos, compa- rações e contrastes, dados e fatos e, principalmente, os resulta- dos provocados pelo problema ou situação. Ao citar cada aspecto, o redator deve sempre procurar comprová-lo, o que pode ser fei- to com quadros, gráficos, tabelas etc. → 5º parágrafo: é reservado às recomendações. A frase que inicia o período é “O Relatório recomenda que...”. O texto que o completa explica as razões que justificam a recomendação. 1.3.6 Relatórios de Projetos Diferentes dos Relatórios Gerenciais, os Relatórios de Projetos são instru- mentos de controle da alta administração. São longos, descrevem por- menorizadamente uma situação ou um problema e oferecem ao leitor todos os aspectos relacionados sob a forma de informações e ideias. Po- dem ser Reativos quando oferecem uma recomendação para a solução do problema ou situação. Podem ser Conclusivos quando diagnosticam Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 8 determinada situação ou problema e oferecem conclusões. Geralmente, são utilizados por consultorias profissionais. Os Relatórios de Projetos são redigidos em uma ordem diferente: pri- meiro a parte intermediária, o corpo; depois a parte final, o fechamento; por último, a parte inicial, a abertura. O corpo é redigido primeiro porque é a parte na qual o redator insere e desenvolve as ideias e informações que constituem o assunto-chave do relatório e porque é a parte mais árdua e mais trabalhosa do relatório, exigindo mais tempo e raciocínio. → Estrutura O Relatório de Projetos é estruturado em seis segmentos, chamados seções: a. Seção do Problema ou Situação: é a primeira a ser redigida. i. Deve ser iniciada por um título interessante e esclarecedor so- bre o problema ou situação (onde surgiu, como surgiu, por quesurgiu, o que afetou ou está afetando). ii. Após o título, deve-se descrever o problema ou situação deta- lhadamente. iii. Terminada a descrição, devem-se abordar em detalhes os as- pectos ligados ao problema ou à situação, utilizando-se exem- plos, explicações, testemunhos, comparações etc. iv. Ao final dessa seção, deve-se encerrar com a descrição dos re- sultados provocados pelo problema ou situação. b. Seção da Solução: é a segunda a ser redigida. i. Deve ter um título interessante e esclarecedor sobre o caminho da solução apresentada. ii. O primeiro período dessa seção deve mostrar de onde surgiu a solução, como surgiu e o que ela fará em benefício da solução do problema. iii. Após esse período deve-se descrever a solução em detalhes, antecipando todas as objeções e respondendo a todas as per- guntas que o leitor possa fazer. iv. Ao final dessa seção, deve-se encerrar descrevendo cada um dos benefícios que serão alcançados. Tais benefícios devem ser redigidos na ordem do mais para o menos importante, sempre apoiados com o seu porquê. Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 9 c. Seção da Introdução: é o início do corpo do relatório e a terceira parte a ser redigida. i. Deve ser curta, tendo, no máximo, três parágrafos. ii. O texto deve esclarecer o assunto ao leitor, por meio de um breve histórico sobre o que originou o problema. d. Fechamento: quarta parte a ser redigida i. Deve colocar em evidência os principais pontos descritos no corpo do relatório. ii. Deve listar os principais pontos do problema e, em seguida, os pontos da solução iii. A conclusão deve ser redigida em um único parágrafo. e. Recomendações: é a quinta parte a ser redigida. i. Deve dizer claramente ao leitor o que deve ser feito. ii. Deve ser escrito de maneira afirmativa para não deixar dúvidas. iii. Seus períodos devem começar com verbos no infinitivo (reali- zar, crescer, mudar etc). iv. As recomendações devem ser escritas em forma de lista. f. Abertura: é a última parte a ser redigida e contém o sumário do relatório. i. Sumário: é composto por cinco parágrafos, obedecendo à estru- tura do corpo do Relatório Gerencial apresentado anteriormente. 2. pareCer Parecer é um documento que apresenta a análise de um caso, apontando uma solução favorável ou contrária ao processo analisado. Enquanto uma informação fornece os fatos, o Parecer os interpreta, indicando de forma fundamentada, em dispositivos legais e informações diversas, a melhor solução para o caso analisado. É um procedimento administrativo que, por meio da análise e apresen- tação de um ponto de vista fundamentado, esclarece dúvidas e emite a opinião do parecerista acerca do problema que lhe coube analisar (ME- DEIROS, 2001). Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 10 estrutura O Parecer é composto pelas seguintes partes: → Título: parecer, seguido do número de ordem, dia, mês e ano; → Assunto: objeto de análise do parecerista; → Contexto: exposição detalhada do assunto; → Conclusão: ponto de vista do redator sobre o assunto analisado, apresentando posicionamento favorável ou desfavorável; → Fecho: data, assinatura e cargo do parecerista. Lembre-se Profissionais de empresas e organizações têm nos relatórios e pareceres a oportunidade de demonstrar como conduzi- ram as tarefas sob sua responsabilidade e quais foram os resultados alcançados. 3. prOpOsta Escrever no dia-a-dia dos trabalhos de uma empresa requer correção gra- matical e ortográfica, coerência, coesão e estilo, isso sem falar em evi- tar erros, como o “onde” que erradamente substitui qualquer pronome relativo. Além disso, há técnicas específicas para produzir determinados documentos. Entre eles, estão as Propostas – técnicas e comerciais – e os Projetos. Não é exagero dizer que o desembaraço em produzir esses tipos de documentos vai aumentar de modo significativo seu valor de mercado: propostas bem feitas, que expliquem de modo claro e agradável o que está em oferta têm melhor chance de sucesso que textos confusos e que demandam esclarecimentos; relatórios mal feitos podem colocar a perder esforços de estudo e projetos tecnicamente bem feitos. De todas as qualidades que propostas e projetos devem ter (além de correção ortográfica e gramatical) uma se destaca: concisão, a economia de termos. A preocupação com volume é legítima e mais adiante é mos- trado como lidar com ela, mas a linguagem tanto de propostas como de relatórios, deve ser enxuta, econômica. A prática dessa qualidade ajuda todas as outras, como a exatidão e o estilo. Em relação à elaboração de uma Proposta, imagine a situação: Suponha que você trabalhe como consultor. Formou-se, é esperto e aprendeu bastante. Conhece uma empresa que tem problemas em sua administração e sabe que ela deve fazer. Você faz uma visita ao dono da Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 11 empresa e consegue convencê-lo de que precisa de ajuda. Ele, então, so- licita uma proposta. O que ele quer? Elaborar uma proposta, embora ela tenha uma carta de encaminhamento, é muito diferente de confeccionar uma carta. Seu cliente em potencial quer saber: a. Como você entendeu o problema; b. O que, exatamente, você oferece; c. Quais os resultados que ele pode esperar; d. Quanto vai custar; e. De que modo ele vai pagar. Uma boa proposta é aquela que, sem desperdiçar palavras, aborda de modo bem-sucedido todas essas questões. O item c é importante e deve ser feito com cuidado, porque nem sempre é possível prometer resulta- dos. Por exemplo, os funcionários de seu cliente podem não fazer o que você sugeriu. Assim, no item b a proposta precisa explicar muito bem o que sua empresa vai fazer, de modo a que seu cliente possa perceber que, se fizer o prescrito, obterá os resultados que deseja. Vamos, então, examinar como você deve desenvolver a proposta de consultoria. Em âmbito de empresa, uma proposta é a: → Descrição de um fornecimento de produtos ou serviços; → Apresentação das condições em que esse fornecimento será efetuado. A importância do desenvolvimento de boas propostas dificilmente pode ser exagerada: sem vender, a empresa não sobrevive; se vender mal, também não. A proposta na maioria dos casos é o documento contratual de referên- cia e não deve deixar dúvidas sobre escopo e condições de fornecimento. A proposta, portanto deve ser: → Bem escrita: → Sem erros de ortografia ou gramática; → Clara e sem margem a diferentes interpretações; → Em estilo direto – deve-se evitar a voz passiva (que enfraquece o texto) e o gerundismo (“vamos estar fazendo”), vício grave que denota falta de compromisso. → Concisa: → Sem palavras desnecessárias e sem repetições. Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 12 → Atraente: → Graficamente bem feita e com realce aos méritos do produto ou serviço. A tabela a seguir mostra como o nível de compromisso é alterado de acor- do com a maneira de dizer. quando a pessoa diz o que quer dizer nível de Compromisso Farei o que estiver ao meu alcance para resolver seu problema. É uma questão de honra para mim. Compromisso máximo. Resolverei seu problema. A solução será dada em algum futuro. Compromisso forte. Vou resolver seu problema. Se tudo der certo, eu resolvo. Garantia relativa. Estarei resolvendo seu problema. Não conte com isso. Compromisso mínimo. 1.1 proposta técNica e proposta comercial Geralmente, as propostas se dividem em técnica, que descreve o que o proponente quer fornecer e comercial, que basicamente fornece o cro- nograma de desembolso pelo cliente. A proposta técnica consome maior tempo de redação. DiCa A preocupação com o volume da proposta é legítima – pro- postas com poucas páginas podem dar a impressão de pou- co esforço ao fazê-las.Para contornar esse problema sem sacrificar a concisão do texto use anexos, figuras, tabelas e textos ilustrativos. 1.2 partes da proposta A proposta basicamente consiste em: → 1.2.1 Objetivo; → 1.2.2 Sumário executivo; → 1.2.3 Antecedentes; → 1.2.4 Descrição do fornecimento; → 1.2.5 Exclusões; Tabela 1: Escala de compromisso. Fonte: PAULA, 2008 Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 13 → 1.2.6 Cronograma e prazo; → 1.2.7 Proposta comercial. Dependendo da proposta exclusões e sumário executivo são opcionais. 1.2.1 Objetivo (e escopo de serviço) O objetivo deve mostrar concisamente a que a proposta se destina. No caso da consultoria administrativa, você pode colocar: → O objetivo desta proposta é apresentar detalhes e condições sobre os serviços de consultoria em organização que a empresa X fornecerá à empresa Y. Uma variação muito usada em propostas de serviços é a colocação do escopo de serviço (uma descrição precisa) junto com o objetivo. Para este caso, o título da seção deve ser: objetivo e escopo de serviço. Por exemplo: → O objetivo desta proposta é apresentar detalhes e condições sobre os serviços de consultoria em organização que a empresa X fornecerá à empresa Y. Esses serviços consistirão de: → Definição das unidades de produção; → Estudo dos métodos ora utilizados e sugestões de melhoria; → Desenvolvimento de manuais detalhados; → Treinamento de pessoal. 1.2.2 Sumário executivo Em propostas longas, como em outros tipos de documentos, é interessan- te colocar um sumário executivo imediatamente após o objetivo. O sumá- rio executivo leva em conta o fato de que a pessoa responsável por decidir sobre a liberação da verba ou sobre a proposta vencedora raramente tem tempo para ler a proposta em sua inteireza. 1.2.3 Antecedentes Os antecedentes são também chamados de background, palavra em in- glês – é uma metáfora que significa “plano de fundo”. Os antecedentes descrevem a situação que levou o cliente a querer contratar o serviço ou produto. Deve-se prestar muita atenção para não depreciar o cliente e mencio- nar, por exemplo, melhorias em vez de solução de problemas. O back- ground é uma descrição breve do contexto em que o fornecimento será Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 14 realizado. Por exemplo, aquisição de maquinário para uma expansão. No caso da consultoria mencionada, o background deve: → Apontar os problemas mais notórios; → Não usar adjetivos. Não escrever que um procedimento é ineficien- te, mas apontar os problemas causados; → Escrever que a empresa pode se beneficiar de uma consultoria que aperfeiçoe os processos. 1.2.4 Descrição do fornecimento A descrição do fornecimento deve se equilibrar entre duas necessidades aparentemente opostas: → Concisão, ou seja, economia de palavras e incentivo à clareza, que fica comprometida quando há prolixidade; → Inteireza: especificação de todos os dados para evitar que algo fique fora da proposta. DiCa Há necessidade de consistência. Não se pode, por exemplo, escrever no objetivo que se oferecerá o quanto for necessá- rio de treinamento de funcionários para, na descrição, incluir que esse treinamento será de no máximo uma semana. A descrição do fornecimento deve ser realizada em tópicos, com o uso de diagramas onde for necessário. No caso da proposta de consultoria, veja um exemplo extraído de empresa M&B Consultoria: Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 15 Os serviços serão efetuados segundo os tópicos descritos a seguir1. a. Processos: → Identificação dos processos; → Levantamento dos procedimentos relativos a cada processo; → Fluxograma detalhado de cada processo, contendo as etapas e ligações entre elas, como no exemplo a seguir, que trata de rece- bimento de mercadorias: Administração envia Analisa pedido de material para esperar fornecedor Recebe caminhão do fornecedor e pega as N.F. Relatar eventuais problemas. Ok Anexa ao respectivo pedido de material Orienta local para descarregar material Verifica se N.F. e materiais conferem Arquiva Pedido de material N.F. 2ª via N.F. 1ª via Pedido de material N.F. 2ª via N.F. 1ª via Ok? Sim Não Envia N.F. e Pedido de material para balcão Pedido de material N.F. 2ª via N.F. 1ª via Processo de reposição e estocagem Problemas possíveis Produto faltando; Produto errado; Caixas abertas ou estragadas Produto a mais ou sem prazo de validade 1. Exemplo cedido pela empresa M&B Consultoria S/C Ltda. Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 16 b. Identificação de problemas: → Gargalos; → Perdas de informação; → Trabalhos duplicados. c. Soluções: → Automação de processos; → Escolha de softwares; → Entradas e saídas de cada módulo automatizado; → Novos fluxogramas. d. Instruções e treinamento: → Manual de instruções; → Treinamento de até 5 funcionários, com a duração de 15 horas. Note que a descrição dos serviços poderia ser sucinta, conforme o que verá no quadro seguinte: Os serviços incluirão: a. Identificação e investigação de processos; b. Descrição das soluções; c. Manual e treinamento. Essa segunda descrição não está errada, mas proporciona multiplicidade de interpretações. Certamente causaria problemas, porque o cliente po- deria entender diferentemente do fornecedor a respeito do que seja, por exemplo, investigação de processos. Poderia pensar que o treinamento incluiria a presença do fornecedor até que os funcionários do cliente se declarassem satisfeitos, o que deixaria o fornecedor à mercê do humor dos funcionários. Em outras palavras, a descrição precisa ser muito clara, com o maior detalhe possível. Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 17 ConCeito A descrição do fornecimento deve ser detalhada de modo a não deixar dúvidas sobre o que está sendo oferecido. 1.2.5 Exclusões Sempre que houver possibilidade de dúvidas em relação ao escopo de serviço, deve-se mostrar claramente o que não faz parte dele. No caso-exemplo da consultoria, as exclusões seriam: → Fornecimento de software; → Treinamento para mais de 5 pessoas e/ou além de 15 horas. 1.2.6 Cronograma e prazo Em propostas simples, com fornecimentos de pequeno porte, basta mos- trar o prazo. Em trabalhos de maior complexidade, coloca-se um crono- grama com as etapas e prazo de cada uma. Existem programas especializados que é possível construir planilhas bem detalhadas, mas é possível que elas sejam criadas também em for- mato de tabelas mais simplificas em qualquer editor de texto. A proposta comercial, conforme mencionado, consiste basicamente em um cronograma de desembolso. O desembolso é baseado em eventos. É comum haver um pagamento inicial de 10% do valor. Sempre existe uma retenção, ou seja, o final do pagamento sempre se dá com a conclusão do fornecimento. 1.3 cartas de eNcamiNhameNto As propostas são sempre acompanhadas de uma carta de encaminha- mento. Os termos são simples e a carta costuma ter dois ou três pará- grafos. O corpo dessa carta simplesmente diz que determinada proposta para fornecimento do produto ou serviço está sendo encaminhada. In- forma também qual o fornecimento. É comum que o último parágrafo expresse confiança em que a proposta atenderá aos objetivos do cliente. 1.4 cartas-proposta A carta-proposta costuma ser utilizada para trabalhos de pequeno porte. Combina a carta de encaminhamento e a proposta propriamente dita em um único documento. O número máximo de páginas se situa em torno de 10. Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 18 A seguir, um exemplo2: À Smart SLG Comércio de Sistemas de Automação LtdaAv. Luis Carlos Prestes, 410 sl 307 - Barra da Tijuca 22775-050 Rio de Janeiro, RJ At.: Eng. Norberto Maresca Assunto: Proposta técnica e comercial Cachoeira Paulista, 1º de dezembro de 2005 Prezado Eng. Norberto: É com satisfação que lhe enviamos nossa proposta técnica e comercial para execução de telas para um sistema supervisório em uso em uma indústria farmacêutica. Temos certeza de poder executar um bom serviço. Segue o texto da proposta. Objetivo Esta proposta se destina a apresentar as condições de fornecimento de telas para efetuar a Interface Homem-Máquina de um sistema supervisório para ar condicionado em uma indústria farmacêutica. Antecedentes Em uma indústria farmacêutica, o sistema de ar condicionado é muito importante, por assegurar, além do conforto aos técnicos e engenheiros, temperatura e umidade adequadas ao processamento de medicamentos e ausência de contaminação no ar. Na fábrica de vacinas da Fundação Oswaldo Cruz o ar condicionado é controlado através de um sistema de telas gráficas, que necessita ter figuras e layout melhorado. Escopo de serviço O escopo de serviço está no aprimoramento de telas existentes e confecção de novas telas conforme padrões fornecidos pelo cliente, e em conformidade com a norma ASM, incluindo cores e layout. O limite do número de telas para este escopo é de 25, entre aprimoradas e originais. Se desejado, poderão ser também efetuados os links com o banco de dados, bastando para tal que sejam fornecidas as instruções, documentada ou verbalmente. Coordenação e prazos O serviço será executado conforme as seguintes etapas: d. Reunião com o cliente e com o usuário, definindo o objetivo e características das telas; e. Entrega pelo cliente da lista de telas, com a tela correspondente a aperfeiçoar ou descrição de variáveis e instruções gerais de layout para as telas novas. f. Entrega, em 20 dias corridos, de até 25 telas prontas, para comentários do cliente. g. Ajustes, se houver, em até 5 dias. Durante a execução, haverá uma ou mais reuniões com o cliente e/ou o usuário, para resolução de dúvidas e tomadas de decisão sobre alternativas que venham a surgir. Remuneração A remuneração será de R$ 2.200,00 (dois mil e duzentos reais), aí incluídos os serviços e todas as despesas, inclusive de viagem. Os pagamentos estarão assim distribuídos: → Início dos serviços: 10% → Entrega e aceitação final dos trabalhos: 90% O serviço poderá ser iniciado imediatamente. Em V. Sª assim desejando, poderá marcar a reunião de kickoff 3 no Rio ou em S. Paulo. Com cordiais saudações, ______________________________________________________ Luiz Eduardo Pedregal M&B Consultoria 3. Reunião de kickoff é a reunião de início dos trabalhos, menção comum em propostas de serviços. 2. M&B Consultoria S/C Ltda. Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 19 1.5 a revisão fiNal Em tudo o que se escreve e particularmente em propostas, deve ser feita uma revisão final do texto. Quase sempre se descobrem erros durante essas revisões. 2. prOjetOs O que você pensa que seja um projeto? Você de algum modo sabe, pois projetos fazem parte do cotidiano. Quando a mãe de uma criança, por exemplo, prepara uma festa de ani- versário, ela desenvolve um projeto. Pode ser até que não esteja conscien- te disso, mesmo que capriche como a autora do bolo. Um projeto é um empreendimento: → Não repetitivo; → Caracterizado por uma sequência clara e lógica de eventos; → Com início, meio e fim; → Dotado de objetivo claro e definido; → Conduzido por pessoas dentro de parâmetros predefinidos de tem- po, recursos e qualidade. O diálogo a seguir mostra o que acontece quando as coisas não estão bem estabelecidas. Chefe: Valdir, temos um novo projeto para nos empenhar e você será o responsável. Funcionário: Muito bom, e quem eu devo comandar? Chefe: Não se preocupe que eu faço isso. Funcionário: Quanto eu tenho disponível para investir no projeto? Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 20 Chefe: Hum, bem eu vou ter que aprovar todas as despesas. Funcionário: Está bem, vou começar a traçar o projeto então. Chefe: Fique tranquilo, isto já está predefinido na minha cabeça. Funcionário: Uma pergunta, caso algo dê errado quem responderá pelo projeto? Chefe: Bem, você está responsável pelo projeto. Existem duas acepções comumente usadas para projeto. A primeira trata do projeto propriamente dito. Por exemplo, a elaboração do conjunto de documentos e desenhos que orientam a construção de uma usina hidre- létrica. A segunda define o resultado do projeto, no caso a hidrelétrica construída, como na frase “Itaipu é um projeto monumental”. Aqui não trataremos do projeto como resultado, mas como um em- preendimento que se destina a atingir um objetivo. Os exercícios serão pequenos projetos de pesquisa. Nas empresas e em administração, esse tipo de atividade é muito comum e será importante, para sua atuação como profissional de gestão, saber desenvolver e apresentar resultados de uma investigação. Um bom projeto se define por um encadeamento lógico das seguintes etapas, que devem ser bem definidas: → Formulação precisa do problema a resolver; → Estrutura bem organizada, incluindo os tópicos discutidos mais adiante. Como no caso da proposta (e, na verdade de qualquer texto) certas quali- dades devem ser observadas tais como linguagem correta e adequada, sem erros de ortografia ou gramática, linguagem clara e sem margem a diferen- tes interpretações e estilo direto – aquele que escreve precisa evitar duas construções que enfraquecem o texto: a voz passiva e o gerúndio. Quem apresenta o projeto deve adicionar cuidados com estrutura, for- mato e linguagem concisão. 2.1 partes de um projeto A apresentação de um projeto é subdividida em: 2.1.1. Objetivo; 2.1.2. Sumário Executivo; 2.1.3. Antecedentes; 2.1.4. Desenvolvimento; Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 21 2.1.5. Resultados; 2.1.6. Conclusão; 2.1.7. Documentação. Dependendo da proposta é aconselhável confeccionar um sumário exe- cutivo. ConCeito A apresentação de um projeto em uma empresa tem dife- renças importantes em relação a um projeto acadêmico. 2.1.1 Objetivo O objetivo é a formulação do problema. Deve ser escrito com brevidade. Por exemplo: → O objetivo deste estudo é formular um conjunto de procedimentos para o setor de compras da empresa X. Como se pode perceber, não parece necessário escrever nenhuma outra palavra para definir a que o estudo se propõe. 2.1.2 Sumário Executivo É muito frequente que o responsável pela decisão, por exemplo, da libe- ração de verbas não tenha tempo ou mesmo paciência de ler um relatório inteiro. O sumário executivo destina-se a essas pessoas. Trata-se de um resumo do conteúdo com os principais resultados e mostra claramente as conclusões. 2.1.3 Antecedentes Consistem em uma descrição breve do contexto que tornou necessário o desenvolvimento do projeto. Por exemplo, um mercado em expansão que leva a um estudo de via- bilidade para ampliação de uma fábrica. Os antecedentes, tais como aparecem em propostas e projetos são às vezes chamados de background, conforme mencionado anteriormente. Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 22 2.1.4 Desenvolvimento É o coração do projeto, e quem escreve um relatório deve ter isso em mente. Precisa ser realizado em tópicos cuidadosamente subdivididos, com o uso de diagramas e tabelas onde for necessário. DiCa Um bom modo de confeccionar o desenvolvimento é pri- meiro listar os tópicos, e depois escrever os textos. Ao cor- rer do trabalho, a estrutura pode mudar. 2.1.5 Resultados Os resultados devem ser apresentados com simplicidade. Deve-se cuidar para não colocar palavras ou números desnecessários. 2.1.6 Conclusão As conclusões constituema resposta ao problema formulado no objetivo. 2.1.7 Documentação Geralmente apresentada em anexos. No caso de trabalhos acadêmicos, é necessário mostrar uma bibliografia segundo critérios rígidos. antena pArAbóliCA Hoje é muito comum, ao assistir a um noticiário político na televisão, tomarmos conhecimento da instauração de mais uma CPI. CPI é uma Comissão Parlamentar de In- quérito instaurada como um organismo de investigação e apuração de denúncias com o objetivo de proteger os interesses da população. A CPI é uma investigação conduzida pelo Poder Le- gislativo (Câmara de Deputados Federais e Estaduais ou Vereadores), que transforma a própria Câmara Parla- mentar em uma comissão. Tal comissão é nomeada pe- los membros da Câmara e age em nome da instituição, realizando um inquérito ou uma investigação. Concluída, a CPI elabora um Relatório que aponta, ou não, os cul- pados e suas penalidades. Em relação à Proposta, muitas vezes uma proposta mal feita pode levar uma firma à falência. Em 2001, uma firma de engenharia que havia sido líder em Engenha- ria Industrial no país construiu uma instalação para uma grande indústria. Como não ficou claro o que havia sido realmente ofe- recido, a empresa, temendo desgaste, tentou fazer o que o cliente desejava. Acabou perdendo dinheiro e credibili- dade, pois não teve recursos para terminar a obra. É muito comum que o pessoal de vendas prometa muito por um preço baixo (afinal, o objetivo é vender) e influencie quem desenvolve as propostas. É necessário tomar muito cuidado com isso. e AgorA, José? Assim como é importante aprender a desenvolver pro- postas e redigir relatórios de projetos, você também deve ser capaz de fazer uma boa apresentação. É o que verá na próxima aula. Comunicação e Expressão / UA 10 Correspondência Organizacional: Relatório, Parecer, Proposta e Projeto 24 glossário Situacional: referente à situação. Auditoria: processo de exame e validação de um sistema, atividade ou informação. Parecerista: pessoa responsável pela elabora- ção de um Parecer. reFerênCiAs JAY, R; GOZZI, R. �Como Redigir Propostas. São Paulo: Pearson, 2008. LARA, F. A. �Manual de Propostas Técnicas. São Paulo: Pini, 2002. MACHADO NETO, O. �Competência em comu- nicação organizacional escrita: o manu- al da comunicação escrita utilizada nas empresas: novas técnicas, parâmetros e princípios para o planejamento e a pro- dução da comunicação escrita na ativi- dade profissional. Rio de Janeiro: Quality- mark, 2003. MARTINS, D. S.; ZILBERKNOP, L. S. �Português instrumental. 21a ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2000. MEDEIROS, J. B. �Correspondência: técnica de comunicação criativa. 14a ed. São Paulo: Atlas, 2001. MOREIRA, F; SILVA, B. �Microsoft Project 2007 - Gestão E Desenvolvimento De Projetos. São Paulo: Relativa, 2008. PAULA, L. Q. �Vícios de linguagem. Encontre- -se.com 1º Encontro Regional em Ges- tão e Secretariado das FATEC’S. Indaiatu- ba. 2008. Palestra. Disponível em: http:// www.fatecindaiatuba.edu.br/encontre-se/ encontrese/slides_1encontrese/palestra_ leda.ppt http://www.fatecindaiatuba.edu.br/encontre-se/encontrese/slides_1encontrese/palestra_leda.ppt http://www.fatecindaiatuba.edu.br/encontre-se/encontrese/slides_1encontrese/palestra_leda.ppt http://www.fatecindaiatuba.edu.br/encontre-se/encontrese/slides_1encontrese/palestra_leda.ppt http://www.fatecindaiatuba.edu.br/encontre-se/encontrese/slides_1encontrese/palestra_leda.ppt Tecnologia em Processos gerenciais comunicação e expressão CorrespondênCia organizaCional: relatório e pareCer 11 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula o aluno deverá ser capaz de distinguir as várias formas de comunicação organizacional e suas situações de uso. COmpetênCias Conhecimento e capacidade de utilização das várias for- mas de comunicação organizacional como ferramenta estratégica nas relações profissionais. Habilidades Compreender a importância da comunicação nas organi- zações, Saber utilizar as diferentes formas da comunica- ção organizacional para o marketing pessoal, networking negociação e gerenciamento de conflitos. comunicação e expressão CorrespondênCia organizaCional: relatório e pareCer ApresentAção Nesta aula, você aprenderá as várias formas de comuni- cação organizacional e suas situações de uso. Aprende- rá ainda a elaborar Relatórios e Pareceres, documentos que podem ser utilizados como ferramentas estratégicas nas relações organizacionais. pArA ComeçAr Você já parou para pensar em quantas pessoas altamen- te qualificadas estão desempregadas nos dias de hoje? Com a grande oferta de mão de obra em algumas áreas, hoje é comum os funcionários serem selecionados pela demonstração de sua competência mais do que por um currículo extenso. Na área administrativa, uma das competências mais exigidas na contratação de um funcionário corresponde à sua capacidade de comunicação por meio da utilização da correspondência organizacional. Depois de estudar- mos a carta, a ata e o e-mail, chegou a hora de aprender como elaborar dois outros documentos igualmente im- portantes: o Relatório e o Parecer. Vamos começar? FundAmentos Entre as características exigidas dos documentos que fazem parte da correspondência organizacional estão a clareza e a brevidade. Tão importante quanto a clareza e a brevidade são o respeito e a polidez ao se relacionar com seus colegas de trabalho. Portanto, essas serão também características exigidas ao se elaborarem Relatórios e Pareceres, do- cumentos que têm em comum o fato de apresentarem uma visão bastante pessoal dos fatos relatados. Comunicação e Expressão / UA 11 Correspondência Organizacional: Relatório e Parecer 4 ConCeito Relatório é uma exposição minuciosa dos fatos colhidos por meio da observação de uma determinada situação. Parecer é a opinião dada por alguém acerca de determi- nado assunto. 1 relatóriO O Relatório é um documento por meio do qual se expõe um ou vários fatos, em que se discriminam seus aspectos e elementos. É, geralmente, dirigido ao superior hierárquico e dele consta exposição circunstanciada sobre atividades em função do cargo que exerce o relator. Depois de lido e examinado, esse documento é arquivado. Desse modo, ele constitui-se um documento importante, disponível, a qualquer tempo, para consulta da organização. Decorre daí a necessidade de as pessoas encarregadas de sua elaboração aprimorarem ao máximo sua execução, obedecendo a algumas normas básicas que darão coerência ao documento, tornando-o claro, fácil de ser consultado e substancial (MAR- TINS, 2000). 1.1 Normas para elaboração de um relatório → Questões essenciais: antes de redigir o Relatório, o autor deve ela- borar um esquema, respondendo às seguintes questões: O quê? Por quê? Quem? Onde? Quando? Como? Quanto? E daí? → Extensão: a extensão do relatório vai depender da importância dos fatos relatados. No entanto, sempre que possível, convém evitar a elaboração de documentos muito longos, pressupondo que ele é feito exatamente para economizar o tempo da pessoa que o lê. → Formato: deve-se usar, preferencialmente, papel com as seguintes di- mensões: 21 x 29,7 cm. A impressão deve ser feita de um só lado do papel. As margens superiores e inferiores deverão ter 2,5 cm; à esquer- da, 4 a 4,5 cm, para permitir a perfuração e a colocação em pastas, e, à direita, 2 cm. O título deverá ser grafado sempre em letra maiúscula. → Linguagem: sem omitir qualquer dado importante, a linguagem deve ser objetiva, despojada, precisa, clara e concisa. → Redação: o documento deve ser redigido de modo simples, com boa pontuação e ortografia padrão. → Objetividade: deve-se evitar, ao redigir o documento, a utilização de rodeios, floreios de linguagem e literatices, pois sua qualidade essencial deve ser a clareza. Comunicação e Expressão / UA 11 Correspondência Organizacional: Relatório e Parecer 5 → Exatidão: as informações devem ser precisas,não deixando quais- quer dúvidas quanto aos dados apresentados. 1.2 partes de um relatório Uma sugestão para a montagem de um relatório é dividi-lo nas seguintes partes (MACHADO NETO, 2003): → Título: sintético e objetivo, deve dar uma ideia do todo; → Objeto: introdução ao problema, objetivo do trabalho; → Delimitação: mencionar o que deixou de ser abordado e por quê; → Referências: fontes de consulta; → Texto principal: observações, dados, números, comentários; → Conclusões: resumo, resultados e constatações; → Sugestões: providências recomendadas. 1.3 tipos de relatório Relatórios Organizacionais podem ser basicamente de dois tipos: Relató- rios Gerenciais e Relatórios de Projetos. 1.3.1 Relatórios Gerenciais Os Relatórios Gerenciais são diretos, concisos, objetivos e podem conter uma recomendação ou uma conclusão. São apresentados a seguir quatro tipos mais comuns de Relatórios Gerenciais: situacional, de reunião, de auditoria e de viagem. 1.3.2 Relatório Situacional (status report) → Descrição: documento de caráter informativo que descreve o que ocorreu em um determinado período, em relação a uma ou mais ações, projeto, tarefa ou atividade, de rotina ou especial. → Estrutura: → Abertura: resumo da situação anterior, o que deveria acontecer no período e por quê. → Corpo: o que foi realizado e por quê. → Fechamento: o que aconteceu e como está agora; em que fase se encontra; quais foram os resultados alcançados; o que falta alcan- çar; qual é o prognóstico em relação ao alcance da meta fixada. Comunicação e Expressão / UA 11 Correspondência Organizacional: Relatório e Parecer 6 1.3.3 Relatório de Reunião → Descrição: documento de caráter informativo que descreve o resulta- do de uma reunião, o que foi discutido, definido e os próximos passos. → Estrutura: → Abertura: a finalidade da reunião e sua pauta; → Corpo: o que foi decidido para cada item da pauta; quais os res- ponsáveis designados para conduzir as ações e os prazos estabe- lecidos; quais os resultados esperados; → Fechamento: próximos passos para que se alcance o resultado. 1.3.4 Relatório de Auditoria ou Inspetoria → Descrição: documento que detalha os trabalhos de verificação rea- lizados para avaliar se operações, processos e procedimentos estão em conformidade com normas, regulamentos e políticas. → Estrutura: → Abertura: a finalidade do relatório; → Corpo: o que foi verificado em relação a cada item e o que foi encontrado; → Fechamento: as conclusões específicas do auditor sobre suas verificações, os responsáveis por efetuar correções e os prazos alocados a cada um. 1.3.5 Relatório de Viagem → Descrição: documento de caráter informativo que descreve os acon- tecimentos principais de uma viagem de trabalho. → Estrutura: → Abertura: finalidade da viagem e o programa de trabalho; → Corpo: o que foi realizado em relação a cada item do programa e os resultados alcançados; → Fechamento: conclusões gerais, eventuais responsáveis por conduzir as ações e os prazos estabelecidos para isso, os próxi- mos passos para que se alcancem os resultados que motivaram a viagem. Comunicação e Expressão / UA 11 Correspondência Organizacional: Relatório e Parecer 7 → Processo de produção do corpo do relatório gerencial → 1º parágrafo: deve ser iniciado com um período com frases posi- tivas e polidas sobre a empresa. Isso demonstra reconhecimento e favorece a recepção da mensagem. → 2º parágrafo: é constituído por dois até quatro períodos sobre o problema ou a situação que originou o relatório, descrevendo-o resumidamente. → 3º parágrafo: é a descrição do objetivo do relatório. A frase inicial deve ser “O objetivo deste relatório é...”. → 4º parágrafo: aborda os principais aspectos ligados ao problema ou situação. Contém exemplos explicações, testemunhos, compa- rações e contrastes, dados e fatos e, principalmente, os resulta- dos provocados pelo problema ou situação. Ao citar cada aspecto, o redator deve sempre procurar comprová-lo, o que pode ser fei- to com quadros, gráficos, tabelas etc. → 5º parágrafo: é reservado às recomendações. A frase que inicia o período é “O Relatório recomenda que...”. O texto que o completa explica as razões que justificam a recomendação. 1.3.6 Relatórios de Projetos Diferentes dos Relatórios Gerenciais, os Relatórios de Projetos são instru- mentos de controle da alta administração. São longos, descrevem porme- norizadamente uma situação ou um problema e oferecem ao leitor todos os aspectos relacionados sob a forma de informações e ideias. Podem ser Reativos quando oferecem uma recomendação para a solução do problema ou situação. Podem ser Conclusivos quando diagnosticam de- terminada situação ou problema e oferecem conclusões. Geralmente, são utilizados por consultorias profissionais. Os Relatórios de Projetos são redigidos em uma ordem diferente: pri- meiro a parte intermediária, o corpo; depois a parte final, o fechamento; por último, a parte inicial, a abertura. O corpo é redigido primeiro porque é a parte na qual o redator insere e desenvolve as ideias e informações que constituem o assunto-chave do relatório e porque é a parte mais árdua e mais trabalhosa do relatório, exigindo mais tempo e raciocínio. → Estrutura O Relatório de Projetos é estruturado em seis segmentos, chamados seções: a. Seção do Problema ou Situação: é a primeira a ser redigida. Comunicação e Expressão / UA 11 Correspondência Organizacional: Relatório e Parecer 8 i. Deve ser iniciada por um título interessante e esclarecedor so- bre o problema ou situação (onde surgiu, como surgiu, por que surgiu, o que afetou ou está afetando). ii. Após o título, deve-se descrever o problema ou situação deta- lhadamente. iii. Terminada a descrição, devem-se abordar em detalhes os as- pectos ligados ao problema ou à situação, utilizando-se exem- plos, explicações, testemunhos, comparações etc. iv. Ao final dessa seção, deve-se encerrar com a descrição dos re- sultados provocados pelo problema ou situação. b. Seção da Solução: é a segunda a ser redigida. i. Deve ter um título interessante e esclarecedor sobre o caminho da solução apresentada. ii. O primeiro período dessa seção deve mostrar de onde surgiu a solução, como surgiu e o que ela fará em benefício da solução do problema. iii. Após esse período deve-se descrever a solução em detalhes, antecipando todas as objeções e respondendo a todas as per- guntas que o leitor possa fazer. iv. Ao final dessa seção, deve-se encerrar descrevendo cada um dos benefícios que serão alcançados. Tais benefícios devem ser redigidos na ordem do mais para o menos importante, sempre apoiados com o seu porquê. c. Seção da Introdução: é o início do corpo do relatório e a terceira parte a ser redigida. i. Deve ser curta, tendo, no máximo, três parágrafos. ii. O texto deve esclarecer o assunto ao leitor, por meio de um breve histórico sobre o que originou o problema. d. Fechamento: quarta parte a ser redigida i. Deve colocar em evidência os principais pontos descritos no corpo do relatório. ii. Deve listar os principais pontos do problema e, em seguida, os pontos da solução iii. A conclusão deve ser redigida em um único parágrafo. Comunicação e Expressão / UA 11 Correspondência Organizacional: Relatório e Parecer 9 e. Recomendações: é a quinta parte a ser redigida. i. Deve dizer claramente ao leitor o que deve ser feito. ii. Deve ser escrito de maneira afirmativa para não deixar dúvidas. iii. Seus períodos devem começar com verbos no infinitivo (reali- zar, crescer, mudar etc). iv. As recomendações devem ser escritas em forma de lista. f. Abertura: é a última parte a ser redigida e contém o sumário do relatório. i. Sumário: é composto por cinco parágrafos, obedecendo à estru- tura do corpo do Relatório Gerencial apresentado anteriormente. 2. pareCer Parecer é um documento que apresenta a análise de um caso, apontando uma solução favorável ou contráriaao processo analisado. Enquanto uma informação fornece os fatos, o Parecer os interpreta, indicando de forma fundamentada, em dispositivos legais e informações diversas, a melhor solução para o caso analisado. É um procedimento administrativo que, por meio da análise e apresen- tação de um ponto de vista fundamentado, esclarece dúvidas e emite a opinião do parecerista acerca do problema que lhe coube analisar (ME- DEIROS, 2001). estrutura O Parecer é composto pelas seguintes partes: → Título: parecer, seguido do número de ordem, dia, mês e ano; → Assunto: objeto de análise do parecerista; → Contexto: exposição detalhada do assunto; → Conclusão: ponto de vista do redator sobre o assunto analisado, apresentando posicionamento favorável ou desfavorável; → Fecho: data, assinatura e cargo do parecerista. Lembre-se Profissionais de empresas e organizações têm nos relatórios e pareceres a oportunidade de demonstrar como conduzi- ram as tarefas sob sua responsabilidade e quais foram os resultados alcançados. antena pArAbóliCA Hoje é muito comum, ao assistir a um noticiário político na televisão, tomarmos conhecimento da instauração de mais uma CPI. CPI é uma Comissão Parlamentar de In- quérito instaurada como um organismo de investigação e apuração de denúncias com o objetivo de proteger os interesses da população. A CPI é uma investigação conduzida pelo Poder Le- gislativo (Câmara de Deputados Federais e Estaduais ou Vereadores), que transforma a própria Câmara Parla- mentar em uma comissão. Tal comissão é nomeada pe- los membros da Câmara e age em nome da instituição, realizando um inquérito ou uma investigação. Concluída, a CPI elabora um Relatório que aponta, ou não, os cul- pados e suas penalidades. e AgorA, José? Agora que você já sabe o que é comunicação organiza- cional e como se escrevem cartas comerciais, e-mails, atas, relatórios e pareceres, chegou a hora de aprender a elaborar outros tipos de documentos igualmente im- portantes. Para tanto, na próxima aula, você aprenderá sobre o processo de elaboração de Propostas e Projetos. Até a próxima aula! AtividAdes Acesse a disciplina de Comunicação e Expressão no am- biente virtual de aprendizagem e realize as atividades lá proposta para exercitar o que aprendemos nesta aula. Comunicação e Expressão / UA 11 Correspondência Organizacional: Relatório e Parecer 11 glossário Situacional: referente à situação. Auditoria: processo de exame e validação de um sistema, atividade ou informação. Parecerista: pessoa responsável pela elabora- ção de um Parecer. reFerênCiAs MACHADO NETO, O. Competência em comu- nicação organizacional escrita: o manu- al da comunicação escrita utilizada nas empresas: novas técnicas, parâmetros e princípios para o planejamento e a pro- dução da comunicação escrita na ativi- dade profissional. Rio de Janeiro: Quality- mark, 2003. MARTINS, D. S.; ZILBERKNOP, L. S. Português instrumental. 21a ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2000. MEDEIROS, J. B. Correspondência: técnica de comunicação criativa. 14a ed. São Paulo: Atlas, 2001. gestão empresarial comunicação e expressão Coesão e CoerênCia em diferentes gêneros disCursivos: ConCeituação 12 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Fornecer ao aluno instrumentos para preparar apresen- tações em público, em função de diferentes situações de comunicação. COmpetênCias Preparação de palestras e exposições orais em geral, com a seleção de técnicas comunicacionais voltadas aos diversos objetivos das apresentações em público. Habilidades Apresentar ideias e projetos em público, valendo-se de recursos adequados à interação com diferentes públicos e à eficácia da comunicação. comunicação e expressão Coesão e CoerênCia em diferentes gêneros disCursivos: ConCeituação ApresentAção Nesta aula, você aprenderá a utilizar os mecanismos de coesão e coerência para o processo de leitura, compre- ensão e produção de textos. pArA ComeçAr Na primeira aula da disciplina Comunicação e Expressão de nosso curso, você foi apresentado ao conceito de tex- to. Naquela aula, você viu que texto é uma sequência de palavras que forma um todo significativo para um deter- minado grupo de pessoas, em uma determinada situa- ção. Isso significa que um texto, como unidade de sen- tido, não é apenas a soma do resultado de suas partes. Um texto pressupõe uma organização interna específica, como, por exemplo, a sequência das partes e a relação existente entre as ideias e as palavras. Juntando todas as partes do texto, é possível perceber que as relações existentes entre palavras, frases e ideias é que fazem com que o texto seja um todo significativo e não um aglomerado de palavras e frases desconexas. Ao conjunto de características que fazem com que um texto seja um texto dá-se o nome de textualidade. Entre os fatores que contribuem para formar a textu- alidade, há dois que serão estudados nesta aula: coesão e coerência. Vamos conhecê-los? FundAmentos 1. COesãO textUal A ligação textual obtida por meio de elementos linguísti- cos específicos chama-se coesão textual. Para tornar mais claro esse conceito, imagine duas si- tuações: a construção de uma casa e as placas de sinali- zação de trânsito. Comunicação e Expressão / UA 12 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Conceituação 4 Coesão: a “argamassa” textual Pense na construção de uma casa: Como você sabe, as paredes são es- truturas fundamentais nessa construção. Para construí-las, utilizam-se tijolos. No entanto, não basta dispor os tijolos lado a lado para que as paredes sejam construídas. É necessário ligá-los por meio de argamassa para que constituam uma estrutura firme e harmoniosa. O mesmo ocorre com a construção de um texto. A base de construção de um texto são as palavras e frases que, por sua vez, expressam ideias. No entanto, não basta dispor palavras e frases lado a lado para que um texto seja produzido e apresente sentido. É preciso encontrar elementos que estabeleçam uma ligação entre as várias partes do texto, da mesma maneira que a argamassa vai unindo os tijolos de uma casa. À ligação textual obtida por meio de elementos linguísticos específicos, chamamos de coesão textual. Coesão: um sistema de sinalização textual Imagine agora o trânsito de uma grande cidade. Com o aumento no nú- mero de veículos circulando pelas metrópoles, percebeu-se a necessidade da criação de um conjunto de símbolos que pudessem orientar e instruir os motoristas, de modo a organizar a locomoção de todos. Pense no que aconteceria se alguém, por brincadeira, invertesse todas as placas de trânsito de uma cidade durante a noite. Certamente, na manhã seguinte, quando os motoristas saíssem à rua, encontrariam um cenário caótico. Situação semelhante pode ser observada na elaboração de um texto. As palavras responsáveis pela ligação entre as várias ideias de um texto Comunicação e Expressão / UA 12 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Conceituação 5 funcionam como um sistema de direcionamento e controle de sua leitura. Sendo assim, a utilização inadequada desses elementos de ligação pode deixar o leitor confuso e desorientado, sem saber exatamente como ler o texto que tem em mãos. Por ser a coesão textual responsável pela ligação dos elementos de um texto, problemas na sua construção têm um efei- to desarticulador sobre o texto, dificultando não apenas sua leitura, mas também sua compreensão. Com base nessa comparação, vamos agora observar em um pequeno parágrafo como funcionam essas “placas de trânsito” textuais. Empreendedor deve gostar do que faz ou fazer o que gosta?1 “Os empreendedores bem-sucedidos geralmente gostam do que fazem, dedicam-se de corpo e alma ao negócio e acabam por ser especialistas no seu setor. É a máxima que prega 99% de transpiração e 1% de inspiração. Isso é bem fácil de identificar, basta você olhar ao seu redor e notar como se comportam os empreendedores que você conhece e osquais você con- sidera bem-sucedidos. Mas há exceções e precisamos entender que para termos mais chances de sucesso devemos gostar do que fazemos (...)” Vamos imaginar que pudéssemos associar algumas das placas de trân- sito, comuns em nosso cotidiano, com os elementos coesivos que estão estabelecendo as relações entre as várias partes do texto apresentado. Considere que essas placas devem ser entendidas da seguinte forma: Adicione a ideia que vem a seguir ao que foi dito antes. Volte ao trecho já lido e procure a expressão a que essa última palavra se refere. O raciocínio vai mudar de direção. Agora leia o trecho com as indicações: 1. DORNELAS, J. Disponível em: http://www. josedornelas. com.br/artigos/ empreendedor- deve-gostar-do- que-faz-ou-fazer- o-que-gosta/ http://www.josedornelas.com.br/artigos/empreendedor-deve-gostar-do-que-faz-ou-fazer-o-que-gosta/ http://www.josedornelas.com.br/artigos/empreendedor-deve-gostar-do-que-faz-ou-fazer-o-que-gosta/ http://www.josedornelas.com.br/artigos/empreendedor-deve-gostar-do-que-faz-ou-fazer-o-que-gosta/ http://www.josedornelas.com.br/artigos/empreendedor-deve-gostar-do-que-faz-ou-fazer-o-que-gosta/ http://www.josedornelas.com.br/artigos/empreendedor-deve-gostar-do-que-faz-ou-fazer-o-que-gosta/ http://www.josedornelas.com.br/artigos/empreendedor-deve-gostar-do-que-faz-ou-fazer-o-que-gosta/ http://www.josedornelas.com.br/artigos/empreendedor-deve-gostar-do-que-faz-ou-fazer-o-que-gosta/ Comunicação e Expressão / UA 12 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Conceituação 6 Os empreendedores bem-sucedidos geralmente gostam do que fazem, dedicam-se de corpo e alma ao negócio e acabam por ser especialistas no seu setor. É a máxima que prega 99% de transpira- ção e 1% de inspiração. Isso é bem fácil de identificar, basta você olhar ao seu redor e notar como se comportam os empreendedores que você conhece e os quais você considera bem-sucedidos. Mas há exceções e precisamos entender que para termos mais chances de sucesso devemos gostar do que fazemos (...). Você deve ter notado que todas as placas foram utilizadas para fazer o leitor voltar ao texto e procurar algo que já foi dito. No primeiro período, por exemplo, elas remetem à expressão “empreendedores bem-sucedi- dos” (os empreendedores bem-sucedidos dedicam-se, acabam e o setor ao qual o texto se refere é o setor dos empreendedores bem-sucedidos). No caso da placa , sua utilização não foi feita para remeter o leitor a algo já dito no texto, mas para estabelecer um vínculo entre duas ideias (“99% de transpiração e 1% de inspiração”). Em relação à placa , seu uso indica que o texto não seguirá na mesma direção em que se encontra até o momento. Será estabelecido um contraste, uma oposição entre o que foi dito antes e o que será dito depois da placa. Comunicação e Expressão / UA 12 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Conceituação 7 Com base nesses exemplos, podemos assim definir coesão textual: ConCeito Coesão textual são as articulações gramaticais existentes entre palavras, orações, frases, parágrafos e partes maiores de um texto que garantem sua conexão sequencial. (CEREJA, Magalhães, p. 36) 2. COerênCia textUal Além da coesão, outro fator que contribui para a textualidade, ou seja, para fazer com que um texto seja um todo significativo, é a coerência textual. Você, sem dúvida, já disse ou já ouviu alguém dizendo “isso é incoe- rente”, “aquilo não faz sentido”. Isso ocorre porque, de um modo geral, sempre procuramos atribuir significados ao que lemos ou ouvimos, recor- rendo aos nossos conhecimentos. Assim, enquanto a coesão diz respeito ao aspecto formal, linguístico do texto, sendo alcançada pela escolha de palavras cuja função é justa- mente estabelecer referências e relações; a coerência textual estabelece uma articulação no plano das ideias e conceitos. Estando no âmbito da significação, a coerência se manifesta pela reunião de ideias, informações e argumentos compatíveis entre si. Sempre que produzimos um texto, nossa intenção é informar, divertir, explicar, convencer, discordar, ordenar, ou seja, o texto é uma unidade de significado produzida sempre com uma determinada intenção. Da mesma maneira que uma frase não é uma simples sucessão de palavras, o texto também não é uma simples sucessão de frases, mas um todo organizado capaz de estabelecer contato com nossos interlocutores, influindo sobre eles. Quando isso ocorre, temos um texto em que há coerência. A coerência é resultante da não contradição entre as várias partes que compõem um texto as quais devem estar encadeadas logicamente. Cada segmento textual pressupõe o segmento seguinte de modo sucessivo, formando assim uma cadeia em que todas as partes estejam concatena- das harmonicamente. Quando há quebra nessa relação harmoniosa entre as partes, ou quando um segmento atual está em contradição com um anterior, perde-se a coerência textual. Veja como isso ocorre no outdoor apresentado a seguir: Comunicação e Expressão / UA 12 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Conceituação 8 A incoerência no exemplo apresentado decorre da flagrante oposição en- tre as ideias presentes no texto. A informação expressa pela frase: “Aber- to todos os dias” pressupõe que o estabelecimento anunciado tem nor- malmente funcionamento ininterrupto e contínuo, ou seja, não é fechado em nenhum dia da semana. No entanto, essa ideia é contrariada ao se informar que terça-feira é o dia da semana escolhido para descanso dos funcionários e, consequentemente, fechamento da empresa. Vejamos outra situação: Joãozinho, se você não me xingar mais eu prometo que não corro mais atrás de você e ainda te dou um beijo. Sua chata, cabeça de ET, balofa... Após a leitura, o que podemos dizer do texto? Ele não é de todo coeren- te? É verdade que a última cena nos causa estranheza, mas, se conside- rarmos que se trata de um gênero textual caracterizado pelo humor, a própria “estranheza” é propiciadora da coerência. Além disso, vejamos as informações que podem ser depreendidas do texto: → A menina propõe não bater mais em Joãozinho e ainda lhe dar um beijo, se ele parar de xingá-la; → Essa proposta se mostra adequada ao perfil feminino, comumente associado à afetividade; Comunicação e Expressão / UA 12 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Conceituação 9 → Após ouvir a proposta, Joãozinho xinga a menina; → A reação de Joãozinho à proposta da menina leva-nos à conclusão de que ele prefere continuar apanhando a ganhar um beijo; → A postura de Joãozinho é condizente com o que, em geral, se asso- cia ao perfil masculino, marcado por racionalidade e masculinidade, qualidades consideradas próprias do homem. Com base nessas considerações, podemos afirmar que a noção de coe- rência não se aplica, isoladamente, ao texto, nem ao autor, nem ao leitor, mas se estabelece na relação entre esses três elementos. Desse modo, não é possível apontá-la, destacá-la ou sublinhá-la no texto, mas somos nós, leitores, em efetivo processo de interação com o autor e o texto, baseados nas pistas que nos são dadas e nos conhecimentos que possu- ímos, que construímos a coerência. ConCeito Coerência textual é o resultado da articulação das ideias de um texto; é a estruturação lógico-semântica que faz com que numa situação discursiva palavras e frases componham um todo significativo para os interlocutores. (CEREJA, Maga- lhães, 1999, p. 36) 3. COesãO e COerênCia Embora a coesão seja um elemento importante na estruturação de tex- tos, ela não é condição necessária nem suficiente para o estabelecimen- to da coerência. Vejamos um exemplo disso: Coesão sem Coerência Fui à praia me bronzear, porque estava nevando. Quando isso ocorre, o calor aumenta, o que faz com que sintamos frio. Na construção do fragmento apresentado, podemos observar a utilização de vários elementos de coesão. No primeiro período, há a presençada con- junção “porque”, utilizada para estabelecer uma relação de causalidade en- tre duas orações. No segundo período, o pronome “isso” remete à ideia de Comunicação e Expressão / UA 12 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Conceituação 10 estar nevando. Como você pode observar, a presença desses elementos conectores não assegura a inteligibilidade do texto, ou seja, sua coerência. Vejamos agora um exemplo contrário: Coerência sem Coesão O pulso (Titãs) (...) Reumatismo, raquitismo Cistite, disritmia Hérnia, pediculose Tétano, hipocrisia Brucelose, febre tifoide Arteriosclerose, miopia Catapora, culpa, cárie Câimba, lepra, afasia... — Arnaldo Antunes Composta por uma relação de nomes de doenças apresentadas em forma de lista, o texto composto por Arnaldo Antunes não apresenta nenhum elemento de conexão entre as palavras. No entanto, o texto cumpre sua função comunicativa ao inserir comportamentos e sentimentos humanos, como a hipocrisia e a culpa, no rol das doenças apresentadas. Sendo as- sim, observamos que a coerência não se encontra no texto em si, não pressupõe, necessariamente, no plano da materialidade linguística, a li- gação entre os enunciados de forma explícita, mas constrói-se a partir do texto. Na e para a produção de sentido do texto, é necessário que o leitor ative conhecimentos previamente constituídos e armazenados na memó- ria, construindo sentido para o que lê. Lembre-se A coesão por si só não é responsável pela coerência textual, porque a coerência não está no texto, mas é constituída pelo leitor com base em seus conhecimentos e na materialidade linguística do texto. Sempre que nos for possível construir um sentido para o texto, este será, em uma dada situação de interação, um texto coerente. (KOCH, Elias, 2009, p. 187) antena pArAbóliCA Como vimos, a noção de coerência não se aplica, isola- damente, ao texto, mas se estabelece na relação entre texto, leitor, autor e contexto. Isso pode, muitas vezes, ser observado na criação de anúncios publicitários em que uma certa “estranheza” – ruptura da lógica – é criada propositalmente para chamar a atenção do consumidor, assim como em charges, histórias em quadrinhos etc. e AgorA, José? Agora que você já sabe o que é Coesão e Coerência, chegou a hora de aprender alguns mecanismos que contribuem para a coesão em um texto. Para tanto, na próxima aula, você aprenderá como os pronomes de- monstrativos podem contribuir para a elaboração de textos organizacionais. Até a próxima aula! Comunicação e Expressão / UA 12 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Conceituação 12 reFerênCiAs CEREJA, W. R.,; MAGALHÃES, T. C.; Gramática re- flexiva: texto, semântica e interação. São Paulo: Atual, 1999. FIORIN, L. J.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: lei- tura e redação. 6a ed. São Paulo: Ática, 2003. KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e escrever: estra- tégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009. ______ Ler e compreender: os sentidos do tex- to. São Paulo: Contexto, 2009. LEITE, R. ET AL. Novas palavras: literatura, gramática, redação e leitura. São Paulo: FTD, 1997. gestão empresarial comunicação e expressão Coesão e CoerênCia em diferentes gêneros disCursivos: Coesão referenCial 13 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula, o aluno deverá reconhecer os dois tipos de coesão referencial — por retomada e por antecipação — e os elementos que os provêm. COmpetênCias Redigir textos com a seleção adequada dos elementos coesivos lexicais e gramaticais responsáveis pela reto- mada e pela antecipação. Habilidades Selecionar e empregar, em contextos dados ou de sua própria elaboração, elementos coesivos de diferentes espécies, em particular pronomes pessoais, termos rela- cionados por sinonímia, hiperonímia, hiponímia e conti- guidade de sentido. comunicação e expressão Coesão e CoerênCia em diferentes gêneros disCursivos: Coesão referenCial ApresentAção Nesta aula, você aprenderá o que é a coesão referencial, reconhecendo os recursos linguísticos disponíveis para retomar e para antecipar ideias e informações no texto, garantindo a progressão das sequências de texto. Você conhecerá a coesão lexical (aquela que envolve o em- prego do estoque de palavras associadas pelo sentido) e a gramatical (a que emprega termos gramaticais, como pronomes, por exemplo). pArA ComeçAr Atente para os termos empregados no título desta notí- cia de jornal: Bolas paradas e coesão devem marcar a estreia da seleção na Copa O time do técnico Dunga demonstra unidade e discrição nos treinos e nas entrevistas coletivas. O recurso das bo- las paradas pode ajudar em partidas contra times meno- res que apostam mais na defesa. — Bom Dia Brasil, de 15/6/2010. Importante palavra esta: coesão... Você já notou como os esportes nos quais nós, os bra- sileiros, somos campeões exigem a união de forças, a soma de talentos individuais? Isso é traduzido na ima- gem das mãos entrelaçadas dos jogadores da equipe brasileira de vôlei — tantas vezes campeã — e no texto do jornal. Coesão é imprescindível no vôlei, no futebol e nos demais esportes coletivos. O desportista que ima- gina que pode fazer tudo sozinho rompe a corrente e prejudica os resultados de sua equipe. Coesão, portanto, é isto: vínculo das partes com o todo, entrelaçamento e unidade. Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 4 Não é diferente a coesão na apresentação de ideias: elas devem estar vinculadas, associadas, solidárias. Tal qual nos esportes, se elas são ex- postas de forma desarticulada, fragmentada, sem vínculos umas com as outras, o resultado é negativo. Você já foi apresentado a esse assunto na Aula 14. Então, tenha em mente os conceitos nela veiculados, como forma de acompanhar mais satisfatoriamente a aula de hoje, que vai acrescentar informações àquelas que você já obteve. Observe, no texto seguinte, os elementos de coesão que garantem a cla- ra exposição das ideias e, por consequência, sua compreensão pelo leitor. O burro e a flauta Jogada no campo estava desde faz tempo uma Flauta que já ninguém tocava, até que um dia um Burro que passeava por ali soprou forte nela fazendo-a produzir o som mais doce de sua vida, quer dizer, da vida do Burro e da Flauta. Incapazes de compreender o que tinha acontecido, pois a racionalidade não era o seu forte e ambos acreditavam na racionalidade, se separaram rapidamente, enver- gonhados do melhor que um e outro tinham feito durante toda a sua triste existência. — MONTERROSO, A. A ovelha negra e outras fábulas. Rio de Janeiro: Record, 1983. p. 65. Agora note os entrelaçamentos e a progressão das informações na fábula: Uma Flauta (apresentação da informação ao leitor, com o artigo indefinido: até este momento, trata-se de uma Flauta qualquer...) ... que já ninguém tocava — a palavra que substitui a palavra Flauta (ninguém tocava a Flauta). ... soprou forte nela (isto é, soprou forte na Flauta). ... fazendo-a produzir o som (fazendo a Flauta produzir o som). ... da vida da Flauta (trata-se de um termo que já foi introduzido ao leitor, portanto passa a ser mencionado com o artigo definido — a). ... de sua vida (vida da Flauta). ... a racionalidade não era o seu forte (o forte da Flauta). ... ambos (a Flauta e o Burro). ... se separaram (a Flauta separou a Flauta do Burro). ... um e outro (a Flauta e o Burro). ... sua triste existência (a existência da Flauta). Um Burro (apresentação da informação ao leitor, com o artigo indefinido: até este momento, trata-se de um Burro qualquer) ... que passeava — a palavra que substitui a palavra Burro (um Burro passeava por ali). ... de sua vida (vida do Burro). ... da vida do Burro (trata-se de um termo que já foi introduzido ao leitor, portanto passa a ser mencionado com o artigo definido — o). ...a racionalidade não era o seu forte (o forte do Burro). ...ambos (a Flauta e o Burro).... se separaram (o Burro separou o Burro da Flauta). ... um e outro (a Flauta e o Burro. ... sua triste existência (a existência do Burro). No campo ...ali (no campo). Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 5 Você percebeu que os termos que fazem referência a Flauta, Burro e no campo evitam a repetição dessas palavras e são os responsáveis pela pro- gressão das ideias nessa fábula? Eles são alguns dos elementos de coesão que usamos na produção de nossos textos — de todos eles, sem exce- ção. É muito importante, portanto, conhecer e empregar com precisão os elementos coesivos existentes em nossa língua. Conhecendo-os e empre- gando-os bem, podemos garantir que nossas comunicações do dia a dia, pessoais ou profissionais, orais ou escritas, sejam adequadas e eficazes. Vamos agora desenvolver esse tema da aula de hoje, para aprender quan- do e como empregar alguns dos mais importantes elementos de coesão. FundAmentos COesÃO teXtUal Para recolocar em cena o tema acima, leia este belo poema de João Cabral de Melo Neto, da obra Fazendeiro do ar. Tecendo a manhã 1 Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzam os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. 2 E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã que plana livre de armação). A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão. — João Cabral de Melo Neto O poema de Cabral pode ser lido como uma espécie de “definição po- ética” da construção de um texto, do entrelaçamento das ideias que o compõem. O elemento do poema que permite desencadear essa inter- pretação é a palavra tecido, que provém do latim textus; como se nota, trata-se da mesma palavra que originou, em nossa língua, o termo texto. Interessante, não é? Existe nesse poema a sugestão de uma analogia entre os cantos inte- grados dos galos (os quais se sucedem e harmonizam até que a luz do dia Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 6 se firme) e a ordenada amarração de palavras, frases, períodos, parágra- fos e pausas que formam o texto escrito ou falado. Então: sabemos que a coesão é a responsável pela articulação orgâni- ca, pela concatenação que deve existir entre os enunciados; e que ela não resulta apenas das relações sintáticas, mas das relações de sentido esta- belecidas entre os enunciados. São tais relações, sintáticas e de sentido, que dão aos textos as necessárias coesão e coerência. Na aula de hoje, vamos tratar de mais algumas dessas relações: as que se baseiam na retomada e na antecipação de informações dentro do texto, promovendo a adequada progressão de seu tema. Esses dois pro- cessos também são chamados, respectivamente, de anáfora e catáfora. COESÃO POR RETOMADA Como o nome sugere, a coesão dessa espécie é baseada em termos que recuperam outros termos precedentes. Vamos ilustrá-la com um trecho de uma crônica de Carlos Drummond de Andrade, “A manhã do Dia do Poeta”. Chego atrasado para registrar a passagem do Dia do poeta, que ocorreu na última quinta-feira. Absorvido pelo cotidiano miúdo, nem reparei nele. Para o meu ami- go Horácio, entretanto, a data não passou em branca nuvem (também, com esse nome...). Horácio já produziu três livros de poemas e costuma ser indigitado em seu círculo de relações como “o poeta”. Ganhou mesmo certa notoriedade, a ponto de, uma ocasião, pretendendo assistir a um filme pornô muito badalado, ser reconheci- do pela bilheteira, que lhe sorriu, dizendo: — Como vai o ilustre poeta? Manhã cedo, três vigilantes associações de poetas telefonaram para ele, convi- dando-o a participar de tardes comemorativas, onde leria versos com fundo musical e tomaria chá com bolinhos: — O meu amado poeta não pode faltar, pois não? — Reservamos um lugar de honra para o admirável bardo. — Distinto aedo, contamos com a sua presença. Eram três mulheres, secretárias das três sociedades, o que não é de estranhar, sabido que, na faixa dos 15 aos 55 anos, o número de poetas femininos é considera- velmente superior ao de poetas masculinos. Depois dos 55, cresce a percentagem de poetas varões. Todos insexualmente, como fez questão de acentuar em entrevista à TV Educativa, uma inspirada cultora do verso: — Não há nem pode haver distinção de sexos na poesia. Essa discriminação de poetisa, algo deprimente para nós, já era. (...) Horácio acabou prometendo que não faltaria às festividades, uma na Tijuca, outra no Leme, a terceira no centro, todas no mesmo horário. E já matutava que Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 7 desculpa daria pela ausência, sempre por motivo de força maior (variado), quando tocou o representante da geração-xerox: — Poeta, eu sei que o Dia do Poeta é todo dia, em todo lugar, inclusive na rua, onde vendo os meus livros, aliás com tremendo sucesso. Mas hoje é mais dia do que outro dia qualquer, entende? E você, irmão mais velho, receba o meu abraço fraternal. — In: Boca de Luar. Rio de Janeiro: Record, 1984, p. 163-4. Você notou quantas vezes o narrador se refere à personagem Horácio? Notou que essa personagem é referida por expressões sempre diferen- tes? No caso, o texto emprega termos que pertencem ao campo de sig- nificação da palavra poeta, a partir da referência ao conhecido poeta lati- no Horácio. Observe, no quadro a seguir, como se dá a progressão de ideias no trecho dessa crônica, pela retomada de informações: expressões iniciais dia do poeta horácio três mulheres poetas femininos poetas masculinos o representante da geração-xerox expressões de retomada • Data • Nele • Tardes comemorativas • Festividades • Uma • Outra • A terceira • Todas • Seu (círculo) • “O poeta” • Lhe • O ilustre poeta • Ele (convidando)-o • O meu amado poeta • O admirável bardo • Distinto aedo • Você • Irmão mais velho • poeta • Secretárias das três sociedades • Cultora do verso • Poetisa • Nós • Poetas varões • Todos • Eu • Meus • Meu Podemos constatar que os termos que retomam as expressões iniciais são de diversos tipos: ora são pronomes (ele, nele, lhe, o, você, nós, seu, eu, meu, todos); ora são artigos e numerais (uma, outra, a terceira) ora são termos que se associam àqueles referidos graças a uma relação de con- tiguidade que permite aproximar os sentidos das palavras e expressões (dia, data, tardes, festividades; poeta, bardo, aedo; mulheres, secretárias; poetas femininos, poetisas; poetas masculinos, poetas varões). Noutras ocorrências, há aproximações de caráter subjetivo (irmão mais velho, re- presentante da geração-xerox). Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 8 COESÃO POR ANTECIPAÇÃO O nome dado a essa espécie de coesão já indica que se trata do emprego de termo que sintetiza informação ou informações, colocando-se antes dela(s). Esse emprego está exemplificado nas frases: → Há três setores envolvidos: RH, Compras e Expedição. → As autoridades prestigiaram o evento: o Governador e o Prefeito fizeram questão de comparecer. → Tudo já está decidido — o tipo de evento, a data e os palestrantes. → Os interessados estavam ali: padre, juiz, delegado... Partindo desses conceitos e exemplos, vamos tratar dos diferentes tipos de coesão, por retomada e por antecipação. 1. COesÃO leXiCal Ocorre esse tipo de coesão quando se empregam as palavras da língua que correspondem às denominações (substantivos, adjetivos, verbos, ad- vérbios) dos dados de realidade.Obtém-se coesão lexical por meio de dois processos: a reiteração e a colocação. 1.1. REITERAÇÃO Há reiteração quando se repete o mesmo item lexical (a mesma palavra), ou quando se empregam sinônimos, hiperônimos, hipônimos e nomes genéricos. Para entender a diferença, vamos examinar os exemplos. 1.1.1. Reiteração pela repetição de palavra ou expressão É sempre no passado aquele orgasmo, é sempre no presente aquele duplo, é sempre no futuro aquele pânico. É sempre no meu peito aquela garra. É sempre no meu tédio aquele aceno. É sempre no meu sono aquela guerra. É sempre no meu trato o amplo distrato. Sempre na minha firma a antiga fúria. Sempre no mesmo engano outro retrato. É sempre nos meus pulos o limite. É sempre nos meus lábios a estampilha. Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 9 É sempre no meu não aquele trauma. Sempre no meu amor a noite rompe. Sempre dentro de mim meu inimigo. E sempre no meu sempre a mesma ausência. — Carlos Drummond de Andrade, O enterrado vivo. In: Fazendeiro do ar. A rigor, na quase totalidade dos textos, a reiteração — ou repetição — só se justifica por absoluta necessidade, devendo ser evitada, para garantir a concisão, a objetividade do texto. Já na linguagem da poética (caso do exemplo dado), serve para produzir um efeito de sentido; no poema de Drummond, trata-se do reforço da ideia do inexorável, da falta de saída, da fatalidade das situações que nunca mudam. 1.1.2. Emprego de sinônimos: Empregamos termos sinônimos para retomar a informação anterior: → Queria esclarecer umas dúvidas e procurei o professor, mas o mes- tre recusou-se a atender-me. → Era um menino esforçado, garoto de bons princípios. 1.1.3. Emprego de hiperônimos. Antes do exemplo, uma explicação: hiperônimos são termos de sentido mais amplo do que aqueles a que fazem referência. São exemplos, entre muitos outros, a relação entre vegetal e flor, entre flor e rosa. Note a relação entre o termo inicial e aquele que o retoma, seu hete- rônimo: → O liquidificador fazia um barulho muito estranho. O aparelho ron- cava feito um carro velho. (Aparelho designa um gênero de objetos do qual faz parte liquidificador.) 1.1.4. Emprego de hipônimos O hipônimo é um termo de sentido mais restrito do que o termo que ele retoma; é o caso da relação entre celular e telefone, MP4 em relação a eletroeletrônico, entre outros exemplos, como nas frases: A organização resolveu contratar novos profissionais. Os tecnólogos em gestão iniciarão suas atividades ainda nesta semana. (Tecnólogo em gestão é um entre vários tipos de profissionais.) Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 10 1.1.5. Emprego de nomes genéricos: São palavras de sentido amplo, que podem se referir a outras de sentidos diferentes. Veja como as palavras evento e acontecimento se colocam em re- lação a expressões de sentidos tão diferentes como exposição de arte, acidente, Copa do Mundo, feijoada beneficente... → A exposição de arte chamou a atenção da imprensa internacional. Foi o evento/ acontecimento mais comentado na mídia. → O acidente na Via Anhanguera deixou muitos feridos. O triste aconte- cimento / evento mobilizou o Corpo de Bombeiros de várias cidades. → A Copa do Mundo monopoliza a atenção de todos nós, sendo com certeza o maior evento / acontecimento esportivo do ano. → Essa instituição religiosa promove uma feijoada beneficente, acon- tecimento / evento que desperta a solidariedade dos habitantes da cidade. → Depois da morte do filho, a pobre moça definhou. É lamentável ver uma pessoa acabar-se depois de um acontecimento triste. Um outro exemplo, no qual se destaca o termo genérico treco: Aluno: Professora, quer ver meu celular novo? Professora: Não! Quero que você desligue e guarde esse treco. 1.2. COLOCAÇÃO Também conhecida por contiguidade, a colocação ocorre quando se uti- lizam termos pertencentes ao mesmo contexto de significação, de infor- mação. Observe-se, no exemplo abaixo, como os termos grifados rela- cionam-se por contiguidade, por aproximação, pois estão no contexto de assuntos, de temas compatíveis: Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 11 → O acidente bloqueou a rodovia, ali chegando muitas ambulâncias e carros do Corpo de Bombeiros. Os vários feridos foram transpor- tados para hospitais de Campinas. → Preciso trocar meu fogão; o forno não funciona, os queimadores estão entupidos, os acendedores não funcionam mais... 2. COesÃO pOr termOs gramatiCais Nesse caso, a referência (retomada ou antecipação) é feita por itens da língua que não têm significado próprio, sendo sua interpretação sempre feita pela remissão a outros itens do enunciado. É o caso de: 2.1. REfERêNCIA PRONOMINAL, É feita pelos pronomes pessoais, indefinidos e possessivos: → Minha irmã e eu dissemos a Jofre: Você vai gostar de viajar conosco. → Pedro e José são muito amigos; eles se conhecem desde meninos. Filha: Mãe, por que o papai tem que sair todo dia de manhã? Mãe: Ora, filha! Porque ele precisa de dinheiro para cuidar da gente, para passear, dar-lhe uma boa educação, vestimenta, comida... Observe, no texto da cena anterior, a referência pelos pronomes ele (re- ferindo-se a papai) e lhe (referindo-se à interlocutora Filha). → Li vários livros sobre o assunto, e cada qual me forneceu preciosos subsídios para a elaboração de meu trabalho. Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 12 → Convidou todos os colegas e professores para sua festa, mas ne- nhum compareceu. → Paulo me contou que entrou ladrão na loja dele. → A camiseta do uniforme de Mariana está impecável. A minha, ao contrário, está toda amarrotada. Um outro exemplo de coesão pronominal pelo possessivo, que pode ser visto na frase: → O livro dos 30 anos do JN: uma reflexão inédita sobre sua histó- ria. (Sua: do JN) 2.2. REfERêNCIA POR NuMERAIS → Renato, Valéria e Hilda são funcionários do setor de RH; os três cui- dam da seleção de candidatos a funções na empresa. → A Comissão julgadora atribuirá prêmios aos melhores contos. O pri- meiro será uma bolsa de estudos no exterior. → Lúcia e Paulo foram premiados: a primeira, com uma viagem à Áfri- ca, o segundo (ou o último), com um passeio ao Butantã. → No mês passado, gastei R$ 200,00 em compras de alimentos; neste mês, gastei o dobro! → A verba será distribuída da seguinte forma: um terço para novos projetos e dois terços para treinamento de pessoal. 2.3. REfERêNCIA POR vERbOS Compreendem os verbos fazer e ser, em construções como: → Prometeu ajudar-me, mas até agora não o fez. (Isto é: não me ajudou...) → Vamos apoiar seu projeto, mas é porque a ideia é realmente boa. (Note que a palavra “é” equivale a “vamos apoiar seu projeto”.) 2.4. REfERêNCIA DEMONSTRATIvA É realizada por meio de pronomes demonstrativos (assunto que você es- tudará mais detalhadamente na próxima aula, a de número 16), de advér- bios indicativos de lugar, entre outras classes de palavras. Observe esse tipo de referência nas frases seguintes: → Tudo está corretamente elaborado: projetos, orçamentos, contratos. → Poucos se manifestaram contra a medida — apenas os habituais críticos e os adversários políticos. Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 13 → Realizei os meus desejos, menos este: ter um filho. → Conheço Pedro e Paulo há muitos anos... Este eu conheço da escola; aquele, do clube. → O professor costumava gritar com os alunos, e isso os irritava pro- fundamente. → Entre as consequências da política econômica apontam-se as se- guintes: recessão, inflação, queda do poder aquisitivo. → Ponha os livros aí de novo, na estante de onde você os retirou. → Tenho saudade da cidadezinha;lá fiz diversos bons amigos. → Vamos considerar o seguinte: (...) → Observe-se acima o que se disse dos equipamentos. → Viajou para a Itália no ano passado, e não o vejo desde então. 3. COesÃO pOr sUbstitUiÇÃO Na substituição, emprega-se um item em lugar de outro elemento (ou de outros elementos) da frase ou, ainda, em lugar de uma oração inteira: As palavras gramaticais que fazem a substituição são: também, assim, o(a) mesmo(a). → Já entreguei meu relatório, e Júlia, também. (Isto é: já entregou o relatório.) → Carlos acredita que a situação do país vai melhorar, mas Vânia não pensa assim. (Ou: desse modo, de forma semelhante.) → Já que o técnico elogiou o equipamento, nós fizemos o mesmo. (Isto é: elogiar o equipamento.) 4. COesÃO pOr elipse Ocorre elipse quando se tem uma substituição por zero, isto é, omite- -se uma palavra, uma oração ou um enunciado inteiro, sendo possível recuperá-los pelo contexto. → — O gerente já saiu? — (0) Já (0). Observe que na econômica frase — Já — foram suprimidas as palavras o, gerente e saiu (O gerente já saiu). Outro exemplo: → — Mariana vai entregar o relatório? — (0) Vai (0). Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 14 Para concluir, vamos tratar, com mais detalhes, dos elementos de coesão denominados pronomes pessoais. Recordando: Os pronomes (em geral) substituem outras palavras dentro de um enun- ciado. Os chamados pronomes pessoais expressam as pessoas do discurso: o emissor ou os emissores (primeira pessoa), o receptor ou os receptores (segunda pessoa) e o assunto, objeto da conversação (terceira pessoa). Conforme a função que desempenham no enunciado, esses pronomes mudam de forma. Vejamos como isso funciona, na prática. → Pedro é um bom profissional. Pedro respeita os colegas. Na segunda frase, Pedro é sujeito de respeita; empregando-se um prono- me para substituir o nome Pedro temos: → Pedro é um bom profissional: ele respeita os colegas. O pronome ele, que representa Pedro, também é sujeito de respeita. → Pedro é um bom profissional, e os colegas respeitam Pedro. Na segunda frase, Pedro é complemento (objeto direto) de respeitam; empregando-se um pronome para substituir o nome Pedro, temos: → Pedro é um bom profissional, e os colegas o respeitam. O pronome o, que representa Pedro, é o complemento de respeitam (cujo sujeito é os colegas). Atenção Se o pronome o/a/os/as aparecerem depois de r, s ou z, mudam para lo/la/los/las. O/a/os/as vindos depois do som nasal, devem ser mu- dados para no/na/nos/nas. a. Se os pronomes o/a/os/as aparecerem depois de r, s ou z, mu- dam para lo/la/los/las, eliminando-se aquelas consoantes: → Gostei desse projeto: vou aprová-lo imediatamente. (aprovar o projeto / aprovar + o = aprová-lo) Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 15 → Foi João que fez este projeto; fez o projeto quando trabalhava em nosso setor. → Foi João que fez este projeto; fê-lo quando trabalhava em nosso setor. (fez o projeto / fez + o = fê-lo) b. Vindo depois de som nasal, os pronomes o/a/os/as devem ser mudados para no/na/nos/nas: → Se os relatórios estão prontos, coloquem-nos na mesa do Gerente (coloquem os relatórios / coloquem+ os = coloquem-nos); → Precisamos das plantas do imóvel. Peçam as plantas do imóvel ao proprietário. Precisamos das plantas do imóvel. Peçam-nas ao proprietário (peçam as plantas / peçam+ as = peçam-nas). Percebe-se que, dependendo da função sintática, o pronome adquire uma forma específica. Vamos conhecer tais formas, por meio do quadro seguinte. substituem palavras com função de sujeito substituem palavras com função de complemento objeto direto substituem prep. + palavras com função de complemento objeto indireto eu Talvez eu aceite a proposta. me Seu argumento me convenceu. me Ele me confiou a tarefa. (prep. +) mim Ele confiou a mim a tarefa. comigo Pode contar comigo. você(s) Querem que você assuma o cargo. o(s) / a(s) Ninguém o / a criticou. lhe(s) A empresa lhe atribui uma nova responsabilidade. (prep. +) você A empresa atribui a você uma nova responsabilidade.. ele, ela Creio que ele será promovido. se Ele se dedicou muito à empresa. o (lo) (no) / a (la) (na) Eu o encontrei há pouco. Pretendemos promovê-lo. Os técnicos procuravam uma solução e encontraram-na num antigo projeto. se Ele se prometeu uma semana de descanso. (prep. +) si Não confia em si mesmo. lhe Entreguei-lhe os documentos. consigo Leva consigo os documentos pessoais. nós Esperam que nós apresentemos a palestra. nos Espero que nos mencionem no relatório. nos Não nos deu chance de explicar o acontecido. (prep. +) nós Espero que lute por nós. conosco Trabalhe conosco. Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 16 substituem palavras com função de sujeito substituem palavras com função de complemento objeto direto substituem prep. + palavras com função de complemento objeto indireto eles, elas Elas têm plenas condições de assumir o cargo. se Eles se comprometem com os objetivos da empresa. o (lo) (no) / a (la) (na) Todos na empresa o respeitam. A investigação pode comprometê-los. Querem boas funcionárias e buscam- nas nos bancos de currículos. se Eles se permitem errar! (prep. +) si Não confiam em si mesmos, por isso não dão palpite. lhe Entreguei-lhes os documentos. consigo Levam consigo os documentos pessoais. antena pArAbóliCA Nossas atividades de produção de linguagem envolvem o bom domínio da língua, falada ou escrita, para garantia de eficácia. Como comunicar é tornar comum uma ideia, um sentimento, um desejo, é muito importante que a linguagem verbal utilize mecanismos linguísticos que ga- rantam esse compartilhamento. Você deve ter notado que os elementos de coesão que estudamos são usuais no dia a dia, fazem parte de todas as nossas comunica- ções verbais. Portanto, conhecê-los e saber como utilizá- -los irá garantir o aprendizado e o bom desempenho em outras disciplinas, o sucesso nas relações interpessoais, na recepção e na decodificação de textos. Como você pode notar, não se pode negar a importância desse tema para o ser social e profissional que cada um de nós é. e AgorA, José? Bem, agora que você já conhece os tipos de coesão refe- rencial tratados nesta unidade, está pronto para estudar, em nossas próximas unidades, dois mais importantes ele- mentos responsáveis pela coesão num texto — os prono- mes demonstrativos e os pronomes relativos. Até lá! Comunicação e Expressão / UA 13 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Coesão Referencial 18 glossário Coesão lexical: relação entre palavras que per- tencem ao vocabulário da língua; é o reper- tório, o acervo linguístico. Palavras gramaticais: palavras da língua que são usadas como relacionadores das palavras do léxico, caso das preposições, das conjun- ções, dos pronomes. Sinonímia: relação entre palavras de significa- ção próxima, de tal forma que uma possa ser usada pela outra no contexto, sem prejuízo de sentido. Hiperonímia: relação que se estabelece entre palavra de sentido mais genérico e outra de sentido mais específico, com base na existência de traços comuns de significação (p.ex. felino é hiperônimo para tigre). Hiponímia: relação que se estabelece entre pa- lavra de sentido mais específico e outra de sentido mais genérico, com base na existên- cia de traços comuns de significação (p. ex. cão é hipônimo de animal). Elipse: supressão de um termo que pode ser identificado graças ao contexto. Contiguidade: relação de proximidade de sen- tido entre palavras, que se podem associar numa sequência dada. reFerênCiAs FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: leitu- ra e redação. 2a ed. São Paulo: Ática, 1997. _____. Para entender o texto: leitura e reda- ção. São Paulo:Ática, 1997. KOCH, I. V. A Coesão textual. 2a ed., São Paulo: Contexto, 1990. gestão empresarial comunicação e expressão Coesão e CoerênCia em diferentes gêneros disCursivos: uso de pronomes demonstrativos em textos organizaCionais 14 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula o aluno deverá ser capaz de reconhecer e empregar os pronomes demonstrativos como elemen- tos coesivos responsáveis pela reativação do referente em um texto. COmpetênCias Conhecimento e capacidade de utilização adequada dos pronomes demonstrativos para a produção e intelecção de textos. Habilidades Habilidade na manipulação das diversas formas de refe- rência pronominal associadas às diferentes possibilida- des de se dirigir a interlocutores em diferentes contextos de comunicação. comunicação e expressão Coesão e CoerênCia em diferentes gêneros disCursivos: uso de pronomes demonstrativos em textos organizaCionais ApresentAção Nesta aula, você aprenderá a empregar os pronomes demonstrativos como elementos coesivos utilizados na produção e intelecção de textos. pArA ComeçAr Muitas vezes, você já deve ter sido solicitado a demons- trar algo a alguém. De origem latina, o verbo “demons- trar” significa exatamente aquilo que você deve ter feito nessas ocasiões, ou seja, “fazer ver, dar a conhecer ou indicar”. Pensando no significado desse verbo, veja com aten- ção a cena apresentada a seguir: Homem: Eu nunca fiz isto antes, me ajude. Mulher: Tudo bem vá lavando esse arroz, eu vou falando como deve fazer. Observe que: As palavras “isso” e “esse” usadas são pronomes de- monstrativos. Com base nisso, perguntamos: você sabe a diferença entre elas? Elas podem ser usadas Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 4 indistintamente em qualquer situação? Você sabe quando deve optar pelo uso de uma ou de outra? É exatamente isso que vamos aprender nesta nossa aula. Vamos lá? FundAmentos prOnOmes demOnstrativOs Os pronomes demonstrativos são aqueles que situam a pessoa ou a coisa demonstrada em relação às três pessoas do discurso. Essa localização, indicando proximidade ou distanciamento, pode se dar no tempo, no es- paço ou no próprio texto. dica As três pessoas do discurso ou pessoas gramaticais são: → 1a pessoa (falante): eu (singular) / nós (plural); → 2a pessoa (ouvinte): tu (singular) / vós (plural); → 3a pessoa (assunto): ele, ela (singular) / eles, elas (plural). No que se refere à 2a pessoa do discurso, você dificilmente utiliza o prono- me “tu” ou “vós” no seu dia a dia, não é mesmo? Então, vai aí um lembrete importante: lembre-se Os pronomes “você” e “vocês” substituem os pronomes “tu” e “vós” em muitas regiões do país. Por isso são considerados também pronomes de 2a pessoa, apesar de exigirem o verbo na 3a pessoa. Tendo isso em vista, os pronomes demonstrativos podem ser apresenta- dos de acordo com a seguinte tabela: Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 5 pessoas variáveis invariáveismasCulino feminino singular plural singular plural 1a este estes esta estas isto 2a esse esses essa essas isso 3a aquele aqueles aquela aquelas aquilo Os pronomes demonstrativos podem ocorrer combinados com as pre- posições de e em, do que resultam as formas deste (e suas flexões), disto, nisso; desse (e flexões), nesse (e flexões), disso, nisso; daquele (e flexões), naquele (e flexões), daquilo, naquilo. Os pronomes aquele(s), aquela (s) e aquilo podem também combinar-se com a preposição “a”, caso em que recebem o sinal indicativo da ocorrên- cia de crase: àquele(s), àquela(s), àquilo. Observe a frase: → Enviamos a correspondência àqueles candidatos, solicitando seu comparecimento à empresa. Classificam-se também como pronomes demonstrativos as palavras, o, a, os, as, quando equivalem a isso, isto, aquele, aquela, aqueles, aquelas. Veja na cena a seguir: Menino: Olha só o que eu achei. Na cena, a frase “Olha só o que eu achei!”, temos a palavra “o” como cor- respondente de “aquilo”. Também são considerados pronomes demonstrativos os vocábulos mesmo e próprio, quando reforçam pronomes pessoais ou fazem refe- rência a algo expresso anteriormente: Tabela 1. Pronomes Demonstrativos. Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 6 Administração do tempo – parte 31 (...) Quem trabalha como empregado está, na realidade, vendendo ao em- pregador parte de seu tempo (e do uso de sua inteligência, de suas com- petências, de seu esforço) em troca de um salário (dinheiro). Isso quer di- zer que o uso de nosso tempo durante o horário de trabalho é, em parte, determinado pelo nosso empregador, não por nós mesmos. (...) → (nós mesmos) Podem ainda ser classificadas como pronomes demonstrativos as pala- vras tal e semelhante, quando equivalentes a esse, essa, aquela. Veja: (...) Infelizmente, a realidade é que este mesmo jovem não está ainda pre- parado para se inserir profissionalmente no mercado de forma autônoma e empreendedora. Tal situação é resultado tanto do sistema educacional brasileiro, como de valores da nossa sociedade, que ainda impregnam nossos jovens com a “síndrome do empregado”, mesmo percebendo que este elemento, o emprego, está desaparecendo no contexto de um mun- do globalizado. (...)2 → (Tal = essa) empregO dOs prOnOmes demOnstrativOs 1. Em rElação ao Espaço a. Este(s), esta(s) e isto: são pronomes utilizados para fazer referência a algo que se encontra perto da pessoa que fala: → Este caderno que está aqui é meu. Observe que essa proximidade é reforçada pelo advérbio aqui. b. Esse(s), essa(s) e isso: são pronomes utilizados para fazer referência a algo que se encontra perto do ouvinte: → Esse caderno na sua mão é seu? 1. Disponível em: http://www.acresa. com.br/site/?p=864 2. MAMEDE, R. R. Educação em empreendedorismo como fator de desenvolvimento econômico: uma proposta para o município de Campo Grande- MS. Disponível em: http://www.oei. es/etp/educacao_ empreendedorismo_ fator_ desemvolvimento_ economico.pdf http://www.acresa.com.br/site/?p=864 http://www.acresa.com.br/site/?p=864 http://www.oei.es/etp/educacao_empreendedorismo_fator_desemvolvimento_economico.pdf http://www.oei.es/etp/educacao_empreendedorismo_fator_desemvolvimento_economico.pdf http://www.oei.es/etp/educacao_empreendedorismo_fator_desemvolvimento_economico.pdf http://www.oei.es/etp/educacao_empreendedorismo_fator_desemvolvimento_economico.pdf http://www.oei.es/etp/educacao_empreendedorismo_fator_desemvolvimento_economico.pdf http://www.oei.es/etp/educacao_empreendedorismo_fator_desemvolvimento_economico.pdf Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 7 Na frase o pronome esse indica que o objeto (caderno) que estava próxi- mo de seu interlocutor. c. Aquele(s), aquela(s) e aquilo: são pronomes utilizados para fazer referência a algo que se encontra longe do falante e do ouvinte: → Aquela moça é muito bonita. No exemplo, foi usado o pronome aquela para referir-se a uma moça (bo- nita) que se encontrava distante do interlocutor e do seu ouvinte. dicas Na utilização dos pronomes demonstrativos para indicar a localização espacial, há geralmente uma correlação natural com os advérbios de lugar: aqui, ali e lá. Veja: → Proximidade com o falante: Isto aqui. → Proximidade com o ouvinte: Isso ali. → Proximidade com o assunto: Aquilo lá. Em sua prática profissional, será muito comum a utilização desses prono- mes na redação de documentos empresariais. Você utilizará, por exem- plo, nesta (carta, empresa, cidade etc), quando o foco estiver no emissor do documento ou nessa (carta, empresa, cidade etc), quando o foco esti-ver no destinatário ou receptor do documento. 2. Em rElação ao tEmpo a. Este(s), esta(s) e isto: indicam o tempo presente em relação à pes- soa que fala: Fofoqueiro está sujeito a demissão3 Uso de meios digitais para espalhar boatos sem identificação é crime. Segundo especialistas, profissionais podem ser rastreados e prejudicar a carreira; defesa nessas situações é “difícil”. Mesmo quando as mensagens são postadas ou enviadas anonimamen- te, o funcionário está sujeito a penalidades previstas na Constituição, no 3. Texto adaptado do jornal Folha de S. Paulo, de 13/6/ 2010. Disponível em: http://www1. folha.uol.com.br/ fsp/empregos/ ce1306201002.htm http://www1.folha.uol.com.br/fsp/empregos/ce1306201002.htm http://www1.folha.uol.com.br/fsp/empregos/ce1306201002.htm http://www1.folha.uol.com.br/fsp/empregos/ce1306201002.htm http://www1.folha.uol.com.br/fsp/empregos/ce1306201002.htm Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 8 Código Civil e na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que podem le- var à demissão por justa causa, ao pagamento de indenização e, no limite, à detenção. Segundo o perito digital Wanderson Castilho, uma mensagem de e-mail enviada anonimamente pode render demissão por justa causa. De janeiro a maio deste ano, Castilho diz ter identificado e trabalhado com 19 ocorrências de mensagens eletrônicas enviadas anonimamente para falar mal de outras pessoas ou empresas. Tendo em vista a data de publicação da matéria apresentada (13/6/2010), a expressão deste (ano) usada pelo redator remete ao momento presente em que ele se encontra, ou seja, o ano de 2010. b. Esse(s), essa(s) e isso: indicam o tempo passado ou futuro, mas re- lativamente próximo à época em que se situa a pessoa que fala. Ve- jamos: Após longos anos pertencendo ao setor privado (até meados da década de 60), o sistema de telefonia brasileiro consolidou seu processo de esta- tização em 1972 com a criação da Telebrás. Durante praticamente duas décadas, mais precisamente até 1998, essa holding ditou as regras e regula- mentou a comunicação no Brasil. Exatamente nesse ano se iniciou a criação do cenário de telefonia móvel celular no Brasil, tal qual conhecemos hoje.4 No fragmento apresentado, o pronome esse (presente na expressão “nes- se ano”) é utilizado para fazer referência a um passado relativamente pró- ximo (ano de 1998) em relação à época em que ocorreu a produção do texto (2006). c. Aquele(s), aquela(s) e aquilo: indicam um afastamento no tempo, um passado vago ou muito remoto. A pedra angular do pensamento de Gary Hamel é a importância vital da inovação. “Defendo a teoria de que, quanto maiores forem as dificulda- des econômicas, maior a tentação de cortar despesas, mas é nesses mo- mentos que a inovação radical se torna o único modo de avançar. Em um mundo descontínuo, apenas a inovação radical conseguirá criar riquezas 4. BRASIL, R. A. S., Gestão empresarial por processos de negócio e seis sigma: estudo de caso aplicado ao segmento de telefonia móvel celular. Disponível em: http://www. leansixsigma. com.br/ACERVO/ ACERVO_14112414. PDF http://www.leansixsigma.com.br/ACERVO/ACERVO_14112414.PDF http://www.leansixsigma.com.br/ACERVO/ACERVO_14112414.PDF http://www.leansixsigma.com.br/ACERVO/ACERVO_14112414.PDF http://www.leansixsigma.com.br/ACERVO/ACERVO_14112414.PDF http://www.leansixsigma.com.br/ACERVO/ACERVO_14112414.PDF Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 9 novas. Apesar do naufrágio das empresas ponto.com, basta analisar o que aconteceu na última década para concluir que a maioria das recentes riquezas foi criada por estreantes no setor ou por empresas jovens. A única conclusão a que se pode chegar é que a inovação move a criação de riquezas”, afirma Hamel.(...) Hamel compara a atual visão da inovação com o conceito de qualidade que predominava no mundo dos negócios na década de 1970. Naquela época, as pessoas reconheciam a importância da qualidade, mas desco- nheciam os processos ou sistemas que permitiriam sua concretização.5 Como o texto faz referência a um passado remoto (década de 1970), o pronome demonstrativo utilizado para indicá-lo foi “aquela”, presente na expressão “naquela época”. dicas Os pronomes demonstrativos também podem ser usados para indicar uma relação de posse, deixando claro se o possuidor é o falante, o ouvinte ou o ser que serve como assunto. Veja: → Falante: Esta ideia é minha. → Ouvinte: Esse seu argumento não me convence. → Assunto: Aquele relatório é dele. 3. Em rElação às rEfErências a sEgmEntos do tExto a. Este(s), esta(s) e isto: esses pronomes são utilizados quando se quer fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se vai falar. Vejamos: Em todos os cursos de negociação ouvem-se frases como esta: “em uma negociação o cliente é quem tem o poder”; mas, O que é nego- ciar? Qual o verdadeiro objetivo de uma negociação? (...)6 No parágrafo apresentado, o pronome esta faz referência à frase que será mencionada a seguir, qual seja, “em uma negociação o cliente é quem tem o poder”. 5. O laboratório de inovação em gestão. Disponível em: http://br.hsmglobal. com/adjuntos/14/ documentos/000/ 061/0000061637.pdf 6. Três fatores de sucesso para aumentar a efetividade de uma negociação. Disponível em: http://site.suamente. com.br/tres- fatores-de-sucesso- para-aumentar- a-efetividade-de- uma-negociacao/ http://br.hsmglobal.com/adjuntos/14/ documentos/000/ 061/0000061637.pdf http://br.hsmglobal.com/adjuntos/14/ documentos/000/ 061/0000061637.pdf http://br.hsmglobal.com/adjuntos/14/ documentos/000/ 061/0000061637.pdf http://br.hsmglobal.com/adjuntos/14/ documentos/000/ 061/0000061637.pdf http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 10 b. Esse(s), essa(s) e isso: esses pronomes são empregados quando se quer fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou. Observe: A arte da negociação7 Em todos os cursos de negociação ouvem-se frases deste tipo: → “Em uma negociação o cliente é quem tem o poder.” → “Os vendedores não tem outra opção que aceitar as preten- sões dos clientes.” → “É necessário outorgar condições favoráveis aos clientes.” Isso faz com que muitas vezes nos esqueçamos de qual é o verdadei- ro objetivo de uma negociação. Lendo atentamente o texto, podemos observar que enquanto o pro- nome este, presente na expressão “deste tipo”, remete a algo que ainda será mencionado no texto, o pronome Isso retoma toda a ideia mencionada anteriormente. Nesse sentido, Isso corresponde a “ou- vir as frases mencionadas nos cursos de negociação”. É, pois, ouvir tais frases o que “faz com que muitas vezes nosesqueçamos de qual é o verdadeiro objetivo de uma negociação”. c. Este e aquele: esses pronomes são ambos utilizados num mesmo enunciado quando se faz referência a termos já mencionados, usan- do-se aquele para o termo mencionado em primeiro lugar e este para o último termo mencionado. Veja: Muitos teóricos da área de gestão ressaltam, na definição do perfil do líder contemporâneo, a diferença entre os conceitos de poder e liderança. Enquanto aquele é definido como uma faculdade pela qual se exige um subordinado faça a vontade de seu chefe, mesmo que isso seja contrária a sua própria vontade; esta se define como uma habilidade pela qual se motiva as pessoas a fazerem o que é necessário, de boa vontade, por inspiração e conhecimento de sua verdadeira finalidade. 7. Três fatores de sucesso para aumentar a efetividade de uma negociação. Disponível em: http://site.suamente. com.br/tres- fatores-de-sucesso- para-aumentar- a-efetividade-de- uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ http://site.suamente.com.br/tres-fatores-de-sucesso-para-aumentar-a-efetividade-de-uma-negociacao/ Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 11 No fragmento apresentado, o pronome aquele se refere a “poder” termo mencionado em primeiro lugar no texto, enquanto esta se refere a “liderança”, último termo mencionado. atenção Embora seja comum na leitura de diversos textos a observa- ção do uso indistinto dos pronomes demonstrativos, a ina- dequação na utilização desses pronomes pode comprometer a inteligibilidade e clareza do texto. antena pArAbóliCA Como vimos, os pronomes demonstrativos são aqueles que situam a pessoa ou a coisa demonstrada em relação às três pessoas do discurso, ou seja, fazem ver, dão a conhecer ou indicam algo. Em virtude dessas caracterís- ticas, tais pronomes são muito utilizados em anúncios publicitários, cuja função primordial é justamente apre- sentar ou demonstrar determinado produto. Preste atenção da próxima vez que você ver um anún- cio publicitário. Certamente, encontrará um dos prono- mes estudados nesta aula. e AgorA, José? Agora que você já sabe quais são os pronomes demons- trativos e como utilizá-los adequadamente na elabora- ção de um texto, chegou a hora de aprender sobre outro tipo de pronome: os pronomes relativos. Para tanto, na próxima aula, você aprenderá como os pronomes relati- vos podem também contribuir para a elaboração de tex- tos organizacionais. Até a próxima aula! Comunicação e Expressão / UA 14 Coesão e Coerência em Diferentes Gêneros Discursivos: Uso de Pronomes Demonstrativos em Textos Organizacionais 13 reFerênCiAs CEREJA, W. R.,; MAGALHÃES, T. C.; Gramática re- flexiva: texto, semântica e interação. São Paulo: Atual, 1999. FIORIN, L. J.; SAVIOLI, F. P. Lições de texto: lei- tura e redação. 6a ed. São Paulo: Ática, 2003. KOCH, I. V.; ELIAS, V. M. Ler e escrever: estra- tégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009. _____ Ler e compreender: os sentidos do tex- to. São Paulo: Contexto, 2009. LEITE, R. ET AL. Novas palavras: literatura, gramática, redação e leitura. São Paulo: FTD, 1997. gestão empresarial comunicação e expressão Coesão TexTual: Pronomes relaTivos 15 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final desta aula, o aluno deverá conhecer os prono- mes relativos da língua portuguesa e as condições de uso dessa classe de palavras. COmpetênCias Reconhecer os pronomes relativos adequados às rela- ções coesivas que garantem a progressão das ideias no texto. Habilidades Selecionar e empregar, em contextos dados ou de sua própria elaboração, elementos coesivos da classe dos pronomes relativos, construindo sequências textuais adequadas, nas diferentes modalidades de texto. comunicação e expressão Coesão TexTual: Pronomes relaTivos ApresentAção Nesta aula, você aprenderá a empregar os pronomes re- lativos como elementos coesivos utilizados na produção e intelecção de textos. Conhecerá as especificidades de uso desses pronomes nos contextos em que aparecem, podendo, com isso, para fazer a seleção adequada dessa espécie de coesivo. pArA ComeçAr Você conhece o poema “Quadrilha” de Carlos Drum- mond de Andrade? João amava Teresa ↓ QUE amava Raimundo ↓ QUE amava Maria ↓ QUE amava Joaquim ↓ QUE amava Lili ↓ QUE não amava ninguém. Notou que a construção da quadrilha é baseada numa cadeia de amores e desamores? E que essa cadeia tem seus elos na palavra QUE, referindo-se a diferentes pes- soas? Isso é possível porque estamos lidando com o cha- mado pronome relativo. Note como se forma o encade- amento de amores e desamores no poema: Comunicação e Expressão / UA 15 Coesão Textual: Pronomes Relativos 4 Nesta aula, conheceremos melhor essa classe de palavras em suas es- pecificidades e diferentes empregos em nossa língua. Vamos lá! FundAmentos A classe dos pronomes relativos é um dos principais elementos de coesão num texto que produzimos. É necessário, inicialmente, compreender a função de pronome, para, depois, entender a função de relativo (isto é, responsável por relações). Os pronomes, de modo geral, têm função substitutiva (“pro” = em lugar de); assim, ocupam na cadeia do enunciado o lugar de um conteúdo que se queira expressar, sem repetir a forma dada a tal conteúdo, isto é, sem repetir a palavra ou expressão daquele conteúdo. A referência do pronome pode ser linguística (de palavra, ou palavras) ou extralinguística (referindo-se à realidade extraverbal, às coisas, ideias e seres do universo abarcado pelo conhecimento). Há pronomes que se referem ao mundo extralinguístico, representan- do, no enunciado, as figuras do emissor, (aquele que fala) e do receptor (aquele a quem fala o emissor). Esses pronomes são eu e nós (para o emissor) você(s) (para o receptor). Já vimos, em nossa aula anterior, vários pronomes capazes de fazer a retomada de informações precedentes, como ocorre nas seguintes frases: → O Gerente saiu, e o Supervisor foi com ele. → Apanhe o folheto, guarde-o na gaveta e não deixe de levá-lo à escola, amanhã. Observe-se, agora, o enunciado abaixo. → O professor nos indicou um livro, e o livro é muito interessante. Nele, fica clara uma repetição desnecessária da palavra livro; numa pri- meira etapa, poder-se-ia substituir livro por ele: → O professor nos indicou um livro, e ele é muito interessante. Mas o resultado ainda não é a forma ideal, de um enunciado de elabora- ção sintático-semântica fluente. A “fluência” só será atingida quando se Comunicação e Expressão / UA 15 Coesão Textual: Pronomes Relativos 5 empregar um termo que associe as funções de substituição e de nexo, de elo entre as partes do período. Esse termo, capaz de reunir essas funções (de substituto e de relator), é exatamente o pronome relativo, cujo emprego dá ao enunciado a se- guinte feição: → (1) O professor nos indicou um livro, (2) que é muito interessante. Como se percebe,o responsável, ao mesmo tempo, pela substituição de livro e pela ligação entre as orações (1) e (2) é o pronome relativo que. A escolha do relativo adequado para a frase que estivermos elaboran- do deverá ser feita a partir da análise de diversos fatores; um deles - que é primordial – é o antecedente do pronome, isto é, a palavra que o pro- nome substituirá na frase. A análise desse antecedente levará em conta se ele é animado ou inanimado, humano ou não humano, compatível com algum tipo de palavra (por exemplo, lugar). Esse critério baseado na defi- nição da natureza do antecedente é um dos mais importantes para definir a escolha adequada do pronome relativo. Outro elemento de importância nessa escolha é o sentido do próprio relativo. Há relativos que têm sentido próprio: é o caso de onde, que guar- da o significado de “lugar”, de cujo, que tem sentido de “posse” (seu, sua, dele), de quem, que identifica “pessoa”, e de quanto(s)(as), com sentido próprio de “quantidade”. Entre esses, quem, onde e quanto(s)(as) po- dem ser usados sem antecedente expresso, (o chamado uso absoluto), exatamente porque o relativo traz seu próprio sentido à frase. Observe: → O funcionário a quem encaminhei a proposta demitiu-se. → “Quem eu quero não me quer...” → Vejo que a casa onde mora é luxuosa. → “Onde me espetam, fico.” → “Tenho tudo quanto quero.” → Livros? Compro sempre quantos posso. É preciso, ainda, verificar a combinatória dos pronomes relativos com ou- tras palavras da frase: enquanto alguns relativos podem-se combinar com qualquer tipo de palavra (caso de cujo e quanto, e suas flexões), outros combinam com preposições monossilábicas (que), com preposições não monossilábicas (caso de o qual e suas flexões, que se usado sem prepo- sição estará distanciado de seu antecedente). Imaginemos enunciados em “estado bruto”, cujas partes deverão ser ligadas por pronomes relativos: Comunicação e Expressão / UA 15 Coesão Textual: Pronomes Relativos 6 a. A reunião foi muito proveitosa. Compareci à reunião ontem. b. Não conheço a pessoa. Você diz que encontrou os documentos na sala dela. c. Estivemos no edifício daquela empresa. Nele ocorreu um incêndio. Na frase 1, o antecedente do pronome é a palavra reunião: portanto, o antecedente é inanimado, não humano; será substituído pelo relativo na frase onde ocorre o verbo comparecer, verbo, como se vê, acompanhado de preposição monossilábica. Nessas condições, a resposta será: o relati- vo é que: a. A reunião a que compareci ontem esteve muito animada. (Note a “quebra” da primeira parte da declaração, para a inclusão da frase contendo o pronome relativo: isso sempre ocorrerá para manter-se o relativo o mais perto possível de seu antecedente.) Na frase 2, o antecedente é a palavra pessoa, retomada pelo pronome possessivo dela = a sala da pessoa. Existe aí uma indicação claríssima de posse; portanto, só pode caber na frase CUJA, concordando com sala. A declaração 2 realiza-se com o pronome relativo da forma seguinte: b. Não conheço a pessoa em cuja sala você diz que encontrou os documentos. Finalmente, o enunciado 3; nele existe um antecedente compatível com lugar: edifício da empresa. Para lugar, usa-se onde: c. Estivemos no edifício daquela empresa onde ocorreu um incêndio. Vamos agora fazer uma descrição mais pormenorizada de cada um dos pronomes relativos. 1. prOnOme relativO: QUe Que é um pronome do tipo “doador universal”, visto que pode ocorrer substituindo palavras de naturezas as mais diferentes, pode-se combinar – ou não – com preposições, pode ser usado em lugar de outros relativos. Essa propriedade desse pronome se deve principalmente a sua neutrali- dade. Observe que ele não tem flexão de gênero (masculino / feminino) nem de número (singular / plural); também é vazio de sentido – seu signi- ficado na frase será sempre o significado de seu termo antecedente. Veja essas características nos contextos a seguir: Comunicação e Expressão / UA 15 Coesão Textual: Pronomes Relativos 7 → O homem que caiu do telhado ficou muito ferido. → A moça que caiu do telhado ficou muito ferida. → Os gatos que caíram do telhado ficaram muito feridos. → A antena que caiu do telhado ficou completamente destruída. → As telhas que caíram do telhado ficaram completamente que- bradas. Você pôde perceber que o relativo que substitui diferentes antecedentes, adquirindo, portanto, diferentes sentidos: O homem ficou muito ferido ... o homem caiu do telhado A moça ficou muito ferida ... a moça caiu do telhado Os gatos ficaram muito feridos ... os gatos caíram do telhado A antena ficou completamente destruída ... a antena caiu do telhado As telhas ficaram completamente quebradas ... as telhas caíram do telhado Veja, agora, esse mesmo pronome em combinação com preposições: → A atividade escolar de que mais gosto é a leitura. → Essa é a atividade em que pretendo investir e a que dedico mais tempo. Por fim, note como ele pode ser usado em lugar de outros relativos. Não conheço o funcionário a quem você se refere. Não conheço o funcionário a que você se refere. A rua onde moro é muito movimentada. A rua em que moro é muito movimentada. Os objetivos pelos quais luta são nobres. Os objetivos por que luta são nobres. 2. prOnOme relativO: O QUal, a QUal, Os QUais, as QUais Esses pronomes também não têm sentido próprio; podem substituir an- tecedentes animados (humanos e não humanos) e inanimados. As con- dições de emprego deles são muito semelhantes às condições de uso do relativo que. O que pode diferenciá-los, então? Em primeiro lugar, a distância entre o antecedente e o relativo. No desenvolvimento da frase, o antecedente e o relativo devem estar o mais próximos possível – em geral, o antecedente é a palavra vizinha do Comunicação e Expressão / UA 15 Coesão Textual: Pronomes Relativos 8 pronome. Mas, se as condições em que se apresenta a informação não permitem essa proximidade, é necessário criar uma referência mais pre- cisa, o que se faz flexionando o relativo na mesma forma do antecedente. Vamos ver como isso ocorre na prática. Se alguém afirma: → Não gostei da proposta desse novo diretor, que me parece mui- to indecente! É possível perguntar: afinal, quem é indecente: a proposta ou o diretor? Essa ambiguidade não existiria se o relativo escolhido tivesse as marcas do seu antecedente. Assim sendo, se a indecência for atributo do diretor, a frase será: → Não gostei da proposta desse novo diretor, o qual me parece muito indecente! Já, se a indecência for atributo da proposta, a frase será: → Não gostei da proposta desse novo diretor, a qual me parece muito indecente! Definida a questão, acaba a dúvida! Cabe ainda observar que há um critério de ordem subjetiva que leva ao emprego desse relativo; trata-se da entonação, daquilo que nosso ouvido entende como uma combinatória sonora harmoniosa. É um tanto quanto difícil “afinar” esse critério, razão pela qual é preferível observar combina- tórias com preposições tônicas, monossilábicas ou não, com as quais esse relativo (também tônico) soa melhor: → Estes são os critérios mediante os quais foram escolhidos os can- didatos à vaga. → Houve obstáculos, diante dos quais suspendemos a execução do projeto. → Há opiniões segundo as quais o mercado de ações voltará a equili- brar-se. 3. prOnOme relativO: QUem Esse relativo tem sentido próprio, como se afirmou: ele carrega consigo a carga semântica de pessoa, ser humano. Logo, seu antecedente tem de ter esse atributo, como nas frases: Comunicação e Expressão / UA 15 Coesão Textual: Pronomes Relativos 9 → João foi o funcionário a quem se atribuiu a função de Supervisor. Afinal, ele é a pessoa em quem o Diretor da empresa deposita total confiança. Você percebeu que antes desse pronome há sempre uma preposição? Pois é: isso sempre ocorre quando ele tem o antecedente expresso. Nes- sas duas ocorrências, o relativo quem possui antecedentes, respectiva- mentefuncionário e pessoa. Mas é possível empregá-lo também sem antecedente, já que ele tem sentido próprio. Note essa propriedade em: → Quem souber do paradeiro dela deve avisar a polícia. Essa particularidade de quem está presente nos ditos populares, com sentido de generalização da ideia de pessoa, equivalendo a toda pessoa que. Eis alguns exemplos: → Quem tudo quer nada tem. → Quem espera sempre alcança. → Quem com ferro fere com ferro será ferido. → Quem vê cara não vê coração. 4. prOnOme relativO: CUjO, CUja, CUjOs, CUjas Afirmamos que esse relativo expressa a informação de posse. Vamos per- ceber que o mecanismo de seu emprego é um pouco diferente daqueles dos demais relativos, porque cujo(a)(s) mantêm uma dupla relação: com um termo antecedente e com um termo consequente. Como isso se dá? Em toda relação de posse, existe um possuidor e uma coisa possuída, certo? São esses os dois elementos que esse pronome relaciona: o possui- dor é o antecedente; a coisa possuída é o consequente. Na frase: → Elogiei o funcionário deste setor. O projeto do funcionário foi premiado. Possuidor: o funcionário. Coisa possuída: o projeto. Na relação entre esses dois termos, temos: → Elogiei o funcionário cujo projeto foi premiado. ↓ ↓ possuidor coisa possuída Comunicação e Expressão / UA 15 Coesão Textual: Pronomes Relativos 10 Agora note a flexão desse relativo: → Elogiei o funcionário cuja proposta foi premiada. → Elogiei o funcionário cujos projetos foram premiados. → Elogiei o funcionário cujas propostas foram premiadas. Percebeu que esse pronome relativo concorda com a coisa possuída, com o consequente? Uma última e muito importante observação: Atenção Nunca use artigo (o, a, os, as) depois de cujo, cuja, cujos, cujas! O artigo está embutido na flexão nominal do pronome. 5. prOnOme relativO: Onde Esse relativo também tem sentido próprio. Onde significa lugar em que... assim, só pode ser usado quando o antecedente dele tiver sentido de lu- gar, como ocorre em: → A rua onde moro, a cidade onde vivemos... Rua e cidade são referências espaciais, são lugares. É preciso ficar alerta para não fazer uso indevido desse pronome; aliás, ele tem sido uma espécie de “muleta de frase”, entrando em contextos os mais esquisitos, só para ligar uma frase com outra, independentemente do que se diz! Fuja de ocorrências como – Eles fizeram um estudo onde concluíram que a empresa deve investir em agronegócio. Afinal, estudo não é um lugar... DicA Existe aonde? Sim, essa forma nada mais é do que o relativo onde com- binado com a preposição A. Essa forma ocorre sempre que existe na frase um verbo com sentido de direção, por exemplo, o verbo ir: Comunicação e Expressão / UA 15 Coesão Textual: Pronomes Relativos 11 → Vou aonde me mandam... → Não sei aonde eles foram. → A montanha aonde se dirigem os alpinistas é muito perigosa. Também se pode encontrar a forma donde, que nada mais é do que de onde (aliás, uma construção mais contemporânea...); essa forma aparece com verbos que têm sentido de procedência: → O lugar donde vieram os tiros ainda não foi determinado pela perícia. Você notou que nessas duas frases o relativo onde foi empregado sem an- tecedente expresso? Isso ocorre pelo fato de ele ter sentido próprio de lu- gar (da mesma maneira que ocorre com o relativo quem, conforme vimos). 6. prOnOme relativO: QUantO(a)(s) Esse é um relativo que só se usa quando existe a noção de quantidade. E há uma diferença entre ele e os demais: ele tem antecedentes fixos, em número limitado. Ele se refere às palavras tudo, todos, todas, tanto, tantos, tantas. Veja os exemplos: → Ele tem tudo quanto desejou na vida. → Comprou os DVDs e assistiu a todos quantos “couberam” num só dia... → Realizou as tarefas, tantas quantas lhe foram exigidas. Também se admite o emprego absoluto desse relativo: → Saibam quantos estão aqui presentes que nossa empresa vai ex- pandir suas atividades. DicA Na sequência, você encontrará um quadro que resume a descrição dos pronomes Relativos; ele traz os elementos que definem a seleção do pronome adequado, partindo da observação e da análise de antecedente, combinatória, sentido e uso absoluto. Para resolver seus exercícios, ou para produzir seus textos, acadêmicos, empresariais ou de Comunicação e Expressão / UA 15 Coesão Textual: Pronomes Relativos 12 qualquer outro gênero, use o quadro – ele vai ajudá-lo a fazer a escolha adequada do pronome relativo. relativo antecedente combinatória sentido uso absoluto que • Animado (humano ou não humano); • Inanimado. 1. Sem preposição. 2. Com preposição pura / monossilábica (a, de, em, por). Não tem sentido próprio. Não é possível. o (a) qual os (as) quais • Animado (humano ou não humano); • Inanimado. 1) Com ou sem preposição, se o antecedente estiver distanciado. 2) Com preposição ocasional / não monossilábica (com, sem, mediante, para, segundo, etc.). Não tem sentido próprio. Não é possível. quem Humano Com antecedente e preposição Pessoa É possível, sem preposição. cujo(s) cuja(s) • Animado (humano ou não humano); • Inanimado. É livre Posse Não é possível. onde Compatível com lugar. 1. Sem preposição. 2. Com preposições (a: aonde, de: donde / de onde). Lugar É possível. quanto(s) quanta (s) Todos, todas, tanto(s), tantas, tudo É livre. Quantidade É possível. Tabela 1. Quadro dos pronomes relativos. antena pArAbóliCA Tal como comentado em nossa aula anterior, o adequa- do emprego dos pronomes relativos é garantia de efi- cácia do texto, pois permite que o circuito de comunica- ção se estabeleça de tal maneira que emissor e receptor compartilhem a mesma informação. O correto uso des- ses pronomes dará a todos os textos que você produzir, nas atividades de estudo, profissionais ou sociais, a cer- teza de que você está se comunicando bem! e AgorA, José? O desenvolvimento de incontáveis atividades em seu cotidiano vai demandar os recursos de língua que você estudou nesta unidade. Os elementos coesivos aqui tra- tados são imprescindíveis à produção de qualquer gêne- ro textual e também da compreensão de textos – afinal, eles são portadores de informações que circulam pelos textos em geral. Compreendê-los, saber analisá-los e empregá-los é um grande passo para seu desempenho nas mais diversas situações de comunicação. Agora você já está preparado para isso! Comunicação e Expressão / UA 15 Coesão Textual: Pronomes Relativos 14 glossário Sintático-semântico: termo composto que se refere aos dois tipos de relação que pode haver no texto: a relação sintática é própria das relações hierárquicas e da organização dos termos entre si (sujeito X verbo; verbo X complemento; palavra de ligação x comple- mento etc.); a relação semântica é referente aos vínculos de sentido entre as palavras no contexto. Atualmente, não se separam essas duas importantes propriedades que devem estar presentes em frases, períodos e textos. Antecedente: termo que vem antes do prono- me relativo e cujo conteúdo é retomado por este. Consequente: termo que vem depois do relati- vo “cujo(a)(s)” e que designa a coisa possuí- da, numa relação de posse. reFerênCiAs BECHARA, E. Moderna gramática língua por- tuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001 MARTINS, D. S. ; ZILBERKNOP, L. S. Português Instrumental. 25a ed. São Paulo: Atlas, 2004. gestão empresarial comunicação e expressão Coesão e CoerênCia em doCumentos empresariais e em textos midiátiCos 16 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Ao final da aula, o aluno deverá ser capaz de identificar falta de coesão e coerência em textos noticiosos e em propagandas, filtrar informações e ainda escrever um texto empresarial mantendo a coerência e a coesão. COmpetênCias Compreensão do processo de identificação de falhas de coesão e coerência em textos midiáticos. Habilidades Compreensão do processo de identificação de falhas de coesão e coerência em textosmidiáticos comunicação e expressão Coesão e CoerênCia em doCumentos empresariais e em textos midiátiCos ApresentAção É comum, no ambiente empresarial, que textos causem excelente impressão sem que o leitor saiba exatamente por quê. É o caso de textos que, além de coerentes, são coesos. Coerência é um conceito simples de entender e atendê-la requer, sobretudo domínio do assunto trata- do e atenção. Coesão é, ao menos a princípio, uma ideia menos intuitiva, mas muito importante, como demons- tra esta aula. E, em relação aos textos midiáticos, essa aula também examina coerência e coesão na mídia, es- pecialmente no texto noticioso. Esse estudo auxiliará o gestor a exercer um olhar crítico sobre o que lê e reforça os conceitos de coerência e coesão. pArA ComeçAr É muito comum que erros sejam cometidos em empre- sas por redação defeituosa de textos, com consequente dificuldade de compreensão. Mas o que torna um tex- to organizacional inteligível? Algumas características do bom texto são fáceis de entender: termos claros e bem definidos, construção direta sempre que possível e au- sência de palavras desnecessárias. Outras propriedades do texto organizacional adequado não são tão óbvias, inclusive e principalmente a coerência e a coesão. Um texto coerente, como já foi visto, é o texto livre de inconsistências e contradições. É muito importante no mundo empresarial ser lógico e consistente. Parece fácil, não? Mas não é exatamente. A falta de coerência nem sempre é óbvia, como será demonstrado ainda nesta aula. O conceito de coesão é mais complexo, como você já percebeu nas aulas anteriores. Mas certamente você já viu muitas e muitas vezes, por exemplo, cartas que começavam na 3ª pessoa (a empresa decidiu...) e lá pe- las tantas mudava para a 1ª pessoa (resolvemos que as ações serão...). Outro exemplo é o uso indiscriminado de Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 4 singular e plural com a intenção de significar exatamente a mesma coisa, como um relatório que menciona “o gerente” em um determinado pará- grafo e “os gerentes” um pouco mais adiante. Vamos, então, ver como reconhecer essas armadilhas que se põem no caminho da coerência e da coesão dos textos empresariais. É importante ressaltar que muitos desses textos organizacionais são muito comuns em formato midiático. O texto midiático é também muito utilizado nas organizações e tem particular importância. Embora vários sejam os gêneros a ele associados (publicitário, ficcional – novelas, políti- co), vamos fixar no noticioso que, de certa maneira, é capaz de esclarecer o modo como certas características se desenvolvem nos textos da mídia. É claro que uma notícia tem de ser escrita com coerência. Imagine um jogo de futebol noticiado como tendo acontecido na estação espacial or- bital: evidentemente, lá não há espaço para isso... Ou um anúncio que prometa emagrecimento de 50 quilos por dia. Existem certas incoerências grosseiras – as mencionadas, por exemplo. Fáceis de perceber. Ninguém acreditaria na possibilidade do tal jogo em espaço tão pequeno e, ainda por cima, sem a força da gravidade. Da mesma forma, qualquer pessoa, por menos esclarecida que seja, tem consciência da impossibilidade de perder 50 quilos em um único dia. Mas, às vezes, o que é claro para um não o é para o outro. Nesta aula vamos estudar a forma como a coerência é construída nos textos empresariais e midiáticos, jornalísticos e publicitários. A coesão também será observada como forma de melhoria textual. Dica Ter cuidado evita problemas! Erros de coerência e coesão são detectáveis e podem ser corrigidos a partir do entendimento dos conceitos e atenção ao produzir o texto. FundAmentos Fávero e Koch (1998) afirmam que todo falante de uma língua é capaz de distinguir um texto coerente de um aglomerado incoerente de enun- ciados e esta é especificamente uma competência linguística em sentido amplo. Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 5 Lembremos que coesão e coerência são fatores de textualidade com- plementares e nem sempre aparecem separados. Para alguns autores como Koch (2000), a coesão é um fenômeno distinto que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se encontram interligados. Para esta autora, a coesão se constitui sobree duas bases: a remissão e a sequenciação. A primeira ocorre no texto por meio da referenciação anafórica ou catafórica, formando cadeias coesivas mais ou menos longas – são elementos que retomam referentes princi- pais ou temáticos e estão presentes, geralmente, no texto inteiro. Você já estudou esse assunto na aula 14, lembra? A coerência se configura em um aspecto externo ao texto, uma vez que está relacionada aos contextos de situação. Nesse sentido, estão envolvi- dos os diversos fatores interpessoais, além e outras formas de influência recebida pelo falante em situação de comunicação. Isso significa dizer que o contexto no qual está inserido o falante é significativo para a construção da coerência textual. Os erros de coerência e coesão no texto organizacional são, na maior parte das vezes, parecidos uns com os outros. É nos erros mais comuns que vamos nos concentrar de modo a que você possa aperfeiçoar seu método de análise e produção de textos. conceito A coesão refere-se à forma como os elementos gramaticais se relacionam no texto e a coerência refere-se ao contexto. 1. COerênCia Os aspectos da coerência que vamos examinar são: 1.1. Causalidade; 1.2. Certeza; 1.3. Consequência. 1.1 Causalidade A causalidade é tornada evidente quando se estabelecem relações de cau- sa e efeito; seus nexos são: porque, já que, pois, por causa de, suposto que, como que. Um erro comuníssimo em textos empresariais acontece quando se es- creve que algo é importante (ou mesmo muito importante) sem explicar o motivo. Por alguma razão, as pessoas que cometem esse erro gostam http://pt.wikilingue.com/es/Nexo Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 6 muito da expressão “é fundamental”. Praticamente todos os que traba- lham em organizações já viram isso. Segue exemplo de e-mail extraído de uma empresa de engenharia: → Seu relatório omite informações importantes. Pedimos que o revise. Nesse caso real, a frase entre aspas não menciona quais as informações importantes que foram omitidas e cuja ausência provoca a necessidade de revisão. Explicitar as relações de causa e efeito, nesse caso, evitará dúvidas e retrabalho. O texto correto seria: → Seu relatório omite informações importantes como: (mencionar as in- formações importantes). Solicitamos (ou pedimos) que o revise. Outro caso, na mesma empresa: → É fundamental que o relatório não ultrapasse duas páginas. Trata-se de erro frequente. Não foi explicado o motivo da limitação do número de páginas do relatório. O correto seria mencionar a(s) causa(s) dessa importância. Exemplos: → É fundamental que o relatório não ultrapasse duas páginas para ga- rantir que seja lido na sua totalidade. → É fundamental que o relatório não ultrapasse duas páginas por ser esta a norma da empresa. atenção A afirmação de importância ou relevância de determinado assunto ou fato desacompanhada das causas dessa impor- tância transmite falta de real conhecimento do assunto ou desleixo ao produzir o trabalho. Outro erro comum envolvendo causalidade é a inversão de causa e efeito. Trata-se de uma inconsistência particularmente comum em discussões entre clientes e fornecedores. Veja este caso: uma empresa de grande porte na área de construção enviou uma carta a um cliente importante alegando que “[...] os atrasos Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 7 na obra foram provocados pelas medidas tomadas pela fiscalização”. O clientepode entender que a fiscalização agiu por causa dos atrasos. Isso configura uma inversão de causa e efeito. Quem escreve em ambiente empresarial deve ter atenção a afirmações que, não explicadas, passem por inversão de causa e efeito. Um modo correto de escrever seria, por exemplo, “os atrasos na obra foram provocados por exigências da fiscalização fora do escopo de con- trato: relatórios diários, apresentação de procedimentos escritos antes de se executar os trabalhos e testes não usuais.” Aqui não há possibilidade de duplicidade de interpretação. 1.2 Certeza A certeza reforça as ideias que o autor apresenta no texto, ou seja, signifi- ca uma afirmação que não admite ser contestada. Seus nexos são: eviden- temente, seguramente, de fato, claro, ademais. Colocada em um documen- to organizacional, deve ter base sólida, ou poderá destruir a credibilidade do texto. Leia o exemplo retirado de um relatório técnico: → Nossa experiência permite afirmar conclusivamente que existe ine- ficiência operacional. Essa frase (elaborada por gerente de empresa metalúrgica) concluiu um relatório em que eram somente apontados sinais de má operação, sem nada de conclusivo. Nesse caso, a certeza foi utilizada com improprieda- de. Melhor seria dizer: → Nossa experiência permite apontar para indícios de ineficiência ope- racional. De um modo geral, as afirmações de certeza devem ser evitadas e subs- tituídas por fatos. Quando em maio de 2010 o presidente da Telefônica disse, sobre a compra da Vivo: “Nós não temos nenhuma dúvida de que os acionistas da Portugal Telecom aprovarão a venda”, ele substanciou a informação com um fato: “A oferta é impecável. Ambas as companhias se beneficiarão com o acordo”. Ainda que se entenda que um negócio de grande porte provoque envolvimento emocional do presidente da empre- sa compradora, aquele executivo faria melhor se tivesse falado somente nas vantagens para as duas organizações e não mencionasse a certeza, dispensável. Aliás, o negócio acabou se complicando... http://pt.wikilingue.com/es/Nexo Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 8 1.3 ConsequênCia A consequência relaciona a continuidade das ideias, conforme o encade- amento de frases, orações ou parágrafos. Alguns de seus nexos são: pois, deste modo, depois, portanto. Os erros mais comuns de consequência, presentes com frequência em textos de propostas organizacionais, estão listados e comentados a seguir. a. Afirmação do consequente: ocorre quando o consequente não é re- sultado de um argumento baseado no antecedente. Por exemplo, “como se sabe, uma boa proposta leva à vitória em licitações. Como vencemos a licitação, podemos concluir que desenvolvemos uma boa proposta”. Quem trabalhou em empresas sabe que, às vezes, uma proposta é mal escrita e mesmo assim a empresa vence a con- corrência. Esse tipo de erro é particularmente pernicioso, pois difi- culta as melhorias nos textos. b. Negação do antecedente: acontece quando o antecedente é negado com recurso à ausência do consequente. Por exemplo, “se perdemos a licitação, isso significa que nossa proposta foi mal feita”. Aplicam-se aqui observações análogas às do item anterior, ou seja, o fato de per- der não significa que o texto da proposta tenha sido mal elaborado. c. Argumento de antiguidade: é muito comum que se justifique uma ati- tude ou ação a partir da tradição como único argumento. Veja, por exemplo este texto: “a empresa está no mercado há 40 anos – se re- solveu cortar mão de obra operacional, deve estar certa”. Um texto correto seria: “a empresa, que está no mercado há 40 anos, detectou excesso de mão de obra e resolveu cortá-lo por estar segura de que esse corte não afetará sua capacidade operacional.” A antiguidade pode até compor a argumentação, mas não pode ser o único argu- mento. d. Non sequitur (não segue): conclusão que não se sustenta nos an- tecedentes. Veja, por exemplo, este texto: “Esse gerente tem nome alemão. Deve ser muito competente”. Nesse caso, mesmo em uma multinacional de origem alemã, o fato de um indivíduo ser alemão não lhe confere competência. e. Apelo à autoridade: bastante comum em organizações, trata-se de conclusão a partir de apelo à autoridade como único argumento. Por exemplo, observe esta construção: → Se o diretor disse que é indispensável que trabalhemos todos os sábados, deve estar com a razão. Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 9 A autoridade concedida ao diretor não esclarece o motivo da neces- sidade do trabalho fora de horário normal. Melhor seria dizer, por exemplo: → O diretor disse que é indispensável que trabalhemos todos os sá- bados para recuperar o atraso no projeto. 2. COerênCia nO textO jOrnalístiCO Leia o texto a seguir: Texto no 11 Tem melhor data para o Dia dos Namorados que um sábado à noite? Pois vocês já sabem: restaurantes, bares e até botecos lotadíssimos. Como vocês podem perceber, esse primeiro texto apresenta uma impro- priedade lógica: se bares, restaurantes e botecos estão lotadíssimos no sábado à noite, aqueles não seriam os melhores lugares para namorados festejarem, afinal é de se supor que eles prefiram ambientes mais aconche- gantes que uma fila enorme. Haverá barulho, confusão, demora no aten- dimento, o que também não combina com a intimidade esperada para a data. Esse é um exemplo de falta de coerência em um texto jornalístico. Clareza é uma das características indispensáveis dos textos jornalísti- cos. Para que sejam coerentes, é preciso evitar implícitos que os tornem inconsistentes. Texto no 22 Seminário “Novos Cenários para a Política Nacional Antidrogas” Com o objetivo de promover o debate sobre a condução da Política Na- cional Antidrogas, está sendo realizado o Seminário “Novos Cenários para a Política Nacional Antidrogas”, nos dias 26 e 27 de março corrente, no Auditório do Palácio Itamaraty. O Seminário, promovido pela Secretaria Nacional Antidrogas do Gabi- nete de Segurança Institucional, conta com a participação de representan- tes de órgãos do Governo Federal, da comunidade científica e da socie- dade civil, presidentes e membros dos Conselhos Estaduais e Municipais Antidrogas/Entorpecentes, entre outros. 1. Giacomo Mancini, Correio da Bahia, em 6/6/2010. 2. Disponível em www.itamaraty.gov.br /sala-de-imprensa/ notas-a-imprensa/ 2003/03/27/ Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 10 Ao final do Seminário, no dia 27 de março, às 18h30, será realizada Con- ferência de Imprensa, na Assessoria de Comunicação Social do Itamaraty. O texto no 2 é claro e apresenta todos os dados referentes ao seminário, tema da notícia. Não há espaço para duplas interpretações. Há coerência entre tema e corpo da notícia. Texto no 33 O Movimento Socialista Pan-helênico (Pasok), liderado por Giorgio Papan- dreu, obteve hoje a maioria absoluta nas eleições parlamentares gregas, segundo as primeiras pesquisas de boca de urna. O Pasok recebeu até 44% dos votos, com o apoio de 159 dos 300 deputados do Parlamento. Uma conta muito simples mostra que o número 159 corresponde a 53% de 300, e não a 44%. E 53% é mais da metade do número de deputados, o que obviamente não acontece com 44%, que não é maioria absoluta... Provavelmente a porcentagem refere-se ao número de votantes, dos quais 44% votaram no partido, mas isso não fica claro. Se fosse dito que os votos proporcionaram a eleição de 159 dos 300 deputados ficaria claro. É preciso lembrar que números, por serem exatos, parecem demons- trar confiabilidade e emprestam credibilidade aos textos. No entanto, a propósito de seu emprego na mídia jornalística, os profissionais da área costumam ter uma formação que não privilegia os números. Isso provoca, muitas vezes, impropriedades textuais que causam incoerências. Vejamos exemplos específicos de incoerências na utilização dosnúme- ros na mídia jornalística. Exemplo 1: → Pesquisadores anunciam um novo remédio que é 50% mais efetivo que o remédio tradicional. Como não está claro sobre qual valor incidem os 50%, é possível que o leitor pense que 50% do total de pacientes terão seus problemas resol- vidos. No caso, o remédio tradicional funcionava em 4% dos casos. Se o desempenho do medicamento melhorou 50%, isso significa que o novo medicamento atinge 6% dos pacientes e não 50% como é a impressão inicial do leitor desavisado. 3. Agência EFE, 4/10/2009. Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 11 Se outros números fossem colocados na reportagem, os resultados seriam: → 30% tomaram um placebo, sem qualquer tratamento médico, e melhoraram; → 34% dos que usaram o remédio antigo melhoraram; → 36% dos que usaram o novo remédio melhoraram. Um jornalista com desembaraço com números se sentiria seguro para perguntar o que, afinal, significariam os tais 50% e poderia fornecer a in- formação ao leitor sem produzir incoerência entre o fato e a notícia. Exemplo 2: → Entre 1985 e 1994, 62 por cento das fêmeas de urso polar estu- dadas escavaram tocas na neve. De 1998 a 2004, apenas 37 por cento o fizeram. Esses são os únicos números fornecidos pela reportagem e o leitor aten- to questiona vários pontos: por cento de quanto? Dez ursos? Mil ursos? O primeiro período (1985 a 1994) cobre dez anos, mas o segundo somen- te sete anos. E o que aconteceu em 1995, 96 e 97? Se o período integral de dez anos for mostrado, quais os resultados? É preciso que a notícia apresente elementos conclusivos, ou coloque claramente uma questão não respondida para evitar que o leitor tenha interpretação equivocada. Faltam dados, ou seja, falta coerência. A coerência exige completude de informação. Essa notícia apareceu em vários jornais norte-americanos do modo como apresentado em itálico. Nenhum jornalista fez os questiona- mentos que aparecem no final do parágrafo precedente. A incoerência verificada, motivada pela incompletude das informações, não permite que apresentemos a você uma correção. Texto no 44 [...] Engaiolado, espremido, na classe econômica, você termina a viagem - seja qual for a opção - com os ossos moídos. E já desce do bonde andan- do, porque não há tempo para o descanso: é preciso ir às ruas (lugar de repórter) e observar, conversar, ouvir histórias. (Isso – alô estudantes de jornalismo! – faz parte do romanceado gla- mour da vida de correspondentes internacionais). 4. Bernardo Pombo, Globo On-Line, 19/6/2010. Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 12 Mas, enfim, isso aqui não é uma queixa: apenas um registro sobre a melhor profissão do mundo. O texto número 4 mostra um tipo bastante interessante de incoerência proposital que necessita de esforço do leitor para sua compreensão. Trata- -se da figura de linguagem ironia. Compare o primeiro parágrafo, que fala de problemas e das inúmeras tarefas do profissional de jornalismo, com o segundo e terceiros parágrafos, que mostram, ironicamente, a opinião que se tem sobre o correspondente internacional. Como você pode observar, glamour não combina com engaiolado, espremido, ossos moídos, falta de tempo para descanso... Da mesma forma, não faz sentido considerar uma profissão com tantos percalços, como a melhor do mundo. O que o jornalis- ta quis dizer, em mensagem implícita, é que os benefícios da profissão são suficientemente importantes para que se relevem os malefícios. Dica Coesão e Coerência: dois fatores de textualidade que não podem ser desprezados durante a construção do texto midi- ático, sob pena de comprometerem sua compreensão. 3. COesãO Você já sabe o que é coesão. Os erros mais comuns no texto empresarial estão relacionados a: 2.1. Arranjo formal; 2.2. Sequenciamento e ordenação; 2.3. Uso de conectivos; 2.4. Encadeamento de frases. 3.1 arranjo formal Todos os textos empresariais devem ter, de algum modo: uma introdu- ção, com os objetivos do texto; uma explicação sobre os antecedentes (contexto que levou à produção do documento); um desenvolvimento e uma conclusão. Isso se aplica mesmo a e-mails, em que o objetivo pode estar, por exemplo, no título; ou em uma carta, em que o objetivo pode vir declarado formalmente no início, ou ao menos em uma linha, na apre- sentação do assunto. Como se sabe, uma carta deve ter, depois da data, o destinatário e, em seguida, uma linha com a apresentação do assunto. Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 13 São comuns textos em que não se explica o objetivo no início. Isso faz com que, às vezes, o leitor chegue ao final da leitura sem saber o que o autor realmente pretendia. Infelizmente, essa falha é muito comum em relatórios. Lembre-se Um relatório deve iniciar com uma explicação concisa do ob- jetivo, para que o leitor saiba, imediatamente e sem muito esforço, sobre que assunto vai ler. Segue um exemplo de e-mail cujo título era “impacto no projeto”, elabora- do por empresa de mineração: → Em tempo adequado, foram identificadas dificuldades que impac- taram no projeto. Esses impactos foram ajustados, absorvidos e consolidados nos aditivos contratuais emitidos. A dinâmica do em- preendimento, no entanto, não permitiu o cumprimento das metas. Constantes adaptações, ajustes e principalmente modificações de última hora introduzidas pela fiscalização, acabaram por impactar no desenvolvimento do projeto. Esse texto está tão confuso, que não se sabe se solicitava mais prazo, outro aditivo contratual ou se era simplesmente um relato. Além de não evidenciar o objetivo, que esclareceria parte do texto, a falta de coesão representada pela má escolha de termos compromete ainda o entendi- mento. Exemplos de mau uso de palavras: “tempo adequado” – não é apropriada ao contexto; “dinâmica do empreendimento” – expressão que não explica a que se refere; “no entanto” – termo deslocado. O texto afir- ma que dificuldades impactaram o projeto, mas não diz quais foram essas dificuldades. Não se sabe se os impactos da primeira e da última frase são os mesmos. Se o autor tivesse explicitado um objetivo, talvez fosse possí- vel entender o que quis dizer. Outro item do arranjo formal que pode ser fonte de equívocos é o ta- manho dos parágrafos, que não devem ser curtos ou compridos demais. Propostas e relatórios extensos podem ter, após a declaração de objeti- vos, um sumário executivo, que se destina à leitura rápida de quem está interessado no assunto, mas não tem tempo para ler os detalhes. Esse sumário pode consistir de um único parágrafo longo ou ser dividido em parágrafos menores. Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 14 3.2 sequenCiamento e ordenação O sequenciamento é uma das fontes mais comuns de erros de coesão no texto organizacional. Um exemplo mostra como esse tipo de erro acon- tece. Veja a seguir, uma enumeração de itens retirada de um texto orga- nizacional: a. A pesquisa dos antecedentes é necessária; b. Desenvolver um plano de ação; c. Cálculo de custos; d. Benefícios. Ainda que essa lista esteja coerente, há algo errado com ela: cada item da enumeração está escrito de um modo diferente. Não se sabe, por exem- plo, se a pesquisa de antecedentes, que é necessária, já foi feita. Não se sabe, também, o que será feito a respeito dos benefícios: se serão só lis- tados ou se também calculados. De qualquer modo, a diferença entre as maneiras de escrever os itens não dá fluência à ideia de ações sequenciais. A maneira correta de enu- merar passa pela coesão dos elementos iniciais de cada item. Se você escolher elencar com verbos no infinitivo, faça-o em todos os itens, con- forme exemplo a seguir, que elimina as incertezas comentadas: a. Pesquisar os antecedentes; b. Desenvolver um plano de ação; c. Calcularos custos; d. Listar e calcular os benefícios. Note que não há, agora, dúvida sobre o encadeamento dos itens. Enu- merações e sequências devem, pelas razões citadas, obedecer à mesma forma gramatical, em um procedimento que se denomina paralelismo. Como exercício, troque por substantivos os verbos que aparecem no Infinitivo na lista apresentada. Elabore as adequações necessárias. atenção A mensagem que se passa ao leitor, usando construções di- ferentes em uma sequência ou enumeração é a de que os itens não pertencem à mesma ação. Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 15 3.3 uso de ConeCtivos Os conectivos, como visto em aulas anteriores, são elementos importan- tes de coesão. Os erros mais comuns no texto organizacional relaciona- dos ao uso desses elementos são listados e comentados a seguir. Todos os exemplos foram extraídos de documentos reais. a. Uso de elementos de outra categoria gramatical, com destaque para má utilização do pronome relativo “onde”. Exemplo: → Esta é uma proposta para um cliente importante, onde deve ser feita com cuidado. O pronome relativo onde só pode ser usado quando se refere a lu- gar, conforme você já observou em aula anterior. O certo é: → Esta é uma proposta para um cliente importante, portanto deve ser feita com cuidado; ou → Esta é uma proposta para um cliente importante e deve ser feita com cuidado. Outra palavra muito usada de maneira inadequada é “entretanto” para significar “no entanto”. Exemplo: → Trabalhamos durante todo o fim de semana, entretanto o traba- lho não ficou pronto. O correto seria: → Trabalhamos durante todo o fim de semana, no entanto, o traba- lho não ficou pronto. b. Uso de conectivos inadequados para estabelecimento de uma rela- ção lógica. Por exemplo: → O projeto originalmente definido no processo licitatório mostrou-se inexequível desde limitações do hardware fornecido pelo cliente. O certo é: → O projeto originalmente definido no processo licitatório mostrou-se inexequível devido a limitações do hardware fornecido pelo cliente. Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 16 c. Ausência de conectivos necessários. Por exemplo, um e-mail de 2010 com justificativa de atraso para uma reunião importante diz: “che- gamos atrasados à reunião tivemos problemas no trânsito”. Como você pode observar, faltou um conectivo e o leitor sente claramente a ausência de um termo de ligação. Como exercício, formule a frase de forma correta. d. Uso de gerúndio para evitar conectivos: essa imprecisão coesiva não é exatamente um erro gramatical, mas certamente empobrece o tex- to empresarial. Por exemplo: “foram realizadas ações de marketing melhorando a perspectiva de vendas”. Mais correto será escrever “foram realizadas ações de marketing que melhoraram a perspectiva de vendas”. Note-se que a perspecti- va de venda poderia ter sido melhorada por outra providência e que as ações de marketing poderiam ter outra finalidade. O conectivo elimina qualquer dúvida! Dicas Como o gerúndio se tornou hábito para a maioria das pes- soas, revise seu texto procurando “ndo” com a ferramenta de procura do Word. Em cada gerúndio encontrado, procure possibilidades de uso de conectivos. Dá certo! 3.4 enCadeamento de frases A digitação de textos em computador trouxe benefícios importantes, mas trouxe também, entre outras possibilidades de erros, as frases soltas. O texto é modificado, às vezes com pressa, e permanecem as tais frases sol- tas. Como em outros aspectos relativos à coesão, revisões antes do texto final são, na maior parte dos casos, suficientes para evitar esse tipo de fa- lha. Segue um exemplo retirado de uma carta, de 2009, relativa a contrato que envolvia quantias elevadas. → Após a ocorrência dos problemas citados, foi nomeado um novo fiscal com poderes decisórios e foram modificadas as atribuições do geren- te do contrato. Papel de observador sem interferir em decisões. Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 17 A última frase, solta, não mostra se o papel de observador é só do gerente ou se de mais alguém. Aliás, não há certeza de que a última frase pertença ao contexto. O certo seria: → Após a ocorrência dos problemas citados, foi nomeado um novo fis- cal com poderes decisórios e foram modificadas as atribuições do gerente do contrato, que passou a exercer o papel de observador sem interferir em decisões. 4. COesãO nO textO jOrnalístiCO A seguir, vamos observar problemas de coesão no discurso jornalístico. Você vai, na análise dos textos, perceber a aplicação do que aprendeu até agora em aulas anteriores. Lembre-se de que a coesão ocorre na super- fície textual, por meio de conectivos e outros elementos de ligação corre- tamente colocados. Texto no 15 Rio – Defeito em uma das portas do trem do metrô, que seguia para a Central do Brasil, na manhã desta sexta feira, fez com que a empresa retirasse os passageiros e embarcassem em outro trem. Há aqui um desvio de foco e de sintaxe, provocado por utilização equi- vocada de conectivo. O texto correto deveria ser: “Defeito em uma das portas do trem do metrô, que seguia para a Central do Brasil, na manhã desta sexta-feira, fez com que a empresa retirasse os passageiros para que embarcassem em outro trem”. Texto no 26 Mas a paixão por Júlio Cesar é tanta que Daiane Cristina não quer nem arriscar quem vai fazer os gols. O texto no 2 fala de uma leitora do jornal, que se apresenta como grande fã de Júlio Cesar, goleiro da seleção brasileira de futebol. Na redação des- se texto, observa-se a falta do verbo principal: dizer. Falta também uma vírgula. Da forma como está escrito, não fica claro se Daiane não quer arriscar errar um prognóstico ou arriscar a integridade do jogador. Para 5. Jornal O Dia, 18/6/2010. 6. Jornal O Dia, 18/6/2010. Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 18 evitar essa duplicidade de entendimento, o texto deveria ficar da seguinte forma: “Mas a paixão por Júlio Cesar é tanta, que Daiane Cristina não quer nem se arriscar a dizer quem vai fazer os gols. Texto no 37 Na última rodada, a Dinamarca enfrenta o Japão e Camarões, a Holanda. Conforme já comentado, o discurso jornalístico deve, a bem da clareza, evitar duplos sentidos, assim é preciso especial atenção aos problemas de coesão, que ocorrem também por erros da pontuação. No texto 3, que fala dos jogos da Copa do Mundo 2010, não fica claro, em uma primeira leitura, que a Dinamarca enfrenta o Japão e que Camarões enfrenta a Ho- landa. Do jeito como aparece, a primeira impressão é de erro grosseiro ou de deslocamento indevido da vírgula. Lê-se que a Dinamarca enfrenta Japão e Camarões. Nesse caso, a Holanda estaria fora do contexto. Só em uma segunda leitura, com esforço, se torna claro o que realmente o repórter quis dizer. A questão se resolve com a pontuação adequada do texto. Veja: “Na última rodada, a Dinamarca enfrenta o Japão, e Camarões, a Holanda”. 5. COerênCia nO textO pUbliCitáriO Se de um lado, o discurso jornalístico necessita da coesão e da coerência para evitar duplicidade de compreensão, por outro, o discurso da propa- ganda às vezes apela propositalmente à incoerência para justamente pro- vocar tal duplicidade. Como se trata de um discurso passional, com forte apelo ao desejo de consumir, não mostra claramente sua pretensão, mas deixa pistas sobre aquilo que quer provocar no consumidor. Uma propaganda de cerveja que mostre um cidadão rodeado de mulheres deslumbrantes e extremamente satisfeitas sugere que con- sumir aquela marca de cerveja faz com que lindas moças sejam atraí- das pelo indivíduo. É evidente que a mensagem não é verdadeira e que os consumidores têm consciência disso. Mas essa é justamente a men- sagem que permanece no inconsciente do consumidor.A intenção do anunciante é essa ação sobre o inconsciente. Onde está a incoerência? No fato de que consumir qualquer marca de cerveja não atrai mulheres bonitas (nem feias). 7. Jornal O Dia, 18/6/2010. antena pArAbóliCA Com as necessidades de certificação de qualidade que de- ram um salto na primeira década do século XXI, indústrias como a de medicamentos e a de construção passaram a exigir documentação cada vez mais apurada. As empresas de projetos e obras não demoraram a perceber que tinham em seus quadros engenheiros eficientíssimos em projetar e construir, mas que escreviam mal. Documentos foram rejei- tados e pagamentos atrasados por falta de documentação apropriada. As empresas procuraram professores de Por- tuguês para melhorar seus textos e experimentaram outra dificuldade: os professores nem sempre conseguiam en- tender a tecnologia envolvida. A partir daí, engenheiros que escrevem bem passaram de personagens semifolclóricos a peças importantes naquelas organizações. E em relação aos textos midiáticos, a propaganda enga- nosa tem sido uma preocupação da sociedade desde que a propaganda existe. Apesar disso, nessa mídia, a falácia ainda aparece com certa frequência. Diferentemente do que se possa pensar, esse fato ocorre mundialmente, inclu- sive em países desenvolvidos. Ficou famosa a punição da empresa que fabrica as sopas Campbell que, para mostrar que a sopa possuía muitos pedaços de alimentos sólidos, fez um ator esvaziar diante das câmeras uma lata de sopa cheia de... bolas de gude! No Brasil, a indústria da propa- ganda criou, para evitar ações judiciais que se arrastassem por anos, o CONAR, Conselho Nacional de Autorregulação. Trata-se de entidade privada que tem suas decisões sempre respeitadas. e AgorA, José? Você viu como utilizar conceitos de coerência e coesão em textos empresariais. Também aprendeu a identificar esses mesmos conceitos em textos midiáticos. Agora é importan- te repassar todas as aulas para sedimentar esse conteúdo em sua aprendizagem. Comunicação e Expressão / UA 16 Coesão e Coerência em Documentos Empresariais e em Textos Midiáticos 20 reFerênCiAs CHARAUDEAU, P. �Discurso das Mídias. São Paulo: Contexto, 2006. CHAVES, M. G. D. �Manual Prático de Redação Empresarial. São Paulo: Edifieo, 2007. AVERO, L. Coesão e Coerência Textuais. São Paulo: Ática, 2004. FAVERO, L. L.; KOCH, I. V. �Línguística Textual – Introdução. 3a ed. São Paulo: Cortez, 1994. FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. �Para Entender o Texto: Leitura e Redação. São Paulo: Áti- ca, 2009. KOCK, I. V. �Coesão e Coerência Textuais. São Paulo: Contexto, 2008. SCIPIONI, U. �Do Texto ao Texto – Curso práti- co de leitura e redação. São Paulo: Editora Scipioni, 2006. TABOADA, M. T. Building Coherence and Co- hesion. Amsterdam: John Benjamins, 2004.