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Aula 4 – Consistência dos Solos MECÂNICA DOS SOLOS 34 Unidade 2 – Propriedades dos Solos Aula 4: Consistência dos Solos Em linhas gerais, corresponde ao comportamento do material constituinte em função da variação da umidade. A consistência do solo é altamente correlacionada com a textura e atividade da fração de argila. Vale dizer que este atributo ocorre por atuação das forças de adesão e coesão entre as partículas do solo, que variam com o grau de umidade do solo. 1. Noções Iniciais Quando tratamos com solos grossos (areias e pedregulhos com pequena quantidade ou sem a presença de finos), o efeito da umidade nestes solos é frequentemente negligenciado, na medida em que a quantidade de água presente nos mesmos tem um efeito secundário em seu comportamento. Pode se dizer que se pode classificar os solos grossos utilizando-se somente a sua curva granulométrica, o seu grau de compacidade e a forma de suas partículas. Por outro lado, o comportamento dos solos finos ou coesivos irá depender de sua composição mineralógica, da sua umidade, de sua estrutura e do seu grau de saturação. Em particular, a umidade dos solos finos tem sido considerada como uma importante indicação do seu comportamento desde o início da mecânica dos solos. Um solo argiloso pode se apresentar em um estado líquido, plástico, semissólido ou sólido, a depender de sua umidade. A este estado físico do solo dá-se o nome de consistência. Os limites inferiores e superiores de valor de umidade para cada estado do solo são denominados de limites de consistência. No estado plástico, o solo apresenta uma propriedade denominada de plasticidade, caracterizada pela capacidade do solo se deformar sem apresentar ruptura ou trincas e sem variação de volume. A manifestação desta propriedade em um solo dependerá fundamentalmente dos seguintes fatores: Aula 4 – Consistência dos Solos UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS 35 • Umidade: Existe uma faixa de umidade dentro da qual o solo se comporta de maneira plástica. Valores de umidade inferiores aos valores contidos nesta faixa farão o solo se comportar como semissólido ou sólido, enquanto que para maiores valores de umidade o solo se comportará preferencialmente como líquido; • Tipo de argilo-mineral: O tipo de argilo-mineral (sua forma, constituição mineralógica, tamanho, superfície específica, etc.) influi na capacidade do solo de se comportar de maneira plástica. Quanto menor o argilo-mineral (ou quanto maior sua superfície específica), maior a plasticidade do solo. É importante salientar que o conhecimento da plasticidade na caracterização dos solos finos é de fundamental importância. 2. Estados de Consistência A depender da quantidade de água presente no solo, teremos os seguintes estados de consistência: Cada estado de consistência do solo se caracteriza por algumas propriedades particulares, as quais são apresentadas a seguir. Os limites entre um estado de consistência e outro são determinados empiricamente, sendo denominados de limite de contração, WS, limite de plasticidade, WP e limite de liquidez, WL. Estado Sólido - Dizemos que um solo está em um estado de consistência sólido quando o seu volume "não varia" por variações em sua umidade. Estado Semissólido - O solo apresenta fraturas e se rompe ao ser trabalhado. O limite de contração, WS, separa os estados de consistência sólido e semissólido. Estado Plástico - Dizemos que um solo está em um estado plástico quando podemos moldá-lo sem que o mesmo apresente fissuras ou variações volumétricas. O limite de plasticidade, WP, separa os estados de consistência semissólido e plástico. Estado Fluido - Denso (Líquido) - Quando o solo possui propriedades e aparência de uma suspensão, não apresentando resistência ao cisalhamento. O limite de liquidez, WL, separa os estados plástico e fluido. Aula 4 – Consistência dos Solos MECÂNICA DOS SOLOS 36 Como seria de se esperar, a resistência ao cisalhamento, bem como a compressibilidade dos solos, varia nos diversos estados de consistência. 2.1. Determinação dos Limites de Consistência A delimitação entre os diversos estados de consistência é feita de forma empírica. Esta delimitação foi inicialmente realizada por Atterberg, culminando com a padronização dos ensaios para a determinação dos limites de consistência por Arthur Casagrande. Conforme apresentado anteriormente, são os seguintes os limites que separam os diversos estados de consistência do solo: • Limite de Liquidez (WL) ou LL; • Limite de Plasticidade (WP) ou LP; • Limite de Contração (WS) ou LC. 2.1.1. Limite de Liquidez É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado plástico para o estado fluido. A determinação do limite de liquidez do solo é realizada seguindo-se o seguinte procedimento: 1º → coloca-se na concha do aparelho de Casagrande uma pasta de solo passando #40 e com umidade próxima de seu limite de plasticidade. 2º → faz-se um sulco na pasta com um cinzel padronizado. 3º → aplicam-se golpes à massa de solo posta na concha do aparelho de Casagrande, girando-se uma manivela, a uma velocidade padrão de 2 golpes por segundo. Esta manivela é solidária a um eixo, o qual por possuir um excêntrico, faz com que a concha do aparelho de casagrande caia de uma altura padrão de aproximadamente 1 cm. 4º → conta-se o número de golpes necessário para que a ranhura de solo se feche em uma extensão em torno de 1 cm. 5º → repete-se este processo ao menos 5 vezes, geralmente empregando-se valores de umidade crescentes. 6º → lançam-se os pontos experimentais obtidos, em termos de umidade versus log N° de golpes. 7º → ajusta-se uma reta passando por esses pontos. O limite de liquidez corresponde à umidade para a qual foram necessários 25 golpes para fechar a ranhura de solo. As figuras abaixo ilustram o aparelho utilizado na determinação do limite de liquidez e a determinação do limite de liquidez do solo (vide NBR 6459). De acordo com os estudos do Federal Highway Administration, o limite de liquidez pode ser determinado, conhecido “um só ponto”, pela fórmula Empírica: Aula 4 – Consistência dos Solos UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS 37 LL = w (1,419 − 0,3 log n) Onde “w” é a umidade vinculada a “n” a golpes. 2.1.2. Limite de Plasticidade É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado semissólido para o estado plástico. A determinação do limite de plasticidade do solo é realizada seguindo-se o seguinte procedimento: 1º → prepara-se uma pasta com o solo que passa na #40, fazendo-a rolar com a palma da mão sobre uma placa de vidro esmerilhado, formando um pequeno cilindro. 2º → quando o cilindro de solo atingir o diâmetro de 3 mm e apresentar fissuras, mede-se a umidade do solo. 3º → esta operação é repetida pelo menos 5 vezes, definido Aula 4 – Consistência dos Solos MECÂNICA DOS SOLOS 38 assim como limite de plasticidade o valor médio dos teores de umidade determinados. A figura ilustra a realização do ensaio para determinação do limite de plasticidade (vide NBR 9180). 2.1.3. Limite de Contração É o valor de umidade para o qual o solo passa do estado sólido para o estado semissólido. A determinação do limite de contração do solo é realizada seguindo-se o seguinte procedimento: 1º → molda-se uma amostra de solo passando na #40, na forma de pastilha, em uma cápsula metálica com teor de umidade entre 10 e 25 golpes no aparelho de Casa Grande. 2º → seca-se a amostra à sombra e depois em estufa, pesando-a em seguida. 3º → utiliza-se um recipiente adequado (cápsula de vidro) para medir o volume do solo seco, através dodeslocamento de mercúrio provocado pelo solo quando de sua imersão no recipiente. O limite de contração é determinado pela equação apresentada a seguir (vide NBR 7183). WS = ( V P − 1 γS ) . γW . 100 Onde: Aula 4 – Consistência dos Solos UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS 39 V é o volume da amostra seca; P é o peso da amostra seca; γW é o peso específico da água; γS é o peso específico das partículas sólidas. 3. Índices de Consistência Uma vez conhecidos os limites de consistência de um solo, vários índices podem ser definidos. A seguir, apresentaremos os mais utilizados. 3.1. Índice de Plasticidade O índice de plasticidade (IP) corresponde a faixa de valores de umidade do solo na qual ele se comporta de maneira plástica. É a diferença numérica entre o valor do limite de liquidez e o limite de plasticidade. IP = WL - WP ou IP = LL – LP O IP é uma maneira de avaliarmos a plasticidade do solo. Seria a quantidade de água necessária a acrescentar a um solo (com uma consistência dada pelo valor de WP) para que este passasse do estado plástico ao líquido. A classificação do solo quanto ao seu índice de plasticidade é: • IP = 0 → Não plástico; • 1 < IP < 7 → Pouco plástico. • 7 < IP < 15 → Plasticidade média; • IP > 15 → Muito plástico. 3.2. Índice de Consistência É uma forma de medirmos a consistência do solo no estado em que se encontra em campo. IC = WL − W IP Onde w (ou h) é a umidade da amostra. Aula 4 – Consistência dos Solos MECÂNICA DOS SOLOS 40 4. Demais Conceitos 4.1. Amolgamento É a destruição da estrutura original do solo, provocando geralmente a perda de sua resistência (no caso de solos apresentando sensibilidade). 4.2. Sensibilidade É a perda de resistência do solo devido a destruição de sua estrutura original. A sensibilidade de um solo é avaliada por intermédio do índice de sensibilidade (St), o qual é definido pela razão entre a resistência à compressão simples de uma amostra indeformada e a resistência à compressão simples de uma amostra amolgada, remoldada no mesmo teor de umidade da amostra indeformada. A sensibilidade de um solo é calculada por intermédio da seguinte equação: St = RC R′C Onde St é a sensibilidade do solo e RC e R'C são as resistências à compressão simples da amostra indeformada e amolgada, respectivamente. Skempton fornece a seguinte relação: • St < 1 → NÃO SENSÍVEIS; • 1 < St < 2 → BAIXA SENSIBILIDADE; • 2 < St < 4 → MÉDIA SENSIBILIDADE; • 4 < St < 8 → SENSÍVEIS; • St > 8 → EXTRA – SENSÍVEIS. Quanto maior for o St, tem-se uma menor coesão, uma maior compressibilidade e uma menor permeabilidade do solo. 4.3. Tixotropia É o fenômeno da recuperação da resistência coesiva do solo, perdida pelo efeito do amolgamento, quando este é colocado em repouso. Quando se interfere na estrutura original de uma argila, ocorre um desequilíbrio das forças inter-partículas. Deixando-se este solo em repouso, aos poucos vai-se recompondo parte daquelas ligações anteriormente presentes entre as suas partículas. Aula 4 – Consistência dos Solos UNIDADE 2 – PROPRIEDADES DOS SOLOS 41 4.4. Atividade Coloidal Conforme relatado anteriormente, a superfície das partículas dos argilo-minerais possui uma carga elétrica negativa, cuja intensidade depende principalmente das características do argilo-mineral considerado. As atividades físicas e químicas decorrentes desta carga superficial constituem a chamada "atividade da superfície do argilo-mineral". Dos três grupos de argilo-minerais apresentados aqui, a montmorilonita é a mais ativa, enquanto que a caulinita é a menos ativa. Segundo Skempton (1953) a atividade dos argilo- minerais pode ser avaliada pela equação, apresentada adiante. A = IP % < 0.002mm Onde o termo % < 0.002 mm representa a percentagem de partículas com diâmetro inferior a 2µ presentes no solo. Ainda segundo Skempton, os solos podem ser classificados de acordo com a sua atividade do seguinte modo: • Solos inativos: A < 0,75 • Solos medianamente ativos: 0,75 < A < 1,25 • Solos ativos: A > 1,25. A figura abaixo apresenta a variação do índice de plasticidade de amostras de solo confeccionadas em laboratório em função da percentagem de argila (% < 0,002mm) presente nos mesmos. Da equação, percebe-se que a atividade do argilo-mineral corresponde ao coeficiente angular das áreas hachuradas apresentadas na figura. Na figura estão também apresentados valores típicos de atividade para os três principais grupos de argilo-minerais. Baseado e adaptado de Sandro Lemos Machado e Miriam C. Machado. Edições sem prejuízo de conteúdo.
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