Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
- -1 ENTES FEDERATIVOS E SEUS PODERES INTERVENÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Mariana Magalhães Avelar - -2 Olá! Você está na unidade Intervenção e Administração Pública. Conheça aqui as hipóteses e procedimentos cabíveis para a intervenção, medida extrema utilizada para recuperar o equilíbrio do pacto federativo. Esta medida só pode ser empregada em situações excepcionais e que estejam inseridas nas hipóteses previstas pela Constituição Federal. Você também estudará as principais características da Administração Pública brasileira, que tem sua atuação guiada por princípios de direito público como a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência. Tais princípios serão essenciais para a compreensão de outros aspectos da função pública e da administração pública. - -3 1. Intervenção A intervenção em entes da federação é medida drástica e excepcional que só poderá ocorrer nas hipóteses restritas previstas na Constituição Federal e com a finalidade de preservar a integridade da federação e dos seus princípios fundantes. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /08703fe55da97bede8a72348c632860d - -4 1.1. Intervenção federal: hipóteses e procedimentos As hipóteses de intervenção federal são aquelas estritamente previstas no art. 34 da Constituição, quais sejam (BRASIL, 1988, ):documento online I - manter a ;integridade nacional II - repelir estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;invasão III - pôr termo a comprometimento da ordem pública: não é qualquer ameaça ougrave acontecimento que justifica a intervenção IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação; V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior. O conceito de dívidas fundadas, correspondente às determinações da Lei n. 4.320/1964, refere-se ao compromisso de exigibilidade ser maior que doze meses e deriva de desequilíbrio orçamentário de obras e serviços, como bem ressalta Branco (2017). b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei; VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial (BRASIL, 1988, ).documento online Branco (2017) aponta que a recusa à aplicação de lei, que justifique a intervenção, é aquela que gera prejuízo generalizado. VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta. e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde (BRASIL, 1988, ).documento online - -5 A União pode intervir apenas nos estados, no Distrito Federal e em municípios integrantes de território federal: não cabe intervenção da União em municípios integrantes dos estados-membro. Em relação ao procedimento, a autoridade competente para decretar a intervenção é o Presidente da República, que poderá agir de forma espontânea ( ) ou mediante provocação, a depender da hipótese deex officio intervenção. Quando a intervenção é espontânea, o presidente deverá promover a oitiva de dois conselhos: o da República e o de Defesa Nacional, conforme determina o art. 90, I e o art. 91, §1º, II da Constituição. Por outro lado, quando a intervenção decorrer do descumprimento de ordem judicial, esta poderá ser requisitada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou Tribunal Superior Eleitoral (TSE) (art. 36, II). Conforme disciplina o art. 3, §1º da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988, ),documento online O decreto de intervenção, que especificará a amplitude, o prazo e as condições de execução e que, se couber, nomeará o interventor, será submetido à apreciação do Congresso Nacional ou da Assembleia Legislativa do Estado, no prazo de vinte e quatro horas. Caso cessadas as causas que motivaram a intervenção, as autoridades afastadas poderão voltar a seus cargos, salvo em caso de impedimentos legais. Fique de olho Em 2018 houve um caso de intervenção no Brasil. O Governo Federal avocou, por cerca de dez meses, competências do governador do Rio de Janeiro em relação à gestão da segurança pública. A medida foi instrumentalizada pelo Decreto n. 9.288, de 16/02/2018, fundamentado no art. 84, X c/c art. 34 da CF/88. - -6 1.2. Intervenção estadual nos municípios e intervenção da União nos municípios localizados em território federal: hipóteses e procedimentos A intervenção estadual nos municípios, bem como a intervenção da União nos Municípios dos Territórios, só poderá ocorrer nas seguintes situações: Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: I - deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; III - não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; IV - o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial (BRASIL, 1988, )documento online . Nesse último caso, Branco (2017) aponta que a competência para tal circunstância é do Procurador Geral do Ministério Público Estadual, por simetria com a competência prevista no art. 129, IV da Constituição. - -7 2. Administração Pública Conforme define Maria Sylvia (2011), é possível pensar em pelo menos dois sentidos para o termo Administração Pública: subjetivo ou objetivo. O refere-se aos entes que exercemsubjetivo, formal ou orgânico atividade administrativa. O , por outro lado, corresponde à natureza daobjetivo, material ou funcional atividade exercida pelos referidos entes. Assim, a Administração Pública é a própria função administrativa, que incumbe predominantemente ( ) ao poder executivo.mas não apenas - -8 2.1. Princípios constitucionais da Administração Pública O art. 37 da Constituição de 1988 estabelece expressamente alguns dos princípios aplicáveis à Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. a) Princípio da legalidade Condiciona toda a atuação da Administração Pública, que só pode exercer suas atribuições nos limites das normas jurídicas aplicáveis. A legalidade abarca normas e princípios e não apenas a legislação em sentido estrito. Por força desse princípio, a liberdade de atuação da Administração é menor que a dos particulares que, por sua vez, atuam no exercício de autonomia privada. b) Princípio da impessoalidade Consiste no tratamento isonômico daqueles que se relacionam com a Administração. Deriva do próprio princípio da igualdade, vedados quaisquer atos de discriminação ou benefícios derivados de aspectos pessoais. Segundo Di Pietro (2012), a impessoalidade implica em objetividade no atingimento dos fins públicos, e se coloca em duas vertentes: I) a administração não deve atuar em benefício ou malefício de pessoas determinadas; II) a atuação administrativa não é imputada ao agente público, mas ao órgão ou entidade da Administração. O agente é um órgão que manifesta a vontade estatal: sua vontade individual não é a vontade do Estado. Esse princípio é concretizado em alguns institutos que visam a promover igualdade de acesso (concursos públicos e licitações). c) Princípio da moralidade A atuação da Administração deve ocorrer de acordo com princípios éticos que integram o ordenamento jurídico. Da moralidadederivam subprincípios da lealdade e da boa-fé e o dever de probidade administrativa. d) Princípio da publicidade A Administração Pública não admite a ação em segredo: pelo princípio da publicidade, os atos administrativos devem ser divulgados e/ou acessíveis pelos cidadãos, existindo verdadeiro dever de transparência, que só pode ser afastando em situações excepcionais previstas pela Constituição e pela legislação (ex: dados sigilosos relativos à segurança nacional). Além do art. 37, caput, outras disposições constitucionais estão relacionadas ao princípio da publicidade, como é o caso do direito de acesso à informação e os instrumentos para sua garantia (habeas data, por exemplo), consoante o art. 5º, XXXIII e XXII da CF/88. e) Princípio da eficiência O princípio da eficiência foi inserido na Constituição pela Emenda Constitucional n. 19/1998 e tem relação com a otimização da atividade administrativa. Nesse sentido, Onofre Alves Batista Júnior (2012) afirma que a eficiência se relaciona ao dever de ampliar, no maior nível possível, o bem comum, com o uso adequado dos meios disponibilizados à Administração para atingir seu fim máximo: o interesse público. - -9 2.2. Classificação dos agentes públicos Segundo aponta Araújo (2011, p. 31), “agentes públicos são todos os indivíduos que, sob diferentes títulos e regimes jurídicos, atuam em nome do estado”. Em classificação proposta por Carvalho Filho (2018), os agentes públicos podem ser classificados da seguinte forma: Agentes políticos Aqueles que ocupam seus cargos fundamentais na estrutura do Estado e que definem as diretrizes do poder público, seja pela formulação de normas, metas, políticas públicas e outros. Tais funções estão em grande medida previstas na Constituição e, em regra, a investidura desses agentes se dá por meio das eleições (exceção: Secretários e Ministros de Estado, por exemplo) e o exercício de suas funções normalmente é transitório. Exemplo de agentes: chefes do poder executivo e seus auxiliares (presidente e ministros, governador e secretário de Estado), prefeito e secretário municipal, membros do poder legislativo (vereadores, deputados estaduais e federais e senadores). Agentes particulares colaboradores Particulares que exercem colaboração com o Estado, com algum tipo de função ou múnus público. Por vezes, a função é exercida de forma temporária e sem remuneração. Exemplos: jurados, mesários convocados para auxiliar no processo eleitoral, concessionários de serviço público, titulares de cartórios, dentre outros. Servidores públicos Nas palavras de Araújo (2011), os servidores são quaisquer agentes públicos que exerçam atribuição do poder público voluntariamente, a título profissional, mediante remuneração, estando inseridos de maneira subordinada nos quadros da Administração Pública. Há, portanto, uma relação profissional de trabalho com o Estado, exercida mediante remuneração. - -10 2.3. Acessibilidade a cargos, empregos e funções públicas: concurso público Por força do princípio da isonomia, o ingresso em cargos, empregos e funções públicas deve ser, em regra, precedido de concurso público, procedimento criado para garantir iguais condições de acessibilidade às pessoas que desejam ser agentes públicos. O art. 37, II da Constituição estabelece que a investidura de agentes público em cargos ou funções públicas deverá ser antecedida de um concurso, que pode envolver provas ou provas e títulos, de acordo com a complexidade da função a ser exercida. A própria Constituição estabelece a exceção a este dever em relação às nomeações para cargo em comissão, que seja de livre nomeação e exoneração, conforme previsão legal. Estes cargos têm natureza de confiança e sua ocupação é precária, o que significa que o agente público pode ser desligado da Administração livremente, não adquirindo qualquer tipo de estabilidade. Outra exceção constitucional à regra dos concursos públicos como condição de provimento de cargos é a previsão de nomeação de membros de Tribunais, conforme os arts. 73, § 2º, art. 94, 101, 101, 104, parágrafo único, II, 107, 111-A, 119-II, 120, III e 123 da CF/88. Por outro lado, o art. 37, IX prevê que a legislação apresentará os “casos de contratação por tempo determinado para atender necessidade temporária de excepcional interesse público” (BRASIL, 1988, ).documento online - -11 2.4. Sistema remuneratório do servidor público Existem dois regimes básicos para contraprestação do trabalho dos servidores públicos: o regime tradicional de remuneração e o regime de subsídios. Conforme ensinam Souza e Fidalgo (2018, p.774), sistema de remuneração não apresenta uma definição consensual na doutrina, sendo uma “remuneração genérica que abrange diversas parcelas pecuniárias que compõem o valor final percebido pelo agente público”. Na legislação aplicável aos servidores públicos federais (at. 41 da Lei n. 8.112/90), prevê-se que a remuneração é a soma entre o vencimento correspondente ao cargo e às demais vantagens pecuniárias permanentes estabelecidas em lei, como é o caso das gratificações, indenizações, adicionais e retribuições. O sistema de subsídio tem por essência a fixação de contraprestação única, na qual não se podem realizar quaisquer acréscimos de natureza remuneratória. De acordo com o art. 39, §4º da Constituição Federal, O membro de poder, o detentor de mandato eletivo, os ministros de estado e os secretários estaduais e municipais serão remunerados exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória (BRASIL, 1988, ).documento online O sistema de subsídio foi instituído no contexto da Emenda Constitucional n. 19/98 e objetiva conferir maior transparência às verbas pagas aos agentes públicos, permitindo, assim, um maior controle dos gastos públicos. - -12 2.5. Direito dos servidores, garantias e vedações constitucionais Os principais direitos e garantias constitucionais dos servidores podem ser assim sintetizados conforme a tabela “Direitos e Garantias dos Servidores”. Tabela 1 - Direitos e Garantias dos Servidores Fonte: Elaborado pelo autor, baseado na Constituição Federal, 1988. No entanto, há vedações constitucionais, quais sejam (BRASIL, 1988, ): documento online - remuneração acima do teto constitucional previsto pelo art. 37, XI; - proibição de critérios não isonômicos para a aposentadoria, permitida criação de critérios diferenciados apenas para: a) servidores portadores de deficiência; - -13 b) servidores que desempenham atividades de risco; ou c) servidores com funções desempenhadas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física (art. 40, §4º); - acumulação irregular de cargos públicos remunerados (art. 37, XVI); - Acumulação irregular de proventos de aposentadoria previstos pelo art. 40 ou pelos arts. 42 e 142 com a remuneração de cargo, emprego ou função pública. Essa vedação não se aplica para as hipóteses de cargos acumuláveis na forma da Constituição da República e nem para os cargos eletivos e cargos em comissão declarados em lei de livre nomeação e exoneração (art. 37, § 10). 2.6. Licitação pública Também por força do princípio da isonomia, a Administração não possui ampla liberdade para firmar contratos. A seleção dos contratados deverá, em regra, ser precedida de licitação. A licitação é um procedimento administrativo especial, regulamentado sobretudo pela Lei n. 8.666/1993 e que tem a finalidade principal de convocar publicamente, e de forma igualitária, possíveis interessados em contratar o fornecimento de bens, serviços, obras ou pessoal com a Administração e que visa a selecionar a proposta mais vantajosa ao interesse público. Esse não é o único objeto das licitações, contudo. Conforme ressalta Di Pietro (2012, p.369), a licitação é “procedimento prévio à celebração de contratos administrativos, que tem por objetivo selecionar a propostamais vantajosa para a Administração, promover o desenvolvimento nacional sustentável e garantir a isonomia entre os licitantes”. Assim, conforme dispõe o art. 37, XXI da Constituição Ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações (BRASIL, 1988, ).documento online Nota-se que a Constituição permite que a legislação excepcione o dever de licitar: é o que ocorre com o caso de dispensa e de inexigibilidade de licitação previstos na Lei n. 8.666/1993. - -14 2.7. Responsabilidade civil da Administração Segundo Souza (2018, p.1113), pode-se conceituar “a responsabilidade civil do Estado como um dever jurídico sucessivo de reparar um dano, consequente da violação de uma obrigação antecedente” e que pode ser de natureza contratual ou extracontratual. Conforme dispõe o art. 37, § 6º da Constituição, a Administração Pública e as pessoas jurídicas privadas, que prestarem serviço público, respondem de forma objetiva por suas condutas comissivas lesivas (não depende a investigação da culpa). Devido a esta disposição, considera-se que a Constituição adotou a teoria do risco administrativo. Em relação à responsabilidade civil da Administração relativa aos danos causados por omissão, a doutrina majoritária entende que esta tem natureza subjetiva por aplicação da teoria da culpa administrativa (culpa anônima ou da falta do serviço). Nesse sentido, confira-se o precedente consolidado no Recurso Extraordinária n. 179147. Conforme aponta Maria Sylvia Zanella di Pietro (2012, p. 707), “são apontadas como causas excludentes da responsabilidade a força maior, a culpa da vítima e a culpa de terceiros. Como causa atenuante, é apontada a culpa concorrente de terceiros”. Em relação à ação de indenização contra o Estado, firmou-se entendimento de que A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal (CF), a ação por danos causados por agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa (STF. RE 1.027.633. Relator min. Marco Aurélio. Julgamento: 14/08/2019. Publicação: informativo 947, Tema 940). O prazo prescricional para as ações de indenização por dano causado pela Administração é de cinco anos, conforme decidido pelo STF na ADI 2.418. - -15 2.8. Improbidade administrativa A improbidade administrativa é espécie de ilícito previsto pela Constituição (art. 37, §4º) e que implica em violação ao princípio da moralidade. Conforme leciona Di Pietro (2012, p. 889), a improbidade é um ato lesivo ou danoso que se enquadra em uma das tipologias prescritas na Lei n. 8.429/92 e que pode gerar, dentre outras questões, enriquecimento ilícito para o agente que o comete, prejuízo ao Erário, concessão indevida de benefícios tributários ou atentado contra os princípios da Administração Pública. Isso pode ser visto no quadro “Principais aspectos referentes à ação de improbidade”. Quadro 1 - Principais aspectos referentes à ação de improbidade Fonte: Elaborado pelo autor, 2020. Conforme a gravidade do ato de improbidade, varia a extensão das penalidades aplicáveis e que são previstas pelo art. 37, §4º da Constituição Federal: “importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível” (BRASIL, 1988, ).documento online - -16 3. Organização dos poderes e dos órgãos autônomos A organização dos poderes e dos órgãos autônomos é essencial para que o Estado possa desempenhar sua finalidade máxima de atingir o bem comum. Esse estudo inicia-se pela compreensão das diversas funções estatais (executiva, judiciária e legislativa), bem como pelo estudo de órgãos autônomos relevantes para a estabilidade institucional do país. 3.1. Separação das funções estatais: poder legislativo, poder executivo, poder judiciário, Ministério Público e Tribunal de Contas A separação das funções estatais, sejam elas típicas ou atípicas, atende à necessidade de distribuir os feixes de competência em instituições especializadas e com a missão de concretizá-las. Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2 /e4a0819c76205c984286064325be7353 3.2. Funções típicas e atípicas O núcleo duro do Estado, formado pelo poder legislativo, poder executivo, poder judiciário, além dos órgãos Ministério Público e Tribunal de Contas possui funções predominantes para as quais foram criados e funções atípicas, que destoam deste rol de atribuições essenciais e, muitas vezes, são desempenhadas de forma típica por outros órgãos. As entidades do poder executivo desempenham, tipicamente, as chamadas funções administrativas, mas podem, eventualmente de forma atípica, exercer funções legislativas como, por exemplo, a edição de medidas provisórias e (art. 62) e de leis delegadas (art. 68). 3.3. Poder executivo O poder executivo desempenha tipicamente a função administrativa relativa à “execução de políticas públicas, fomento, gerenciamento da máquina administrativa” (FERNANDES, 2010, p.679), além da intervenção econômica e outras funções estratégicas para condução do Estado. Suas funções atípicas de natureza legislativa, vistas acima, devem ser exercidas nos estritos limites da Constituição. O mandato eletivo é de quatro anos, sendo possível a reeleição para “um único período subsequente” (art.14, § 5º). - -17 3.4. Chefe de estado e chefe de governo De acordo com o art. 76 da Constituição, o poder executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos ministros de Estado, sendo que o presidente atua, a um só tempo, como chefe de Estado e chefe de governo. O art. 84 da Constituição traz um rol exemplificativo de atribuições do presidente da República, como, por exemplo, nomear e exonerar ministros de Estado, manter relações com Estados estrangeiros, sancionar, promulgar e fazer publicar leis, decretar e executar a intervenção, dispor sobre decreto sobre a organização da Administração Federal e muitas outras atribuições. Conforme lecionada Almeida (2019), O presidente da República é a figura pública máxima por assumir a competência de chefe do Estado e do governo no Brasil. O chefe de Estado atua externamente na condição de chefe da República Federativa do Brasil, ou seja, representa o país no plano externo ou internacional. Já o chefe de Governo atua internamente como chefe da União, ou seja, do governo federal (ALMEIDA, 2019, ).documento online As atribuições podem ser assim exemplificadas: - chefia de Governo: art. 84, I a VI, IX a XXVII. - chefia de Estado: art. 84, VII, VIII e XIX. Fique de olho Sobre a competência regulamentar do poder executivo, o STF já decidiu que este ocorre nos limites deixados pela norma legislativa a ser regulamentada e que visa a dar aplicação uniforme da legislação, de modo a prestigiar o princípio da igualdade, conforme a ADI 4.218. - -18 3.5. Condições de elegibilidade, processo eleitoral, posse e vacância da presidência da República e atribuições do presidente Em relação ao presidente da República, devem-se destacar os seguintes aspectos, os quais constam na tabela “Requisitos aplicáveis à presidência da República”. Tabela 2 - Requisitos aplicáveis à presidência da República Fonte: Elaborado pelo autor, 2020. - -19 3.6. Órgãos auxiliares do presidente da república: ministros, conselho da república e conselho de defesa nacional Os principaisórgãos auxiliares da Presidência da República são: • Ministros de Estado As atribuições estão dispostas no art. 87 da Constituição da República e envolvem: I – orientar, coordenar e supervisionar os órgãos e entidades da administração federal relacionados com sua pasta. II – referendar os atos e decretos da presidência; II – dar instruções para execução de normas; III – apresentar relatório anual de gestão para o presidente, evidenciando as ações executadas por seu Ministério. Nem todos cidadãos podem ser ministros: os ministros devem ter mais de 21 anos, além de estar em gozo dos seus direitos políticos. Apenas brasileiros natos podem ser ministros da defesa (art. 12, § 3º da CF). Os demais ministros podem ser brasileiros natos ou naturalizados. • Conselho da República Trata-se de órgão de natureza consultiva com competência para assessorar a Presidência da República em casos de intervenção federal, estado de defesa e estado de sítio, bem como nas questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas (art. 90). Sua composição inclui tanto membros do executivo quanto membros do poder legislativo, quais sejam: vice-presidente da República, presidente da Câmara dos Deputados, presidente do Senado Federal, os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados, os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal, o ministro da Justiça e, ainda, seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados. No caso dos cidadãos, seus mandatos serão de três anos, vedada a recondução (art. 89). • Conselho de Defesa Nacional Este órgão tem natureza consultiva e a atribuição de opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de celebração da paz, sobre a decretação do estado de defesa, do estado de sítio e da intervenção federal e • • • - -20 diversas outras iniciativas necessárias a garantir a independência nacional e a defesa do Estado democrático, conforme disciplina o art. 91, §1º da Constituição Federal. Uma importante diferença em relação ao Conselho da República: o Conselho de Defesa Nacional não conta com participantes populares, sendo composto pela participação do vice-presidente da República, do presidente da Câmara dos Deputados, do presidente do Senado Federal, dos ministros da Justiça, Defesa, Relações Exteriores, Planejamento, ministros Militares e dos comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica - -21 3.7. Responsabilidade do presidente da República: prerrogativa de foro e imunidades Em relação aos crimes de responsabilidade do Presidente da República, Fernandes (2010, p. 693) aponta que “são infrações político-administrativas praticadas pelo Presidente, definidas em legislação federal, que atentam contra a Constituição e contra o rol do art. 85 da Constituição de 1988”, que assim dispõe: Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: I - a existência da União; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; IV - a segurança interna do País; V - a probidade na administração; VI - a lei orçamentária; VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais (BRASIL, 1988, )documento online . A Lei n. 1.079/1950 descreve o procedimento de apuração e julgamento dos crimes de responsabilidade. A respeito do , Mendes (2017) estabeleceu relevante resumo das principais teses desenvolvidas peloimpeachment STF, que se reproduz parcialmente a seguir: a) não há direito a defesa prévia ao ato de recebimento da denúncia por parte do presidente da Câmara dos Deputados. b) podem-se aplicar subsidiariamente os Regimentos Internos das casas legislativas, desde que compatíveis com a lei e com a CF/88 sem que isso implique ofensa à reserva legal c) as diligências previstas em lei para a etapa anterior ao juízo de admissibilidade da Câmara dos Deputados não se destinam a provar o mérito das acusações, mas apenas a esclarecer a denúncia. d) a proporcionalidade na formação da comissão especial pode ser aferida tendo-se em conta tanto os partidos como os blocos partidários. e) a defesa tem, em regra, direito de manifestar após a acusação e o interrogatório deve ser o ato final da instrução probatória”. f) restou fixado que após o advento da CF/88, o recebimento da denúncia é ato a ser realizado pelo Plenário do Senado Federal, por maioria simples [...] g) os Senadores não precisam se apartar da função acusatória mesmo exercendo a função de juízes, tendo em vista o caráter político do procedimento. - -22 h) não se aplicam subsidiariamente as hipóteses de impedimento e suspeição previstas no Código Penal i) para a formação da comissão Especial criada para examinar a denúncia, não é possível a composição de chapas avulsas, devendo-se seguir as indicações dos líderes [...] j) no que concerne a tal votação plenária, restou decidido que a votação deve ser aberta (MENDES, 2017, pp. 999-910). Em contraponto a responsabilização, existem algumas imunidades formais previstas na Constituição, que visam a preservar o bom exercício das funções presidenciais. De um lado, o § 3º, do art. 86, dispõe que o Presidente da República não poderá ser preso por infrações comuns enquanto não ocorrer a prolação de sentença condenatória,. De outro, o § 4º dispõe que o Presidente não será responsabilidade por atos alheios ao exercício de suas funções durante a vigência do seu mandato. Também em relação ao processo existe imunidade constitucional na medida em que o presidente só poderá ser processado, nos termos do art. 86 se “admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade” (BRASIL, 1988, documento online ). Em relação a prerrogativa de foro, nota-se que o art. 102, I, B da Constituição determina que compete originariamente ao STF processar e julgar os crimes de responsabilidade do presidente da República. A respeito da extensão da prerrogativa, deve-se considerar a recente tese fixada pelo STF (AP 937): a) A prerrogativa de foro só abarca os crimes que estejam relacionados às funções desempenhadas pelo eleito durante o exercício de seu cargo b) Não poderá ocorrer alteração da competência após o final da instrução processual, que ocorre com a publicação do despacho de apresentação de alegações finais, ainda que o agente passe a ocupar outro cargo público ou deixe o cargo que ocupada por qualquer razão. Esse entendimento visa a harmonizar as divergências sobre a duração e a extensão da prerrogativa de foro. - -23 3.8. Governador O governador é a autoridade superior do poder executivo, organizado no âmbito dos Estados-membros. Tem condições de elegibilidade iguais às aplicáveis para o presidente da República, com exceção da idade mínima, que é de trinta anos no caso dos governadores. Suas competências são regulamentadas pela Constituição da República e pela Constituição Estadual, e envolvem a materialização das competências administrativas estaduais, bem como no controle da atuação da Assembleia Legislativa Estadual (ex: sanção e veto de leis estaduais). 3.9. Prefeito O prefeito é a autoridade superior do poder executivo organizado no âmbito dos municípios. Tem condições de elegibilidade iguais às aplicáveis para o presidente da República, com exceção da idade mínima, que é de vinte e um anos no caso dos prefeitos. Exercem as competências administrativas municipais, bem como o controle da atuação da Câmara dos Vereadores (ex: sanção e veto de leis municipais). Assista aí https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/746b3e163a5a5f89a10a96408c5d22c2/56c044ab341bb9916661210edf94a203 é isso Aí! Nesta unidade, você teve a oportunidade de: · a manutenção do equilíbrio federativo requer, por vezes, o emprego de instrumentos extremos e excepcionais, como é o caso da intervenção. A intervenção só poderá ocorrer nas hipóteses restritas previstas na Constituição; · a Administração Pública é guiada pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência; · os princípios da Administração norteiam alguns de seus principais institutos: a impessoalidade relaciona-se com a realização de procedimentos de ampla concorrência, como os concursos públicos e as licitações, por exemplo; - -24 · o poder executivo executa de forma predominante, dentro de suas competências públicas, a função administrativa. Dentre as funções atípicas desempenhadas pelo poder executivo pode-se destacar o papel de fiscalizar a legalidade do processo legislativo; · as autoridades máximas do poder executivo nos níveis federal, estadual e municipal, são, respectivamente, o presidente da República, o governador e o prefeito. No caso do presidente, a Constituição prevê estruturas de natureza consultiva para auxiliá-lo. A Constituição prevê, ainda, prerrogativas, imunidades e sujeições aplicáveis aos chefes do Executivo. Referências ALMEIDA, T. F. Peculiaridades do chefe de Estado e de governo no Brasil e no mundo. , 13 fev. 2019.DomTotal Disponível em: https://domtotal.com/noticia/1320608/2019/02/peculiaridades-do-chefe-de-estado-e-de- . Acesso em: 13 nov. 2019.governo-no-brasil-e-no-mundo/ ARAUJO, F. D. A. . Belo Horizonte: Fórum, 2011.Negociação coletiva dos servidores públicos BATISTA JÚNIOR, O. A. . 2.ed. Belo Horizonte: Fórum,Princípio constitucional da eficiência administrativa 2012. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADI 4.218 AgR. Relator: min. Luiz Fux. Data de julgamento: 13/12/2012. Data de Publicação no DJE: 19/02/2013. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. . Relator: min. Teori Zavascki. Data de julgamento: 04/05/2016.ADI 2.418 Data de Publicação no DJE: 17/11/2016. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. . Relator: min. Roberto Barroso. Data de julgamento: 03/05/2018.AP 937 QO Data de Publicação no DJE: 11/12/2018. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 179147. Relator: min. Carlos Velloso. Data de julgamento: 12/12/1997. Data de Publicação no DJE: 27/02/1998. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RE 1027633. Relator: min. Marco Aurélio. Data de julgamento: 14/08/2019. Data de Publicação: informativo 947, Tema 940. CARVALHO FILHO, J. S. . 32.ed. São Paulo: Atlas, 2018.Manual de direito administrativo DI PIETRO, M. S. Z. . 25. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.Curso de direito administrativo FERNANDES, B. G. . 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.Curso de direito constitucional MELLO, C. A. B. Curso de direito administrativo. 28 ed. São Paulo: Malheiros, 2011. MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. G. . 12.ed. São Paulo: SaraivaJur, 2017.Curso de direito constitucional - -25 SILVA, J. A. . 32.ed. São Paulo: Malheiros, 2009.Curso de direito constitucional SOUZA, J. M.; FIDALGO, C. B. . Salvador: JusPodivm, 2018.Legislação administrativa para concursos
Compartilhar