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Direito e Bioética Aula 1: Introdução ao estudo da Bioética Apresentação Seja bem-vindo ao primeiro encontro da disciplina Direito e Bioética. Trata-se de um campo multidisciplinar de fundamental importância não somente para o pro�ssional do Direito, como também para as demais áreas que se comunicam com fatos juridicamente relevantes envolvendo o fenômeno vida e seus elementos. Empregaremos nesta aula os conceitos e as noções básicas relativas a um ramo do conhecimento tão recentemente desenvolvido e capaz de suscitar mais questões levantadas que respostas prontas, pois ele envolve os aspectos éticos, morais, religiosos, jurídicos e �losó�cos decorrentes dos tremendos avanços observados em nosso cotidiano. Pesquisas cientí�cas biogenéticas, a�nal, geram consequências não somente ao ser humano em si, mas também às próximas gerações e, por extensão, ao próprio planeta, seu habitat natural. Objetivo Desenvolver as noções básicas a respeito dos conceitos de ética, moral e Direito; Reconhecer as relações e distinções entre ética, moral e Direito; Apontar a noção relativa ao conceito e ao objeto de alcance da Bioética. As noções básicas sobre ética, moral e o direito Vejamos as noções introdutórias sobre ética, moral e o direito. Clique nos botões para ver as informações. Ética vem do grego ethos (caráter, modo de ser). Ela é tradicionalmente um dos temas mais importantes da Filoso�a. Costumamos dizer que as pessoas devem agir de acordo com determinados valores para que sua conduta seja considerada ética. De forma geral, a ética se ocupa de categorizar o que é bom e mau (ou correto e incorreto) no agir humano. É a parte da Filoso�a que cuida da re�exão a respeito das noções e dos princípios que servem de fundamento para a vida moral. Como disciplina, a ética �losó�ca (ou �loso�a moral) estuda a moralidade dos comportamentos livres do ser humano, buscando um racionalismo sistemático sobre como se deve viver e por quê. É, portanto, a busca das razões e respostas sobre o motivo de uma ação ser considerada boa ou má, correta ou incorreta. A ética como ciência �losó�ca se submete, desse modo, à crítica da razão. Ética pode ser de�nida como uma ciência do comportamento moral dos indivíduos em sociedade. Por isso, não é possível a�rmar que a ética cria a moral. Na verdade, a moral é o seu objeto de estudo, formado pelos atos morais humanos conscientes e voluntários. Introdução à ética Embora sejam diferentes, os conceitos de moral e ética são usados muitas vezes como se fossem sinônimos. Mas eles não são. Moral vem do latim mos ou mores (em português, costumes), referindo-se ao comportamento adquirido ou ao modo de ser que vai sendo conquistado pelo ser humano. Como já vimos, a ética, também chamada de �loso�a moral, é a parte da Filoso�a que se ocupa da re�exão a respeito de noções e princípios que fundamentam a vida moral. Portanto, na origem, caráter e costume se referem a um comportamento adquirido pelo hábito, um caráter não natural do ser humano que, já na Antiguidade, lhe conferia uma dimensão moral. Moral é um conjunto de normas, princípios e valores criados pelo grupo social para regulamentar as relações entre as pessoas e/ou entre elas e a comunidade. Tais normas, elaboradas no tempo e no espaço (portanto, cada tempo e lugar têm suas próprias regras morais), são respeitadas livre e conscientemente por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal. A moral possui, assim, um caráter social, porque: Os indivíduos se sujeitam a princípios, normas ou valores socialmente estabelecidos; Regula somente atos e relações que acarretam consequências para outros, exigindo necessariamente a sanção dos demais; Cumpre a função social de induzir os indivíduos a aceitarem livre e conscientemente determinados princípios, valores ou interesses; É válida de modo absoluto, para qualquer tempo ou lugar. Ética e moral O Direito compõe um campo especí�co da realidade humana que se coloca em oposição aos fatos baseados na experiência, que são chamados de fatos empíricos, e nas suas relações naturais. Assinar um contrato de aluguel ou de compra de um bem patrimonial e prestar falso testemunho perante um tribunal são fatos empiricamente veri�cáveis. Não há necessariamente a validade jurídica dessas ações, do mesmo modo que os direitos ou deveres delas decorrentes. O Direito não é, da mesma forma que os valores éticos de uma sociedade e a qualidade de uma determinada ação moral, uma realidade concretamente perceptível aos olhos, como os objetos materiais, embora não se possa deixar de levar em conta a profunda in�uência da ética na construção das normas jurídicas. Exemplos a) O respeito à pessoa humana, particularmente os mais idosos, pode representar, para uma tribo nômade, abandonar os seus membros mais velhos, incapazes de seguir em seus deslocamentos, num determinado local, muitas vezes até considerado sagrado, como à sombra de uma árvore, abastecendo-os de uma porção de água e alimentos, para que venham a morrer em paz. b) O per�l patrimonialista, individual e machista da família patriarcal foi considerado como coisa natural e normal do ethos brasileiro e de muitos outros povos (ainda hoje), gerando como decorrência um Código Civil, em 1916, que limitava os direitos da mulher, quando não os cerceava. Essa realidade só veio a mudar após uma mudança de mentalidade por conta da entrada das mulheres no mercado de trabalho e de sua luta por valorização, o que culminou na Constituição Federal de 1988 e nas legislações posteriores. Ética, moral e direito Ética e moral: suas relações e distinções A moral tem um caráter prático, imediato, restrito, histórico e relativo. Logo, ela é pessoal: cada um tem os próprios valores morais. Já a ética é a re�exão �losó�ca sobre a moral: procura justi�cá-la, pois o seu objeto é o que guia a ação. O próprio objetivo dela é orientar racionalmente a vida humana: “A ética é a ciência da moral, isto é, de uma esfera do comportamento humano”. (VÁSQUEZ, 2002, p. 23) As proposições da ética devem ter o mesmo rigor e fundamento das proposições cientí�cas. Princípios, normas ou juízos morais, ao contrário, não apresentam esse caráter. Pode-se falar numa ética cientí�ca, mas não se pode dizer o mesmo da moral. Façamos uma comparação para entender isso: não existe uma moral cientí�ca, mas há (ou pode haver) um conhecimento da moral que pode ser cientí�co. Da mesma forma que o mundo físico não é cientí�co, mas sua abordagem ou o estudo por parte da física pode sê-lo. Parte da Filoso�a, a ética é a ciência que tem por objeto de estudo os comportamentos morais. Há duas vertentes da ética: Ética teórica Ligada ao saber teórico, seu objetivo é a cienti�cidade, objetividade ou �dedignidade dos conhecimentos humanos; Ética aplicada Relacionada ao saber prático ou à sabedoria prática, ela se preocupa com a ação de acordo com algum sistema de valores e com a ponderação sobre suas consequências. Nesta aula, analisaremos a ética aplicada. Ela aborda questões relevantes para a pessoa e a humanidade, valendo como introdução aos princípios que sustentam a ética ou as diversas teorias éticas nos problemas da vida cotidiana. O interesse na ética aplicada, próprio da �loso�a ocidental das últimas décadas, é um dos traços �losó�cos mais importantes, diferenciando o pensamento ético dos séculos XX e XXI. O ramo da ética aplicada é muito diversi�cado. Ele compreende problematizações de diversos matizes, como a relação entre a ética e as seguintes áreas de estudo: Economia, Política, Educação, Meio Ambiente (ou Ecoética) e Bioética. Este último campo é o que mais registra a difusão dos temas de que trata. Conceito e alcance da Bioética O termo Bioética é um neologismo derivado da união de duas palavras gregas: bios (vida) e ethike (ética). Ela é a interrogação fundamental que o homem faz a si mesmo sobre a in�uência do desenvolvimento da biologia molecular no próprio futuro. A origem do termo Bioética, embora remonte ao início dos anos 1970,está profundamente atrelada a alguns fatos históricos marcantes: 1 http://portaldoaluno.webaula.com.br/cursos_graduacao/dp0188/aula1.html Auschiwitz. Fonte: Pixabay. Experiências biomédicas do III Reich realizadas nos campos de concentração nazistas;2 Bomba em Nagasaki. Fonte: Wikipedia. Bombas atômicas lançadas pelos norte-americanos em Hiroshima e Nagasaki ao �m da Segunda Guerra Mundial; Fertilização in vitro. Fonte: Shutterstock. Perspectiva da inseminação arti�cial (in vitro) ao longo da década de 1970. A Bioética vincula-se diretamente às preocupações ligadas ao meio ambiente e àquelas geradas pela aplicação dos resultados da biologia molecular. http://portaldoaluno.webaula.com.br/cursos_graduacao/dp0188/aula1.html Para conhecer com mais a história da ética médica e os elementos que contribuíram para o surgimento e o desenvolvimento da Bioética. Leia este texto essencial Clique no botão acima. Você sabia que a Bioética, como disciplina, tem não mais que quarenta anos de existência? Isso não signi�ca que, antes dela, não existisse nenhuma forma de re�exão sobre os tipos de con�itos que esta disciplina analisa. Realmente, a história da ética médica é quase tão antiga quanto a da própria Medicina. Mas a sua história pertence de�nitivamente ao século XX. O professor Joaquim Clotet (2019) aponta alguns dos elementos que contribuíram para o nascimento e o desenvolvimento da Bioética: O progresso nas pesquisas de ordem biomolecular e da biotecnologia aplicada à Medicina ocorridos nas últimas décadas; As revelações sobre abusos efetuados pela experimentação biomédica em seres humanos; A diversidade moral, praticada especialmente nos países de cultura ocidental; Uma maior preocupação da comunidade �losó�ca com os problemas relacionados ao ser humano, à sua qualidade de vida, a seu início e �m; As posições assumidas pelas instituições religiosas sobre os mesmos temas; O posicionamento de diversos países por meio de seus governos, em nível legislativo e executivo, inclusive em questões que envolvam a proteção à vida ou os direitos dos cidadãos sobre sua saúde, reprodução e morte; A intervenção de organismos não governamentais e entidades internacionais. Para conhecer com mais a história da ética médica e os elementos que contribuíram para o surgimento e o desenvolvimento da Bioética, leia este texto essencial. O alcance da Bioética tende a ser global. Sua vocação transnacional justi�ca-se à medida que ela: Diz respeito a todo o planeta, pois é uma ética relacionada ao bem de todos os seres humanos; Inclui, enquanto conjunto, todo o temário ético nas ciências da vida e nos cuidados de saúde (temas clássicos da ética do meio ambiente e da Biomedicina); Promove a aproximação desses temas, incorporando expansivamente todos os valores relevantes, conceitos, modos de pensar e disciplinas. Atividade 1. Leita este texto para responder às perguntas a seguir: Ética, moral e política A ética não se confunde com a moral. A moral é a regulação dos valores e comportamentos considerados legítimos por determinada sociedade, um povo, uma religião, uma certa tradição cultural etc. Há morais especí�cas, também, em grupos sociais mais restritos: uma instituição, um partido político... Há, portanto, muitas e diversas morais. A moral é um fenômeno social particular, que não tem compromisso com a universalidade. Mas, então, todas e quaisquer normas morais são legítimas? Não deveria existir alguma forma de julgamento da validade das morais? Existe, e essa forma é chamada de ética. A ética é uma re�exão crítica sobre a moralidade. A ética é um conjunto de princípios e disposições, cujo objetivo é balizar as ações humanas. A ética existe como uma referência para os seres humanos em sociedade, de tal modo que esta possa se tornar cada vez mais humana. A ética pode e deve ser incorporada pelos indivíduos, sob a forma de atitudes do dia a dia. A ética, tanto quanto a moral, não é um conjunto de verdades �xas, imutáveis. A ética é dinâmica, se amplia e se adensa. Para se entender como isso acontece na história, basta lembrar que a escravidão já foi considerada “natural". Entre a moral e a ética há uma tensão permanente: a ação moral busca uma compreensão e uma justi�cação crítica, e a ética, por sua vez, exerce uma permanente vigilância crítica sobre a moral. (MESQUITA, 2019) a) A ética na política, no Brasil, nunca existiu. Daí floresce a corrupção. b) Ética e moral nada têm a ver. Ambas, embora tratem da conduta e do comportamento humano, estão separadas pela política. c) A ética busca o bem comum; a moral sempre o nega. d) A função ética da política é propiciar, por um lado, os privilégios de poucos; por outro, aumentar as carências de muitos. e) A moral e a ética são distintas. A primeira é mais particular; a segunda, mais universal. A moral, em constante tensão com a ética, é balizada por ela. Apolítica, por sua vez, seria a realização da ética, isto é, do bem comum. 2. Vivemos em sociedade em que temos regras e normas a cumprir dentre nossos direitos estabelecidos. No dia a dia, saímos de casa para resolver diversas coisas, frequentando espaços públicos e particulares em que temos de nos comportar de acordo com cada ambiente. Isso é viver em sociedade. Para isso, cumprimos com a ética e a cidadania. Qual o signi�cado de ser um cidadão ético a partir dos ensinamentos de nossa aula? 3. No que diz respeito à moral e à ética, julgue os itens subsequentes: I. Moral e ética são termos diferentes; portanto, com sentidos análogos. II. A moral precede a ética na aplicação social. III. Ética quer dizer costume. IV. A moral é o ato individual. V. A moral é o julgamento dos costumes. A quantidade de itens certos é igual a: a) 1 b) 2 c) 3 d) 4 e) 5 4. Leia este texto: Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores concernentes ao bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta correta. No entanto, a simples existência da moral não signi�ca a presença explícita de uma ética, entendida como �loso�a moral, isto é, uma re�exão que discuta, problematize e interprete o signi�cado dos valores morais. (CHAUÍ, 2000, p. 134) A partir da leitura deste trecho e dos ensinamentos de nossa aula, podemos construir uma distinção fundamental entre ética e moral. Justi�que. 5. Entre os vários fatores que contribuíram para o nascimento e o desenvolvimento da Bioética, encontramos a Segunda Guerra Mundial. Em que medida tanto alemães quanto americanos contribuíram para o desenvolvimento dela? Notas Bioética1 Em sua obra Bioética: ponte para o futuro, o professor Van Renselaer Potter foi o primeiro a usar tal expressão: “Eu proponho o termo Bioética como forma de enfatizar os dois componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores humanos”. (POTTER, 2016). Experiências biomédicas2 As pesquisas médicas realizadas pelos cientistas alemães nos campos de concentração nazistas no decorrer da Segunda Guerra Mundial, sem qualquer espécie de freio ético, geraram atrocidades inomináveis. Isso levou a comunidade cientí�ca mundial a lançar um documento, por meio do Tribunal de Nuremberg (1946), instituindo uma série de regras que vinculavam e estabeleciam limites concretos às pesquisas cientí�cas que envolvessem seres humanos. Assim, a partir de uma visão ética, de respeito ao ser humano, buscava-se estabelecer limites éticos para as pesquisas e a aplicação biotecnológica dos novos descobrimentos no homem. Referências CHAUÍ, M. Convite à Filoso�a. São Paulo: Ática, 2000. p. 134. CLOTET, J. Bioética como ética aplicada e genética. In: Revista Bioética. v. 5. n. 2. Disponível em: < // revistabioetica .cfm .org .br /index.php /revista _bioetica /article /view /381 <//revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/381> >. Acesso em: 14 mai. 2019. MARCONDES, D. Textos básicos de ética: de Platão a Foucault. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. MESQUITA, C. Ética, moral e política.In: >Hora do recreio. Disponível em: < https:// ribeirobr .blogspot .com/ <https://ribeirobr.blogspot.com/> >. Acesso em: 14 mai. 2019. POTTER, V. R. Bioética: ponte para o futuro. São Paulo: Loyola, 2016. VÁSQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2000. Próxima aula Fundamentos da Bioética; Princípios fundamentais bioéticos; Con�itos principiológicos. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Leia o texto: Os cruéis experimentos nazistas em seres humanos <https://br.historyplay.tv/noticias/10-experimentos-nazistas-super- crueis-em-seres-humanos> . Assista ao vídeo: O jardineiro �el, que aponta a cruel manipulação da indústria farmacêutica <https://www.youtube.com/watch? v=cNPzns2MyaY> . http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/381 https://ribeirobr.blogspot.com/ https://br.historyplay.tv/noticias/10-experimentos-nazistas-super-crueis-em-seres-humanos https://www.youtube.com/watch?v=cNPzns2MyaY Direito e Bioética Aula 2: Fundamentos da Bioética Apresentação Os processos de Nuremberg, ao �nal da Segunda Guerra Mundial, geraram uma verdadeira comoção não só na comunidade cientí�ca, mas também na opinião pública mundial, pelas atrocidades cometidas por nazistas em nome de um suposto avanço da pesquisa cientí�ca. A partir disso, foram elaborados diversos documentos cuja �nalidade era estabelecer patamares objetivos para a prática da ciência, como os limites à experimentação cientí�ca em homens e mulheres. Demonstraremos nesta aula a fundamentação teórica dos quatro princípios fundantes da Bioética, ressaltando as nuances existentes entre bene�cência e não male�cência. Objetivo Desenvolver os conceitos dos quatros princípios fundantes da Bioética; Reconhecer as relações e as distinções entre os princípios da bene�cência e da não male�cência; Apontar a noção relativa ao conceito dos princípios da justiça e da autonomia; Tive de manter a repetição cansativa de “princípios”, pois eles são conceitos teóricos apresentados. Não cabia, então, usar um sinônimo aqui. Surgimento da bioética pela elaboração de diretrizes éticas Na aula passada, descobrimos que a Bioética é um ramo da ética aplicada que se preocupa com o estudo dos princípios que se solidi�cam a partir da fundamentação do valor da vida, da dignidade da pessoa humana e da vida em seu amplo conteúdo, analisando os problemas e os fenômenos particulares não somente a partir dos princípios induzidos, mas também das conclusões de diversas ciências. Sabemos que uma profunda mudança vem ocorrendo desde o último século nos princípios que regem a ética aplicada à Medicina e às pesquisas biotecnológicas. Isso é fruto de uma análise crítica que tem sido tão necessária quanto permanente, muito por conta da insu�ciência da ética médica tradicional de lidar com as complexas questões morais geradas pelo desenvolvimento da pesquisa cientí�ca e de sua aplicação na vida prática. Como estudo da Bioética, são consideradas como de interesse as seguintes áreas: Origem da vida; Desenvolvimento e a assistência da vida; Parte terminal ou �nal da vida; Conduta humana: pessoal, familiar, cientí�ca, técnica, social e política. Tanto a análise dos problemas como as orientações bioéticas devem ter um conteúdo integral para que exista uma harmonia de desenvolvimento e uma complementação dos diferentes aspectos que intervêm na origem, na conservação e no aperfeiçoamento da vida. Desenvolver a Bioética numa só dimensão signi�ca conhecer a verdade apenas de forma parcial. Percursos das diretrizes éticas. Clique nos botões para ver as informações. Como frisamos, os processos de Nuremberg, a partir de 1946, geraram mudanças na prática de atividades cientí�cas. Ela passou a ser tutelada pelos seguintes códigos: Nuremberg (1948); Helsinki (1964); Tóquio (1975); Veneza (1983). O objetivo dessa regulamentação era garantir uma proteção em relação a possíveis abusos decorrentes da experimentação cientí�ca envolvendo seres humanos. Esses códigos, no entanto, abordam somente a responsabilidade dos pesquisadores, que devem interpretá-los de acordo com a própria consciência. Eles não conseguiram evitar numerosas violações aos direitos humanos que vêm sendo reiteradamente denunciadas, inclusive pela própria comunidade cientí�ca. Processos de Nuremberg Uma das denúncias de maior repercussão na opinião pública internacional diz respeito ao artigo de 1966 intitulado Ethics and clinical research, de Henry K. Beecher. Ele fala sobre a conduta pouco ética dos pesquisadores que escondiam informações importantes sobre os riscos e os benefícios das cerca de 50 experiências clínicas a que se submeteram diversos voluntários. Essas denúncias causaram um grande impacto tanto na opinião pública quanto nas autoridades norte-americanas, gerando consequentemente o estabelecimento de regras sobre a destinação de recursos públicos para pesquisa. A partir de então, seriam priorizadas aquelas entidades que possuíssem programas de proteção aos pacientes. Denúncias de repercussão As pressões oriundas da própria comunidade cientí�ca norte-americana geraram um impacto ainda maior. Tais mudanças seriam, dessa vez, chanceladas pelo próprio Poder Legislativo: o Congresso dos Estados Unidos criava, em 1974, a National Commission for the Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research. Sua �nalidade era realizar uma pesquisa e um estudo completo a �m de elaborar as diretrizes éticas para proteger e garantir os direitos dos seres humanos que �zessem parte como pacientes em investigações biomédicas nas áreas de ciências do comportamento e Biomedicina. Pressões oriundas da comunidade cientí�ca Depois de quatro anos de trabalho, em 1978, foi publicado o Relatório Belmont. Ele continha os princípios e as orientações para a proteção dos seres humanos em experimentos. Apontaremos as características deste relatório a seguir. Relatório de Belmont O Relatório Belmont e seus princípios O Relatório Belmont estipula o reconhecimento de três princípios: 1. Respeito às pessoas (autonomia); 2. Bene�cência; 3. Justiça. Fonte: Shutterstock. A aplicação destes princípios gerais implica uma série de requisitos que vão desde o consentimento informado e a valoração do custo-benefício até a seleção dos sujeitos da experimentação a ser desenvolvida. De acordo com o relatório, os princípios propostos colocam-se como um suporte ético a: Cientistas; Sujeitos de experimentação; Avaliadores; Qualquer cidadão interessado na compreensão dos conceitos éticos inerentes à experimentação em seres humanos. Para conhecer com mais detalhes cada um dos 3 princípios do relatório de Belmont, acesse o texto de leitura essencial. Leia este texto essencial Clique no botão acima. Conheçamos agora cada um dos três princípios que norteiam o relatório de Belmont: 1. Princípio da autonomia ou do respeito pelas pessoas O princípio do respeito pelas pessoas engloba pelo menos duas percepções éticas: o tratamento de todos os indivíduos como pessoas autônomas e a proteção daqueles cuja autonomia esteja diminuída. Ele se divide, assim, em dois requisitos morais bem distintos: Reconhecer a autonomia do indivíduo; Proteger aqueles com autonomia reduzida. Uma pessoa autônoma é um indivíduo capaz de deliberar sobre objetivos pessoais e de agir sob a direção de tal deliberação. Respeitar a autonomia é dar peso às opiniões e às escolhas das pessoas sem obstruir as suas ações, a menos que elas sejam claramente prejudiciais aos outros. Mostrar falta de respeito por um agente autônomo é: Repudiar seus julgamentos; Negar-lhe a liberdade de agir segundo seus julgamentos; Reter a informação necessária para ele fazer um julgamento ponderado quando não houver razões imperiosas para tal. Como sabemos, porém, nem todo ser humano é capaz de autodeterminação.Essa capacidade amadurece durante a vida de um indivíduo, mas algumas pessoas a perdem total ou parcialmente por causa de doença, de�ciência mental ou circunstâncias que restrinjam severamente sua liberdade. O respeito por imaturos e incapacitados pode exigir que eles sejam protegidos à medida que amadurecem ou quando estiverem incapacitados. 2. Princípio da bene�cência Tratar eticamente alguém signi�ca respeitar suas decisões, evitar causar-lhe danos ou prejuízos e assegurar seu bem- estar. Esse tratamento é regido sob a égide do princípio da bene�cência. O termo bene�cência é frequentemente entendido como aquilo que abrange os atos de bondade ou caridade realizados além da obrigação estrita. No Relatório Belmont, seu conceito foi estipulado como se ela fosse uma obrigação. Duas regras gerais foram formuladas como expressões complementares das ações bené�cas: Não prejudicar; Maximizar possíveis benefícios e minimizar possíveis danos. A máxima hipocrática "Não faça mal" há muito tempo é um princípio fundamental da ética médica. Claude Bernard estendeu-o ao campo da pesquisa, dizendo que não se deve ferir uma pessoa independentemente dos benefícios que isso possa gerar para os outros. No entanto, mesmo evitando danos, é necessário aprender o que é prejudicial; no processo de obtenção dessas informações, as pessoas podem estar expostas ao risco de danos. Além disso, o Juramento de Hipócrates exige que os médicos bene�ciem seus pacientes "de acordo com seu melhor julgamento". Atenção Aprender quem de fato se bene�ciará pode exigir que as pessoas se exponham a um risco. O problema colocado por esses imperativos é decidir quando é justi�cável buscar certos benefícios apesar dos riscos envolvidos e quando eles devem ser perdidos por causa desses riscos. As obrigações de bene�cência afetam tanto os investigadores individuais quanto a sociedade em geral por se estenderem aos projetos de pesquisa especí�cos e a todo empreendimento da pesquisa. No caso de projetos particulares, os investigadores e os membros de suas instituições são obrigados a prever a maximização dos benefícios e a redução do risco que pode ocorrer a partir de uma pesquisa. Já nas pesquisas cientí�cas em geral, os membros da sociedade são obrigados a reconhecer os benefícios e os riscos advindos, a longo prazo, da melhoria do conhecimento e do desenvolvimento de novos procedimentos médicos, psicoterapêuticos e sociais. 3. Princípio da justiça Trata-se de um princípio particularmente relevante na cultura ocidental, pois ele determina que as experiências envolvendo seres humanos sejam eticamente corretas. A�nal, quem deve receber os benefícios da pesquisa e suportar seus custos? Essa é uma questão de justiça no sentido da distribuição ou do merecimento. Uma injustiça ocorrerá quando algum benefício ao qual uma pessoa tem direito seja negado sem uma boa razão ou quando algum ônus lhe for imposto indevidamente. Outra maneira de conceber o princípio da justiça é este: os iguais devem ser tratados igualmente. No entanto, essa declaração requer explicação: quem é igual? E quem é desigual? Quais considerações justi�cam a saída da distribuição igualitária? Quase todos os comentaristas permitem que as distinções baseadas em experiência, idade, privação, competência, mérito e posição constituam, por vezes, critérios que justi�quem o tratamento diferenciado para determinados �ns. É necessário, então, explicar de que forma as pessoas devem ser tratadas igualmente. Existem várias formulações amplamente aceitas de maneiras simples de se organizar a distribuição de encargos e benefícios. Cada formulação menciona alguma propriedade relevante com base em quais ônus e benefícios devem ser distribuídos. Essas formulações são: Para cada pessoa, uma parte igual; Para cada pessoa, segundo sua necessidade individual; Para cada pessoa, de acordo com o esforço individual; Para cada pessoa, segundo a contribuição da sociedade; Para cada pessoa, de acordo com o mérito. Questões de justiça têm sido associadas a práticas sociais, como punição, tributação e representação política. Até recentemente, essas questões geralmente não estavam atreladas à pesquisa cientí�ca. No entanto, elas estão pre�guradas até mesmo nas primeiras re�exões sobre a ética da pesquisa envolvendo seres humanos. Exemplo Durante o século XIX e início do século XX, o fardo de servir como sujeito de pesquisa estava, em grande parte, com os pacientes pobres da enfermaria, enquanto os benefícios da melhoria dos cuidados médicos eram concedidos principalmente a pacientes particulares. Posteriormente, como já apontamos, a exploração de prisioneiros como sujeitos de pesquisa nos campos de concentração nazistas foi condenada como uma injustiça particularmente �agrante. Nos Estados Unidos, na década de 1940, o estudo da sí�lis de Tuskegee usou negros rurais desfavorecidos para analisar o curso não tratado de uma doença que não estava, de forma alguma, con�nada a essa população. Esses sujeitos foram privados de um tratamento comprovadamente e�caz para não interromper tal projeto – e isso ocorreu muito tempo depois de esse tratamento ter se tornado disponível. A adição do princípio da não male�cência Os princípios consagrados pela Bioética foram erigidos graças ao Relatório Belmont, como acabamos de veri�car, e a estudiosos como T. L. Beauchamp e F. Childress. Autores da obra Princípios de ética biomédica, publicada nos Estados Unidos em 1979, ambos estavam vinculados ao Kennedy Institute of Ethics, cujos princípios iniciais (autonomia, bene�cência e justiça) incluíam outro: o da não male�cência. Os dois autores norte-americanos discutiam a aplicação desses princípios ao exercício da Medicina, afastando, dessa forma, o velho enfoque da deontologia pro�ssional hipocrática ao ampliá-los para quatro princípios. A proposta defendida por Beauchamp e Childress signi�cava uma profunda mudança em relação aos tradicionais manuais de ética médica, pois assumia uma dimensão principiológica determinante para os rumos da Bioética anglo-saxônica. A ética biomédica passa a ser entendida como uma ética aplicada: sua especi�cidade se atém à aplicação dos princípios éticos gerais relativos aos problemas da prática biomédica. Esses princípios formarão um sistema que partia das formulações elaboradas pelo �lósofo inglês William Davis Ross. Na obra The right and the good, de 1930, Ross analisava os deveres atuais e aqueles que fossem prima facie. Con�rmava-se, desse modo, a seguinte vocação principialista: os princípios morais devem ser aplicados à Biomedicina e considerados prima facie . O conjunto dos princípios bioéticos, devido à intensa utilização e à grande aceitação, passou a ser chamado de Mantra do Instituto Kennedy de Ética. 1 O referencial teórico proposto por Beauchamp e Childress serviu de base para o que se denominou Principlism (principialismo, em português), que é a escola bioética baseada no uso dos princípios como modelo explicativo. http://portaldoaluno.webaula.com.br/cursos_graduacao/dp0188/aula2.html Atividade 1. Leia o texto abaixo: "Em 1972, a sociedade estadunidense tomou conhecimento do Estudo Tuskegee, realizado no sudeste dos Estados Unidos durante o período de 1932 a 1972. Cerca de 400 homens que possuíam sí�lis latente foram acompanhados no decorrer desse tempo para que os pesquisadores pudessem conhecer a história natural da doença em lugar de oferecer a eles o devido tratamento. Os pesquisadores que conduziam o estudo deixaram de proporcionar tratamento a esses homens mesmo depois do descobrimento dos antibióticos nos anos 1940. A pesquisa foi considerada ainda mais infame porque os participantes eram todos afro-americanos pobres, um grupo em franca desvantagem naquela região dos Estados Unidos durante o referido período. Por tais fatos, criou-se em 1974 a Comissão Nacional para Proteção de Sujeitos Humanos nas Pesquisas Biomédicas e Comportamentais. Em 1978, esta comissão apresentou relatório dos trabalhos realizados que foi intitulado como Relatório Belmont:Princípios Éticos e Diretrizes para a Proteção de Sujeitos Humanos nas Pesquisas. O relatório estabeleceu os princípios éticos fundamentais para direcionar condutas consideradas aceitáveis em pesquisas que envolvessem participantes humanos." Enumere e explicite esses princípios. 2. A Bioética norteia ações frente a dilemas que vão desde as necessidades básicas de saúde pública e direitos humanos até as mais complexas consequências do aprimoramento técnico, como a utilização do genoma humano. Entre os seus princípios, está a autonomia. Baseado no exposto, analise as a�rmações a seguir, assinalando V para verdadeiro e F para falso. Em seguida, marque a opção com a sequência correta de cima para baixo. ( ) I. Qualquer procedimento preventivo, diagnóstico ou terapêutico deve ser autorizado pelo paciente. ( ) II. A autonomia diz respeito ao poder de decidir sobre si mesmo e preconiza que a liberdade de cada ser humano deve ser resguardada. ( ) III. Em pacientes intelectualmente de�cientes e no caso de crianças, o princípio da autonomia deve ser exercido pela família ou pelo responsável legal. ( ) IV. Os pro�ssionais de saúde devem oferecer informações técnicas necessárias para orientar as decisões do paciente, sem utilizar formas de in�uência ou de manipulação, para que ele possa tomar decisões a respeito da assistência à sua saúde. a) V, V, F, V. b) V, V, V, V. c) F, V, V, V. d) F, F, F, F. e) F, V, F, V. 3. A Bioética pode ser de�nida como a ética aplicada à vida e/ou à saúde. De acordo com o principialismo, o ponto de partida para orientar qualquer discussão bioética deve ser a análise de quatro condições (não male�cência, bene�cência, respeito à autonomia e justiça) e como elas podem ser bem mais respeitadas em cada caso. Baseado no princípio da não male�cência, assinale a a�rmativa correta. a) O profissional tem a obrigação moral de agir para o benefício do outro. b) O profissional deve fundamentar sua ação na dignidade da pessoa humana e na capacidade de decidir, fazer ou buscar aquilo que ele julga ser o melhor para si. c) O profissional deve ter consciência do direito de o paciente possuir um projeto de vida próprio e ter seus pontos de vista particulares. d) O profissional tem a obrigação de dar ao paciente a mais completa informação com o intuito de promover uma compreensão adequada da situação. e) O profissional de saúde tem o dever de, intencionalmente, não causar mal e/ou danos a seu paciente. 4. Analise o relato abaixo: Há seis anos e meio, encontrei-me pela última vez com uma senhora chamada Anna. Ela pediu-me para contar sua história sempre que pudesse, e o tenho feito com frequência desde então. Era uma mulher na faixa dos trinta anos e �cara tetraplégica alguns anos antes em decorrência de um acidente de trânsito. Também sofria de dor fantasma difusa, o que requeria a constante administração de altas doses de analgésico para que pudesse suportá-la. Anna era casada e tinha três �lhos pequenos. Antes, era uma pessoa muito ativa - adorava caminhadas e era uma cantora amadora de considerável talento. Gostava também de teatro amador. Pro�ssionalmente, era professora. Após o acidente, achava que não tinha mais razão para viver, que não era mais a pessoa que costumava ser, e queria morrer. Apesar de ter deixado claro que não queria ser ressuscitada, ela havia sofrido uma parada respiratória quando estava longe de seus enfermeiros usuais, foi ressuscitada e tornou-se dependente de respiradores arti�ciais. Após alguns meses de discussão e de busca de opiniões legais e éticas, decidiu-se que seu pedido para desligar os respiradores poderia ser aceito. Assim, foi instalado um dispositivo que permitiria a ela desligar os aparelhos. Três dias após a nossa conversa, em uma data predeterminada e com toda a sua família presente, ela os desligou. Foram administrados medicamentos para evitar qualquer tipo de fadiga respiratória e ela mergulhou na inconsciência. No entanto, pouco tempo depois, acordou e perguntou irritada: "Por que ainda estou aqui?". Mais medicação foi administrada e ela tornou a entrar em estado de inconsciência. Poucas horas depois, sua respiração parou completamente e ela morreu. (CAMPBELL, 2019, p.1) Neste relato médico, quais princípios biomédicos estão em questão? Por quê? Notas Prima facie1 Possuem uma validade generalizada e ideal, mas, na aplicação em um caso concreto, devem ser encarados de forma equilibrada, devendo, caso haja con�ito entre eles, ser feita uma criteriosa avaliação que evite o pior para os envolvidos. Referências BEAUCHAMP, T.; CHILDRESS, J. Princípios de ética biomédica. São Paulo: Loyola, 2002. BEECHER, H. K. Ethics and clinical research. In: The New England. journal of medicine. v. 274. n. 24. p. 1354–1360. 1966. Disponível em: < https:// www .ncbi .nlm .nih .gov /pmc /articles /PMC2566401 /pdf /11368058 .pdf <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2566401/pdf/11368058.pdf> >. Acesso em: 15 mai. 2019. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2566401/pdf/11368058.pdf CAMPBELL, A. Eutanásia e o princípio da justiça. Disponível em: < // revistabioetica .cfm .org .br /index .php /revista _bioetica /article /viewFile /293 /432 < //revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/viewFile/293/432> >. Acesso em: 15 mai. 2019. CLOTET, J. Bioética como ética aplicada e genética. In: Revista Bioética. v. 5. n. 2. Disponível em: < // revistabioetica .cfm .org .br /index .php /revista _bioetica /article /view /381 <//revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/381> >. Acesso em: 15 mai. 2019. ESPELETA, L. B. Bioética y princípios básicos de ética médica. In: AGUIRRE, J. et al. Materiales de Bioética y Derecho. Barcelona: CEDECS, 1996. HIPÓCRATES. Juramento de Hipócrates. Disponível em: < https:// www. ipebj .com .br /docdown /_a4247 .pdf <https://www.ipebj.com.br/docdown/_a4247.pdf> >. Acesso em: 15 mai. 2019. ROSS, W. D. The right and the good. New York: Oxford University Press, 2007. Disponível em: < https:// spot .colorado .edu /~heathwoo /readings /ross .pdf <https://spot.colorado.edu/~heathwoo/readings/ross.pdf> >. Acesso em: 15 mai. 2019. Próxima aula Principais modelos de abordagem Bioética desenvolvidos nos âmbitos norte-americano, europeu e latino-americano. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Assista ao vídeo: Um trecho do �lme Uma prova de amor, que aborda os princípios bioéticos aplicados à realidade da vida humana <https://www.youtube.com/watch?v=Dtyx40IrHic> . http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/viewFile/293/432 http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/view/381 https://www.ipebj.com.br/docdown/_a4247.pdf https://spot.colorado.edu/~heathwoo/readings/ross.pdf https://www.youtube.com/watch?v=Dtyx40IrHic Direito e Bioética Aula 3: Principais modelos de abordagem bioética Apresentação Pelo fato de a Bioética se tratar de uma área de estudo de caráter tão polêmico e de existência relativamente nova, será interessante e necessário haver nesta aula tanto uma apresentação quanto um esclarecimento sobre sua sistematização e seu tratamento. A�nal, somam-se a tais tendências convicções e interesses de certa forma fundamentais para essa re�exão. Debateremos nesta aula, portanto, diversas tendências – e uma série de classi�cações – defendidas por autores com posições divergentes sobre os temas biomédicos, con�rmando quão importante é tal re�exão em torno dos parâmetros bioéticos a serem construídos e adotados. Listaremos as tendências mais conhecidas e as que congregam mais adeptos em suas �leiras. A maior parte delas vem dos Estados Unidos, país onde a pesquisa e o nível de sistematização em torno dos assuntos ligados à Bioética estão sendo realizados há muito mais tempo que nas demais nações, inclusive o Brasil. Como em qualquerárea do conhecimento cientí�co, os diversos autores que sistematizam o pensamento bioético utilizam para isso modelos explicativos a �m de conformar suas propostas. Será importante nesta aula apresentar e discorrer sobre a classi�cação desses diversos modelos para possibilitar uma visão compreensiva das diferentes perspectivas teóricas que fundamentam o pensamento bioético contemporâneo. Objetivo Analisar os principais modelos de abordagem bioética norte-americanos; Desenvolver o estudo sobre os modelos europeus mais importantes; Discorrer sobre os modelos desenvolvidos em âmbito latino-americano. Principais modelos de abordagem bioética desenvolvidos pelos norte-americanos Tomaremos como base a classi�cação estabelecida pela professora Maria do Céu Patrão para abordar, de maneira resumida, os modelos explicativos que vêm sendo utilizados para sistematizar as abordagens bioéticas desenvolvidas pelos norte- americanos, tais como: Clique nos botões para ver as informações. Ao contrário da tradição europeia, os norte-americanos não irão se fundamentar em princípios �losó�cos ou valores culturais amplamente compartilhados. O modelo principialista é considerado um dos modelos de análise bioética mais reconhecidos e com ampla divulgação nos meios biomédicos. O modelo principialista baseia-se especi�camente na ética biomédica, desenvolvendo quatro princípios para orientar a ética da ação médica – especialmente a clínica – em diversas situações: bene�cência; não male�cência; autonomia; justiça. Existe no modelo principialista uma forte acentuação da autonomia do doente, apesar de aparentemente não haver nele qualquer vocação para uma disposição hierárquica e por sua validade ser prima facie. De qualquer forma, segundo Maria do Céu Patrão Neves (2019), é inegável a ampla aplicação desse modelo na prática clínica, alcançando resultados muito positivos, principalmente em relação ao respeito pela dignidade da pessoa humana. O principialismo pode ser considerado uma teoria moral embasada nos quatro princípios bioéticos norteadores de uma ação que deseja ser e�caz e boa. Tais princípios têm fundamentação e origem tanto na história da Filoso�a quanto na tradição da ética médica. Como destacamos, eles não obedecem a qualquer disposição hierárquica, possuindo validade prima facie. Em caso de con�ito entre si, a situação em causa e as suas circunstâncias de�nirão o que deve ganhar maior valoração e precedência. Por assumir uma feição liberal de padrão de sociedade, o princípio da autonomia costuma receber a preferência dos autores. O principialismo foi, durante décadas, o modelo bioético de maior aceitação, servindo como modelo, particularmente em relação aos casos clínicos assistenciais. Isso se deve, em grande parte, à tradição pragmática dos norte-americanos sobre como se deve trabalhar com os con�itos éticos que se apresentam. Entretanto, pouco a pouco, a ética principialista demonstrava-se insu�ciente para solucionar as novas contradições éticas que surgiam: Fertilização assistida; Aborto; Doação de órgãos; Eutanásia; Clonagem humana. Ao lidar com esses temas e outros tão ardentes quanto, a Bioética não pode permanecer reduzida, como os principialistas defendem, a uma ética da e�ciência aplicada prioritariamente a uma pessoa individualmente considerada. Por isso, é possível dizer que o modelo principialista seria uma linguagem entre outras muitas linguagens bioéticas, não podendo ser considerada a única delas, até porque suas formulações conseguem assumir diversos per�s. Principialista Proposto pelo �lósofo Tristam Engelhardt (recentemente falecido), este modelo tem como principal referência o valor central da autonomia e do indivíduo, que é elevado ao extremo. A principal obra de Engelhardt, Fundamentos da Bioética, é amplamente divulgada entre os seus estudiosos. Sua inspiração vem da tradição político-�losó�ca do liberalismo norte-americano na defesa dos direitos e da propriedade dos indivíduos, justi�cando não só as ações decorrentes da expressão da vontade livre do paciente, mas também outras ainda mais polêmicas, como a defesa do corpo como uma propriedade individual – a ponto de admitir a venda de sangue ou de órgãos. O modelo libertário ou liberal autonomista busca seus fundamentos teóricos em T. Hobbes, J. Locke e Adam Smith. Ele encontra nos direitos humanos de primeira dimensão os fundamentos para a a�rmação da autonomia do indivíduo sobre o próprio corpo e sobre todas as decisões que envolvam a sua vida. Também dá importância especial à consciência de si como forte constitutivo da pessoa, fazendo de sua ausência na vida embriológica e fetal um argumento para descaracterizá-la como vida humana pessoal. À medida que seu corpo seja propriedade pessoal, nada impede o indivíduo de poder eticamente negociar os próprios órgãos e seu sangue. Ao partir de uma perspectiva individualista, esse modelo privilegia a autonomia da pessoa e a solução imediata dos casos clínicos que se apresentam. A sua noção de pessoa, excluindo embriões e fetos, gera igualmente controvérsia. Engelhardt (1998) reconhece que atualmente não é possível impor um conjunto de normas bioéticas fundadas numa dogmática religiosa ou principialista por conta de toda a diversidade de valores atuantes na sociedade. Dessa forma, o autor vislumbra duas principais tendências morais em confronto objetivo: Moral da denominada confraria dos crentes; Moral secular dos não crentes ou daqueles que não se encontram ligados a qualquer confraria. No primeiro caso (moral pautada em cânones religiosos ou princípios morais ortodoxos), o estabelecimento de um conjunto de regras bioéticas �xas não será tarefa difícil, pois basta ser adotado o raciocínio dedutivo, aplicando aos casos particulares princípios gerais éticos previamente estabelecidos. Libertário ou liberal autonomista Edmund Pellegrino e David Thomasma concebem, no livro Para o bem do paciente: a restauração da bene�cência nos cuidados da saúde, um modelo bioético que serve como reação à tendência liberal de feição individualista dos sistemas principialista e libertário. Essa elaboração busca seus fundamentos na tradição grega – para ser mais preciso, aristotélica – de uma ética da virtude, valendo-se também do pensamento comunitarista de Alaisdair McIntyre exposto na obra Depois da virtude. O princípio bioético da virtude enfatiza, em especial, as atitudes que orientam eticamente a ação pessoal, tendo como base um ethos social pragmatista, utilitarista e comunitarista. O foco é o agente – em particular, os pro�ssionais de saúde –, embora o paciente deve se integrar plenamente em um processo de decisão. Para esse modelo, a boa formação do caráter e da personalidade ética torna-se de fundamental importância, acentuando o papel da religião para contribuir nisso. Bioético da virtude O modelo contratualista foi concebido por Robert Veatch, professor de ética médica do Kennedy Institute of Ethics. No livro A theory of medical ethics, Veatch parte da denúncia das várias insu�ciências de fundo contidas na ética clássica hipocrática. Ele defende, então, a consideração da importância de um triplo contrato: Médico e paciente; Médicos e a sociedade; Sociedade ampla, tratando dos princípios orientadores da relação médico-paciente. Para regular essas relações e garantir objetividade máxima, deve-se obedecer a alguns princípios fundamentais: Bene�cência; Proibição de matar; Dizer a verdade; Manter as promessas. Esses princípios personi�cam regras de conduta moral que, em sua enunciação, não anulam a nomeação de outras. A�nal, o modelo contratualista considera a complexidade das relações sociais na atualidade. Seus críticos mais ferozes, no entanto, a�rmam que ele revela um desconhecimento da prática clínica. Contratualista O livro The abuse of casuistry: a history of moral reasoning, de Albert R. Jonsen e Stephen Toulmin, introduz o modelo casuístico. Este modelo não se baseia no principialismo clássico, não se apoiando, portanto, em quaisquer princípiosgerais bioéticos orientadores para a ação. Ele defende que cada caso deve ser examinado em suas características particulares e próprias, estabelecendo-se comparações e analogias com outros casos. Jonsen e Toulmin consideram a casuística uma análise direta dos casos particulares em medicina clínica. A atenção dada a determinados casos seria o cerne da ética clínica, considerada pelos autores como um nível anterior muito mais básico que qualquer axioma teórico ou principiológico, estando, por assim dizer, em um nível pré-teórico. A tarefa da ética aplicada à Medicina estaria estabelecida na redução dos casos difíceis que surgirem a partir de situações inusitadas e complexas em exemplos paradigmáticos mais simples, avaliando de que forma tais exemplos podem servir como uma chave para a solução de con�itos e dilemas morais que se apresentarem diante das novas realidades. Causuístico Comentário Ele foi formulado, nos Estados Unidos, por Tom Beauchamp e James Childress no livro Princípios de ética biomédica. Na Europa, o modelo principialista foi defendido por Raanan Gillon. Já no Brasil, consta entre seus admiradores o professor Fermin Roland Schramm. Atenção Apesar de todo o seu sucesso, não podemos esquecer que o modelo principialista também legitima quase toda a prática desejada pelo paciente ou por ele consentida, inclusive a eutanásia e o aborto, moralmente avaliados à luz de outros princípios. Os principais modelos de abordagem bioética desenvolvidos pelos europeus É possível a�rmar que os modelos de abordagem anglo-americanos nunca foram bem aceitos na Europa Continental. Esse distanciamento tem a ver com o modo parcial que ele considera a pessoa. Sua concepção técnica de Bioética também é alvo de crítica. A pessoa é predominantemente tomada como um ser racional dotado de vontade própria que se realiza no exercício da sua liberdade. O ser humano é, dessa forma, valorizado pela defesa da sua autonomia, o que acentua uma vertente individualista. A Bioética é avaliada principalmente pela efetividade da sua ação; nesse sentido, como técnica, ela desenvolve-se pelas regras que estabelece para a ação moral no domínio clínico. Vejamos agora os principais modelos do continente europeu: Clique nos botões para ver as informações. Professor da Universidade de Oxford, John Finnis estabelece, no livro Lei natural e direitos naturais, a existência de alguns bens fundamentais: Conhecimento; Vida estética; Vida lúdica; Racionalidade prática; Religiosidade; Amizade. Esses bens são materializados como �ns – e não meios. Eles tampouco possuem qualquer organização hierárquica entre si. Para Finnis, moral é toda ação que contribui para o desenvolvimento desses valores. O reconhecimento da validade moral daqueles bens é, em termos gerais, consensual. No entanto, ainda há questões no que diz respeito ao fundamento de cada um e da eliminação de outros. O modelo contemporâneo do direito natural toma o ser humano na sua integralidade – à moda do modelo das virtudes – e procura uma perspectiva global da integração do homem na sociedade. Contemporâneo do direito natural Para os personalistas, a pessoa é, antes de tudo, um princípio de compreensão do ser que não está reduzido a um corpo físico nem a seu psiquismo. Ela tampouco se limita a uma relação de objetividade ou de intersubjetividade, já que só encontra sua essência – seu objetivo último – no que é global. As estruturas e as diversas relações estabelecidas e mediadas pelo sujeito con�guram-se como instâncias da pessoa nas quais se revelam e se exprimem a si mesmas. O ser humano é muito mais que um simples dado ou expressão. É a forma última e globalizante da expressão de um eu singular. Segundo Maria do Céu Patrão (2019), Antropológico personalista europeu O modelo personalista está profundamente enraizado na Filoso�a europeia contemporânea, em particular na sua tradição fenomenológica e no desenvolvimento que ela conhece no existencialismo e, sobretudo, na hermenêutica. Não assume, porém, uma natureza descritiva nem procura estabelecer normas de ação. Antes, desenvolve um raciocínio deontológico, de fundamentação teleológica, que toma o homem, na sua dignidade universal, como valor supremo do agir. O modelo antropológico personalista europeu tem obtido diversos adeptos, con�gurando-se atualmente como aquele de maior abrangência no continente. Trata-se de uma Filoso�a humanista cuja �nalidade é a compreensão das diversas dimensões humanas, consubstanciando-se como um humanismo o mais global possível. Ele não se propõe a prescrever normas de comportamento ou descrever fenômenos, mas procura tão somente desenvolver um raciocínio deontológico de fundamento �nalista, ou seja, voltado para a ação, considerando o ser humano como uma unidade global pautada na dignidade universal. O modelo latino-americano da libertação As difíceis condições de vida, principalmente no Terceiro Mundo, serão o elemento motivador da proposta latino-americana de Bioética. Seu enfoque está na libertação; sua base antropológico-�losó�ca, no princípio da alteridade (desenvolvido por �lósofos como Levinas e Dussel). O modelo latino-americano de libertação enfatiza as situações concretas em que se encontram os indivíduos ameaçados em suas vidas e desa�ados, portanto, a lutar por elas. Ele situa a Bioética a partir de uma análise estrutural da sociedade como produção da vida e das condições de saúde, mas também de exclusão social. Vejamos algumas características do modelo latino-americano: 1 Inclusivo Este modelo aponta propostas em processos capazes de realizar a inclusão das pessoas como sujeitos e semelhantes. 2 Não individualista Por conta de características e di�culdades socioeconômicas particulares, os latino-americanos costumam não ser tão individualistas. 3 Solidário Os latino-americanos não seriam tão afetados pelo consumismo quanto os pacientes norte-americanos, razão pela qual a solidariedade ainda é um valor muito precioso. Atenção No entanto, questões como o consentimento informado e a relevância da autonomia do paciente possuem a mesma conotação para os latino-americanos. Por outro lado, o grande desa�o que se impõe é não somente importar os modelos norte-americanos ou europeus, e sim adaptá-los às realidades objetiva e subjetiva dos países da América Latina. No Brasil, o âmbito ampliado da re�exão bioética implica sua consideração como um campo transdisciplinar de produção de saberes. Por isso, as questões biomédicas conformam uma temática que utiliza as ferramentas teóricas e metodológicas das mais distintas áreas do conhecimento: Biomedicina; Humanidades; Filoso�a; Direito; Ciências Sociais; Pedagogia; Teologia; Ciências da Saúde; Ciências Ambientais. Dessa interconexão, surge um tipo de re�exão especial, que envolve – ao mesmo tempo em que contrapõe e avalia – padrões conceituais de distintas áreas, auxiliando a teoria e as práticas das áreas envolvidas. Hoje em dia, a Bioética brasileira reúne basicamente duas vertentes analíticas: Clique nos botões para ver as informações. Sob o efeito da crítica, o principialismo americano aprofundou-se, dando origem a ela, que compreende também uma re�exão sobre os padrões norteadores para a ética em pesquisas que envolvam seres humanos; Bioética clínica Os instrumentos teóricos e conceituais para seus estudos ainda estão sendo esboçados. Bioética social Tanto os aspectos relativos à questão da desigualdade social existente entre grupos, populações e sociedades quanto as questões atinentes à equidade e à vulnerabilidade estão identi�cados como um núcleo de re�exão bioética em sua extensão coletiva, especialmente no que se refere à qualidade de vida e ao acesso à saúde. Esses referenciais teóricos – aos quais acrescentamos a discussão ambiental – vêm cada vez mais mostrando a importância dos direitos humanos como uma referência própria a essa área de estudo nas múltiplas teorias sugeridas. Atividade 1 - Marque a a�rmação verdadeira: a) O modelo dos princípiosnão foi o primeiro a ser proposto e não é adotado em vários países. b) A diversidade de perspectivas não retrata o pluralismo dos modelos teóricos da Bioética. c) Em razão das inúmeras críticas lançadas ao modelo dos princípios, não podemos afirmar que a Bioética é principialista, pois este modelo não é referência dominante. d) A forma como as discussões bioéticas são tratadas difere muito entre os países, pois há também a influência da cultura e de questões sociais. e) O modelo principialista não conseguiu adeptos fora dos Estados Unidos. 2 - A principiologia da Bioética é su�ciente para solucionar os novos con�itos originados na aplicação da nova genética à vida humana? 3 - Nos países europeus, de modo geral, não existe uma boa aceitação dos modelos teóricos anglo-americanos. O que lá prevalece, segundo Neves (2019), é um modelo europeu, denominado personalista, que se desenvolveu com profundas raízes na Filoso�a europeia contemporânea: fenomenologia, existencialismo e hermenêutica. (NEVES, 2019) Em linhas gerais, como pode ser caracterizado o modelo bioético personalista europeu? 4 - Marque a a�rmação verdadeira: a) O modelo norte-americano é acusado de conferir pouca parcela de autonomia ao paciente. b) A Bioética europeia não privilegia a fundamentação. c) Atualmente, o desenvolvimento de uma bioética latino-americana representa um grande desafio, pois deverá delimitar para si um modelo que admita valorizar a cultura latina, além de, pelas condições sociais de seus países, preocupar-se com a equidade na alocação de recursos e a distribuição de serviços de saúde. d) Em razão das inúmeras críticas lançadas ao modelo dos princípios, não podemos afirmar que a Bioética é principialista, pois este modelo não é referência dominante. e) A diversidade de perspectivas não retrata o pluralismo dos modelos teóricos da Bioética. 5 - Leia o texto abaixo para responder à questão a seguir: "Originalmente cunhado nos Estados Unidos na década de 1970, o termo “bioética” procurava designar a necessária interface entre as ciências biológicas e a re�exão humanista no intuito de estabelecer parâmetros para lidar com os problemas ambientais e as descobertas em biotecnociência que já se desenhavam na ocasião. A acepção mais difundida consorciou a Bioética à área biomédica, especialmente à teoria principialista, cujos marcos conceituais (bene�cência, não male�cência, autonomia e justiça) acabaram identi�cados como “a” Bioética. [...] Atualmente, a Bioética em nosso país [Brasil] congrega basicamente duas vertentes analíticas. Sob o efeito da crítica, o principialismo aprofundou-se, dando origem à bioética clínica, que abrange também a re�exão sobre os parâmetros norteadores para a ética em pesquisa envolvendo seres humanos. Na dimensão social, as ferramentas teóricas e conceituais para os estudos em Bioética ainda estão sendo delineadas. Ressalte-se, contudo, que tanto a questão da desigualdade social entre segmentos, grupos, populações e sociedades como as problemáticas da equidade e vulnerabilidade já foram identi�cadas como cerne da re�exão bioética na dimensão coletiva, principalmente no que tange ao acesso à saúde e à qualidade de vida. Acompanhados pela discussão ambiental, esses marcos teóricos vêm crescentemente apontando a linguagem dos direitos humanos como gramática conceitual propícia à Bioética, em várias teorias propostas para a análise da ética relacional e procedimental, nas dimensões coletiva e social. Como se percebe, a Bioética é um dos temas mais relevantes da sociedade contemporânea e ainda se mantém na esfera da Filoso�a." (ESPELETA, 1996) Desse modo, assinale a alternativa que não pertence ao campo da Bioética segundo o que se entende desse termo no Brasil. a) O histórico da construção do termo bioética revela que a ideia de bio, relacionada à Biomedicina, prevaleceu sobre a noção de ética na caracterização e na classificação dessa modalidade de estudo, embora, em nenhum momento, a ética deixasse de ser a tônica das análises empreendidas. b) Não há ética nas reações químicas nem nos processos fisiológicos. A ética é atributo – único e exclusivo – da vida humana em sociedade. c) Por sua associação à Biomedicina, a Bioética tende a ser vista como pertinente apenas a esta área, quando, em verdade, constitui espaço bem mais complexo de produção de saberes, que exige a integração de diferentes áreas para produzir as respostas que a realidade demanda. d) O âmbito expandido da reflexão bioética, especificamente da Bioética brasileira, implica considerá-la campo transdisciplinar de produção de saberes em que as questões biomédicas constituem tema sobre o qual se debruçam as ferramentas teóricas e metodologias das diversas áreas, que se estendem da Engenharia Ambiental às Humanidades, perpassando Filosofia, Direito, Ciências Sociais, Pedagogia, Teologia e Ciências da Saúde. Dessa interface, surge um tipo de reflexão singular, que incorpora, contrapõe e analisa marcos conceituais de distintas áreas, subsidiando, assim, a teoria e as práticas dessas áreas contributivas. e) Para além da fase experimental, a Bioética pouco – ou nada – concorre para a reflexão ética sobre a prática biomédica ao discutir o efeito de um novo medicamento ou exame na vida social, como, por exemplo, o caso dos anticoncepcionais, ansiolíticos e antidepressivos, assim como dos exames de DNA para teste de paternidade. Afinal, eles não transformaram as moralidades que condicionam a vida social contemporânea. Notas Bioética1 Em sua obra Bioética: ponte para o futuro, o professor Van Renselaer Potter foi o primeiro a usar tal expressão: “Eu proponho o termo Bioética como forma de enfatizar os dois componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é tão desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores humanos”. (POTTER, 2016). Experiências biomédicas2 As pesquisas médicas realizadas pelos cientistas alemães nos campos de concentração nazistas no decorrer da Segunda Guerra Mundial, sem qualquer espécie de freio ético, geraram atrocidades inomináveis. Isso levou a comunidade cientí�ca mundial a lançar um documento, por meio do Tribunal de Nuremberg (1946), instituindo uma série de regras que vinculavam e estabeleciam limites concretos às pesquisas cientí�cas que envolvessem seres humanos. Assim, a partir de uma visão ética, de respeito ao ser humano, buscava-se estabelecer limites éticos para as pesquisas e a aplicação biotecnológica dos novos descobrimentos no homem. Referências BEAUCHAMP, T.; CHILDRESS, J. Princípios de ética biomédica. São Paulo: Loyola, 2002. ENGELHARDT JR., H. T. Fundamentos da Bioética. São Paulo: Loyola, 1998. ESPELETA, L. B. Bioética y princípios básicos de ética médica. In: AGUIRRE, J. et al. Materiales de Bioética y Derecho. Barcelona: CEDECS, 1996. FINNIS, J. Lei natural e direitos naturais. São Leopoldo/RS: Unisinos, 2007. JONSEN, A. R.; TOULMIN, S. The abuse of casuistry: a history of moral reasoning. Oakland: University of California Press, 1992. MACINTYRE, A. C. Depois da virtude. Bauru: EDUSC, 2004. NEVES, M. do C. P. A fundamentação antropológica da Bioética. Disponível em: //revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/viewFile/392/355. Acesso em: 15 maio 2019. PELLEGRINO, E. D.; THOMASMA, D. Para o bem do paciente: a restauração da bene�cência nos cuidados da saúde. São Paulo: Loyola, 2018. VEATCH, R. A theory of medical ethics. New York: Basic books, 1981. Próxima aula Conceito do biodireito; Relação do biodireito com os direitos humanos fundamentais na Constituição Federal de 1988; Os direitos da personalidade e sua relação com a Bioética. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Assista ao vídeo: Principais aspectos da abordagem principialista da Bioética. javascript:void(0); javascript:void(0); Direito e Bioética Aula 4: Conceito e fundamentos doBiodireito Apresentação Anunciaremos na aula de hoje um ramo do Direito que se encontra em plena construção: o Biodireito. Categorizaremos este ramo como um termo – a�nal, é um neologismo criado há não muito tempo – que pode e deve ser apreendido pelas regras jurídicas já positivadas e por aquelas ainda a serem positivadas que estejam voltadas à regulação (autorização ou proibição) das condutas médico-cientí�cas, impondo a seus infratores as sanções por elas preditas. Após discorrer sobre seu conceito, articularemos seus fundamentos, mormente sua relação com os direitos humanos fundamentais. Em seguida, demonstraremos o sistema constitucional e a Bioética, tendo a dignidade da pessoa humana como paradigma da ordem jurídica do estado democrático de direito brasileiro em que ainda vivemos. Por �m, concluiremos esta aula abordando, ainda que brevemente, os direitos da personalidade e sua relação com a Bioética. Objetivo Operar o conceito do Biodireito; Distinguir a relação do Biodireito com os direitos humanos fundamentais na Constituição Federal (CRFB) de 1988; Exempli�car os direitos da personalidade e sua relação com a Bioética. O conceito e os fundamentos do Biodireito Cumpre ao Direito, lastreado no respeito e na promoção dos valores que servem de base ao processo civilizatório, organizar nossa conduta em sociedade. Por isso, é possível dizer – e você tem aprendido isso ao longo do curso de graduação – que ele cumpre um duplo papel importante: Organizar as liberdades públicas e privadas; Educar com base em valores éticos vigentes. Como os clássicos institutos jurídicos se mostram insu�cientes para dirimir novos con�itos decorrentes dos impressionantes avanços alcançados a partir da união da ciência com a técnica, torna-se de fundamental importância a construção do Direito no âmbito das biotecnologias e das questões biomédicas. Isso se dá em razão da variedade de valores a merecer uma tutela jurídica apta a manter o equilíbrio entre os impressionantes avanços cientí�cos e da utilização dessas descobertas pelas comunidades cientí�ca e médica sem que haja violação a direitos. Muitos dos quais, inclusive, já se encontram protegidos, como é o caso daqueles que formam o rol dos direitos da personalidade. Conceito de biodireito Clique no botão acima. Conceito de biodireito Biodireito é o conjunto de leis positivas que visam a estabelecer a obrigatoriedade de observância dos mandamentos bioéticos. Ele é, ao mesmo tempo, a discussão sobre a adequação – a necessidade de ampliação ou restrição – dessa legislação, inclusive das relações com todos os seres vivos da natureza (animais e vegetais). O Biodireito é a positivação jurídica de comportamentos dos agentes ligados à Medicina e à pesquisa cientí�ca envolvendo a vida (não somente humana) em nosso planeta e de sanções pelo descumprimento dessas normas. Segundo consta no Dicionário enciclopédico de teoria e de Sociologia do Direito, o Biodireito é o “ramo do Direito que trata da teoria, da legislação e da jurisprudência relativas às normas reguladoras da conduta humana face aos avanços da Biologia, da Biotecnologia e da Medicina”. (ARNAUD, 1999) Fundamentos axiológicos ou valorativos Os mais importantes princípios do Biodireito derivam da Bioética. Trata-se dos princípios da: Autonomia (do consentimento informado); Bene�cência; Justiça; Sacralidade da vida humana e a dignidade da pessoa humana (por se tratar do princípio basilar constitucional). Apesar de não se confundirem com os princípios acima elencados, há outros - geralmente aceitos no âmbito do Direito Ambiental – que também deveriam ser considerados como princípios ligados ao Biodireito. Saiba mais Princípio da ubiquidade: Signi�ca que o direito ao patrimônio genético da humanidade enquanto espécie é também onipresente. Deve-se preservar, a qualquer custo, a manutenção das características essenciais da espécie humana. Princípio da precaução: Decorrente do princípio do desenvolvimento sustentável, que impõe aos seres humanos o dever de preservar o meio ambiente para as futuras gerações. No âmbito do Biodireito, tal princípio implicaria na impossibilidade de se realizar toda e qualquer pesquisa cientí�ca até que se comprove a inexistência de consequências malé�cas diretas ou indiretas para o ser humano. A relação do Biodireito com os direitos humanos fundamentais no marco da CRFB/1988 O trânsito da Bioética para o Biodireito, em nível internacional, se deu com a Declaração Universal do Genoma Humano e dos Direitos Humanos elaborada, em 11 de novembro de 1997, pelo comitê de especialistas governamentais da Unesco. O texto estabelece os limites éticos a serem obedecidos nas pesquisas genéticas, principalmente aquelas relativas à intervenção sobre o patrimônio genético do ser humano. A elaboração de uma nova categoria de direitos humanos nos campos da biologia e da genética corresponde a um anseio do pensamento social contemporâneo: a possibilidade da universalização de direitos morais fundados numa concepção ética do Direito e do Estado. É a busca, portanto, da construção de uma ordem normativa construída por meio do diálogo racional entre pessoas livres. Falaremos agora dos direitos humanos fundamentais. Para isso, é necessário saber o que são os direitos humanos e, especi�camente, os direitos fundamentais. Clique nos botões para ver as informações. Para o professor António Peres Luño (1995), os direitos humanos são um conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as exigências de dignidade, liberdade e igualdade humanas. Tais exigências devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional. (PERES LUÑO, 1995). Direitos Humanos O enfoque dos direitos fundamentais é diferente: eles não se referem exclusivamente às pessoas físicas. Sua preocupação básica também é a estruturação constitucional. Eles delimitam, em especial, a situação dos cidadãos perante o Estado. Dessa forma, é a categoria de cidadão que está fundamentalmente em causa. Direitos Fundamentais Podemos, assim, a�rmar que os direitos fundamentais são aqueles direitos humanos constitucionalmente previstos ou amparados. O estudo dos direitos fundamentais é demarcado por quatro dimensões diferentes: 1ª - Liberdade: As liberdades públicas são fruto do arbítrio governamental. Exemplo: liberdade de planejamento familiar (art. 226, § 7º, CRFB/1988); 2ª - Igualdade: Ela é ditada em face de desníveis sociais em conjunto com os direitos econômicos e sociais. Exemplo: direito ao trabalho (arts. 5º, XIII, 6º, CRFB/1988); 3ª - Fraternidade: É a defesa de interesses difusos, como os direitos de solidariedade. Exemplos: proteção ao patrimônio histórico e cultural do povo (art. 5º, inc. LXXIII, CRFB/1988); defesa coletiva dos direitos do consumidor (art. 81, inc. III, Código de Defesa do Consumidor); e direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, CRFB/1988); 4ª – Não discriminação: É o direito a ser diferente ou à diferença. Exemplo: recusar tratamento de saúde (art. 15, Código Civil). Descobertas fundamentais na área das ciências biomédicas não podem, hoje em dia, ser examinadas sem levar em conta os direitos fundamentais. Isso se deve ao furor causado pela repercussão desse tema, o que requer um vital equilíbrio entre a vida humana, a ética e os direitos dos cidadãos. Direitos humanos juridicamente garantidos e limitados a) Dignidade da pessoa humana Fundamental, este princípio constitucional é garantido à pessoa humana. Está previsto no artigo 1º, inciso III, da CRFB/1988. Segundo Sérgio Ferraz (1991), a dignidade humana é a base da própria existência do Estado brasileiro e, ao mesmo tempo, �m permanente de todas as suas atividades. Trata-se, portanto, da criação e da manutenção das condições para que as pessoas sejam respeitadas, resguardadas e tuteladas em sua integridade física e moral, estando assegurados o desenvolvimento e a possibilidade da plena concretização de suas possibilidadese aptidões. O princípio da dignidade da pessoa humana é considerado pela doutrina uma cláusula geral de tutela e promoção da pessoa humana. b) Igualdade De acordo com concepção do �lósofo grego Aristóteles, igualdade signi�ca tratar desigualmente os desiguais e igualmente os iguais. (ARISTÓTELES, 2019) Cumpre ao Biodireito, então, a tarefa de captar esse princípio, que será posto em foco, sempre que for preciso, no confronto com os graus de emergência, necessidade ou utilidade do caso concreto. c) Inviolabilidade da vida A vida humana é um bem jurídico de valor absoluto. Portanto, é premente promover a mais completa proteção à integridade física ou moral do ser humano, devendo o Biodireito resguardá-la ao máximo em relação aos experimentos cientí�cos que envolvam humanos. O princípio da inviolabilidade da vida deve ser observado tendo em conta sua relação direta com postulados existentes nos princípios enunciados pela Bioética: autonomia, bene�cência, não male�cência e justiça. d) Informação O princípio da informação assegura às pessoas o direito de elas terem acesso, por parte dos órgãos públicos, às informações que sejam do seu interesse (art. 5º, inciso LXXIII). O complemento deste princípio se encontra no enunciado do princípio do consentimento informado, que, adotado pela Bioética, assegura ao sujeito o direito de receber todas as informações sobre os tratamentos e as intervenções médicas, bem como sobre qualquer procedimento investigatório cientí�co a que ele se submeta caso venha a consentir. e) Proteção à saúde A ideia de saúde está esboçada na cláusula inscrita do artigo 196 da CRFB/1988 que a referenda como um direito de todos e um dever do Estado. Dessa forma, não poderá a pesquisa realizada em seres humanos provocar um estado de não saúde. Caso o indivíduo já esteja doente, deve-se evocar o princípio bioético da totalidade: surgido do confronto entre a parte e o todo, ele estipula que, numa situação de con�ito entre ambos, prevalecerá o todo. Isso também é denominado princípio terapêutico. f) Legalidade dos meios e �ns Princípios constitucionais do Biodireito Ele compete ao Biodireito no sentido da defesa da vida humana. Isso não signi�ca que ele represente uma barreira aos avanços cientí�cos. O princípio da legalidade dos meios e �ns estabelece normas jurídicas equilibradas que admitem um maior ajustamento em relação a propósitos, meios e �ns, conforme concebe a lógica do razoável, buscados pela Biociência e pela Biomédica a �m de bene�ciar a própria humanidade. Os direitos da personalidade e sua relação com a Bioética A tutela dos direitos de personalidade está prevista entre os artigos 11 e 21 do Código Civil (CC) de 2002. Teremos de explicar inicialmente em que ponto eles estão situados nos marcos do ordenamento jurídico. Delineados na esfera do Direito Civil, os direitos de personalidade são aqueles direitos inerentes à pessoa humana; já na esfera do Direito Constitucional, constituem-se direitos fundamentais. Início → pessoa (persona) → condição de sujeito de direitos → depois se ampliou às pessoas jurídicas Características dos direitos da personalidade Clique nos botões para ver as informações. São inatos os direitos da personalidade, pois eles nascem com o indivíduo. No Direito brasileiro, manifestam-se na pessoa do seu titular desde o nascimento (artigo 2º, CC/2002). Originariedade Acompanham a pessoa humana durante toda a sua existência – desde o momento do nascimento até a morte. Vitaliciedade São direitos absolutos ou de exclusão no sentido da sua oponibilidade erga omnes. Quanto ao seu conteúdo, são relativos às exigências de ordem moral e às de ordem pública na relação com os direitos das demais pessoas. Trata-se, portanto, de imperativos do bem comum. Oponibilidade erga omnes Direito à vida e ao próprio corpo Consta nos artigos 13, 14 e 15 do CC/2002. Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo quando importar diminuição permanente da integridade física ou contrariar os bons costumes. Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para �ns de transplante na forma estabelecida em lei especial. - BRASIL, 2002 Atividade 1 - Pode-se dispor do próprio corpo ou de partes dele ainda em vida? Exemplo Proibido: Doar em vida um órgão vital único, mesmo que esteja em jogo a vida de um ente querido. A lei obsta a realização desse ato, porque ele permitiria salvar um �lho, mas geraria a morte de seu pai. Permitido: Doação de órgãos vitais duplos, como um rim, porque a ciência médica revela que a qualidade de vida é razoavelmente preservada só com um deles. Pode-se, segundo a mesma premissa, doar: o líquido medular, pois isso não afeta a sobrevivência; as partes renováveis do corpo, tais como o sangue e a pele; um pedaço de osso para transplante ou enxerto; uma quantidade de sangue; uma quantidade de pele; e um pedaço do osso para um transplante ou enxerto. En�m, caberá ao médico veri�car se a disposição daquela parte do corpo permitirá ao doador continuar vivendo com razoável qualidade de vida. No Brasil, a retirada de órgãos com a �nalidade de transplante obedece ao princípio da doação consentida: deve haver uma manifestação expressa em vida pelo doador. Na ausência disso, a família pode autorizar a retirada dos órgãos se for constatada a morte encefálica. Nessas circunstâncias, é absolutamente necessário o termo de consentimento informado (TCI) fornecido pelo próprio doador ou por seus parentes em caso de óbito. Disposição do corpo vivo e/ou morto (princípio da autonomia) Art. 14. É válida, com objetivo cientí�co ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. - BRASIL, 2002 Exemplo Permitido: A disposição de todo o corpo, mas para depois da morte. Proibido: Qualquer disposição de parte do corpo a título oneroso, sendo apenas possível aquela que assuma a forma gratuita, com objetivo altruístico ou cientí�co. Atividade 2 - Tendo em vista as atuais situações fáticas colocadas aos indivíduos por meio da aplicação da biotecnologia à vida humana, pergunta-se: a) O que é o Biodireito? b) torna-se necessária a criação deste Biodireito, ou os clássicos institutos jurídicos são su�cientes para dirimir os novos con�itos? 3 - Uma das a�rmações abaixo está correta. Aponte-a: a) A liberdade de pesquisa não está prevista na Constituição Federal de 1988. b) A legitimidade de um sistema jurídico não passa pela necessidade de consagração da intangibilidade da dignidade da pessoa humana. c) A dignidade é considerada um direito separado e específico, e não fonte da qual derivam todos os direitos do homem. d) O princípio da dignidade da pessoa humana é considerado pela doutrina uma cláusula geral de tutela e promoção da pessoa humana. e) O princípio da inviolabilidade da vida não se aplica aos criminosos. 4 - Marque a a�rmação verdadeira: a) Em termos de Direito Constitucional, não há princípios vinculados à Bioética que o profissional da área jurídica, ao se deparar com as novas indagações surgidas em decorrência das novas tecnologias, possa utilizar. b) O Direito Constitucional não se relaciona com a Bioética. c) O profissional da área jurídica, ao se deparar com as novas indagações surgidas em decorrência das novas tecnologias, deve sempre decidir a questão baseado nos princípios constitucionais de dignidade da pessoa humana, inviolabilidade do corpo humano e direito absoluto à vida. d) O Direito, nos seus mais distintos ramos, não pode e não deve se valer dos princípios norteadores da Bioética como forma de operacionalizar e responder às questões que tanto causam perplexidades. e) O profissional da área jurídica, ao se deparar com as novas indagações surgidas em decorrência das novas tecnologias, deve se valer tão somente dos princípios basilares da Bioética, sendo desnecessária a existência de um Biodireito. 5 - Homem de 30 anos de idade, politraumatizado
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