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ÉTICA NA SAÚDE - TODAS AS AULAS (TOTAL DE 10)

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Disciplina: Ética na Saúde
Aula 1: Conceitos e modelos de ética
Apresentação
Iniciaremos nossos estudos estabelecendo a diferença entre os conceitos de ética e
moral. Veremos como, apesar de estarem intimamente relacionados, estes conceitos
possuem diferenças bem definidas.
Em seguida, faremos um breve histórico do desenvolvimento histórico da Ética nas
sociedades ocidentais. Veremos suas origens na Grécia antiga, a evolução para a
ética cristã e em seguida para a chamada ética moderna que perdurou dos séculos
XVI ao século XIX.
Por fim, analisaremos a ética contemporânea, profundamente influenciada pela
globalização e pelos sistemas econômicos e o relativismo ético, produzido pelo novo
modelo de ciência e algumas de suas características.
Bons estudos!
Objetivos
Identificar as diferenças entre os conceitos de ética e moral;
Reconhecer as características dos diferentes modelos éticos;
Verificar a influência da política, das crenças e da economia na ética de uma
sociedade.
Conceitos de ética e moral
Ética
O termo ética deriva de éthos, que significa modo de ser, e, por
isto, define-se com frequência a ética como a doutrina dos
costumes ou hábitos adquiridos pelo homem.
Aristóteles tornou a ética uma disciplina autônoma no domínio da filosofia moral. Para
ele, o campo ético deveria investigar as características do bem, da perfeição e da
felicidade que são atribuídas ao homem, com o fim de ajustá-los à orientação prática
da conduta humana. Ele considerava que toda “ação humana está orientada para a
realização de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade”.
Moral
A conceituação de moral, por sua vez, abrange os costumes, ou seja, representa o
conjunto das regras de conduta admitidas numa época ou por um grupo de homens.
Ela distingue-se do que é investigado no campo ético, na medida em que “este último
domínio se ocupa de uma moral ligada aos fatos, incorporando valores aceitos pelos
homens ao se inter-relacionarem socialmente” (SKLAR: 2008). Seguindo este
sentido, a ética pode ser compreendida, como propõe Sánchez Vázquez (2002, 23),
de “teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”.
O ato moral, portanto, provocado por um ser humano
real e contextualizado historicamente, deve ser
avaliado sob o código moral que vigora na sociedade
daquele que promoveu a ação.
Ética grega
Antes de Aristóteles, encontramos precedentes para a constituição de uma ética
filosófica.
1
Pré-socráticos
Entre os pré-socráticos, por exemplo, Heráclito utiliza o vocábulo éthos para situar a
condição do homem “como aquela que necessita de um lugar” ou “morada”, definindo
um “modo de estar” no mundo (KIRK, RAVEN, SCHOFIELD:1994).
2
Demócrito
Mostra a virtude sob a busca de um equilíbrio interno diante do movimento das
paixões. O saber e a prudência seriam, assim, essenciais, pois ensinariam ao homem
de que modo ele deveria viver, conseguindo a felicidade.
A reflexão ética autônoma no mundo grego aparece apenas com Sócrates que,
combatendo os sofistas, acreditou na estabilidade das leis, dos princípios verdadeiros
e universais das normas, conferindo a elas um valor intrínseco. A partir dele, o termo
ética se afasta tanto do sentido originário de morada quanto de equilíbrio das
paixões, tal como Heráclito e Demócrito respectivamente entendiam. Este avanço foi
possível sob a elaboração de um método, denominado maiêutica , que levasse os
diversos cidadãos a uma vida virtuosa.
1
http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/etica_na_saude__DIS107/aula1.html
 Escultura de Aristóletes (Fonte: Shutterstock)
Sua filosofia critica o dualismo ontológico de Platão, isto é, a separação dos mundos
sensível e inteligível. Para Aristóteles, existe uma correlação entre ser e bem. O bem
se relaciona com a essência de cada coisa. O objeto da ética consiste em investigar
as características do bem, da perfeição e da felicidade que são atribuídas ao homem,
com o fim de ajustá-los à orientação prática da conduta humana. Segundo
Aristóteles, o homem deve contentar-se com o ser e o bem que possui, pois está
limitado, essencial e temporalmente, pela sua substância mortal e corruptível. O
conceito de realidade, assim, condiciona a formulação da ética aristotélica, dominada
por um relativismo radical. Ele considera que toda ação humana está orientada para a
realização de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade.
Aprofundando a busca de conhecimentos universais, Platão atribui à formação de
conceitos socráticos não só um valor mental, lógico e abstrato, mas um valor também
ontológico (parte da Filosofia que estuda o ser em si), considerando-os objetos de
pensamento e situados numa dimensão superior ao universo físico percebido pelos
sentidos. Desta maneira, a realidade fica dividida, para ele, em dois mundos distintos
e contrapostos: um, superior, invisível, eterno e imutável das ideias subsistentes,
outro, físico, visível, material, sujeito à transformação. A ética platônica gira em torno
da aspiração dos homens à felicidade.
Ética cristã e moderna
A transformação do cristianismo na religião oficial de Roma no século IV trouxe
novos sentidos para as doutrinas éticas gregas. O período medieval caracteriza-
se por uma profunda fragmentação econômica e política, devido ao surgimento de
duas classes que marcam o regime feudal:
1
Senhores feudais
Donos absolutos de terras ou feudos.
2
Camponeses e servos
Os quais eram vendidos e comprados com as terras às quais pertenciam e que não
podiam abandonar.
 Interior da igreja de São Demétrius (Fonte: shutterstock)
Nesse quadro, a religião garante certa unidade social, pois a política depende da
Igreja exercendo um forte poder espiritual e centralizando integralmente a vida
intelectual. Sob essas circunstâncias:

[...] a moral concreta, efetiva, e a ética – como doutrina
moral – estão impregnadas 
[...] de um conteúdo religioso que encontramos em todas as
manifestações da vida medieval.
SÁNCHEZ VÁZQUEZ: 2002,275-276
Nesse período, os pensadores cristãos conceberam uma nova ética que encontra em
Deus os princípios da vida moral. A esta nova ética denomina-se: Teonomia .
Estes pensadores aproveitaram as doutrinas gregas das virtudes e da
correspondência do bom ao verdadeiro, agregando-as ao corpo de uma ética cristã,
negando, por outro lado, fundamentos éticos naturalistas e hedonistas, incompatíveis
com as ideias morais cristãs. Considerando, ainda, que o homem é um peregrino que
se prepara para uma vida futura ultraterrena, rejeitaram a busca da felicidade
(eudemonia) que caracterizou grande parte do pensamento grego. Ironicamente, no
entanto, a ética cristã de igualdade é lançada no momento histórico em que os
homens conhecem as maiores desigualdades:
A divisão entre escravos e homens livres
Ou entre servos e senhores feudais
Vázquez (1972, 277), no entanto, ressalta que a ética cristã medieval “não
condena esta desigualdade social e chega, inclusive, a justificá-la”.
2
http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/etica_na_saude__DIS107/aula1.html
A igualdade e a justiça são transferidas para um
mundo ideal, enquanto aqui se mantém e sanciona a
desigualdade social”.
Podemos afirmar que a formulação conceitual da ética cristã herda conceitos
platônicos e aristotélicos, submetendo-os a um processo de cristianização, que
transparece nas éticas de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino.
Santo Agostinho
Para ele a ascensão da alma que em Platão se eleva do mundo sensível ao inteligível,
transforma-se na elevação até Deus, cujo fim é o êxtase místico ou felicidade.
São Tomás de Aquino
Retomando Aristóteles, destacam-se a contemplação e o conhecimento que dela
decorre; São Tomás de Aquino se afasta, no entanto, da divisão das virtudes e da
ética como doutrina dos costumes quando afirma que o fim supremo do
conhecimento é Deus, entendido como o maior bem objetivo, cuja posse gera
felicidade, um bem subjetivo.
A história da ética ganha um novo rumo, entre os séculos XIV e XVI (Renascimento)
a partir da valorizaçãodo homem nas ciências e nas artes. Retomam-se algumas
tendências éticas antigas no início da Renascença, demarcando-se o início do que se
conhece como ética moderna (séculos XVI-XIX).
Alguns acontecimentos desse período:
01
É marcado pela criação de uma nova sociedade que substitui a ordem feudal da Idade
Média, sob uma série de mudanças.
02
No plano econômico, há o incremento de forças produtivas em função do
desenvolvimento científico, mediante uma perspectiva científica mais prática (Francis
Bacon).
 Burgo formado ao pé de um castelo (Fonte:
https://goo.gl/dsw45D <https://goo.gl/dsw45D>
)
04
No plano social, temos o aparecimento de uma nova classe social – a burguesia –
inicialmente na França (com a Revolução Francesa, 1789), desenvolvendo-se, no
século seguinte, principalmente na Inglaterra.
05
Como consequência, vemos a implantação de um sistema em que o trabalhador, ao
trocar sua força de trabalho por um salário, não é dono dos meios de produção; esses
passam ao domínio da classe burguesa que, ao vender as mercadorias produzidas
pelos trabalhadores, atribui um sobrevalor ao produzido, obtendo uma mais-valia ou
lucro: o capitalismo.
No plano espiritual, há a perda do papel de guia atribuído à Igreja Católica, pois a
religião deixa de ser a forma ideológica dominante. Separam-se, em linhas gerais:
razão/fé, natureza e homem/Deus, Estado/Igreja. A dimensão humana
coloca-se, portanto, no centro da filosofia, ciência, arte, política, e, também, da
moral. Dominando a maior parte dos pensadores modernos, a questão da origem
das ideias morais desponta nos séculos XVI-XVII.
https://goo.gl/dsw45D
Nicolau Maquiavel
Chamou atenção sobre o papel da ação política – visando a sobrevivência de um
grupo, não de indivíduos isolados – na formação dos conceitos éticos.
Thomas Hobbes
Defende a tese de que o homem é antissocial, comportando-se sempre para
satisfazer seu interesse pessoal e absorvendo aquilo que é bom ou vantajoso para si:
egoísmo ético.
Baruch Espinosa
Buscou na correspondência alma-corpo fundamentos de uma ética voltada para o
exercício da liberdade, afirmando que são os homens que causam as paixões, não
que estas devam estar subjugadas à razão ou vice-versa.
No século XVIII, marcado pelo movimento intelectual denominado de Iluminismo,
exalta-se a capacidade que tem o homem de conhecer e agir por uma luz própria da
razão. A este respeito, ressalta a obra de Immanuel Kant, para quem a consciência
cognoscente ou moral é suscitada em um homem ativo, criador e legislador.
Na Crítica da razão prática, e na Fundamentação da metafísica dos costumes, ele
descobre princípios racionais na vida prática dos homens, compreendendo como
certos costumes podem orientar as ações humanas. Segundo afirma, a vontade é
verdadeiramente moral quando é regida por imperativos categóricos – referem-se a
ações objetivamente necessárias, em que suas realizações estejam subordinadas
tanto a fins quanto condições; a moralidade, neste sentido, diz respeito ao
fundamento da bondade dos atos, averiguando em que consiste o bom.
 Inserir Legenda: Immanuel Kant (Fonte:
https://goo.gl/5d5PBZ <https://goo.gl/5d5PBZ>
)
A resposta kantiana: o único bem em si mesmo é a boa vontade,
aquela que age por puro respeito ao dever, visando sujeição do
homem à lei moral – autonomia humano-moral. O dever torna-
se, nesse quadro, incondicionado ou absoluto, abrangendo algo
que se estende a todos os seres humanos em quaisquer tempos
ou condições.
Duas outras importantes contribuições para o domínio ético são encontradas ainda no
século XIX:
https://goo.gl/5d5PBZ
Friedrich Nietzsche
Analisando os valores da cultura europeia, os vê encarnados no cristianismo,
socialismo e igualitarismo democrático e sustenta que são formas de uma moral a ser
superada mediante a formulação de um ponto vista além do bem e do mal.
Franz Brentano
Para ele seria possível se estabelecer leis universais de caráter axiológico , na
medida em que há um subjetivismo ético que se relaciona a uma teoria objetiva do
valor. Este é enunciado sob atos de preferência (valorização) ou repugnância
(desvalorização); assim, a experiência que algo seja bom inclui um aspecto subjetivo
(para alguém) e a intenção que leva um homem a preferir algo.
Ética contemporânea e relativismo
ético
As discussões sobre as questões a respeito do conceito de bem supremo, ou os
debates sobre se o bem é o bem individual ou coletivo, se parte do particular para o
geral ou vice-versa, tem encontrado certo consenso no sentido de que o bem só é
possível quando compartilhado ao nível social.
Assim, o ético se faz a partir do todo social e não a
partir da ação individual.
3
http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/etica_na_saude__DIS107/aula1.html
 Grupo de pessoas (Fonte: Shutterstock)
Deste modo, torna-se necessária a noção de uma equidade cultural que possibilitaria
a uniformidade de valores e consequentemente em uma única subjetividade de
valores morais e sociais que uniformizasse também as expectativas e os desejos
individuais. Caso contrário, esta posição seria utópica e desprovida de valor prático
uma vez que o bem se relativiza a partir do valor cultural que o fundamenta como um
bem próprio e típico do ponto de vista de uma dada Cultura. Estes ideais são direta
ou indiretamente a raiz do que se convencionou chamar de Globalização.
As atuais políticas governamentais tem pautado suas bases de atuação em critérios
que desconsideram a necessidade de integração entre os diferentes níveis de
desenvolvimento e negado os aspectos necessários à construção de um projeto social
mais voltado para um futuro harmonioso nas relações sociais.
A Globalização tem tido diversos efeitos sobre os sistemas de
organização das sociedades, seja ao nível econômico, seja ao
nível ideológico e cultural. Dentre estes efeitos, destaca-se o
aprofundamento de uma ética industrial na qual o
desenvolvimento econômico se sobrepõe ao desenvolvimento
social.
A Ecologia Social, integrando os estudos do homem e de seus ecossistemas
através da compreensão da direta correlação entre natureza e cultura, demonstra
que as relações deste com a sociedade passam necessariamente pela
sanidade de suas relações não só com os demais membros de sua espécie,
como também pelo modo relacional que estabelece consigo próprio e com
seu ambiente. O esfacelamento deste conjunto inviabiliza qualquer tentativa de
desenvolvimento.
 Globo terrestre: conceito de ecologia (Fonte:
Shutterstock)
Diversos autores, nos mais variados campos do conhecimento, tem ressaltado a
importância de estabelecer-se uma relação ética com os recursos sociais, humanos e
naturais que reponha uma hierarquia de valores morais e filosóficos como parâmetros
do desenvolvimento.
Félix Guattari, em seu livro As três ecologias, alerta para as consequências daquilo
que ele considera como “o império de um mercado mundial que lamina os sistemas
particulares de valor, que coloca num mesmo plano de equivalência os bens
materiais, os bens culturais, as áreas naturais.” Para outros autores, os
desenvolvimentos social e cultural estão mais diretamente associados à instituição de
uma ética social.
Não há desenvolvimento social sem antes a formação de uma
ética que baseie os pressupostos fundamentais de uma
sociedade e, todo o problema do desenvolvimento, segundo
estes autores, reside justamente na ausência desta ética por
parte, não apenas dos governos, mas também do próprio
modelo de ciência que arbitra o sistema teórico de sustentação
das políticas governamentais.
Atividade
Veja estes exemplos de comportamentos antissociais:
Roubar. Copiar o trabalho de um colega. Fumar maconha. Trair seu
marido ou esposa. Aceitar suborno. Fraudar impostos. Mentir. Se
beneficiar do problema de alguém. Promover uma intriga para obter um
ganho pessoal.
Você saberia dizer o que é imoral e o que é antiético? Saberia distinguir entre o
que é Ética e Moral?
Experimente definir Ética e Moral.
Maiêutica
Tem como significado “Dar à luz (Parto)“intelectual, da procura da verdade no
interior do homem.
Teonomia
Théos, em grego, significa Deus.
4
1
2
http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/etica_na_saude__DIS107/aula1.html
Axiológico
Filosofia dos valores.
Desenvolvimento social
Murray Bookchin, do Institute for Social Ecology, de Vermont, USA, em um artigo de
1994, intitulado “History, Civilization, and Progress: Outline for a Criticism of Modern
Relativism”, responsabiliza o relativismo histórico pela ausência de uma ética social
de organização das sociedades e clama por uma análise social mais voltada para a
eliminação de injustiças e desigualdades sociais.
Referências
ARANHA, Maria L. de Arruda; HELENA, Maria P. Martins. Filosofando: introdução à
filosofia. Ed. Moderna, 2009.
BOHADANA Estrella; SKLAR, Sergio. Lições introdutórias de filosofia e educação.
Rio de Janeiro: CTRL C, 2007.
FERRATER MORA, José. Diccionario de filosofia, tomo I. Buenos Aires: Editorial
Sudamericana, 1971. 1072 p.
GUATTARI, Félix. As três ecologias. Papirus, 1993.
MORA, J. F. Diccionario de filosofia. Alianza Editorial, 1982.
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Bertrand, 1996.
NOVAES, Adauto (Org.) Ética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
PRIGOGINE, Ilya. O Fim das certezas. UNESP, 1996.
SÁNCHEZ VÁZQUEZ, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. 22 ed.
302p.
SCHELER, Max. Da reviravolta dos valores. Petrópolis: Vozes, 1994.
SILVEIRA, Antônio Maria. Caos, acaso e determinismo. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995.
SKLAR, Sergio. Ética: Conceito, história, essência e objeto. Dimensões éticas em
bioética. In: RAMOS, Dalton; FRANÇA, Luiz Paulo de, SKLAR, Sergio. Ética na saúde.
Rio de Janeiro: GEN/Grupo Editorial Nacional, Programa do Livro Universitário
(Estácio Ensino Superior), 2008.
3
4
OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. Ética e práxis histórica. São Paulo: Ática, 1995.
WEIL, Pierre. A nova ética. Rio de janeiro: Rosa dos Tempos, 1994.
Próximos Passos
Conceitos de Bioética;
História da Bioética;
Contexto cultural e princípios da Bioética.
Explore mais
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de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no
ambiente de aprendizagem.
Disciplina: Ética na Saúde
Aula 2: Bioética – História e princípios básicos
Apresentação
Vimos na aula anterior um breve resumo histórico da transformação da ética em função de aspectos políticos, sociais e
econômicos. Assim, podemos entender que a ética sofre mudanças em função de circunstâncias práticas que obrigam a
readequação de valores e condutas.
Veremos nesta aula, como a Segunda Guerra Mundial trouxe atrocidades tão marcantes sobre a vida que não apenas a ética
precisou ser mais uma vez redefinida, como fez surgir um novo padrão ético associado diretamente a ações voltadas para a
área da saúde e da preservação da vida: A Bioética.
Veremos, ainda, como os avanços científicos influenciam nos processos éticos e como a Bioética se preocupa com a
normatização de procedimentos que envolvem recursos de saúde e critérios de distribuição e aplicação destes recursos.
E de modo a fundamentarmos melhor nosso entendimento, veremos alguns dos princípios básicos que fundamentam a
aplicação da Bioética. Princípios que procuram nortear decisões importantes na área da saúde como, por exemplo, de que
forma podemos avaliar a justificabilidade de efeitos colaterais negativos em procedimentos de saúde, quando podemos dispor
de nossos órgãos, quando aplicar tratamentos alternativos ou experimentais e outros.
Bons estudos!
Objetivos
Identificar a origem histórica e filosófica da Bioética;
Reconhecer os critérios que definem os aspectos práticos da Bioética;
Verificar alguns dos princípios básicos que fundamentam a Bioética.
O que é Bioética?

(Fonte: Youtube <https://www.youtube.com/watch?v=-B1UzoAjDk8> )
URL
História da Bioética
As bases filosóficas da Bioética começaram a ser mais bem definidas após a Segunda Guerra Mundial, quando o mundo
ocidental, chocado com as práticas nazistas executadas pretensamente em nome da ciência, cria um código ético para
normatizar os estudos e experiências relacionados a seres humanos.
Deste episódio, fortalece-se também a ideia de que a ciência (ou qualquer outra forma de progresso) não pode ser mais
importante que o homem. Assim, tecnologias e desenvolvimento técnico devem ser controlados para acompanhar a
consciência da humanidade sobre os efeitos que eles podem ter, nos indivíduos, no mundo e na sociedade.
 DNA humano. (Fonte: Shutterstock)
à é
https://www.youtube.com/watch?v=-B1UzoAjDk8
Bios (vida) + Ethos (relativo à ética)
Oficialmente, o registro inicial do termo “Bioética” deu-se em 1971, no livro "Bioética: Ponte para o Futuro", do biólogo e
oncologista americano Van R. Potter.
Em sua origem, o termo é a conjugação das palavras gregas bios (vida) + ethos (relativo à ética) e sua concepção
compreende o campo disciplinar compromissado com o conflito moral na área da saúde e da doença dos seres humanos e dos
animais não humanos.
 Capa do livro “Bioética: Ponte para o Futuro” (Fonte: ciadoslivros.com.br
<http://www.ciadoslivros.com.br/bioetica-ponte-para-o-futuro-732287-
p603639> )
O objetivo primordial da Bioética é discutir as questões relativas à vida e a saúde, principalmente
as que surgiram a partir de inovações tecnológicas posteriores aos debates éticos tradicionais,
sob um enfoque humanista e assim, evitar que estes debates se restrinjam a aspectos
puramente tecnicistas, esquecendo-se de que tratamos de aspectos delicados e extremamente
complexos.
Não se poderia admitir que aspectos como os provocados pelas controvertidas questões do aborto e da eutanásia, ou as
discussões cada dia mais prementes acerca da biossegurança, da biotecnologia e muitos outros associados, fossem discutidos
sob o prisma de antigas abordagens (muitas vezes preconceituosas ou simplesmente dogmáticas) e sem uma análise
transdisciplinar mais ampla. Por isso, a Bioética engloba áreas que abarcam aspectos práticos e normativos, através do
biodireito e aspectos teóricos e filosóficos, como o biopoder.
A ética industrial decorrente da disseminação de valores capitalistas e da incessante busca por mais desenvolvimento
tecnológico, estabeleceu nas sociedades ocidentais uma ideologia chamada de teoria utilitarista, através da qual a vida
humana passa a ser concebida como objetivando a maximização da qualidade. Com isso, o debate ético sobre a
sacralidade da vida humana começa a perder sentido em detrimento do quanto pode ser feito para que as pessoas em
geral vivam mais e melhor.
http://www.ciadoslivros.com.br/bioetica-ponte-para-o-futuro-732287-p603639
 Cidade urbana. (Fonte: Shutterstock)
John Finnis e outros estudiosos da ética e da bioética que se contrapunham a esta abordagem, argumentam que a questão da
maximização do prazer (ou da qualidade de vida) não pode se impor (como uma equação matemática) eticamente a aspectos
morais e a valores mais amplos do que o prazer.
Segundo estes autores, temas como o aborto ou a eutanásia, não podem ser moralmente debatidos em termos de
satisfatoriedade ou qualidade de vida. Ou, em outras palavras, não podemos sustentar a defesa do aborto simplesmente pelo
fato de que a gestante se priva de situações ou gratificações em função da gravidez.
O que Finnis irá propor é uma Bioética fundamentada em
aspectos filosóficos mais clássicos e moralmente
sustentáveis.
Assim, para solucionar questões éticas práticas, decorrentes de conflitos e controvérsias da interação humana e de suas
práticas médicas ou científicas, a bioética se fundamenta em uma tríplice atuação:
1
Descritiva
Voltada para a descrição e análise destes conflitos.
2
Normativa
Com relação a tais conflitos, no duplo sentido de proscrever os comportamentos que podem ser considerados reprováveis e de
prescrever aqueles considerados corretos.
3
Protetora
No sentido de amparar, na medida do possível, todos os envolvidos em alguma disputade interesses e valores, priorizando,
quando isso for necessário, os mais “fracos” (Schramm, F.R. 2002. Bioética para quê? Revista Camiliana da Saúde, ano 1, vol.
1, n. 2 – jul/dez de 2002 – ISSN 1677-9029, pp. 14-21).
Atividade
1 - Utilize os números para correlacionar os conceitos aos procedimentos da Bioética.
a) O Conselho Federal de Medicina (CFM), através da Resolução nº 1.956/2010
<http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2010/1956_2010.htm> , publicada no dia 25 de outubro no
Diário Oficial da União, determinou que médicos não poderão indicar para seus pacientes marcas de órteses, próteses ou
materiais implantáveis. O conselheiro Antônio Pinheiro, coordenador da comissão que elaborou a resolução, explicou que
o objetivo é reduzir os conflitos existentes entre médicos e operadoras de planos de saúde, e também com instituições
públicas, quando da indicação de uso desses materiais.
b) O número de processos por erro médico recebido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) mais que triplicou nos últimos
seis anos. De 2002 até o fim do ano passado, o volume de ações passou de 120 para 398, segundo a Assessoria de
Imprensa do tribunal. No total, tramitam no STJ atualmente 471 casos, a maioria questionando a responsabilidade
exclusiva do médico e não das instituições.
Mesmo com o aumento das denúncias por parte da população, a estatística ainda está muito aquém da realidade, na
opinião de Lígia Bahia, médica e vice-presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), do Rio de Janeiro.
"No Brasil há um sub-registro de erros médicos, a gente só vê a ponta do iceberg, não temos dimensão do iceberg
inteiro". (Fonte <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,processos-por-erro-medico-no-stj-triplicam-em-
6-anos,336003> )
c) Divulgar melhor a Declaração Universal sobre a Bioética adotada pela Unesco em 2005 foi uma das maiores
preocupações manifestadas pelo Comitê Internacional de Bioética <http://br.rfi.fr/ciencias/20101104-comite-
de-bioetica-da-unesco-discute-clonagem> reunido entre os dias 26 e 27 de outubro, em Paris.
Durante dois dias, representantes dos 36 países que compõem o Comitê discutiram os relatórios elaborados por grupos
de trabalho em torno de três temas: a vulnerabilidade humana e integridade pessoal, a clonagem humana e governança
internacional e as implicações éticas da prática da chamada medicina tradicional.
No encontro, o Brasil encaminhou proposta para criação de comitês regionais de Bioética para melhor difundir os
princípios da Declaração da Unesco.
Princípios básicos
Para objetivar estas atuações, a Bioética se sustenta em alguns conceitos básicos.
O princípio do duplo efeito
Uma situação frequente é a ocorrência de uma determinada ação que acarreta em dois efeitos
concomitantes, um bom e outro mau. Apesar de buscarmos o primeiro resultado, ele sempre traz
consigo um efeito colateral indesejável, porém inseparável.
O que fazer nestas situações?
Desistir do efeito positivo em função do colateral ou
aceitar os danos como consequências de um fim
positivo?
Como decidir sobre o que irá pesar mais?
http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2010/1956_2010.htm
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,processos-por-erro-medico-no-stj-triplicam-em-6-anos,336003
http://br.rfi.fr/ciencias/20101104-comite-de-bioetica-da-unesco-discute-clonagem
O principio do duplo efeito foi elaborado para estabelecer as condições pelas quais considera-se ética uma ação boa que
promove efeitos negativos.
A primeira dessas condições refere-se ao fato de que a ação em si não deve ser má. Isso significa que o mal não pode ser
meio para a produção do bem, assim como um ato mau não pode ser moralmente aceito, mesmo que produza benefícios.
Dessa forma, as consequências de um ato são diferentes do ato em si. O efeito negativo é aceito eticamente como
consequência de um ato bom, mas nunca como ato (negativo) em si. É apenas a reprodução do conceito moral tradicional pelo
qual “o fim não justifica os meios”.
Um exemplo é o efeito que uma cirurgia para correção de um problema de saúde é capaz de ocasionar: a pessoa pode ser
curada de sua enfermidade (efeito positivo) ou, devido a complicações, falecer (efeito negativo).
A segunda condição diz respeito à existência de uma proporcionalidade entre os efeitos colaterais negativos e os benefícios
decorrentes da ação. Os benefícios precisam ser maiores do que os malefícios da ação. Um ato no qual os efeitos negativos
sejam muito maiores do que o bem que ele possa acarretar não pode ser moralmente aceitável. Naturalmente que sempre
haverá subjetividades e discordâncias relativas a esta avaliação de proporcionalidade, mas uma ação ética implica
necessariamente nesta análise e (sempre que possível) em um consenso de valor entre as partes envolvidas.
Tomando o exemplo anterior, se a cirurgia for realizada em uma pessoa muito idosa, será necessário considerar seus elevados
riscos devido à idade já avançada. Mesmo que solucione um problema de saúde, o ato pode desencadear outras complicações,
levando a pessoa, inclusive, à morte. Esses riscos devem, portanto, ser pesados.
O princípio da totalidade
Este princípio se origina do sistema psicológico da Gestalt que sustenta que:
“O todo é mais do que a soma de suas partes”.
Assim, as partes do corpo não podem ser compreendidas de modo dissociado da unidade física.
Em outras palavras, isso significa dizer que não podemos dispor das partes de nosso corpo sem analisarmos o que isso irá
promover em termos da preservação de nossa saúde geral.
A amputação de um órgão ou parte do corpo, por exemplo, precisa ser justificada em função de um dano permanente que não
possa ser alterado e que implique em prejuízos para a saúde geral do corpo. Ou, em situações de doação a terceiros, o quanto
esta remoção irá ou não afetar as condições de saúde geral do doador (em termos de proporcionalidade ao bem produzido ao
outro).
 Homem com perna amputada (Fonte: Shutterstock)
Meios ordinários e extraordinários de tratamento
Um procedimento padrão no tratamento de alguma enfermidade se traduz pela aplicação de medicamentos ou processos
terapêuticos já amplamente testados, de acesso disponível e que possuem eficácia comprovada na produção de resultados.
Este tipo de procedimento, chamamos de meios ordinários (comuns).
 Vidros de remédios e seringa. (Fonte: Shutterstock)
Existem, no entanto, situações em que estes procedimentos não logram êxito, nestes casos, é preciso lançar mão de
procedimentos que ao contrário dos primeiros, são muitas vezes caros, produzem efeitos colaterais indesejáveis e ainda
assim, não tem sua eficácia plenamente comprovada. São os chamados meios extraordinários.
Naturalmente que esta distinção é decorrente de uma condição temporal, na medida em os avanços tecnológicos rapidamente
podem transformar um meio extraordinário em ordinário. Esta avaliação, mesmo que sabidamente relativa ao momento
presente, é extremamente importante do ponto de vista ético, na medida em que só se justifica a aplicação de um meio
extraordinário se os meios ordinários já tiverem sido tentados e demonstrados sua ineficácia no caso em questão.
Justiça
Critérios de justiça estão diretamente associados aos aspectos éticos e não poderiam deixar de estar, também, vinculados à
Bioética.
A justiça é o conceito pelo qual cada um deve receber o que lhe é merecido por direito
ou pela ação de seus atos. Assim, casos semelhantes devem ser tratados de modo
semelhante e casos diferentes tratados de modo diferenciado.
 Estátua da justiça.(Fonte: Shutterstock)
Dentre os padrões de aplicação dos critérios de justiça, temos:
Justiça comutativa
Define padrões relativos à equidade nos mais variados tipos de trocas ou relações comerciais como, por exemplo, as
formas de determinação de preços e salários.
Justiça retributiva
Estipula sanções legais para a violação das leis e que determina os meios de garantia que o que é devido seja pago ou
restituído.
Justiça distributiva
Regula a partilha de bens e benefíciossociais, garantindo a cada um o que lhe é devido na distribuição de um todo. Todos
estes aspectos estão intrínsecos na aplicação da Bioética, mas a justiça distributiva, em particular, tem se demonstrado
uma área bastante sensível, na medida em que a obtenção de recursos de saúde interfere diretamente em muitas
questões e problemas inerentes à Bioética.
Santidade da vida humana
Como vimos, quando John Finnis se opõe à ética industrial, o objetivo central de sua crítica se localizava na restauração do
conceito de sacralidade da vida humana. Não precisamos, necessariamente, considerar esta concepção sob um ângulo
religioso, mas é importante percebemos que a vida é o valor maior a ser preservado.
Desta forma, qualquer intervenção ou interferência produzida sobre ela, precisa obrigatoriamente ser avaliada em termos
éticos e morais e deve ter o sentido de sacralidade como paradigma central de suas considerações. Muitos autores preferem o
uso do termo dignidade da vida humana para se reportar a este sentido (em oposição ao sentido de santidade da vida).
 Recém nascido. (Fonte: Shutterstock)
Mais importante do que o termo utilizado ou o sentido filosófico dado, é a consciência da necessidade de respeito e
preservação na aplicação de ações e direitos associados a este valor. Daniel Callahan (1972) identificou cinco elementos
críticos no conceito de santidade (ou dignidade) da vida humana:
1
Sobrevivência da espécie humana.
2
Preservação das linhas familiares.
3
O direito dos seres humanos terem proteção de seus companheiros.
4
Respeito por escolhas pessoais e autodeterminação, que inclui integridade mental e emocional.
5
Inviolabilidade corporal: Meu corpo, com seus órgãos, sou eu mesmo.
Atividade
1 - Sobre os princípios básicos da Bioética, analise as afirmativas abaixo e marque verdadeiro (V) ou falso (F).
a) O principio do duplo efeito foi elaborado para estabelecer as condições pelas quais considera-se ética uma ação boa
que promove efeitos negativos.
b) No princípio da totalidade, as partes do corpo podem ser compreendidas de modo dissociado da unidade física.
c) Somente se justifica a aplicação de um meio extraordinário se os meios ordinários já tiverem sido tentados e
demonstrados sua ineficácia no caso em questão.
d) Qualquer intervenção ou interferência produzida sobre a vida humana, precisa obrigatoriamente ser avaliada somente
em termos éticos e morais.
Referências
CALLAHAN, D. Abortion: law, choice and polarity. New York: Macmillan, 1972. p. 307-355.
BARCHIFONTAINE, C. P.; PESSINI, L.; ROVER, A. Alguns conceitos fundamentais da Bioética. In: ______. Bioética e saúde.
São Paulo: Cepas, 1987. p. 94-104.
CONSELHO Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro. Comissão de Bioética. Bioética e Medicina. Rio de Janeiro:
Navegantes, 2006. Disponível em: http://www.cremerj.org.br/publicacoes/download/86
<http://www.cremerj.org.br/publicacoes/download/86> . Acesso em: 12 abr. 2018.
Próximos Passos
Histórico sobre o controle de pesquisas envolvendo seres humanos;
Avaliação de riscos e benefícios nas pesquisas em seres humanos à luz dos princípios éticos.
Explore mais
Pesquise na internet sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor
online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem.
http://www.cremerj.org.br/publicacoes/download/86
Disciplina: Ética na Saúde
Aula 3: Avaliação de riscos e benefícios em pesquisas biomédicas
Apresentação
Nesta aula estudaremos a evolução histórica dos mecanismos e principais legislações acerca do controle de
riscos em pesquisas científicas que implicam na participação de seres humanos na área da saúde.
Conheceremos não apenas os documentos internacionais como também as diretrizes e normatizações
brasileiras a respeito destes procedimentos.
Veremos a importância dos comitês de pesquisa institucionais e em que consiste sua atuação.
Identificaremos ainda, alguns dos procedimentos éticos de avaliação de riscos e benefícios como o
Princípio da Precaução e sua aplicação no controle de riscos e eventos adversos.
Bons estudos!
Objetivos
Reconhecer o histórico sobre o controle de pesquisas envolvendo seres humanos;
Identificar os procedimentos de avaliação de riscos e benefícios nas pesquisas em seres humanos a
luz dos princípios éticos.
O trabalho do biomédico
Para iniciar esta aula, vamos conhecer o trabalho do biomédico.

O trabalho do biomédico (Fonte: Youtube)
https://youtu.be/IcH2Pz8VSos
Surgimento da pesquisa biomédica
Segunda Guerra Mundial
Como vimos na aula anterior, em consequência dos abusos criminosos promovidos por experimentações
nazistas no decorrer da Segunda Grande Guerra surgiu a Bioética, uma nova concepção ética voltada de
modo mais direto aos aspectos associados à saúde e às pesquisas científicas que envolvessem seres
humanos.
 Foto de soldados nazistas (Fonte: Everett Historical /
Shutterstock)
Julgamento de Nuremberg
Uma das consequências impostas aos criminosos nazistas ao fim da guerra foi o chamado julgamento de
Nuremberg. Mundialmente conhecido, este foi constituído por um tribunal militar internacional que efetuou
os julgamentos dos primeiros criminosos de guerra (dentre eles 20 médicos) e ocorreu entre 1945 e 1946
na cidade alemã de Nuremberg. Em função deste julgamento, foi elaborado em 1947, o chamado Código
de Nuremberg.
Objetivando eliminar futuros episódios semelhantes aos praticados pelos nazistas, o código de Nuremberg
surge como um importante marco na história da ética envolvida em pesquisas médicas.
 Julgamento de Nuremberg (Fonte: https://goo.gl/E9ztfm
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Defendants_in_the_dock_at_the_Nuremberg_Trials
)
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Defendants_in_the_dock_at_the_Nuremberg_Trials.jpg
Em síntese, ele determinava que deveria haver consentimento prévio e voluntário de todos os sujeitos
envolvidos em pesquisas e para garantir que não haveria indução à participação, os sujeitos deveriam
receber informações sobre riscos, objetivos e procedimentos experimentais.
Determinava também que toda pesquisa deveria apresentar a possibilidade de resultados não alcançáveis
por outros procedimentos não invasivos e exigia a realização de experimentos anteriores em animais.
Esta foi a primeira legislação moderna que visou o controle sobre atuações científicas de riscos em seres
humanos.
Declaração de Helsinque
Quase vinte anos depois, em 1964, foi criado pela Associação Médica Mundial, um novo e mais elaborado
documento, conhecido pelo nome de Declaração de Helsinque. A Declaração passou no decorrer dos anos
por diversas alterações e revisões, tendo sido a última, até o momento, efetuada em 2008, na 59ª
Assembleia Médica Mundial, realizada em Seul na Coreia do Sul. A Declaração de Helsinque é considerada
o mais atual e importante documento mundial sobre a ética em pesquisas na área da saúde e tem servido
como base para quase que a totalidade de todos os procedimentos regulatórios sobre pesquisa biomédica.
 Vista de Helsinque na Finlândia (Fonte: Mikhail Markovskiy /
Shutterstock)
Este documento foi dividido em três partes principais:
Princípios básicos
Nos princípios básicos a declaração procura seguir os princípios gerais da Bioética, ressaltando os
aspectos morais envolvidos nos procedimentos e experimentos científicos e na necessária
proporcionalidade entre os riscos envolvidos e os benefícios advindos destas pesquisas.
Pesquisa médica combinada com cuidados profissionais
Na parte referente à pesquisa clínica combinada com o cuidado profissional, o documento
aborda a possibilidade da aplicação de meios extraordinários de tratamento (pesquisas experimentais)
desde que previamente consentidos e que a pesquisa traga perspectiva de reversão da patologia do
próprio paciente.
Pesquisa médica combinada com cuidados profissionais
No que diz respeito à pesquisa clínica não terapêutica, a declaração de Helsinque obriga o médico
pesquisador a se responsabilizar pelasaúde do paciente no qual os procedimentos experimentais são
efetuados e considera que, apesar do necessário consentimento explicito, consciente e plenamente
justificado do paciente, a responsabilidade sobre danos ou consequências é sempre do médico
pesquisador. Podendo ainda o sujeito, objeto da pesquisa, cancelar seu consentimento ou solicitar seu
encerramento a qualquer momento.
Estes princípios tratam da necessidade de serem seguidos critérios científicos aceitos pela comunidade
científica internacional e da revisão ética e científica de toda pesquisa envolvendo seres vivos.
A bioética no Brasil
O primeiro documento brasileiro a tratar das questões éticas sobre pesquisas em seres humanos foi
elaborado em 1988.
Tratava-se da Resolução nº 1 do Conselho Nacional de Saúde (CNS)
<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/reso_88.htm> que regulamentava o credenciamento de
centros de pesquisa e recomendava a criação de comitês de ética nas instituições de saúde (CEP’s). Estes
comitês multidisciplinares têm como função analisar as pesquisas em seres humanos nas diversas áreas de
conhecimento, bem como fomentar a discussão sobre a Bioética.
 Logo do Conselho Nacional de Saúde (Fonte:
https://goo.gl/PmRvvj
<http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/reso_inicial.htm> )
Com a crescente discussão ética mundial, no entanto, a Resolução 01/88 mostrou-se ainda incipiente e
para complementá-la surgiu, oito anos após, um novo documento nacional abordando os aspectos éticos
em pesquisa. A Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Este novo documento, que é ainda hoje a legislação regulatória geral vigente neste aspecto, nasceu de um
amplo debate entre a comunidade científica e representantes da sociedade civil, e foi elaborado pelo
Ministério da Saúde com o intuito de normatizar as diretrizes de todas as pesquisas que envolvessem seres
humanos no território nacional.
Tomando por base os documentos internacionais e igualmente centrada nos princípios gerais da Bioética, a
Resolução 196/96
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/1996/res0196_10_10_1996.html> instala
ainda a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), instância colegiada, de natureza consultiva,
deliberativa, normativa, educativa e independente, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde.
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/reso_88.htm
http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/reso_inicial.htm
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/1996/res0196_10_10_1996.html
 Logo do CONEP (Fonte: https://goo.gl/EhM4cX
<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Logotipo_CONEP_Rep%C3%BAblica_Dominicana.jp
)
Como instância superior e reguladora dos CEP’s, a CONEP é composta por 13 membros sendo cinco
personalidades destacadas no campo da ética e saúde e oito personalidades de atuação em outras áreas.
Atualmente, qualquer pesquisa só consegue publicação nas revistas científicas nacionais ou internacionais,
após aprovação prévia dada por um comitê de ética institucional.
O objetivo maior de todos estes documentos citados é assegurar os direitos à
integridade e à preservação da dignidade dos pacientes envolvidos em pesquisas
e regulamentar os deveres e responsabilidades da comunidade científica e do
Estado, na medida em que a existência de riscos é uma característica inerente às
pesquisas em seres humanos.
 Profissional de um laboratório segurando um tubo de ensaio (Fonte: dkHDvideo / Shutterstock)
As pesquisas biomédicas
A classificação ou definição precisa do conceito de risco é sempre algo controverso e que implica em
aspectos subjetivos e muitas vezes culturais ou ideológicos.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Logotipo_CONEP_Rep%C3%BAblica_Dominicana.jpg
Vejamos:

1
Antiga Resolução 01/88
Classificava os riscos de uma pesquisa em risco mínimo e risco maior que mínimo.

2
Resolução 196/96
Ao revogar a anterior, eliminou a classificação de riscos e faz uma assertiva mais geral ao determinar, em
sua parte V – RISCOS E BENEFÍCIOS, que “considera-se que toda pesquisa envolvendo seres humanos
envolve risco”.
A Resolução 196/96 complementa, ainda, definindo que os danos podem ser imediatos ou tardios e
individuais ou coletivos. Desta forma, estabelece o entendimento de risco como a possibilidade de dano
(previsto ou não) ao sujeito da pesquisa ou, indiretamente, à coletividade como consequência da mesma.
Em maior ou menor grau, estes riscos só se tornam aceitáveis quando a finalidade da pesquisa o justificar
pelos seguintes critérios básicos:

Se a pesquisa oferecer elevada possibilidade de entendimento, prevenção ou alívio do problema que afeta
o sujeito.

Se o benefício esperado for de grande importância ou se o benefício for igual ou maior que o de outra
alternativa já conhecida.
Assim, percebe-se a direta correlação estabelecida na relação de risco x benefício ao paciente ou à
sociedade.
Outro importante aspecto a ser considerado, diz respeito ao fato de que nem sempre estamos cientes de
todos os riscos envolvidos em um procedimento.
Em 1994, no livro “Ethics of scientific research” (Éticas da Pesquisa Científica), a Dr.ª Kristin Sharder-
Frechette (in José Roberto Goldim – O Princípio da Precaução) ressalta que não se pode considerar como
inexistente um risco desconhecido, ou seja, do qual não temos ainda as possíveis dimensões de sua
ocorrência. Por isso, procedimentos de análise prévia e prevenção de riscos são tão importantes em
pesquisas científicas.
 Capa do livro “Ethics of scientific research” (Fonte:
https://goo.gl/5W1eZE
<https://www.livrariacultura.com.br/p/livros/ciencias-
biologicas/filosofia-da-ciencia/ethics-of-scientific-research-
2514255?
id_link=8787&adtype=pla&id_link=8787&adtype=pla&gclid=EAIaIQobChMIp9-
i8bHE2gIVFYGRCh3GmgEQEAYYBSABEgLLCvD_BwE#> )
A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) ou simplesmente
Rio 92, como ficou mais conhecida, ocorreu na Cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1992 e dentre outros
aspectos voltados para o desenvolvimento sustentável estabeleceu um documento, chamado Agenda 21,
no qual foi formalmente retomado o antigo preceito grego conhecido como Princípio da Precaução.
 Logo da Rio 92 (Fonte: https://goo.gl/N5B5fq
<http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/rio20/a-
rio20/conferencia-rio-92-sobre-o-meio-ambiente-do-planeta-
desenvolvimento-sustentavel-dos-paises.aspx>
Seu sentido original, reporta-se ao cuidado necessário para que seja possível antecipar danos à saúde ou à
segurança das pessoas.
Retomando como um princípio do direito ambiental, este conceito, no entanto, aplica-se a qualquer forma
de análise de riscos referentes a atividades científicas e tecnológicas que envolvam a possibilidade de
danos às pessoas.
Segundo este conceito, mediante a ausência de certeza científica da inexistência de riscos de danos,
devem ser tomadas todas as medidas necessárias na prevenção de efeitos indesejáveis.
https://www.livrariacultura.com.br/p/livros/ciencias-biologicas/filosofia-da-ciencia/ethics-of-scientific-research-2514255?id_link=8787&adtype=pla&id_link=8787&adtype=pla&gclid=EAIaIQobChMIp9-i8bHE2gIVFYGRCh3GmgEQEAYYBSABEgLLCvD_BwE#
http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/rio20/a-rio20/conferencia-rio-92-sobre-o-meio-ambiente-do-planeta-desenvolvimento-sustentavel-dos-paises.aspx
Especificamente quando falamos de intervenções clínicas ou científicas em saúde, estes efeitos
indesejáveis recebem o nome de “eventos adversos”. Segundo Renata Mahfuz Daud Gallotti:

Eventos adversos (EAs) são definidos como complicações indesejadas
decorrentes do cuidado prestado aos pacientes, não atribuídas à evolução
natural da doença de base.
(Revista da Associação Médica Brasileira, ISSN 0104-4230. Rev. Assoc. Med. Bras. vol. 50 nº. 2. São Paulo: abr. / jan.
2004.)
Estes eventos podem ou não ser decorrentes de erros ou ocorrer como consequências diretas das
intervenções sobre o sujeito. Reduzir sua ocorrência é, além da principal função da aplicação do Princípio
da Precaução, uma preocupaçãoconstante em profissionais eticamente comprometidos e uma das
atribuições básicas dos CEP’s.
Atividade
Quando pensamos em proteção e/ou prevenção de riscos em pesquisas com seres humanos, em
geral, consideramos prioritariamente os sujeitos da pesquisa, mas não podemos nos esquecer que,
em muitos casos, também os pesquisadores são expostos a riscos e precisam de proteção. Veja este
caso que ficou mundialmente famoso:
“A química Karen E. Wetterhahn, do Dartmouth College/USA, era uma pesquisadora de 48 anos que
pesquisava sobre os efeitos dos metais pesados sobre moléculas e células. Durante um experimento,
em agosto de 1996, ela acidentalmente foi exposta ao dimetilmercúrio, que é um composto incolor
extremamente tóxico, raramente utilizado. Esta substância era considerada como padrão de controle
nos testes que utilizam Ressonância Nuclear Magnética para verificar a ligação entre moléculas. A
Dra. Wetterhahn era uma pesquisadora experiente e meticulosa. Durante este experimento, uma
pequena quantidade desta substância respingou em sua luva de látex, quando transferia o material
para um equipamento de Ressonância Nuclear Magnética. Como estava utilizando equipamento de
segurança recomendado, não deu maior importância ao fato. A substância era permeável aos poros
da luva e entrou em contato com a sua pele em questão de segundos. Ela ficou doente alguns meses
após e faleceu em menos de um ano do ocorrido. Após a sua morte, seus colegas iniciaram uma série
de testes e verificaram que o dimetilmercúrio atravessa o látex das luvas descartáveis em menos de
15 segundos.“
Fonte: Zacks R. Looking for alternatives
<https://www.ufrgs.br/bioetica/wetter.htm> . Scientific
American 1997;277(3):13. Caso Wetterhahn - Proteção ao
pesquisador – Bioética – Dr. José R. Goldim 1997.
 
Se consideramos o Princípio da Precaução, estudado na aula, o que podemos aprender com este
lamentável episódio? Que procedimento não foi respeitado e o que deveria ter sido feito que poderia
ter evitado esta morte trágica?
Próximos Passos
Direitos fundamentais do receptor e do doador de órgãos e tecidos;
Critério e caracterização de morte;
Legislação e princípios éticos sobre o transplante de órgãos e tecidos.
Explore mais
Acesse os sites:
• Bioética <https://www.ufrgs.br/bioetica/bioetica.htm> ;
• Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP)
<http://conselho.saude.gov.br/web_comissoes/conep/index.html> .
https://www.ufrgs.br/bioetica/wetter.htm
https://www.ufrgs.br/bioetica/bioetica.htm
http://conselho.saude.gov.br/web_comissoes/conep/index.html
Disciplina: Ética na Saúde
Aula 4: Transplante de órgãos e tecidos
Apresentação
Nesta aula, pretendemos fazer uma rápida passagem pelos principais aspectos éticos que estão presentes nesta situação tão
delicada do campo da saúde. Iniciaremos tratando do conceito de direitos fundamentais e em seguida, veremos os tipos de
origens que podem ter os órgãos e tecidos destinados a transplantes.
Estudaremos os modos de obtenção destes órgãos e como a legislação trata desta questão e veremos alguns aspectos gerais
da Bioética que estão intrinsecamente associados à situação de doação de órgãos.
No encerramento, conheceremos como o Ministério da Saúde estabelece os critérios para elegibilidade de receptores e os
estágios propostos por um dos mais importantes nomes da Bioética nacional para alocação destes órgãos e tecidos.
Bons estudos!
Objetivos
Identificar a noção de Direitos fundamentais do receptor e do doador;
Reconhecer a legislação e os princípios éticos que regem os transplantes de órgãos e tecidos;
Verificar os critérios e caracterização de morte.
O transplante de órgãos no Brasil
Para iniciar esta aula, vamos conhecer a situação do transplante de órgãos no Brasil.
Assista ao vídeo abaixo:

Transplante de órgãos no Brasil (Fonte: Youtube)
URL
Direitos fundamentais
O transplante de órgãos e tecidos implica uma sequência de eventos que, desde a doação até a efetivação do transplante,
abarca alguns direitos fundamentais pertinentes ao doador e ao receptor.
Estes direitos estão associados a:

1
Direito à vida, à formação dos direitos de personalidade, à integridade física e ao direito ao corpo, em particular, à liberdade
de consciência e ao poder de dispor do próprio corpo.

2
Dignidade e aos direitos essenciais da pessoa que são, inclusive, considerados como cláusulas inatingíveis por diversas
constituições democráticas pelo mundo, ou seja, não podem ser alterados por legislações.
A questão dos transplantes frequentemente tangencia questões éticas relativas à experimentação no corpo humano, às
decisões políticas relacionadas com a saúde, e, em sentido mais amplo provocam debates sobre estes direitos fundamentais.
Estes debates estão associados a aspectos que vão desde a origem dos órgãos e tecidos, até a forma de obtenção e ao tipo de
procedimento realizado para o transplante.
Vamos começar pela origem dos órgãos destinados a transplantes. Existem basicamente três fontes de órgãos e tecidos
utilizáveis. Este material pode ser coletado de:
Animais
Neste caso chamamos de xenotransplantes.
 Porcos em um curral (Fonte: Shutterstock)
Os xenotransplantes, por enquanto, são apenas uma possibilidade teórica.
Muitos estudos vêm sendo realizados no sentido de transplantar órgãos e tecidos entre espécies distintas. Os defensores desta
técnica ressaltam os argumentos de que esta possibilidade diminuiria muito o tempo de espera por órgãos e muitas vidas
poderiam ser salvas.
Há, no entanto uma série de dificuldades técnicas que ainda precisam ser vencidas. A principal delas se refere às rejeições e à
possibilidade de transmissão de vírus não humanos para os receptores. Além destas, há ainda aspectos éticos envolvidos como
o direito ou não de humanos em utilizar-se de animais para fins de retirada de órgãos.
Seres humanos vivos
São os chamados alotransplantes intervivos.
 Homem em uma maca com uma enfermeira medindo os seus batimentos cardíados (Fonte: Shutterstock)
O alotransplante intervivos, naturalmente implica na utilização de órgãos e tecidos específicos e na necessidade de
respeitar-se ao preceito ético da não maleficência do doador.
Isto é, não podemos promover uma doação se a mesma produzir no doador algum tipo de dano ou prejuízo a sua saúde geral.
Estes aspectos já estavam dispostos na Lei 9.434/97 <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9434.htm> (Lei
dos Transplantes) que estabelece em seu capítulo III, parágrafo 3, que:

Só é permitida a doação referida neste artigo quando se tratar de órgãos duplos, de partes de
órgãos, tecidos ou partes do corpo cuja retirada não impeça o organismo do doador de
continuar vivendo sem risco para a sua integridade e não represente grave comprometimento
de suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou deformação inaceitável, e
corresponda a uma necessidade terapêutica comprovadamente indispensável à pessoa
receptora.
Seres humanos mortos
Que chamamos de alotransplantes de doador cadáver.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9434.htm
 Cadáver de uma pessoa em um necrotério (Fonte: Shutterstock)
O alotransplante de doador cadáver é de fato o mais comumente utilizado para a grande maioria dos casos e a principal
questão ética envolvida diz respeito ao critério de morte, na medida em que esta precisa ser atestada para que se promova a
remoção do órgão.
O Conselho Federal de Medicina, através da Resolução CFM 1480/97
<http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/1997/1480_1997.htm> , alterou o critério de morte que
anteriormente estava vinculado à falência cardiorrespiratória para a morte encefálica, possibilitando com isso, grande avanço
na viabilidade e efetividade das doações. Assim, neste tipo de doação por cadáver, a questão, hoje, resume-se praticamente à
forma de obtenção dos órgãos.
Voluntariedade e espontaneidade no ato de doar
A questão ética mais premente, se refere ao questionamento da prevalência e manutenção da voluntariedade e da
espontaneidade no ato de doarou se considerar o princípio pelo qual o bem-comum está acima da vontade individual e,
consequentemente, se aceita a apropriação de órgãos de cadáveres.
No bojo desta questão, reside o questionamento acerca do fato de sermos ou não donos de nosso corpo. O que pode não ser
uma questão tão simples quanto parece como vimos em nossa aula 2 nos princípios éticos da santidade da vida e da
totalidade.
http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/1997/1480_1997.htm
 Corpo humano (Fonte: Shutterstock)
Ser dono implica na relação de posse o que, a princípio, só se estabelece em relação a coisas
(objetos) e em poder dispor destes objetos em função exclusivamente de sua vontade. Não é
assim que o corpo é concebido atualmente. As partes do corpo não podem ser dissociadas na
noção integral de pessoa. Pertencem ao conjunto da nossa identidade. Não são coisas e muito
menos podem ser utilizadas independentes da vontade.
As formas de obtenção de órgão são comumente distribuídas pelas seguintes modalidades:
1
Doação voluntária
2
Consentimento presumido
3
Manifestação compulsória ou abordagem de mercado
A doação voluntária é aquela realizada através da vontade expressa do doador quando em vida.
Até 1997, no Brasil, os órgãos só poderiam ser utilizados se a pessoa tivesse assim procedido. A partir daquele ano, a
legislação brasileira substituiu a doação voluntária pelo consentimento presumido. Por esta modalidade presume-se que todo
cidadão é um doador em potencial a menos que tenha expressado vontade contrária. Assim, se não há manifestação explicita
da negativa de doação, as equipes de saúde podem proceder a retirada dos órgãos.
Em 1998, através de medida provisória e em 2001 promulgada pela Lei 10.211/2001
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10211.htm> (que alterou alguns dos dispositivos da Lei dos
transplantes original de 1997) a legislação brasileira substitui este critério pelo do consentimento familiar, onde o cônjuge
ou parente na linha sucessória assume a responsabilidade pela autorização da doação.
1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10211.htm
http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/etica_na_saude__DIS107/aula4.html
 Médico entregando um coração doado para um receptor (Fonte: Shutterstock)
As duas demais modalidades, representam apenas propostas ainda não amplamente debatidas. A chamada manifestação
compulsória defende o conceito de que todo cidadão deve fazer formalmente a opção entre ser ou não um doador e a
abordagem de mercado defende a possibilidade de incentivos financeiros à família do doador como forma de estimular as
doações voluntárias.
De modo geral, podemos resumir os aspectos vinculados à questão da doação de órgãos a um conjunto de princípios éticos
gerais, nos quais, se vinculam intrinsecamente as questões dos transplantes. São eles:
Princípio da intangibilidade corporal
Associa de modo absoluto o corpo à identidade pessoal, e assim, estende ao corpo do indivíduo (e às suas partes) os
mesmos princípios de dignidade e indisponibilidade por terceiros que regem os direitos da pessoa. O sentido de
integridade, portanto, fica compreendido sob a perspectiva da integridade pessoal ampla, não sendo possível separar o
“eu físico” do psíquico, compondo ambos uma única identidade. Assim, intervenções no corpo são sempre interpretadas
como intervenções na integridade pessoal.
Princípio da solidariedade
Considera que o ato de doar órgãos inclui-se na possibilidade que os indivíduos têm de sacrificar sua individualidade em
detrimento do bem da comunidade (de outros), desde que estas doações não impliquem em comprometimento da vida
ou da saúde geral da pessoa.
Princípio da totalidade
Entende o corpo como uma unidade, sendo cada parte do mesmo avaliada de acordo com o todo. Assim, cada parte
(membro, órgão ou função), só pode ser sacrificada em função da unidade do corpo, ou seja, desde que isso seja útil
para o bem-estar de todo o organismo ou que em caso de doação a terceiros, não comprometa a integridade geral.
A estes princípios éticos gerais, somam-se ainda aspectos específicos que se traduzem em princípios do biodireito próprios
para as situações de transplantes. Dentre eles, destacam-se:
1
Princípio da autonomia
Pelo qual qualquer coleta de tecidos ou órgãos tem de passar pelo consentimento do doador.
2
Princípio da confidencialidade
Pelo qual se preserva o direito do indivíduo doador em decidir qual a informação sua que autoriza a veiculação ao receptor e
qual quer manter em anonimato.
3
Princípio da gratuidade
Estabelece que o órgão ou tecido apenas poderá ser dado e nunca vendido, visto que não se trata de objetos e sim partes da
própria individualidade.
4
Princípio da não discriminação
Em que a seleção dos receptores só pode ser feita mediante critérios médicos.

Saiba mais
Em relação ao princípio da não discriminação, o Ministério da Saúde, através do Sistema Nacional de Transplantes,
estabeleceu na Portaria n.º 3.407 de 5 de agosto de 1998
<http://www.adote.org.br/assets/files/portaria_3407.pdf> o chamado sistema de lista única. Este sistema
informatizado integra toda rede de saúde nacional e segue critérios de distribuição específicos para cada tipo de órgão ou
tecido, alocando cada receptor em função de sua posição na lista de espera pelos critérios próprios do órgão ou tecido ao
qual se candidatou.
Segundo José R. Goldim, a alocação dos órgãos para transplante deve ser feita em dois estágios. “O primeiro estágio
deve ser realizado pela própria equipe de saúde, contemplando os critérios de elegibilidade, de probabilidade de sucesso
e de progresso à ciência, visando à beneficência ampla. O segundo estágio, a ser realizada por um Comitê de Bioética,
pode utilizar os critérios de igualdade de acesso, das probabilidades estatísticas envolvidas no caso, da necessidade de
tratamento futuro, do valor social do indivíduo receptor, da dependência de outras pessoas, entre outros critérios mais.”
Leia o texto “Aspectos Éticos dos Transplantes de Órgãos <https://www.ufrgs.br/bioetica/transprt.htm> ”
para saber mais sobre esse assunto.
http://www.adote.org.br/assets/files/portaria_3407.pdf
https://www.ufrgs.br/bioetica/transprt.htm
Atividade
Sabemos que um dos maiores entraves técnicos que impedem os xenotransplantes é, além da infecção por vírus
estranhos ao organismo humano, o imenso risco de rejeição por parte do receptor. Pesquisas recentes demonstram que o
organismo receptor pode chegar a destruir o órgão implantado em menos de 24 horas. Assim, se seguirmos uma lógica
simples, quanto maior a semelhança biológica entre os seres, menor o risco de infecções por vírus estranhos e menor
também os riscos de rejeição do organismo.
Nesse caso, reflita:
Por que órgãos de porcos e não de macacos são testados para transplantes em seres humanos?
Notas
Legislação brasileira
Houve ainda a Lei 11.633 de 2007 <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2007/Lei/L11633.htm> que incluiu um artigo na lei original sobre o direito a informação sobre os benefícios da
doação de placenta e sangue do cordão umbilical.
Xenotransplantes
Transplantes de órgãos entre espécies diferentes.
Próximos Passos
O avanço das tecnologias e os novos problemas éticos sobre reprodução humana;
Conceitos sobre objetivos da reprodução e geração da vida;
Procedimentos sobre reprodução assistida;
Legislação e aspectos éticos e morais.
Explore mais
Acesse os sites:
Saiba quais são os critérios da lista de espera por transplantes
<http://www.brasil.gov.br/saude/2016/09/saiba-quais-sao-os-criterios-da-lista-de-espera-por-
transplantes > ;
Sistema Nacional de Doação e Transplante de Órgãos <http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-
programas/doacao-transplantes-de-orgaos > .
2
1
2
http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/etica_na_saude__DIS107/aula4.html
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11633.htm
http://www.brasil.gov.br/saude/2016/09/saiba-quais-sao-os-criterios-da-lista-de-espera-por-transplantes
http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/doacao-transplantes-de-orgaosDisciplina: Ética na Saúde
Aula 5: Ética e reprodução humana
Apresentação
Veremos nesta aula de que modo as novas tecnologias na área de saúde trazem,
junto com seus inegáveis benefícios, uma série de novos problemas e questões éticas
que necessitam ainda ser melhores exploradas.
Faremos um apanhado dos principais pontos de vista acerca do conceito de “início da
vida humana” e analisaremos suas implicações em todos os temas relacionados à
reprodução humana.
Conheceremos ainda alguns princípios da Bioética associados à reprodução humana
assistida e as principais legislações a respeito deste tema.
Faremos algumas considerações a respeito das possíveis equivalências entre os
aspectos éticos envolvidos na adoção e da reprodução assistida e encerraremos a
aula com uma análise ética do aborto, atualmente um dos temas mais sensíveis e
polêmicos da Bioética.
Bons estudos!
Objetivos
Relacionar a influência do avanço das tecnologias com os problemas éticos sobre
reprodução humana;
Reconhecer os principais conceitos sobre objetivos da reprodução e geração da
vida;
Identificar alguns dos procedimentos sobre reprodução assistida;
Verificar a legislação sobre reprodução assistida e seus aspectos éticos e morais.
Novas tecnologias
Sempre que a tecnologia avança, seja em que campo for, ela traz consigo outros
fatores paralelos à evolução do conhecimento. O mais pragmático destes fatores está
no próprio uso destas novas tecnologias. Assim como o laser pode ser usado para
curar, pode também ser utilizado para fins bélicos. Não podemos confundir a
tecnologia em si, com o uso que se fará dela.
O fato é que novas tecnologias implicam em novas ferramentas que podem
alterar hábitos, eliminar ou transformar comportamentos, inaugurar novas
possibilidades e uma série infindável de ações que se transformam em
função delas.
 Laboratório (Fonte: Alex_Traksel / Shutterstock)
Os frequentes avanços tecnológicos na área da saúde se, por um lado, têm propiciado
imensos benefícios para a sociedade, por outro lado, têm também feito surgir novos
problemas e questões éticas a serem discutidas e consideradas. Novas questões que
surgem a partir de novas possibilidades de intervenção do homem sobre os fatos.
Assim tem sido em relação às alternativas de manipulação genética, no
desenvolvimento de técnicas de transplantes e também nos aspectos relacionados à
fertilização e reprodução humana.
 DNA humano (Fonte: Robert Eastman /
Shutterstock)
Estes procedimentos levantam não apenas questões éticas individuais, relativas aos
direitos da pessoa e ao modo como pretendem se beneficiar destas tecnologias, mas
também nos incitam às questões relativas à saúde coletiva, na medida em que, em
geral, estas tecnologias vêm associadas a novos instrumentos de diagnóstico e
tratamento e, por isso, implicam em princípios de justiça e alocação de recursos na
área de saúde que, normalmente são escassos e caros.
Vida humana
As questões éticas envolvidas nos procedimentos ligados à reprodução humana
abarcam uma série de aspectos, mas seu conceito básico é:
O objetivo da reprodução é a geração da vida.
Nesse sentido, podemos refletir:
O que pode ser considerado “vida humana”?
 Corpo frontal de um homem (Fonte: Graphiteska /
Shutterstock)
Em que momento a vida biológica deve ser
reconhecida como pessoa?
Existem na literatura atual cerca de vinte diferentes critérios para o estabelecimento
do início da vida humana.
Para a Igreja católica
1
1987
A Igreja Católica possui um extenso documento intitulado “Instrução sobre o
respeito à vida humana em suas origens e a dignidade da procriação em
resposta a determinadas questões da atualidade
<http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc
_con_cfaith_doc_19870222_respect-for-human-life_po.html> ” . Neste
documento (Donum Vitae) datado de 1987, fica formalmente estabelecido que, pela
perspectiva da Igreja, o início da vida humana se dá no momento em que ocorre a
fecundação
2
2008
Mais recentemente, em 2008, publica outro documento sobre aspectos de Bioética
<http://www.cliturgica.org/portal/artigo.php?
id=994&PHPSESSID=5e23b56eebf7a8a17eb6228896f7a101> ligados à
dignidade humana onde reforça este entendimento e considera como lícitas as
tecnologias de fertilização que auxiliam os casais a procriarem desde que estas
respeitem a preservação do ato procriativo em si e considera moralmente ilícitas as
tecnologias que dissociam a procriação do ato sexual como a criogenia ou a
fecundação “in vitro”.
Além da perspectiva eclesiástica há ainda outros critérios de abordagens mais
direcionadas aos aspectos do desenvolvimento embrionário. Alguns destes critérios
vinculam o início da vida humana:
http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19870222_respect-for-human-life_po.html
http://www.cliturgica.org/portal/artigo.php?id=994&PHPSESSID=5e23b56eebf7a8a17eb6228896f7a101
3 a 4 semanas
Ao início dos batimentos cardíacos.
8 semanas
Ao surgimento da atividade do tronco cerebral.
12 semanas
Ao início da atividade neocortical.
20 semanas
Ao surgimento dos movimentos respiratórios.
28 semanas
Ao aparecimento do ritmo sono-vigília.
18 a 24 meses pós-parto
Há ainda quem defenda que o ser humano se caracteriza apenas a partir do
surgimento da consciência e do “comportamento moral” .1
http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/etica_na_saude__DIS107/aula5.html
Reprodução assistida
Independente da questão da gênese do ser humano, talvez o mais importante tema
ético da atualidade no que se refere à reprodução, seja mesmo o debate sobre os
procedimentos de reprodução assistida.
Século XVIII
Desde esse século J. Goldim relata que já existem relatos médicos sobre a tentativa
de realização deste tipo de intervenção.
1978
Apenas nesse ano, com o nascimento de Louise Brown (que ficou notoriamente
conhecida como o primeiro “bebê de proveta”) na Inglaterra, as técnicas de
fertilização “in vitro ” chegaram ao conhecimento do grande público e também
ganharam mais interesse nas pesquisas médicas especializadas.
1981
O nascimento desta criança foi de tal importância para o desenvolvimento cientifico e
tecnológico na área da saúde que foi instituído na Inglaterra, em 1981, um comitê de
investigação sobre fertilização humana e embriologia (Committee of Inquiry into
Human Fertilization and Embriology), vinculado ao Ministério da Saúde britânico com
o objetivo de desenvolver um relatório sobre as implicações éticas, sociais e legais
provenientes da utilização desta nova biotecnologia.
O resultado deste comitê foi a publicação, três anos após sua instalação, do chamado
Relatório Warnock (em referência a Mary Warnock, presidente do comitê). Grande
parte dos aspectos da Bioética e do Biodireito atuais é pautada no texto deste
relatório.
Década de 90
A partir da década de 90 as sociedades médicas mundiais passaram a inserir
diretrizes éticas relativas às tecnologias de reprodução em suas normatizações.
No Brasil, em 1992, o Conselho Federal de Medicina, seguindo as mais avançadas
legislações mundiais e igualmente fundamentado no Relatório Warnock, instituiu com
a Resolução CFM 1358/92
<http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/1992/1358_1992.htm>
, as Normas Éticas para Utilização das Técnicas de Reprodução Assistida.
1
http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/etica_na_saude__DIS107/aula5.html
http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/1992/1358_1992.htm
 Mapa do Brasil (Fonte: JBOY / Shutterstock)
Atualmente, está em vigor a Resolução CFM 1957/2010
<http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2010/1957_2010.htm>
que revoga a anterior (após 18 anos) alterando alguns poucos aspectos, dentre os
principais a substituição do termo “pré-embriões” por “embriões” e a introdução de
um item que afirma que:

Não constitui ilícito ético a reprodução assistida post mortem
desde que haja autorização prévia específica do (a) falecido
(a) para o uso do material biológico criopreservado, de
acordo com a legislação vigente.http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2010/1957_2010.htm
Uma série de ramificações temáticas de cunho ético está associada, de modo mais ou
menos direto à questão da reprodução assistida. Existem aspectos éticos vinculados
ao:
01
Consentimento informado.
02
Seleção de sexo da criança.
03
A doação de espermatozoides, óvulos, embriões.
04
A seleção dos embriões com bases na evidência da possibilidade de doenças
congênitas. A maternidade substitutiva.
05
A clonagem.
06
A criopreservação de embriões. E muitos outros.
 Fertilização in vitro (Fonte: Bezikus / Shutterstock)

Exemplo
A questão da doação de gametas , por exemplo. A Resolução CFM 1957/10
institui que a doação deve preservar o anonimato entre receptores e doadores.
O argumento principal é de que isso evitaria problemas futuros relativos às
situações emocionais e legais com repercussões no desenvolvimento psicológico
da criança. Esta perspectiva, no entanto, também não é consensual. Enquanto
alguns especialistas acreditam que ela permite aos pais criar seus filhos
exclusivamente em função de suas influências socioculturais, outros discordam e
afirmam que o desconhecimento da origem genética interfere na completa
percepção de sua identidade pessoal.
Em alguns países o anonimato não é obrigatório e ,ainda assim, não há uma
posição técnica definida em relação aos benefícios ou não deste sigilo para o
desenvolvimento psicossocial da criança e/ou para o acompanhamento clínico de
futuros problemas congênitos que venha a apresentar.
3
http://10.8.0.71/disciplinaportal/2018.2/etica_na_saude__DIS107/aula5.html
Outra questão associada à reprodução assistida envolve a possibilidade de gestação
em casais homossexuais femininos. A legislação autoriza que mulheres utilizem
sêmen doado para gestação independente da existência de vínculo familiar formal.
Há, no entanto, intenso debate ético neste aspecto, que envolve o conceito de
família, a admissão do casamento entre homossexuais e a equivalência de
procedimentos para adoção e fertilização.
No Brasil, assim como em muitos outros países, a adoção de crianças por
homossexuais tem sido admitida legalmente, o que indica também a tendência à
aceitação da fertilização assistida para casais homossexuais femininos. Desta forma,
por uma perspectiva ética, seria lícito estabelecer uma equivalência entre o que
poderia ser chamado, segundo Goldim, de “fertilização legalmente assistida” (adoção)
e a fertilização assistida pela concepção médica de intervenção clínica no processo.
 : Duas mulheres de mãos dadas (Fonte: Vladimir
Gjorgiev / Shutterstock)
As questões éticas envolvidas seriam então, fundamentalmente as mesmas:
Até onde deve ir a intervenção do Estado em
adoções ou doações de gametas (espermatozoides
e óvulos) feitas de modo informal (algumas com
forte apelo comercial)?
É moralmente ética a seleção de características
físicas das crianças por parte dos futuros pais
adotivos ou fertilizados?
Estes são apenas poucos exemplos das reflexões éticas envolvidas na questão da
equivalência de procedimentos entre a adoção e a fertilização.
Aborto
No sentido inverso da reprodução como criação da vida, o aborto se associa a ela
pelo enfoque conceitual ou ideológico do princípio da vida humana e de quando a
interrupção gestacional é simplesmente um procedimento clínico e quando passa a
ser um crime contra a vida.
 Ferramentas de curetagem estéril (Fonte: StockKK / Shutterstock)
Existem condições previstas na legislação brasileira para a autorização de abortos
legais (estupro e risco de vida materno) e propostas que flexibilizam estas condições
estendendo-as à existência de anomalias fetais que implicam na possibilidade de
doenças congênitas graves e irreversíveis (anencefalia, por exemplo).
Naturalmente que todas estas motivações ou condições, independente de aspectos
legais, são profundamente conflitantes em termos éticos, pois implicam no direito a
impedir o desenvolvimento da vida em função de critérios nem sempre absolutos.
 Balança, símbolo do Direito (Fonte: Pensiri /
Shutterstock)
O código penal brasileiro, que em seu artigo 128 desqualifica o
aborto como crime em caso de gestação proveniente de estupro
não especifica até que momento da gestação esta pode ser
interrompida. Também não estabelece os procedimentos legais
necessários para a qualificação comprovada do estupro. Assim,
a existência de um boletim de ocorrência policial contra um
suposto sujeito desconhecido pode facilmente promover uma
autorização legal para o aborto. Isso, sem ainda considerarmos
as mais de 3.000 liminares concedidas para o abortamento legal
em função de anomalias fetais. Os debates éticos a respeito do
aborto estão longe de ser encerrados e tanto na esfera jurídica
quanto filosófica dificilmente encontraremos consenso em um
aspecto que depende tão diretamente de valores morais,
religiosos e culturais.
O fato é que, existe uma premência neste tema que não pode aguardar as conclusões
ideológicas dos debates. Esta premência é o imenso número de mulheres que todos
os dias recorre a abortos em locais impróprios e profundamente arriscados do ponto
de vista da preservação de sua própria integridade em função dos impedimentos
legais de recorrerem ao sistema oficial de saúde.
Independente de qualquer valor, esta é uma realidade que não pode ser ignorada e
que transforma a questão do aborto não apenas em um dos temas mais delicados e
polêmicos da Bioética como também, cada vez mais, em uma questão de saúde
pública.
Atividade
“As estatísticas são pouco confiáveis, mas os especialistas admitem que sejam
realizados anualmente cerca de um milhão de abortos clandestinos no Brasil. As
complicações decorrentes de abortos malfeitos, sem condições de higiene ou
segurança, representam a quarta causa de morte materna. Cerca de 200.000
mulheres morrem em consequência de hemorragias e infecções. O cenário foi
bem pior em um passado não muito distante. Na década de 80, os abortos
clandestinos podem ter chegado a 4 milhões por ano. Uma série de fatores se
combinou para reduzir esse número. Os mais efetivos foram o aperfeiçoamento
dos métodos anticoncepcionais e a disseminação no país de políticas de
planejamento familiar”.
Fonte: REVISTA Veja. Aborto é uma realidade nos consultórios médicos.
Publicação: 23 jan. 2009. Disponível em: https://goo.gl/rtY5px
<https://veja.abril.com.br/brasil/aborto-e-uma-realidade-nos-
consultorios-medicos/> . Acesso em: 4 maio 2018.
Baseado no parágrafo acima, observe as afirmativas abaixo e marque verdadeiro
(V) ou falso (F) para as que se relacionam corretamente à questão de Saúde
Pública e à legislação sobre o aborto no Brasil.
a) A legislação criminaliza o aborto fora dos casos previstos de risco de vida
materno ou de gravidez consequente de estupro, mas na prática esta
penalização ocorre em raríssimos casos, ficando a cargo das mulheres (ou do
casal) a decisão particular de efetuar ou não a interrupção da gravidez.
b) O aborto é executado de modo ilegal nas mais diferentes condições de higiene
e segurança. Desde clínicas caras e muito bem aparelhadas para as classes mais
favorecidas até os lugares mais sórdidos e insalubres possíveis.
c) A ocorrência de aborto em números exorbitantes demonstra a urgência em se
estabelecer, além de uma melhor política de controle e planejamento familiar,
também uma legislação que regule esta prática de modo menos ideológico e
mais voltado para a segurança da população.
Notas
Surgimento da consciência e do “comportamento moral” 1
https://veja.abril.com.br/brasil/aborto-e-uma-realidade-nos-consultorios-medicos/
Este, naturalmente, incorre no equívoco primário de confundir o sentido de
humanidade com a assimilação da cultura e de valores sociais.
2 in vitro
Neste tipo de fertilização, a fecundação do óvulo pelo espermatozoide ocorre fora do
corpo da mulher e, em seguida, reimplantados para que a gestação prossiga.
Doação de gametas
Indicada para casos de casais inférteis ou no caso de que um dos membros possua
doença

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