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DEGRADAÇÃO DOS MATERIAIS POROSOS Os tijolos, as argamassas e as rochas porosas sofrem com a ação de inúmeros processos de deterioração; todos esses, por sua vez, dependem de inúmeras variáveis: propriedades dos materiais, condições ambientais, condições estruturais etc. - O ritmo e os “sintomas” da degradação variam dentro de um amplo espectro de possibilidades; - Relações diretas de causa e efeito, portanto, não são fáceis de determinar! O processo do “estresse corrosivo”: 1. O Movimento da água no interior dos sólidos porosos - Tijolos, pedras e argamassas são compostos principalmente de cristais de carbonato, silicato, aluminatos e óxidos. - A superfície de todos estes cristais é rica em átomos de oxigênio isolados (polaridade elétrica negativa) ou associados a um átomo de hidrogênio (OH). - Superfícies assim são denominadas polares ou hidrófilas, pois tendem a atrair moléculas de água. 1.1 Superfícies Hidrófilas ou (superfícies hidrófilas) (atração da água pela superfície hidrófila) (moléculas de água) Distribuição da água nos poros hidrófilos: O formato típico de “meniscus” da superfície da água dentro de pequenos poros é determinado pela atração exercida pelas paredes do próprio poro. O centro da superfície d’água é puxado para dentro (do líquido) pela atração exercida pelas demais moléculas de água. CAPILARIDADE Quanto menor o diâmetro do poro, maior será a força de sucção. Se a sucção da água não for contrabalançada por outro mecanismo (ex.: evaporação), a água poderá subir vários metros dentro de estruturas porosas (exemplo: paredes de alvenaria). Sucção capilar: Poros bem pequenos/estreitos são denominados capilares. A água será transportada para dentro destes capilares quando a atração exercida pela sua superfície interna for maior que atração existente entre as próprias moléculas de água. A intensidade da força de sucção depende, portanto, da natureza da superfície e do diâmetro do poro. A força de capilaridade é muitas vezes grande o bastante para compensar a força da gravidade dando origem à ascensão capilar; Pergunta 01: se uma parede estiver sempre úmida e nós revestirmos ela com azulejos, o que vai acontecer? - o processo de deterioração vai continuar acontecendo, a água vai apenas “buscar” outro lado para sair. SÓLIDOS POROSOS Distribuição da água em um material hidrófilo poroso: se a quantidade de água presente nos poros de um sólido não for suficiente para enchê-lo totalmente, a água distribui-se de maneira a atingir o estado energético mais baixo possível (neutro); Este é o estado em que ocorre a melhor distribuição possível das diferentes forças de atração. Nível 01: O material está completamente seco; os poros vazios Nível 02: Apenas os pequenos poros (capilares) estão cheios de água Nível 03: Todos os capilares estão cheios e as superfícies dos poros maiores recebem uma película de água. Qualquer aumento na quantidade de água, a partir deste ponto, permite o transporte de água – conteúdo crítico de água. Nível 04: Capilares e poros totalmente cheios de água. O transporte da água no estado líquido Sucção: O movimento de uma região em que o conteúdo de água esteja acima do Nível 03 para outra região abaixo do Nível 03. ou N3 N4 ou N2 N1 Nível 03:O conteúdo crítico de água depende da natureza do material poroso e da geometria do seu sistema de poros, especialmente dos capilares; A presença de sais solúveis, por sua vez, permite atingir mais rapidamente o conteúdo crítico de água devido à hidratação e higroscopicidade dos íons destes sais. U M ID A D E Observação: Enquanto o mecanismo de sucção demanda a existência de zonas secas e úmidas, todos os demais mecanismos de transferência de água (difusão, osmose e aquecimento) baseiam-se na existência de uma película de água contínua, através da qual as moléculas de água são transferidas. Higroscopicidade = capacidade de absorver a umidade do ar Osmose: Os sais (solúveis) são dissociados em íons (átomos eletricamente carregados), que atraem as moléculas de água por forças elétricas (hidratação dos sais). Na Cl - cloreto de sódio (sal de cozinha) Por consequência, a água se movimenta das zonas com menor quantidade de íons (baixa concentração de sais) para zonas com maior concentração de íons (maior concentração de sais). Ou seja, superfícies contaminadas por sais solúveis atraem mais umidade ainda! Pergunta 02: se uma parede estiver exposta (ou contaminada) pelos sais solúveis (cloretos, sulfatos e nitratos), qual deveria ser a nossa primeira preocupação? - tirar o sal Aquecimento: Dentro de um sólido poroso umidificado, a água se move de uma região mais quente para outras mais frias. O transporte da água sob a forma de vapor Condensação: Quando a temperatura de uma superfície está abaixo do ponto de saturação do ar à sua volta, as moléculas de ar presentes na atmosfera (vapor) unem-se umas às outras para formar uma película (estado líquido) sobre esta superfície; Uma vez condensada, a água poderá penetrar nos poros através de um dos mecanismos analisados anteriormente. Condensação intersticial: A temperatura da superfície do elemento poroso pode estar acima do ponto de saturação do ar à sua volta, mas a temperatura em seu interior não (ou seja, pode estar abaixo); Em tais condições, a condensação das moléculas de água ocorre dentro dos poros do material (ou seja, longe de nossa visão!). Conclusão: O volume de água em um material hidrófilo poroso poderá, portanto, aumentar por via da condensação; ou seja, mesmo que este material não tenha entrado em contato direto com a água em seu estado líquido! umidade relativa (média) de Salvador = 80,85% 2. Deterioração dos Materiais Porosos: Estresse Mecânico - As rochas, as argamassas e os tijolos têm em comum: a dureza, a pouca elasticidade (rigidez) e a maior resistência à compressão; - O comportamento mecânico é normalmente avaliado através de ensaios de tração e compressão (tensão e deformação); - A tensão de ruptura é aquela sob a qual a amostra (CP) se rompe. Os resultados são apresentados também em gráficos. - E(aço) = +/- 21.000 kN/cm² - E(concreto) = +/- 3.000 kN/cm² - E(madeira) = 800 a 1000 kN/cm² A relação tensão-deformação ideal é apresentada (graficamente) como uma reta. A inclinação desta linha reta, por sua vez, representa uma constante que exprime a capacidade do material em se opor a uma mudança em sua dimensão. Esta constante é denominada Módulo de Elasticidade (E) ou Módulo de Young e varia conforme o material. Comportamento elástico: a deformação tenderia a retornar a zero. Obs.: não existe um material perfeitamente elástico! A deformação irreversível que permanece após a remoção das tensões é denominada plástica. A deformação se explica pela heterogeneidade dos materiais construtivos, compostos de cristais de diferentes tipos. Outra origem do desvio de comportamento dos materiais sob tensão: o fato de que quase nunca a tensão é eqüitativamente distribuída por toda a amostra. Ou seja, algumas zonas são submetidas a tensões acima da média (e se rompem antes) e outras a tensões abaixo da média. Importância de fazer os ensaios com vários corpos de prova! Nos materiais rígidos, as áreas deformadas (que em geral são ricas em microfissuras) são mais fracas que o resto do material, o que é particularmente grave nos casos de esforços de tração; Em tais condições, uma rachadura (fissura) se propaga facilmente e o material rompe com valores de tensão bem inferiores ao que se esperaria. Quando um material rígido é submetido a uma tensão elevada e deforma (sem quebrar), as microfissuras que são formadas acabam atuando como verdadeiros poros; A falta de plasticidade dos materiais de construção rígidos estabelece então uma conexão entre o estresse mecânico e a deterioração causada pelo acesso da água (umidade) aos poros. Atenção: a importância dos estresses mecânicos nos processos dedeterioração ajuda a explicar as discrepâncias nos testes de envelhecimento acelerado (CP sob condições estáveis e controladas) e o comportamento real dos materiais em campo (expostos aos mais diversos agentes) ensaios da perfomance dos produtos aplicados em sua preservação. 2.1 Estresse Mecânico Externo Cargas: Em toda estrutura, algumas partes recebem cargas maiores do que outras (colunas, vergas, pilares etc.). Já se sabe também que as partes sob estresses relevantes se deterioram mais rápido. Cargas: Cargas assimétricas e deslocamentos acidentais também podem causar desequilíbrios estruturais. Expansão térmica: Os materiais são ciclos de mudança de submetidos a temperatura diários e sazonais (além de choques bruscos, como por exemplo no caso de incêndios); Estes ciclos são fontes de estresse, pois os materiais expandem com o calor e se contraem com o resfriamento. As mudanças (causadas pela expansão térmica) são proporcionais às dimensões dos elementos: peças maiores geram maior estresse! Cada material tem o seu próprio Coeficiente de Dilatação. Os movimentos da expansão térmica são muito significativos; se eles tiverem qualquer tipo de restrição, os estresses resultam em deformações e/ou fissuras. Quando as juntas se abrem, elas dificilmente se fecham por completo pois sempre algum detrito acaba penetrando na fissura. Expansão térmica e as juntas de dilatação: Expansão térmica e os revestimentos: peças coladas umas às outras tendem a se comportar como uma única peça. Expansão devido à umidade: Os materiais porosos expandem quando absorvem água e se contraem quando a liberam. Porém, só nos materiais que contêm argila em sua ser composição este fenômeno passa a relevante; - Exemplo: arenito europeu (“molasse”) expande tanto quanto uma variação de 50°C. Estresse provocado pelas técnicas construtivas: O “abuso mecânico” das superfícies durante o processo de extração, fabricação, trabalho, limpeza (jateamento) etc. Vibrações: A vibração do tráfego de veículos (especialmente quando trafegam sobre pavimentos irregulares) pode ser danosa às edificações, ainda que tais efeitos não sejam tão facilmente avaliados nas estruturas mais complexas; Na prática, as consequências negativas das vibrações são ainda mais significativas quando combinadas com os demais fatores de degradação. O efeito danoso da vibração é maior em construções menores do que nas construções maiores; Quanto menor a distância entre a edificação e o pavimento irregular, maior os efeitos da vibração. Detalhe: as vibrações provocadas pelo som elevado, portanto, também são fontes de problemas em prédios antigos! 2.2 Estresse Mecânico Interno Congelamento: Fenômeno típico das zonas temperadas e/ou frias. A água presa nos poros, ao congelar se expande e com isso acaba criando uma tensão interna que pode danificar o material poroso. Cristalização dos sais – Modelo 01: As tensões irão se desenvolver dentro de poros cheios de cristais de sal enquanto forem alimentados com uma “solução” (água e sal) por poros menores. H2O + sal (cristal de sal) A relação entre o volume de poros pequenos e o volume de poros maiores determina a magnitude da tensão resultante; Ou seja, as maiores tensões estão associadas aos materiais com uma proporção maior de pequenos poros (que fazem a alimentação dos poros maiores). Cristalização dos sais – Modelo 02: Os cristais dos sais hidratados (ou solúveis) possuem moléculas de água em sua estrutura que, quando liberadas - com o aumento de temperatura - resultam num volume maior dentro do poro. Erosão alveolar: Caracteriza-se pelo avanço da degradação (pelo mesmo fenômeno da cristalização dos sais) apenas em algumas zonas do material poroso formando os “alvéolos” (cavidades profundas). No passado, se achava que a ação abrasiva dos grãos de areia levados pelo vento (a “erosão eólica”) era a causa da erosão alveolar, mas hoje já se reconhece o verdadeiro papel da cristalização dos sais. Obs.: se as cavidades (“alvéolos”) forem preenchidos com materiais rígidos e impermeáveis, a evaporação será simplesmente desviada para as superfícies adjacentes do material que, a partir deste momento, começam a se deteriorar e o processo (re)começa novamente! Eflorescências: São cristais de sais solúveis que se acumulam nas superfícies dos materiais porosos quando o fornecimento de água nos poros é grande ou quando a velocidade dos ventos é baixa (e a taxa de evaporação idem). Superfície de evaporação Material degradado Umidade ascendente (capilaridade) Umidade (fontes) Corrosão de grampos metálicos (ferro): Com a corrosão, o ferro aumenta de volume (pois os óxidos hidratados – “ferrugem” – ocupam mais espaço que o material original); Uma vez iniciada a corrosão, o aumento do volume do ferro dá origem a tensões internas e à formação de minúsculas rachaduras no material à sua volta (facilitando o acesso da água). 3. Biodegradação dos Materiais Porosos Diversas cepas de bactérias geram a energia necessária à sobrevivência a partir de reações químicas inorgânicas que podem resultar na formação de ácidos; Os tiobacilos (bactérias do ciclo do enxofre), por exemplo, sintetizam o ácido sulfúrico (H2SO4), que corrói os materiais. Por outro lado, outros tipos de bactérias e fungos (que normalmente crescem em locais com pouca luz e ventilação) obtém sua energia a partir da oxidação da matéria orgânica, obtendo então os ácidos orgânicos (exemplo: o ácido oxálico); Na prática, acredita-se que exista uma contínua interação entre os processos de deterioração química e os de deterioração física, abrindo caminho para a colonização biológica e, através desta, recebendo uma contribuição dos ácidos reativos. O ataque das algas às cantarias (pedras) é comum em atmosferas bastante úmidas (exemplo: climas tropicais). Uma desagregação do material é rara; o mais comum é o dano às superfícies pintadas ou esculpidas (manchas incômodas); O controle das algas é feito com a limpeza constante com produtos desinfetantes. Os liquens ou fungos liquenizados (associação de fungos e algas) são muito encontrados na superfície dos materiais pétreos; Os liquens “brancos” podem crescer diversos milímetros pelo interior do material, decompondo-o aos poucos através da produção dos ácidos orgânicos; O efeito desfigurante (apesar de lento), pode assumir proporções alarmantes. Os musgos podem exercer uma ação destrutiva na superfície dos materiais que se pode estender até a 01 centímetro de profundidade; O seu desenvolvimento aparentemente está ligado às superfícies alcalinas (cimento, concreto, argamassa de cal etc.). As raízes dos vegetais superiores são um grande problema nos países tropicais, atacando edificações mesmo à distância; Os seus maiores efeitos destrutivos ocorrem justamente naquelas construções abandonadas; No Brasil, a gameleira (Ficus adhatodifolia) se destaca entre as árvores que mais afetam as antigas construções. E como identificar (diferenciar) corretamente os fungos, algas, líquens e musgos? - Contar com o auxílio de um biólogo ou botânico. 4. Deterioração por processo químico (corrosão) As reações químicas só vão ocorrer na presença da água; ou seja, a corrosão química só é possível quando os materiais estiverem úmidos; A água pode ter duas origens: ação direta da chuva ou película formada pela condensação. 4.1 - Ataque pela água de chuva: A água da chuva é sempre um pouco ácida, pois reage com o CO2 e forma o ácido carbônico (H2CO3); - Sob tais condições, o carbonato de cálcio (CaCO3 – calcário, mármore, cales etc.) se transforma em bicarbonato (Ca2CO3) e dissolve lentamente. Os materiais cerâmicos (silicatos de cálcio e alumínio) são insolúveis em água, mas podem ter o esmalte (rico em óxidos alcalinos) afetado por águas ácidas. Os arenitos, por serem muito porosos, permitem o fácil acesso da água (chuva, condensação etc.). Esta, por sua vez, permanecendo em contatocom os minerais por um longo tempo, favorece a sua dissolução/deterioração; Como regra geral, a velocidade do processo de corrosão depende em grande medida da porosidade, dos tipos de minerais presentes e até mesmo da temperatura. 4.2 - Poluição atmosférica: As atmosferas poluídas contêm uma quantidade variável de SO2 (dióxido de enxofre, produzido pela queima de combustíveis) que reage com a água e se transforma no ácido sulfúrico (H2SO4), bastante forte e que deteriora diversos minerais (carbonatos, silicatos etc.). A ação do ar poluído, contudo é muito complexa. Outros poluentes (além de do SO2) estão sempre presentes, podendo originar outros tipos de ácidos. 4.3 - Umidificação & Secagem: As superfícies expostas estão frequentemente cobertas por uma película de água (formada pela condensação), mas tão fina que não escorre. Com isso, as impurezas depositadas pela atmosfera (aerossol) ou pelas reações químicas não são removidas (“lavadas”); O processo contínuo de umidificação e posterior secagem causa danos tanto em sua fase de molhação (por causa do ataque ácido) quanto na fase de secagem (devido à cristalização dos sais, poluentes e subprodutos das reações). A resistência a este processo depende da estrutura dos poros e da resistência mecânica do material: materiais com baixa porosidade e boa resistência à tração são os mais resistentes a este tipo de degradação; Superfícies afetadas pelo processo de umidificação & secagem são facilmente reconhecíveis pela formação de crostas escuras: as chamadas crostas negras. Crosta negra: Composta basicamente de poeira e fuligem, estão geralmente localizadas em superfícies verticais que recebem pouca chuva. OBS: A “crosta negra” não é uma simples “sujeira”: é uma camada endurecida que, com o tempo, pode aderir ao material! Crosta negra: - Camadas de pó ou depósitos superficiais de pó pouco coerente; - Incrustações homogêneas e duras; - Espessura de 0,5 a 3mm; - Penetração nas fissuras e poros; - Tendência a endurecer com o tempo; - Tendência a absorver mais calor para a pedra; - Tendência a destacar-se junto com parte do material. Crosta negra: Componentes mais comuns: gesso, calcita, quartzo, oxalato de cálcio (metabolismo dos liquens), fosfatos (dejetos de animais) etc.; Não funcionam como uma camada protetora (impermeável)! Ou seja, por trás da aparência enganosa de uma superfície “preservada”, a deterioração pode perfeitamente continuar. 5. Vandalismo
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