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92 
 
AA SSEEGGUUNNDDAA GGUUEERRRRAA MMUUNNDDIIAALL –– CCOONNFFLLIITTOO EE VVIIOOLLÊÊNNCCIIAA 
THE SECOND WORLD WAR - CONFLICT AND VIOLENCE 
 
 Prof. Dr. Osvaldo Coggiola
1
 
 
RESUMO 
Diversos autores postularam, em tempos recentes, a hipótese de que a Europa padeceu, no 
século XX, uma ―Segunda Guerra dos Trinta Anos‖, entre 1914 e 1945:
2
 a Segunda Guerra 
Mundial teria sido, essencialmente, a continuidade da Primeira, com motivos e 
protagonistas basicamente semelhantes (inclusive nas suas alianças internacionais), e com 
uma breve trégua entre ambas, uma espécie de ―paz armada‖ no entre guerras, pontuada 
pela ―grande depressão‖ econômica da década de 1930. Tratou-se, porém, para além dos 
elementos de continuidade, em especial da prática de massacres em massa, de conflitos de 
caráter diverso, até qualitativamente diferentes, diferença caracterizada, justamente, pela 
crise econômica mundial e a existência (sobrevivência) da URSS, incluído seu 
fortalecimento econômico e militar na década de 1930. Na Segunda Guerra Mundial houve 
sessenta milhões de homens em armas, entre 45 e 50 milhões de mortes (pela primeira vez 
num conflito bélico, a maioria delas na população civil) como resultado direto dos 
combates, ou oitenta milhões de pessoas, se forem contadas também as vítimas que 
morreram por fome, epidemias e doenças como resultado indireto da guerra — oito vezes 
mais vítimas do que na Primeira Guerra Mundial:
3
 ao todo, aproximadamente 4% da 
população mundial da época, e tudo em escassos seis anos. Foi, em primeiro lugar, o 
conflito militar mais sangrento do todos os tempos. Ele envolveu as mais longínquas 
regiões do planeta, nos mares e na terra, na neve e no sol escaldante do deserto. 
PALAVRAS CHAVE: Guerras Mundiais, Segunda Guerra Mudial, Conflitos e Violência 
 
SUMMARY 
Several authors posit, in recent times, the hypothesis that Europe suffered in the twentieth 
century a "Second Thirty Years War" between 1914 and 1945: World War II would have 
been essentially the continuation of the First, with reasons and basically similar protagonists 
(including in its international alliances), and a brief truce between the two, a sort of "armed 
peace" in the interwar, punctuated by the "great depression" of the 1930s economic it was, 
however, beyond the elements of continuity, particularly the practice of mass massacres, 
diverse character of conflicts, even qualitatively different, characterized difference precisely 
by the global economic crisis and the existence (survival) of the USSR, including its 
economic and military strengthening in decade 1930. in World War II there were sixty 
million men under arms, between 45 and 50 million deaths (for the first time in a military 
 
1
 Professor titular da Universidade de São Paulo – USP. 
2
 Por exemplo: Charles Van Doren. Uma Breve História do Conhecimento. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 
2012. Henri Michel negou que a Segunda Guerra Mundial fosse apenas a simples ―revanche‖ (uma espécie de 
segundo turno) ou a continuidade da Primeira, mas limitou as diferenças à ―extensão‖ (geográfica) da guerra, 
e à ―totalidade‖ dos recursos materiais e humanos envolvidos (La Seconda Guerra Mondiale. Roma, Newton 
& Compton, 1995). 
3
 Ernest Mandel. O Significado da Segunda Guerra Mundial. São Paulo, Ática, 1982. 
93 
 
conflict, most of the civilian population) as a direct result of the fighting, or eighty million 
people, if they are also counted the victims who died from starvation, epidemics and disease 
as an indirect result of the war - eight times more victims than in the First World war: in all, 
about 4% of the world population of the time, and all in only six years. It was, first, the 
bloodiest military conflict of all time. It involved the most remote regions of the planet, in 
the seas and on land, snow and scorching desert sun. 
 
KEYWORDS: World Wars, Monday World War, Conflict and Violence, 
 
 
 
 
Introdução 
 
O adiamento da resolução dos conflitos que levaram à Primeira Guerra Mundial, 
e da revolução socialista que ela originou, no primeiro pós-guerra, foi desse modo pago 
com um preço inédito em vidas humanas, especialmente forte nos países que estiveram no 
centro desses problemas: vinte milhões de mortos, pelo menos, na União Soviética, treze 
milhões na Alemanha, sem contar a ―qualidade‖ das mortes, que incluíram cenários de 
degradação humana nunca vistos na história, nos campos de concentração nazistas, nas 
câmaras de gás, nas políticas de ―extermínio total‖ de judeus, ciganos, homossexuais, 
deficientes mentais e outros, além dos morticínios em massa das ―limpezas étnicas‖ 
promovidas, durante e imediatamente depois da guerra, especialmente nos redesenhados 
países da Europa oriental que, pela primeira vez na era moderna e contemporânea, tenderam 
a se transformar em Estados ―étnicamente homogêneos‖, inclusive em regiões que haviam 
sido, até então, verdadeiros carrefours étnicos, linguísticos, nacionais e culturais, em 
especial os países bálticos e partes importantes da Polônia e da Ucrânia. 
As novas (supostas) ―fronteiras étnicas‖ dos Estados europeus foram traçadas 
sobre montanhas de cadáveres insepultos e com base em políticas objetivamente (quando 
não subjetivamente, como no caso dos judeus) exterministas, que conseguiram, em medida 
enorme, apagar os motivos e mecanismos objetivos (históricos e políticos) dos 
enfrentamentos e da guerra. 
Diversos autores postularam, em tempos recentes, a hipótese de que Europa 
padeceu, no século XX, uma ―Segunda Guerra dos Trinta Anos‖, entre 1914 e 1945:
4
 a 
Segunda Guerra Mundial teria sido, essencialmente, a continuidade da Primeira, com 
motivos e protagonistas basicamente semelhantes (inclusive nas suas alianças 
internacionais), e com uma breve trégua entre ambas, uma espécie de ―paz armada‖ no entre 
guerras, pontuada pela ―grande depressão‖ econômica da década de 1930. 
Tratou-se, porém, para além dos elementos de continuidade, em especial da 
prática de massacres em massa, de conflitos de caráter diverso, até qualitativamente 
diferentes, diferença caracterizada, justamente, pela crise econômica mundial e a existência 
 
4
 Por exemplo: Charles Van Doren. Uma Breve História do Conhecimento. Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2012. Henri 
Michel negou que a Segunda Guerra Mundial fosse apenas a simples “revanche” (uma espécie de segundo turno) ou a 
continuidade da Primeira, mas limitou as diferenças à “extensão” (geográfica) da guerra, e à “totalidade” dos recursos 
materiais e humanos envolvidos (La Seconda Guerra Mondiale. Roma, Newton & Compton, 1995). 
94 
 
(sobrevivência) da URSS, incluído seu fortalecimento econômico e militar na década de 
1930. Na Segunda Guerra Mundial houve sessenta milhões de homens em armas, entre 45 e 
50 milhões de mortes (pela primeira vez num conflito bélico, a maioria delas na população 
civil) como resultado direto dos combates, ou oitenta milhões de pessoas, se forem contadas 
também as vítimas que morreram por fome, epidemias e doenças como resultado indireto 
da guerra — oito vezes mais vítimas do que na Primeira Guerra Mundial:
5
 ao todo, 
aproximadamente 4% da população mundial da época, e tudo em escassos seis anos. 
Foi, em primeiro lugar, o conflito militar mais sangrento do todos os tempos. 
Ele envolveu as mais longínquas regiões do planeta, nos mares e na terra, na neve e no sol 
escaldante do deserto. 
 
Guerras mundiais – conflitos e violência 
 
O adiamento da resolução dos conflitos que levaram à Primeira Guerra 
Mundial, e da revolução socialista que ela originou, no primeiro pós-guerra, foi desse modo 
pago com um preço inédito em vidas humanas, especialmente forte nos países que 
estiveramno centro desses problemas: vinte milhões de mortos, pelo menos, na União 
Soviética, treze milhões na Alemanha, sem contar a ―qualidade‖ das mortes, que incluíram 
cenários de degradação humana nunca vistos na história, nos campos de concentração 
nazistas, nas câmaras de gás, nas políticas de ―extermínio total‖ de judeus, ciganos, 
homossexuais, deficientes mentais e outros, além dos morticínios em massa das ―limpezas 
étnicas‖ promovidas, durante e imediatamente depois da guerra, especialmente nos 
redesenhados países da Europa oriental que, pela primeira vez na era moderna e 
contemporânea, tenderam a se transformar em Estados ―étnicamente homogêneos‖, 
inclusive em regiões que haviam sido, até então, verdadeiros carrefours étnicos, 
linguísticos, nacionais e culturais, em especial os países bálticos e partes importantes da 
Polônia e da Ucrânia. As novas (supostas) ―fronteiras étnicas‖ dos Estados europeus foram 
traçadas sobre montanhas de cadáveres insepultos e com base em políticas objetivamente 
(quando não subjetivamente, como no caso dos judeus) exterministas, que conseguiram, em 
medida enorme, apagar os motivos e mecanismos objetivos (históricos e políticos) dos 
enfrentamentos e da guerra. A maioria dos cenários inicialmente bélicos da Europa se 
transformaram, no decorrer e no desfecho da guerra, cenários da luta sem limites de 
qualquer espécie pela simples sobrevivência física de soldados e civis.
6
 
Os grandes massacres, porém, precederam à guerra propriamente dita, em 
especial na ―terra de sangue (que) se estende do centro da Polônia até o Oeste da Rússia, 
passando pela Ucrânia, Bielorrússia e os Estados bálticos. Durante a consolidação do 
 
5
 Ernest Mandel. O Significado da Segunda Guerra Mundial. São Paulo, Ática, 1982. 
6
 R. A. C. Parker. Struggle for Survival. The history of the Second World War. Nova York, Oxford University Press, 1989. E 
também: Max Hastings. Inferno. O mundo em guerra 1939-1945. Rio de Janeiro, Intrínseca, 2012: “Quase tudo que os 
povos civilizados consideram garantido em tempos de paz foi posto de lado, especialmente a expectativa de receber 
proteção contra a violência... Na sitiada Leningrado, pessoas famintas comiam umas às outras... A explosão da 
prostituição foi um trágico fenômeno global, que merece seu próprio livro [até hoje não escrito]... Era fundamental que 
somente um número ínfimo de líderes e comandantes nacionais soubesse muito o que se passava além de seu campo de 
visão (na que) foi a maior e mais terrível das experiências humanas” (do mesmo autor: Armaggedon. The battle for 
Germany 1944-1945. Nova York, Alfred A. Knopf, 2004). 
95 
 
nacional-socialismo e do stalinismo (1933-1938), a ocupação conjunta da Polônia pelas 
forças alemãs e soviéticas (1939-1941) e, em seguida, durante a guerra entre a Alemanha e 
a União Soviética (1941-1945), a violência em massa de um modo jamais visto na história 
se abateu sobre essa região. As vítimas foram basicamente judeus, bielorrussos, ucranianos, 
poloneses, russos e bálticos, os povos nativos dessas terras. Catorze milhões foram mortos 
em um período de somente doze anos, entre 1933 e 1945, enquanto Hitler e Stalin estavam 
no poder. Embora suas pátrias tenham sido palco de batalhas na metade desse período, 
essas pessoas foram vítimas de uma política assassina, não de contingências de guerra. A 
Segunda Guerra Mundial foi o conflito mais letal da história, aproximadamente metade dos 
soldados que morreram em todos os campos de batalha de todo o mundo pereceu nessa 
região, nessas terras de sangue. Ainda assim, dos catorze milhões de pessoas assassinadas, 
não havia um soldado sequer na ativa. A maioria era composta de mulheres, crianças e 
idosos; nenhuma carregava armas; muitas foram despojadas de seus bens, incluindo as 
roupas‖.
7
 
Os números das vítimas refletem a quantidade inédita dos massacres de 
população civil, inclusive os reconhecidamente desnecessários do ponto de vista militar, 
levados adiante por todos os protagonistas principais da guerra, inclusive pelos aliados, 
como o inútil bombardeio e destruição da cidade alemã de Dresden (quando a capitulação 
da Alemanha já era questão de horas),
8
 ou as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e 
Nagasaki, com suas centenas de milhares de mortos civis e seus efeitos ainda décadas 
depois, isto em condições em que, segundo de Winston Churchill, ―seria um erro supor que 
o destino do Japão foi decidido pela bomba atômica. A derrota do Celeste Império já 
estava assegurada antes de ser lançada a primeira bomba‖:
9
 ―Se a primeira bomba, pelo 
seu efeito de terror, podia ter o objetivo de desalentar os japoneses e evitar aos Estados 
Unidos a lenta reconquista e o meio milhão de homens que talvez teria custado, a segunda 
teve um caráter de experimento científico às custas de cem mil vidas. Não acredito que a 
bomba atômica tenha justificativas (...) a eleição do Japão para o lançamento da bomba me 
parece racista: em circunstâncias semelhantes às existentes no Japão, os norte-americanos 
não teriam ousado lançá-la sobre uma cidade alemã‖.
10
 
O racismo não foi patrimônio exclusivo dos nazistas, assim como as experiências científica 
do Dr. Mengele em Auschwitz (ou de seu equivalente japonês, a Unidade 731 do norte da 
China). Os Estados Unidos reconheceram ter submetido a provas nucleares a mais de 600 
pessoas no seu próprio território durante a Segunda Guerra, incluindo 18 norte-americanos 
que morreram depois de ter recebido injeções de plutônio. O racismo e a barbárie foram 
multi-direcionais. O assassinato em massa de civis foi política sistemática da parte de todas 
as potências envolvidas. Uma guerra dessas características era qualitativamente diferente 
das anteriores. Para explicar suas causas (e seu desfecho) não basta referir-se aos objetivos 
estratégicos nacionais dos países ou blocos envolvidos: ―A guerra não é um domínio das 
 
7
 Timothy Snyder. Terras de Sangue. A Europa entre Hitler e Stalin. Rio de Janeiro, Record, 2012, p. 10. 
8
 Frederick Taylor. Dresden. Terça-feira, 13 de fevereiro de 1945. Rio de Janeiro, Record, 2011. Kurt Vonnegut, soldado 
norte-americano de origem alemã capturado pelas tropas do Reich, deixou um testemunho literário da espantosa 
destruição desssa cidade, que carecia de quaisquer objetivos bélicos de qualquer natureza (militar, econômico, 
administrativo, político, o que fosse) (Matadouro 4. Porto Alegre, L&PM, 2009). 
9
 In: Guilherme Olympio. União Soviética & USA. Rio de Janeiro, Prado, 1955, p. 107. Cf. também: Heitor B. Caillaraux. 
Hiroshima 45. O grande golpe. Rio de Janeiro, Lucerna, 2005. 
10
 Jean Lacotoure. In: José Peirats. História Mundial desde 1939. Barcelona, Salvat, 1973, p. 10. 
96 
 
artes ou das ciências, mas um elemento do tecido social. Constitui um conflito de grandes 
interesses solucionado de maneira sangrenta, o que a diferencia de todos os outros conflitos. 
Antes de comparar a guerra com uma arte qualquer, caberia fazê-lo com o comércio, que é 
também um conflito de atividades e interesses humanos, e inclusive se assemelha muito à 
política, que por sua vez pode ser considerada como uma espécie de comércio em grande 
escala. A política é a matriz em que se desenvolve a guerra‖.
11
 Vejamos, pois, essa matriz, 
no caso da Segunda Guerra Mundial. 
Do ponto de vista dos interesses estratégicos em jogo, no quadro do sistema 
imperialista, não era difícil caracterizar as causas da Segunda Guerra Mundial como ―a 
rivalidade entre os impérios coloniais velhos e ricos: a Grã-Bretanha e a França, e os 
bandidos imperialistas atrasados: Alemanha e Itália (...) A contradição econômica mais 
forte que conduziu à guerra de 1914-1918 foi a rivalidade entre a Grã-Bretanha e a 
Alemanha. A participação dos Estados Unidos na guerra foi uma medida preventiva‖.Os 
EUA entraram na guerrana sua fase final. Nessa visão, era uma mentira ―a palavra de 
ordem de uma guerra da democracia contra o fascismo. Como se os operários tivessem 
esquecido que foi o governo britânico que ajudou Hitler e seu bando de carrascos a se 
apropriar do poder! As democracias imperialistas são na realidade as maiores aristocracias 
da história. A Inglaterra, a França, a Holanda, a Bélgica, repousam sobre a submissão dos 
povos coloniais. A democracia americana repousa sobre o domínio das riquezas enormes de 
todo um continente‖.
12
 
No período prévio à guerra, a ambiguidade com relação às tentativas alemãs de 
revisar a Paz de Versalhes e, em geral, com relação à toda política do eixo nazi-fascista, 
tinha sido marcante da parte das potências ―democráticas‖ da Europa. A política de 
―apaziguamento‖ remontava à tolerância com a invasão japonesa da Manchúria em 1931, 
passou pela vista grossa com a invasão italiana da Etiópia em 1935, atingiu a vergonha com 
a política de ―não-intervenção‖ na guerra civil espanhola de 1936-1939 (quando a ajuda 
nazi-fascista ao campo franquista foi fundamental para o desfecho do conflito), e teve seu 
ponto culminante com a Conferência de Munique de 1938 (Alemanha, Itália, Grã-Bretanha, 
França) e sua consequência imediata, o desmembramento da Tchecoslováquia pela 
Alemanha nazista (invasão dos Sudetos). A Alemanha não tinha matérias primas suficientes 
para sustentar uma guerra de longa duração. Daí a necessidade de invadir e conquistar 
regiões ricas em petróleo e minerais, como a dos Países Baixos, com suas fontes de 
minerais nobres, como o tungstênio, ou o Norte da África e as planícies do Cáucaso, regiões 
ricas em petróleo. As ações alemãs inicialmente vitoriosas na Europa foram resultado da 
reconstrução de seu Exército sob as barbas da Liga das Nações. 
A política de apaziguamento foi comumente analisada como ―cegueira‖ dos 
governos democráticos acerca das verdadeiras intenções do Terceiro Reich. Sua raiz, 
porém, está na própria natureza do conflito mundial. O fato novo era que na sua tentativa de 
revisão da Paz de Versalhes, a Alemanha de Hitler se beneficiava indiretamente da 
existência da União Soviética, e que os governos ocidentais consideraram sempre 
seriamente a possibilidade de desviar em direção à União Soviética o expansionismo 
 
11
 Karl Von Clausewitz. De la Guerra. Barcelona, Labor, 1984, p. 17. 
12
 La guerre impérialiste et la révolution prolétarienne mondiale. In: Les Congrès de la Quatrième Internationale. Paris, La 
Brèche, 1978, pp. 337-377. 
97 
 
alemão, em benefício de todos eles, o que explicaria uma política de outro modo 
incompreensível. A Segunda Guerra Mundial constituiu a continuidade tanto da Primeira 
Guerra quanto da tentativa dos imperialismos coligados de destruir a revolução nos países 
europeus, destruindo militarmente a Revolução Russa pela intervenção armada através da 
guerra civil. 
A Segunda Guerra foi simultaneamente um conflito interimperialista e 
contrarrevolucionário, em que a destruição da União Soviética visava interromper de vez o 
processo revolucionário iniciado em 1917, já abalado pelo isolamento da revolução 
soviética (e sua principal consequência, a emergência do stalinismo) e pela vitória do 
nazismo na Alemanha, com a consequente derrota histórica do mais importante proletariado 
ocidental. Os ―democratas‖ ocidentais não se caracterizaram pela lucidez com relação ao 
nazismo, mas estavam dispostos a dele se servir, sem o menor preconceito ideológico, 
contra a União Soviética (isto é, contra as bases econômicas e sociais remanescentes da 
revolução) e contra o movimento operário do Leste e do Oeste. Ainda em 1940, o 
presidente norte-americano Roosevelt esperava que ―a Alemanha atacaria o hemisfério 
ocidental, provavelmente primeiro na América Latina‖.
13
 Já em 1931, antes da chegada ao 
poder de Hitler, Trotsky havia predito que se o nazismo assumisse o poder desencadearia 
inevitavelmente uma guerra contra a União Soviética.
14
 
A aliança Alemanha-Itália-Japão configurada na década de 1930 (que foi um 
dos blocos do conflito mundial) denominou-se ―Pacto Anti-Komintern‖, isto é, estava 
explicitamente dirigido a conter a ―expansão mundial do comunismo‖ (da revolução 
soviética). O outro aspecto está em que a economia armamentista da década prévia à guerra 
(em primeiro lugar nas potências ―totalitárias‖, Alemanha, Japão e Itália) e, posteriormente, 
a própria economia de guerra, foram a única via de saída para a crise da economia 
capitalista mundial pós-1929. Daniel Guérin ilustrou pioneiramente esse processo para a 
Alemanha,
15
 depois estudado por Charles Bettelheim,
16
 e, sobretudo, por Adam Tooze.
17
 A 
economia de armamentos foi, sobretudo, o meio para conjurar a nova crise do capitalismo 
norte-americano, depois do craque inédito de 1929, produzida a partir de 1937, depois da 
infrutífera relance com a política rooseveltiana dos anos precedentes. O índice de produção 
industrial, de 110 em 1929, tinha caído para 58 em 1932. Com sua política inflacionária, 
Roosevelt fomentou a recuperação: o índice pulou para 87 em 1935, para 103 em 1936, 
 
13
 Robert E. Sherwood. Roosevelt and Hopkins. Nova York, McGraw Hill, 1950, p. 290. 
14
 Leon Trotsky. Revolução e Contrarrevolução na Alemanha. São Paulo, Ciências Humanas, 1979. 
15
 Daniel Guérin. Fascisme & Grand Capital. Paris, Syllepse, 1999. 
16
 Charles Bettelheim. L’Économie Allemande sous le Nazisme. Paris, François Maspéro, 1978. 
17
 Adam Tooze. Le Salaire de la Destruction. Formation et ruine de l’économie nazie. Paris, Les Belles Lettres, 2012: “A 
virada cultural e ideológica do estudo do fascismo remodelou definitivamente nossa compreensão de Hitler e de seu 
regime... Enquanto nossa compreensão das políticas raciais e dos mecanismos interiores da sociedade alemã sob o 
nazismo foi transformada nos últimos anos, a história econômica do regime progrediu pouco... Marcas como Krupp, IG 
Farben, Siemens deram corpo ao mito da invencibilidade industrial alemã (mas) a economia alemã nos anos 1930 diferia 
pouco da média europeia: sua renda per capita estava dentro da média europeia, comparável à dos atuais Irã ou África 
do Sul. O consumo da maioria dos alemães era modesto e situado por trás daquele da maioria de seus vizinhos da 
Europa ocidental. A Alemanha de Hitler era uma sociedade ainda parcialmente modernizada, onde mais de quinze 
milhões de habitantes viviam ainda do artesanato ou da agricultura tradicionais... É possível [portanto] racionalizar 
agressividade do regime hitleriano como uma resposta inteligível às tensões nascidas do desenvolvimento desigual do 
capitalismo mundial, tensões que, bem entendido, estão ainda presentes” (grifo nosso). 
98 
 
para 113 em 1937. Mas, a partir de agosto desse ano, a recessão econômica reapareceu nos 
EUA: a produção caiu 27% em quatro meses. 
Por esse motivo, basicamente, na Segunda Guerra Mundial a participação dos 
Estados Unidos não foi, como na Primeira, preventiva, mas central (por isso o conflito foi 
chamado, logo de cara, de ―mundial‖, ao contrário da precedente ―guerra europeia‖) e se 
produziu já no início do conflito, inclusive antes dele (na China invadida pelo Japão), 
embora existisse uma forte corrente ―isolacionista‖ dentro da classe dominante americana 
até dezembro de 1941 (ataque japonês a Pearl Harbor), que marcou seu ingresso na guerra. 
Em 1941, a Alemanha mandou tropas para ajudar a combalida Itália a manter suas linhas na 
Grécia e no norte da África contra os ingleses. A batalha pela ilha de Creta causou grandes 
baixas aos alemães. Enviado ao Egito, o Afrikakorps alemão fez o que pôde para dominar o 
estratégico porto de Tobruk e os campos de petróleo da região, até ser repelido pelos 
ingleses, em novembro de 1942. Pouco depois, os Estados Unidos entraram no conflito, 
mandandosuas primeiras tropas para o Mediterrâneo. As bases aéreas americanas em 
território brasileiro, no caminho para o Norte da África, foram um exemplo de como todas 
as áreas do planeta estavam mobilizadas numa luta global. 
Até esse momento, a política americana com relação ao Japão era ambígua, e o mesmo 
poder-se-ia dizer com relação à Alemanha hitleriana, isto ao ponto de Hitler ter como um de 
seus objetivos centrais, já em plena guerra, manter a neutralidade dos Estados Unidos: 
―Impedir o ingresso na guerra dos Estados Unidos virou, a partir do verão de 1940, um 
dos objetivos essenciais da estratégia e da política do Reich‖.
18
 Essa tentativa estava 
condenada de antemão ao fracasso, pois como já o analisara (antes da guerra) a IV 
Internacional, ―os fundamentos da potência imperialista americana têm uma envergadura 
mundial. Seus interesses econômicos na própria Europa são muito importantes... será 
impossível para os Estados Unidos ficar fora da próxima guerra mundial. Não somente 
participará como beligerante, mas é possível prever que entrará nela muito mais 
rapidamente do que na última guerra mundial‖. No começo da guerra no Extremo Oriente, 
as forças japonesas estavam em ascensão, dominando quase todo o Pacífico. Antes de Pearl 
Harbour, muitas áreas do extenso território chinês já estavam em guerra, com as colônias 
inglesas combatendo os japoneses. O Japão invadiu a China no começo dos anos 1930, 
cometendo inúmeras atrocidades contra a população, como na ocupação de Nanquin, com 
300 mil mortos ou na instauração de um laboratório de armas bacteriológicas na área, 
responsável pela morte de mais de 10 mil prisioneiros de guerra, usados como cobaias. 
Como o Japão era aliado da Alemanha, o território da Indochina - então colônia francesa - 
foi ocupado por forças japonesas. 
Leon Trotsky já tinha analisado que a emergência dos Estados Unidos como 
principal potência capitalista mundial tinha sido a principal consequência da Primeira 
Guerra Mundial.
19
A China já tinha o apoio explícito e material dos Estados Unidos antes de 
sua entrada no conflito, recebendo treinamento e equipamento militares americanos na sua 
luta contra o Japão, que invadira o Celeste Império já em 1931, ocupando a Manchúria. 
Uma ponte aérea para levar suprimentos foi estabelecida pelos americanos entre a Índia, a 
 
18
 Saul Friedlander. Hitler et les États-Unis 1939-1941. Paris, Seuil, 1966, p. 297. Cf. também: Richad J. Evans. O Terceiro 
Reich em Guerra. São Paulo, Planeta, 2012. 
19
 Leon Trotsky. Adonde va Inglaterra. Europa y América. Buenos Aires, El Yunque, 1975. 
99 
 
Burma e a China. Os aviões sobrevoavam as montanhas do Himalaia, levando suprimentos 
aos chineses, mantendo assim um grande número de tropas japonesas ocupadas. Depois do 
ataque japonês a Pearl Harbour, os Estados Unidos declararam guerra ao Japão, que havia 
assinado o Tratado Tripartite com a Alemanha e Itália em 1940, formando o ―Eixo‖. Na 
esperança de que o Japão também atacasse a URSS - o que seria bom para a Alemanha em 
termos militares estratégicos -, Hitler adiantou-se em declarar guerra aos EUA. Mas o 
Império japonês já estava ocupado em sua luta no Pacífico contra os EUA, não queria 
confrontar a União Soviética, acrescentando uma ―segunda frente‖ cujas tropas e 
suprimentos bélicos não conseguiriam sustentar. 
A situação de crise econômica nos EUA só foi superada com a Segunda Guerra 
Mundial e com a aprovação do maior orçamento de defesa de sua história em tempos de 
paz: só a guerra deu, portanto, um fim à crise econômica iniciada em 1929. Os 
desempregados, de 10 milhões (em 1934-35) passaram para oito milhões (em 1936-37), 
mas já superavam novamente 11 milhões em 1938, e ainda eram 10 milhões em 1940. O 
quadro só foi revertido em 1942, depois do ataque japonês a Pearl Harbor, quando a 
máquina bélica norte-americana começou a funcionar a todo vapor. Em 1940, Roosevelt se 
apresentou novamente como candidato presidencial (já fora eleito em 1932 e 1936). A 
Segunda Guerra Mundial fez com que sua reeleição fosse bem sucedida, mais do que o 
―êxito‖ (duvidoso) da política do New Deal. O apoio popular no país à guerra era muito 
grande, à diferença do que ocorreu na Primeira Guerra Mundial, e apesar da existência de 
líderes sindicalistas como John L. Lewis que se opunham à entrada na guerra dos EUA. A 
figura de Hitler, e o ódio que despertava na opinião pública, devido à sua política interna 
hiper-reacionária, foi decisiva para essa mudança. Roosevelt isolou e reduziu o espaço dos 
principais líderes de esquerda do CIO (Congress of Industrial Organizations, a ala 
combativa do sindicalismo norte-americano, surgida em meados da década de 1930) antes 
de iniciar o rearmamento de 1940-1941. 
Com a ―normalização‖ da CIO, uma vez consolidada a nova central sindical 
(com 3.727.000 filiados em 1937, contra 3.440.000 da AFL) iniciou-se um movimento de 
reaproximação com seus antigos ―inimigos‖: John Lewis, rompendo com a AFL em 1936, 
tinha dado um passo adiante em relação ao ―gompersismo‖, mas ―os fundadores da CIO - 
Lewis, Hillman, Dubinsky - não fizeram senão pôr um casaco de força num movimento 
novo e de esquerda que já se desenvolvia. Não tiveram sucesso total, pois um número 
importante de revolucionários, com o consentimento daqueles, penetraram a nova 
organização, e nela construíram trincheiras tão sólidas que depois foi impossível desalojá-
los. Mas atingiram seu objetivo essencial: criar uma nova AFL de tendência moderada e 
evitar a formação de uma nova central sindical combativa e vermelha‖.
20
 Em novembro de 
1937, John Lewis e Homer Martin intervieram contra os grevistas da Pontiac: a grande 
imprensa chamou então Lewis de Labor Stateman. Em 1940, Murray declarou que 
raramente apoiava as sit-down strikes, enquanto Walter Reuther, na General Motors, 
chamou a ―aceitar o pior dos acordos, pelo bem do país.‖ Os ―progressistas‖ não 
protestaram: Reuther abandonou o SPA para apoiar o governador Murphy para o Senado; 
Philipp Murray convidou para o congresso da SWOC o prefeito de Chicago (Kelly) - autor 
 
20
 Daniel Guérin. Estados Unidos 1880-1950. Movimiento obrero y campesino. Buenos Aires, CEAL, 1972, p. 89. 
100 
 
do ―Massacre do Memorial Day‖ de 1937 - no quadro do apoio à terceira eleição de 
Roosevelt 
Do ponto de vista das relações políticas de classe internas nos EUA, a Segunda 
Guerra Mundial trouxe modificações decisivas: ―O período entre 1941 e 1945, dominado 
pelo esforço bélico, foi tão importante para a configuração definitiva da nova estrutura de 
gestão trabalhista quanto o havia sido o período entre 1936 e 1940. Do ponto de vista 
empresarial, as companhias fizeram grandes progressos durante a guerra, progressos que 
seriam críticos em anos posteriores. Após 1941, muitos patrões utilizaram a disciplina de 
tempo de guerra para tentar recuperar parte da iniciativa e controle que haviam entregue aos 
sindicatos industriais no final da depressão. Promoveram a arbitragem de muitos conflitos 
por reivindicações, confiando em tirar da fábrica a nova maquinaria dos procedimentos de 
reivindicações. Aumentaram tremendamente o número do pessoal de supervisão, esperando 
contrabalançar as novas prerrogativas sindicais quanto a reivindicações e antiguidade com 
uma maior intensidade na direção e no controle exercidos sobre a mão-de-obra. Muitos 
patrões utilizaram a oportunidade concedida pela War Time Labor Distributes Act (Lei de 
Conflitos Trabalhistas em Tempo de Guerra) e pela War Labor Board (Junta Trabalhista de 
Guerra) para centralizar a maquinaria legal que mediava os conflitos que se produziam no 
âmbito produtivo entre empresas e sindicatos, de forma que muitas empresas 
incrementaram seu ritmo de produção aproveitando-se do esforço de guerra para justificar a 
aceleração‖.
21Assim, com a guerra, produziu-se uma mudança decisiva nas relações de classe nos EUA. 
Ao resolver favoravelmente aos seus interesses o agudo conflito de classe que havia 
percorrido à sociedade norte-americana durante o meio século precedente, a burguesia dos 
EUA criou as bases para a passagem da hegemonia econômica mundial, que já possuía 
antes da guerra, para a hegemonia política mundial sobre o mundo capitalista, que se 
expressou nas instituições políticas e econômicas (principalmente o FMI e o BIRD, em que, 
a diferença da ONU, a hegemonia norte-americana é explicita e estatutária) supra-nacionais, 
criadas depois do segundo conflito mundial. A economia dos Estados Unidos atingiu um 
estágio que a tornou dependente da demanda armamentista estatal: a produção industrial 
duplicou em cinco anos, perfazendo entre 40% e 45% do total da produção, período no qual 
o ―setor civil‖ não variou em valor absoluto. Os empregos industriais passaram de 10 para 
17 milhões entre 1939 e 1943, o total de empregos de 47 a 54 milhões no mesmo período. 
Se o PIB aumentou de 150%, a concentração econômica espantosa determinou a feição 
definitiva do capital monopolista nos Estados Unidos - 250 sociedades industriais passam a 
controlar 66,5% da produção total, uma percentagem equivalente àquela controlada por 75 
mil empresas antes da guerra.
22
 
As exportações dos Estados Unidos passaram de pouco mais de 5 bilhões de 
dólares em 1941, para quase 14,5 bilhões em 1944. No período 1938-1944, a produção de 
guerra passou de 2 para 100, nos Estados Unidos; de 4 para 100, na Inglaterra; de 16 para 
 
21
 David M. Gordon. Trabajo Segmentado, Trabajadores Divididos. Madri, Ministerio de Trabajo y Seguridad Social, 1986, 
p. 236. 
22
 Alan S. Milward. La Segunda Guerra Mundial 1939-1945. Barcelona, Crítica, 1986. Ver também: Osvaldo Coggiola 
(ed.). Segunda Guerra Mundial. Um balanço histórico. São Paulo, Xamã, 1995. 
101 
 
100, na Alemanha; de 8 para 100, no Japão.
23
 A transformação das economias capitalistas 
em economias de guerra, e os diversos pontos de partida para atingir tal objetivo, 
determinam, em última instância, a superioridade aliada: Fritz Stenberg calculou em 80 
bilhões de dólares o valor do material de guerra produzido pelos Estados Unidos, a 
Inglaterra e o Canadá no período prévio ao desembarque de 6 de junho de 1944.
24
 No 
mesmo período, a Alemanha e seus aliados tiveram uma produção equivalente a US$ 15 
bilhões, isto é, uma superioridade de mais de cinco para um em favor dos Aliados, do ponto 
de vista dos recursos econômicos consagrados ao esforço bélico.
25
 
A.J.P.Taylor foi unilateral, no entanto, ao concluir que Hitler era menos um 
demônio histérico do que um dirigente preocupado com a sorte de seu país e que, na 
verdade, carecia da intenção de deflagrar um conflito mundial (teria se conformado com um 
Lebensraum alemão na Europa).
26
 Segundo Taylor, o conflito mundial teria sido ―imposto‖ 
pelas potências aliadas, inclusive no que diz respeito ao Japão, o qual, após o embargo 
imposto pelos Estados Unidos em agosto de 1941, “estava fadado a render-se ou ir à 
guerra”. É perfeitamente possível estar de acordo e, ao mesmo tempo, reconhecer que o 
caráter das contradições às quais estava submetido o imperialismo alemão (do qual Hitler e 
o nazismo eram a consciência mística e plebeia/pequeno-burguesa, racista, ultrarreacionária 
e exterminista) obrigavam-no a envolver-se numa disputa de alcance mundial, devido ao 
choque inevitável com o imperialismo norte-americano, tal qual foi analisado por Trotsky 
no seu último documento dado a público em vida, o Manifesto de Emergência da IV 
Internacional: ―Se a guerra é levada até o fim, se o exército alemão obtém vitórias, se o 
espectro da dominação alemã sobre a Europa surgir como um perigo real, o governo dos 
Estados Unidos deverá tomar uma decisão: permanecer à margem, permitindo a Hitler 
assimilar as novas conquistas, multiplicar a técnica alemã, transformando as matérias 
primas das colônias conquistadas, e preparar o domínio alemão sobre todo o planeta, ou, ao 
contrário, intervir no desenrolar da guerra para contribuir a cortar as asas do imperialismo 
alemão‖. 
Para Ernst Nolte, a objetividade do segundo conflito mundial está determinada 
pela ―perspectiva mais adequada na qual o bolchevismo e a União Soviética e o nacional-
socialismo e o Terceiro Reich devem ser considerados, que é a de uma guerra civil 
europeia ‖.
27
 A força do enfoque ―revisionista‖ desse autor (acusado de legitimar 
historicamente o nazismo) - a procura das causas da Segunda Guerra Mundial não apenas 
nos conflitos interestatais, mas no processo internacional de revolução-contrarrevolução - se 
esvai ao considerar apenas a Europa como cenário dessa hipotética guerra civil, excluindo, 
por exemplo, o Extremo-Oriente, desde o início da revolução chinesa de 1919, protagonista 
central tanto do conflito de classe interno à China (a revolução chinesa) quanto do conflito 
internacional (guerra China-Japão), e sem considerar as mudanças da política externa da 
URSS de Lenin-Trotsky e a Revolução de Outubro até o messianismo nacionalista da 
direção stalinista. 
 
23
 Marcel Roncayolo. Le Monde Contemporain de la Seconde Guerre Mondiale à nos Jours. Paris, Robert Laffont, 1985, 
pp. 52 e 68. 
24
 Fritz Sternberg. El Imperialismo. México, Siglo XXI, 1978. 
25
 Richard Overy. Porqué Ganaron los Aliados. Buenos Aires, Tusquets, 2011. 
26
 A.J.P. Taylor. A Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro, Zahar, 1979. 
27
 Ernst Nolte. Nazionalsocialismo e Bolscevismo. La guerra civile europea 1917-1945. Firenze, Sansoni, 1988. 
102 
 
É o caráter socialmente contrarrevolucionário do conflito mundial o que 
ilumina o seu aspecto mais atroz: o assassinato (genocídio) de seis milhões de judeus na 
Europa. Arno Mayer situou a ―solução final‖ dentro da lógica de guerra do nazismo: ―O 
limite que separa a expulsão, o encerramento nos guettos, as deportações e os assassinatos 
esporádicos, do massacre e da destruição sistemáticas, não foi ultrapassado senão um certo 
tempo depois da invasão nazista da União Soviética, em 22 de junho e 1941 (...) Só em 20 
de janeiro de 1942, na conferência de Wanssee, foram tomadas as medidas para a ―solução 
final‖, que implicava a tortura e o aniquilamento dos judeus de toda a Europa ocupada e 
controlada pelos nazistas‖:
28
 ―A guerra para destruir a União Soviética se tornara uma 
guerra para liquidar os judeus‖.
29
 O nazismo levou até o fim uma tendência presente na 
lógica da guerra imperialista. A perspectiva do massacre dos judeus fora denunciada pela 
IV Internacional desde, pelo menos, 1938: ―Antes de esgotar a humanidade ou de a afogar 
no sangue, o capitalismo envenena a atmosfera mundial com os vapores deletérios do ódio 
nacional ou racial. O antissemitismo é uma das piores convulsões da agonia do 
capitalismo‖, chamando a ―denunciar implacavelmente todos os preconceitos de raça e 
todas as formas e nuances da arrogância nacional e do chauvinismo, em especial o 
antissemitismo‖.
30
 
Cabe creditar a Trotsky e à IV Internacional não só o prognóstico do Holocausto, mas o de 
ter sido a única tendência política mundial que chamou a lutar contra ele - isto é, não só 
contra o antissemitismo em geral, mas contra a perspectiva do extermínio do povo judeu: 
―O capitalismo em ascensão tinha libertado o povo judeu do ghetto e feito dele um 
instrumento da sua expansão comercial. Agora, a sociedade capitalista em declínio se 
esforça para exprimir como um limão o povo judeu por todos os seus poros: vinte milhões 
de indivíduos para uma população mundial de dois bilhões, isto é 1%, não tem mais lugar 
sobre o nosso planeta‖. O nazismo realizou essa sombria perspectiva. Os Estados Unidos e 
o Vaticano tinham conhecimento do genocídio que estavasendo posto em prática, pelo 
menos desde 1942, fatos e conhecimentos diante dos quais se omitiram (em que pesem 
todas as explicações e desculpas posteriores).
31
 
 
28
 Arno J. Mayer. La “Solution Finale” dans l'Histoire. Paris, La Découverte, 1990, pp. 506-507. 
29
 Timothy Snyder. Op. Cit., p. 233. Disse Zygmunt Bauman: “(O Holocausto) foi o enésimo episódio da longa série de 
homicídios em massa tentados, e da série não muito menor daqueles de fato realizados. Mas apresenta também 
características que não condivide com nenhum dos casos precedentes de genocídio, (características que) têm um sabor 
claramente moderno. Sua presença sugere que a modernidade contribuiu para o Holocausto de modo mais direto que o 
da sua fraqueza e desorientação. Sugere que o papel da civilização moderna na deflagração e na execução do 
Holocausto foi ativo, não passivo. Sugere que o Holocausto foi, na mesma medida, produto e falência da civilização 
moderna” (Modernità e Olocausto. Bolonha, Il Mulino, 1992, p. 131). Uma coisa é afirmar que o Holocausto 
(diversamente dos genocídios ameríndio ou africano, que não se basearam em políticas de extermínio completo das 
populações afetadas, como no caso dos judeus da Europa) foi executado com métodos industriais (“modernos”), daí sua 
espantosa e macabra eficiência. Outra, completamente diferente, é responsabilizar genericamente uma “modernidade” 
pelo crime que, como todo crime e mais do que qualquer outro crime, teve executores e cúmplices bem concretos e 
identificáveis, em graus diversos de responsabilidade (todos, porém, criminais), e também causas e mecanismos 
(econômicos, sociais, político, culturais e ideológicos) que, além de identificáveis, continuam bem vivas e presentes, não 
só na Alemanha e na Europa. Pensar de outro modo é condenar-se à resignação, talvez esperando de modo fatalista pela 
próxima “falência”(“posmoderna”?). 
30
 Leon Trotsky. Programa de Transição. Porto Alegre, Combate Socialista, s.d.p., p. 28. 
31
 Walter Laqueur. O Terrível Segredo. Rio de Janeiro, Zahar, 1981; Saul Friedlander. Pio XII et le IIIe Reich. Paris, Seuil, 
1965. 
103 
 
Sublinhar o caráter contrarrevolucionário do segundo conflito mundial e dos 
preparativos que levaram ao mesmo, não significa justificar a política stalinista para manter 
afastada a URSS da guerra, mas apontar para o seu caráter ilusório e contrarrevolucionário 
que acabaria custando 20 milhões de mortos à União Soviética (o preço mais alto pago por 
qualquer um dos beligerantes). Do pacto Laval-Stalin em 1935, que desarmou o 
proletariado francês para lutar contra o militarismo da sua burguesia, até o pacto União 
Soviética-Japão de 1941 (nas vésperas da invasão pelo exército nazista), passando pelo 
pacto Hitler-Stalin, de 23 de agosto de 1939 (que deu o sinal verde para a invasão da 
Polônia pela Alemanha) - a política externa da União Soviética foi o complemento da 
política que, no plano interno, levou, nos ―Processos de Moscou‖ de 1936-1938, à 
aniquilação de tudo o que restava da ―velha guarda‖ bolchevique e inclusive, em 1937, à 
decapitação do Exército Vermelho. 
Os processos sobre o Exército Vermelho se abateram não só ao nível da cúpula, 
mas até dos comandos médios. Foram promovidos a partir de falsas acusações fabricadas 
pelos serviços secretos nazistas. Uma vez realizados tais expurgos Hitler proclamou 
―neutralizamos a Rússia por dez anos‖, o que lhe permitiu preparar a conquista da 
Tchecoslováquia e a guerra na frente ocidental. A Marinha alemã estava subdimensionada 
para a guerra desde o início, mas se saiu bem em ações até 1940, quando sofreu fortes 
reveses na invasão da Noruega. Daí em diante, concentrou suas ações no uso de 
submarinos, afundando comboios americanos no Atlântico Norte, que abasteciam a 
Inglaterra com armas e mantimentos. A ocupação da França pelos alemães, em 1940, abriu 
o acesso ao Atlântico para os U-boats, que passaram a operar de bases no litoral francês. 
O pacto Ribbentrop-Molotov (Hitler-Stalin) foi sido selado com o sangue dos comunistas 
alemães refugiados na União Soviética, que foram entregues à Gestapo pelas autoridades 
soviéticas. O pacto foi cuidadosamente oculto nas versões soviéticas acerca da Segunda 
Guerra Mundial,
32
 chegando-se ao extremo de Deborin definir a guerra como ―inter-
imperialista‖ entre 1939 e 1941, e como ―guerra de libertação‖ a partir da invasão da União 
Soviética pela Alemanha (22 de junho de 1941).
33
 Um pacto que levou a imprensa dos 
―partidos comunistas‖ do mundo inteiro a abrir generosas páginas para as longas litanias e 
tiradas anti-britânicas de... Joseph Goebbels. Um pacto que levou o ministro alemão 
Ribbentrop a propor à União Soviética o ingresso... no Pacto Anti-Komintern. Um pacto 
que levou o PC francês a solicitar a publicação legal de seu jornal L'Humanité às tropas 
nazistas de ocupação da França. Um pacto que permitiu a preparação da máquina alemã de 
guerra (parte da qual era treinada na própria União Soviética) para a guerra em toda Europa. 
Um pacto através do qual, segundo o depoimento de um ajudante direto de Stalin, a União 
Soviética fornecia ―trigo, grãos, petróleo, minerais estratégicos e também borracha, látex, 
soja, que vinham do sudeste asiático, transportados pela União Soviética para abastecer a 
Alemanha (...) O último trem com nosso fornecimento cruzou a fronteira uma hora antes da 
invasão (da União Soviética pela Alemanha)‖.
34
 
Como ficar surpreendido, nesse quadro, de que Stalin se recusasse a acreditar na 
iminência da invasão nazista, que lhe fora anunciada pelos chefes da espionagem soviética 
 
32
 Oleg A. Rzheschvski. La Segunda Guerra Mundial. Mito y realidad. Moscou, Progresso, 1985. 
33
 G. A Deborin. Segunda Guerra Mundial. São Paulo, Fulgor, 1966. 
34
 Valentin Bereshcov. Amor a Hitler cegou União Soviética. Folha de S. Paulo, 22 de junho de 1991. 
104 
 
no Ocidente (Leopold Trepper) e no Oriente (Richard Sorge) — segundo relatado nas 
memórias do primeiro, O Grande Jogo — e que, inclusive, se recusasse a acreditar nela até 
depois da invasão começada, o que teve um custo enorme em vidas, material bélico e 
vantagens estratégicas para a União Soviética?
35
 Como atribuir isto às limitações pessoais 
do próprio Stalin - como fez Kruschev no seu ―relatório secreto‖ ao XX Congresso dos 
PCUS, em 1956 - e não à política estratégica de toda a camada dirigente da União 
Soviética? Logo depois do Acordo de Munique entre as potências ―democráticas‖ e as 
―totalitárias‖, Trotsky tinha publicado um artigo, em 7 de outubro de 1938, titulado ―Após 
Munique, Stalin procurará um acordo com Hitler‖, onde se lia: ―Teria Hitler enganado a 
confiança ingênua de Stalin? Mas se assim fosse, Stalin teria podido reparar imediatamento 
o seu erro. Na realidade, o Soviet Supremo ratificou o pacto no mesmo momento em que o 
exército alemão transpunha a fronteira polaca. Stalin sabia bem o que fazia. Para atacar a 
Polônia e levar à guerra contra a Inglaterra e a França, Hitler tem necessidade da 
neutralidade benevolente da União Soviética e também das matérias primas soviéticas. Os 
tratados políticos e comerciais asseguram ambas as coisas a Hitler‖.
36
 
A consciência do caráter contrarrevolucionário da guerra estava em ambos os 
lados. No início da mesma, o jornal francês Le Temps relatava que, no último encontro que 
o embaixador francês Coulondre tivera com Hitler para evitar a invasão da França, apelou 
para um argumento desesperado (o único com o qual Hitler concordou, segundo relato das 
próprias memórias de Coulondre, publicadas depois da guerra): o de que o maior perigo de 
uma nova guerra mundial estava na possibilidade dela sair vitorioso ―monsieur Trotsky‖. 
Ou seja, que agissem novamente os mecanismos políticos que, no fim da Primeira Guerra 
Mundial, tinham possibilitado a Revolução de Outubrode 1917. Ai reside o significado da 
decisão tomada por Stalin, no quadro da vigência do pacto germano-soviético, de assassinar 
Trotsky. Segundo Pável Sudoplatov (dirigente do aparelho de segurança da URSS) durante 
um encontro da cúpula do KGB (polícia política da URSS) com Stalin na primavera de 
1939, o líder se pronunciou de maneira clara: ―A guerra se aproxima. O trotskismo tornou-
se um cúmplice do fascismo. É preciso desferir um golpe contra a IV Internacional. Como? 
Decapitá-la‖...
37
 
Depois de várias tentativas, um agente da KGB conseguiu assassinar Trotsky a 
20 de agosto de 1940, quase exatamente um ano depois do pacto Hitler-Stalin, e 
provavelmente como o produto político mais importante desse pacto. ―É meia-noite no 
século‖, proclamou Victor Serge. Em 1940, Viacheslav Molotov - chanceler da URSS - 
proclamava ainda que “é criminoso fazer passar esta guerra como uma luta pela 
destruição do hitlerismo, sob a falsa bandeira de uma batalha pela democracia”.
38
 O 
desastre bélico da União Soviética durante a primeira metade da guerra não precisou 
esperar até a invasão da União Soviética pelo exército de Hitler. Já na invasão à Finlândia, 
consequência do pacto germano-soviético, em 1940, a União Soviética perdeu 200 mil 
homens (quase a metade do que os Estados Unidos e a Inglaterra perderam em toda a 
 
35
 Constantine Pleshakov. A Loucura de Stalin. Os trágicos dez dias iniciais da Segunda Guerra Mundial no front oriental. 
Rio de Janeiro, Difel, 2008. 
36
 Leon Trotsky. O pacto germano-soviético. Socialist Appeal, Nova York, 4 de setembro de 1939. 
37
 Pável Sudoplátov e Anatoli Sudoplátov. Operaciones Especiales. Barcelona, Plaza & Janés, 1994, p. 105. 
38
 Paolo Spriano. O movimento comunista entre a guerra e a pós-guerra: 1938-1947. In: E. J. Hobsbawm. História do 
Marxismo. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987, vol. X, p. 149. 
105 
 
guerra) porque as suas tropas estavam, depois da decapitação do Exército Vermelho em 
1937, dirigidas, segundo Gerhard L. Weinberg, por ―incompetentes aterrorizados‖.
39
 Depois 
da invasão nazista, para a União Soviética, ―os três meses e meio iniciais, constituíram uma 
desgraça sem lenitivo. A maior parte da força aérea russa desapareceu em poucos dias. 
Milhares de tanques foram destruídos. Milhões de soldados russos aprisionados numa série 
de cercos espetaculares durante a primeira quinzena de luta. Na segunda semana de julho, 
os generais alemães davam a guerra como ganha‖.
40
 
No ano seguinte (1942), porém, a guerra começaria sua reviravolta. Na visão 
retrospectiva norte-americana ela coincide com as primeiras vitórias norte-americanas na 
guerra do Pacífico contra o Japão, em especial a batalha de Midway. Em junho de 1942, os 
japoneses conquistaram algumas das Ilhas Aleutas, no extremo norte do Pacífico, parte do 
território americano do Alasca, um pequeno grupamento de ilhas do Cinturão de Fogo, nas 
fronteiras do Polo Norte. O receio de que os japoneses pudessem atacar o território 
americano daquele ponto motivou a construção de uma longa estrada e de um oleoduto, que 
atravessou vários estados americanos até a região do Alasca, mobilizando o home front na 
defesa das fronteiras norte-americanas. 1942 marcou a virada, nos EUA, em direção ao 
esforço pela ―guerra total‖. 
Mas, no cenário mundial, o ponto de virada bélica foi a primeira derrota do exército de 
Hitler em Stalingrado (novembro de 1942) com a morte de mais de cem mil homens (quase 
metade dos efetivos envolvidos na batalha), derrota que iniciou a contagem regressiva do 
poderio militar alemão, até então invicto. Em julho do ano seguinte, os soviéticos 
derrotaram os alemães em Kursk, na maior batalha de tanques da história. Em fevereiro de 
1943, Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler, conclamara os alemães para uma 
―guerra total‖ (total krieg). Esse foi o cenário decisivo da guerra, pois foi o exército 
soviético que infringiu 75% das baixas ao exército do Terceiro Reich na guerra. As 
melhores tropas alemãs estavam na frente Leste, não na ocidental. Quando algumas 
divisões da frente Leste foram redirecionadas por Hitler para as Ardenas, na frente 
ocidental, após o desembarque aliado em Normandia (junho de 1944) a derrota que 
impuseram às tropas aliadas motivou um pedido de Churchill a Stalin de abertura de novas 
frentes no Leste, sob risco de nova inflexão no destino da guerra. Churchill foi rapidamente 
atendido, a diferença do que tinha acontecido com os insistentes pedidos anteriores de 
Stalin de abertura de uma ―segunda frente‖, quando todo o esforço da guerra contra o Eixo 
na Europa estava nas costas da União Soviética. 
A reviravolta bélica não esteve determinada pela inércia devida ao peso 
econômico e demográfico dos aliados. Ela refletiu também o aguçamento, em condições 
extremas, do embate entre revolução e contrarrevolução, e a vigência das relações de 
produção criadas pela Revolução de Outubro na União Soviética: ―Talvez o fato básico 
fosse que as convulsões da guerra tivessem tornado possível uma retomada da expansão 
comunista, contida desde 1919‖,
41
 não se referindo o autor apenas ao avanço avassalador 
dos exércitos soviéticos a partir de 1943, mas também ao desenvolvimento de uma ampla 
resistência classista, presente na Europa inteira,
42
 e até no próprio centro do campo 
 
39
 Gerhard L. Weinberg. A Global History of World War II. Nova York, Cambridge University Press, 1993. 
40
 Alexander Werth. A Rússia na Guerra 1941-1945. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966, p. 157. 
41
 David Thomson. Pequena História do Mundo Contemporâneo. Rio de Janeiro, Zahar, 1973, p. 166. 
42
 Giorgio Vaccarino. Storia della Resistenza in Europa 1938-1945. Milão, Feltrinelli, 1981. 
106 
 
―aliado‖, os EUA. Já em 1941, os mineiros franceses fizeram greve em Nord Pas-de-Calais, 
apesar da ocupação alemã. Após as greves, alguns jovens requisitados para o STO (Serviço 
de Trabalho Obrigatório) na Alemanha prennent le maquis, ou seja, iniciaram uma 
resistência armada que seria encampada e dirigida pelo PC francês, no sentido de uma 
aliança com o representante da (nessa altura fantasmagôrica) burguesia anti-nazista, o 
general de Gaulle (refugiado na Inglaterra).
43
 
Desde 1942, as greves também explodiram na Grécia ocupada pelos nazistas. 
Na Itália, o movimento grevista foi explosivo em 1943, ameaçando criar uma situação de 
duplo poder,
44
 e é o pano de fundo do movimento dos partigiani e do golpe de estado do 
Conselho Fascista que derrubou Mussolini nesse mesmo ano (a abertura da ―segunda 
frente‖ na Itália se deveu mais a considerações políticas do que estratégico-militares). Nos 
Estados Unidos, houve greves dos mineiros, dirigidas por John L. Lewis, em maio e 
novembro de 1943; e greve dos ferroviários no mesmo ano. Apesar da legislação anti-
grevista, em 1944 houve 224 greves não-autorizadas, com 388 mil grevistas.
45
 Na própria 
Alemanha o atentado contra Hitler de julho de 1944 foi preparado junto com uma possível 
greve geral, organizada pela resistência socialdemocrata clandestina.
46
 Na Iugoslávia 
ocupada, os partisans já eram 300 mil em 1943 e em outubro do ano seguinte, o líder 
comunista Tito entrou em Belgrado. Como não situar nessa perspectiva a luta mais heroica 
da guerra, o levantamento do ghetto de Varsóvia, dirigido pelas organizações judias de 
esquerda sobreviventes, após enfrentamento e destituição prévias da direção (Judenrat) 
judaica conciliadora?
47 
Durante a guerra, a derrota inicial da França e o enfraquecimento do 
colonialismo inglês possibilitaram o avanço da revolta anticolonial, culminando na vitória 
dos japoneses sobre os ingleses no Pacífico. Ela deu ensejo para a sublevação das massas 
das Filipinas, de Cingapura, do Oriente Médio, ainda durante a guerra mundial. Nesse 
marcou houveram asublevação da Índia, da China, do Norte da África,e até algumas 
revoltas na América Latina. Os EUA, para invadir o Norte da África, compactuaram com 
um declarado fascista francês, o general Darlan que, quando precisou da ajuda americana, 
tornou-se um ―democrata‖. No dia da libertação de Paris - festejado em todo o mundo - na 
Argélia e em Madagascar, as tropas francesas reprimiam em massa às populações locais. 
Do ponto de vista militar, foi decisiva a derrota do exército nazista na União Soviética. Mas 
esta derrota não foi alheia aos fatores apontados acima. No início da guerra, o ódio contra a 
burocracia na URSS era tão grande que “as tropas alemãs eram recebidas como 
libertadoras na Ucrânia, até começarem a queimar as aldeias, expulsar as mulheres e 
crianças e executar os homens”.
48
 Quando ficou claro que os planos de Hitler eram 
―naturalizar‖ (sic) a Rússia, transformá-la num vasto celeiro com o trabalho escravo dos 
russos, a mobilização patriótica foi imensa. Mas esta pouco teria conseguido sem ―o 
 
43
 Cf. André Bendjebbar. Libérations Rêvées, Libérations Vécues. Paris, Hachette, 1994. Sobre o trabalho dos estrangeiros 
na Alemaha nazista: Edward L. Homze. Foreign Labor in Nazi Germany. Nova Jersey, Princeton University Press, 1967. 
44
 Umberto Massola. Gil Scioperi del '43. Roma, Riuniti, 1973. 
45
 Daniel Guérin. Op. Cit. 
46
 Ernest Mandel. O papel do indivíduo na História: o caso da II Guerra Mundial. Ensaio 17/18, São Paulo, 1989. 
47
 Roney Cytrynowicz. Memória da Barbárie. A história do genocídio dos judeus na Segunda Guerra Mundial. São Paulo, 
Edusp/Nova Stella, 1990, p. 142. 
48
 Bem Abraham. Segunda Guerra Mundial. São Paulo, Sherip Hapleita, 1985, p. 40. 
107 
 
transplante da indústria na segunda metade de 1941 e no começo de 1942, e a sua 
reconstrução no Leste (que) deve figurar entre as mais estupendas realizações de um 
trabalho organizado pela União Soviética durante a última guerra. O crescimento rápido da 
produção bélica e sua reorganização sobre novas bases, dependia da urgente transferência 
da indústria pesada das zonas ocidentais e centrais da Rússia europeia e da Ucrânia para a 
retaguarda longínqua, fora do alcance do exército alemão e da aviação‖.
49
 Tal feito teria 
sido impossível num país onde existisse propriedade privada da grande indústria. Na França 
ocupada pelos nazistas, o grande patronato industrial colaborou quase na sua totalidade com 
o exército de ocupação. 
Depois da derrota inicial, que dizimou parte substancial do exército soviético, a 
recomposição da força militar da União Soviética foi um tour de force econômico-social. A 
nova indústria militar soviética, reconstituída nas regiões não ocupadas pelas tropas alemãs, 
produziu 800 mil tanques entre 1941 e 1945, 400 mil aviões só em 1944. Baste dizer que na 
Inglaterra não invadida, e que ―ganhou a guerra nos ares‖, essa cifra corresponde à 
produção total da guerra. Foram mobilizados, na União Soviética, todos os recursos 
naturais e humanos, inclusive, e de modo especial, o trabalho forçado nos campos de 
trabalho que abrigavam milhões de prisioneiros, provocando, aqui também, uma 
mortandade em massa.
50
 A ajuda aliada não cobriu 10% da produção soviética. A derrota 
do Terceiro Reich na União Soviética livrou a humanidade da ameaça militar nazista, a 
maior máquina de guerra da história humana até então. 
A consciência da necessidade de evitar uma queda revolucionária 
(internacional) do nazismo determinou que as bases da ordem mundial do pós-guerra 
começassem a ser lançadas pelos EUA e a Inglaterra já em 1942 (com a ―Carta do 
Atlântico‖): também em janeiro de 1942, os Estados Unidos convocam a Conferência Pan-
Americana do Rio de Janeiro, com vistas a alinhar bélica e politicamente a America Latina 
(chegou-se a utilizar a ameaça de invasão militar contra as renitentes Argentina e Chile, que 
não declararam guerra ao Eixo). A partir de 1943 se sucederam as cúpulas dos aliados, nas 
quais procurou-se associar claramente à burocracia stalinista à ordem mundial do pós-
guerra: novembro de 1943, em El Cairo; dezembro de 1943, em Teerã; fevereiro de 1945, 
em Yalta; agosto de 1945, em Potsdam, quando se estabeleceu que a União Soviética 
conservaria os territórios concedidos à URSS pelo pacto Hitler-Stalin (basicamente, os 
países bálticos). Outros elementos desmentem o caráter ―antifascista‖ da guerra ―aliada": 
nas suas memórias, por exemplo, Churchill afirmou que Mussolini teria sido bem recebido 
pelos aliados (durante a guerra) se ele tivesse oferecido a estes a paz. 
A colaboração URSS-aliados ocidentais foi decisiva para que a derrota nazista não levasse 
ao início da revolução na Alemanha, peça-chave da revolução europeia. A política nacional-
revanchista levada adiante pelo exército da União Soviética levou a que as tropas alemãs 
defendessem até o último quarteirão de Berlim, inclusive quando toda resistência já era 
absurda. A concordância com os imperialismos ―aliados‖ em ocupar e dividir militarmente 
a Alemanha fez pender uma espada de Dâmocles sobre a cabeça da classe operária alemã, 
que foi a arma principal para reconstituir o Estado na Alemanha depois da degringolada 
 
49
 Alexander Werth. Op. Cit., p. 244. 
50
 Chris Bellamy. Absolute War. Soviet Russia in the Second World War. Londres, Macmillan, 2007; Richard Overy. Russia 
in Guerra 1941-1945. Milão, Il Saggiatore, 2011; Edwin Bacon. The Gulag at War. Londres, Macmillan, 1996. 
108 
 
nazista (permitindo inclusive a reciclagem de numerosos quadros nazistas na nova ordem). 
A ação e a autoridade da URSS pesaram para combater a tendência objetiva para a unidade 
e a revolução operária na Alemanha, que teve inúmeras manifestações: criação de um 
―partido dos trabalhadores‖ unindo ex-prisioneiros socialistas e comunistas na Turíngia, em 
abril de 1945; de um ―partido socialista unificado‖ em Brunswick; de um ―comitê de 
unidade‖ socialista-comunista no campo de concentração de Buchenwald. 
Se foram as tropas inglesas as que dissolveram, em Hamburgo, o ―Comitê de 
Ação‖ socialista-comunista,
51 foi a direção militar soviética a responsável pela dissolução 
dos Comitês Antifascistas no país todo. A mola-mestra da reconstituição da II Internacional, 
neste período, foi o SPD alemão. Este conheceu uma grave crise logo após a queda de 
Hitler e a derrota alemã, quando os resistentes antinazistas do SPD iniciaram uma dinâmica 
unitária com os comunistas ("Unidade! Nunca mais divisão e luta fratricida'', foram as 
palavras de ordem lançadas) e outras organizações de esquerda, em que se colocavam as 
bases de uma frente única operária. Em Turíngia (baluarte histórico do SPD) chegou-se a 
criar um Partido dos Trabalhadores, unificando socialistas e comunistas. Os Estados 
Maiores dos exércitos ocupantes intervieram para bloquear essa perspectiva. Ao leste 
alemão, o SPD consentiu na sua absorção pelo partido stalinista (PC), que criaria as bases 
do poder burocrático na RDA. No oeste, o SPD foi reorganizado com base na interdição do 
Partido Comunista Alemão e com participação dos serviços de informações norte-
americanos. 
Sobre essa base foi reconstituída, no Oeste da Alemanha, a socialdemocracia, 
com a colaboração das tropas de ocupação anglo-americanas, para criar uma peça-chave 
para a reconstituição do Estado na Alemanha Ocidental: ―Foi no contexto desse medo 
universal que a estratégia e a tática a serem aplicadas na Alemanha foram decididas em 
comum entre os imperialistas aliados e a burocracia stalinista, com vistas à destruição de 
toda possibilidade de uma revolução alemã (...) No plano econômico, isto manifestou-se no 
infame plano Morgenthau, que propunha o desmembramento da Alemanha, a destruição da 
sua base econômica e sua ruralização (...) Todos lembram do ditado de (Ilya) Ehrenburg, ‗o 
único alemãobom é o alemão morto‘, que foi repetido um milhão de vezes pelos meios de 
comunicação (...) A classificação de todo alemão como pária constituía a política 
contrarrevolucionária comum para garantir que não haveria revolução alemã. Ainda depois 
de finda a guerra, continuavam vigentes as ordens que proibiam às tropas aliadas qualquer 
confraternização com a população alemã (...) Stalin levou adiante uma política deliberada 
quando, depois da ocupação de uma região alemã, substituia as tropas de assalto por 
unidades vindas das regiões mais atrasadas (da União Soviética), com as consequentes de 
pilhagens, violações, assassinatos, etc. A política de capitulação incondicional atingiu seu 
objetivo, a destruição de toda possibilidade de revolução na Alemanha, uma política em 
cuja formulação Stalin teve um papel capital‖.
52
 
Para além dos conflitos localizados, a colaboração da burocracia stalinista com os 
imperialismos ―aliados‖ foi decisiva para desarmar os elementos da guerra civil com que o 
segundo conflito mundial culminou em vários países da Europa ocidental, que possuiam um 
 
51
 Françoise Foret. La réconstruction du SPD après da 2ème Guerre Mondiale. Le Mouvement Social nº 95, Paris, abril de 
1976. 
52
 Sam Levy. A nouveau sur la politique militaire prolétarienne. Cahiers Léon Trotsky nº 43, Paris, setembro de 1990. 
109 
 
potencial suscetível de envolver todo o continente.
53
 Foi ela que permitiu o desarmamento 
dos partigiani italianos, que tinham participado de modo decisivo da derrubada da ditadura 
de Mussolini. Na Grécia também, a resistência antinazista se desdobrou em guerra civil: ―A 
revolução grega de dezembro de 1944, apesar do controle total do país pelas tropas da 
ELAS, foi esmagada pela intervenção das tropas britânicas, depois da capitulação dos 
dirigentes stalinistas da ELAS que devolveram as armas, aplicando as diretivas de Stalin de 
unificação das forças patrióticas numa Frente Nacional‖.
54
 A Grécia se viu envolvida numa 
longa e sangrenta guerra civil, que culminou com a derrota das forças irregulares por volta 
de 1949,
55
 forças que enfrentaram uma coalizão político-militar de todas as forças 
vencedoras da guerra mundial, o que levou Winston Churchill a declarar na Câmara dos 
Comuns: ―Acredito que o trotskismo defina melhor o comunismo grego e de outras seitas 
do que o termo habitual. E tem a vantagem de ser também repudiado na Rússia (risos 
prolongados)‖. 
Na França, essa política atingiu dois objetivos: 1) o desarmamento das forças 
armadas irregulares, como um aspecto da reconstituição do Estado imperialista francês, e 2) 
a liquidação de toda possibilidade de um levantamento de classe como desdobramento final 
da luta anti-nazista: ―(Em 1945) nas minas do norte, por exemplo, foi necessária toda a 
autoridade do PCF para impedir que as múltiplas paralisações `degenerassem' em uma 
greve geral que teria coberto todo o território (...) é indubitável o caráter espontâneo da 
maioria das greves (...) os dirigentes sindicais não vacilaram em apelar a sanções do 
Estado contra os grevistas contrários às suas diretivas‖.
56
 No que diz respeito ao primeiro 
aspecto, ―o general de Gaulle decidiu a integração das FFI e dos FTP (Forças Francesas do 
Interior e Franco-Atiradores e Partisanos) no exército regular. Em outubro de 1944, 
decretou a dissolução das Milícias Patrióticas. O PCF protestou inicialmente com violência 
contra essa medida. Mas terminou por aceitá-la diante das ordens de Maurice Thorez, seu 
secretário-geral, que voltou da Rússia em novembro de 1944, depois de anistiado da 
acusação de deserção. Diversos historiadores concordam em que existia um projeto 
insurrecional da resistência comunista interior, mas que ele foi combatido por Stalin, mais 
interessado na absorção da Europa Oriental‖.
57
 
Stalin estava ―mais interessado‖ em um acordo com os ―aliados‖, o que incluía, 
claro, um ―cordão de segurança‖ para a União Soviética na Europa Oriental (que os EUA 
tentaram furar com o Plano Marshall, o que motivou a descida da ―cortina de ferro‖ e o 
início da ―guerra fria") mas, sobretudo, a desativação da ―bomba‖ revolucionária nos países 
capitalistas mais importantes, os da Europa Ocidental. De Gaulle carecia de base social e 
política sólida e própria para reconstituir o Estado (a quase totalidade da burguesia francesa 
fora colaboracionista). O PCF lhe forneceu essa base. Em consequência disso, por um lado, 
 
53
 Em dezembro de 1944, o subsecretário de Estado dos EUA, Dean Acheson, em visita à Grécia, advertia seu governo 
que “esse cenário se desenvolvia já na Iugosláva e na Grécia; Acheson temia que a agitação se multiplicasse de um 
extremo a outro da Europa, engendrando uma guerra civil geral na Europa. Algumas semanas depois da vitória aliada, o 
papa Pio XII alertava também sobre a fragilidade da paz recentemente restaurada” (Keith Lowe. L’Europe Barbare 1945-
1950. Paris, Perrin, 2013, p. 90). 
54
 Cermtri. Documents sur la révolution grecque de décembre 1994. Les Cahiers du Cermtri nº 60, Paris, março de 1991. 
55
 Miguel Etchegoyen. Grecia: el Movimiento Guerrillero de Liberación en la Posguerra. Buenos Aires, CEAL, 1973. 
56
 Grégoire Madjarian. Conflits, Pouvoirs et Societé à la Libération. Paris, UGE, 1980, p. 337. 
57
 Serge Bernstein e Pierre Milza. Histoire du Vingtième Siècle 1939-1953. Paris, Hatier, 1985, p. 93. cf. também François 
Fonvielle-Alquier. El Gran Miedo de la Posguerra 1946-1953. Barcelona, Dopesa, 1974. 
110 
 
colaborou com a reconstituição do imperialismo francês, praticamente desfeito durante a 
guerra, tomando parte nos massacres de Sétif e de Guelma (na África do Norte), ao mesmo 
tempo em que, em nome da luta contra o ―imperialismo japonês‖, encorajou os ex-FTP 
integrados no exército do general Leclerc a participar da retomada da Indochina ―francesa‖, 
chamando a preservar o ―quadro‖ da União Francesa, isto é, a apoiar a guerra colonial do 
imperialismo francês contra o Vietnã. Isto permitiu não apenas a reconstituição do Estado, 
mas a reciclagem, dentro do mesmo, dos funcionários do regime colaboracionista de Vichy, 
alguns dos quais foram transformados em ―heróis da resistência‖: ―contrariamente ao que 
se pensa habitualmente, os altos funcionários de Vichy não tiveram maiores problemas em 
se integrar na IV República‖.
58
 Preservados os quadros fundamentais do Estado, foram 
livradas à ―vingança popular‖ algumas mulheres (as ―tondues‖, raspadas) que tinham 
dormido com soldados alemães... 
Os acordos de Yalta e Potsdam tiveram por objetivo fundamental fornecer o 
quadro legal para essa política, continuidade ―legal e pacífica‖ do caráter 
contrarrevolucionário das hostilidades militares e do horror bélico. A ―desnazificação‖ foi 
cuidadosamente planejada para ser suscetível de tornar ―populares‖ os acordos 
contrarrevolucionários. Dos mais de cinco mil alemães pertencentes ao alto escalão nazista, 
em 1951 apenas cinquenta permaneciam presos. No total, de mais de 13 milhões de alemães 
―questionados‖, em 1949 havia apenas 300 presos; em contraste: ―Dos 11.500 juízes em 
atividade na Alemanha do pós-guerra, 5.000 haviam atuado nas cortes nazistas‖.
59
 A 
execução dos carrascos julgados em Nüremberg foi a cortina de fumaça da preservação da 
coluna vertebral do Estado alemão. Os conflitos entre a URSS e o imperialismo ocidental, 
posteriores a esses acordos, chegaram a ser muito agudos, sem no entanto comprometer os 
acordos que deram continuidade ao caráter contrarrevolucionário da Segunda Guerra 
Mundial. A CIA e outras agências dos EUA usaram ao menos mil ex nazistas como espiões 
e informantes depois do fim da guerra. 
A intervenção norte-americana na Segunda Guerra Mundial foi gradual: sendo o país 
economicamente mais poderoso, interessava-se pelo enfraquecimento das forças em 
combate na Europapara entrar somente no final da guerra, como já fizera na Primeira 
Guerra, quando os EUA ficaram com os espólios dos demais países. O fato da Segunda 
Guerra Mundial ter sido a única solução possível para a crise econômica marca uma 
diferença importante em relação à Primeira Guerra, na qual a questão principal era a 
redistribuição do mundo entre as potências imperialistas e não, para todos os protagonistas, 
a anexação à máquina capitalista enguiçada, de um motor artificial (a economia 
armamentista e, posteriormente, a economia de guerra) que seria doravante peça essencial 
para o funcionamento da economia capitalista mundial. 
O delineamento de uma ―nova ordem econômica mundial‖ precedeu, durante a 
guerra, o estabelecimento da ordem política internacional, realizado na Conferência de San 
Francisco (1945) que deu origem às Nações Unidas. A conferência de Bretton Woods 
estabeleceu, em julho de 1944, regras para as relações comerciais e financeiras entre os 
países capitalistas industrializados. O presidente da conferência foi o norte-americano 
Henry Morgenthau, autor do um projeto de ―ruralização‖ da Alemanha. A confiança do 
 
58
 Philippe Bourdrel. L'Epuration Sauvage. Paris, Perrin, 2002. 
59
 Roney Cytrynowicz. Op. Cit., p. 150. 
111 
 
Reino Unido e dos EUA em sua vitória na Segunda Guerra Mundial era completa. A 
conferência estabeleceu uma ordem monetária internacional ―totalmente negociada‖, 
―negociação‖, no entanto, realizada sob a presença implícita de exércitos ainda em pé de 
guerra. 
Para reconstruir as relações econômicas mundiais enquanto a guerra ainda 
grassava, 730 delegados de 44 nações se encontraram em New Hampshire para a 
conferência monetária e financeira das (ainda formalmente inexistentes) Nações Unidas 
(oficialmente, no entanto, a conferência foi chamada de United Nations Monetary and 
Financial Conference). Os delegados deliberaram e assinaram o Acordo de Bretton Woods 
(Bretton Woods Agreement), definindo um sistema de regras, instituições e procedimentos 
para regular a política econômica internacional, criando o Banco Internacional para a 
Reconstrução e Desenvolvimento (International Bank for Reconstruction and Development, 
ou BIRD) (mais tarde dividido entre o Banco Mundial e o "Banco para investimentos 
internacionais") e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Essas organizações começaram a 
funcionar em 1946, depois que um número suficiente de países ratificou o acordo. No 
mesmo ano, 23 países, denominados ―fundadores‖, iniciaram negociações tarifárias, o que 
resultou em 45.000 concessões comerciais e alfandegárias. A ―Organização Internacional 
do Comércio‖ planejada, no entanto, não saiu do papel, e foi substituída em 1947 pelo 
GATT (General Agreement on Tariffs and Trade, Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio). 
O arranjo estabelecido em Bretton Woods refletiu a ascensão dos EUA como potência 
hegemônica, e o declínio da Inglaterra. Ao final da guerra os EUA foram os grandes 
vitoriosos não apenas no plano militar, mas principalmente no econômico. Os países do 
Eixo - Alemanha, Itália e Japão - foram derrotados militarmente e terminaram com suas 
economias arrasadas; os principais países aliados europeus, Inglaterra e França, embora 
vitoriosos, tiveram como saldo de guerra além dos danos humanos e materiais, forte perda 
de reservas e endividamento junto aos EUA, decorrentes das compras de armamentos e 
provisões de guerra. Abria-se uma etapa em que os EUA, no papel de potência hegemônica 
no mundo ocidental, cumpririam, simultaneamente, o papel de fonte autônoma de demanda 
efetiva e a função de ―emprestador de última instância‖ ou ―prestamista internacional‖, 
através da atuação de seu banco central, o Federal Reserve, FED, com o papel de regulador 
da liquidez internacional do sistema. 
Exemplo claro foi o empréstimo feito pelos EUA à Inglaterra em dezembro de 
1945, US$ 3,75 bilhões, reembolsáveis em cinquenta anos à taxa de juros anual de 2%. Esta 
operação destinou-se a dar cobertura ao Banco Central inglês, que, exaurido pelo dispêndio 
militar, teve um crescimento dramático em seu estoque de ativos financeiros estrangeiros 
em libras esterlinas, que ao longo da guerra passou de 600 milhões para 3,6 bilhões. A 
Inglaterra não poderia fazer frente a uma conversão desses títulos em libras, moeda forte ou 
ouro, e portanto não poderia garantir a conversibilidade de sua moeda: não lhe restava 
alternativa senão recorrer ao crédito norte americano e ceder às suas exigências. Para John 
Maynard Keynes, a conferência de Bretton Woods pretendia terminar com a "era da 
mendicância": a sucessão de guerras comerciais, protecionismo, desemprego, hiperinflações 
e miséria nas décadas de 1920 e de 1930. Na plateia estavam os futuros ministros dos 
governos militares brasileiros Roberto Campos e Octavio Gouvêa de Bulhões, o economista 
Eugenio Gudin e o ministro da Fazenda de Getúlio Vargas, Artur de Souza Costa. O Brasil 
112 
 
foi signatário do acordo. A União Soviética também assinou o acordo, mas jamais o 
ratificou. 
A Segunda Guerra Mundial foi o método capitalista para encontrar uma saída à 
depressão econômica mundial da década de 1930, originada na crise de 1929, em termos 
capitalistas: a destruição das forças produtivas, do potencial produtivo da humanidade. A 
ordem de pós-guerra começou a ser delineada pela ―Carta do Atlântico‖, esboçada em 
agosto de 1941 em encontro do presidente norte-americano Roosevelt com o primeiro-
ministro britânico Winston Churchill, com vistas a "estabelecer um amplo e permanente 
sistema de segurança geral". A guerra, porém, concluiu com explosões sociais 
revolucionárias em vários países, e com o literal afundamento do capitalismo em territórios 
(Leste europeu, Bálcãs, China) que abrigavam mais de um quinto da população mundial, o 
que aconteceu no breve lapso de quatro anos (final de 1945 – final de 1949). No carro-chefe 
da economia mundial capitalista, os EUA, somente após 1942, com a entrada na Segunda 
Guerra Mundial, o país conseguiu sair de fato da crise da década de 1930. Através de uma 
economia de guerra, toda a capacidade produtiva foi posta em funcionamento. 
Os EUA emergiram da Segunda Guerra Mundial como a mais forte economia 
capitalista do mundo, com rápido crescimento industrial, forte acumulação de capital e alto 
grau de monopolização. Já no final da Primeira Guerra Mundial, os EUA haviam se tornado 
o maior credor do mundo e, ao final da década de 1920, o país respondia por mais de 42% 
da produção industrial global (França, Inglaterra e Alemanha juntas detinham 28%).
60
 
Condições necessárias para a ulterior supremacia internacional do dólar já existiam: a 
acumulação nos EUA de uma parte considerável da reserva mundial de ouro, e a unificação 
da moeda nacional, emitida por uma só autoridade com poder para atuar como ―garantidor 
de última instância‖. Depois da crise de 1929, no entanto, a única época em que nos EUA 
houve emprego e ―prosperidade econômica‖ totais foi durante a Segunda Guerra Mundial, 
pois o socorro do New Deal à indústria fora só emergencial; e em 1939 existiam ainda 9,5 
milhões de desempregados nos EUA, ou 17,2% da PEA. Na guerra, por outro lado, os EUA 
não sofreram destruições em seu território, e enriqueceram vendendo armas e emprestando 
dinheiro aos países aliados; a produção industrial dos EUA em 1945 era mais do que o 
dobro da produção anual da década precedente. 
A guerra mundial obrigara à criação de novas áreas de produção, que exigiram a 
construção de centenas de novas fábricas, financiadas pelo governo, e vendidas ao final do 
conflito aos gigantes industriais a preços nominais. Para dirigir o Departamento de 
Produção de Guerra (War Production Board), sucessor do Escritório de Direção da 
Produção (Office of Production Management) comandado por William Knudsen, ex 
presidente da General Motors,

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