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TCC Manografia

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24
CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER 
nome, RU 1506975 
Artes visuais e cultura popular:
A arte popular na vanguarda modernista.
LIMEIRA
2018
CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER 
nome, RU 1506975 
 
Artes visuais e cultura popular
A arte popular na vanguarda modernista.
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Licenciatura em Artes Visuais do Centro Universitário Internacional UNINTER
LIMEIRA
2018
Artes visuais e cultura popular
A arte popular na vanguarda modernista.
	
 nome, RU 1506975 
Resumo: A presente pesquisa busca realizar uma explanação sobre a temática das influências da arte popular brasileira sobre os movimentos modernistas de vanguarda, ao explorar os meios evolutivos de um pensamento academicista de negação da arte popular para um anseio ideal da busca de uma arte verdadeiramente brasileira. Esta pesquisa pretende ser referência para ostros trabalhos em diferentes meios de produção de conhecimento.
 Palavras chave: Cultura popular; Cultura erudita; Modernismo; Arte brasileira. 
Abastratct: The present research seeks to establish a research and explanation on the theme of the influences of the Brazilian popular art on the modernist movements of the avant - garde, when exploring the evolutionary means of an academic thought of denial popular art for an ideal yearning for the search of a truly art Brazilian This research intends to seek references and to be reference for other works in different means of production of knowledge.
 Keywords: Popular culture; Classical culture; Modernism; Brazilian art.
Introdução
A presente pesquisa busca estabelecer uma explanação sobre a temática das influências da arte popular brasileira sobre os movimentos modernistas de vanguarda, ao partir do eixo de pesquisa: Artes visuais, História, Cultura e Sociedade; e do tema raiz: Artes visuais e cultura popular. Pretende ser referência para outras pesquisas em diferentes meios de produção de conhecimento.
A cultura é por excelência uma vertente própria do ser humano, sua existência acusa a evolução do animal selvagem para o animal civilizado. Todo ser humano é sujeitado à cultura e dela faz parte, porém no transcorrer dos tempos a partir das dominações e sujeições ideológicas esta divide-se assumindo a ideia de classe, sendo submetida a grupos de dominações e subordinações, é neste contexto que encontra-se a ideia historicamente arraigada de uma cultura soberana, de elite chamada de erudita, ligada a academia, em detrimento de uma cultura menor, inferior, onde encontra-se o popular, ou seja, a massa de pessoas da qual o acesso lhe é negado. Por isso esta pesquisa busca salientar o modo como a construção cultural da arte por longos séculos esteve dividida entre suas vertentes acadêmica e popular, como dois opostos, cada qual ocupou seu nicho de modo particularizado e de fechado acesso.
Em seu meio milênio de existência a arte brasileira por diversas vezes procurou unir de forma consciente e inconsciente estas temáticas que por vezes pareciam inconciliáveis. Haveria possibilidades de uma arte que excedesse o modelo importado da Europa e se consolidasse como uma arte genuinamente brasileira? 
 Com o advento do movimento modernista na década de 20 um grupo de artistas, procuraram reconciliar estes limites ao criar obras que buscassem exprimir uma arte verdadeiramente brasileira, e foi a partir das temáticas populares que buscaram este feito. A presente pesquisa busca estabelecer um paralelo entre o academicismo e o popularismo da arte, questionando a veracidade da existência de uma verdadeira arte brasileira que origine-se da fonte da arte popular. Neste sentido chegamos as figuras de Anita Malfatti, Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, que por meio de suas obras ajudaram a materializar as ideias aqui apresentadas, demonstrando de modo semiótico como as formas e as cores são passíveis de leituras que salientem o modo brasileiro de existir.
Cultura popular e cultura erudita.
"A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantêm separados". Por meio desta máxima do filósofo e pensador chinês Confúcio é possível perceber como as discussões em torno da cultura, seus hábitos e particularidades sempre permearam de tempos em tempos o imaginário humano, e ainda continua nos tempos hodiernos a ser uma fonte de pesquisa especialmente para os cientistas e etnógrafos. É que afinal, sempre desejou o humano entender-se enquanto ser que cria e produz este elemento que é vital para uma das distinções de grande importância para a formação, evolução e dominação humana, a ideia de ser possuidor de cultura.
O lexicógrafo A. Buarque de Hollanda ao registrar o verbete cultura em seu Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa escreveu: “saber, estudo, elegância, esmero” indicando seus domínios entre os campos da filosofia, das ciências e das belas artes”[footnoteRef:2]. Desta forma é possível entender a sua utilização como adjetivo muito recorrente na língua falada : “Esta pessoa possui cultura”, o termo por si já indica um percurso vital que separa o humano em categorias mais animalescas e bárbaras de seres elevados com grau de polidez diferenciado. Contudo partindo da frase inicial deste ensaio a ideia de cultura eleva o ser a uma categoria privilegiada entre os animais naturais, porém também o separa por seus hábitos, essa diversidade cultural é vista principalmente nas cidades cosmopolitanas onde o embate cultural ocorre cotidianamente. Por vezes em curto espaço territorial vê-se abarcada manifestações de cunho moral, social, religioso extremamente divergentes entre si, é claro que o recorte de leitura partindo da ideia de países distintos pode ser explicado histórico-socialmente por meio do modo de formação, dominação e exploração de um território. Afirmar Roque Laraia: [2: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.] 
“Se olharmos à nossa volta, logo nos damos conta que são muitos e variados os valores e concepções de mundo vigente em uma sociedade complexa e diferenciada. Numa cidade como São Paulo, por exemplo, onde grande parte da população descende de estrangeiros e de migrantes rurais, diversos modos de vida são recriados. É imediatamente visível a presença da cultura japonesa no bairro da liberdade; da judia no Bom Retiro; da italiana no Bexiga e na Móoca. A inspiração rural está presente nos indefectíveis tomateiros e pés de xuxu plantados nos quintais de pequenas dimensões: nos canteiros de temperos e chás de ervas construídos em centímetros quadrados, furtados aos chãos de cimento avassalador...”[footnoteRef:3] [3: LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
] 
A diversidade cultural dos mais variados lugares fez surgir teorias que por vezes deram forças a ideia de um determinismo biológico, conforme analisou Roque Laraia em sua obra: Cultura: Um conceito antropológico. Segundo ele apesar de em alguns momentos históricos acreditar-se na ideia de seres superiores e inferiores pela sua constituição biológica esta teoria torna-se falaciosa diante da realidade global em que homens e mulheres de diferentes gêneros, raças e idades alternam-se em atividades que são tidas determinadas para certas pessoas em outras culturas. Deste modo a ideia de atividades somente masculinas e femininas, capacidade intelectual de alguns em detrimento a outros são especulações que consolidaram-se no imaginário coletivo por meio das informações promulgadas como meio de domínio ideológico. 
Partindo da ideia de campo ideológico a cultura pode manifesta-se principalmente de modo diverso dentro de um espaço homogêneo, como pode ser visto por exemplo no Brasil, em que a mudança entre cidades torna visível as diferentes culturas locais. No campo acadêmico brasileiro o acesso histórico restrito a classes mais abastadas fez surgir uma diferenciação entre a culturaerudita e a cultura popular, vertente esta que é mais interessante para este trabalho de pesquisa, visto ser a cultura popular e a sua identificação com as criações modernistas o tema central da presente dissertação.
Por cultura popular entende-se toda e qualquer tipo de manifestação que possua origem na criação do povo, são meios epistemológicos encontrados pela população de modo geral para explicar sua realidade sem na maioria das vezes recorrer ao conhecimento científico. Por cultura popular entendem-se também as manifestações folclóricas que abarcam os significantes místicos da cultura religiosa, os mitos locais de explicação dos fenômenos, as artes criadas fora do ambiente acadêmico, entre outros. Pela divisão das classes sociais essas manifestações ficam relegadas as classes mais baixas, justamente pela falta de acesso ao ambiente acadêmico e são por vezes desprezadas pelas classes opostas, desta forma criou-se a divisão entre a cultura popular e cultura acadêmica. 
Apesar do saber popular fazer parte do cotidiano de toda população de modo geral, por vezes esses conhecimentos e práticas são mal vistos justamente por serem julgados pertencerem a um nicho inferior, associando assim a cultura popular a ideia de pobreza, enquanto vê-se a cultura erudita como um caminho refinado e frequentado por grupos seletos de pessoas. Cito Antônio Augusto Arantes:
Entretanto, quando fazem os nossas teorias – para uso privado ou para serem divulgadas – tendemos a colocar juntas essas “coisas” que qualificando de ingênuo, de mau gosto, indigesto, ineficaz, errado, anacrônico ou, benevolentemente, pitoresco, tudo aquilo que identificamos com o povo.[footnoteRef:4] [4: ARANTES, Antônio Augusto. O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 1988, p 13.] 
A arte impreterivelmente mostra-se dividida deste modo, ainda hoje discute-se muito se o artesanato deveria ser aceito como arte e o artesão como artista, esta dicotomia dividi-se especialmente na vertente epistemológica do caso, pois a verdadeira arte teria suas raízes na tradição das academias enquanto o artesanato é realizado por populares muitas vezes sem estudo e técnicas refinadas. Isso se dá principalmente pelo fato de nas sociedades capitalistas o trabalho intelectual ser distanciado do trabalho manual, isso é analisado por Antônio Augusto Arantes como visível nas relações de trabalho da atualidade em que as pessoas que estudam determinadas áreas do conhecimento possuem maior salário do que aquelas que ganham seu sustento por meio de “trabalhos braçais”. Na atualidade a separação parece passar por um processo de transformação frente aos movimentos artísticos que são fruto do movimento modernista que será analisado mais adiante. 
Na atualidade inúmeras bienais, museus e galerias ficam tomadas pela arte popular ou ao chamado estilo Naïf, classificação para identificar as obras de caráter ingênuo, realizadas por autores autodidatas distantes das regras acadêmicas. A arte contemporânea como herdeira da arte moderna rendeu-se a poética existente no fazer artístico extra acadêmico, justamente por perceber nestas manifestações que são passadas de geração em geração por meio da oralidade a ideia de nacionalismo, pois muitas surgem de modo espontâneo em períodos remotos antes da existência de uma identidade nacional, podendo assim dizer que grande parte da produção realizada por pessoas desconhecidas identificam o Brasil tanto quanto os símbolos nacionais como bandeira, brasão, hino, entre outros. No livro O que é folclore de Carlos Rodrigues Brandão, introduz sua obra contando um fato ocorrido na cidade de Pirenópolis/GO durante a festa do divino Espírito Santo quando este encontrou com um búlgaro que lhe contou sobre a importância de festividades como aquela, o autor concluiu que:
Nos escondidos das cidades e aldeias uma vida coletiva e sua cultura existiam por toda parte, nos ritos ocultos e símbolos do povo do país. “Você sabe”... ele me dizia enquanto punha a mão no meu ombro, no gesto de amigos que a confidencia tornou próximos vinte minutos depois de conhecidos, “isso tudo que você me disse que aqui é folclore, lá na minha terra foi o que tivemos para não perdermos a unidade da nação e também um sentimento de identidade que não podia ser destruído”. Ele dizia: “Eu acho que durante muitos e muitos anos as nossas bandeiras eram as saias das mulheres do campo e os hinos eram canções de ninar”.[footnoteRef:5] [5: BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é folclore. São Paulo: Brasiliense, 1987, 9.] 
	A cultura popular e o folclore, que são vertentes aproximadas, identificam pessoas, grupos e nações por meio de linguagens simples, mas que possuem o poder de comunicar verdades essenciais que muitas vezes escondem-se pela visão naturalizada de quem está imerso neste contexto. Por isso que muitas vezes aquele que faz-se inserido neste contexto não nomina como cultura popular ou folclore suas atitudes, podendo-se dizer que esta nomenclatura já pode ser tomada como a cultura erudita lançando um olhar científico sobre a construção popular. 
	Olhar para a construção de linguagens realizadas por anônimos, passadas de geração em geração durante séculos é entender que toda esta elaboração carrega consigo as vertentes históricas dos períodos em que surgiu e manteve-se viva, não exasperando frente a ideia de uma cultura erudita de valor elevado, em detrimento a ela própria enquanto cultura de valor mais baixo. O fato em si que deve ser levado em conta, é que indiferente do modelo ideológico ou social abraçado pela cultura, o simples fato de fazermos parte desta ou de outra torna-nos humanos no sentido lato desta evolução e nos coloca de modo diferenciado no reino animal.
A arte e a cultura popular brasileira
	
O Brasil antes de ser o Brasil já possuÍa a cultura e a arte própria dos indígenas que aqui viviam, estes primogênitos desta terra já traziam consigo em seus atos comunitários e religiosos, trabalhos de valor estético interessante, como a construção de indumentárias, utensílios, adereços, pinturas parietais e corporais, entre outros. A utilização de material natural diverso traduzia a riqueza de uma visão de mundo. 
Por sua vez com a chegada dos portugueses o Brasil passou por um processo de miscigenação em vários sentidos, como também na arte, este fato pode ser reconhecido por meio das oficinas de imaginaria jesuíta, que uniu uma visão europeia a indígena. Aos poucos essas tecnologias artísticas do velho mundo estavam sendo introduzidas nas comunidades de indígenas conversos ao cristianismo, e não somente a escultura e pintura, o teatro e a musicalização também. Ora advindos por livre vontade, ora escravizados e obrigados, muitos indígenas foram introduzidos ao universo artístico religioso daquele instante do século XVI, sentindo já nestas terras o alvoroço barroco da contra reforma.
Mais adiante com a vinda dos negros escravizados da África e seu contributo inigualável para a constituição tecnológica do país fechava-se a tríade da formulação do povo brasileiro, havia então um território de classes e raças bem definido e separado ao nível social e uma série de herdeiros bastardos fruto das relações extraconjugais, e três culturas fortes e distintas que também de forma bastarda miscigenava-se por meios das trocas culturais inter povos. É neste ambiente que surge a cultura brasileira e mais forte ainda a cultura popular deste país que carregará até a atualidade os traços desta tríade (Indígena, Europa, África)
Ao tomar contato com a cultura popular do Brasil é fácil perceber que boa parte dela bebe das fontes religiosas numa harmonia sincrética. O legado jesuíta em seu intercambio com os povos que aqui estavam por primeiro ainda vive em diversas manifestações da atualidade, fruto de uma transmissão oral. A cultura negra por sua vez apresenta-se de forma resistente ao tempo e espaço, afirmando sua luta pelo não apagamento das heranças ancestrais. As figuras lendárias, as manifestações religiosas ex templo, o modo supersticioso, a musicalidade, alimentação, os hábitos,entre outros, são heranças de uma miscigenação cultural desprezada historicamente pelo poder dominante que via apenas na cultura europeia a polidez ideal para a civilidade.
Mais tarde em meados do século XIX com a chegada da família real e sua pré disposição em elevar o Brasil a sede monarcal provisória, a inauguração da academia imperial de Belas Artes e a chegada da missão artística francesa alteraram a rotina da antiga colônia, e o Brasil viu o advento da arte acadêmica de modo distanciado e excludente, como arte da nobreza e espaço para poucos, mais europeia que brasileira, mais branca que mestiça. 
O modernismo no Brasil 
O período compreendido entre os dias 11 de fevereiro a 18 de fevereiro de 1922 foram determinantes para a mentalidade artística no Brasil, é neste período que um grupo de intelectuais brasileiros e naturalizados brasileiros realizaram a primeira semana de arte moderna neste país, este evento ocorreu na cidade de São Paulo e até hoje é recordado como marco do movimento modernista brasileiro, porém os precedente que remontam tal evento deram-se anos antes com uma movimentação ascendente pela de desejo pela busca do novo não apenas na atualização do Brasil artístico que fechara-se por décadas ao academicismo restritivo, mas também a uma nova ordem mundial, a um novo modo de pensar e agir. Cito Mario de Andrade:
A transformação do mundo com o enfraquecimento gradativo dos grandes impérios, com a prática europeia de novos ideais políticos, a rapidez dos transportes e mil e uma outras causas internacionais, bem como o desenvolvimento da consciência americana e brasileira, os progressos internos da técnica e da educação, impunham a criação de um espírito novo e exigiam a reverificação e mesmo a remodelação da Inteligência nacional. Isto foi o movimento modernista de que a Semana de Arte Moderna ficou sendo o brado coletivo principal.[footnoteRef:6] [6: ALMEIDA, Paulo Mendes. De Anita ao museu. São Paulo: Perspectiva, 1976, p 30.] 
O movimento modernista foi importante para além do grupo isolado em si no desejo uma nova arte, eles desejavam readequar o país àquele período, inserindo-o numa contemporaneidade de um atraso secular, desta forma seria preciso uma tomada de consciência de valores legítimos, fazendo brotar uma realidade deveras nacional, pois a classe artística brasileira em sua maioria e por todo um século tornaram-se herdeiros da missão artística francesa, vivendo em uma crosta neoclássica academista. O Brasil ansiava por uma arte que deveras traduzisse o novo país que descortivam os modernistas. 
No terreno das artes plásticas, violar os cânones de um academicismo, acomodático e estiolante, e quaisquer outras imposições de escola, deixou de constituir um sacrilégio, para tornar-se um vezo comum. Inspira-o no fundo, um sentimento> o da liberdade, que só ela fecunda. A liberdade como regra e não como exceção.[footnoteRef:7] [7: Ibid., p32.] 
	E continua:
A “Semana” logrou atingir os seus objetivos primordiais: “o direito permanente à pesquisa estética; a utilização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de uma consciência criadora nacional”.[footnoteRef:8] [8: Ibid., p32.] 
	Neste sentido o espírito jovial e interessante suscitado pela exposição de Anita Malfatti, que havia sido um desastre aos olhos da crítica, serviria como chamariz para o desejo rebelador desses jovens, realizada no ano de 1917 essa exposição é considerada a primeira modernista do país[footnoteRef:9], a primeira a deflagrar a polêmica entre a arte moderna e a acadêmica que teve o poder influenciador de congregar algumas vozes dispersas pelo território nacional. Faziam parte da primeira turma de modernistas: Anita Malfatti (pintora), Di Cavalcanti (pintor), Vicente do Rego Monteiro (pintor), Inácio da Costa Ferreira (pintor), John Graz (pintor), Alberto Martins Ribeiro (pintor), Oswaldo Goeldi (pintor), Victor Brecheret (escultor). Cito Marcos Augusto Gonçalves: [9: Salvo a exposição de Lasar Segall em 1913 na cidade de Campinas/SP, que apesar de ter ocorrido antes da realizada por Anitta Malfatti, não teve grande repercurssão como a da jovem artista.] 
No domingo, dois dias depois do terremoto, o Correio Paulistano noticiava que “diversos intelectuais de São Paulo e do Rio, devido à iniciativa do escritor Graça Aranha”, pretendiam apresentar no Municipal uma demonstração do que haveria de “rigorosamente atual” no mundo artístico, da escultura à literatura, passando pela música, pela arquitetura e pela pintura. O programa transcorreria “de 11 a 18 de fevereiro próximo” — e já se divulgava uma primeira lista de participantes...[footnoteRef:10] [10: GONÇALVES, Marcos Augusto. 1922 a semana que não terminou. Companhia das letras: São Paulo, 2012, p 16.
] 
Ora, pensar a arte a partir do Brasil foi uma das marcas mais interessantes deste período modernista, pois foi na busca do primitivismo renegado pelos eruditos que tais artistas descobriram uma forma de apresentar e representar o país, podendo desta forma abandonar também as temáticas já antiquadas da academia de belas artes. Após a semana de 1922 o cenário brasileiro não seria mais o mesmo, as vaias alongadas que ecoaram pelo teatro municipal de São Paulo geraram tamanho ruído que tal semana fez-se conhecida a léguas daquele lugar e novamente as ideias de uma arte a partir da cultura popular voltaria a ter espaço pareando com as ideias de uma verdadeira arte nascida a partir da tradicional academia.
Uma das cabeças do grupo de modernistas, o jovem Mario de Andrade já haverá formulado e proposto um plano estético para a arte moderna brasileira, que consistia justamente na constante pesquisa dos artistas como forma de manter-se atualizado para que a arte possa deveras traduzir o espírito de sua época, desta forma o experimentalismo e uma visão alargada da realidade social propiciariam os modelos que tanto almejavam, uma arte que saísse do individualismo para o coletivismo, fazendo política sem necessariamente ser político, escreve o poeta em sua obra “O valioso tempo dos maduros”:
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa…
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade...[footnoteRef:11] [11: ALMEIDA, Paulo Mendes. De Anita ao museu. São Paulo: Perspectiva, 1976, p 25.] 
	 A insatisfação apresentada pelo artista e seu desejo de busca por um coletivismo essencial faz ressaltar essa busca pela verdade na sua fonte, em detrimento a uma não verdade advinda dos modelos antigos, era necessário não parar apenas na semana de arte moderna, mas suscitar uma diversidade de movimentos que alteram o staus quo, nesta linha surge o movimento pau Brasil, iniciado por Oswald de Andrade e sua esposa Tarsila do Amaral. 
O movimento pau Brasil, teve inicio em 1924 e possuía um caráter nacionalista/ ufanista e previa um retorno ao primitivismo e a busca das raízes brasileiras, a cultura popular voltava a ter sua devida atenção e estes artistas buscariam na simplicidade do folclore nacional e dos costumes dos brasileiros mais simples as respostas para suas questões estéticas. Cito uma parte do manifesto de Oswald de Andrade:
A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança. Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas. Negras de jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil. O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente asselvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho. A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária.de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho. A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária.[footnoteRef:12] [12: ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda européia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. 3ª ed. Petrópolis: Vozes; Brasília: INL, 1976.] 
	A crítica realizada de modo poético explicita uma necessidade de retorno ao Brasil que não está nas vertentes eruditas e doutas do país, há uma necessidade urgente de mudança e mais ainda, de olhar a volta e perceber que os fatos estéticos necessários para a construção poética se dão na atenção dada pelo autor ao cotidiano popular brasileiro, que são as mesmas vertentes englobadas pelo folclore e cultura popular como a moradia, vestimenta, alimentação, modo de falar, contos aprendidos pela oralidade, danças, festas populares, entre outros. Por esta mesma linha seguiu a pintora Tarsila do Amaral em suas criações pictórias, a temática, as formas e as cores, todas são construções semióticas que calam fundo a alma do brasileiro.
Tarsila do Amaral – Uma artista da cultura popular.
	
Tarsila do Amaral nasceu no município de Capivari interior de São Paulo no ano de 1886, herdeira de uma família abastada de fazendeiros desde pequena teve uma educação primorosa tendo estudado em São Paulo/SP e na Espanha. Ao retornar dos estudos casou-se com apenas vinte anos, tendo um casamento curto pela incompatibilidade com o marido que não aceitava sua carreira artística de pintora. Estudou no ateliê de artistas brasileiros e estrangeiros e mais tarde viajou para Paris como meio de aprimorar sua técnica. Tomou contato com os modernistas por meio de Anitta Malfatti, formando o grupo dos cinco. Em 1924 realizou uma “viajem de redescoberta do Brasil” junto do poeta francês Blaise Cedrars, é neste período que inicia junto de Oswald de Andrade o movimento Pau Brasil em que representou por meio da arte pictórica os valores intrínsecos que formavam o verdadeiro Brasil. Não aquele idealizado pelo neoclassicismo nem do romantismo, mas o Brasil como deveras ela o via. Cito Paulo Mendes Almeida:
“É forçoso reconhecer que, no ambiente local, o que ela nos mostrava era de absoluta novidade, seja no emprego das cores puras, limpas, seja no caráter primitivista das suas composições. Tarsila introduziu em nossa pintura uma nota essencialmente nacional, com a adoção de certo gosto popular, caipira, que o contraste entre os azuis e os rosas – o seu célebre rosa-baú – identificava,”[footnoteRef:13] [13: ALMEIDA, Paulo Mendes. De Anita ao museu. São Paulo: Perspectiva, 1976, p 36.] 
 
 Figura - Capa do livro Pau Brasil realizado por Tarsila do Amaral - 1925.
As cores de Tarsila eram sem dúvidas as cores da novidade, de um país que depois de anos comendo tudo que lhe era oferecido de fora numa antropofagia animalesca, olha para dentro de si e expõe o que possui de mais essencial, a cultura popular, alma do povo, em suas obras a miscigenação é encarada como uma festa das formas e das etnias sem colocar o europeu como centro, fugindo das idealizações recorrentes até então. Neste sentido expõe-se aqui nesta pesquisa alguns trabalhos que demonstram de modo exemplar as questões anteriormente discutidas. 
Figura 1 - A família. Óleo sobre tela. 79.00 cm x 101.50 cm. Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofía (Madri, Espanha).
Na obra a família a artista plástica representa um grupo de pessoas com característica de família interiorana, percebe-se a grande importância da banana quanto elemento da cultura alimentar brasileira, do cachimbo grande, herança da cultura indígena, os animais de estimação. As figuras em sua maioria são femininas, retrato de uma cultura matriarcal brasileira, nas mãos de uma das meninas é representada uma boneca de formas simples de pele negra. O pai no plano mais fundo deixa aparecer uma espécie de cabo de inchada, transparecendo assim um dos possíveis meios de sobrevivência deste grupo familiar.
Figura 2 - O mamoeiro. Óleo sobre tela. 65.00 cm x 70.00 cm. Coleção de Artes Visuais do Instituto de Estudos Brasileiros - USP (São Paulo, SP).
A vida campesina dos primeiros anos de Tarsila influenciaram muito em sua criação, nesta obra intitulada “O mamoeiro” a artista representa uma local na zona rural de casas simples e vida pacata a beira rio, a flora faz-se presentes pelas plantas e por grande mamoeiros representados nas árvores. O casario pintado pela artista é fiel as construções caipiras do interior paulista, com paredes caiadas de batentes coloridos. Segundo consta seria esta a preferida de Mário de Andrade.
Figura 3 - Morro da favela. Óleo sobre tela. 64.00 cm x 76.00 cm. Coleção particular.
Na obra religião brasileira I, a autora capta a importância dos altares particulares na casa das pessoas. O modo como organizam-se, são decorados e colocados os oratórios dispostos a mesa junto de flores frescas e de papel colorido. Nesta obra em específico a presença das virgens e do Espírito Santo é de grande importância, primeiramente pelo fato de gerar uma discussão sobre o feminino na vida brasileira e segundo por serem estas divindades as que possuem cultos mais alastrados pelo território nacional.
	
Figura 4 - Religião brasileira I. Óleo sobre tela. 63.00 cm x 76.00 cm. Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. Palácio Boa Vista (Campos do Jordão, SP).
Tarsila celebra o encontro de culturas em um país de população miscigenada, ao escolher as formas, cores e temáticas específicas a autora coloca-se contra o academicismo que insistiu por mais de um século na não utilização de determinadas temáticas por julga-las inferiores. A cisão de séculos e o desejo quase que visto como impossível torna-se realidade no modernismo brasileiro, nascia pelas mãos desses jovens artistas uma pura e esteticamente pensada e gerida, arte Brasileira.
Metodologia
A presente pesquisa busca realizar um trabalho de investigação e análise acerca da temática proposta partindo da busca, seleção e construção unindo a vertente da pesquisa de outrem e a complementação por meio da discussão autoral, desta forma o meio de elaboração se dá pelo modo discursivo argumentativo. 
A pesquisa para sua realização perpassa diversas áreas de conhecimento, entre elas a antropologia social, ciências sociais, história da arte e biografias com o intuito de estabelecer um texto coeso, pensando principalmente numa leitura temporal linear que favoreça uma construção orgânica para o leitor que desejar tomar parte do texto.
A seleção das obras deu-se por meio da pesquisa de autores que já tenham explorado temáticas similares e com base nas descrições curatoriais das obras apresentadas como meio de ilustração das ideias aqui organizadas. 
O modo investigativo deu-se por elaboração de uma ideia hipotética que guiou a leitura dos autores como meio de resposta aos anseios colocados inicialmente, sendo em parte comprovada ao fim da discussão, cumprindo assim o desejo inicial de uma investigação que satisfaça e as regras acadêmicas cientificas.
Considerações finais
A evolução humana no universo em detrimento aos outros animais deu-se por meios qualitativos de uma construção ideal e estruturação do pensamento humano, neste sentido afirma-se que a evolução humana teve sua origem na construção de significados para a realidade em que vive, é neste contexto que encontra-se a ideia de cultura, a esse termo pode-se explicar a grosso modo como conjunto de hábitos humanos construídos,significados, resignificados e herdados historicamente, tendo como meio de perpetuação a oralidade .
Porém se a ideia de cultura os une enquanto seres iguais, esta também os separa frente a diversidade der seus hábitos, que podem ser vistas facilmente em diversos lugares como as cidades cosmopolitanas onde a concentração de imigrantes é sempre em quantidade considerável. Se hora esta diversidade é encarada por determinismo ou geografismo, o fato perene é que todo ser humano está sujeito a uma realidade cultural da qual ele próprio cria e é participante central. Ao pensar a cultura como meio de coesão social, é fato entender que esta mesma participa também dos embates ideológicos agregando e segregando os grupos sociais por meio da construção de grupos de acesso delimitado. Neste contexto surge a duplicidade da cultura erudita e da cultura popular. Uma ligada ao hegemonismo do poder dominante, e tomada como superior e boa em detrimento da outra, baixa e de mal gosto.
A construção artística ao assumir uma destas vertentes culturais relegou a cultura popular, assumindo como arte superior apenas as criações ligadas a academia, isso deu-se principalmente por esta instituição secular estar ligada ao poder dominante e ser de acesso restrito, por mais de um século a boa arte era somente as realizadas nas academias. 
Contudo um grupo de artistas brasileiros, desejosos em estabelecer uma nova ordem social que renovasse a cultura nacional, afastando-se dos moldes antiquados impostos pela academia organizou no mês de fevereiro de 1922 na cidade de São Paulo/SP a famigerada Semana de arte moderna, que contou com a presença de inúmeros artistas das diversas áreas, inaugurando um novo período para a arte nacional. Era o modernismo chegando as terras brasileiras. 
Dentre os artistas que pertenceram ao primeiro grupo de modernistas destacam-se nesta pesquisa, a pioneira da arte moderna no Brasil Anita Malfatti, os poetas e escritores Maria de Andrade e Oswald de Andrade e por fim a pintora Tarsila do Amaral, a esta última debruçou-se um pouco mais em suas criações, na apresentação do modo como por meio dos modernistas, as duas vertentes, até então separadas da arte erudita e da arte popular unem-se na busca de realização de uma arte deveras brasileira, que correspondesse à identidade nacional e afastando-se dos modelos acadêmicos Europeus até então vigentes.
Referências
ALMEIDA, Paulo Mendes. De Anita ao museu. São Paulo: Perspectiva, 1976.
AMARAL, Aracy A. Tarsila: sua obra e seu tempo. Perspectiva: São Paulo, 1975. 
ARANTES, Antônio Augusto. O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 1988
ANDRADE, Oswald. Pau Brasil. Globo: Rio de Janeiro, 1990.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é folclore. Brasiliense: São Paulo, 1982.
GOMBRICH, Ernst H. A história da arte. LTC: Rio de Janeiro, 1999.
GONÇALVES, Marcos Augusto. 1922 a semana que não terminou. Companhia das letras: São Paulo, 2012.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: Um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e identidade nacional. Brasiliense: São Paulo, 1986.
TIRAPELI, Percival. Arte Popular. Cia Nacional: São Paulo. 20061922: A 
SITES
ITAU cultural. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br. Acesso em 15 ago. 2018.
Anexo
Manifesto Pau Brasil (Texto na íntegra)
"A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.
Toda a história bandeirante e a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas. Negras de Jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil.
O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutos. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.
A nunca exportação de poesia. A poesia anda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária.
Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como borrachas sopradas. Rebentaram.
A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, critica, donas de casa tratando de cozinha.
A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem.
Tinha havido a inversão de tudo, a invasão de tudo : o teatro de tese e a luta no palco entre morais e imorais. A tese deve ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus Juris.
Ágil o teatro, filho do saltimbanco. Agil e ilógico. Ágil o romance, nascido da invenção. Ágil a poesia.
A poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança.
Uma sugestão de Blaise Cendrars : - Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao vosso destino.
Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das idéias.
A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.
Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.
Uma única luta - a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação.
Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadros de carneiros que não fosse lã mesmo, não prestava. A interpretação no dicionário oral das Escolas de Belas Artes queria dizer reproduzir igualzinho... Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica. E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genialidade de olho virado - o artista fotógrafo.
Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de patas. A pleyela. E a ironia eslava compôs para a pleyela. Stravinski.
A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.
Só não se inventou uma máquina de fazer versos - já havia o poeta parnasiano.
Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases: 1º) a deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne e Malarmé, Rodin e Debussy até agora. 2º) o lirismo, a apresentação no templo, os materiais, a inocência construtiva.
O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil.
Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos.
A síntese
O equilíbrio
O acabamento de carrosserie
A invenção
A surpresa
Uma nova perspectiva
Uma nova escala.
Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil
O trabalho contra o detalhe naturalista - pela síntese; contra a morbidez romântica - pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa.
Uma nova perspectiva.
A outra, a de Paolo Ucello criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão ética. Os objetos distantes não diminuíam. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.
Uma nova escala:
A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letrasnos livros, crianças nos colos. O redame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da viação, da aviação. Postes. Gasômetros Rails.
Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e tics de fios e ondas e fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte.
A reação contra o assunto invasor, diverso da finalidade. A peça de tese era um arranjo monstruoso. O romance de idéias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. A escultura eloquente, um pavor sem sentido.
Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.
Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.
A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.
Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.
Temos a base dupla e presente - a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a algebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de "dorme nenê que o bicho vem pegá" e de equações.
Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas; nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil.
Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. Pau-Brasil.
O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.
Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época.
O estado de inocência substituindo o estada de graça que pode ser uma atitude do espírito.
O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica.
A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.
Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.
Bárbaros, crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil."

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