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� Comunicação e Expressão I SE XT O M O M EN TO � Comunicação e Expressão I SEXTO MOMENTO � Comunicação e Expressão I Anotações Noções de Discurso, Texto e Textualidade POR QUE APRENDER Você entende facilmente qualquer texto com o qual tem con- tato? Talvez sua resposta seja: “Depende do texto”. E quanto à produ- ção? Você encontra mais dificuldade em se expressar por meio da fala ou da escrita? Pode ser que sua resposta seja: “Se for pra falar, tudo bem, mas não me peça para escrever”. Ou o contrário: “Não gosto muito de falar, principalmente se for em público, pois sou um bocado tímido. Prefiro a escrita”. Em geral, somos levados a imaginar que a facilidade ou a di- ficuldade de leitura é uma propriedade do texto. Assim, dificilmente admitiríamos que isso depende de nossa capacidade, isto é, do de- senvolvimento de uma competência que nos permita assimilar ade- quadamente os sentidos dos textos com os quais nos defrontamos. Do mesmo modo, também acreditamos que é mais fácil produzir um texto falado do que um escrito, ou vice-versa, ou, ainda, que depende da situação em que estivermos. Neste Momento, portanto, vamos (re)ver algumas questões acerca das noções de discurso, texto e textualidade. Com isso, pre- tendemos que você adquira um conhecimento mais aprofundado sobre a produção do discurso através do texto e sobre como os fatores de textualidade contribuem para a manifestação discursiva, com vistas à melhoria de sua qualidade de leitura e de produção textual. O QUE APRENDER NOÇÃO DE DISCURSO Todas as nossas interações comunicativas relacionam-se sempre a uma esfera de atividade social em que estamos engajados no dia-a- dia (compra/venda, ensino/aprendizagem, consulta/orientação médica, namoro etc.). Em outras palavras, são interlocuções que se realizam dentro de um conjunto de práticas sociais, situadas não apenas num dado ambiente institucional imediato, mas também num contexto so- ciocultural e histórico mais amplo. Essas práticas sociais do cotidiano, tais como as descritas no pará- grafo anterior, surgem de necessidades comuns e atendem a certos objeti- vos. Daí serem responsáveis pela formação dos discursos que as orientam SEXTO MOMENTO � Comunicação e Expressão I Anotações e lhes dão sentido, impondo tanto o que deve ou não ser comunicado, bem como o modo e os meios apropriados de sua realização. O discurso, então, deve ser entendido aqui como a circulação negociada de determinados efeitos de sentidos que se realiza através da linguagem, dentro de uma situação sociocomunicativa historicamen- te localizada, entre indivíduos que ocupam posições sociais definidas, envolvidos numa certa atividade cultural (TRAVAGLIA, �00�). Com- preendido assim, o discurso apresenta um conjunto de características, as quais você verá a seguir, relativamente de acordo com o que se expõe em Bronckart (�999) e em Maingueneau (�00�): COMO SE CARACTERIZA O DISCURSO O discurso se estabelece no interior de uma atividade social, daí ele ser constitutivamente interativo e dialógico. As pessoas estão cotidianamente envolvidas numa série de ações conjuntas, em razão de necessidades e interesses mútuos. No curso dessas ações, realizam troca de sentidos, os quais interpretam e orientam suas experiências. Assim, o discurso constrói-se nas práticas sociais e é, ao mesmo tempo, o fio condutor de seus significados. Tome-se como exemplo a ida ao cinema para assistir a um filme. No trajeto, para essa localidade, o(a) interessado(a) realiza um conjunto de atividades sociais necessárias para chegar ao seu destino, todas elas envolvendo interações discursivas: se for de ônibus, precisará identificar aquele que o(a) levará ao lugar desejado; durante a viagem, poderá ler alguma coisa para passar o tempo, conversar com um (des)conhecido, ou simplesmente, por alguma curiosidade, ver as diversas propagandas comerciais nos outdoors. Se for de carro, inevitavelmente se deparará com placas e sinais de trânsito, os quais servem de orientação de como se locomover na cidade. No cinema, terá que adquirir o bilhete que lhe permitirá o acesso à sala de exibição e, finalmente, o contato com o fil- me e a construção dos significados que esse encontro lhe possibilitará. Conforme já dito no item anterior, o discurso se constitui na e por meio da interatividade dialógica. Significa que, em sua produ- ção, este não se estabelece unilateralmente nem de forma monológica. Lembrando aquele modelo circular de comunicação, visto no �º Mo- mento, reiteramos aqui o caráter interativo e dialógico do discurso. Isto não apenas porque requer, necessariamente, a co-participação atuante de sujeitos de linguagem (aqueles que são os sujeitos responsáveis pela encenação do discurso, isto é, os interlocutores que assumem (ou não) o que é dito na interação). Mas também por instituir a intersecção com outros discursos antecedentes e sucessores. Como um exemplo disso, podemos citar este Momento. Se você observar bem, verá que, nele, estamos envolvidos numa situação SEXTO MOMENTO � Comunicação e Expressão I Anotações co-produtiva de discursos. Isto por alguns motivos: nesta produção dis- cursiva, estamos contando com sua cooperação no estabelecimento dos significados que, conjuntamente, estamos construindo; além disso, os conteúdos colocados, neste estudo, são uma apropriação parcial de ou- tros discursos já socialmente partilhados (por exemplo, as fontes biblio- gráficas nas quais fundamentamos os conteúdos aqui apresentados) e, ao mesmo tempo, estamos preparando o caminho para o surgimento de novos discursos. Queremos alertar, todavia, que a dialogicidade entre os discur- sos nem sempre se dá de modo consensual. Ela pode também se confi- gurar de maneira tensa e confrontativa, na qual se contrapõem diferen- tes visões de mundo. O discurso envolve sujeitos investidos de papéis e posições sociais. Significa que, ao interagirem discursivamente, os parceiros de- sempenham determinados papéis socialmente definidos. Por exemplo, o discurso entre pai e filho, entre empresa e cliente(s), entre colegas de clas- se, ou, ainda, entre desconhecidos numa fila de banco etc. Em todos eles, os participantes co-atuam dentro de limites culturalmente estabelecidos, de acordo com as relações de poder existentes entre eles. Nesse sentido, essas relações revelam igualdade ou desigualdade social entre os sujeitos, bem como aproximação ou distanciamento. Um outro fator importante diz respeito às posições discursivas assumidas pelos interlocutores. Es- clarecendo melhor: na produção do discurso, os enunciadores encenam visões de mundo das instituições sociais que representam. Assim, eles orientam seu discurso numa determinada perspectiva ideológica. Vamos supor uma interação entre pai e filho: o sujeito que exer- ce o papel social de pai pode assumir a posição do discurso tradicional autoritário ou se posicionar discursivamente alinhado com a visão pro- gressista mais liberal. O mesmo pode se dar quanto à interação patrão- empregado, que pode ser marcada pelo discurso capitalista ameaçador ou pelo discurso também capitalista, mas conquistador. O discurso possui uma historicidade e é marcado por ela. Entenda-se por historicidade não apenas o fato de o discurso ser um acontecimento histórico, no sentido de transcorrer num dado mo- mento cronologicamente situado na história de vida dos interlocuto- res, mas, sobretudo, por pertencer a um determinado contexto socio- cultural historicamente identificável. Nesse sentido, o discurso revela traços específicos da forma de organização, da produção cultural, das atividades sociais e das diferentes visões de mundo da comunidade em que é produzido. Para ilustrar isso, basta-se pensar no discurso da globalização, que ronda e assombra as relações sociais no atual mercado de trabalho. As idéias sobre economia, nacionalidade, mão-de-obra, entre outras, veiculadas por esse discurso, são uma característica marcante do novo modo de produçãomaterial e desta era dominada pela informática e SEXTO MOMENTO � Comunicação e Expressão I Anotações pela internet, os quais alteraram significativamente a visão de mundo da sociedade contemporânea. Tal visão era praticamente impensável no início do século XX. Essas características anteriores atribuídas ao discurso nos levam a uma outra delas decorrentes: a de que o discurso obedece a deter- minadas normas de conduta sociocultural. Isso quer dizer que, na constituição do discurso segue-se uma espécie de “ritual”, ancorado nas especificidades das práticas sociais, que determina não apenas o que deve ou não ser comunicado, mas também o modo como deve ser expresso. Para exemplificar, lembre-se de como se aborda um desconheci- do na rua para lhe pedir alguma informação. Em geral, as regras do bom convívio social ensinam que, numa situação assim, em que o provável in- formante, além de ser um estranho, está em posição superior em relação ao solicitante, deve-se agir com polidez, utilizando-se expressões como “Por favor, o(a) senhor(a) poderia me dizer... ?”. Por outro lado, o inter- locutor (informante) deverá limitar-se a fornecer a informação o mais di- reta e objetivamente possível, mantendo o distanciamento afetivo-social em relação ao outro. Isto é assim em virtude de haver um acordo comu- nitário, ideologicamente estabelecido, que regula a interação social num contexto dessa natureza. O mesmo se dá, respectivamente, em relação a outras esferas das ações intercomunicativas do cotidiano social. NOÇÃO DE TEXTO Por ser uma entidade abstrata, o discurso realiza-se através de um objeto que o constitui. Isto porque, como o discurso envolve in- teração, comunicação, troca de sentidos e uso da linguagem, necessita expressar-se objetivamente por meio de um conjunto de formas que lhe dêem organização e materialidade. Esse conjunto de formas (ou objeto de comunicação) de que estamos falando é o texto. A noção de texto adotada, neste estudo, aproxima-se parcial- mente da que pode ser encontrada em autores como Meurer (�997), Koch (�00�) e Travaglia (�00�). Trata-se de uma produção intersubjeti- va (ou seja, entre interlocutores), realizada através da linguagem (verbal e/ou não-verbal), em um dado evento enunciativo (quer dizer, num SEXTO MOMENTO Desafio Descreva uma situação de interação relacionada a alguma área das atividades sociais que você realiza no seu dia-a-dia. Depois explicite de que modo estão presentes nela as características do discurso vistas até agora. 7 Comunicação e Expressão I Anotações contexto de interatividade social), na qual se mobiliza um conjunto de operações cognitivas (conjunto de representações mentais ativado racionalmente para a formação do conhecimento.) para a circulação de efeitos de sentido (isto é, de discursos) sociocultural e historica- mente orientados (apud BARROS, �00�). Nesse sentido, o texto deve ser entendido como um objeto empírico (algo concreto, que pode ser apreendido pelos sentidos e objetivamente observável), construído na interação entre sujeitos sociais engajados em alguma prática da vida co- tidiana, por meio do qual se concretiza o discurso, a partir de interesses comuns, visando à consecução de determinado(s) objetivo(s). Veja os exemplos a seguir: Fonte: Veja. s.d SEXTO MOMENTO � Comunicação e Expressão I Anotações Inserido numa atividade sociointerativa, o texto materializa o discurso mediante um gênero de discurso (que, provisoriamente, vamos deixar em aberto sua definição, uma vez que esse tema será alvo de um estudo à parte no nono Momento). Este se configura em um conteúdo temático, uma forma de organização estrutural, uma ou mais modali- dades de linguagem e traços estilísticos próprios, compondo um todo significativo. Deve-se observar, contudo, que o sentido de um texto não é uma propriedade intrínseca ao próprio texto. Não é dado a priori (ou seja, não é pré-existente à interação). Isso quer dizer que uma produção lingüística em si e por si só não garante a textualidade de um discurso. Esta é, na verdade, resultante da negociação entre os interlocutores, os quais mo- bilizam um conjunto de estratégias que levarão ao cálculo dos sentidos (isto é, a interpretação dos significados) ativados na produção textual. Nesse sentido, devem ser levados em consideração determina- dos fatores necessários ao estabelecimento da coerência textual (isto é, à constituição da textualidade). Vejamos alguns deles: FATORES DE COERÊNCIA TEXTUAL Articulação superficial (Coesividade) Esse fator diz respeito às conexões entre os elementos lingü- ísticos (mecanismos de coesão, que serão estudados mais detalhada- mente no sétimo Momento) e não-lingüísticos da superfície textual, os quais assinalam as relações de sentido. Um texto em que o locutor não respeita os critérios de interligação entre os componentes textuais pode comprometer o cálculo de sentido das informações. Observe, por exemplo, os fragmentos textuais que se seguem: SEXTO MOMENTO Reflexão • Observou que esse segundo exemplo, mesmo não possuindo uma só palavra, comunica plenamente a intenção do locutor: satirizar a troca do ministro da Economia no governo FHC? • Percebeu também que essa pequena amostra, portanto, evidencia que o discurso, em determinados contextos de interação, pode processar-se, muitas vezes, por meio de um texto não-verbal (uma imagem, um gesto, um recurso sonoro etc.), com resultado bem mais eficiente e satisfatório do que através do uso de palavras? 9 Comunicação e Expressão I Anotações 1. “... como aconteceu com o jogador Serginho, onde a am- bulância estava trancada.” 2. “... brasileiros que somos, só atenta para isso [a saúde], quando algo nos acontece. Não que sendo assídua, não venha acontecer, pois estamos cansada de ver nos jor- nais...” 3. “Esperamos que atitudes coniventes aos cargos obtidos pelos órgãos competentes... diante de situações que po- deremos estar acometidos.” (UnP Natal/RN. Vestibular 2005.1) Distribuição informacional (Informatividade) Outro aspecto importante para o estabelecimento da coerência textual tem a ver com o plano (ou o controle) informativo do texto (informação nova / informação velha, referência a elementos e dados do contexto comunicativo, uso de implícitos etc.). O locutor monitora a quantidade das informações, explicitando ou não determinados conte- údos. Para isso, conta com o conhecimento de mundo, o conhecimento partilhado e a capacidade inferencial do(s) seu(s) interlocutor(es). Isto é, ele procede assim porque possui uma relativa noção quanto ao grau de domínio que seu público-alvo tem acerca do tópico (ou assunto) que está sendo comunicado. Assim, quanto menos conhecimento o in- terlocutor tiver, maior é a demanda de informação, e vice-versa. Caso contrário, a comunicação ficará prejudicada. É por isso, só para citar um exemplo, que, numa aula expositiva em que um determinado tema está sendo apresentado pela primeira vez, o(a) professor(a) tende a se alongar em suas explicações. Exatamen- te porque ele(a) parte do pressuposto de que seus alunos têm pouca ou nenhuma noção sobre esse novo assunto. Isso seria diferente caso sou- besse que a turma já possui um razoável conhecimento acerca do que seria tratado. É bem provável que o custo com certos esclarecimentos fosse menor, ou estes poderiam até mesmo ser dispensáveis. SEXTO MOMENTO Desafio Percebeu que o simples encadeamento das formas lingüísticas não garante os nexos significativos do texto e que o seu resultado não passa de um mero ajuntamento de palavras sem sentido? Portanto, como sugestão de atividade, tente justificar porque o reconhecimento do conteúdo textual depende, em boa medida, do modo como foram feitas as combinações entre seus componentes lingüísticos (palavras, expressões e frases). �0 Comunicação e Expressão I Anotações Focalização intencional (Intencionalidade)Todo discurso é produzido com uma intenção. Assim, cons- trói-se o texto visando à consecução de certos objetivos. Daí, outro fator responsável pela coerência textual refere-se à perspectiva assu- mida pelo locutor, a partir da qual constitui o conjunto dos sig- nificados textuais para um determinado fim (ou propósito). Nesse caso, fornece algumas “instruções” (ou pistas) ao interlocutor, condu- zindo-o em direção ao cálculo de sentido do texto e à finalidade pre- tendida. Um exemplo disso é quando o locutor possui uma visão po- sitiva em relação a alguém ou a alguma coisa. A tendência, nesse caso, é o texto vir marcado por palavras e expressões valorizadoras. Caso a intenção seja contrária, isto é, se a perspectiva é negativa/ pessimista, então o normal é o texto conter marcas lingüísticas de depreciação. Outro aspecto quanto a isso refere-se ao fato de o enunciador expor, omitir ou realçar determinadas informações. Com essa estraté- gia, a “realidade” é apresentada sob um determinado enfoque, recor- tada de acordo com o ponto de vista e os interesses do produtor do texto Ainda uma outra observação é que, às vezes, o locutor “disfar- ça” sua intenção, orientando seu(s) parceiro(s) de interação para um desfecho inesperado. Nesse caso, um dos objetivos é surpreender o ou- vinte/leitor e causar-lhe certo impacto, ocorrendo, assim, uma quebra de expectativa. Para esclarecer melhor isso, vejamos o texto a seguir: Conto Erótico Nº 1 Assim? É assim. Mais depressa? Não. Assim está bem. Um pouco mais par... Assim? Não, espere. Você disse que... Para o lado. Para o lado! Querido... (...) Pronto. Não! Continue. Puxa, mas você... Deixa ver... Não, não. Mais para cima. Aqui? Mais. Agora para o lado. Assim? SEXTO MOMENTO �� Comunicação e Expressão I Anotações Para a esquerda. O lado esquerdo! Aqui? Isso! Agora coça. (VERÍSSIMO, �97�. p. ��-��) Observou que, já a partir do título do texto (“Conto erótico nº �”), o autor orienta a atenção do interlocutor para um determinado tema: o sexo? Isso se reforça através do cenário apresentado no texto, o qual, pela estrutura dialogal, leva-nos a crer que se refere a um casal em seu momento de intimidade. No entanto, essa focalização dada não se confirma, uma vez que, no fim do texto, percebemos tratar-se de outra coisa: na verdade, é uma mulher tentando orientar seu com- panheiro a lhe coçar em algum lugar do corpo – as costas, provavel- mente. Desse modo, a expectativa criada no início e ao longo do texto é subitamente desviada no final para uma outra direção, resultando num efeito humorístico. Isso só é possível por se tratar de um texto literário, no qual esse tipo de liberdade informativa é perfeitamente normal. Entretanto, tal procedimento seria bastante desaconselhável no caso de uma notí- cia jornalística ou de um comunicado acadêmico, por exemplo. Relação contextual (Situacionalidade) A coerência textual tem a ver também com a ancoragem e ajuste do texto à situação interacional em que é produzido e ao propósito a que se destina. Significa que todo texto mantém uma relação de dependência com o contexto (tanto imediato como históri- co-cultural) em que é circulado. Por isso é comum serem encontradas no texto referências a elementos da situação comunicativa, tais como locutor e interlocutor(es), localizações espaciais e temporais, seres e objetos que estão em volta dos participantes da interação etc. Nesse sentido, todo evento discursivo é ímpar, jamais repetido. Assim, um mesmo texto produz diferentes efeitos de sentido e possui objetivos variados, dependendo da situação, uma vez que as experiên- cias intercomunicativas são únicas. Por exemplo: um texto poético é apreendido de modo diferenciado se for lido solitariamente por uma pessoa, ou se for declamado em uma apresentação teatral, ou se for estudado como uma peça de literatura em uma escola, ou se for anali- sado por algum crítico literário, e assim por diante. Um outro aspecto a se considerar quanto à dependência texto- contexto é a importância que os conhecimentos partilhados entre locu- tor e interlocutor(es), o conhecimento de mundo deste(s), e sua capa- SEXTO MOMENTO �� Comunicação e Expressão I Anotações cidade inferencial exercem na compreensão do texto. O ouvinte/leitor que não dispõe de informações suficientes sobre os vínculos existentes entre o texto e suas condições de produção poderá ter dificuldade em estabelecer determinadas relações de sentido ou, simplesmente conside- rá-lo “incoerente”. Conexão intertextual (Intertextualidade) Esse fator de coerência textual refere-se à apropriação de con- teúdo, estrutura e/ou estilo de outro(s) texto(s). Na verdade, todo texto possui alguma relação com outro(s) texto(s) que o antecederam e, ao mesmo tempo, serve como fio condutor para os que virão. Desse modo, mantém-se uma cadeia ininterrupta dos discursos que circulam socialmente, num movimento constante de retomadas e projeções das diferentes visões de mundo assumidas pelos interlocutores. RELEMBRANDO Discurso: é o conjunto de sentidos manifestos no texto através da linguagem, os quais expressam valores socioculturais e his- tóricos, num dado contexto de interação. Texto: é o objeto de linguagem, construído intersubjetivamen- te e composto de um todo significativo, no qual se realiza o discurso. Fatores de textualidade (coerência textual) Articulação superficial (Coesividade); Distribuição informacional (Informatividade); Focalização intencional (Intecionalidade); Relação contextual (Situacionalidade); Conexão intertextual (Intertextualidade). O QUE FAZER Para espantar a preguiça, vamos ler, atenciosamente, um texto sobre ela? Discurso da elite A preguiça baiana foi um perfil construído historicamente e reforçado pela mídia, que reproduz os interesses da elite. Des- de o século XVI, a elite local depreciava os negros escravos, descritos como desorganizados e sujos, depois como analfa- betos e sem conhecimento, e, finalmente, como preguiçosos. A • • • • • • SEXTO MOMENTO �� Comunicação e Expressão I Anotações famosa Ladeira da Preguiça, em Salvador, ganhou esse nome por ter sido a via de acesso de mercadorias vindas o porto para a cidade, levadas em carretões puxados a boi e empurrados por escravos. Do alto de seus casarões, ao verem os escravos tomando fôlego para subir com sacos de 60 quilos nas costas, as elites gritavam: “Sobe, preguiça! Sobe, preguiça!”. Essa foi uma forma de interiorização da dominação, no período da escravidão. Depois, a depreciação assumiu a forma da exclu- são. O mesmo aconteceu com índios e imigrantes nordestinos, nas regiões Sul e Sudeste, quando, a partir da década de 1950, intensificou-se a imigração. A imagem de preguiçoso espa- lhou-se. Chamados genericamente de “baianos” os imigrantes eram, em sua maioria, mestiços, afrodescendentes, oriundos de fazendas afetadas pela seca e sem qualificação profissio- nal. O nordestino foi responsabilizado por todo o caos urbano sem, ao mesmo tempo, ser lembrado em nenhum projeto de inclusão social. (MENEZES, �00�, p.�0) Agora, vamos pensar sobre o texto lido? �. Nesse texto confrontam-se, pelo menos, duas visões de mun- do (isto é, dois discursos) sobre o povo baiano. Esclareça quais são elas. �. Podemos afirmar que esse texto é um objeto empírico? Por quê? �. Relembrando a noção de texto adotada neste estudo, reflita: Pensando o texto “Discurso da elite” como uma pro- dução intersubjetiva, identifique seus interlocutores. Que tipo de linguagem está sendo utilizado? Identifique o evento enunciativo em que o texto está inserido. �. Pensando em todos os conceitos discutidos sobre a textuali- dade, durante este e outros Momentos, produza um texto em que você se posicione contra ou favor da afirmação de que o baiano é preguiçoso. �. �. �. SEXTO MOMENTO �� Comunicação e Expressão I Anotações PARA SABER MAIS BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discur- sos: por um interacionismosócio-discursivo. Trad. A. R. Machado e P. Cunha. São Paulo: EDUC, �999. KOCH, I. G. V. Desvendando os segredos do texto. �. ed. São Paulo: Cortez, �00�. Ambos abordam questões relativas ao discurso e ao texto, com ênfase nos mecanismos do processamento textual. Ver também estudos sobre o texto, inclusive com exemplos e comentários, em: BENTES, A. C. Lingüística textual. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (orgs.). Introdução à lingüística �: domínios e fronteiras. �. ed. São Paulo: Cortez, �00�. p. ���-�7. ONDE ENCONTRAR BARROS, D. L. P. de. Estudos do discurso. In: FIORIN, J. L. (org.). Introdução à lingüística II: princípios de análise. São Paulo: Contexto, �00�. p. ��7-��9. KOCH, I. G. V. O texto e a construção dos sentidos. �. ed. São Pau- lo: Contexto, �00�. (Col. Caminhos da Lingüística). MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. Trad. C. P. de Souza-e-Silva e D. Rocha. São Paulo: Cortez, �00�. MENEZES, A. Notícias do Brasil. In: Ciência e Cultura: temas e ten- dências. s.l. SBPC, �00� MEURER, J. L. Esboço de um modelo de produção de textos. In: __ ______.; MOTTA-ROTH, D. (orgs.). Parâmetros de textualização. Santa Maria, RS: EDUFSM, �997, p. ��-��. TRAVAGLIA, L. C. Gramática e interação: uma proposta para o en- sino de �º e �º graus. �. ed. São Paulo: Cortez, �00�. VERÍSSIMO, L. F. O rei do rock. Porto Alegre: RBS/Globo, �97� SEXTO MOMENTO �� Comunicação e Expressão I
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