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A Tutela e Curatela

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A Tutela e Curatela
O novo Código de Processo Civil foi alterado pela Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) no tocante a tutela e curatela. Com relação à curatela, tem-se a mudança em relação aos arts. 1767 a 1775 do CC/02. 
O novo Código de Processo Civil foi alterado pela Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) em alguns dispositivos, principalmente no tocante a tutela e curatela.
Com relação à curatela, o que se tem com o novo instituto é a mudança em relação à curatela em alguns pontos. Isso ocorreu com relação aos arts. 1767 a 1775 do CC/02. Mas, o que vem a ser a curatela, primeiramente?
Curatela, segundo definição de Gonçalves é o "encargo deferido por lei a alguém capaz para reger a pessoa e administrar os bens de quem, em regra maior, não pode fazê-lo por si mesmo" (GONCALVES, 2019). Então, o que se estabelece por meio do Código Civilista, é que a curatela atinge princípios constitucionais, na medida em que garante que o curatelado exerce o princípio da dignidade humana em toda a sua extensão (art. 1º, III, CF/88; BRASIL, 1988).
A grande questão apontada, é que o Regulamento das Pessoas com Deficiência modificou alguns artigos no sentido de possibilitar a inclusão civil de pessoas tidas como absolutamente e relativamente incapazes anteriormente. Então se formaram duas correntes sobre o tema.
A primeira não vê com bons olhos as modificações, pois ressalta que de acordo com o postulado da dignidade-vulnerabilidade tais pessoas deveriam ser resguardadas como vulneráveis e não com o status jurídico modificado (TARTUCE, 2018).
A segunda corrente acredita, ao contrário, que a dignidade-liberdade deve ser evidenciada, pois segundo o que consta na Convenção de Nova York, tratado de direitos humanos do qual o país é signatário, o propósito maior do Estado-Nação brasileiro é o de “promover, proteger e assegurar o pleno exercício de suas liberdades individuais, assim como o de sua dignidade inerente”. Ou seja, não há de se excluir, a priori, a participação social-cidadã de uma pessoa com necessidades especiais de modo a lhe tolher uma expressão manifesta de vontade (TARTUCE, 2018).
Sobre o prisma do que consta escrito, por exemplo, ressalta-se que não existe mais no ordenamento jurídico pessoas incapazes maiores de idade (art. 3º CC/02; BRASIL, 2002), não havendo, portanto, ação de interdição com caráter absoluto. O art. 6º do regulamento diz que o défice não afeta a plena aptidão civil da pessoa, inclusive para: “ f) exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante e adotando, com iguais oportunidades em relação as demais pessoas” (BRASIL, Lei 13.146/15). O art. 4º do CC/02 diz que os antes considerados como absolutamente incapazes, são agora tratados com relativamente incapazes, não fazendo mais citação a pessoas com discernimento reduzido (BRASIL, Lei 13.146/15).
Contudo, o art. 1072, II, CPC/15 revogou os artigos relativos a esse assunto, mais precisamente os arts. 1768 a 1773 CC/02. Então, a compatibilidade das normas processuais é um grande empecilho a ser considerado no enfrentamento dessa temática, pois o CPC, com sua entrada em vigor teve um efeito aparentemente repristinatório com relação as leis implementadas pelo regimento já mencionado, ou seja, interfere diretamente na eficácia procedimental de tais normas, com efeito curto e pouco duradouro (LOBO, 2019. p. 2).
O dispositivo não evidencia qualquer aspecto procedimental, mas expressamente trata sobre a questão da curatela, criando inclusive, a “curatela compartilhada”, no art. 1775-A, que diz que assim que curador for nomeado para pessoa com incapacidade é possível o compartilhamento da mesma a mais de uma pessoa. Quer-se com isso, a ampliação do atendimento a este, fazendo com que o próprio interdito realize o pedido, não interferindo nos seus limites condicionantes, mas sobretudo, não o limitando.
O novo ditame jurídico prevê em seu art. 115 a chamada “Tomada de Decisão Apoiada”. O novo procedimento sugerido para ser adotado, é um processo pelo qual, a pedido da pessoa com incapacidade, são nomeadas duas pessoas consideradas como idôneas e de sua inteira confiança para lhe prestar apoio na tomada de decisão dos atos e decisões necessários para que possa exercer o melhor possível sua aptidão civil (art. 1783-A, caput, BRASIL, 2002), sendo a responsabilidade das pessoas escolhidas passíveis de fiscalização por parte do Poder Judiciário e do Ministério Público (RIVA, 2017).
Então, o grande desafio jurídico é estabelecer procedimentos que sejam integrativos com relação às pessoas com deficiência e que tenham como base um maior aspecto inclusivo, como o regulamento permitiu e preconizou por meio de seus artigos.
Recentemente, houve uma adição ao PLS 757/2015 (BRASIL,2018) -que tramita atualmente na Comissão de Constituição e Justiça do Senado- no propósito de limitar o alcance da curatela atos estritamente de natureza patrimonial e negocial. Se por um lado, tal proposta faz com que pessoas com défice mental, intelectual ou grave, maiores de 18 anos possam exercer plenamente sua aptidão civil com as demais pessoas, nega o recurso da tomada de decisão apoiada para aqueles que não conseguem manifestar sua vontade por qualquer meio, tendo de recorrer à curatela para ter suas prerrogativas atendidas. Contudo, a crítica que se faz é que apesar de significar grandes avanços na área, questões como direito ao próprio poder de decisão são restringidos na parte que engloba a “Tomada de Decisão”, matrimônio, união estável, educação, trabalho e saúde, que não se encontram contemplados.
Curatela - quais as mudanças após o Estatuto da Pessoa com Deficiência e o Novo CPC?
Estão sujeitos à curatela os maiores incapazes.
Por força das alterações que foram feitas no artigo 3o do CC pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência, não existem mais absolutamente incapazes maiores.
Sendo assim, a curatela somente incide para os maiores relativamente incapazes, que, na nova redação do artigo 4o do CC, são (estão sujeitos à curatela):
· Ébrios habituais (no sentido de alcóolatras);
· Viciados em tóxicos;
· As pessoas que, por causa transitória ou definitiva, não puderem exprimir vontade;
· Pródigos.
O art. 1.767 do CC/2002 traz o rol taxativo de interditos, ou seja, daqueles que estão sujeitos à curatela. A norma foi modificada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência. Vejamos:
Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:
I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; 
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; 
V - os pródigos.
Ressalta-se que, neste contexto, o artigo 748 do Novo CPC, que revogou o art. 1.769 do CC, prevê as hipóteses em que o Ministério Público promoverá a interdição. Vejamos:
Art. 747. A interdição pode ser promovida:
I - pelo cônjuge ou companheiro;
II - pelos parentes ou tutores;
III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando;
IV - pelo Ministério Público.
Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial.
Art. 748. O Ministério Público só promoverá interdição em caso de doença mental grave:
I - se as pessoas designadas nos incisos I, II e III do art. 747 não existirem ou não promoverem a interdição;
II - se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas nos incisos I e II do art. 747.
Ademais, ressalta-se que o art. 1.770 do CC previa que sendo a interdição promovida pelo Ministério Público, o juiz nomearia um defensor ao suposto incapaz (denominado curador especial). No mesmo sentido era a norma do art. 1.179 do CPC/73.
Ocorre que o Novo CPC revogou o art. 1.770 do CC e passou a prever que o Ministério Público intervirá como fiscal da ordem jurídica nas ações de interdição que não propõe. Vejamos:
Art. 752. § 1o O Ministério Público intervirá como fiscal da ordem jurídica.
Outrossim, é importante destacar que o art. 749 do Novo CPC possui a seguinte redação:
Art. 749. Incumbe ao autor, na petição inicial, especificar os fatos que demonstram a incapacidade do interditandopara administrar seus bens e, se for o caso, para praticar atos da vida civil, bem como o momento em que a incapacidade se revelou.
Parágrafo único. Justificada a urgência, o juiz pode nomear curador provisório ao interditando para a prática de determinados atos.
Atenção: Não há mais necessidade de prova de legitimidade, conforme estava no artigo 1.180 do CPC/73.
Finalmente, no que concerne ao pedido de levantamento da curatela (na hipótese de haver recuperação do interdito), vejamos o artigo 756 do Novo CPC:
Art. 756. Levantar-se-á a curatela quando cessar a causa que a determinou.
§ 1o O pedido de levantamento da curatela poderá ser feito pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério Público e será apensado aos autos da interdição.
§ 2o O juiz nomeará perito ou equipe multidisciplinar para proceder ao exame do interdito e designará audiência de instrução e julgamento após a apresentação do laudo.
§ 3o Acolhido o pedido, o juiz decretará o levantamento da interdição e determinará a publicação da sentença, após o trânsito em julgado, na forma do art. 755, § 3o, ou, não sendo possível, na imprensa local e no órgão oficial, por 3 (três) vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, seguindo-se a averbação no registro de pessoas naturais.
§ 4o A interdição poderá ser levantada parcialmente quando demonstrada a capacidade do interdito para praticar alguns atos da vida civil.
Mudanças:
· O Ministério Público poderá requerer o citado levantamento;
· Há menção a uma equipe interdisciplinar para analisar o interdito;
· passou a ser possível a curatela parcial, ou seja, admite-se agora (com o Novo CPC) o levantamento parcial da interdição para determinados atos, o que demandará análise casuística.
Apenas à título de complementação, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, agora sem qualquer atropelamento legislativo pelo Novo CPC, incluiu o art. 1.175-A no CC/2002, o qual prevê a possibilidade de juiz estabelecer a curatela compartilhada a mais de uma pessoa. Vejamos:
Art. 1.775-A. Na nomeação de curador para a pessoa com deficiência, o juiz poderá estabelecer curatela compartilhada a mais de uma pessoa. 
Nota-se a confusão normativa nessa transição do Novo CPC, bem como do Estatuto da Pessoa com Deficiência, pois essas duas leis chocaram em muitos dispositivos e, em razão disso, estão causando um transtorno para os operadores do direito.

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