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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Goiânia - GO – 22 a 24/05/2019 Uma Análise do Filme “Os Incríveis 2” à Luz das Teorias da Comunicação 1 Emília FELIX 2 Lucas SANTOS 3 Universidade de Brasília, Brasília, DF RESUMO Levando em consideração os impactos que os meios de comunicação podem exercer sobre o comportamento dos indivíduos, este trabalho propõe uma análise do longa-metragem de animação “Os Incríveis 2”, tecendo relações entre a narrativa e algumas teorias da comunicação, como a teoria hipodérmica e do enquadramento. Por meio de revisão bibliográfica, identificou-se que algumas das semelhanças encontradas entre as teorias e a narrativa se dão no âmbito do consumo de mídia e dos impactos desse consumo no comportamento da sociedade. PALAVRAS-CHAVE: Cultura de Massa; Enquadramento; Filme; Os Incríveis 2; Teorias da Comunicação. Diversas reações que temos no dia a dia são oriundas de vivências. Muitas vezes os comportamentos que adotamos perante as situações têm algum nível de influência dos meios de comunicação. Os comportamentos do público podem ser analisados a partir da influência que esses meios exercem sobre ele. E essa questão levanta um debate sobre o papel da mídia na cultura e nos modos de ser e estar das sociedades. A indústria cultural é detentora dos meios de comunicação que colaboram para as formas que guiam como devemos ser ou estar no mundo. A ideia do que é ser “homem ou mulher, bem-sucedido ou fracassado, poderoso ou impotente [...], senso de classe, de etnia e raça, de sexualidade, de ‘nós’ e ‘eles’ [...], bom ou mau, positivo ou negativo, moral ou imoral” (KELLNER, 2001, p. 9). É por meio de meios como o rádio, a televisão e o cinema que somos bombardeados com essas informações, e é por meio 1 Trabalho apresentado na IJ 4 - Comunicação Audiovisual do XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste, realizado de 22 a 24 de maio de 2019. 2 Graduanda em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB), e-mail: emifelix7@gmail.com. 3 Recém-graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC/UnB), e-mail: lucasgrand@gmail.com 1 mailto:emifelix7@gmail.com mailto:lucasgrand@gmail.com Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Goiânia - GO – 22 a 24/05/2019 delas que construímos parte de nossa identidade. Esse sistema industrial de veiculação de informação estabelece padrões de símbolos e mitos, criando por si só uma visão global e portanto uma cultura comum a toda essa sociedade que Kellner (2001) chama de tecnocapitalista. É um tipo de cultura que opera nos moldes de uma economia de mercado, baseada no consumo. Os meios de comunicação dessa cultura da mídia e a maneira como eles trabalham são, portanto, elementos que surgem da industrialização (COELHO, 1981). E esses meios não atuam apenas como um transmissor do imaginário social que já está estabelecido na sociedade, mas são também agentes que reconfiguram esses elementos em meio à sua própria lógica de funcionamento (WENCESLAU; MENDONÇA, 2006). Isso significa que os meios de comunicação não são meros reprodutores de ideias, mas também possuem papel ativo de destaque na criação e demarcação de imagens e sentidos. Chong e Druckman (2007) dizem que dependendo do enquadramento em que uma informação é passada ao receptor, a visão do mesmo sobre um tema tende a ser afetada. Atuando em meio a uma indústria que tem como objetivos o consumo, a venda e a mercadoria, é preciso adequar esse comércio aos seus potenciais consumidores. Sendo assim, Kellner (2001) afirma que a necessidade desse mercado impõe às produções da indústria cultural que elas gerem identificação por meio da vivência social. Para atingir o grande público, é preciso que desenvolvam produtos atraentes que chamem atenção e que até possivelmente possam gerar algum tipo de contestação a respeito da hegemonia por meio de críticas sociais, para que funcionem perfeitamente como um reflexo das sociedades atuais. A verdadeira instalação dessa cultura, segundo Coelho (1981), se dá no século XX, quando o capitalismo passa de liberal para um capitalismo de organização, também chamado monopolista. A mudança implica um capitalismo que fornece condições para uma estruturação mais rígida dessa sociedade de consumo, “em ampla medida, por veículos como a TV” (COELHO, 1981, p. 12). A televisão é considerada por Kellner (2001) um meio essencial para esse processo, porque é capaz de atrelar o apelo visual à audição e estimular sensações que se aproximam cada vez mais de situações reais, 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Goiânia - GO – 22 a 24/05/2019 podendo assim gerar reconhecimento pelo espectador de forma mais acelerada que outros meios (WILLIAMS, 2003). E mesmo com todos os meios utilizados pela indústria cultural, como é o caso do rádio, cinema, revistas, histórias em quadrinhos e propagandas, o autor afirma que foi só com o uso da televisão que a mídia se estabeleceu de fato como árbitro do gosto. A televisão é tratada por ser o meio essencial para as reflexões presentes neste artigo, dado o objeto de análise escolhido, “Os Incríveis 2”. O filme de 2018 foi dirigido pelo norte-americano Brad Bird e trata de uma família de super-heróis que busca restaurar o prestígio dos heróis pela sociedade ao mesmo tempo em que se esforça para equilibrar sua vida doméstica em família. A animação é sequência de “Os Incríveis”, que estreou em 2004 e foi encabeçado pelo mesmo diretor. A obra em questão é cinematográfica e portanto possui características específicas do meio de comunicação cinema, que, apesar de possuir semelhanças com outros meios da indústria cultural, tem certas particularidades. Trazer os efeitos do conteúdo televisivo para debate diz respeito não ao meio cinematográfico, mas ao enredo da história, que utiliza com frequência os jornais televisivos para comunicar o público a respeito do que está sendo realizado pelos heróis. O objetivo deste trabalho é identificar aspectos do cenário ficcional de “Os Incríveis 2” que possam ser ilustrados por meio de elementos de teorias da comunicação. Seguindo o enredo, a narrativa se desenrola a partir do momento em que a família Pêra, protagonista da história, se vê de mãos atadas com relação à atuação dos heróis, já que devido aos últimos acontecimentos, têm ganhado uma reputação muito negativa perante a sociedade. O maior problema se concentra no fato de que os danos colaterais das atuações desses heróis são muito mais evidenciados pela mídia televisiva do que a resolução do crime ou da situação em questão. Isso faz com que a família Pêra,à convite de uma empresa de telecomunicações chamada DevTech, inicie um trabalho de publicidade visando a reconquistar a confiança da população nos super-heróis. Ao longo da história, descobre-se que a personagem Evelyn Deavor, uma das proprietárias da empresa, também era contra a atuação dos heróis por conta de um desastre que levou à morte de seus pais, e isso fez com que ela criasse o principal vilão do filme, 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Goiânia - GO – 22 a 24/05/2019 Screenslaver, que utilizava telas de televisão para projetar imagens hipnóticas. Em meio a vários contratempos, como é digno de um filme de aventura, a família Pêra, junto ao super-herói e amigo da família, Gelado, são capazes de solucionar essa questão e restaurar a legalidade dos heróis. A entrada das tecnologias na indústria midiática trouxe formas mais incisivas para que o poder dominante exerça controle sobre os usuários, mas ao mesmo tempo proporciona ferramentas para que esse público tenha maior liberdade de escolha e autonomia cultural, abrindo caminho para tomadas de decisão que possam eventualmente ir contra o sistema (KELLNER, 2001). No filme em questão, a ideia foi utilizar a própria mídia, para que ela de forma “espontânea” revelasse a verdadeira índole dos heróis, por meio de um enquadramento que privilegiasse as boas ações desses heróis ao invés dos efeitos colaterais como a destruição física de prédios na cidade. Para Chong e Druckman (2007) quando um enquadramento é difundido de forma forte, com vários fatores, como as boas intenções dos heróis na animação, os receptores ficam mais vulneráveis ao que é dito sobre o tema. Portanto, a forma como um assunto é enquadrado tem o poder de influenciar opiniões e gerar reações na sociedade. Em “Os Incríveis 2” isso é exemplificado pela mudança na opinião pública sobre a atuação dos heróis. Num cenário mais amplo, podemos identificar como um meio de comunicação pode ser utilizado para se questionar outro. No caso, o cinema é utilizado para abordar as formas como as diferentes abordagens televisivas, tanto de imagem quanto linguagem, podem ser de grande influência na sociedade. Levando em consideração a linguagem utilizada pela televisão, podemos utilizar a análise de discurso como uma forma de entender de que maneira a produção de sentido realizada pelos profissionais de televisão por meio das ferramentas tecnológicas pode influenciar de fato a produção de identidades e de pontos de vista (GREGOLIN, 2007). Para a autora, sensação de se estar acompanhando uma história ao vivo por meio da televisão é uma característica da mídia pautada na instantaneidade e é mais um fator que contribui para a aproximação com a realidade. Essa construção de cenários por meio de imagens verbais e não-verbais trabalha com elementos derivados da memória e, 4 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Goiânia - GO – 22 a 24/05/2019 com isso, impõe interpretações e sentidos, bem como seus deslocamentos. Segundo ela, é justamente essa dinâmica que estimula a formação de identidades. Trazendo brevemente para uma perspectiva nacional, Gramacho e Jácomo (2015) analisam a edição de 2015 da Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM) e ressaltam a relevância que a televisão tem para o brasileiro. Segundo a pesquisa, 95% da população assiste televisão. “A TV aberta ainda é o meio de comunicação praticamente universal no país, presente no cotidiano da quase totalidade dos brasileiros, com frequência de uso (média de 6 dias por semana) e intensidade de exposição (média superior a 4 horas diárias) superior aos demais meios.” (GRAMACHO E JÁCOMO, 2015, p.18). Devido à ampla exposição à TV, os telespectadores podem sofrer influência e manipulação de acordo com o conteúdo exibido. A questão aqui não é se esses conteúdos são verdadeiros ou não, mas o direcionamento que a televisão pode dar para eles, já que existem assuntos que não devem ser analisados apenas levando em consideração um único meio, mas além de outros meios, uma interpretação que inclua os processos culturais e sociais (WILLIAMS, 2003). A mídia surge com o papel de mediar a comunicação entre os espectadores e a realidade. O que essas mídias revelam não é a sociedade, mas puramente uma interpretação que dá ferramentas para que o leitor faça a relação daquele conteúdo com sua realidade concreta por meio dos símbolos com os quais tem contato (GREGOLIN, 2007). O problema da formação da opinião pública, segundo Andrade (1964), se dá no fato de que pequenos grupos de grande influência são os detentores dessa mídia. Esses grupos utilizam os canais de comunicação para impor visões de mundo ou propósitos que vão de acordo com o pensamento de quem está no poder. A autora completa que, quanto maior a organização dessas minorias no controle dos veículos de comunicação, maior é a influência na estruturação da opinião pública. Ademais, como o público depende desses meios para buscar pela informação - mesmo com os avanços tecnológicos e cada vez mais possibilidades de acesso, ainda estamos falando de uma sociedade desigual e segregadora -, podem ser induzidos a reproduzir um comportamento similar ao da massa, ao que está sendo veiculado pelas 5 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Goiânia - GO – 22 a 24/05/2019 propagandas. Segundo Thompson (1995), não é que o conteúdo de mídia obrigue o público a reagir e interpretá-lo da mesma forma que toda a “massa”, mas que a ordem social instaurada ao redor de todo o sistema de mídia impulsiona as mensagens para que esse tipo de ação seja reproduzido. Para compreender essas nuances, utilizaremos algumas teorias da comunicação para tentar exemplificar como as ideias de pensadores da comunicação podem ser encontradas em cenários da vida real e também em ambientes de ficção, como é o caso de “Os Incríveis 2”. É importante entender antes de qualquer coisa que as teorias nada mais são do que modos de enxergar alguma coisa. São diferentes interpretações de um ou mais fatos que colocam determinados elementos em evidência e que, segundo Kellner (2001, p. 37), também possuem “pontos cegos e limitações que lhes restringem o foco”. A decisão de utilizar mais de uma teoria para explicar a lógica de “Os Incríveis” 2 vai de acordo com o multiperspectivismo que o autor sugere como tipo de abordagem. Para ele, quanto mais ideias houverem no mesmo leque, mais abordagens poderão ser retratadas e interpretadas. Pode-se trazer a visão do materialismo cultural de Raymond Williams, apresentada por Kellner (2001) como todo tipo de significação engendrado na cultura. No caso da mídia, trata-se de uma análise do contexto em que o produto foi criado paracompreender que tipo de mensagem está sendo transmitida e com que objetivo. Além disso, há um quesito físico, que diz respeito aos efeitos materiais gerados por meio da veiculação dos discursos nessa cultura da mídia, uma espécie desse materialismo cultural. Um dos pontos-chave para os estudos culturais, nesse sentido, é buscar entender de que forma essas forças afetam o público, e ao mesmo tempo compreender que elementos o público utiliza para lutar contra essa força dominante, configurando-se uma contra-hegemonia. É importante situar o contexto social, cultural e histórico em que estão inseridas cada uma das teorias, para assim analisar as reflexões que elas propõem. Além disso, compreende-se que as teorias citadas serão entendidas como interpretações que afetam uma sociedade considerada “de massa”, cada teoria à sua maneira. Segundo Wolf (2002), esse tipo de sociedade é visto de forma pejorativa, alimentando uma visão de 6 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Goiânia - GO – 22 a 24/05/2019 enfraquecimento do elo social onde as influências exercidas sobre o indivíduo não vem da sociedade da qual faz parte, mas sim dos meios de comunicação. A assimilação de informações transmitidas pela televisão para um público por meio de um telejornal sem qualquer tipo de questionamento revela um comportamento similar ao da teoria hipodérmica, que tem como principal encaminhamento os efeitos que os meios de comunicação causam nas pessoas que os consomem. Para Wolf (2007), o conteúdo é “injetado” nesses consumidores da mesma maneira como uma agulha hipodérmica e essa analogia é utilizada para dizer que a informação vai de um ponto a outro sem obstáculos, trazendo efeitos que são fortes, diretos, inevitáveis, previsíveis e que podem ser observados no plano do comportamento. A teoria trabalha no âmbito do comportamento humano, no sentido de que qualquer comportamento acontece com base em um estímulo, concluindo que os cidadãos que passaram a enxergar os super-heróis com maus olhos a partir do que viam nos telejornais funcionaram como indivíduos que foram atingidos pelos meios de comunicação e tiveram seu comportamento modelado sem que pudessem intervir. Junto a teoria hipodérmica, pode-se falar sobre a abordagem empírico-experimental, também conhecida como abordagem da persuasão. Para Wolf (2007), ela funciona na mesma lógica da hipodérmica, mas analisa mais incisivamente os efeitos dos meios de comunicação de massa com base no objetivo pretendido pelo emissor. Em “Os Incríveis 2”, a informação veiculada pela mídia foi guiada e direcionada pelo governo, que se encontrava preocupado com a atuação dos heróis na cidade em razão dos danos colaterais e buscou, assim, formas de influenciar o imaginário que se tinha desses heróis pela sociedade. Isso ocorre por meio de uma exposição constante a determinado conteúdo. No caso, falamos de vários telejornais que expunham visões que contribuíram para a formação de uma ideia negativa sobre os heróis e isso de certa forma afetou sua reputação perante a sociedade. “Ao nível das influências socioculturais, é preciso ainda que não esqueçamos que as notícias transportam consigo os ‘enquadramentos’ (frames) em que foram produzidas.” (SOUSA, 2000, n.p.). 7 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Goiânia - GO – 22 a 24/05/2019 Tratando-se da televisão, falamos de um meio de comunicação que possui grande influência e credibilidade, além de ter um consumo representativo na sociedade. Segundo a PBM realizada em 2016, a televisão é o principal meio de informação da população brasileira. Quase nove entre dez entrevistados usam a televisão com esta finalidade. Ainda de acordo com a pesquisa, a pessoas passam mais de três horas por dia assistindo televisão. Esse fator é significativo para que o consumidor acredite na mensagem que está sendo transmitida. No filme em questão, a transmissão de conteúdo por meio da televisão tem muita força por ser um veículo de grande importância para a sociedade. A informação, assim, é assimilada com mais facilidade e menos questionamentos pelo público. A maneira pela qual os heróis são tratados ao longo do filme reforça a questão do enquadramento. Na animação, a receptividade dos fatos pela sociedade toma um determinado rumo devido à forma com que foram retratados pela mídia. Para Silveirinha (2005, p.2), para a formação de um enquadramento são utilizados vários fatores: A abordagem dos enquadramentos, do nosso ponto de vista, oferece uma plataforma de análise discursiva da participação dos actores sociais, neste caso, a imprensa e as suas vozes autorizadas. Sendo construções simbólicas e interpretativas, os enquadramentos referem-se a crenças partilhadas na sociedade e, no caso em análise, aos processos de legitimação das opções dos responsáveis políticos na construção política nacional e europeia, definindo e redefinindo os quadros de entendimento das mesmas. Em todo fato jornalístico, o responsável pela transmissão da informação de é o repórter, e é dele o dever de informar de forma completa o acontecido. Morley (1992) afirma que o repórter deve atuar em um papel intermediário, se atentando para a informação transmitida pela televisão, e que cada fato pode ser explicado maneiras distintas, com diferentes vieses, variando de acordo com o que é exibido pela câmera. Na animação é perceptível a alteração na aceitação dos heróis pela sociedade, sendo isso parte fundamental no enredo do filme. Porém, no mundo real, as pessoas estão suscetíveis à influência dos veículos de comunicação de massa. A concentração 8 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Goiânia - GO – 22 a 24/05/2019 desses no Brasil afeta diretamente a discussão de diversos temas de interesse comum, muitas vezes não ouvindo todos os lados envolvidos no fato. Com esse cenário, as mídias independentes se mostram relevantes na construção da informação com enquadramentos e vieses diferentes, apesar de ainda não possuírem o alcance e a influência dos veículos tradicionais. São veículos que aos poucos conquistam o espaço hegemônico da mídia para, por meio dela, transgredir ideias e propor novas formas de enxergar um mesmo fato. A mídia não recebe o nome de quarto poder à toa. Junto à veiculação de conteúdo, sobretudo para a ampla sociedade, existe um grande papel que é o de caráter social, de reconhecer a função pública e o compromisso com a informação que está sendo transmitida. No jornalismo, esse aspecto pode ser observado na relação com que o repórter escolhe abordar determinada pauta, desde o ângulo que será utilizado na gravação, até na escolha das palavras e no número de envolvidos que serão ouvidos para garantirque o contraditório seja estabelecido. Esse olhar é significativo, uma vez que qualquer notícia, por mais simplória que demonstre ser, é relevante para alguém, caso contrário, não seria notícia. Em “Os Incríveis 2”, a responsabilidade da mídia de transmitir informação, guiada por trás por um interesse do governo, trouxe mudanças de comportamento significativas na sociedade, acarretando na perda de credibilidade dos super-heróis. Ao mesmo tempo, o esforço dos heróis para lutarem contra essa ideia estigmatizada, buscando formas de serem retratados positivamente por essa mesma mídia, mostra como um ambiente que aparentemente reproduz um discurso hegemônico também abre caminhos para certos tipos de resistência e luta contra o próprio sistema que o rege. REFERÊNCIAS ANDRADE, C. Mito e realidade da opinião pública. In: Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 4, n. 11, pp. 107-122, out-dez. 1964. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/rae/v4n11/v4n11a03.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2019. CASTRO, Gisela G. S.; ROCHA, Rose de Melo. Cultura da mídia, Cultura do Consumo: Imagem e espetáculo no discurso pós-moderno. In: Revista Logos & Universidade: 9 http://www.scielo.br/pdf/rae/v4n11/v4n11a03.pdf Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste – Goiânia - GO – 22 a 24/05/2019 Tecnologia de comunicação e Subjetividade. 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