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Legislação Aplicada ao SUS

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LEGISLAÇÃO APLICADA AO SUS 
 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE 
 NO BRASIL E A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 
Todos nós, em algum momento da vida, já nos deparamos com situações que revelam 
a precariedade do sistema de saúde, seja por meio das grandes filas de espera nos serviços de 
saúde, ou até mesmo, em notícias nos jornais comentando sobre a falta de leitos hospitalares 
e sobre a falta de recursos financeiros para manter os serviços de saúde. Essa situação, nada 
mais é que uma difícil realidade do setor de saúde no nosso país. 
 
Para que possamos entender e analisar essa realidade, é importante conhecermos os 
determinantes históricos que influenciaram a organização do sistema de saúde no Brasil ao 
longo do tempo. Com isso, você terá elementos para compreender as articulações entre os 
processos econômicos, políticos e as práticas de saúde no país até a criação do Sistema Único 
de Saúde. A seguir, você encontrará uma linha do tempo, que aponta os destaques que 
ocorreram na história da saúde, deste a época do Brasil colônia até a criação do Sistema Único 
de Saúde (SUS). 
 
1500-1822 Colonialismo 
 
No Brasil colônia, não existia um sistema de saúde estruturado. A população recorria aos 
curandeiros ou se automedicava contando com os próprios recursos da terra, como ervas 
medicinais. 
 
- O contexto econômico era marcado pelo monopólio do comércio de matérias-primas com 
Portugal. 
 
- Houve um aumento significativo no número de boticários (farmacêuticos), estes eram 
responsáveis por manipular as fórmulas prescritas pelos médicos, porém os próprios 
boticários também prescreviam as fórmulas em razão da escassez de médicos na época. 
 
1500-1822 Colonialismo 
 
1808: Com a chegada da Família Real Portuguesa, despertou-se o interesse em relação à 
saúde. Dom João VI fundou, na Bahia, o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital Militar da 
Cidade de Salvador e em novembro do mesmo ano foi criada a Escola de Cirurgia do Rio de 
Janeiro. 
 
- 1822: Independência do Brasil. 
 
1822- 1889 Império 
 
- Em 1832, as duas escolas médico-cirúrgicas, criadas em 1808, foram transformadas em 
faculdades de medicina. 
 
- De 1849 a 1850: A febre amarela se espalhou pelo Brasil, sendo responsável por inúmeras 
mortes. No Rio de Janeiro, atingiu 90.658 pessoas. 
 
- Em 1850, é criada a Junta Central de Higiene Pública, com o objetivo de coordenar as 
Juntas Municipais e, especialmente, atuar no combate à febre amarela. Esta Junta também 
passou a coordenar as atividades de polícia sanitária, vacinação contra varíola, fiscalização do 
exercício da medicina e a Inspetoria de Saúde dos Portos. 
 
- Em 1886, a Junta Central de Higiene Pública transformou-se em Inspetoria Geral de Higiene. O 
raio de ação desse órgão compreendia as cidades litorâneas com destaque para o Rio de 
Janeiro. 
 
- A perseguição aos curandeiros, antes tolerados aumentou significativamente a partir de 1870, 
quando o poder público ampliou o cerco contra as práticas e concepções populares de cura 
nos principais centros urbanos. 
 
- Em 1883, Domingos Freire, nomeado presidente da Junta Central de Higiene Pública, vacinou 
contra a febre amarela pelo menos 12.329 habitantes do Rio de Janeiro e de outras cidades 
brasileiras. 
 
1889-1930 República 
 
O controle político permanecia na mão dos grandes proprietários (coronelismo). 
 
- Em 1891, após a promulgação da Constituição, as atribuições relacionadas com a saúde 
foram transferidas para os municípios e estados. A ação do Estado em relação à saúde se 
restringia a medidas em relação à vida urbana. Essas medidas visavam à manutenção de um 
estado geral de salubridade, como a fiscalização das habitações populares, da venda de 
alimentos e de bebidas alcoólicas. Para o governo central restou a responsabilidade pela 
vigilância sanitária dos portos e pelos serviços de saúde do Distrito Federal. 
 
- Em 1892, foi criado em São Paulo o Instituto Bacteriológico, sob direção de Adolpho Lutz, o 
qual dominava várias disciplinas da nova era da saúde: bacteriologia, imunologia, 
helmintologia (vermes), entomologia (insetos transmissores de doenças) entre outras. 
 
- Foram criados os Institutos Soroterápicos de Butantan, em São Paulo (responsável pela 
produção de mais de 80% do total de soros e vacinas consumidos no Brasil), e de Manguinhos, 
no Rio de Janeiro. Oswaldo Cruz assumiu a direção do Instituto Soroterápico, inaugurado no 
Rio de Janeiro em julho de 1900, embrião da atual Fundação Oswaldo Cruz. Esta fundação é 
hoje uma das principais referências em pesquisas e tratamento de doenças tropicais no Brasil. 
 
- O presidente do Brasil era Rodrigues Alves. Este nomeou Oswaldo Cruz, como Diretor do 
Departamento Federal de Saúde Pública, que se propôs a acabar com a epidemia de febre-
amarela na cidade do Rio de Janeiro. Cerca de 1.500 pessoas que passaram a exercer 
atividades de combate ao mosquito, vetor da febre-amarela. Porém, a falta de esclarecimentos 
e as medidas autoritárias cometidas pelos “guardas sanitários” causaram revolta na população. 
Esse modelo de intervenção ficou conhecido como campanhista. Seu lema era moldado dentro 
de uma visão militar em que os fins justificam os meios, no qual o uso da força e da autoridade 
eram considerados os principais meios de ação. 
 
- Oswaldo Cruz com a Lei Federal nº 1261, de 31 de outubro de 1904, instituiu a 
vacinação anti varíola obrigatória para todo o território nacional. Surge na população uma 
imensa onda de revolta, que acarretou num grande movimento popular conhecido na história 
como a revolta da vacina. 
 
- Apesar da grande insatisfação gerada na população, o modelo campanhista, obteve êxito no 
controle das doenças epidêmicas, conseguindo inclusive eliminar a febre amarela da cidade do 
Rio de Janeiro. Este modelo tornou-se o principal meio de intervenção na área da saúde 
coletiva durante várias décadas. 
 
- Em meados de 1910, expedições científicas realizadas no interior brasileiro relataram o 
abandono das populações interioranas. Esse fato foi apontado como o principal entrave à 
ampliação da capacidade econômica do país e a causa de nossa inferioridade frente às nações 
desenvolvidas. 
 
- Oswaldo Cruz organizou a diretoria geral de saúde pública criando uma seção demográfica, 
um laboratório bacteriológico, um serviço de engenharia sanitária e de profilaxia da febre-
amarela, a inspetoria de isolamento e desinfecção, e o instituto soroterápico federal, o qual foi 
posteriormente transformado no Instituto Oswaldo Cruz. 
 
- Em 1920, Carlos Chagas, sucessor de Oswaldo Cruz reestruturou o Departamento Nacional de 
Saúde, introduziu a propaganda e a educação sanitária na técnica rotineira de ação. Nasce 
uma nova forma de intervenção em saúde, complementando o modelo campanhista de 
Oswaldo Cruz que era essencialmente fiscal e policial. 
 
- A classe dos operários estava cada vez mais descontente com as condições de trabalho. Isso 
culminou, em 24 de janeiro de 1923, na aprovação pelo Congresso Nacional da Lei Eloi Chaves, 
marco inicial da previdência social no Brasil. Esta lei deveria ser aplicada apenas aos 
operariados urbanos. Os trabalhadores rurais não participavam dos benefícios. Essa situação 
mudou a partir da década de 60 com a criação do FUNRURAL. 
 
Por meio da Lei Eloi Chaves foram instituídas as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP’s). A 
criação de uma CAP não era automática. Dependia da mobilização dos trabalhadores de 
determinada empresa para reivindicar a sua criação. 
 
- A primeira CAP criada foi a dos ferroviários, o que pode ser explicado por sua grande 
importância econômica para o país naquela época. 
 
 
 
 
 
 A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 
 
PRECEDENTES HISTÓRICOS 
Proclamada a República, em 1889, o Brasil passou a ser dominado pelas oligarquias 
formadas pelos coronéis, manda-chuvaspolíticos em uma época onde a competição eleitoral 
era praticamente inexistente; e os bacharéis, a oligarquia elitizada, formada por intelectuais 
políticos da época. 
A Primeira República acentuava as tendências centrífugas, caracterizando-se, entre 
outros aspectos, domínio das oligarquias estaduais e por uma coalizão federal de poderes 
locais atomizados (SANTOS, 2002, 2005). 
Dessa forma, pode-se observar a presença do controle municipal exercido pelas 
oligarquias regionais, fato que contribuía para a ausência do sentimento de nacionalidade do 
povo brasileiro. Essa ausência de nacionalidade era um dos principais problemas enfrentado 
na época pelos intelectuais, que queriam construir a nacionalidade brasileira e fortalecer a 
presença do Estado em todo o território nacional. Com a criação da radiocomunicação e dos 
correios e telégrafos, abriu-se um novo horizonte para um sistema de comunicação integrado 
no país, fortalecendo o governo federal nos municípios, o que gerou forte resistência das 
oligarquias regionais. 
A Constituição de 1891 determinou que, cabia aos estados a responsabilidade pelas 
ações de saúde e saneamento, assim como pelas de educação. 
Segundo CONIL (2002), as políticas de saúde ocorrerão, na virada do século XIX para o 
século XX, com as mudanças no modo de produção, aliando autoritarismo ao nascente 
cientificismo europeu. Oswaldo Cruz, oriundo do Instituto Pasteur, irá enfrentar as epidemias 
da época (febre amarela e varíola) que ameaçam a saúde dos portos e a agroexportação por 
meio de campanhas com vacinações e inspeções sanitárias. Ou seja, as primeiras ações do 
Estado na área de saúde tinham um claro interesse econômico, para viabilizar as exportações 
dos produtos brasileiros. 
Durante os séculos XVIII e XIX, os cientistas europeus buscavam explicações para os 
quadros de morbidade que acometiam a população. As pesquisas acerca das doenças 
baseavam-se na observação da morbidade com registro contínuo dos quadros de 
adoecimento e morte (evolução da doença e acompanhamento dos casos) e na busca de 
casualidade e formas de transmissão das doenças (COSTA, 1985). 
Começava assim a busca por conhecimento e ações na área de saúde pública, com a 
criação em 1897, da Diretoria Geral de Saúde Pública e a criação de institutos específicos de 
pesquisa, como o Instituto Soroterápico Federal criado em 1900, renomeado Instituto Oswaldo 
Cruz (IOC) um ano depois. 
A reforma na saúde foi projetada a partir de 1903, sob a coordenação de Oswaldo Cruz, 
que assume a Diretoria Geral de Saúde Pública. Extensivamente, em prol do saneamento e da 
reorganização urbana para eliminar os focos de desordem, a atuação no campo da psiquiatria 
é abarcada pela ação de Juliano Moreira. Em 1904, Oswaldo Cruz propõe um código sanitário 
que institui a desinfecção, inclusive domiciliar, o arrasamento de edificações consideradas 
nocivas à saúde pública, a notificação permanente dos casos de febre amarela, varíola e peste 
bubônica e a atuação da polícia sanitária. Ele também implementa sua primeira grande 
estratégia no combate às doenças: a campanha de vacinação obrigatória. Seus métodos 
tornaram-se alvo de discussão e muita crítica, culminando com um movimento popular no Rio 
de Janeiro, conhecido como a Revolta da Vacina (COSTA, 1985; COC, 1995). 
Com as ações de Oswaldo Cruz, avançou-se bastante no controle e no combate de 
algumas doenças, além do conhecimento sobre as mesmas. Mas apesar das ações de saúde 
pública estarem mais voltadas para ações coletivas e preventivas, grande parte da população 
ainda não possuía recursos próprios para custear uma assistência à saúde. 
2. 1923-1930: Nascimento da Previdência Social no Brasil 
Em janeiro de 1923, inspirado pela Legislação Argentina sobre a previdência social, o 
Deputado Eloy Chaves apresentou um Projeto de Lei que propunha a instituição da Caixa de 
Aposentadoria e Pensões para os ferroviários, em cada uma das empresas de estrada de ferro. 
Este projeto de Lei foi aprovado pelo Congresso e sancionado pelo Presidente da República, 
transformando-se no Decreto nº 4.682, de 24 de janeiro de 1923, conhecido depois como “Lei 
Eloy Chaves”. Esta caixa de proteção social foi influenciada também pelo modelo previdenciário 
inglês de seguro e propunha atender: 
“soccorros médicos em caso de doença em sua pêssoa ou pêssoa de sua família, que 
habite sob o mesmo tecto e sob a mesma economia; a medicamentos obtidos por preço 
especial determinado pelo Conselho de Administração; aposentadoria; e, a pensão para seus 
herdeiros em caso de morte” (Artigo 9°, §§ 1° a 4°, do Decreto n° 4.682 de 24 de janeiro de 
1923 – Lei Eloy Chaves). 
Essa Caixa de Aposentadorias e Pensões (CAPs) foi criada especificamente para os 
servidores públicos e organizado segundo os princípios da seguridade social, dependendo de 
contribuição por parte dos segurados. 
As CAPs eram organizadas pelas empresas e administradas e financiadas por empresas 
e trabalhadores, em uma espécie de seguro social. Nem toda empresa oferecia ao trabalhador 
a possibilidade de formação de uma CAP – esse era um benefício mais comum nas empresas 
de maior porte. O Estado em nada contribuía financeiramente e muito menos tinha 
responsabilidade na administração dessas Caixas – sua atuação restringia-se à legalização de 
uma organização que já vinha se dando de maneira informal desde 1910, e ao controle a 
distância do funcionamento dessas caixas, mediando possíveis conflitos de interesses 
(TEIXEIRA & OLIVEIRA, 1985). 
Com as CAPs, uma parcela mínima dos trabalhadores do país passava a contar com 
uma aposentadoria, pensão e assistência à saúde. Assim, o direito à saúde neste período 
estava restrito à condição de segurado. 
O movimento sanitarista da Primeira República obteve importantes resultados, 
principalmente na esfera política, o que pode ser observado com a criação, em 1920, após um 
intenso processo de negociação política, envolvendo sanitaristas, governo federal, estados e 
poder legislativo, do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), dirigido até 1926 por 
Carlos Chagas. Inicialmente, defendia-se a criação de um ministério autônomo, como ocorria 
em outros países latino-americanos, porém tal proposta foi fortemente atacada pelas 
oligarquias rurais que apontavam essa criação como uma ameaça ao princípio da autonomia 
estadual. 
Em justificativa ao projeto de lei, o Deputado Eloy Chaves esclareceu que: 
“Nas aposentadorias tive muito em vista não só o tempo de serviço como a idade do 
aposentado. Procurei evitar o auxílio demasiado aos inativos, ampliando aos verdadeiramente 
inválidos. Diminuí progressivamente a importância das aposentadorias à medida que 
aumentava os ordenados. Garanti ao empregado ferroviário esses favores de aposentadoria, 
qualquer que seja seu tempo de serviço, desde que fique incapacitado de exercer seu emprego 
por acidente havido no exercício do mesmo emprego. Ao organizar a direção da Caixa, 
procurei dar-lhe plena autonomia, libertando-a das peias da fiscalização do Poder Público. 
Deve ser dirigida e fiscalizada pelos que por ela vão ser beneficiados. Haverá em sua 
constituição para assegurar-lhe a tranqüilidade e continuidade, uma parte de diretores fixa e 
outra parte renovável por eleição. Aliás, uma e outra pertencerão ao quadro dos empregados 
ferroviários.” 
As mudanças políticas implementadas com a criação do DNSP debatem sobre as 
tendências antioligárquicas e os conflitos intraoligárquicos manifestados na década de 1920 e 
culminados com a Revolução de 1930. A criação do DNSP foi o resultado de intenso processo 
de negociação política, envolvendo sanitaristas, governo federal, estados e poder legislativo. 
De acordo com a Constituição de 1891, no que se refere às políticas sociais, verificou-se, 
na área da saúde, o desenvolvimento de uma política social pública e nacional. O período da 
Primeira República pode ser caracterizado comoa “era do saneamento” (HOCHMAN, 1998), 
identificando-se o período de 1910 a 1930 como o crescimento da consciência do governo em 
relação aos diversos problemas sanitários do país. Com a reformulação dos serviços sanitários 
e a criação do DNSP, durante o regime oligárquico da Primeira República, foi possível aos 
estados: 
“Obter auxílio federal mediante acordos para ações de saúde e saneamento. Esses 
convênios viabilizam a ação do poder central nos estados, sem ferir suas respectivas 
autonomias. Ao longo do tempo, houve o crescimento das atividades públicas em saúde e 
saneamento em todo o território nacional, tanto do governo federal, como de governos 
estaduais que passaram o desenvolver seus próprios serviços. São Paulo foi praticamente o 
único estado que se dedicou a uma ampla política sanitária, desde o início da República, e que 
se manteve autônomo em relação aos serviços federais. A era do saneamento não significou a 
resolução de todos os complexos problemas de saúde pública, mas legou uma infra-estrutura 
estatal, com a autoridade sanitária presente em grande parte do território brasileiro.” 
(HOCHMAN, 1998). 
Ainda na Primeira República, foram instituídas bases para a criação de um sistema 
nacional de saúde, caracterizado pela concentração e verticalização das ações no governo 
central. O período de 1930 é visto como marco inicial das políticas sociais e da centralização 
estatal. 
3.1930-1945: Proposta de Contenção de Gastos e Surgimento das Ações 
Centralizadas de Saúde Pública 
Em 1930 foi criado o Ministério da Educação e da Saúde Pública (Mesp) no Governo 
Provisório do Presidente Getúlio Vargas, o qual passou por sucessivas reformulações. 
Inicialmente, o período compreendido pelo Governo Provisório (1930-1934) foi marcado 
por uma grande instabilidade política, reflexo, entre outras razões, da heterogeneidade de 
forças que haviam se aliado durante o processo revolucionário. Naquela conjuntura política, 
tornou-se evidente que o setor agroexportador brasileiro passava por uma crise de 
hegemonia, identificada principalmente nas dissidências regionais. Como os demais setores da 
sociedade – no caso os grupos agrários não ligados ao café e os grupos urbanos emergentes – 
não se encontravam suficientemente coesos para se constituir como força política 
hegemônica, os desdobramentos do movimento de outubro de 1930 ficaram sujeitos às 
disputas políticas entre as diferentes facções que haviam se agrupado em torno da Aliança 
Liberal, particularmente entre tenentes e oligarquias dissidentes (GOMES, 1980). 
Após ser criado o Ministério do Trabalho, os trabalhadores passaram a ter direitos 
antes inexistentes. Getúlio Vargas, conhecido como o pai dos trabalhadores começou uma 
política de proteção aos trabalhadores visando o apoio dos mesmos nos projetos do Estado, 
sustentando, assim, os seus interesses econômicos. É nessa fase que são criados os Institutos 
de Aposentadorias e Pensões (IAPs), ampliando o papel da CAPs, dando início ao sistema de 
proteção social brasileiro. 
Com a criação dos IAPs passou-se a incluir em um mesmo instituto toda uma categoria 
profissional, não mais apenas empresas, o Estado passou a participar da sua administração, 
controle e financiamento. A partir daí, dá-se início à criação de um sistema público de 
previdência social, porém, ainda se mantinha o formato do vínculo contributivo formal do 
trabalhador para a garantia do benefício, caso não contribuísse estaria excluído do sistema de 
proteção. Em decorrência desse sistema estavam excluídos: os trabalhadores rurais, o 
profissional liberal e todo trabalhador que exercesse uma função não reconhecida pelo 
Estado. Dessa forma, a proteção previdenciária era um privilégio de poucos, ocasionando uma 
injustiça social em grande parte da população, podendo-se notar uma cidadania regulada e 
excludente, pois não garante a todos os mesmos direitos. 
Havia a discriminação dos benefícios de acordo com a categoria profissional, fazendo 
com que algumas categorias, sobretudo as mais importantes para o processo agroexportador, 
tivessem mais benefícios que outras, pois as IAPs organizavam e ofereciam aos seus 
contribuintes um número maior de benefícios, como um padrão melhor de assistência médica 
e hospitalar. 
Ao Mesp coube cuidar da saúde pública, ou seja, tudo o que dissesse respeito à 
população e que não se encontrava resguardado pela medicina previdenciária, ou seja, todos 
aqueles que não se encontravam habilitados a usufruir os serviços dos serviços oferecidos 
pelas caixas e pelos institutos previdenciários, como era o caso dos pobres, desempregados e 
os que exerciam atividades informais. 
Essa definição a respeito do conhecimento de direitos sociais implicou, ao mesmo 
tempo, a associação entre assistência médica previdenciária e trabalhadores urbanos e a 
ênfase das ações de saúde pública como políticas e modelos de serviços voltados 
predominantemente para a população rural. (LIMA, 2005). 
Lima (2005) cita um texto publicado em 1948 pelos sanitaristas Ernani Braga e 
Marcolino Candau sintetizando com rara sensibilidade este fato: 
“No Brasil, especialmente nos últimos anos, observou-se, sob o controle do governo, o 
desenvolvimento de um extenso programa de assistência médico-social compulsório para as 
classes assalariadas, programa esse que, apesar de vir atender a uma razoável parte de nossa 
população, não pode ainda cogitar da grande massa constituída pelos habitantes da zona 
rural, os quais por não trabalharem em regime regular de emprego, não sendo, portanto 
obrigados a contribuir para as organizações de seguro médico-social, vêem-se, em sua maioria, 
totalmente desprovidos de qualquer tipo de assistência médico-sanitária, a não ser aqui e ali e 
assim mesmo muito mal, aquela que é prestada pelos serviços oficiais de saúde e pelas 
instituições de caridade”. (CANDAU & BRAGA, 1948). 
Desse modo pode notar-se que mesmo o Estado mantendo ações de saúde pública, 
promovendo o controle e a prevenção de doenças transmissíveis e atuando na assistência a 
algumas doenças, a assistência à saúde e ainda tinha que contar com a caridade, o 
assistencialismo dos hospitais e dos profissionais de saúde. 
4. 1945-1968: Crise do Regime de Capitalização e Nascimento do Sanitarismo 
Desenvolvimentista 
Com a queda de Vargas, em outubro de 1945, a eleição de Eurico Gaspar Dutra e a 
promulgação de uma nova constituição em 1946, o país inicia um período de 19 anos de 
experiência democrática. A saúde pública passou a ter uma estrutura mais centralizada com 
programas e serviços verticalizados para implementar campanhas e ações sanitárias. Assim a 
saúde pública e a assistência médica passaram a ser decididas em um ambiente mais 
democrático, caracterizado por disputas político-partidárias, eleições livres, funcionamento dos 
poderes republicanos, liberdade de imprensa e organização e demandas por direitos e 
incorporação. 
Entre diversas doenças tropicais da época, a malária assumia um lugar de destaque. Era 
apontada por muitos como ‘a doença econômica’ por excelência (LIMA, 2005 apud PACKARD & 
BROWN, 1997). Esses novos significados e interesses presentes na associação entre saúde e 
desenvolvimento passaram a marcar os espaços institucionais no campo da saúde pública 
(LIMA, 2005 apud PACKARD, 1997). 
Neste período ocorreu um intenso debate sobre os custos econômicos das doenças 
como obstáculo ao desenvolvimento dos países, particularmente no que se refere à expansão 
agrícola e à produtividade do trabalho (LIMA, 2005). 
Diversos programas de controle e erradicação das “doenças tropicais” atraiam o 
interesse de instituições nacionais e internacionais, como a Organização Mundial da Saúde 
(OMS), a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) – transformada então em Escritório 
Regional da OMS para as Américas –, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a 
Organização das Nações Unidas paraAgricultura e Alimentação (FAO). 
Nos principais países desenvolvidos da Europa constituem-se, no pós-guerra, os 
Estados de Bem-Estar Social (também conhecidos como Welfare State) com o objetivo de 
reerguer as economias afetadas pela guerra e configurar Estados fortes e compromissados 
com a democracia e a justiça social – uma forma de combater o comunismo e manter as 
economias européias no padrão competitivo mundial (ESPING - ANDERSEN, 1995). 
Os Estados de Bem-Estar consistem em uma política sustentada e pactuada entre a 
área econômica e a social com o objetivo de garantir o bem-estar da população e manter a 
produção econômica. Os pilares dessa política eram: o pleno emprego, a provisão pública de 
serviços sociais e universais – como saúde, educação, saneamento, habitação, lazer, 
transporte, etc. – e a assistência social para aqueles não incluídos no sistema produtivo (FARIA, 
1997). 
Nesse período, ainda não havia uma política de bem-estar social no Brasil, mas havia 
uma ideologia desenvolvimentista, indicando a relação pobreza-doença-subdesenvolvimento, 
com a necessidade de melhorar o nível de saúde da população para alcançar o 
desenvolvimento. Uma política de saúde pública universal e com a necessidade de melhorar o 
nível de saúde da população para alcançar o desenvolvimento. Uma política de saúde pública 
universal enfatizando a prevenção das doenças transmissíveis, e uma política de saúde 
previdenciária, restrita aos contribuintes da previdência e seus dependentes, com ênfase na 
assistência curativa. O direito à saúde integral e irrestrito ainda não era assegurado a todo 
cidadão brasileiro. 
O ‘sanitarismo desenvolvimentista’, analisado por vários autores (LABRA, 1985; 
ESCOREL, 2000; BRAGA & PAULA, 1981) que tinha em Samuel Pessoa, Mário Magalhães e 
Gentile de Melo seus principais representantes, reagia ao campanhismo, à centralização, à 
fragilidade dos governos locais e ao baixo conhecimento do estado sanitário do país pela falta 
de informações e dados vitais – legados do Estado Novo –, e propugnava a compreensão das 
relações entre pobreza e doença e sua importância para a transformação social e política do 
país. Ainda que heterogêneo internamente, esse ‘novo sanitarismo’ integrava a corrente 
nacional-desenvolvimentista e se expressaria com mais vigor no processo de radicalização 
política que marcou o início da década de 1960 (LIMA, 2005). 
De 1945 a 1964, o país continuava a ser predominantemente rural. O combate às 
endemias rurais e às doenças transmissíveis era a principal preocupação dos organismos de 
saúde pública, para isso foi criado o Departamento Nacional de Endemias Rurais (DNERu) em 6 
de março de 1956, de acordo com a Lei 2.743, sua principal responsabilidade era combater às 
principais endemias do país, entre elas malária, leishmaniose, doença de chagas, peste, febre 
amarela, esquistossomose, ancilostomose, hidatidose, bócio endêmico e tracoma. 
A criação do Ministério da Saúde (MS), a reforma dos serviços nacionais, até então 
especializados na definição e implementação de medidas isoladas para cada doença, com sua 
integração em um órgão único, o DNERu, mantinha como posição hegemônica a defesa do 
foco central nas doenças da coletividades, em especial nas endemias rurais que 
obstaculizavam o desenvolvimento em um país ainda rural. Ainda que o DNERu integrasse 
ações antes dispersas em diferentes órgãos que combatiam isoladamente doenças específicas, 
o modelo ainda se mantinha vertical, orientado para enfermidades rurais e coordenado pelo 
governo federal (LIMA, 2005). 
A Lei nº 3.807, de 26 de agosto de 1960, sancionada pelo Presidente Juscelino 
Kubitschek, institui a Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS). As instituições de previdência 
social foram constituídas como serviço público descentralizado da União, com personalidade 
jurídica de natureza autárquica. 
O golpe militar de 1964 trouxe mudanças para o sistema sanitário brasileiro, com 
destaque na assistência médica, no crescimento progressivo do setor privado e na abrangência 
de parcelas sociais no sistema previdenciário. 
A primeira ação significativa no sistema previdenciário brasileiro ocorreu em 1966 com 
a unificação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) no Instituto Nacional de 
Previdência Social (INPS). O novo órgão permitiu uma padronização dos institutos, 
principalmente acerca dos benefícios prestados, causando insatisfação naqueles contribuintes 
de institutos com mais benefícios, afinal, com a unificação, os menos ricos poderiam usufruir 
de mais benefícios do instituto. Há ainda extensão da cobertura previdenciária para a 
assistência psiquiátrica, até então realizada em hospitais públicos, sobretudo para pessoas de 
baixa renda. 
5. 1968 – 1979: Crise, Reforma e Consolidação da Rede Privada em Saúde 
Frente às críticas ao seu projeto político, social, o regime militar procurou resistir 
ampliando, por um lado, de forma controlada, o espaço de manifestação política; por outro, 
utilizando-se simultaneamente de dois mecanismos voltados para responder às demandas das 
camadas populares: concessões econômicas restritas e uma política social ao mesmo tempo 
repressivo e paternalista (TEIXEIRA & OLIVEIRA, 1985). 
A partir de meados da década de 70, após um cenário de crise política e econômica 
iminente do governo militar, começou a se definir novas estratégias para manter o governo, 
dentre elas houve a definição do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) e a política de 
abertura do governo. 
O II PND foi um plano qüinqüenal voltado ao desenvolvimento econômico e social, o 
qual continuava ideologicamente orientado pela visão do ‘Brasil Grande Potência’. Apareciam 
nele, entretanto, algumas prioridades no campo social: educação, saúde e infra-estrutura de 
serviços urbanos. O diagnóstico apresentado para a saúde pública e, inclusive, para a 
assistência médica da previdência denunciava a carência de capacidade gerencial e estrutura 
técnica, o que reduzia a eficácia dos recursos públicos e elas destinadas e elevava o risco das 
decisões de aumentá-las substancialmente. 
Para fazer frente a esses desafios, o governo criou o Conselho de Desenvolvimento 
Social (CDS), à semelhança do Conselho de Desenvolvimento Econômico e o Ministério da 
Previdência e Assistência Social (MPAS). O regime precisava lançar mão de políticas sociais para 
a sua legitimação, por isso investiu, canalizou recursos e priorizou projetos nestes setores. No 
entanto, não tinha quadros para ocupar todos os espaços abertos e terminou por criar 
espaços institucionais para pessoas de pensamento contrário, senão antagônicos, ao 
dominante em seu setor. Por esta brecha, lideranças do movimento sanitário entraram na alta 
burocracia estatal, na área da Saúde e da Previdência Social (ESCOREL, 1998). 
As pressões por reforma na política de saúde possibilitaram transformações concretas 
ainda nos anos 70, mudanças que se efetivaram de forma incipiente e resguardando os 
interesses do Estado autoritário. Dentre as políticas implementadas, segundo Baptista (2005), 
destacam-se: 
“- a criação do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), em 1974, que 
distribuiu recursos para o financiamento de programas sociais; 
- a formação do Conselho de Desenvolvimento Social (CDS), em 1974, que organizou as 
ações a serem implementadas pelos diversos ministérios da área social; 
- a instituição do Plano de Pronta Ação (PPA), em 1974, que constitui em uma medida 
para viabilização da expansão da cobertura em saúde e desenhou uma clara tendência para o 
projeto de universalização da saúde; 
- a formação do Sistema Nacional de Saúde (SNS), em 1975, primeiro modelo político de 
saúde de âmbito nacional que desenvolveu imediatamente um conjunto integrado de ações 
nos três níveis de governo; 
- a promoção do Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (Piass), 
em 1976, que estendeu serviçosde atenção básica à saúde no nordeste do país e se 
configurou como a primeira medida de universalização do acesso à saúde; 
- a constituição do Sistema Nacional da Previdência e Assistência Social (Sinpas), em 
1977, com mecanismos de articulação entre saúde, previdência e assistência no âmbito do 
Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), e a criação do Instituto Nacional de 
Assistência Médica da Previdência Social (Inamps), que passou a ser o órgão coordenador de 
todas as ações de saúde no nível médico-assistencial da previdência social”. 
Outra organização bastante importante na luta do movimento sanitário foi o Centro 
Brasileiro de Estudos em Saúde – CEBES criado em 1976 e a Associação Brasileira de Pós-
Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco). Criada em 1979 como uma associação dos programas 
de pós-graduação em saúde coletiva e saúde pública, enfatizando a residência em medicina 
preventiva e social, para formar gestores sanitários para o Sistema Nacional de Saúde. 
Os reformistas buscavam a universalização do direito à saúde, a unificação dos serviços 
prestados pelo Inamps e a integralidade das ações. No Brasil, crescia o debate sobre o direito à 
saúde, em um sentido mais amplo. Portanto, o direito à saúde significava a garantia de 
condições dignas de vida e de acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, 
proteção e recuperação em todos os níveis, assegurado pelo Estado. 
6. Década de 80: A Eclosão da Crise Estrutural e Consolidação das Propostas 
Reformadoras 
O governo Figueiredo, marcado pela abertura política e a influência do II PND, pareceu 
mais promissor para a área da saúde, pois as experiências municipais de reorganização de 
serviço de saúde e o Piass apresentavam sinais de sucesso. O movimento da Reforma Sanitária 
indicava propostas de expansão da área de assistência medica da previdência, aumentando os 
conflitos de interesse com a previdência e envolvendo poder institucional e pressões do setor 
privado. Tais pressões resultam na criação de mecanismos de coordenação entre os 
ministérios com o intuito de se elaborar um projeto para reordenar o setor. 
A década de 80 iniciou-se em clima de redemocratização, crise política, social e 
institucional do país, tendo como primeiro passo a realização da 7ª Conferência Nacional de 
Saúde (CNS) com o propósito de reformular a política de saúde e formular o Programa 
Nacional de Serviços Básicos de Saúde (Prev-Saúde), que visava uma extensão nacional do 
Piass, ou seja, buscava dotar o país de uma rede de serviços básicos que oferecesse, em 
quantidade e qualidade, os cuidados primários de proteção, promoção e recuperação da 
saúde, tendo como meta a cobertura de saúde para toda a população até o ano 2000 
(Conferência Nacional de Saúde, 1980). Tinha como seus pressupostos básicos a 
hierarquização das formas de atendimento por níveis de complexidade, a integração dos 
serviços existentes em cada um dos níveis de complexidade, seja na rede pública ou privada, e 
a regionalização do atendimento por áreas de populações definidas. Entretanto, não passava 
de uma proposta de investimento no nível primário de atenção, que não tocava na rede 
hospitalar privada. 
No entanto, o Prev-Saúde acabou não sendo incorporado pelo governo e muito menos 
estabelecido na prática, dadas as resistências interburocráticas assentadas no Inamps, a forte 
oposição das entidades do segmento médico empresarial e ainda as pressões oriundas do 
campo da medicina liberal e do setor privado contratado (CORDEIRO,1991). Tais fatores 
contribuíam para que o Prev-Saúde não se concretizasse, tornando-se um projeto “natimorto”, 
e como tal, permaneceu como padrão das reformas sanitárias desejados pela sociedade, 
jamais atendidas pelo governo. Essas idéias reformistas começavam a se integrar em uma 
proposta abrangente de definição da política de saúde. 
A década de 1980 é ainda marcada por movimentos de contestação ao sistema de 
saúde. A primeira medida tomada foi a formação do Conselho Consultivo de Administração da 
Saúde Previdenciário (Conaps), em 1981, como órgão do Ministério da Previdência e 
Assistência Social. O Conasp deveria buscar respostas concretas que explicassem a razão da 
crise no setor, devendo operar como organizador e racionalizador da assistência médica 
buscando diminuir e racionalizar gastos. Sendo assim, deveria sugerir critérios para destinar 
recursos previdenciários do setor saúde, aconselhar políticas de financiamento e de assistência 
à saúde, aconselhar políticas de financiamento e de assistência a saúde, além de analisar e 
avaliar a operação e o controle da Secretaria de Assistência Médica da Previdência Social. 
A avaliação do Conasp determinou diversas alterações no modelo de saúde até então 
vigente, como: inadequação de serviços à realidade; inclusão insuficiente de diversas 
prestadoras; recursos financeiros insuficientes; desvalorização dos serviços próprios; e, 
superprodução dos serviços contratados. 
Essa avaliação indicava uma rede de saúde, ineficiente, desintegrada e complexa, 
indutora de fraude e desvios de recursos. A partir dessa avaliação, foram elaboradas propostas 
operacionais básicas para a reestruturação do setor, mas não para a finalização do sistema. 
Dentre as propostas apresentadas, destacam-se: o Programa das Ações Integradas de Saúde 
(Pais), a Programação e Orçamentação Integrada (POI), o Programa de Racionalização 
Ambulatorial (PRA) e o Sistema de Assistência Médico-Hospitalar da Previdência Social 
(SAMHPS). 
O Pais, posteriormente denominado apenas Ações Integradas de Saúde (AIS), mostrou-
se como a principal saída para a universalização do direito à saúde e significou uma proposta 
de “integração” e “racionalização” dos serviços públicos de saúde e de articulação destes com a 
rede conveniada e contratada, o que combinaria um sistema unificado, regionalizado e 
hierarquizado para o atendimento. A proposta resumia-se na assinatura de convênios entre os 
Inamps e os estados e municípios para o repasse de recursos destinados à construção de 
unidades da rede com o compromisso dos governos de oferecer assistência gratuita a toda a 
população e não só para os beneficiários da previdência. Com essa proposta, as AIS, 
recuperavam a estratégia apresentada no Prev-Saúde e avançavam significativamente na 
conformação de políticas que levariam à reforma do setor saúde, fortalecendo a coordenação 
de ações entre a união e os estados e a incorporação do planejamento à prática institucional. 
Em 1985, o regime militar chega ao fim com a eleição indireta da chapa de oposição, 
apoiada pela dissidência do próprio partido governista. O presidente eleito, Tancredo Neves, 
falece antes de tomar posse, assumindo o governo, chamada Nova República, o vice-
presidente José Sarney. No setor econômico, o governo Sarney é marcado por dois planos, o 
Plano Cruzado I e II, que visam atacar a hiperinflação, buscando a estabilidade e o crescimento 
econômico. No setor político, busca-se um equilíbrio entre as forças vitoriosas sob a 
hegemonia dos políticos democratas e liberais. 
Com a chegada da Nova República, o plano das AIS foi retomado, impulsionando, junto 
com uma nova POI, a reformulação do sistema de saúde visando uma rede unificada. 
Líderes do movimento sanitarista passam a ocupar posições de destaque no âmbito 
político-institucional no país, coordenando as políticas e negociações no setor da saúde e 
previdência. Em decorrência disso, no ano de 1986, ocorreu a 8ª Conferência Nacional de 
Saúde, presidida por Sérgio Arouca, então presidente da Fundação Oswaldo Cruz. “Esta 
conferência foi um marco histórico da política da saúde brasileira, pois, pela primeira vez, 
contava-se com a participação da comunidade e dos técnicos na discussão de uma política 
setorial”. A conferência contou com a participação de mais de quatro mil pessoas nos debates, 
evidenciando-se que as modificações nosetor da saúde ultrapassava, os limites de uma 
reforma administrativa e financeira. 
Existia a necessidade de uma reforma mais profunda, com a aplicação do conceito de 
saúde e sua correspondente ação institucional. Foi aprovada, por unanimidade, a diretriz da 
universalização da saúde e do controle social efetivo de acordo com as práticas de saúde 
estabelecidas, permanecendo as propostas de fortalecimento do setor público, garantindo um 
direito à saúde integral. 
No relatório da 8ª Conferência Nacional de Saúde consta que: 
“- Saúde como Direito - em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das 
condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, 
emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É, assim, antes 
de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, que podem gerar 
desigualdades nos níveis de vida. 
- Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida e de 
acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação de 
saúde, em todos os seus níveis, a todos os habitantes do território nacional, levando ao 
desenvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade.” 
 Este relatório serviu de referência na discussão da Assembléia Nacional Constituinte 
em 1987/1988, sendo reconhecido como um documento de expressão social. 
Na 8ª CNS, também se discutiu a unificação do Inamps com o Ministério da Saúde, 
devendo a Previdência Social ficar encarregada das ações próprias do seguro social, enquanto 
que a saúde seria entregue a um órgão federal com novas características. Sendo assim, foi 
aprovada a criação de um sistema único de saúde com a separação total da saúde em relação 
à previdência. 
As propostas da 8ª CNS não foram realizadas imediatamente, pois, ainda havia a 
discussão acerca do financiamento e a sobre a operacionalização do novo sistema de saúde. 
Dessa forma, em julho de 1987, criou-se o Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde 
(Suds), através de uma proposta do Inamps/MPAS, que se apresentou como base na 
construção do SUS. 
O Suds avançou na política de descentralização da saúde e, principalmente na 
descentralização do orçamento, permitindo uma maior autonomia dos estados na 
programação das atividades do setor; deu prosseguimento às estratégias de hierarquização e 
universalização da rede de saúde e retirou do Inamps a soma de poder que ele centralizava 
(VENÂNCIO, 2005). Destarte, os superintendentes do Inamps, que tinham um poder político 
enorme, anteriormente, passaram a não possuir mais poder algum, ficando em segundo 
plano, e quem passou a ter o poder foram os secretários estaduais de saúde, tornando-se 
gestores principais. 
Ocorria ao mesmo tempo da implementação do SUS, a discussão da Assembléia 
Nacional Constituinte de 1987/88, tendo como base o relatório da 8ª CNS para discutir a 
reforma sanitária, e finalmente a aprovação do SUS. 
O debate constituinte foi acirrado e revelou resistências por parte dos prestadores de 
serviço privado do setor de saúde e da medicina autônoma, além de conflitos de interesses 
entre os reformistas da previdência social. As disputas de interesse não foram suficientes para 
barrar a aprovação do SUS e seus princípios, mas impediram a definição de algumas políticas 
importantes para o processo de implementação da reforma, tais como o financiamento, a 
regulação do setor privado, a estratégia para a descentralização e unificação do sistema, 
dentre outras (FARIA, 1997). 
Em 5 de outubro de 1988 é promulgada a Oitava Constituição do Brasil, denominada 
‘Constituição Cidadã’, sendo um marco fundamental na redefinição das prioridades da política 
do Estado na área da saúde pública. 
Ao longo de 1989, as negociações se concentraram em torno da lei complementar que 
daria bases operacionais para o SUS. Nesse mesmo ano, é realizada a primeira eleição direta 
para presidente da República, assumindo a presidência em janeiro de 1990, Fernando Collor 
de Mello. Nesse período ocorria a projeto de formulação da Lei Orgânica da Saúde, entretanto 
a LOS 8.080, promulgada pelo governo Collor, sofreria uma grande quantidade de vetos. Foi 
nessa conjuntura que iniciaria a construção do SUS. 
7 Perspectivas Contemporâneas em Saúde Pública 
A história do controle social da saúde pública no Brasil é sinônimo de luta e empenho 
de representantes da sociedade que dedicam tempo, esforço e recursos materiais no processo 
que garante a participação da sociedade civil na história do Sistema Único de Saúde (SUS). 
Concebida pela Constituição Federal de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) é o 
resultado de um processo de articulação do Movimento pela Reforma Sanitária e de diversas 
pessoas comprometidas com o reconhecimento dos direitos sociais de cada cidadão brasileiro, 
ao determinar um caráter universal às ações e aos serviços de saúde no País. 
O processo de consolidação do SUS implicou em mudanças na legislação brasileira, 
buscando uma melhor implementação do sistema onde possa acompanhar as transformações 
econômicas e sociais do Brasil. 
O resgate dessa história é parte do compromisso do Conselho Nacional de Saúde com 
o reconhecimento e implementação do controle social em Saúde no Brasil. Para uma melhor 
implementação do SUS, que permitisse aos conselheiros de saúde de todo o país ter acesso à 
legislação federal que regulamenta o setor saúde, o Conselho Nacional de Saúde disponibilizou 
Leis, Normas e dispositivos constitucionais que definem os princípios e diretrizes do sistema 
de saúde brasileira. 
A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) tem sido analisada como a maior política de 
inclusão social no País inserida sob o novo regime democrático. 
A instituição do SUS, a partir da Constituição Federal de 1988, representa um marco 
histórico das políticas de saúde em nosso país, pois na nova constituição, a atenção à saúde 
passa a ser assegurada legalmente como direito fundamental de cidadania, cabendo ao Estado 
a obrigação de provê-la a todos os cidadãos brasileiros e estrangeiros que vivem no Brasil. E 
desde a sua instituição, quatro pontos sobre a gestão têm sido apontados como fundamentais: 
a descentralização, o financiamento, o controle social e a gestão do trabalho. 
O direito à saúde, afirmado na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, 
está claro na Constituição Federal de 1988 que define a Saúde como direito de todos e dever 
do Estado, indicando os princípios e diretrizes legais do Sistema Único de Saúde – SUS. 
Segundo o artigo 196 da Constituição Federal Brasileira de 1988: 
“A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e 
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso 
universitário e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. 
(grifo nosso) 
A saúde preconizada na Constituição está inspirada no debate da Reforma Sanitária 
Brasileira iniciado na década de 70, com grande expressão no resultado do intenso e 
participativo debate ocorrido na 8ª Conferência Nacional de Saúde em 1986. Durante a década 
de 90 assiste-se à árdua luta pela implantação do SUS, ainda que se esteja distante de 
completar esta tarefa, muito se avançou. 
Saúde é qualidade de vida e, portanto, deve estar vinculada aos direitos humanos, ao 
direito ao trabalho, à moradia, educação, alimentação e lazer. O direito à saúde, especialmente 
quando examinado sob a ótica da qualidade de vida, exige também que a superação das 
desigualdades envolva o acesso democrático a alimentos, medicamentos e serviços que sejam 
seguros e que tenham sua qualidade controlada pelo Poder Público. Qualidade de vida implica 
o reconhecimento do ser humano como ser integral. O conceito de cidadania que a 
Constituição assegura deve ser traduzido nas condições de vida da população. Ressalta-se quea promoção a atenção à saúde são fundamentais e fazem parte do elenco de políticas sociais 
necessárias para a construção de uma sociedade justa e democrática, sendo esta a missão 
central do SUS. 
Nesse sentido, a efetivação do direito à saúde depende do provimento de políticas 
sociais e econômicas que assegurem desenvolvimento econômico sustentável e distribuição de 
renda; cabendo, especificamente ao SUS a promoção, proteção e recuperação da saúde dos 
indivíduos e das coletividades de forma eqüitativa. 
Em 19 de setembro de 1990, foi aprovada a Lei Federal nº 8.080, a chamada Lei 
Orgânica da Saúde (LOS), elaborada pela Comissão Nacional de Reforma Sanitária (CNRS), que 
dispõe sobre as condições para a promoção, a proteção e a recuperação da Saúde. No 
entanto, a legitimidade do processo constituinte e do movimento pela reforma sanitária 
constitui-se na melhor garantia da operacionalização dos ideais dos SUS, ou seja, de seus 
princípios e diretrizes. 
Ainda o controle social, foi assegurado pela Lei 8.142, de 28 de dezembro de 1990, 
mantendo a perspectiva de participação social na gestão do SUS e consequentemente, 
conquista dos cidadãos, que passaram a ocupar espaços estratégicos a partir de dentro dos 
aparelhos do Estado. 
 
 
 SUS: PRINCÍPIOS E DIRETRIZES 
 
 
A primeira e maior novidade do Sistema Único de Saúde é seu conceito de saúde. Esse 
“conceito ampliado de saúde”, resultado de um processo de embates teóricos e políticos, como 
visto anteriormente, traz consigo um diagnóstico das dificuldades que o setor da saúde 
enfrentou historicamente e a certeza de que a reversão deste quadro extrapolava os limites 
restritos da noção vigente. 
 
Encarar saúde apenas como ausência de doenças evidenciou um quadro repleto não só das 
próprias doenças, como de desigualdades, insatisfação dos usuários, exclusão, baixa qualidade 
e falta de comprometimento profissional. 
 
Para enfrentar essa situação era necessário transformar a concepção de saúde, de serviços de 
saúde e, até mesmo, de sociedade. Uma coisa era se deparar com a necessidade de abrir 
unidades, contratar profissionais, comprar medicamentos. Outra tarefa é conceber a atenção à 
saúde como um projeto que iguala saúde com condições de vida. 
 
Ao lado do conceito ampliado de saúde, o Sistema Único de Saúde traz dois outros conceitos 
importantes: o de sistema e a ideia de unicidade. A noção de sistema significa que não 
estamos falando de um novo serviço ou órgão público, mas de um conjunto de várias 
instituições, dos três níveis de governo e do setor privado contratado e conveniado, que 
interagem para um fim comum. 
 
Na lógica do sistema público, os serviços contratados e conveniados são seguidos dos mesmos 
princípios e das mesmas normas do serviço público. Os elementos integrantes do sistema 
referem-se, ao mesmo tempo, às atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde. 
 
Esse sistema é único, ou seja, deve ter a mesma doutrina e a mesma forma de organização em 
todo país. Mas é preciso compreender bem esta ideia de unicidade. Em um país com tamanha 
diversidade cultural, econômica e social como o Brasil, pensar em organizar um sistema sem 
levar em conta essas diferenças seria uma temeridade. 
 
O que é definido como único na Constituição é um conjunto de elementos doutrinários e de 
organização do Sistema Único de Saúde, os princípios da universalização, da equidade, da 
integralidade, da descentralização e da participação popular. Esses elementos se relacionam 
com as peculiaridades e determinações locais, por meio de formas previstas de aproximação 
de gerência aos cidadãos, seja com descentralização político-administrativa, seja por meio do 
controle social do sistema. 
 
O Sistema Único de Saúde pode, então, ser entendido a partir da seguinte imagem: um núcleo 
comum (único), que concentra os princípios doutrinários, e uma forma de organização e 
operacionalização, os princípios organizativos. A construção do SUS norteia-se, baseado nos 
seus preceitos constitucionais, pelas seguintes doutrinas: 
 
• Universalidade: É a garantia de atenção à saúde, por parte do sistema, a todo e qualquer 
cidadão (“A saúde é direito de todos e dever do Estado” – Art. 196 da Constituição Federal de 
1988). 
 
Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso a todos os serviços públicos de 
saúde, assim como aqueles contratados pelo poder público de saúde, independente de sexo, 
raça, renda, ocupação ou outras características sociais ou pessoais. Saúde é direito de 
cidadania e dever do Governo: Municipal, Estadual e Federal. 
 
• Equidade: O objetivo da equidade é diminuir desigualdades. Mas isso não significa que a 
equidade seja sinônima de igualdade. Apesar de todos terem direito aos serviços, as pessoas 
não são iguais e por isso têm necessidades diferentes. Então, equidade é a garantia a todas as 
pessoas, em igualdade de condições, ao acesso às ações e serviços dos diferentes níveis de 
complexidade do sistema. 
 
O que determinará as ações será a prioridade epidemiológica e não o favorecimento, 
investindo mais onde a carência é maior. Sendo assim, todos terão as mesmas condições de 
acesso, more o cidadão onde morar, sem privilégios e sem barreiras. Todo cidadão é igual 
perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades até o limite do que o sistema pode 
oferecer para todos. 
 
• Integralidade: As ações de promoção, proteção e reabilitação da saúde não podem ser 
fracionadas, sendo assim, os serviços de saúde devem reconhecer na prática que: se cada 
pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade, as ações de promoção, 
proteção e reabilitação da saúde também não podem ser compartimentalizadas, assim como 
as unidades prestadoras de serviço, com seus diversos graus de complexidade, configuram um 
sistema capaz de prestar assistência integral. 
 
Ao mesmo tempo, o princípio da integralidade pressupõe a articulação da saúde com outras 
políticas públicas, como forma de assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes 
áreas que tenham repercussão na saúde e qualidade de vida dos indivíduos. 
 
Para organizar o SUS a partir dos princípios doutrinários apresentados e considerando-se a 
ideia de seguridade social e relevância pública existem algumas diretrizes que orientam o 
processo. Na verdade, trata-se de formas de concretizar o SUS na prática. 
 
• Regionalização e hierarquização: Os serviços devem ser organizados em níveis de 
complexidade tecnológica crescente, dispostos em uma área geográfica delimitada e com a 
definição da população a ser atendida. 
 
Planejados a partir de critérios epidemiológicos, implica na capacidade dos serviços em 
oferecer a uma determinada população todas as modalidades de assistência, bem como o 
acesso a todo tipo de tecnologia disponível, possibilitando alto grau de resolutividade (solução 
de problemas). 
 
A rede de serviços, organizada de forma hierarquizada e regionalizada, permite um 
conhecimento maior da situação de saúde da população da área delimitada, favorecendo 
ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os níveis de complexidade. 
 
Deve o acesso da população à rede se dar por intermédio dos serviços de nível primário de 
atenção, que devem estar qualificados para atender e resolver os principais problemas que 
demandam os serviços de saúde. Os demais deverão ser referenciados para os serviços de 
maior complexidade tecnológica. Estes caminhos somam a integralidade da atenção com o 
controle e a racionalidade dos gastos no sistema. 
 
 CONTROLE SOCIAL NO SUS 
 
A legislação federal (Constituição Federal, Art. 198, inciso III e Lei 8.080/90, Art. 7º, inciso 
VIII) estabeleceu as normas gerais que orientam a participação da comunidade na gestão do 
Sistema Único de Saúde por meio das Conferências e dos Conselhos de Saúde,regulamentados pela Lei 8.142/90, Art. 1º - parágrafos 1 a 5. 
 
As Conferências de Saúde são instâncias colegiadas, de caráter consultivo, que 
possibilitam o exercício do controle social no âmbito do poder executivo, tendo como objetivo 
avaliar a situação de saúde e propor as diretrizes da política de saúde em cada nível de 
governo, constituindo-se no mais importante fórum de participação ampla da população. Sua 
periodicidade deverá ser estabelecida pelos Conselhos de Saúde correspondentes, não 
devendo ultrapassar quatro anos. 
 
Os Conselhos de Saúde buscam participar da discussão das políticas de saúde tendo 
uma atuação independente do governo, embora façam parte de sua estrutura e onde se 
manifestam os interesses dos diferentes segmentos sociais, possibilitando a negociação de 
propostas e o direcionamento de recursos para diferentes prioridades. 
 
Em seu parágrafo 2º, a Lei 8.142/90 define: "O Conselho de Saúde, em caráter 
permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, 
prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e 
no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos 
aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder 
legalmente constituído em cada esfera de governo". 
 
Na perspectiva do controle social, a participação da população na gestão da saúde 
coloca as ações e serviços na direção de interesses da comunidade e estabelece uma nova 
relação entre o Estado e a Sociedade, na qual o conhecimento da realidade de saúde das 
comunidades é o fator determinante na tomada de decisão por parte do gestor. 
 
A legislação, porém, deixou uma lacuna principalmente nos aspectos de 
representatividade e legitimidade dos diversos segmentos sociais e naqueles referentes à 
organização, estruturação e funcionamento dos conselhos. 
 
Para preencher essa lacuna e orientar a formação dos Conselhos de Saúde, acelerando 
e consolidando o controle social do SUS, o Conselho Nacional de Saúde editou, em dezembro 
de 1992, a Resolução nº 33 – Recomendações para Constituição e Estruturação de Conselhos 
Estaduais e Municipais de Saúde. Em novembro de 2002, considerando o acumulado no 
exercício do controle social em 10 anos, bem como as demandas dos Conselhos Estaduais e 
Municipais expressas nas 9ª, 10ª e 11ª Conferências Nacionais de Saúde, nas Plenárias de 
Saúde e em outros fóruns representativos, a Resolução N.º 33 foi atualizada pelo documento 
Diretrizes para Criação, Reformulação, Estruturação e Funcionamento dos Conselhos de 
Saúde. 
 
Este documento definiu que "aos Conselhos de Saúde que tem suas competências 
definidas nas leis federais bem como em deliberações advindas das Conferências de Saúde 
compete": 
 
* Implementar a mobilização e articulação contínuas da sociedade na defesa dos 
princípios constitucionais que fundamentam o SUS para o controle social de Saúde; 
* Elaborar o Regimento do Conselho e outras normas de funcionamento; 
* Discutir, elaborar e aprovar proposta de operacionalização das diretrizes aprovadas 
pelas Conferências de Saúde; 
* Definir diretrizes para elaboração dos planos de saúde e sobre eles deliberar, 
conforme as diversas situações epidemiológicas e a capacidade organizacional dos serviços; 
* Estabelecer estratégias e procedimentos de acompanhamento da gestão do SUS, 
articulandose com os demais colegiados como os de seguridade, meio ambiente, justiça, 
educação, trabalho, agricultura, idosos, criança e adolescente e outros; 
* Proceder à revisão periódica dos planos de saúde; 
* Deliberar sobre os programas de saúde e aprovar projetos a serem encaminhados ao 
Legislativo, propor a adoção de critérios definidores de qualidade e resolutividade, 
atualizandoos face ao processo de incorporação dos avanços científicos e tecnológicos, na área 
da saúde; 
* Estabelecer diretrizes e critérios operacionais relativos à localização e tipo de 
unidades prestadoras de serviços de saúde públicos e privados, no âmbito do SUS, tendo em 
vista o direito ao acesso universal às ações de promoção, proteção e recuperação da saúde em 
todos os níveis de complexidade dos serviços, sob a diretriz da hierarquização/regionalização 
da oferta e demanda de serviços, e princípio da eqüidade; 
* Avaliar, explicitando os critérios utilizados, a organização e o funcionamento do 
sistema de saúde do SUS; 
* Avaliar e deliberar sobre os contratos e convênios, conforme as diretrizes dos Planos 
de Saúde Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais; 
* Propor critérios para a programação e para a execução financeira e orçamentária dos 
Fundos de Saúde e acompanhar a movimentação e destinação dos recursos; 
* Fiscalizar e controlar gastos e deliberar sobre critérios de movimentação de recursos 
da Saúde, incluindo o Fundo de Saúde e os transferidos e próprios do Município, Estado, 
Distrito Federal e da União; 
* Analisar, discutir e aprovar o relatório de gestão com a prestação de contas e 
informações financeiras, repassado em tempo hábil aos conselheiros, acompanhado do devido 
assessoramento; 
* Fiscalizar e acompanhar o desenvolvimento das ações e dos serviços de saúde e 
encaminhar denúncias aos respectivos órgãos, conforme legislação vigente; 
* Examinar propostas e denúncias de irregularidades, responder no seu âmbito a 
consultas sobre assuntos pertinentes às ações e aos serviços de saúde, bem como apreciar 
recursos a respeito das deliberações do Conselho nas suas respectivas instâncias; 
* Estabelecer critérios para a determinação de periodicidade das conferências de 
saúde, propor sua convocação, estruturar sua comissão organizadora, submeter o respectivo 
regimento e programa ao Pleno do Conselho correspondente, explicitando deveres e papéis 
dos conselheiros nas pré-conferências e conferências; 
* Estimular articulação e intercâmbio entre os Conselhos e entidades governamentais e 
privadas, visando à promoção da Saúde; 
* Estimular, apoiar e promover estudos e pesquisas sobre assuntos e temas na área da 
saúde, pertinentes ao desenvolvimento do Sistema Único de Saúde; 
* Estabelecer ações de informação, educação e comunicação em saúde e divulgar as 
funções e competências do Conselho, seus trabalhos e decisões por todos os meios de 
comunicação, incluindo informações sobre as agendas, datas e local das reuniões; 
* Apoiar e promover a educação para o controle social. Constará do conteúdo 
programático os fundamentos teóricos da saúde, a situação epidemiológica, a organização do 
SUS, a situação real de funcionamento dos serviços do SUS, as atividades e competências do 
Conselho, bem como a Legislação do SUS, suas políticas de saúde, orçamento e financiamento; 
* Aprovar, encaminhar e avaliar a política para os Recursos humanos do SUS; 
* Acompanhar a implementação das deliberações constantes do relatório das plenárias 
dos Conselhos. 
 
Ao abordarmos a competência dos Conselhos de Saúde é importante ressaltar que o 
trabalho do Conselho não pode ser confundido com o papel executivo do gestor de saúde. O 
gestor é responsável pela execução da política de saúde, enquanto ao Conselho cabe deliberar 
as diretrizes dessa política, acompanhando as ações e fiscalizando a utilização dos recursos. 
 
O documento Diretrizes para Criação, Reformulação, Estruturação e Funcionamento 
dos Conselhos de Saúde também estabelece a composição dos Conselhos de Saúde. Um 
Conselho deverá ser composto por representantes do governo, de trabalhadores de saúde, de 
prestadores de serviços de saúde e usuários e deve ter como premissa básica a paridade do 
número dos usuários em relação aos demais segmentos representados. Ou seja, 50% do 
número total de conselheiros será de representantes de usuários, enquanto que os outros 
50% deverá ser composto por representantes dos demais segmentos, sendo 25% detrabalhadores de saúde e 25% restantes de governo, entidades ou instituições prestadores de 
serviços públicos, filantrópicos e privados. 
 
O número de conselheiros para a composição dos Conselhos de Saúde tem variado de 
acordo com a realidade dos Estados e municípios e deve ser definido pelos plenários dos 
Conselhos e das Conferências de Saúde, porém qualquer que seja o número dos membros a 
paridade deverá ser mantida. 
 
Respeitadas as normas legais, cada Conselho tem a liberdade de se organizar de acordo 
com a realidade de seu Estado ou município, sua composição deve respeitar a correlação de 
forças sociais da área de atuação de cada conselho, sendo que a indicação dos representantes 
dos Conselhos de saúde é de exclusiva responsabilidade dos segmentos representados. 
 
Já foram identificadas, as seguintes categorias de representação: 
 
* de associações de portadores de patologias; 
* de associações de portadores de deficiências; 
* das entidades indígenas; 
* de movimentos sociais e populares organizados; 
* de movimentos organizados de mulheres, em saúde; 
* de entidades de aposentados e pensionistas; 
* de entidades congregadas de sindicatos, centrais sindicais, confederações e 
federações de trabalhadores urbanos e rurais; 
* de entidades de defesa do consumidor; 
* de organizações de moradores; 
* de entidades ambientalistas; 
* de organizações religiosas; 
* de trabalhadores de saúde: associações, sindicatos federações e confederações e 
conselhos de classe; 
* da comunidade científica; 
* de entidades públicas, de hospitais universitários e hospitais de campo de estágio, de 
pesquisa e desenvolvimento; 
* entidades patronais; 
* das entidades de prestadores de serviços de saúde; 
* do governo; 
 
Quanto a impedimentos que comprometem a legitimidade dos segmentos nos 
Conselhos de saúde, são identificados: 
 
* A participação do Poder Legislativo e do Ministério Público nos Conselhos de Saúde: 
não devem integrar os Conselhos de Saúde pessoas que pertençam aos poderes legislativo e 
judiciário, bem como representantes do Ministério Público, considerando a independência de 
poderes, prevista no artigo 2º da Constituição Brasileira e o papel do Ministério Público. 
* A participação de representantes dos usuários e de trabalhadores da saúde em 
cargos comissionados ou de chefia: os representantes dos usuários e de trabalhadores da 
saúde não poderão exercer cargo comissionado ou de chefia, na esfera de sua representação, 
durante seu mandato de conselheiro. 
 
É importante ressaltar que o conselheiro deve atuar como interlocutor de suas bases, 
não se distanciando da entidade ou movimento que o indicou, porém deve representar e 
defender os interesses de toda a sociedade. As funções dos conselheiros são consideradas de 
relevância pública, devendo se pautar pela ética, não tendo, os conselheiros, direito à 
remuneração ou privilégios. 
 
O mandato dos conselheiros é definido no Regimento interno do Conselho e não deve 
coincidir com o mandato do governo ao qual ele está vinculado. Sugere-se a duração de dois 
anos, com possibilidade de recondução a critério das respectivas representações. 
 
Os Conselhos de Saúde devem cumprir o estabelecido na Lei Orgânica Estadual ou 
Municipal, desde que a mesma esteja coerente com a legislação federal. O ato de criação dos 
Conselhos, bem como sua composição, organização, estrutura e competências, se dão por lei 
ordinária, de iniciativa do poder executivo - municipal, estadual ou federal - que deverá acolher 
as demandas da população e de acordo com as Conferências de Saúde. 
 
Para garantir o pleno funcionamento dos Conselhos de Saúde os organismos de 
Governo Estadual e Municipal deverão dar apoio e suporte administrativo e técnico. 
 
A estrutura dos Conselhos de Saúde deve ter como órgãos o Plenário e uma Secretaria 
Executiva a ele subordinada, cabendo aos conselheiros de saúde a definição de sua estrutura 
administrativa, das assessorias permanentes ou transitórias, do quadro de pessoal e das 
comissões intersetoriais necessários ao seu pleno funcionamento. Cabe, ainda, aos 
conselheiros o gerenciamento de seus recursos e o desenvolvimento de projetos de 
capacitação e atualização por eles definidos, buscando evitar a criação de hierarquia entre os 
conselheiros e a burocratização do conselho, engessando suas atividades. 
 
Após sua instalação o Conselho de Saúde, elabora seu Regimento Interno, 
contemplando os elementos que irão garantir seu funcionamento, tais como: abertura dos 
trabalhos, impedimentos e faltas dos conselheiros, suplência, votação, prazos, estrutura e 
dimensão da secretaria executiva, periodicidade, quorum mínimo para deliberações em 
plenário - metade mais um do total de integrantes - entre outros e que deverá ser aprovado 
pelo próprio Plenário. Qualquer alteração na organização e composição do conselho deverá 
ser proposta por ele e aprovada em plenário. 
 
O caráter deliberativo e permanente dos Conselhos pressupõe uma atuação constante 
para que seus membros tenham condições de examinar e aprovar as diretrizes da política de 
saúde, formulando estratégias, aperfeiçoado-as e propondo meios aptos para sua execução e 
correção de rumos. O Conselho não pode ser transitório, ou seja, funcionar somente quando 
convocado, mas reunir-se, no mínimo, uma vez ao mês e extraordinariamente sempre que 
necessário. Suas reuniões devem ser abertas ao público, com pauta e datas previamente 
divulgadas pela imprensa, cabendo ao gestor encaminhar com antecedência o material de 
apoio às reuniões. 
 
Uma vez, a cada três meses, a pauta da reunião do Conselho deve incluir a prestação de 
contas feita pelo gestor da esfera de governo correspondente, que deverá, para tanto, 
apresentar relatório detalhado, contendo o andamento da agenda de saúde pactuada, o 
relatório de gestão, dados sobre o montante e a forma de aplicação dos recursos, as auditorias 
iniciadas e concluídas no período, a produção e a oferta de serviços na rede assistencial 
própria e contratada e conveniada, entre outros. 
 
Os atos dos Conselhos são consubstanciados em resoluções, recomendações, moções 
e outros atos deliberativos, sendo que as resoluções serão homologadas pelo chefe do poder 
legalmente constituído em cada esfera de governo, em um prazo de 30 dias, garantindo ainda 
sua publicação em veículo oficial. Caso o gestor não proceda à homologação nem apresente 
justificativa, o Conselho poderá buscar validação da resolução junto ao Ministério Público. 
 
No presente, após uma década de exercício do controle social no SUS e em decorrência 
do processo de descentralização e de qualificação de gestores, estima-se haver 
aproximadamente 60 mil conselheiros em todo País. Ainda há importante conflito de 
competências envolvendo os Conselhos e o Executivo. São detectadas situações de não 
observância pelo Executivo das resoluções dos Conselhos. Por outro lado muitos Conselhos, 
por inexperiência, tentam assumir atribuições do Executivo, o que não só é ilegal, como reduz 
a representatividade do Conselho, que perde seu papel primordial. 
 
Construir uma boa relação com o controle social deve ser uma meta do gestor de 
saúde, podendo oferecer resultados concretos de pactuação para enfrentamento dos 
problemas, com importante repercussão política. 
 
 
 
 
Ministério da Saúde 
Conselho Nacional de Saúde 
RESOLUÇÃO Nº 453, DE 10 DE MAIO DE 2012 
O Plenário do Conselho Nacional de Saúde, em sua Ducentésima Trigésima Terceira Reunião 
Ordinária, realizada nos dias 9 e 10 de maio de 2012, no uso de suas competências regimentais e 
atribuições conferidas pela Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, e pela Lei no 8.142, de 28 de 
dezembro de 1990, e pelo Decreto no 5.839, de 11 de julho de 2006, e 
Considerando os debates ocorridos nos Conselhos de Saúde, nas três esferas de Governo, na X 
Plenária Nacional de Conselhos de Saúde,nas Plenárias Regionais e Estaduais de Conselhos de 
Saúde, nas 9a, 10a e 11a Conferências Nacionais de Saúde, e nas Conferências Estaduais, do Distrito 
Federal e Municipais de Saúde; 
Considerando a experiência acumulada do Controle Social da Saúde à necessidade de 
aprimoramento do Controle Social da Saúde no âmbito nacional e as reiteradas demandas dos 
Conselhos Estaduais e Municipais referentes às propostas de composição, organização e 
funcionamento, conforme o § 5o inciso II art. 1o da Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990; 
Considerando a ampla discussão da Resolução do CNS no 333/92 realizada nos espaços de 
Controle Social, entre os quais se destacam as Plenárias de Conselhos de Saúde; 
Considerando os objetivos de consolidar, fortalecer, ampliar e acelerar o processo de Controle 
Social do SUS, por intermédio dos Conselhos Nacional, Estaduais, Municipais, das Conferências de 
Saúde e Plenárias de Conselhos de Saúde; 
Considerando que os Conselhos de Saúde, consagrados pela efetiva participação da sociedade 
civil organizada, representam polos de qualificação de cidadãos para o Controle Social nas esferas da 
ação do Estado; e 
Considerando o que disciplina a Lei Complementar no 141, de 13 de janeiro de 2012, e o Decreto 
nº 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamentam a Lei Orgânica da Saúde, resolve: 
Aprovar as seguintes diretrizes para instituição, reformulação, reestruturação e funcionamento dos 
Conselhos de Saúde: 
DA DEFINIÇÃO DE CONSELHO DE SAÚDE Primeira Diretriz: 
o Conselho de Saúde é uma instância colegiada, deliberativa e permanente do Sistema Único de 
Saúde (SUS) em cada esfera de Governo, integrante da estrutura organizacional do Ministério da 
Saúde, da Secretaria de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, com composição, 
organização e competência fixadas na Lei no 8.142/90. O processo bem-sucedido de descentralização 
da saúde promoveu o surgimento de Conselhos Regionais, Conselhos Locais, Conselhos Distritais de 
Saúde, incluindo os Conselhos dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, sob a coordenação dos 
Conselhos de Saúde da esfera correspondente. Assim, os Conselhos de Saúde são espaços instituídos 
de participação da comunidade nas políticas públicas e na administração da saúde. 
Parágrafo único. Como Subsistema da Seguridade Social, o Conselho de Saúde atua na 
formulação e proposição de estratégias e no controle da execução das Políticas de Saúde, inclusive nos 
seus aspectos econômicos e financeiros. 
DA INSTITUIÇÃO E REFORMULAÇÃO DOS CONSELHOS DE SAÚDE 
Segunda Diretriz: a instituição dos Conselhos de Saúde é estabelecida por lei federal, estadual, 
do Distrito Federal e municipal, obedecida a Lei no 8.142/90. 
Parágrafo único. Na instituição e reformulação dos Conselhos de Saúde o Poder Executivo, 
respeitando os princípios da democracia, deverá acolher as demandas da população aprovadas nas 
Conferências de Saúde, e em consonância com a legislação. 
A ORGANIZAÇÃO DOS CONSELHOS DE SAÚDE 
Terceira Diretriz: a participação da sociedade organizada, garantida na legislação, torna os 
Conselhos de Saúde uma instância privilegiada na proposição, discussão, acompanhamento, 
deliberação, avaliação e fiscalização da implementação da Política de Saúde, inclusive nos seus 
aspectos econômicos e financeiros. A legislação estabelece, ainda, a composição paritária de usuários 
em relação ao conjunto dos demais segmentos representados. O Conselho de Saúde será composto por 
representantes de entidades, instituições e movimentos representativos de usuários, de entidades 
representativas de trabalhadores da área da saúde, do governo e de entidades representativas de 
prestadores de serviços de saúde, sendo o seu presidente eleito entre os membros do Conselho, em 
reunião plenária. Nos Municípios onde não existem entidades, instituições e movimentos organizados 
em número suficiente para compor o Conselho, a eleição da representação será realizada em plenária 
no Município, promovida pelo Conselho Municipal de maneira ampla e democrática. 
I - O número de conselheiros será definido pelos Conselhos de Saúde e constituído em lei. 
II - Mantendo o que propôs as Resoluções nos 33/92 e 333/03 do CNS e consoante com as 
Recomendações da 10a e 11a Conferências Nacionais de Saúde, as vagas deverão ser distribuídas da 
seguinte forma: 
a)50% de entidades e movimentos representativos de usuários; 
b)25% de entidades representativas dos trabalhadores da área de saúde; 
c)25% de representação de governo e prestadores de serviços privados conveniados, ou sem fins 
lucrativos. 
III - A participação de órgãos, entidades e movimentos sociais terá como critério a 
representatividade, a abrangência e a complementaridade do conjunto da sociedade, no âmbito de 
atuação do Conselho de Saúde. De acordo com as especificidades locais, aplicando o princípio da 
paridade, serão contempladas, dentre outras, as seguintes representações: 
a)associações de pessoas com patologias; 
b)associações de pessoas com deficiências; 
c)entidades indígenas; 
d)movimentos sociais e populares, organizados (movimento negro, LGBT...); 
e)movimentos organizados de mulheres, em saúde; 
f)entidades de aposentados e pensionistas; 
g)entidades congregadas de sindicatos, centrais sindicais, confederações e federações de 
trabalhadores urbanos e rurais; 
h)entidades de defesa do consumidor; 
i)organizações de moradores; 
j)entidades ambientalistas; 
k)organizações religiosas; 
l)trabalhadores da área de saúde: associações, confederações, conselhos de profissões 
regulamentadas, federações e sindicatos, obedecendo as instâncias federativas; 
m)comunidade científica; 
n)entidades públicas, de hospitais universitários e hospitais campo de estágio, de pesquisa e 
desenvolvimento; 
o)entidades patronais; 
p)entidades dos prestadores de serviço de saúde; e 
q)governo. 
IV - As entidades, movimentos e instituições eleitas no Conselho de Saúde terão os conselheiros 
indicados, por escrito, conforme processos estabelecidos pelas respectivas entidades, movimentos e 
instituições e de acordo com a sua organização, com a recomendação de que ocorra renovação de seus 
representantes. 
V - Recomenda-se que, a cada eleição, os segmentos de representações de usuários, 
trabalhadores e prestadores de serviços, ao seu critério, promovam a renovação de, no mínimo, 30% de 
suas entidades representativas. 
VI - A representação nos segmentos deve ser distinta e autônoma em relação aos demais 
segmentos que compõem o Conselho, por isso, um profissional com cargo de direção ou de confiança 
na gestão do SUS, ou como prestador de serviços de saúde não pode ser representante dos(as) 
Usuários(as) ou de Trabalhadores(as). 
VII - A ocupação de funções na área da saúde que interfiram na autonomia representativa do 
Conselheiro(a) deve ser avaliada como possível impedimento da representação de Usuário(a) e 
Trabalhador( a), e, a juízo da entidade, indicativo de substituição do Conselheiro( a). 
VIII - A participação dos membros eleitos do Poder Legislativo, representação do Poder Judiciário 
e do Ministério Público, como conselheiros, não é permitida nos Conselhos de Saúde. 
IX - Quando não houver Conselho de Saúde constituído ou em atividade no Município, caberá ao 
Conselho Estadual de Saúde assumir, junto ao executivo municipal, a convocação e realização da 
Conferência Municipal de Saúde, que terá como um de seus objetivos a estruturação e composição do 
Conselho Municipal. O mesmo será atribuído ao Conselho Nacional de Saúde, quando não houver 
Conselho 
Estadual de Saúde constituído ou em funcionamento. 
X - As funções, como membro do Conselho de Saúde, não serão remuneradas, considerando-se 
o seu exercício de relevância pública e, portanto, garante a dispensa do trabalho sem prejuízo para o 
conselheiro. Para fins de justificativa junto aos órgãos, entidades competentes e instituições, o Conselho 
de Saúde emitirá declaração de participação de seus membros durante o período

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