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OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 1 Coleção UM NOVO COMEÇO: Reencontrando o Criador O MONTE Em busca do Altíssimo Volume I Reginâmio Bonifácio de Lima RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 2 Volumes da Coleção OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 3 O MONTE: Em busca do Altíssimo Copyright © LIMA, Reginâmio Bonifácio de. 2010. Capa: Ilustração dos Montes de Sião e a Rosa de Saron Idéia Original e Editoração: LIMA, Reginâmio B. Revisão: Maria Iracilda G. C. Bonifácio Regineison B. Lima Sônia Queiroz Volume I (O Monte) – ISBN 978-85-907581-6-7 Volume II (Israel) – ISBN 978-85-907581-7-4 Volume III (Jesus) – ISBN 978-85-907581-8-1 Volume IV (O Sermão da Montanha) – ISBN 978-85-907581-9-8 Volume V (Retorno à Santidade) – ISBN 978-85-910370-0-1 Ficha catalográfica preparada pela Biblioteca Central da UFAC L732r LIMA, Reginâmio Bonifácio de. O Monte: em busca do Altíssimo/ Reginâmio Bonifácio de Lima. – Rio Branco (AC): Boni, 2010. Coleção Um Novo Começo: reencontrando o Criador. v. 1 ISBN 978-85-907581-6-7 1. Teologia Cristã. 2. Deus. 3. Civilizações. 4. Religiosidade das Nações. I. Título CDU 230.1 Fica explicitamente proibida qualquer forma de reprodução total ou parcial deste livro, sem o expresso consentimento do autor. Contate o autor (68) 9997-4974 RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 4 Ao Deus Todo-Poderoso pelas misericórdias, bênçãos outorgadas e permitir a conclusão desta obra. A todos os meus familiares que tanto me auxiliaram. A três mulheres especiais: minha mãe, Maria Bonifácio, pelo amor, carinho, afeto, compreensão e apoio dado no decorrer de toda uma vida; minha amiga, Missionária Sônia Queiroz, pelo apoio intelectual, dedicação, comprometimento e abnegação nesses últimos anos; minha musa inspiradora, Maria Iracilda, que me ensinou a viver de forma prática a teologia explicitada em centenas de páginas, interpelando por maior intimidade com o Criador. Muito obrigado a todos. OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 5 Depois, soltou uma pomba par ver se as águas teriam já minguado da superfície da terra; (...) à tarde, ela voltou a ele; trazia no bico uma folha nova de oliveira; assim entendeu Noé que as águas tinham minguado de sobre a terra (...) então, Noé removeu a cobertura da arca e olhou, e eis que o solo estava enxuto (Gênesis: 8.8,11 e 13b). RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 6 SUMÁRIO Apresentação 07 A Construção humana e o Deus Construtor 10 O Espaço Sagrado 41 De Todas as Tribos, Povos e Raças 49 O Criador Se Faz Manifesto 80 Referências 97 OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 7 AAAApresentação vontade humana em busca do Criador e seu encontro com a vontade atuante do Redentor se fez o centro dos estudos, tendo como base a doutrina teológica cristã. Esse elo entre a vontade de Deus e a vontade dos homens é a questão central na busca organizada de informações que constituíram os elementos fundamentais da pesquisa. Os homens buscaram localidades altas onde pudessem ficar mais próximos do céu, passaram a servir e se ajuntar em seus rituais nos locais sacralizados que normalmente estavam nas montanhas, sejam santuários, templos, edificações para ofertório. Diversas civilizações propuseram formas aproximadas de busca do conhecer translocal para suas exposições de uma vida plena e abundante, onde se percebe o monte em busca de um ser maior, criador de todas as coisas. Esses seres religiosos utilizaram em muitas épocas, vários locais, diferentes grupos, de diversas maneiras para contatarem o ser superior. Em especial os montes, montanhas e colinas foram propostos como locais de adoração e busca; tudo se fez muito confuso desde a queda de Babel. O Deus criador que houvera punido Adão e Eva, expulsando-os do Paraíso, fez um plano redentor, onde enviou seu único Filho “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”, conforme está escrito no evangelho segundo o discípulo amado, capítulo 3, verso 16. Ao falar da redenção humana, é necessário que se analise o processo perpassado para obtê-la, porque ela não é o fim, mas o fruto do amor de Deus para com os homens. Durante as páginas que se seguem A RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 8 muito se abordará em termos de humanidade e raça humana. É preciso que se tenha em mente a humanidade só ser possível quando do relacionamento entre seres da mesma espécie, a raça humana, e, antes, não se pode pensar em uma humanidade, um conjunto de pessoas convivendo numa seqüência tempo-espacial, com conjunções e relacionamentos conseguintes. A humanidade não é uma em si, mas plural, não há uma humanidade, mas várias, atuando ora indistinta ora distintamente, o sentido não deve ser entendido como generalizante, e sim, globalizante. Porque o próprio homem é antagônico a si, e conflituoso em seu interior. Também os grupos por ele formados não são homogêneos, menos ainda as sociedades e todos de forma conceitual. Os grupos de homens atuam em seus paradigmas e antinômios, há toda uma construção conjuntural das relações sociabilizantes, ora conflituosa, ora envolvente. Portanto, o homem aqui exposto é o ser dotado de sensibilidade, corpo e espírito, atuando como um ser da espécie humana. O Deus poderoso escolheu ovelhas do aprisco de Israel e também de apriscos dentre os gentios, não havendo distinção entre ambos. O Filho de Deus cumpriu a lei em todos os seus desígnios, logo, não há lei a ser servida, “porque o fim da lei é Cristo” para a justificação de todo aquele que crer, não havendo confusão entre a mensagem do reino e a mensagem do mundo, a confissão voluntária da fé em Cristo, exultante de alegria flui no interior humano na crença de que Deus O ressuscitou dentre os mortos. O homem vivia segundo as conseqüências dos atos de Adão. Em Cristo, houve a libertação, sendo possível viver em Cristo ou permanecer em Adão. A desobediência do homem criou um débito que precisava ser pago, “porque o salário do pecado é a morte”; o Cristo, com Sua morte, assumiu a penalidade, transferindo ao homem a salvação do pecado para “o dom gratuito de Deus, a vida eterna”. A fé é a única exigência para participar da vida com Cristo. Por esses valores de comunhão com Deus e entrega total, o homem ama a seu próximo, falando desse Deus manifesto, ensinando sobre Jesus e atuando como mordomo na prática do serviço. Tendo Cristo como modelo, OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 9 a marca do amor flui nos homens na esperança da plenitude dos tempos, quando da consumação de todas as coisas, em que haverá o encontro com o Pai. O compromisso com Cristo não apenas designa um novo estado de existência, significa que a velha natureza foi despojada, o perdão torna-se uma circunstância no relacionamento humano e a fidelidade aplaca como escolha consciente. RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 10 CAPÍTULO I AAAA Construção humana e o Deus Construtor eus havia poupado Noé e sua família. Finalmente as águas haviam baixado. Foram quarenta dias de chuva torrencial1. Tudo havia sidocoberto, até os mais altos montes; os seres que habitavam a terra seca e tinham “fôlego de vida em suas narinas” (Gn:7.22 a) pereceram ante a vontade divina. Apenas Noé, seus filhos, sua mulher, as mulheres de seus filhos e os animais que com eles se encontravam sobreviveram. O gênero humano se havia corrompido, a maldade se multiplicara e a iniqüidade se fazia presente. A decepção de Deus fora tal que, para entender de forma humana o que se passou com o Deus vivo, é necessário Lhe atribuir sentimentos e propiciar uma conotação envolvente de princípios emotivadores, a essa afirmativa dá-se o nome de Antropopatia2. Dito isto, sabendo de Sua imutabilidade, “se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra e isso lhe pesou o coração” (Gn: 6.6). Deus Se irou 1 Na Bíblia o número quarenta é utilizado convencionalmente para grandes períodos e marca o início de uma nova era: por Noé; por Moisés, Ex:24.18; Elias, 1 RS:19.8; Cristo, At:1.3. Bíblia de Estudo de Genebra, p. 20. 2 Onde se descreve Deus a partir da experiência humana de conhecimento e emoção. D OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 11 com o que vira, resolveu agir, destruindo a terra e tudo que se movia sobre ela. Havia um homem da família de Lameque chamado Noé, que buscava fazer a vontade de Deus, queria servir ao Deus de seus pais, o mesmo que criara os Céus e a Terra, um homem que primava pela justiça, tinha um senso de ética e moral muito forte, a integridade era uma de suas virtudes, honrava seus trabalhadores, fazia com que o culto que prestava a seu SENHOR fosse pleno de mente e coração. Entre seus contemporâneos – corrompidos pela violência e maldade – demonstrava eqüidade, porque andava com Deus. Noé foi agraciado por Deus, que viu seu esforço em servi-Lo. Deus poderia ter destruído todos os homens, mas resolveu poupá- lo, não porque merecesse, e sim porque assim o quis. Para que Noé e os seus fossem salvos juntamente com alguns animais, Deus mandou que fosse construída uma arca com cerca de 133,5 metros de comprimento; 13, 35 metros de altura, e 22,25 metros de largura3; feita e compartimentada com tábuas de cipreste, para poderem se salvar da grande enchente que estava por vir. Caiu copiosa chuva, por cento e cinqüenta dias as águas predominaram sobre a terra. Foram vários dias de espera4, até a arca descer sobre um monte que fica a 5.165 metros de altura, nas terras da região de Urartu, cujo nome é Ararate. A porta da arca se abriu e Noé adorou a seu Deus em terra seca, sua família e animais saíram da arca. Em um altar que levantara, sacrificou animais limpos como holocausto que subiu em cheiro suave. Gostou Deus do que Noé fizera e disse consigo mesmo não mais amaldiçoar a terra com o dilúvio. Assim, Deus abençoou a Noé e sua família, lhes deu domínio sobre os animais e pôs no céu um arco, o Arco da Aliança, como sinal do Pacto de preservação5, estabelecido para que Se lembre e não mais destrua 3 A medida dada em Gn: 6.15 é côvado, contudo por sua não utilização atualmente resolveu-se transportar sua equiparação para metros. Um côvado hebraico é medido do cotovelo até a ponta do dedo médio e equivale a 44.5cm do padrão atual utilizado internacionalmente. 4 Se contarmos do período de entrada na arca ao período de saída. Noé e sua família passaram um ano e dez dias dentro da arca. 5 Em Gn: 8.20-22 está contida a promessa de Deus em manter a terra preservando a vida. A esse ato dá-se o nome de Pacto de Preservação. RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 12 a terra com água. Ordenou Deus que se fecundassem, se multiplicassem e enchessem a terra. O dilúvio expresso na Bíblia nos capítulos 6,7 e 8 de Gênesis tem congêneres em outras civilizações. Em todas elas, a imagem de uma reabsorção humana na água e a instauração de uma nova época, tem precedentes nas mais longínquas terras, evidenciando não uma grande enchente, mas algo realmente amplo e intenso a ponto de marcar a memória despertando lendas e histórias sobre o assunto. Na maioria delas, o motivo do dilúvio é o pecado humano, não se tratando de uma visão pessimista, e sim, de uma regeneração pela misericórdia do Ser Superior em conceber que permaneçam vivos alguns seres para continuar a perpetuação das espécies. Ao examinar a história dos povos, descobre-se que babilônios, assírios, egípcios, hindus, gregos, chineses, indígenas americanos e muitos outros registram em suas tradições orais e em sua história escrita a ocorrência do dilúvio. Em todas elas há um casal de sobreviventes ou uma família que escapa da grande inundação, que em determinada época cobriu toda a terra. Na época de Moisés, a história do dilúvio já era conhecida, havendo vários paralelos entre as nações quanto a sua existência e proporção mundial. A causa do dilúvio foi, sem dúvida, o pecado exacerbado e desafiador em seus mais diferentes aspectos: “Os filhos de Deus” se casaram com “as filhas dos homens”, ou seja, os descendentes de Sete, de linhagem piedosa que eram chamados pelo o nome do Senhor, contraíram matrimônio com as filhas de Lameque e Caim. Sete era o substituto de Abel, o filho nascido após o homicídio executado por Caim, deveria sua descendência ser íntegra e ter o “temor do Senhor” em suas vidas, mas interessou-se pela formosura das filhas dos homens, houve a miscigenação do povo de Deus com o povo do mundo; a maldade e a violência se multiplicaram e o desprezo às oportunidades de Deus. Ao criar o homem, Deus o fez com o propósito definido de povoar toda a terra. Isso foi dito a Adão e repetido a Noé e seus filhos (Gn:1.28; Gn: 9.7). Os homens se multiplicaram rapidamente, mas não queriam separar-se para povoar a terra, mesmo após Noé ter predito o futuro de seus OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 13 filhos e apontado Sem como a semente escolhida para abençoar o mundo. Um número considerável de pessoas deixou o monte Ararate e se instalou nas planícies de Sinear, entre os rios Tigre e Eufrates. Depois do dilúvio, os descendentes de Noé liderados por Ninrode se rebelaram contra Deus. Tinham o propósito de organizar uma “liga de nações” contra o Altíssimo e, como manifestação disso, erigiram a torre de Babel. É certo que não queriam cumprir a ordem de Deus, porque disseram: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade, e uma torre cujo topo chegue aos céus, e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra” (Gn:11.4). Essa audaciosa rebelião tentou furtar de Deus o poder de exercer Sua vontade soberana acerca de tudo, inclusive homens. Quanto à localização exata da torre na terra de Sinear, não se tem em consenso qual seja. Contudo, de acordo com Vassão, o arqueólogo Smith (VASSÃO, 1995, p.28) encontrou uma placa, nas ruínas da antiga cidade de Babilônia que dizia: “A construção desta torre ilustre ofendeu aos deuses. Numa noite eles derrubaram o que se havia construído. Dispersaram-nos e tornaram desconhecida a língua deles”. Ele afirma ter encontrado nessas palavras uma referência clara a Babel bíblica. Independente de sua localização, o rebelar-se contra Deus enseja diferentes aspectos dessa atitude. A autoconfiança em contraposição a um subestimar Deus. Quando se afirma “edifiquemos nós...” não significa que o homem seja incapaz de agir sem Deus, mas a forma de se afirmar a desobediência enfrentando a Deus ao propor uma ação coletiva humana em coluio para não cumprir a ordem dada. Os construtores de Babel não pensaram em um agir para reaproximar-se de Deus, antes, a conotação religiosa e idólatra que aplicaram no ensejo de sua obra da cidade e torre “cujo cume toque nos Céus”, foi a forma de se querer estar junto a Deus, ou ligar-se a ele pela desobediente profanaçãode Suas ordens. Aqui há a figuração de um pretenso termo aplicado nas torres de Zigurate6, que afirma uma Bâb-Ilãni, 6 Em Uruk, na Mesopotâmia, foram encontrados vestígios de um templo que tenha mais de dois mil metros quadrados (exatamente 80 metros por 33 metros). Perto dele foi edificado um monte artificial (Ziggurat) com 11 metros de altura, construído com tijolos e RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 14 terra de Babel, que imaginava-se o centro do mundo, onde a terra poderia tocar o céu. O propósito egoístico e vaidoso de fazer um nome para si, na terra de Sinear, mostra o egocentrismo humano de se envaidecer buscando glória favorável, orgulho de uma independência para própria exaltação numa centralização obstinada: “e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre toda a terra”, mostra a hostilidade para com os propósitos divinos. A Bíblia afirma que desde o tempo de Adão e Eva, “...era toda a terra duma mesma língua e duma mesma fala” (Gn: 11.1). O orgulho humano os fez desobedientes à ordem de Deus para que povoassem a terra, então Deus causou a confusão na linguagem. Moisés, o escritor do livro de Gênesis, registrou o juízo divino para com os homens e com a torre. Muitos estudiosos acreditam ser a torre de Babel apenas uma lenda, a mitificação de concepções oralmente repassadas de pai para filho, criada para explicar as diferentes línguas existentes. Na contramão desse tipo de pensamento, filólogos como Alfredo Trombetti, Max Mueller e Oppert, acreditam que todas as línguas têm origem comum, podem ser rastreadas até uma língua original. O próprio Otto Jespersen afirma o primeiro idioma ter sido dado ao homem por Deus (FREE, 1969). De acordo com Grant Jeffrey, em escavações recentes foram descobertas algumas inscrições cuneiformes nas ruínas de Babilônia. Estas foram escritas pelo Rei Nabucodonosor quando, após construir a Cidade de Babilônia, resolveu reconstruir a primeira plataforma da Torre de Babel, em homenagem aos deuses caudeus. No mesmo lugar em que Ninrode havia iniciado a construção de Babel, dezenas de séculos antes, Nabucodonosor, após construir a base da torre e revesti-la com ouro, prata, cedro e madeira de lei, embelezou o topo enfeitado com pedaços de cerâmica; através de uma escada chega-se ao pequeno templo, no alto; paredes de tijolos brancos e madeira importada, altares nas extremidades e outros detalhes mostram o requinte e a técnica da construção. Os próprios dirigentes dos templos faziam, às vezes, de arquitetos, engenheiros e mestres-de-obras em nome dos deuses que representavam na terra. OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 15 com uma superfície dura, produzida a partir de tijolos de argila cozidos. O rei, referindo-se à torre, chamou-a de Barzippa, que quer dizer “torre da língua”, para descrever, na própria língua caldéia, a confirmação de acontecimentos ocorridos num passado remoto. O pesquisador contemporâneo, professor Oppert foi enviado pelo governo francês para estudar as incrições e as traduziu, percebendo a semelhança da Barzippa, de Nabucodonosor, com a Borsippa, palavra de origem grega que usa o mesmo significado, de “torre da língua”, para descrever as ruínas da torre de Babel. Em Nabucodonosor pode-se perceber a identificação com a torre original de Borsippa. Essa é A Inscrição de Nabucodonosor Encontrada na Torre de Babel. “A torre, a casa eterna, que fundei e construí. Completei sua magnificência com prata, ouro, outros metais preciosos, pedras, tijolos esmaltados e madeira de lei. A primeira que é a casa da base da terra, o mais antigo monumento da Babilônia, eu a construí e a terminei. Exaltei sobremaneira seu topo com tijolos recobertos de cobre. Chamamos a outra, isto é, esta construção, a casa das sete luzes da terra, o mais antigo monumento de Borsippa. Um rei anterior a construiu (calculam que em 42 anos) mas não terminou seu topo. Desde uma época remota, as pessoas a abandonaram, porque se expressavam com palavras desordenadas. Desde esse tempo, o terremoto e o trovão desmancharam o barro cozido ao sol. Os tijolos da cobertura se fenderam, e a terra do interior espalhou-se em montões. Merodaque, o grande deus, despertou-me o desejo de reparar essa edificação. Não mudei a localização nem tirei os alicerces. Num mês afortunado, em dia auspicioso, empreendi a construção de pórticos ao redor dos montes de tijolos crus e da cobertura com tijolos cozidos ao fogo. Adaptei as rampas, coloquei a inscrição do meu nome no pórtico. Estendi minha mão para terminá-lo. E para exaltar sua fachada. Assim como deve ter sido nos dias de outrora, eu exaltei seu cume” (NABUCODONOSOR appud JEFFREY, 1998, p. 42. Grifo nosso). RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 16 Outros tradutores e filólogos como Williams Loftus traduziram a inscrição acima. Muito se pode absorver do texto citado, preciosidades chamam a atenção, como: “um rei a construiu, mas não terminou seu topo”; confirmando os escritos de Gênesis em que Deus atuou interrompendo o trabalho dos construtores originais. Mais ainda, Nabucodonosor afirma que os construtores não terminaram a torre de Babel pelo fato de “desde uma época remota, as pessoas a abandonaram, ao expressar suas palavras sem ordem”. Eles não mais conseguiam ter controle sobre sua comunicação e linguagem, conforme é expresso no Livro dos Começos. Como em Gênesis, capítulo onze, versos de dois a oito, Deus cumpriu Seu propósito de povoar a terra, espalhando os homens; nos escritos cuneiformes das ruínas de Babilônia pode-se ver a comprovação histórica dos fatos. Não é errado buscar proteção, erigir cidades ou construir torres, o mal está na finalidade a que se propõem tais atos. Em Babel, a rebeldia mostrou-se atuante, não pecaram aqueles homens por fazer um abrigo, mas por querer ser igual a Deus, subestimando o Seu poder, pondo a vaidade e o egoísmo numa afronta à ordem direta por Ele dada. Deus não aceitou tal blasfêmia e resolveu dar cabo a seu plano. Em certo dia confundiu as línguas; com a desordem, muitos não se entendiam, cessando a construção da torre predecessora dos babilônios. As várias famílias espalharam-se pela terra, destarte, cumprindo o infalível plano de Deus. Quanto à dispersão Henry Halley (1994), de acordo com o que está escrito em Gênesis, capitulo 10, afirma que os descendentes de Cam rumaram para o sul, povoando a África e a Arábia; os jafelitas rumaram para o norte, fixando-se em volta dos mares Negro e Cáspio, assim como foram os progenitores das raças caucásicas da Europa e da Ásia; e os semitas fixaram-se na região central, ao norte do Eufrates e às suas margens, dentre eles destacando-se os judeus, sírios, assírios e elamitas. Deus fez os seres humanos limitados, finitos, deu-lhes seis dias para trabalhar e o sétimo para descansar. O homem é formado de corpo material, com nervos e músculos que, se usados indevidamente ou de forma exagerada, vão causar dor física. Portanto, o sofrimento não é, como querem alguns teólogos, fruto apenas do pecado humano, mas também da OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 17 própria característica humana de finitude e limitações. Em Sua eterna sabedoria, Deus assim fez o homem, para que na dor seja capaz de perceber que certos limites foram ultrapassados e que, por isso, conseqüências podem advir de luxações e contusões corpóreas. Ora, o fato de ter o homem que estar atento a seus limites e a sua finitude, nada tem a ver com punição; expressa a bondade do Criador que, sendo infinito, através do dispositivo da dor, adverte o homem de suas necessidadesde repouso. Portanto, pode-se dizer que se as leis naturais não forem observadas, existe a possibilidade de dor e sofrimento. As limitações do homem são vistas já no período pré-queda, com o “estar sozinho” de Adão, a formação da mulher para ser um só com o homem, o desejo de ser igual a alguém infinito “conhecedor do bem e do mal”. No período pós-queda são inúmeras as limitações percebidas no decorrer da vivência humana. O sofrimento é produto das limitações humanas, o que vai diferi-lo do período pré-queda é o pecado. O pecado traz não a dor, mas a conseqüência da justiça divina sobre o pecador. Quando Deus pronunciou maldição no paraíso, que iria “multiplicar as dores da gravidez de Eva” (Gn: 3.16), implica algumas afirmações: que a dor já existia antes da queda, que a dor do parto era algo natural causado pelo afastamento dos ossos próximos à vagina, reponsáveis por expulsar o bebê que estava no útero, não tendo nada que ver com o pecado; que a dor não é punição divina, sendo ela fruto das limitações humanas. C.S. Lewis (LEWIS apud CAMPOS, 2001, p. 530) escreveu: “tente excluir a possibilidade de sofrimento que a ordem da natureza e da existência das vontades livres envolvem, e você verificará que você excluiu a vida em si mesma”. Sofrimento e dor não são necessariamente fruto do pecado, por isso, não devem ser identificados como tal. A dor não é uma exclusividade humana ou dos seres criados. O próprio Deus sofre e tem dor, sendo Ele Santo, Seu Espírito Se entristece (Is: 63.10;Ef: 4.30); mesmo Jesus não tendo pecados foi descrito por Isaías como “um varão de dores” (Is: 53.3 e 4), sofrendo angústias e dores as mais variadas. Por esse caráter de ter sofrimentos, Deus é capaz de entender os que sofrem e, em Sua misericórdia, ter compaixão. Em tantas passagens, de Jó à cidade de Nínive, da escolha de Israel à realização de Seu plano, na brilhante estrela RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 18 de Belém, provas da existência de um Deus compassivo são manifestas por toda a jornada, até que Ele retorne e Se faça em comunhão com o homem novamente. Após a queda, o sofrimento já existente foi acrescido pelo distanciamento entre o “Justo Criador” e a “desobediente criatura”, as conseqüências descritas em Gênesis três dão idéia de um sofrimento para maridos, esposas, filhos, animais, toda a criação. Assim ocorreu no Éden, o homem ficou com medo; em Babel, a síndrome do isolamento parecia algo terrivelmente arrasador, porque o homem havia falhado. A vastidão da terra, a auto-estima enfraquecida, seria mais fácil e atrativo encontrar alguém superior, mas não supremo. O homem envolto em culpa e pecado sente medo de Deus e Sua possível resposta para outras transgressões, por isso, planeja encontrar algo que lhe diminua o pesar. Pondo-se esses pontos, tem-se a idéia de um Deus iracundo, soberbo e prepotente, mas não é assim que Ele Se apresenta na criação; o capítulo um de Gênesis afirma: “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”, e após a queda do homem, o amor de Deus é latente ao oferecer um novo pacto, mesmo com o não cumprimento humano do primeiro, o Pacto das Obras, no verso 15 do capítulo 3 de Gênesis está conclamada a vinda de um que possa vencer a ardilosidade da serpente. A culpa e o pecado adentraram o coração humano, como conseqüência, perdeu-se a intimidade com Deus. O pecado adentrou o coração humano. Assim, projetou-se no interior do homem uma divinização do palpável e sacralização do plausível, tornando necessária uma construção imaginária da complacência divina com os seres rebelados, formando-se seres mitificados7, numa tentativa de diminuir o remorso. A solidão implícita no coração humano, deferida pela necessidade religiosa de um ser superior, concomitada ao sentimento de culpa, remete ao íntimo 7 O termo deriva de “Mito” que vem do grego, mythos, e tem por significado "contar", "narrar uma ficção". Sobre o mito é possível dizer que é uma história relacionada com as tradições cosmológicas e sobrenaturais de um povo, com seus deuses, sua cultura, seus heróis, suas crenças religiosas, etc, contada como se fosse verdadeira. O pensamento religioso dos povos primitivos se expressa quase exclusivamente através de mitos. O mito é a popularização de uma ficção, introduzida a partir de fatos reais, mas que torna-se grandemente modificada em sua essência, e contada como se fosse histórica e real. OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 19 da alma a chamada “culpa teológica”8, disposta como ato e, portanto, envolto em implicações. A esse sentimento de culpa, assim como a muitos outros, trata-se de aceitá-lo e dispor-se a assumir as conseqüências ou a simplificação, não necessariamente solução de ignorar deliberadamente. É perfeitamente possível errar e não sentir culpa, todavia, as implicações continuam, independente do autor aceitar, repudiar ou ignorá-las. O domínio do consciente pode ser trabalhado por alguns homens, mas o cerne do subconsciente é surpreendentemente espontâneo, involuntário, não necessita de estímulos externos para ser gerido, independe da volição humana. A subjetivação da culpa, assume um papel que freqüentemente surge ao se fazer sentir ou pensar que algo está errado. Para Narramore (1981), os complexos de culpa podem ser fortes ou fracos, adequados ou inadequados, subdividindo-se em três categorias: medo do castigo, perda de auto-estima e um sentimento de solidão, rejeição ou isolamento. O Deus Supremo continuou presente, mas o homem, envolto em culpa, não se apercebeu e sentiu-se só. A solidão é algo que atinge a todos os seres humanos em um período ou outro da vida. Algumas pessoas são atingidas por ela durante toda a vida. Ela traz consigo mais que uma sensação de desconforto, envolve-se na estima, destacando sentimentos que culminam na insatisfação, seja em construir relacionamentos ou manter as ligações produzidas no transcorrer das atividades. Esse problema comum, normalmente descrito como “uma das fontes mais universais do sofrimento humano” (HENRI, 1975, p. 15), não escolhe raça, cor, religião, classe ou idade; ao tomar consciência da falta de um contato significativo com outros, o ser humano torna-se solitário. Não se trata de isolamento; solidão e isolamento são diferentes, este se dá pela escolha voluntária de afastar-se de outras pessoas, trazendo a sensação de prazer, refrigério, agradabilidade; enquanto aquela traz a idéia de um envolvimento involuntário a exaurir as forças, por um penoso dissabor. Pode-se romper o 8 Embora não seja aceita pela maioria dos Psiquiatras e Psicólogos, por sua aceitação implicar a admissão de que existem padrões absolutos e por sua existência a de alguém que os estabeleça, sendo, portanto, esse ser superior chamado de Deus. RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 20 isolamento a qualquer tempo e retomar o curso que se lhe convier, enquanto a solidão aglutina-se na sensibilidade ainda que se a tente repelir. O sentimento de abandono, desespero e necessidade intensa de um tipo de relacionamento, algo a que se possa apegar expropria o homem lasso, e então, ele se sente sem valor, culpado, indigno de um retorno às atividades antes executadas. Ellison Craig (1973), sugere a existência de três tipos de solidão: social, emocional e existencial. Segundo ele a solidão social se dá em um sentimento de ansiedade e vazio, na sensação de uma vida sem propósito. O indivíduo sente-se à margem da vida, nada lhe é internalizado como propósito fixo a alcançar, não tem forças para sociabilizar-se; a solidão emocional está intimamente ligada à perda ou ausência de uma relação psicossomática com uma pessoa ou um grupo; a solidão existencial se faz posta pelapercepção que se tem sensivelmente do isolamento em relação ao Criador, despertada pelo vazio de uma vida sem significado ou propósito. A despeito desse último item será discorrido mais à frente. Embora não haja muitos textos específicos a respeito do assunto a própria Bíblia tem em si relatos que versam sobre o mesmo. O próprio Autor da Vida afirma “não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea” (Gn: 2.18). A solidão pode ter várias causas: o desenvolvimento, sem dúvida, é um marco contribuinte para a mesma. O mundo conturbado deixou os humanos carentes de ligação com seus semelhantes, mais distantes uns dos outros, trabalhos, plantações, pastoreio, a aquisição de habilidades por diferentes tipos de pessoas, a aceitação de si por outros, a dificuldade em confiar nas pessoas levam as crianças a desenvolverem uma incapacidade de relacionamentos íntimos. A baixa auto-estima e a sensação de rejeição são a base de grande parte da solidão. As situações em que se encontram os indivíduos também podem construir neles o sentimento de solidão devido às condições especiais em que se encontram. A riqueza, viuvez, genialidade, solteirice, deformidade corpórea, causam uma retração comportamental pela forma que os “normais” os tratam, num afastamento voluntário. O resultado dessa condição de distanciamento físico pode ser uma solidão egoística; o fator psicológico está intimamente ligado à internalização de preceitos que OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 21 tornam o indivíduo solitário, muitos têm a atitude derrotista, baixa auto- estima a ponto de uma retração ou de armarem-se com uma atitude hostil, sentem medo e raramente são capazes de uma comunicação fluente. Os homens, mesmo vivendo em sociedade, isolam-se em suas comunidades, conhecem o outro que se faz presente, mas são ligados a suas próprias prioridades. A mudança de locais, o desenvolver-se numa lógica grupal com novas formas de se manter e o aprimoramento das técnicas, a indiferença ao mundo os torna reclusos em si mesmos, involuntariamente solitários. Além de todas as causas postas, as causas espirituais assolam o coração humano desde os primórdios. Quando de sua decisão no paraíso, Adão e Eva poderiam escolher confiar em Deus e viver por Sua graça ou duvidar dEle e quebrar o elo de confiança que os unia. O fato de uma inquietação, um desobedecer voluntário, enche o coração de insegurança e faz um atribuir ao outro a culpa pelas conseqüências advindas do ato de repúdio. O homem culpa a Deus pelo que fez, procura viver como se Ele não existisse e sente em seu coração o vazio da perda, a falta de alguém maior que o proteja. Foi assim no Éden, foi assim com os que não entraram na arca com Noé, com os construtores de Babel e repetiu-se em espiral a desobediência humana. Ainda assim, as misericórdias de Deus permaneceram sobre a terra (Lm: 3.22). A solidão ocasionada pelo desobedecer e fuga da presença do criador levou ao coração humano uma forte pressão, medo de estar sozinho, receio de animosidades. O homem necessita de arrependimento, vontade própria de querer voltar a ter relacionamento com o Criador, manter uma posição favorável a Deus. Só que não foi isso que ocorreu, a prepotência humana o impediu de querer voltar ao início. É óbvio e salutar que uma busca coletiva ou individual não necessariamente implica a absolvição incondicional e volta ao jardim do Éden. Seria agarrar-se ao Nihilismo Ético9, pondo Deus como igual ao homem e o pecado de Adão como um simples mal entendido. 9 Doutrina filosófica que nega a existência do absoluto, afirma que não existem valores genuínos; a moralidade e os valores seriam artificiais, servindo a pessoas e a classes, mas nada tendo a ver com a verdade. RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 22 Por que voltar a Deus ou para que arrependimento – são perguntas muito usuais. Ele prometeu enviar O nascido de mulher para pisar a cabeça da serpente. Pode-se dizer que, a partir daí, a salvação se daria pela graça divina. Deus cria uma forma de o homem voltar à Sua presença, sem precisar abrir mão de Sua justiça e soberania. Adão e Eva pecaram por não confiar, Deus permitiu-lhes a livre escolha e a decisão foi tomada por eles. Isso implicou a queda deles e de sua descendência. Ao arrepender-se, o homem não se livra da culpa, as conseqüências continuariam a advir e ele não voltaria ao Éden, mas, pela confiança de que o Criador pode cuidar, e a decisão de estar a seu lado faz do homem alguém melhor para si, para seu próximo e para a humanidade. Não se trata de uma prova, barganha ou troca, mas pessoas que estão morrendo buscam a um ser vivificador. A precisão de sentir-se seguro e a não aceitação de uma solidão total e completa fez o homem se aproximar de seus pares e juntos contemplaram a criação. Com o passar do tempo, por não entender o Criador; Sua voz quase muda aos ouvidos humanos soava distante dos corações dilacerados pelo pecado, os fez querer aproximar-se, numa ânsia quase infantil de estar no seio de alguém que se importasse, mas não apenas isso, que se fizesse corporeamente presente, num limiar de toque liberador de tensões e inteligência emocional, assim nasceram os deuses: seres dicotômicos transcendentes, verborrágicos, mas que estavam nos pensamentos do homem como lembranças vivas, cerne, condescendentes rins, amantes do homo aviltado, soavam suas vozes como o barulho de muitas águas em arrulho selvático, sopros de refrigério em ventos ciciosos, de brisa a vendavais, tão suaves quanto o entardecer, fortes como chuva torrencial e voluptuosos como o sol de um dia perfeito. Não se constituíam senhores de nada, não traziam presentes em seu alforje ou traços, tão somente refletiam de forma turva a imagem do carisma que se-lhes era outorgado. Um sentimento de confiança, credibilidade e presença incondicional. Palpável em corpos insólitos e olhos atentos. Os braços que não abraçam tinham em seus símbolos a formação de partes mensuráveis, continuadas e que poderiam estender-se tanto para a bênção de uma colheita e prosperidade quanto para o castigo de um não reconhecimento de sua figura. A construção escolhida para suprir um sentimento de carência imposto pela religiosidade humana. Quanto a isso, Alexander Jr. OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 23 (1986, p. 5) escreveu, conceituando religião: “No sentido mais fundamental, a religião de uma pessoa é a apreensão que ela tem do significado do universo, aquela filosofia de vida, aquele conjunto de valores que comandam seu íntimo ser, orientando-a nos alvos a alcançar na vida, dirigindo suas atitudes, suas ações”. A criatura mitificada passa a ser objeto de adoração e não seu homo criador, o elementar se torna latente pelo fato de o ente sacralizado ser incapaz de transpor os domínios do intelecto de quem o criou. Daí a mitificação ao colocar como senhor alguém que serve, não como prestador de serviço, mas sim como aproveitável para fins rituais e objetos de culto. O ser ontológico passa por um processo de sacralização, outrora relegado ao “Deus desconhecido” e se torna palpável, num processo de aculturação, rodeado de simbolismos inteligíveis por alguns, inimagináveis por outros. Destarte, seria utopia querer que vários povos, cercados por diferentes situações, em períodos difusos, sem contato direto, trabalhassem a concepção de um todo, por suas partes de forma homogênea. A figura de um lugar aprazível, reconfortante, onde os homens pudessem usufruir sua humanidade se faz presente no pensamento antigo, desde os escritos fenício-sumérios aos latino-helênicos. O que se percebe não é uma disposição por provar a existência de uma divindade, nem mesmo a apropriação de conceitos propostos teleologicamente.O culto, a família, a divindade são assuntos que normalmente convergem para o que se chama “aculturação primitiva”. Não é o ato em si que demonstra as peculiaridades em heterógenas populações, e sim a motivação que as rodeia. Em linhas gerais e a grosso modo pode-se dizer que não é o homem que cria o mito, nem o mito que cria o homem, mas a abrangência das relações sócio-culturais insere direta ou indiretamente subsídios para que o processo de construção concretizante abstraia de suas formas a essência de fundamentos psicossomáticos numa reconstrução memorial coletiva para tornar-se interação popular. É um grave erro considerar a mitologia um acervo de lendas, ou validá-la para estudo apenas quando, em uma pretensa cientificidade, é formulada pelo critério da comparação. Há obras e teorias especializadas para tratar das diversas civilizações e quanto a suas origens, existem RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 24 trabalhos de estudiosos cultos, não havendo necessidade de se aprofundar no assunto para não fugir do objetivo de contar o encontro da busca humana com a providência divina. Nas vastas histórias dos povos fulguram memórias que se reproduzem como lembranças dos fatos, memória da memória, lembrança da memória aludida, contos orais de gerações viventes em tempos, modos e até locais diferentes. Situações que preconizam mitos. A mitologia não é somente um fantástico tecido de lendas por vezes atemporais, ao menos raras as vezes que se consegue identificar suas origens, é desnecessária a “obsessão pela simbologia”, ainda que no contemporâneo pensador francês Darnton, qualquer teórico tente nela buscar explicações de inícios e significâncias. As origens das lendas e mitos afunilam-se para origens comuns, ainda que a distância física seja considerável, precisa-se ter em mente os êxodos e migrações. De onde, por que e em que contexto os homens se interessaram por determinados mitos e lendas estão contidos nas referências descritas ao fim do trabalho. A vida social, sem dúvida alguma, inicia-se no seio familiar, essa é a primeira e, por que não dizer, a base das relações sociais. A unidade familiar básica, composta por indivíduos acasalados, com filhos não- adultos, tem em si o ponto de partida para um agregado de famílias e indivíduos adultos avulsos, o que constitui, a médio e longo prazo, unidades sociais funcionais que perdem, ganham ou modificam características coletivamente dimensionadas para sistemas sociais em seu início organizacional do coletivo. É complexo definir esses grupos, ou, ainda, pô-los como paralelos ou seqüenciais por teorias ontológicas centrantes na progressão do social, tanto quanto inseri-los numa evolução das espécies com lacunas tantas vezes preenchidas por nihilismos pragmáticos. Não há acordo geral quanto ao termo que se deve empregar para designar os grupos que possuem membros bem constantes, socialmente integrados. Comumente têm sido mencionados como aldeias, hordas e bandos. O termo aldeia dá a entender uma vida sedentária de um nomadismo até certo ponto superado, em assentamentos de habitações mais bem construídas para moradas permanentes. Horda traz em si as sugestões tantas vezes explícitas que OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 25 alguns “sociólogos evolucionistas” propuseram tendo por ponto de partida a promiscuidade de grupos desorganizados vivendo como uma massa de selvagens. O termo bando é o que tem em aplicabilidade o menor número de conotações, por isso será usado para designar esses grupos sociais do período “pré-civilizatório”. A vida em bandos traz inúmeras vantagens: a locomoção no espaço físico onde se está inserido torna-se menos penosa quando da busca coletiva e divisão dos provimentos para consumo; a defesa contra eventuais ameaças; o movimentar-se mais rapidamente para a busca de alimentos sem a presença das mulheres, crianças e idosos, que ficavam em abrigos trabalhados em maior ou menor proporção, de acordo com a necessidade da estadia. Muitos homens saíam para caçar enquanto as crianças, mulheres e idosos ficavam nos abrigos que inicialmente eram improvisados, passando, mais tarde, a ter um caráter de assentamento com durabilidade centrada na constância e tempo que se permanecia naqueles locais. A quantidade de víveres disponível é influenciada tanto pela forma como se dá a coleta como pelos recursos que o território disponibiliza. Novas técnicas, nível de facilidade para encontro dos alimentos, o próprio território em que se está inserido, assim como os perigos e hostilidades, fizeram os grupos deslocarem-se para localidades distintas, com a quantia de seus membros sendo maior ou menor. A introdução de novas tecnologias, o domínio sobre certos grupos animais, o plantio e o reclame do território a modo de, se preciso for, até defendê-lo contra invasores levam os homens a se distanciarem mais ainda uns dos outros. Com o aumento da qualidade de vida e do amplo povoamento, ocasiona-se uma densidade demográfica, um grupo expressivo de pessoas que, beneficiadas pela influência das condições climáticas, começa a expandir-se em busca de novas possibilidades. Alguns tornaram-se agricultores, outros criadores de gado bovino, ovino, caprino, e outros se tornaram criadores de cavalo. Esses seres têm como pauta no íntimo de sua vida social coletiva, além da dependência físico-cultural do grupo em que está inserido, parecem estar pré-disposto a dois fatores psicológicos produtores de sua subdivisão grupal: a necessidade de sentir-se seguro por pertencer a um grupo grande o suficiente para se relacionar e contactar com outros membros e ao mesmo tempo pequeno o suficiente para estabelecer relações RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 26 pessoais com a maioria de seus membros. Portanto, pode-se dizer que, um grupo, ao tornar-se grande segrega-se em pequenos grupos. Isso faz com que a necessidade de pertencer a um grupo abrangente e ao mesmo tempo estrito proposto pela psikë humana seja suprida. É claro que existem seres que preferem estar isolados de tudo e de todos, mas essa é uma pequena minoria. Com o constante crescimento dos grupos e suas conseqüentes subdivisões, os laços com os predecessores se estreitaram pela consangüinidade e se alargam pela sociabilidade. Assim, dos distintos grupos nascem diversas culturas e formas de viver que são facilmente observáveis quando da comparação de grupos de uma mesma tribo, notoriamente diferem uns dos outros, mais ainda na proposição entre tribos de uma mesma gen, assim há a ruptura. O que vai diferir uma tribo de um agregado de bandos é o sentimento de unidade que existe em seus membros. Há, na tribo, um território comum, uma língua, uma identidade, não ainda com organizações formais, nem cerimônias ou assembléias tribais em dados períodos pré-estabelecidos. A organização formal das tribos varia e, de acordo com as diferenças ou ajuntamentos tribais. Os grupos que aprenderam as técnicas da criação de animais tinham em comum o nomadismo, não tendo como os agricultores uma fixação permanente num território onde se pudesse explorar os víveres, pouco se assemelhavam aos grupos que se fixaram às margens das águas das quais retiram a pesca que os sustentavam, juntamente com os frutos coletados. Os criadores de animais, em suas peregrinações em busca de melhores pastagens, mais se assemelham aos caçadores que, ao ter uma área escasseada de suprimentos alimentícios, precisam migrar para outras localidades. Ao se reportar ao fato da existência de agricultores e pastores, existem várias correntes divergentes entre si e concomitantes no ideal de expor a presença dos mesmos. Deve-se em meio a tantas corroborações e incursões, ter em vista que esses seres conhecedores do plantio e do pastoreio, seja pela teoria bíblica de um Caim agricultor e umAbel pastor OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 27 ou pelo princípio das evoluções iniciadas no Pleistoceno10, com projeções Paleolítica, Mesolítica e Neolítica formaram as bases da sociedade humana ao se juntarem em vilas, cultivando grãos, criando gado, desenvolvendo a cerâmica, tendo a concepção de um sedentarismo arraigado pela formulação de casas permanentes, numa vida coletiva de iniciantes produtores de utensílios. Nesse período existiam duas espécies diferentes de pastores: os que cuidavam dos animais e os que cuidavam dos humanos. Os hebreus, ao referir-se a pastores, utilizavam o vocábulo e a forma participial ro‘er, tendo os gregos chamado-os de poimën. Mesmo Homero, um dos grandes escritores gregos, refere-se aos reis e governadores como sendo pastores11. Os pastores tinham a árdua missão de cuidar do rebanho, levá-lo para pastar, precisando, por vezes, deslocar-se em longas jornadas em busca de ervas e água em meio a uma terra nem sempre favorável à pastagem. Normalmente moravam em tendas e levavam consigo um saco com pertences para satisfazer suas necessidades pessoais essenciais. Essa honrada profissão foi também atribuída a Deus como sendo o Pastor de Israel12 e a Jesus, Seu Filho (Jo: 10). Assim, os agricultores e criadores dão inicio à mitificação de seres, baseando-se nas histórias da vida cotidiana para atrelá-los a si. Indícios paleológicos sugerem a existência da agricultura por volta de 7500 a. C., na Palestina, no vale do Jordão, não apenas ao longo do próprio rio, mas também ao lado dos ribeiros que desembocam nele. Alguns escritores afirmam ter a agricultura, precedente da pecuária, se estabelecido na região de Jericó, na Cisjordânia, hoje sob tutela de Israel. A agricultura consistia não somente no cultivo de plantas, mas também na coleta de frutos e sementes. No vale do Jordão, além de cultivo de cereais, vários legumes como lentilhas, ervilhas e feijões formavam a agricultura secundária. As colinas mais baixas permitiam o plantio de videiras, oliveiras, leguminosos e árvores frutíferas, o que as acresceu como utilização cereal para homens e animais. 10 Pretenso período de grandes glaciações de 600.000 a.C. a 11.000 a.C. 11 Ilíada, I, 263, II, 243, etc. 12 Gn: 49.24; Sl: 23.1; 80.1. RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 28 A Crescente Fértil tem, de forma heterogênea, o desenvolvimento de seus povos. As principais culturas de cereais eram o trigo e a cevada, sendo o primeiro mais valioso, contudo, a cevada poderia ser plantada em solos mais pobres tendo a vantagem de estar pronta para colheita em um período mais curto de tempo. O maior inimigo do lavrador era a seca, se qualquer dos períodos de chuva falhasse, a agricultura de certos cereais poderia estar comprometida. As encostas das montanhas eram utilizadas para plantio, reservas florestais e pomares, bem como a construção de eiras, perto das vilas que se encontravam nessas encostas. A Bíblia sugere quatro expressões usualmente traduzidas como agricultores: ‘ikkãr, traduzido como o homem que trabalha com arado; yõghëbh, como o homem que trabalha com pá, furando ou escavando; ‘ïsh ’ªdhâmâ, referente há um fazendeiro agricultor; e geõrgos, é o agricultor fazendeiro do Novo Testamento, aquele que trabalha a terra. Os homens foram criando animais, plantando e, aos poucos, subindo os montes, fazendo lá sua morada e, conseqüentemente, estabelecendo seu modo de vida em sociedade. Quanto a essa questão Braidwood escreve: (...) as encostas das montanhas e os vale podem ser cultivados sem grande dificuldade. No caso da Síria e da Palestina, há que se considerar a terra fértil e a chuva de inverno como elementos favoráveis ao plantio, e as montanhas razoavelmente verdejantes como local adequado ao pastoreio. Um local ‘feito de encomenda para agricultores principiantes’ que poderiam ‘levar uma vida aprazível, sem muito trabalho’. A extensão larga de terras permitiria ainda pequenos deslocamentos por parte dos grupos por ocasião do esgotamento do solo. Já no sul do Egito e da Mesopotâmia, as condições geoclimáticas eram (e continuam sendo) bastante diferentes. A chuva, nesses locais, é praticamente inexistente a fertilidade da terra, após as cheias, é excelente. Mas para ela ser utilizada pela agricultura, de forma sistemática, e os rios precisam ser domados (BRAIDWOOD appud PINSKY, p. 43 e 44). Com o avanço das relações sociais e a diversidade de grupos humanos espalhados pela terra, constrói-se junto a essas sociedades OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 29 coletoras, pastoras, agricultoras, sejam elas seminômades ou pré- sedentárias um culto que de natural animista, anteriormente zoolátrico e celestial, passou a formas de culto mais trabalhadas com ritos não apenas de devoção, mas num estágio um pouco acima de institucionalização do serviço religioso, correspondendo a determinados segmentos em cada sociedade, podendo ser proferido apenas pelos escolhidos e iniciados nas “ciências ocultas” ou, ainda, o que chamam de o representante da divindade na terra. Durante o período de transição em cada grupo formado para uma união coletiva de maior propriedade nos estreitamentos de laços e dominação dos mais fortes aos mais fracos, seja pela força, coação, construção de um ideal coletivo ou instituição das práticas religiosas, os homens encontraram uma forma de expressão para seus pensamentos, viram em corpos celestes e na terra as coisas que não podiam controlar um “espírito” que movia e tinha capacidade de intervir nos assuntos humanos. A divindade lunar, o deus sol, o trovão, a montanha sagrada, os espíritos do fogo, do vento, da água poderiam trazer coisas boas ou ruins aos homens, por isso deveriam ser respeitados e tratados como seres de grandeza maior que a humana. Chega-se, assim, a mais uma etapa do pensamento religioso, a institucionalização, ainda que informal, de uma conduta composta por elementos de persuasão, referendados pelo poder da liderança tribal, onde um líder religioso explanava as necessidades de conduta e atividades místicas para agradar aos seres ontológicos. Para tais atividades, utilizou- se com freqüência de observância da natureza e contemplação dos corpos celestes e artifícios ritualísticos. Como destaque, em quase todas as religiões antigas, tem-se a utilização do óleo empregado nas mais diversas circunstâncias, para os mais diversos propósitos, dos medicinais, místicos, sacramentais aos religiosos. Nas várias populações que tinham como objeto de culto um ser venerado o óleo desempenhou papel importante, porque através de sua simbologia se dava crédito a determinados feitos, propósitos e/ou perspectivas futuristas. É bem verdade que nem todas as gens ou famílias tiveram acesso a esse tipo de ungüento, contudo, o seu caráter purificador, equiparado à limpeza atuou em variados locais como dádiva divina, forma de aproximar as pessoas de seus deuses. Essa aproximação pode se dar de RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 30 forma medicinal onde, como numa equiparação feita à água, que limpa e purifica o corpo das sujeiras que precisam ser retiradas, para que não se constitua uma crosta, dificultando a pele de expelir o calor interno seja através de suor ou o aquecer dos vasos contingentes de “sangue quente” que ficam próximos à derme, ou ainda, causando um contraste calor – corpo – sujeira, tendo por efeito um odor desagradável, o óleo limpa o corpo ferido, propicia uma camada protetora contra impurezas. Não se usava apenas o óleo, mas este era misturado a ingredientes adicionais, numa época onde a medicação era exclusivamente natural. A unção terapêutica, Àleiphô, era amplamente utilizada. Os videntes ou sacerdotes,como mais tarde foram chamados, tinham um conhecimento das plantas de sua utilização medicamentosa por isso faziam suas porções e as colocavam sobre a pessoa necessitada de tratamento para cura corpórea de suas patologias. Nas religiões místicas da Península Balcânica, nas tribos indo-germânicas que povoaram a Europa e, ainda, nos povos americanos, a unção cerimonial era feita nas adorações prostradas aos seres sagrados, nos cultos ao divino. A aplicação do “óleo orado” ou consagrado a divindade, possui como elemento em si o precioso poder espiritual da “oração da bênção”. O animismo cria numa grade quantidade de divindades como fica claro na conversa de Sócrates com Eutífron (Platão, 1999), sendo elas deuses e demônios, vindos da mesma essência celeste, difusos, nem sempre amistosos, por vezes opostos entre si. O óleo era utilizado para untar lugares, objetos e até pessoas como forma de acalmar os deuses, atribuindo ao material inerte Múnus espiritual. O sacramento, Mystêrion, era a forma de aplicação comum para se aplicar o óleo durante os rituais de purificação da alma, do grego Psychsê, a sacralização, normalmente, estava ligada ao ato de uma busca em separar o estado natural do homem com sua separação para o serviço divino. Assim com o seu espírito, do grego Pneuma, poderia ficar livre para agir em nome dos seus deuses, sendo esses homens separados para lhe representar e prestar-lhes serviços, seja através de sacrifícios de seres, do hebraico Nephesh, ou no cotidiano em seus grupos tribais. O fim religioso OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 31 da utilização era ungir o material utilizado no culto, santificar o local, aspergir sobre os seres uma corroboração sobrenatural ratificando o servo. No caso judaico, há algo de interessante no fato de o óleo com fins religiosos ser aplicado apenas em pessoas separadas para os fins sagrados do sacerdócio e do governo: os ungidos do Senhor. Essa unção religiosa feita de público servia para simbolizar a dádiva do Espírito de Deus aos homens, e a testificação da permissão de seu Deus – Yahweh, “eu sou o que sou” Êxodo 3:11-15 - para que pudesse guiar o povo em seus ensinos e no cumprimento da lei. Esse Deus, YHWH, preocupa-se com o povo. O “Deus vivo” instrui aos Seus como deveria ser a unção dos escolhidos e dos objetos separados do uso comum para o sagrado. Onézio Figueiredo (2001, p.37), afirma: A composição e aplicabilidade do óleo sagrado foram estabelecidas por Deus (Ex 30.23-31). Não se poderia ungir com o referido óleo nenhuma pessoa que não fosse sacerdote ou exercesse função de natureza sacerdotal como o rei, por exemplo. Na Bíblia, Deus afirma categoricamente como o óleo deveria ser aplicado, portanto, não poderia ser feito fora do propósito determinado por Deus e a proibição de modificar-lhe a composição: “Não se ungirá com ele o corpo do homem que não seja sacerdote, nem fareis outro semelhante, da mesma composição; é santo, e será santo para vós. Qualquer que compuser óleo igual a este, ou dele puser sobre um estranho, será eliminado do seu povo” (Êxodo: 30. 32 e 33). Ao utilizar óleo como ungüento religioso e colocá-lo sobre pessoas que não foram “consagradas para o serviço de Deus”, no formato que Ele estabeleceu em Suas Sagradas Escrituras, se está caindo no erro descrito nos versículos há pouco citados. Muitos povos passaram por todo esse processo ritualístico e de grupos familiares até se tornar grandes civilizações. Com toda uma perspectiva e construção social em decorrência das relações estabelecidas entre seus entes. No sentido histórico o termo civilização possui um significado diferente do sociológico, embora ligado a ele. Fernand Braudel (1987, p. 33 e 55), em sua obra Grammaire des Civilisations, trabalha o RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 32 conceito histórico de civilização a partir do processo sociocultural definido a partir de alguns requisitos, sendo eles: a ocupação estável de um território determinado, por uma sociedade especifica, com certas características econômicas, uma certa mentalidade coletiva e uma certa continuidade histórica. Uma análise conceitual bem parecida é feita por Hélio Jaguaribe, em sua obra intitulada “Um Estudo Crítico da História”. Ele versa modificadamente o conceito de Braudel tendo a civilização, por características essenciais: Um sistema cultural com continuidade histórica, associado a uma ou mais sociedade que alcançaram o estágio de civilização no sentido socioantropológico, ocupando de forma estável um território que inclua uma ou mais cidades, empregando de forma duradoura uma ou mais línguas, com a respectiva escrita, uma religião ou cosmovisão especifica, dotado de técnicas autônomas para assegurar sua subsistência estável no ambiente natural e humano, inclusive elementos de autodefesa e dotado de condições culturais adequadas para garantir sua auto-ordenação autônoma (JAGUARIBE, 2001, 54). Os grupos sociais não mais agem em tribos, seu desenvolvimento os transformou em sociedades. Muitos esqueceram sua linhagem em comum ou fizeram prevalecer os interesses próprios em detrimento de outros. A história da humanidade é tão diversa quanto conflitante no relacionamento entre os povos. Os seres humanos praticam atos que nenhum outro ser teria a audácia. É um desconstruir conflitante, esmagador, que se apropria dos séculos sociáveis transformando-os em sociedades seculares, distantes de seu original propósito, indiferentes com o mundo a sua volta. Noventa por cento das obras humanas produzidas, como literatura, artes, bibliotecas, templos, cidades foram destruídas em guerras, embates e vis contendas, o povo que restou é testemunha de um mal contagioso que distorceu o propósito humano. A explicação para tais atos é encontrada em algumas sociedades que através de seus escritos antigos e detalhados mostram a realidade dos acontecimentos. A esses escritos os judeus dão o nome de “Torah”; os muçulmanos chamam de “Taurat”; e os cristãos chamam de “livros da OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 33 lei”. Nesses escritos, o problema não apenas é manifesto, os seus motivos, a fora de sua apresentação fica clara no Gênesis, em seus onze primeiros capítulos. O que se segue é, no início de tudo, uma criação gloriosamente original e “boa”, onde o Criador olha para a criação ao fim do sexto dia e vê que todas as coisas que tinha feito eram muito boas. A partir do capítulo terceiro a entrada de um poder rebelde, maligno sobre-humano, personalizado, sendo mais que uma força age para a destruição; o que se segue é uma humanidade envolvida nessa rebeldia e mantida sob o poder desse mal. A “Toráh”, a “Taurat” e os “livros da lei”, compilações do mosaico pensamento por inspiração divina, tem no primeiro livro a idéia de origem geral humana, do capitulo um até o onze, onde em sua primeira parte expõe a do inicio de tudo até a pré-história de Abraão, e a história dos patriarcas a começar por Abraão, ser considerado o primeiro judeu nascido em meio à idolatria e depravações de seu tempo em Ur da Caldéia, teve um modificar em sua vida partindo de um encontro transcendental com único e verdadeiro Deus, o livro de Gênesis narra do começo de tudo até a chegada de Jacó e seus filhos ao Egito, ou seja, tem início a história de salvação dos eleitos. E Adão, Sete, Enoque, Noé, Sem, Melquisedeque, o que ocorreu com eles? O livre-arbítrio acabou quando Adão e Eva escolheram desobedecer a Deus. Havia a chance de obedecê-Lo e desobedecê-Lo, Deus não faz reféns, não tranca homens em Seu mundo e joga a chave fora. A chance que se teve em escolher a vontade de Deus ou a própria vontade cessou quando da escolha da desobediência, porque Deus disse para não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. O homem pecou e o pecado contaminouo seu ser, o Santíssimo não poderia simplesmente aceitar esse ato. A partir de então, Deus planejou Seu plano redentor manifesto em Gênesis 3.15, homens e mulheres teriam a chance de retornar a Sua presença, bastaria buscar Sua vontade. Muitas nações, na antigüidade pensaram numa criação. A doutrina bíblica em contraste com as teorias científicas tem não a investigação, mas sim, o propósito ético e religioso, porque a criação não se confina apenas ao Gênesis, toda a Bíblia, em ambos os Testamentos fala do ato criativo RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 34 como sendo este compreendido pela fé. Em Hebreus: 11.3 está escrito: “pela fé entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus”. Isso significa que a revelação divina é a base da doutrina criadora variegadamente atribuída a todas as três pessoas da trindade. Diante de tamanha grandeza do universo no qual está inserida a terra, ou ainda, ao contemplar a beleza, perfumosa e delicada de uma flor, o espírito humano é levado a indagar de onde vêm coisas tão admiráveis, qual sua origem e quem os criou. O pórtico da fé – assim é chamado o livro de Gênesis por alguns autores – objeta ao estudo da criação com extraordinária relevância para a fé. Ele responde às indagações do intelecto, por mais profundas que sejam; coloca o ser humano diante de um poder infinito e de uma inteligência sem limites, o Ser, que também é objeto de nossa fé, aquele em quem nós cremos; esse ser de infinita grandeza e perfeição, permite ao homem que lhe chame pai (VASSÃO, 1995, p. 5). No capítulo primeiro do livro de Gênesis se tem a mais fantástica narrativa de todos os tempos. Quando Deus Se faz manifesto ao expressar o poder de Sua glória Ele é extraordinariamente irresistível. Não há como detê-Lo nem como dizer que não está a contento, porque Ele faz e, mas que isso, seu poder criador é tão profundo em ações e mantenedor em desenvolvimento que não há como superá-Lo. Algo tremendo, abrangente, completo e ilimitado. Um Deus eficaz que promove a Seu bel-prazer o criar e o agir de acordo com Sua vontade, dentro de Seu querer. A criação é proferida por toda a Bíblia, muitos autores têm se atido apenas ao capítulo um de Gênesis, enquanto no conjunto de textos que vai da criação ao pecado, explícito no capítulo dois, aparece a sustentação do argumento criativo, como episódio real da criação trabalhando mais detalhadamente o sexto dia. Portanto, os capítulos um e dois não são duas histórias diferentes do mesmo fato e sim, dois fatos diferentes e sucessivos na mesma história. OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 35 Ao ter a visão da criação divina, Moisés a descreveu no primeiro livro da Bíblia chamado Gênesis, vale ressaltar que quem escreveu o livro foi Deus por Sua inspiração e presença ativa diante daquele que foi apenas o instrumento para tal, Moisés. A finalidade do Gênesis não é provar a existência de Deus ou Seus planos, mas sim, dar a conhecer a “revelação de Deus aos homens”. Segundo o Dr. John Davis, o livro de Gênesis pode ser dividido e analisado em três seções: o resumo da história da terra e do universo em suas relações com a divindade e introdução à história da humanidade; esboço da história da raça humana antes de Abraão e a introdução à história do povo escolhido; a história do povo escolhido, desde Abraão até a permanência dos israelitas no Egito. Ainda se pode citar o notável escritor inglês C.H. Mackintosh, referindo-se ao Gênesis com as seguintes palavras: Existe qualquer coisa de particularmente notável na maneira como o Espírito Santo abre este livro sublime. Ele nos apresenta, imediatamente, a Deus, na plenitude essencial de seu Ser e no isolamento da sua atuação toda a matéria preliminar é dispensada. É a Deus que somos trazidos. Ouvimo-lo, de fato, quebrando o silêncio e brilhando sobre as trevas da terra, com o propósito de fomentar um mundo no qual pudesse revelar seu poder eterno e a sua divindade (VASSÃO, 1995, p. 2). Esse princípio estrutural divinamente inspirado apresenta diversas formas de apreciação, dentre elas pode-se destacar a do Dr. Robert Lee que, ao estudar a história primitiva, enumera seis princípios ou começos referidos no livro do Gênesis, sendo esses princípios: do universo material (1.1-25); da raça humana (1.26 a 2); da civilização ímpia (4.16 a 9); das nações do mundo (10); da multiplicação das línguas (11); da raça hebraica (12 a 50). A Bíblia apresenta o plano de Deus de uma forma crescente, do mais simples para o mais complexo, conforme Sua criação. E aqui não se está sugerindo que há simplicidade na criação das coisas iniciais, e sim, que para a sobrevivência de determinados seres ou acondicionamento de outros faz-se necessário criações primeiras. Por esses admiráveis feitos, a criação é imensurável à mentalidade humana, ainda assim, não se pode RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 36 confundir a simplicidade do inicial ato criativo com simulacro. Na construção de astros, planetas, estrelas, galáxias, uma variedade de vida, tudo isso poderia ter sido feito em um só instante, contudo, preferiu seguir a sabedoria de Seu plano criador. Quando se trata do relato bíblico em que “formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem passou a ser alma vivente” (Gn: 2.7), muitos riem. A Bíblia está milhares de anos à frente dos cientistas e suas “descobertas exatas”. No Gênesis está contida a criação sobrenatural do homem, e muitos duvidaram pelo fato de ser relatado Deus ter-Se utilizado do simples “pó da terra” para formar elementos complexos e as moléculas componentes do ser humano. Após décadas de estudos e exames acerca dos componentes do corpo humano, foi descoberto pelos cientistas do Centro de Pesquisas da NASA que a argila e a terra contêm todos os elementos encontrados no ser humano. A narrativa em forma poética adaptada à mentalidade contemporânea de Moisés ensina que tudo vem de Deus e que, por isso, tudo, inclusive a matéria, é bom, pois foi Ele quem criou. Ele não se limitou apenas a criar todos os seres, os assiste constantemente. A linguagem utilizada para chamar dia é feita para que haja o entendimento da conformidade que são produzidas, não exprimindo cronograma temporal, e sim, um feito de tudo em seis dias, a perfeição do ato criador, nada mais necessitava ser criado, porque o plano havia sido executado “E viu Deus tudo quanto tinha feito e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã no sexto dia” (Gn:1.31). Ao sétimo dia Deus descansou. Isso serve mais como simbologia para o descanso semanal hebraico e, mais tarde, cristão do que propriamente uma necessidade divina de descanso, pois continua Ele a manter as criaturas em sua existência e mantê-las em sua providência, além de algumas coisas hoje existentes que não são fruto da criação inicial, como o Arco da Aliança, a Nação Eleita, o Pecado, futuramente a construção da Nova Jerusalém, novos céus e nova terra. Deus continua ativo, apenas utilizou o mecanismo do descanso para que os homens percebam a necessidade corpórea que têm de repousar. OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 37 Os ensinos passados têm uma estrutura que pode ser dividida em três partes: a primeira, proveniente de uma criação; em segundo, ela se deu em estado caótico; em terceiro, passa a descrever a ordem de Deus para sua formação plena. A Bíblia edição Ecumênica afirma que Deus: Primeiro preparou três regiões: a sidérea (1º dia), a atmosférica (2º dia) e a terrestre (3º dia), e depois colocou nelas os respectivos habitantes: astros na região sidérea (4º dia); aves e peixes na atmosférica, porque a água e o ar são elementos tidos como da mesma espécie (5º dia); os animais na terrestre e, comoobra especial, o rei da criação para coroar tudo (6º dia) (Bíblia Ecumênica, 1967, p. 1). No inicio de tudo, a contemplação da obra produzida chega a ser surpreendente. Moisés, ao relatar no Gênesis a criação, foi fiel ao que viu, contudo, não pôde ser tão preciso quanto qualquer ser humano tentaria e não conseguiria. Para ser mais preciso, imagine-se um ser letrado, homem culto, temente a Deus, que almeja Sua presença, nascido de um povo cativo, deixado à beira de um rio, cuidado por uma israelita – sua mãe -, criado como filho da princesa do Egito. Em que base um homem instruído na melhor ciência da época, a egípcia, poderia, com sua experiência de deserto e sentimentos humanos de quatro mil anos atrás, promover um destaque à visão dada por Deus? Esse homem tinha capacidade humana para compreender parcialmente as coisas dos homens, mas as coisas divinas, por mais que tentasse não compreendia o ato criativo revelado por Deus, como uma criança que vê seqüências feitas de um todo ao seu redor, o descreve sem compreender, ao certo, como ou por quê. Quando Moisés escreveu o livro para explicação dos começos, a sua mentalidade oriental de conhecimentos relacionados à astronomia, matemática, antropologia e geologia não era tão bem elaborada como o pensamento cognitivo atual. Vale ressaltar que o estudo da época esteve baseado na oralidade e percepção externa do mundo à volta. O fato de Deus tê-lo inspirado a escrever o primeiro livro da Bíblia não implica uma obrigação divina em atualizar conhecimentos centrados no homem e suas adaptações, ou ainda, cultivar algo “cientificamente salutar” para uma humanidade tão diversa. Deus quis mostrar que é possível tudo acontecer, a RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 38 Sua sabedoria é loucura para os homens. Os céus, a terra, o firmamento, o mover de Sua presença espiritual em contraste com seu sopro de movimento frontalmente deparado sobre um refletir fulgurante de águas. Moisés ou qualquer outro homem, não poderia exprimir algo tão belo. A revelação não se faz apenas pelo poder divino, mas a capacitação a seres secularmente aculturados é latente na construção do entendimento a ser expresso para a compreensão de todos. Não se está dizendo que Deus se limita ao cerne humano; o que está posto é que a expressão divina, por obra de Sua inspiração, é manifestada de acordo como bem Lhe aprouver, contudo, para que a mensagem seja compreendida e Sua vontade manifestada, Ele permite a profusão simplificada de Suas manifestações para ter a humanidade o discernimento interpretativo que se faz posto. Em momento algum, no decorrer dos assuntos indicados e sua análise, se tentará diminuir Deus ou fazê-Lo humano em seu estado natural, mas a latência dada em todos os aspectos será o contraponto de uma relação em que o conhecimento cognitivo está para a compreensão, como a busca humana pelo divino está para o plano redentor. Há, na Bíblia, a mensuração de que um dia para Deus é como mil anos e mil anos como um dia, ou seja, o tempo divino não é cronológico, mas voluntário a Seu prazer, portanto, o estabelecimento de dias para criação não são, necessariamente, no sentido terreno, já que o fulgor da luz resplandecente divina vai-se firmar na constituição de luzeiros apenas no quarto dia. Por isso diz-se que esses dias são figurativos, tendo em si a essência de períodos à temporaneidade cronológica. Ao tratar sobre a criação, os dias, o tempo e a relatividade, o autor escreve na revista do Seminário Presbiteriano do Sul (1996, p. 40): “A descrição do dia criativo parece indicar, (...), que o perfil do tempo nos primeiros seis dias era outro”. Esse que tem sido um campo de vastas interpretações e, por tentativas de interpretação apenas cronológica do tempo, transtorna pensadores que tentam exprimir o tempo real como o conhecido atualmente, para isso, acaso o Deus Poderoso não poderia construir, a Seu modo uma forma temporal que não a de vinte e quatro horas? É certo que sim. Existem alguns problemas em se interpretar a OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 39 criação em tempo cronológico, Agostinho descreve com precisão e seriedade o assunto: Vemos que os dias conhecidos não têm tarde, senão em relação com o pôr-do-sol, nem manhã senão em relação com o seu nascimento. Pois bem, os três primeiros dias transcorrem sem sol, pois sua criação, segundo o Gênesis se deu no quarto dia (...) mas de que luz se trata e de que movimento alternativo? Sejam quais forem a tarde e a manhã feitas, é certo que nos escapam aos sentidos e não podemos entendê-lo tal qual, deve, sem a menor vacilação, ser crido (AGOSTINHO, 1990, p. 24-25). Por isso, diz-se que a criação aconteceu no tempo de Deus, incompreensível ao homem. Iniciou-se pela noite, seqüenciada pelo dia. Daí defender-se, entre os escolhidos de Deus, que o dia inicia-se com as trevas, como no primeiro dia, e tem fim com o entardecer sobrepujando a claridade da luz. Descreveu Moisés os dias criativos, numa espécie de tempo divino não cronológico, mas da vontade do Criador, assim sendo: no primeiro dia apareceu a energia universal e a luz cósmica; no segundo dia, ocorreu a expansão ou o que se chama firmamento, a separação entre águas de baixo e águas de cima13, o firmamento era concebido como uma abóbada que sustentava as águas superiores que caíam em forma de chuva; no terceiro, dia foram feitos os mares, terra seca e vegetação - é interessante que antes da vida animal Deus fez surgir a vegetação; no quarto, dia há o aparecimento do sol, da lua e dos astros, enquanto a terra tomava sua forma definitiva a cada dia da criação14; no quinto, dia foram criados animais aquáticos e aves, a água da terra, bem como as águas-sustentadas no firmamento, dão a idéia de uma vida primeira, iniciada no ambiente aquático, seja ele líquido como nos mares, rios e oceanos ou na atmosfera - 13 Alguns teóricos acreditam que a divisão entre águas de baixo e de cima são ditas no sentido de: no primeiro, as águas serem subterrâneas e litosférica, enquanto no segundo sejam os cristais que formam as nuvens e, água no cosmo, como partículas encontradas por cientistas da NASA. 14 Segundo alguns pensadores, já existia desde o primeiro dia, pelo fato de Deus determinar que o sistema revelasse sua operacionalidade. RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 40 nesse ponto os animais aquáticos e todas as aves do céu foram criados (Bará); no sexto dia, foram criados, em dois momentos distintos – no primeiro os animais terrestres, e no segundo o homem e a mulher15. Ao fim do sexto dia, Deus estava satisfeito com a realização de Seu plano, a criação estava de acordo com Seu agrado: “eis que era muito bom”; e ao sétimo dia descansou. 15 Adão, em hebraico, significa “homem”. Como em hebraico “mulher”, Ishsha, parece derivar de Ish (varão), tanto o tradutor latim quanto o português tentaram imitar o jogo de palavras original. Ish, varão, homem. Ishsha, virago, mulher. Ao se falar que a mulher é formada de uma parte do homem, tenta-se estabelecer a unicidade representativa de ambos, a unidade do gênero humano. Assim quando se diz “uma só carne” quer se dizer corpo do indivíduo “uma só pessoa”. A união a ponto dos cônjuges formarem uma só pessoa. OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 41 CAPÍTULO II OOOO Espaço Sagrado necessidade de refúgio em meio a adversidades provocadas intentantes contra a vida humana fez nascer, em diversos povos, o espírito de contrição salvífica momentânea. Seja qual gen ou tribo se aplaque em ofensiva, há nessas culturas conviventes, ainda que diferentes “bandos” de lutadores e guerreiros,