Buscar

O Monte - Em busca do Altissimo - Vol I - Reginâmio B de Lima

Prévia do material em texto

OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 1 
Coleção 
UM NOVO COMEÇO: Reencontrando o Criador 
 
 O MONTE 
Em busca do Altíssimo 
Volume I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Reginâmio Bonifácio de Lima 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
2 
Volumes da Coleção 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 3 
 
O MONTE: Em busca do Altíssimo 
Copyright © LIMA, Reginâmio Bonifácio de. 2010. 
Capa: Ilustração dos Montes de Sião e a Rosa de Saron 
Idéia Original e Editoração: LIMA, Reginâmio B. 
Revisão: Maria Iracilda G. C. Bonifácio 
 Regineison B. Lima 
 Sônia Queiroz 
 
Volume I (O Monte) – ISBN 978-85-907581-6-7 
Volume II (Israel) – ISBN 978-85-907581-7-4 
Volume III (Jesus) – ISBN 978-85-907581-8-1 
Volume IV (O Sermão da Montanha) – ISBN 978-85-907581-9-8 
Volume V (Retorno à Santidade) – ISBN 978-85-910370-0-1 
 
Ficha catalográfica preparada pela Biblioteca Central da UFAC 
 
 
 
L732r 
 
LIMA, Reginâmio Bonifácio de. 
O Monte: em busca do Altíssimo/ Reginâmio Bonifácio de 
Lima. – Rio Branco (AC): Boni, 2010. 
 
Coleção Um Novo Começo: reencontrando o Criador. v. 1 
 
ISBN 978-85-907581-6-7 
 
 1. Teologia Cristã. 2. Deus. 3. Civilizações. 
4. Religiosidade das Nações. I. Título 
 CDU 230.1 
 
Fica explicitamente proibida qualquer forma de reprodução total ou parcial 
deste livro, sem o expresso consentimento do autor. 
 
Contate o autor (68) 9997-4974 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ao Deus Todo-Poderoso pelas misericórdias, 
bênçãos outorgadas e permitir a conclusão 
desta obra. 
A todos os meus familiares que tanto me 
auxiliaram. 
A três mulheres especiais: minha mãe, Maria 
Bonifácio, pelo amor, carinho, afeto, 
compreensão e apoio dado no decorrer de 
toda uma vida; minha amiga, Missionária 
Sônia Queiroz, pelo apoio intelectual, 
dedicação, comprometimento e abnegação 
nesses últimos anos; minha musa 
inspiradora, Maria Iracilda, que me ensinou a 
viver de forma prática a teologia explicitada 
em centenas de páginas, interpelando por 
maior intimidade com o Criador. Muito 
obrigado a todos. 
 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Depois, soltou uma pomba par ver se as 
águas teriam já minguado da superfície da 
terra; (...) à tarde, ela voltou a ele; trazia no 
bico uma folha nova de oliveira; assim 
entendeu Noé que as águas tinham minguado 
de sobre a terra (...) então, Noé removeu a 
cobertura da arca e olhou, e eis que o solo 
estava enxuto (Gênesis: 8.8,11 e 13b). 
 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
6 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Apresentação 07 
A Construção humana e o Deus Construtor 10 
O Espaço Sagrado 41 
De Todas as Tribos, Povos e Raças 49 
O Criador Se Faz Manifesto 80 
Referências 97 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 7 
 
 
AAAApresentação 
 
 
vontade humana em busca do Criador e seu encontro com a 
vontade atuante do Redentor se fez o centro dos estudos, tendo 
como base a doutrina teológica cristã. Esse elo entre a vontade de 
Deus e a vontade dos homens é a questão central na busca organizada de 
informações que constituíram os elementos fundamentais da pesquisa. 
Os homens buscaram localidades altas onde pudessem ficar mais 
próximos do céu, passaram a servir e se ajuntar em seus rituais nos locais 
sacralizados que normalmente estavam nas montanhas, sejam santuários, 
templos, edificações para ofertório. Diversas civilizações propuseram 
formas aproximadas de busca do conhecer translocal para suas exposições 
de uma vida plena e abundante, onde se percebe o monte em busca de um 
ser maior, criador de todas as coisas. Esses seres religiosos utilizaram em 
muitas épocas, vários locais, diferentes grupos, de diversas maneiras para 
contatarem o ser superior. Em especial os montes, montanhas e colinas 
foram propostos como locais de adoração e busca; tudo se fez muito 
confuso desde a queda de Babel. 
O Deus criador que houvera punido Adão e Eva, expulsando-os do 
Paraíso, fez um plano redentor, onde enviou seu único Filho “para que todo 
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”, conforme está 
escrito no evangelho segundo o discípulo amado, capítulo 3, verso 16. 
Ao falar da redenção humana, é necessário que se analise o 
processo perpassado para obtê-la, porque ela não é o fim, mas o fruto do 
amor de Deus para com os homens. Durante as páginas que se seguem 
A 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
8 
muito se abordará em termos de humanidade e raça humana. É preciso que 
se tenha em mente a humanidade só ser possível quando do relacionamento 
entre seres da mesma espécie, a raça humana, e, antes, não se pode pensar 
em uma humanidade, um conjunto de pessoas convivendo numa seqüência 
tempo-espacial, com conjunções e relacionamentos conseguintes. 
A humanidade não é uma em si, mas plural, não há uma 
humanidade, mas várias, atuando ora indistinta ora distintamente, o sentido 
não deve ser entendido como generalizante, e sim, globalizante. Porque o 
próprio homem é antagônico a si, e conflituoso em seu interior. Também 
os grupos por ele formados não são homogêneos, menos ainda as 
sociedades e todos de forma conceitual. 
Os grupos de homens atuam em seus paradigmas e antinômios, há 
toda uma construção conjuntural das relações sociabilizantes, ora 
conflituosa, ora envolvente. Portanto, o homem aqui exposto é o ser dotado 
de sensibilidade, corpo e espírito, atuando como um ser da espécie 
humana. 
O Deus poderoso escolheu ovelhas do aprisco de Israel e também 
de apriscos dentre os gentios, não havendo distinção entre ambos. O Filho 
de Deus cumpriu a lei em todos os seus desígnios, logo, não há lei a ser 
servida, “porque o fim da lei é Cristo” para a justificação de todo aquele 
que crer, não havendo confusão entre a mensagem do reino e a mensagem 
do mundo, a confissão voluntária da fé em Cristo, exultante de alegria flui 
no interior humano na crença de que Deus O ressuscitou dentre os mortos. 
O homem vivia segundo as conseqüências dos atos de Adão. Em 
Cristo, houve a libertação, sendo possível viver em Cristo ou permanecer 
em Adão. A desobediência do homem criou um débito que precisava ser 
pago, “porque o salário do pecado é a morte”; o Cristo, com Sua morte, 
assumiu a penalidade, transferindo ao homem a salvação do pecado para “o 
dom gratuito de Deus, a vida eterna”. A fé é a única exigência para 
participar da vida com Cristo. 
Por esses valores de comunhão com Deus e entrega total, o homem 
ama a seu próximo, falando desse Deus manifesto, ensinando sobre Jesus e 
atuando como mordomo na prática do serviço. Tendo Cristo como modelo, 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 9 
a marca do amor flui nos homens na esperança da plenitude dos tempos, 
quando da consumação de todas as coisas, em que haverá o encontro com o 
Pai. 
O compromisso com Cristo não apenas designa um novo estado de 
existência, significa que a velha natureza foi despojada, o perdão torna-se 
uma circunstância no relacionamento humano e a fidelidade aplaca como 
escolha consciente. 
 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
10 
 
 
 
CAPÍTULO I 
 
AAAA Construção humana e o Deus Construtor 
 
 
eus havia poupado Noé e sua família. Finalmente as águas haviam 
baixado. Foram quarenta dias de chuva torrencial1. Tudo havia 
sidocoberto, até os mais altos montes; os seres que habitavam a 
terra seca e tinham “fôlego de vida em suas narinas” (Gn:7.22 a) pereceram 
ante a vontade divina. Apenas Noé, seus filhos, sua mulher, as mulheres de 
seus filhos e os animais que com eles se encontravam sobreviveram. 
 O gênero humano se havia corrompido, a maldade se multiplicara e 
a iniqüidade se fazia presente. A decepção de Deus fora tal que, para 
entender de forma humana o que se passou com o Deus vivo, é necessário 
Lhe atribuir sentimentos e propiciar uma conotação envolvente de 
princípios emotivadores, a essa afirmativa dá-se o nome de Antropopatia2. 
Dito isto, sabendo de Sua imutabilidade, “se arrependeu o SENHOR de ter 
feito o homem na terra e isso lhe pesou o coração” (Gn: 6.6). Deus Se irou 
 
1 Na Bíblia o número quarenta é utilizado convencionalmente para grandes períodos e 
marca o início de uma nova era: por Noé; por Moisés, Ex:24.18; Elias, 1 RS:19.8; Cristo, 
At:1.3. Bíblia de Estudo de Genebra, p. 20. 
2 Onde se descreve Deus a partir da experiência humana de conhecimento e emoção. 
D 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 11 
com o que vira, resolveu agir, destruindo a terra e tudo que se movia sobre 
ela. 
 Havia um homem da família de Lameque chamado Noé, que 
buscava fazer a vontade de Deus, queria servir ao Deus de seus pais, o 
mesmo que criara os Céus e a Terra, um homem que primava pela justiça, 
tinha um senso de ética e moral muito forte, a integridade era uma de suas 
virtudes, honrava seus trabalhadores, fazia com que o culto que prestava a 
seu SENHOR fosse pleno de mente e coração. Entre seus contemporâneos – 
corrompidos pela violência e maldade – demonstrava eqüidade, porque 
andava com Deus. Noé foi agraciado por Deus, que viu seu esforço em 
servi-Lo. Deus poderia ter destruído todos os homens, mas resolveu poupá-
lo, não porque merecesse, e sim porque assim o quis. 
 Para que Noé e os seus fossem salvos juntamente com alguns 
animais, Deus mandou que fosse construída uma arca com cerca de 133,5 
metros de comprimento; 13, 35 metros de altura, e 22,25 metros de 
largura3; feita e compartimentada com tábuas de cipreste, para poderem se 
salvar da grande enchente que estava por vir. Caiu copiosa chuva, por 
cento e cinqüenta dias as águas predominaram sobre a terra. Foram vários 
dias de espera4, até a arca descer sobre um monte que fica a 5.165 metros 
de altura, nas terras da região de Urartu, cujo nome é Ararate. 
 A porta da arca se abriu e Noé adorou a seu Deus em terra seca, sua 
família e animais saíram da arca. Em um altar que levantara, sacrificou 
animais limpos como holocausto que subiu em cheiro suave. Gostou Deus 
do que Noé fizera e disse consigo mesmo não mais amaldiçoar a terra com 
o dilúvio. Assim, Deus abençoou a Noé e sua família, lhes deu domínio 
sobre os animais e pôs no céu um arco, o Arco da Aliança, como sinal do 
Pacto de preservação5, estabelecido para que Se lembre e não mais destrua 
 
3 A medida dada em Gn: 6.15 é côvado, contudo por sua não utilização atualmente 
resolveu-se transportar sua equiparação para metros. Um côvado hebraico é medido do 
cotovelo até a ponta do dedo médio e equivale a 44.5cm do padrão atual utilizado 
internacionalmente. 
4 Se contarmos do período de entrada na arca ao período de saída. Noé e sua família 
passaram um ano e dez dias dentro da arca. 
5 Em Gn: 8.20-22 está contida a promessa de Deus em manter a terra preservando a vida. 
A esse ato dá-se o nome de Pacto de Preservação. 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
12 
a terra com água. Ordenou Deus que se fecundassem, se multiplicassem e 
enchessem a terra. 
O dilúvio expresso na Bíblia nos capítulos 6,7 e 8 de Gênesis tem 
congêneres em outras civilizações. Em todas elas, a imagem de uma 
reabsorção humana na água e a instauração de uma nova época, tem 
precedentes nas mais longínquas terras, evidenciando não uma grande 
enchente, mas algo realmente amplo e intenso a ponto de marcar a 
memória despertando lendas e histórias sobre o assunto. Na maioria delas, 
o motivo do dilúvio é o pecado humano, não se tratando de uma visão 
pessimista, e sim, de uma regeneração pela misericórdia do Ser Superior 
em conceber que permaneçam vivos alguns seres para continuar a 
perpetuação das espécies. 
Ao examinar a história dos povos, descobre-se que babilônios, 
assírios, egípcios, hindus, gregos, chineses, indígenas americanos e muitos 
outros registram em suas tradições orais e em sua história escrita a 
ocorrência do dilúvio. Em todas elas há um casal de sobreviventes ou uma 
família que escapa da grande inundação, que em determinada época cobriu 
toda a terra. Na época de Moisés, a história do dilúvio já era conhecida, 
havendo vários paralelos entre as nações quanto a sua existência e 
proporção mundial. 
A causa do dilúvio foi, sem dúvida, o pecado exacerbado e 
desafiador em seus mais diferentes aspectos: “Os filhos de Deus” se 
casaram com “as filhas dos homens”, ou seja, os descendentes de Sete, de 
linhagem piedosa que eram chamados pelo o nome do Senhor, contraíram 
matrimônio com as filhas de Lameque e Caim. Sete era o substituto de 
Abel, o filho nascido após o homicídio executado por Caim, deveria sua 
descendência ser íntegra e ter o “temor do Senhor” em suas vidas, mas 
interessou-se pela formosura das filhas dos homens, houve a miscigenação 
do povo de Deus com o povo do mundo; a maldade e a violência se 
multiplicaram e o desprezo às oportunidades de Deus. 
Ao criar o homem, Deus o fez com o propósito definido de povoar 
toda a terra. Isso foi dito a Adão e repetido a Noé e seus filhos (Gn:1.28; 
Gn: 9.7). Os homens se multiplicaram rapidamente, mas não queriam 
separar-se para povoar a terra, mesmo após Noé ter predito o futuro de seus 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 13 
filhos e apontado Sem como a semente escolhida para abençoar o mundo. 
Um número considerável de pessoas deixou o monte Ararate e se instalou 
nas planícies de Sinear, entre os rios Tigre e Eufrates. 
Depois do dilúvio, os descendentes de Noé liderados por Ninrode 
se rebelaram contra Deus. Tinham o propósito de organizar uma “liga de 
nações” contra o Altíssimo e, como manifestação disso, erigiram a torre de 
Babel. É certo que não queriam cumprir a ordem de Deus, porque 
disseram: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade, e uma torre cujo topo 
chegue aos céus, e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos 
espalhados por toda a terra” (Gn:11.4). 
Essa audaciosa rebelião tentou furtar de Deus o poder de exercer 
Sua vontade soberana acerca de tudo, inclusive homens. Quanto à 
localização exata da torre na terra de Sinear, não se tem em consenso qual 
seja. Contudo, de acordo com Vassão, o arqueólogo Smith (VASSÃO, 
1995, p.28) encontrou uma placa, nas ruínas da antiga cidade de Babilônia 
que dizia: “A construção desta torre ilustre ofendeu aos deuses. Numa 
noite eles derrubaram o que se havia construído. Dispersaram-nos e 
tornaram desconhecida a língua deles”. Ele afirma ter encontrado nessas 
palavras uma referência clara a Babel bíblica. Independente de sua 
localização, o rebelar-se contra Deus enseja diferentes aspectos dessa 
atitude. 
A autoconfiança em contraposição a um subestimar Deus. Quando 
se afirma “edifiquemos nós...” não significa que o homem seja incapaz de 
agir sem Deus, mas a forma de se afirmar a desobediência enfrentando a 
Deus ao propor uma ação coletiva humana em coluio para não cumprir a 
ordem dada. Os construtores de Babel não pensaram em um agir para 
reaproximar-se de Deus, antes, a conotação religiosa e idólatra que 
aplicaram no ensejo de sua obra da cidade e torre “cujo cume toque nos 
Céus”, foi a forma de se querer estar junto a Deus, ou ligar-se a ele pela 
desobediente profanaçãode Suas ordens. Aqui há a figuração de um 
pretenso termo aplicado nas torres de Zigurate6, que afirma uma Bâb-Ilãni, 
 
6 Em Uruk, na Mesopotâmia, foram encontrados vestígios de um templo que tenha mais 
de dois mil metros quadrados (exatamente 80 metros por 33 metros). Perto dele foi 
edificado um monte artificial (Ziggurat) com 11 metros de altura, construído com tijolos e 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
14 
terra de Babel, que imaginava-se o centro do mundo, onde a terra poderia 
tocar o céu. 
O propósito egoístico e vaidoso de fazer um nome para si, na terra 
de Sinear, mostra o egocentrismo humano de se envaidecer buscando 
glória favorável, orgulho de uma independência para própria exaltação 
numa centralização obstinada: “e façamo-nos um nome, para que não 
sejamos espalhados sobre toda a terra”, mostra a hostilidade para com os 
propósitos divinos. 
A Bíblia afirma que desde o tempo de Adão e Eva, “...era toda a 
terra duma mesma língua e duma mesma fala” (Gn: 11.1). O orgulho 
humano os fez desobedientes à ordem de Deus para que povoassem a terra, 
então Deus causou a confusão na linguagem. Moisés, o escritor do livro de 
Gênesis, registrou o juízo divino para com os homens e com a torre. 
Muitos estudiosos acreditam ser a torre de Babel apenas uma lenda, 
a mitificação de concepções oralmente repassadas de pai para filho, criada 
para explicar as diferentes línguas existentes. Na contramão desse tipo de 
pensamento, filólogos como Alfredo Trombetti, Max Mueller e Oppert, 
acreditam que todas as línguas têm origem comum, podem ser rastreadas 
até uma língua original. O próprio Otto Jespersen afirma o primeiro idioma 
ter sido dado ao homem por Deus (FREE, 1969). De acordo com Grant 
Jeffrey, em escavações recentes foram descobertas algumas inscrições 
cuneiformes nas ruínas de Babilônia. Estas foram escritas pelo Rei 
Nabucodonosor quando, após construir a Cidade de Babilônia, resolveu 
reconstruir a primeira plataforma da Torre de Babel, em homenagem aos 
deuses caudeus. 
No mesmo lugar em que Ninrode havia iniciado a construção de 
Babel, dezenas de séculos antes, Nabucodonosor, após construir a base da 
torre e revesti-la com ouro, prata, cedro e madeira de lei, embelezou o topo 
 
enfeitado com pedaços de cerâmica; através de uma escada chega-se ao pequeno templo, 
no alto; paredes de tijolos brancos e madeira importada, altares nas extremidades e outros 
detalhes mostram o requinte e a técnica da construção. Os próprios dirigentes dos templos 
faziam, às vezes, de arquitetos, engenheiros e mestres-de-obras em nome dos deuses que 
representavam na terra. 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 15 
com uma superfície dura, produzida a partir de tijolos de argila cozidos. O 
rei, referindo-se à torre, chamou-a de Barzippa, que quer dizer “torre da 
língua”, para descrever, na própria língua caldéia, a confirmação de 
acontecimentos ocorridos num passado remoto. 
O pesquisador contemporâneo, professor Oppert foi enviado pelo 
governo francês para estudar as incrições e as traduziu, percebendo a 
semelhança da Barzippa, de Nabucodonosor, com a Borsippa, palavra de 
origem grega que usa o mesmo significado, de “torre da língua”, para 
descrever as ruínas da torre de Babel. Em Nabucodonosor pode-se perceber 
a identificação com a torre original de Borsippa. Essa é A Inscrição de 
Nabucodonosor Encontrada na Torre de Babel. 
 
“A torre, a casa eterna, que fundei e construí. 
Completei sua magnificência com prata, ouro, outros metais preciosos, 
pedras, tijolos esmaltados e madeira de lei. 
A primeira que é a casa da base da terra, 
o mais antigo monumento da Babilônia, eu a construí e a terminei. 
Exaltei sobremaneira seu topo com tijolos recobertos de cobre. 
Chamamos a outra, isto é, esta construção, a casa das sete luzes da terra, 
o mais antigo monumento de Borsippa. 
Um rei anterior a construiu (calculam que em 42 anos) mas não 
terminou seu topo. 
Desde uma época remota, as pessoas a abandonaram, porque se 
expressavam com palavras desordenadas. 
Desde esse tempo, o terremoto e o trovão desmancharam o barro cozido 
ao sol. 
Os tijolos da cobertura se fenderam, e a terra do interior espalhou-se em 
montões. 
Merodaque, o grande deus, despertou-me o desejo de reparar essa 
edificação. 
Não mudei a localização nem tirei os alicerces. 
Num mês afortunado, em dia auspicioso, empreendi a construção de 
pórticos ao redor dos montes de tijolos crus e da cobertura com 
tijolos cozidos ao fogo. 
Adaptei as rampas, coloquei a inscrição do meu nome no pórtico. 
Estendi minha mão para terminá-lo. E para exaltar sua fachada. 
Assim como deve ter sido nos dias de outrora, eu exaltei seu cume” 
(NABUCODONOSOR appud JEFFREY, 1998, p. 42. Grifo nosso). 
 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
16 
Outros tradutores e filólogos como Williams Loftus traduziram a 
inscrição acima. Muito se pode absorver do texto citado, preciosidades 
chamam a atenção, como: “um rei a construiu, mas não terminou seu 
topo”; confirmando os escritos de Gênesis em que Deus atuou 
interrompendo o trabalho dos construtores originais. Mais ainda, 
Nabucodonosor afirma que os construtores não terminaram a torre de 
Babel pelo fato de “desde uma época remota, as pessoas a abandonaram, 
ao expressar suas palavras sem ordem”. Eles não mais conseguiam ter 
controle sobre sua comunicação e linguagem, conforme é expresso no 
Livro dos Começos. Como em Gênesis, capítulo onze, versos de dois a 
oito, Deus cumpriu Seu propósito de povoar a terra, espalhando os 
homens; nos escritos cuneiformes das ruínas de Babilônia pode-se ver a 
comprovação histórica dos fatos. 
Não é errado buscar proteção, erigir cidades ou construir torres, o 
mal está na finalidade a que se propõem tais atos. Em Babel, a rebeldia 
mostrou-se atuante, não pecaram aqueles homens por fazer um abrigo, mas 
por querer ser igual a Deus, subestimando o Seu poder, pondo a vaidade e 
o egoísmo numa afronta à ordem direta por Ele dada. Deus não aceitou tal 
blasfêmia e resolveu dar cabo a seu plano. Em certo dia confundiu as 
línguas; com a desordem, muitos não se entendiam, cessando a construção 
da torre predecessora dos babilônios. As várias famílias espalharam-se pela 
terra, destarte, cumprindo o infalível plano de Deus. Quanto à dispersão 
Henry Halley (1994), de acordo com o que está escrito em Gênesis, 
capitulo 10, afirma que os descendentes de Cam rumaram para o sul, 
povoando a África e a Arábia; os jafelitas rumaram para o norte, fixando-se 
em volta dos mares Negro e Cáspio, assim como foram os progenitores das 
raças caucásicas da Europa e da Ásia; e os semitas fixaram-se na região 
central, ao norte do Eufrates e às suas margens, dentre eles destacando-se 
os judeus, sírios, assírios e elamitas. 
Deus fez os seres humanos limitados, finitos, deu-lhes seis dias para 
trabalhar e o sétimo para descansar. O homem é formado de corpo 
material, com nervos e músculos que, se usados indevidamente ou de 
forma exagerada, vão causar dor física. Portanto, o sofrimento não é, como 
querem alguns teólogos, fruto apenas do pecado humano, mas também da 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 17 
própria característica humana de finitude e limitações. Em Sua eterna 
sabedoria, Deus assim fez o homem, para que na dor seja capaz de 
perceber que certos limites foram ultrapassados e que, por isso, 
conseqüências podem advir de luxações e contusões corpóreas. Ora, o fato 
de ter o homem que estar atento a seus limites e a sua finitude, nada tem a 
ver com punição; expressa a bondade do Criador que, sendo infinito, 
através do dispositivo da dor, adverte o homem de suas necessidadesde 
repouso. 
Portanto, pode-se dizer que se as leis naturais não forem 
observadas, existe a possibilidade de dor e sofrimento. As limitações do 
homem são vistas já no período pré-queda, com o “estar sozinho” de Adão, 
a formação da mulher para ser um só com o homem, o desejo de ser igual a 
alguém infinito “conhecedor do bem e do mal”. No período pós-queda são 
inúmeras as limitações percebidas no decorrer da vivência humana. O 
sofrimento é produto das limitações humanas, o que vai diferi-lo do 
período pré-queda é o pecado. O pecado traz não a dor, mas a 
conseqüência da justiça divina sobre o pecador. 
Quando Deus pronunciou maldição no paraíso, que iria “multiplicar 
as dores da gravidez de Eva” (Gn: 3.16), implica algumas afirmações: que 
a dor já existia antes da queda, que a dor do parto era algo natural causado 
pelo afastamento dos ossos próximos à vagina, reponsáveis por expulsar o 
bebê que estava no útero, não tendo nada que ver com o pecado; que a dor 
não é punição divina, sendo ela fruto das limitações humanas. C.S. 
Lewis (LEWIS apud CAMPOS, 2001, p. 530) escreveu: “tente excluir a 
possibilidade de sofrimento que a ordem da natureza e da existência das 
vontades livres envolvem, e você verificará que você excluiu a vida em si 
mesma”. Sofrimento e dor não são necessariamente fruto do pecado, por 
isso, não devem ser identificados como tal. A dor não é uma exclusividade 
humana ou dos seres criados. O próprio Deus sofre e tem dor, sendo Ele 
Santo, Seu Espírito Se entristece (Is: 63.10;Ef: 4.30); mesmo Jesus não 
tendo pecados foi descrito por Isaías como “um varão de dores” (Is: 53.3 e 
4), sofrendo angústias e dores as mais variadas. Por esse caráter de ter 
sofrimentos, Deus é capaz de entender os que sofrem e, em Sua 
misericórdia, ter compaixão. Em tantas passagens, de Jó à cidade de 
Nínive, da escolha de Israel à realização de Seu plano, na brilhante estrela 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
18 
de Belém, provas da existência de um Deus compassivo são manifestas por 
toda a jornada, até que Ele retorne e Se faça em comunhão com o homem 
novamente. 
Após a queda, o sofrimento já existente foi acrescido pelo 
distanciamento entre o “Justo Criador” e a “desobediente criatura”, as 
conseqüências descritas em Gênesis três dão idéia de um sofrimento para 
maridos, esposas, filhos, animais, toda a criação. Assim ocorreu no Éden, o 
homem ficou com medo; em Babel, a síndrome do isolamento parecia algo 
terrivelmente arrasador, porque o homem havia falhado. A vastidão da 
terra, a auto-estima enfraquecida, seria mais fácil e atrativo encontrar 
alguém superior, mas não supremo. O homem envolto em culpa e pecado 
sente medo de Deus e Sua possível resposta para outras transgressões, por 
isso, planeja encontrar algo que lhe diminua o pesar. Pondo-se esses 
pontos, tem-se a idéia de um Deus iracundo, soberbo e prepotente, mas não 
é assim que Ele Se apresenta na criação; o capítulo um de Gênesis afirma: 
“Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom”, e após a queda do 
homem, o amor de Deus é latente ao oferecer um novo pacto, mesmo com 
o não cumprimento humano do primeiro, o Pacto das Obras, no verso 15 
do capítulo 3 de Gênesis está conclamada a vinda de um que possa vencer 
a ardilosidade da serpente. 
A culpa e o pecado adentraram o coração humano, como 
conseqüência, perdeu-se a intimidade com Deus. O pecado adentrou o 
coração humano. Assim, projetou-se no interior do homem uma 
divinização do palpável e sacralização do plausível, tornando necessária 
uma construção imaginária da complacência divina com os seres rebelados, 
formando-se seres mitificados7, numa tentativa de diminuir o remorso. A 
solidão implícita no coração humano, deferida pela necessidade religiosa 
de um ser superior, concomitada ao sentimento de culpa, remete ao íntimo 
 
7 O termo deriva de “Mito” que vem do grego, mythos, e tem por significado "contar", 
"narrar uma ficção". Sobre o mito é possível dizer que é uma história relacionada com as 
tradições cosmológicas e sobrenaturais de um povo, com seus deuses, sua cultura, seus 
heróis, suas crenças religiosas, etc, contada como se fosse verdadeira. O pensamento 
religioso dos povos primitivos se expressa quase exclusivamente através de mitos. O mito 
é a popularização de uma ficção, introduzida a partir de fatos reais, mas que torna-se 
grandemente modificada em sua essência, e contada como se fosse histórica e real. 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 19 
da alma a chamada “culpa teológica”8, disposta como ato e, portanto, 
envolto em implicações. 
A esse sentimento de culpa, assim como a muitos outros, trata-se de 
aceitá-lo e dispor-se a assumir as conseqüências ou a simplificação, não 
necessariamente solução de ignorar deliberadamente. É perfeitamente 
possível errar e não sentir culpa, todavia, as implicações continuam, 
independente do autor aceitar, repudiar ou ignorá-las. O domínio do 
consciente pode ser trabalhado por alguns homens, mas o cerne do 
subconsciente é surpreendentemente espontâneo, involuntário, não 
necessita de estímulos externos para ser gerido, independe da volição 
humana. A subjetivação da culpa, assume um papel que freqüentemente 
surge ao se fazer sentir ou pensar que algo está errado. Para Narramore 
(1981), os complexos de culpa podem ser fortes ou fracos, adequados ou 
inadequados, subdividindo-se em três categorias: medo do castigo, perda 
de auto-estima e um sentimento de solidão, rejeição ou isolamento. 
 O Deus Supremo continuou presente, mas o homem, envolto em 
culpa, não se apercebeu e sentiu-se só. A solidão é algo que atinge a todos 
os seres humanos em um período ou outro da vida. Algumas pessoas são 
atingidas por ela durante toda a vida. Ela traz consigo mais que uma 
sensação de desconforto, envolve-se na estima, destacando sentimentos 
que culminam na insatisfação, seja em construir relacionamentos ou 
manter as ligações produzidas no transcorrer das atividades. Esse problema 
comum, normalmente descrito como “uma das fontes mais universais do 
sofrimento humano” (HENRI, 1975, p. 15), não escolhe raça, cor, religião, 
classe ou idade; ao tomar consciência da falta de um contato significativo 
com outros, o ser humano torna-se solitário. Não se trata de isolamento; 
solidão e isolamento são diferentes, este se dá pela escolha voluntária de 
afastar-se de outras pessoas, trazendo a sensação de prazer, refrigério, 
agradabilidade; enquanto aquela traz a idéia de um envolvimento 
involuntário a exaurir as forças, por um penoso dissabor. Pode-se romper o 
 
8 Embora não seja aceita pela maioria dos Psiquiatras e Psicólogos, por sua aceitação 
implicar a admissão de que existem padrões absolutos e por sua existência a de alguém 
que os estabeleça, sendo, portanto, esse ser superior chamado de Deus. 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
20 
isolamento a qualquer tempo e retomar o curso que se lhe convier, 
enquanto a solidão aglutina-se na sensibilidade ainda que se a tente repelir. 
 O sentimento de abandono, desespero e necessidade intensa de um 
tipo de relacionamento, algo a que se possa apegar expropria o homem 
lasso, e então, ele se sente sem valor, culpado, indigno de um retorno às 
atividades antes executadas. Ellison Craig (1973), sugere a existência de 
três tipos de solidão: social, emocional e existencial. Segundo ele a solidão 
social se dá em um sentimento de ansiedade e vazio, na sensação de uma 
vida sem propósito. O indivíduo sente-se à margem da vida, nada lhe é 
internalizado como propósito fixo a alcançar, não tem forças para 
sociabilizar-se; a solidão emocional está intimamente ligada à perda ou 
ausência de uma relação psicossomática com uma pessoa ou um grupo; a 
solidão existencial se faz posta pelapercepção que se tem sensivelmente do 
isolamento em relação ao Criador, despertada pelo vazio de uma vida sem 
significado ou propósito. A despeito desse último item será discorrido mais 
à frente. Embora não haja muitos textos específicos a respeito do assunto a 
própria Bíblia tem em si relatos que versam sobre o mesmo. O próprio 
Autor da Vida afirma “não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma 
auxiliadora que lhe seja idônea” (Gn: 2.18). A solidão pode ter várias 
causas: o desenvolvimento, sem dúvida, é um marco contribuinte para a 
mesma. O mundo conturbado deixou os humanos carentes de ligação com 
seus semelhantes, mais distantes uns dos outros, trabalhos, plantações, 
pastoreio, a aquisição de habilidades por diferentes tipos de pessoas, a 
aceitação de si por outros, a dificuldade em confiar nas pessoas levam as 
crianças a desenvolverem uma incapacidade de relacionamentos íntimos. A 
baixa auto-estima e a sensação de rejeição são a base de grande parte da 
solidão. 
 As situações em que se encontram os indivíduos também podem 
construir neles o sentimento de solidão devido às condições especiais em 
que se encontram. A riqueza, viuvez, genialidade, solteirice, deformidade 
corpórea, causam uma retração comportamental pela forma que os 
“normais” os tratam, num afastamento voluntário. O resultado dessa 
condição de distanciamento físico pode ser uma solidão egoística; o fator 
psicológico está intimamente ligado à internalização de preceitos que 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 21 
tornam o indivíduo solitário, muitos têm a atitude derrotista, baixa auto-
estima a ponto de uma retração ou de armarem-se com uma atitude hostil, 
sentem medo e raramente são capazes de uma comunicação fluente. Os 
homens, mesmo vivendo em sociedade, isolam-se em suas comunidades, 
conhecem o outro que se faz presente, mas são ligados a suas próprias 
prioridades. A mudança de locais, o desenvolver-se numa lógica grupal 
com novas formas de se manter e o aprimoramento das técnicas, a 
indiferença ao mundo os torna reclusos em si mesmos, involuntariamente 
solitários. 
 Além de todas as causas postas, as causas espirituais assolam o 
coração humano desde os primórdios. Quando de sua decisão no paraíso, 
Adão e Eva poderiam escolher confiar em Deus e viver por Sua graça ou 
duvidar dEle e quebrar o elo de confiança que os unia. O fato de uma 
inquietação, um desobedecer voluntário, enche o coração de insegurança e 
faz um atribuir ao outro a culpa pelas conseqüências advindas do ato de 
repúdio. O homem culpa a Deus pelo que fez, procura viver como se Ele 
não existisse e sente em seu coração o vazio da perda, a falta de alguém 
maior que o proteja. Foi assim no Éden, foi assim com os que não entraram 
na arca com Noé, com os construtores de Babel e repetiu-se em espiral a 
desobediência humana. Ainda assim, as misericórdias de Deus 
permaneceram sobre a terra (Lm: 3.22). 
 A solidão ocasionada pelo desobedecer e fuga da presença do 
criador levou ao coração humano uma forte pressão, medo de estar 
sozinho, receio de animosidades. O homem necessita de arrependimento, 
vontade própria de querer voltar a ter relacionamento com o Criador, 
manter uma posição favorável a Deus. Só que não foi isso que ocorreu, a 
prepotência humana o impediu de querer voltar ao início. É óbvio e salutar 
que uma busca coletiva ou individual não necessariamente implica a 
absolvição incondicional e volta ao jardim do Éden. Seria agarrar-se ao 
Nihilismo Ético9, pondo Deus como igual ao homem e o pecado de Adão 
como um simples mal entendido. 
 
9 Doutrina filosófica que nega a existência do absoluto, afirma que não existem valores 
genuínos; a moralidade e os valores seriam artificiais, servindo a pessoas e a classes, mas 
nada tendo a ver com a verdade. 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
22 
 Por que voltar a Deus ou para que arrependimento – são perguntas 
muito usuais. Ele prometeu enviar O nascido de mulher para pisar a cabeça 
da serpente. Pode-se dizer que, a partir daí, a salvação se daria pela graça 
divina. Deus cria uma forma de o homem voltar à Sua presença, sem 
precisar abrir mão de Sua justiça e soberania. Adão e Eva pecaram por não 
confiar, Deus permitiu-lhes a livre escolha e a decisão foi tomada por eles. 
Isso implicou a queda deles e de sua descendência. Ao arrepender-se, o 
homem não se livra da culpa, as conseqüências continuariam a advir e ele 
não voltaria ao Éden, mas, pela confiança de que o Criador pode cuidar, e a 
decisão de estar a seu lado faz do homem alguém melhor para si, para seu 
próximo e para a humanidade. Não se trata de uma prova, barganha ou 
troca, mas pessoas que estão morrendo buscam a um ser vivificador. 
A precisão de sentir-se seguro e a não aceitação de uma solidão 
total e completa fez o homem se aproximar de seus pares e juntos 
contemplaram a criação. Com o passar do tempo, por não entender o 
Criador; Sua voz quase muda aos ouvidos humanos soava distante dos 
corações dilacerados pelo pecado, os fez querer aproximar-se, numa ânsia 
quase infantil de estar no seio de alguém que se importasse, mas não 
apenas isso, que se fizesse corporeamente presente, num limiar de toque 
liberador de tensões e inteligência emocional, assim nasceram os deuses: 
seres dicotômicos transcendentes, verborrágicos, mas que estavam nos 
pensamentos do homem como lembranças vivas, cerne, condescendentes 
rins, amantes do homo aviltado, soavam suas vozes como o barulho de 
muitas águas em arrulho selvático, sopros de refrigério em ventos ciciosos, 
de brisa a vendavais, tão suaves quanto o entardecer, fortes como chuva 
torrencial e voluptuosos como o sol de um dia perfeito. Não se constituíam 
senhores de nada, não traziam presentes em seu alforje ou traços, tão 
somente refletiam de forma turva a imagem do carisma que se-lhes era 
outorgado. Um sentimento de confiança, credibilidade e presença 
incondicional. Palpável em corpos insólitos e olhos atentos. Os braços que 
não abraçam tinham em seus símbolos a formação de partes mensuráveis, 
continuadas e que poderiam estender-se tanto para a bênção de uma 
colheita e prosperidade quanto para o castigo de um não reconhecimento 
de sua figura. A construção escolhida para suprir um sentimento de 
carência imposto pela religiosidade humana. Quanto a isso, Alexander Jr. 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 23 
(1986, p. 5) escreveu, conceituando religião: “No sentido mais 
fundamental, a religião de uma pessoa é a apreensão que ela tem do 
significado do universo, aquela filosofia de vida, aquele conjunto de 
valores que comandam seu íntimo ser, orientando-a nos alvos a alcançar na 
vida, dirigindo suas atitudes, suas ações”. 
A criatura mitificada passa a ser objeto de adoração e não seu homo 
criador, o elementar se torna latente pelo fato de o ente sacralizado ser 
incapaz de transpor os domínios do intelecto de quem o criou. Daí a 
mitificação ao colocar como senhor alguém que serve, não como prestador 
de serviço, mas sim como aproveitável para fins rituais e objetos de culto. 
O ser ontológico passa por um processo de sacralização, outrora relegado 
ao “Deus desconhecido” e se torna palpável, num processo de aculturação, 
rodeado de simbolismos inteligíveis por alguns, inimagináveis por outros. 
Destarte, seria utopia querer que vários povos, cercados por 
diferentes situações, em períodos difusos, sem contato direto, trabalhassem 
a concepção de um todo, por suas partes de forma homogênea. A figura de 
um lugar aprazível, reconfortante, onde os homens pudessem usufruir sua 
humanidade se faz presente no pensamento antigo, desde os escritos 
fenício-sumérios aos latino-helênicos. 
O que se percebe não é uma disposição por provar a existência de 
uma divindade, nem mesmo a apropriação de conceitos propostos 
teleologicamente.O culto, a família, a divindade são assuntos que 
normalmente convergem para o que se chama “aculturação primitiva”. Não 
é o ato em si que demonstra as peculiaridades em heterógenas populações, 
e sim a motivação que as rodeia. Em linhas gerais e a grosso modo pode-se 
dizer que não é o homem que cria o mito, nem o mito que cria o homem, 
mas a abrangência das relações sócio-culturais insere direta ou 
indiretamente subsídios para que o processo de construção concretizante 
abstraia de suas formas a essência de fundamentos psicossomáticos numa 
reconstrução memorial coletiva para tornar-se interação popular. 
É um grave erro considerar a mitologia um acervo de lendas, ou 
validá-la para estudo apenas quando, em uma pretensa cientificidade, é 
formulada pelo critério da comparação. Há obras e teorias especializadas 
para tratar das diversas civilizações e quanto a suas origens, existem 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
24 
trabalhos de estudiosos cultos, não havendo necessidade de se aprofundar 
no assunto para não fugir do objetivo de contar o encontro da busca 
humana com a providência divina. 
 Nas vastas histórias dos povos fulguram memórias que se 
reproduzem como lembranças dos fatos, memória da memória, lembrança 
da memória aludida, contos orais de gerações viventes em tempos, modos e 
até locais diferentes. Situações que preconizam mitos. A mitologia não é 
somente um fantástico tecido de lendas por vezes atemporais, ao menos 
raras as vezes que se consegue identificar suas origens, é desnecessária a 
“obsessão pela simbologia”, ainda que no contemporâneo pensador francês 
Darnton, qualquer teórico tente nela buscar explicações de inícios e 
significâncias. As origens das lendas e mitos afunilam-se para origens 
comuns, ainda que a distância física seja considerável, precisa-se ter em 
mente os êxodos e migrações. De onde, por que e em que contexto os 
homens se interessaram por determinados mitos e lendas estão contidos nas 
referências descritas ao fim do trabalho. 
A vida social, sem dúvida alguma, inicia-se no seio familiar, essa é 
a primeira e, por que não dizer, a base das relações sociais. A unidade 
familiar básica, composta por indivíduos acasalados, com filhos não-
adultos, tem em si o ponto de partida para um agregado de famílias e 
indivíduos adultos avulsos, o que constitui, a médio e longo prazo, 
unidades sociais funcionais que perdem, ganham ou modificam 
características coletivamente dimensionadas para sistemas sociais em seu 
início organizacional do coletivo. 
 É complexo definir esses grupos, ou, ainda, pô-los como paralelos 
ou seqüenciais por teorias ontológicas centrantes na progressão do social, 
tanto quanto inseri-los numa evolução das espécies com lacunas tantas 
vezes preenchidas por nihilismos pragmáticos. Não há acordo geral quanto 
ao termo que se deve empregar para designar os grupos que possuem 
membros bem constantes, socialmente integrados. Comumente têm sido 
mencionados como aldeias, hordas e bandos. O termo aldeia dá a entender 
uma vida sedentária de um nomadismo até certo ponto superado, em 
assentamentos de habitações mais bem construídas para moradas 
permanentes. Horda traz em si as sugestões tantas vezes explícitas que 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 25 
alguns “sociólogos evolucionistas” propuseram tendo por ponto de partida 
a promiscuidade de grupos desorganizados vivendo como uma massa de 
selvagens. O termo bando é o que tem em aplicabilidade o menor número 
de conotações, por isso será usado para designar esses grupos sociais do 
período “pré-civilizatório”. 
 A vida em bandos traz inúmeras vantagens: a locomoção no espaço 
físico onde se está inserido torna-se menos penosa quando da busca 
coletiva e divisão dos provimentos para consumo; a defesa contra 
eventuais ameaças; o movimentar-se mais rapidamente para a busca de 
alimentos sem a presença das mulheres, crianças e idosos, que ficavam em 
abrigos trabalhados em maior ou menor proporção, de acordo com a 
necessidade da estadia. Muitos homens saíam para caçar enquanto as 
crianças, mulheres e idosos ficavam nos abrigos que inicialmente eram 
improvisados, passando, mais tarde, a ter um caráter de assentamento com 
durabilidade centrada na constância e tempo que se permanecia naqueles 
locais. A quantidade de víveres disponível é influenciada tanto pela forma 
como se dá a coleta como pelos recursos que o território disponibiliza. 
Novas técnicas, nível de facilidade para encontro dos alimentos, o próprio 
território em que se está inserido, assim como os perigos e hostilidades, 
fizeram os grupos deslocarem-se para localidades distintas, com a quantia 
de seus membros sendo maior ou menor. A introdução de novas 
tecnologias, o domínio sobre certos grupos animais, o plantio e o reclame 
do território a modo de, se preciso for, até defendê-lo contra invasores 
levam os homens a se distanciarem mais ainda uns dos outros. Com o 
aumento da qualidade de vida e do amplo povoamento, ocasiona-se uma 
densidade demográfica, um grupo expressivo de pessoas que, beneficiadas 
pela influência das condições climáticas, começa a expandir-se em busca 
de novas possibilidades. Alguns tornaram-se agricultores, outros criadores 
de gado bovino, ovino, caprino, e outros se tornaram criadores de cavalo. 
 Esses seres têm como pauta no íntimo de sua vida social coletiva, 
além da dependência físico-cultural do grupo em que está inserido, 
parecem estar pré-disposto a dois fatores psicológicos produtores de sua 
subdivisão grupal: a necessidade de sentir-se seguro por pertencer a um 
grupo grande o suficiente para se relacionar e contactar com outros 
membros e ao mesmo tempo pequeno o suficiente para estabelecer relações 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
26 
pessoais com a maioria de seus membros. Portanto, pode-se dizer que, um 
grupo, ao tornar-se grande segrega-se em pequenos grupos. Isso faz com 
que a necessidade de pertencer a um grupo abrangente e ao mesmo tempo 
estrito proposto pela psikë humana seja suprida. É claro que existem seres 
que preferem estar isolados de tudo e de todos, mas essa é uma pequena 
minoria. 
 Com o constante crescimento dos grupos e suas conseqüentes 
subdivisões, os laços com os predecessores se estreitaram pela 
consangüinidade e se alargam pela sociabilidade. Assim, dos distintos 
grupos nascem diversas culturas e formas de viver que são facilmente 
observáveis quando da comparação de grupos de uma mesma tribo, 
notoriamente diferem uns dos outros, mais ainda na proposição entre tribos 
de uma mesma gen, assim há a ruptura. O que vai diferir uma tribo de um 
agregado de bandos é o sentimento de unidade que existe em seus 
membros. Há, na tribo, um território comum, uma língua, uma identidade, 
não ainda com organizações formais, nem cerimônias ou assembléias 
tribais em dados períodos pré-estabelecidos. A organização formal das 
tribos varia e, de acordo com as diferenças ou ajuntamentos tribais. 
Os grupos que aprenderam as técnicas da criação de animais tinham 
em comum o nomadismo, não tendo como os agricultores uma fixação 
permanente num território onde se pudesse explorar os víveres, pouco se 
assemelhavam aos grupos que se fixaram às margens das águas das quais 
retiram a pesca que os sustentavam, juntamente com os frutos coletados. 
Os criadores de animais, em suas peregrinações em busca de melhores 
pastagens, mais se assemelham aos caçadores que, ao ter uma área 
escasseada de suprimentos alimentícios, precisam migrar para outras 
localidades. 
 Ao se reportar ao fato da existência de agricultores e pastores, 
existem várias correntes divergentes entre si e concomitantes no ideal de 
expor a presença dos mesmos. Deve-se em meio a tantas corroborações e 
incursões, ter em vista que esses seres conhecedores do plantio e do 
pastoreio, seja pela teoria bíblica de um Caim agricultor e umAbel pastor 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 27 
ou pelo princípio das evoluções iniciadas no Pleistoceno10, com projeções 
Paleolítica, Mesolítica e Neolítica formaram as bases da sociedade humana 
ao se juntarem em vilas, cultivando grãos, criando gado, desenvolvendo a 
cerâmica, tendo a concepção de um sedentarismo arraigado pela 
formulação de casas permanentes, numa vida coletiva de iniciantes 
produtores de utensílios. 
 Nesse período existiam duas espécies diferentes de pastores: os que 
cuidavam dos animais e os que cuidavam dos humanos. Os hebreus, ao 
referir-se a pastores, utilizavam o vocábulo e a forma participial ro‘er, 
tendo os gregos chamado-os de poimën. Mesmo Homero, um dos grandes 
escritores gregos, refere-se aos reis e governadores como sendo pastores11. 
Os pastores tinham a árdua missão de cuidar do rebanho, levá-lo para 
pastar, precisando, por vezes, deslocar-se em longas jornadas em busca de 
ervas e água em meio a uma terra nem sempre favorável à pastagem. 
Normalmente moravam em tendas e levavam consigo um saco com 
pertences para satisfazer suas necessidades pessoais essenciais. Essa 
honrada profissão foi também atribuída a Deus como sendo o Pastor de 
Israel12 e a Jesus, Seu Filho (Jo: 10). 
Assim, os agricultores e criadores dão inicio à mitificação de seres, 
baseando-se nas histórias da vida cotidiana para atrelá-los a si. Indícios 
paleológicos sugerem a existência da agricultura por volta de 7500 a. C., na 
Palestina, no vale do Jordão, não apenas ao longo do próprio rio, mas 
também ao lado dos ribeiros que desembocam nele. Alguns escritores 
afirmam ter a agricultura, precedente da pecuária, se estabelecido na região 
de Jericó, na Cisjordânia, hoje sob tutela de Israel. A agricultura consistia 
não somente no cultivo de plantas, mas também na coleta de frutos e 
sementes. No vale do Jordão, além de cultivo de cereais, vários legumes 
como lentilhas, ervilhas e feijões formavam a agricultura secundária. As 
colinas mais baixas permitiam o plantio de videiras, oliveiras, leguminosos 
e árvores frutíferas, o que as acresceu como utilização cereal para homens 
e animais. 
 
10 Pretenso período de grandes glaciações de 600.000 a.C. a 11.000 a.C. 
11 Ilíada, I, 263, II, 243, etc. 
12 Gn: 49.24; Sl: 23.1; 80.1. 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
28 
A Crescente Fértil tem, de forma heterogênea, o desenvolvimento 
de seus povos. As principais culturas de cereais eram o trigo e a cevada, 
sendo o primeiro mais valioso, contudo, a cevada poderia ser plantada em 
solos mais pobres tendo a vantagem de estar pronta para colheita em um 
período mais curto de tempo. O maior inimigo do lavrador era a seca, se 
qualquer dos períodos de chuva falhasse, a agricultura de certos cereais 
poderia estar comprometida. As encostas das montanhas eram utilizadas 
para plantio, reservas florestais e pomares, bem como a construção de 
eiras, perto das vilas que se encontravam nessas encostas. A Bíblia sugere 
quatro expressões usualmente traduzidas como agricultores: ‘ikkãr, 
traduzido como o homem que trabalha com arado; yõghëbh, como o 
homem que trabalha com pá, furando ou escavando; ‘ïsh ’ªdhâmâ, 
referente há um fazendeiro agricultor; e geõrgos, é o agricultor fazendeiro 
do Novo Testamento, aquele que trabalha a terra. 
Os homens foram criando animais, plantando e, aos poucos, 
subindo os montes, fazendo lá sua morada e, conseqüentemente, 
estabelecendo seu modo de vida em sociedade. Quanto a essa questão 
Braidwood escreve: 
 
(...) as encostas das montanhas e os vale podem ser cultivados sem 
grande dificuldade. No caso da Síria e da Palestina, há que se considerar 
a terra fértil e a chuva de inverno como elementos favoráveis ao plantio, 
e as montanhas razoavelmente verdejantes como local adequado ao 
pastoreio. Um local ‘feito de encomenda para agricultores principiantes’ 
que poderiam ‘levar uma vida aprazível, sem muito trabalho’. A extensão 
larga de terras permitiria ainda pequenos deslocamentos por parte dos 
grupos por ocasião do esgotamento do solo. Já no sul do Egito e da 
Mesopotâmia, as condições geoclimáticas eram (e continuam sendo) 
bastante diferentes. A chuva, nesses locais, é praticamente inexistente a 
fertilidade da terra, após as cheias, é excelente. Mas para ela ser utilizada 
pela agricultura, de forma sistemática, e os rios precisam ser domados 
(BRAIDWOOD appud PINSKY, p. 43 e 44). 
 
Com o avanço das relações sociais e a diversidade de grupos 
humanos espalhados pela terra, constrói-se junto a essas sociedades 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 29 
coletoras, pastoras, agricultoras, sejam elas seminômades ou pré-
sedentárias um culto que de natural animista, anteriormente zoolátrico e 
celestial, passou a formas de culto mais trabalhadas com ritos não apenas 
de devoção, mas num estágio um pouco acima de institucionalização do 
serviço religioso, correspondendo a determinados segmentos em cada 
sociedade, podendo ser proferido apenas pelos escolhidos e iniciados nas 
“ciências ocultas” ou, ainda, o que chamam de o representante da 
divindade na terra. Durante o período de transição em cada grupo formado 
para uma união coletiva de maior propriedade nos estreitamentos de laços e 
dominação dos mais fortes aos mais fracos, seja pela força, coação, 
construção de um ideal coletivo ou instituição das práticas religiosas, os 
homens encontraram uma forma de expressão para seus pensamentos, 
viram em corpos celestes e na terra as coisas que não podiam controlar um 
“espírito” que movia e tinha capacidade de intervir nos assuntos humanos. 
A divindade lunar, o deus sol, o trovão, a montanha sagrada, os espíritos 
do fogo, do vento, da água poderiam trazer coisas boas ou ruins aos 
homens, por isso deveriam ser respeitados e tratados como seres de 
grandeza maior que a humana. 
Chega-se, assim, a mais uma etapa do pensamento religioso, a 
institucionalização, ainda que informal, de uma conduta composta por 
elementos de persuasão, referendados pelo poder da liderança tribal, onde 
um líder religioso explanava as necessidades de conduta e atividades 
místicas para agradar aos seres ontológicos. Para tais atividades, utilizou-
se com freqüência de observância da natureza e contemplação dos corpos 
celestes e artifícios ritualísticos. Como destaque, em quase todas as 
religiões antigas, tem-se a utilização do óleo empregado nas mais diversas 
circunstâncias, para os mais diversos propósitos, dos medicinais, místicos, 
sacramentais aos religiosos. 
Nas várias populações que tinham como objeto de culto um ser 
venerado o óleo desempenhou papel importante, porque através de sua 
simbologia se dava crédito a determinados feitos, propósitos e/ou 
perspectivas futuristas. É bem verdade que nem todas as gens ou famílias 
tiveram acesso a esse tipo de ungüento, contudo, o seu caráter purificador, 
equiparado à limpeza atuou em variados locais como dádiva divina, forma 
de aproximar as pessoas de seus deuses. Essa aproximação pode se dar de 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
30 
forma medicinal onde, como numa equiparação feita à água, que limpa e 
purifica o corpo das sujeiras que precisam ser retiradas, para que não se 
constitua uma crosta, dificultando a pele de expelir o calor interno seja 
através de suor ou o aquecer dos vasos contingentes de “sangue quente” 
que ficam próximos à derme, ou ainda, causando um contraste calor – 
corpo – sujeira, tendo por efeito um odor desagradável, o óleo limpa o 
corpo ferido, propicia uma camada protetora contra impurezas. 
Não se usava apenas o óleo, mas este era misturado a ingredientes 
adicionais, numa época onde a medicação era exclusivamente natural. A 
unção terapêutica, Àleiphô, era amplamente utilizada. Os videntes ou 
sacerdotes,como mais tarde foram chamados, tinham um conhecimento 
das plantas de sua utilização medicamentosa por isso faziam suas porções e 
as colocavam sobre a pessoa necessitada de tratamento para cura corpórea 
de suas patologias. Nas religiões místicas da Península Balcânica, nas 
tribos indo-germânicas que povoaram a Europa e, ainda, nos povos 
americanos, a unção cerimonial era feita nas adorações prostradas aos seres 
sagrados, nos cultos ao divino. A aplicação do “óleo orado” ou consagrado 
a divindade, possui como elemento em si o precioso poder espiritual da 
“oração da bênção”. 
O animismo cria numa grade quantidade de divindades como fica 
claro na conversa de Sócrates com Eutífron (Platão, 1999), sendo elas 
deuses e demônios, vindos da mesma essência celeste, difusos, nem 
sempre amistosos, por vezes opostos entre si. O óleo era utilizado para 
untar lugares, objetos e até pessoas como forma de acalmar os deuses, 
atribuindo ao material inerte Múnus espiritual. 
O sacramento, Mystêrion, era a forma de aplicação comum para se 
aplicar o óleo durante os rituais de purificação da alma, do grego Psychsê, 
a sacralização, normalmente, estava ligada ao ato de uma busca em separar 
o estado natural do homem com sua separação para o serviço divino. 
Assim com o seu espírito, do grego Pneuma, poderia ficar livre para agir 
em nome dos seus deuses, sendo esses homens separados para lhe 
representar e prestar-lhes serviços, seja através de sacrifícios de seres, do 
hebraico Nephesh, ou no cotidiano em seus grupos tribais. O fim religioso 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 31 
da utilização era ungir o material utilizado no culto, santificar o local, 
aspergir sobre os seres uma corroboração sobrenatural ratificando o servo. 
No caso judaico, há algo de interessante no fato de o óleo com fins 
religiosos ser aplicado apenas em pessoas separadas para os fins sagrados 
do sacerdócio e do governo: os ungidos do Senhor. Essa unção religiosa 
feita de público servia para simbolizar a dádiva do Espírito de Deus aos 
homens, e a testificação da permissão de seu Deus – Yahweh, “eu sou o 
que sou” Êxodo 3:11-15 - para que pudesse guiar o povo em seus ensinos e 
no cumprimento da lei. 
Esse Deus, YHWH, preocupa-se com o povo. O “Deus vivo” instrui 
aos Seus como deveria ser a unção dos escolhidos e dos objetos separados 
do uso comum para o sagrado. Onézio Figueiredo (2001, p.37), afirma: 
 
A composição e aplicabilidade do óleo sagrado foram estabelecidas por 
Deus (Ex 30.23-31). Não se poderia ungir com o referido óleo nenhuma 
pessoa que não fosse sacerdote ou exercesse função de natureza 
sacerdotal como o rei, por exemplo. 
 
Na Bíblia, Deus afirma categoricamente como o óleo deveria ser 
aplicado, portanto, não poderia ser feito fora do propósito determinado por 
Deus e a proibição de modificar-lhe a composição: “Não se ungirá com ele 
o corpo do homem que não seja sacerdote, nem fareis outro semelhante, da 
mesma composição; é santo, e será santo para vós. Qualquer que compuser 
óleo igual a este, ou dele puser sobre um estranho, será eliminado do seu 
povo” (Êxodo: 30. 32 e 33). Ao utilizar óleo como ungüento religioso e 
colocá-lo sobre pessoas que não foram “consagradas para o serviço de 
Deus”, no formato que Ele estabeleceu em Suas Sagradas Escrituras, se 
está caindo no erro descrito nos versículos há pouco citados. 
Muitos povos passaram por todo esse processo ritualístico e de 
grupos familiares até se tornar grandes civilizações. Com toda uma 
perspectiva e construção social em decorrência das relações estabelecidas 
entre seus entes. No sentido histórico o termo civilização possui um 
significado diferente do sociológico, embora ligado a ele. Fernand Braudel 
(1987, p. 33 e 55), em sua obra Grammaire des Civilisations, trabalha o 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
32 
conceito histórico de civilização a partir do processo sociocultural definido 
a partir de alguns requisitos, sendo eles: a ocupação estável de um território 
determinado, por uma sociedade especifica, com certas características 
econômicas, uma certa mentalidade coletiva e uma certa continuidade 
histórica. Uma análise conceitual bem parecida é feita por Hélio Jaguaribe, 
em sua obra intitulada “Um Estudo Crítico da História”. Ele versa 
modificadamente o conceito de Braudel tendo a civilização, por 
características essenciais: 
 
Um sistema cultural com continuidade histórica, associado a uma ou 
mais sociedade que alcançaram o estágio de civilização no sentido 
socioantropológico, ocupando de forma estável um território que inclua 
uma ou mais cidades, empregando de forma duradoura uma ou mais 
línguas, com a respectiva escrita, uma religião ou cosmovisão especifica, 
dotado de técnicas autônomas para assegurar sua subsistência estável no 
ambiente natural e humano, inclusive elementos de autodefesa e dotado 
de condições culturais adequadas para garantir sua auto-ordenação 
autônoma (JAGUARIBE, 2001, 54). 
 
Os grupos sociais não mais agem em tribos, seu desenvolvimento 
os transformou em sociedades. Muitos esqueceram sua linhagem em 
comum ou fizeram prevalecer os interesses próprios em detrimento de 
outros. A história da humanidade é tão diversa quanto conflitante no 
relacionamento entre os povos. Os seres humanos praticam atos que 
nenhum outro ser teria a audácia. É um desconstruir conflitante, 
esmagador, que se apropria dos séculos sociáveis transformando-os em 
sociedades seculares, distantes de seu original propósito, indiferentes com 
o mundo a sua volta. Noventa por cento das obras humanas produzidas, 
como literatura, artes, bibliotecas, templos, cidades foram destruídas em 
guerras, embates e vis contendas, o povo que restou é testemunha de um 
mal contagioso que distorceu o propósito humano. 
A explicação para tais atos é encontrada em algumas sociedades 
que através de seus escritos antigos e detalhados mostram a realidade dos 
acontecimentos. A esses escritos os judeus dão o nome de “Torah”; os 
muçulmanos chamam de “Taurat”; e os cristãos chamam de “livros da 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 33 
lei”. Nesses escritos, o problema não apenas é manifesto, os seus motivos, 
a fora de sua apresentação fica clara no Gênesis, em seus onze primeiros 
capítulos. O que se segue é, no início de tudo, uma criação gloriosamente 
original e “boa”, onde o Criador olha para a criação ao fim do sexto dia e 
vê que todas as coisas que tinha feito eram muito boas. A partir do capítulo 
terceiro a entrada de um poder rebelde, maligno sobre-humano, 
personalizado, sendo mais que uma força age para a destruição; o que se 
segue é uma humanidade envolvida nessa rebeldia e mantida sob o poder 
desse mal. 
A “Toráh”, a “Taurat” e os “livros da lei”, compilações do 
mosaico pensamento por inspiração divina, tem no primeiro livro a idéia de 
origem geral humana, do capitulo um até o onze, onde em sua primeira 
parte expõe a do inicio de tudo até a pré-história de Abraão, e a história dos 
patriarcas a começar por Abraão, ser considerado o primeiro judeu nascido 
em meio à idolatria e depravações de seu tempo em Ur da Caldéia, teve um 
modificar em sua vida partindo de um encontro transcendental com único e 
verdadeiro Deus, o livro de Gênesis narra do começo de tudo até a chegada 
de Jacó e seus filhos ao Egito, ou seja, tem início a história de salvação dos 
eleitos. 
E Adão, Sete, Enoque, Noé, Sem, Melquisedeque, o que ocorreu 
com eles? O livre-arbítrio acabou quando Adão e Eva escolheram 
desobedecer a Deus. Havia a chance de obedecê-Lo e desobedecê-Lo, 
Deus não faz reféns, não tranca homens em Seu mundo e joga a chave fora. 
A chance que se teve em escolher a vontade de Deus ou a própria vontade 
cessou quando da escolha da desobediência, porque Deus disse para não 
comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. O homem pecou e o 
pecado contaminouo seu ser, o Santíssimo não poderia simplesmente 
aceitar esse ato. A partir de então, Deus planejou Seu plano redentor 
manifesto em Gênesis 3.15, homens e mulheres teriam a chance de retornar 
a Sua presença, bastaria buscar Sua vontade. 
Muitas nações, na antigüidade pensaram numa criação. A doutrina 
bíblica em contraste com as teorias científicas tem não a investigação, mas 
sim, o propósito ético e religioso, porque a criação não se confina apenas 
ao Gênesis, toda a Bíblia, em ambos os Testamentos fala do ato criativo 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
34 
como sendo este compreendido pela fé. Em Hebreus: 11.3 está escrito: 
“pela fé entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus”. 
Isso significa que a revelação divina é a base da doutrina criadora 
variegadamente atribuída a todas as três pessoas da trindade. 
Diante de tamanha grandeza do universo no qual está inserida a 
terra, ou ainda, ao contemplar a beleza, perfumosa e delicada de uma flor, 
o espírito humano é levado a indagar de onde vêm coisas tão admiráveis, 
qual sua origem e quem os criou. O pórtico da fé – assim é chamado o 
livro de Gênesis por alguns autores – objeta ao estudo da criação com 
extraordinária relevância para a fé. 
 
Ele responde às indagações do intelecto, por mais profundas que sejam; 
coloca o ser humano diante de um poder infinito e de uma inteligência 
sem limites, o Ser, que também é objeto de nossa fé, aquele em quem 
nós cremos; esse ser de infinita grandeza e perfeição, permite ao homem 
que lhe chame pai (VASSÃO, 1995, p. 5). 
 
No capítulo primeiro do livro de Gênesis se tem a mais fantástica 
narrativa de todos os tempos. Quando Deus Se faz manifesto ao expressar 
o poder de Sua glória Ele é extraordinariamente irresistível. Não há como 
detê-Lo nem como dizer que não está a contento, porque Ele faz e, mas que 
isso, seu poder criador é tão profundo em ações e mantenedor em 
desenvolvimento que não há como superá-Lo. Algo tremendo, abrangente, 
completo e ilimitado. Um Deus eficaz que promove a Seu bel-prazer o 
criar e o agir de acordo com Sua vontade, dentro de Seu querer. 
A criação é proferida por toda a Bíblia, muitos autores têm se atido 
apenas ao capítulo um de Gênesis, enquanto no conjunto de textos que vai 
da criação ao pecado, explícito no capítulo dois, aparece a sustentação do 
argumento criativo, como episódio real da criação trabalhando mais 
detalhadamente o sexto dia. Portanto, os capítulos um e dois não são duas 
histórias diferentes do mesmo fato e sim, dois fatos diferentes e sucessivos 
na mesma história. 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 35 
Ao ter a visão da criação divina, Moisés a descreveu no primeiro 
livro da Bíblia chamado Gênesis, vale ressaltar que quem escreveu o livro 
foi Deus por Sua inspiração e presença ativa diante daquele que foi apenas 
o instrumento para tal, Moisés. A finalidade do Gênesis não é provar a 
existência de Deus ou Seus planos, mas sim, dar a conhecer a “revelação 
de Deus aos homens”. Segundo o Dr. John Davis, o livro de Gênesis pode 
ser dividido e analisado em três seções: o resumo da história da terra e do 
universo em suas relações com a divindade e introdução à história da 
humanidade; esboço da história da raça humana antes de Abraão e a 
introdução à história do povo escolhido; a história do povo escolhido, 
desde Abraão até a permanência dos israelitas no Egito. Ainda se pode 
citar o notável escritor inglês C.H. Mackintosh, referindo-se ao Gênesis 
com as seguintes palavras: 
 
Existe qualquer coisa de particularmente notável na maneira como o 
Espírito Santo abre este livro sublime. Ele nos apresenta, imediatamente, 
a Deus, na plenitude essencial de seu Ser e no isolamento da sua atuação 
toda a matéria preliminar é dispensada. É a Deus que somos trazidos. 
Ouvimo-lo, de fato, quebrando o silêncio e brilhando sobre as trevas da 
terra, com o propósito de fomentar um mundo no qual pudesse revelar 
seu poder eterno e a sua divindade (VASSÃO, 1995, p. 2). 
 
Esse princípio estrutural divinamente inspirado apresenta diversas 
formas de apreciação, dentre elas pode-se destacar a do Dr. Robert Lee 
que, ao estudar a história primitiva, enumera seis princípios ou começos 
referidos no livro do Gênesis, sendo esses princípios: do universo material 
(1.1-25); da raça humana (1.26 a 2); da civilização ímpia (4.16 a 9); das 
nações do mundo (10); da multiplicação das línguas (11); da raça hebraica 
(12 a 50). 
A Bíblia apresenta o plano de Deus de uma forma crescente, do 
mais simples para o mais complexo, conforme Sua criação. E aqui não se 
está sugerindo que há simplicidade na criação das coisas iniciais, e sim, 
que para a sobrevivência de determinados seres ou acondicionamento de 
outros faz-se necessário criações primeiras. Por esses admiráveis feitos, a 
criação é imensurável à mentalidade humana, ainda assim, não se pode 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
36 
confundir a simplicidade do inicial ato criativo com simulacro. Na 
construção de astros, planetas, estrelas, galáxias, uma variedade de vida, 
tudo isso poderia ter sido feito em um só instante, contudo, preferiu seguir 
a sabedoria de Seu plano criador. 
 Quando se trata do relato bíblico em que “formou o Senhor Deus 
o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o 
homem passou a ser alma vivente” (Gn: 2.7), muitos riem. A Bíblia está 
milhares de anos à frente dos cientistas e suas “descobertas exatas”. No 
Gênesis está contida a criação sobrenatural do homem, e muitos duvidaram 
pelo fato de ser relatado Deus ter-Se utilizado do simples “pó da terra” para 
formar elementos complexos e as moléculas componentes do ser humano. 
Após décadas de estudos e exames acerca dos componentes do corpo 
humano, foi descoberto pelos cientistas do Centro de Pesquisas da NASA 
que a argila e a terra contêm todos os elementos encontrados no ser 
humano. 
A narrativa em forma poética adaptada à mentalidade 
contemporânea de Moisés ensina que tudo vem de Deus e que, por isso, 
tudo, inclusive a matéria, é bom, pois foi Ele quem criou. Ele não se 
limitou apenas a criar todos os seres, os assiste constantemente. A 
linguagem utilizada para chamar dia é feita para que haja o entendimento 
da conformidade que são produzidas, não exprimindo cronograma 
temporal, e sim, um feito de tudo em seis dias, a perfeição do ato criador, 
nada mais necessitava ser criado, porque o plano havia sido executado “E 
viu Deus tudo quanto tinha feito e eis que era muito bom. Houve tarde e 
manhã no sexto dia” (Gn:1.31). 
Ao sétimo dia Deus descansou. Isso serve mais como simbologia 
para o descanso semanal hebraico e, mais tarde, cristão do que 
propriamente uma necessidade divina de descanso, pois continua Ele a 
manter as criaturas em sua existência e mantê-las em sua providência, além 
de algumas coisas hoje existentes que não são fruto da criação inicial, 
como o Arco da Aliança, a Nação Eleita, o Pecado, futuramente a 
construção da Nova Jerusalém, novos céus e nova terra. Deus continua 
ativo, apenas utilizou o mecanismo do descanso para que os homens 
percebam a necessidade corpórea que têm de repousar. 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 37 
 Os ensinos passados têm uma estrutura que pode ser dividida em 
três partes: a primeira, proveniente de uma criação; em segundo, ela se deu 
em estado caótico; em terceiro, passa a descrever a ordem de Deus para sua 
formação plena. A Bíblia edição Ecumênica afirma que Deus: 
 
Primeiro preparou três regiões: a sidérea (1º dia), a atmosférica (2º dia) e 
a terrestre (3º dia), e depois colocou nelas os respectivos habitantes: 
astros na região sidérea (4º dia); aves e peixes na atmosférica, porque a 
água e o ar são elementos tidos como da mesma espécie (5º dia); os 
animais na terrestre e, comoobra especial, o rei da criação para coroar 
tudo (6º dia) (Bíblia Ecumênica, 1967, p. 1). 
 
 No inicio de tudo, a contemplação da obra produzida chega a ser 
surpreendente. Moisés, ao relatar no Gênesis a criação, foi fiel ao que viu, 
contudo, não pôde ser tão preciso quanto qualquer ser humano tentaria e 
não conseguiria. Para ser mais preciso, imagine-se um ser letrado, homem 
culto, temente a Deus, que almeja Sua presença, nascido de um povo 
cativo, deixado à beira de um rio, cuidado por uma israelita – sua mãe -, 
criado como filho da princesa do Egito. Em que base um homem instruído 
na melhor ciência da época, a egípcia, poderia, com sua experiência de 
deserto e sentimentos humanos de quatro mil anos atrás, promover um 
destaque à visão dada por Deus? Esse homem tinha capacidade humana 
para compreender parcialmente as coisas dos homens, mas as coisas 
divinas, por mais que tentasse não compreendia o ato criativo revelado por 
Deus, como uma criança que vê seqüências feitas de um todo ao seu redor, 
o descreve sem compreender, ao certo, como ou por quê. 
Quando Moisés escreveu o livro para explicação dos começos, a 
sua mentalidade oriental de conhecimentos relacionados à astronomia, 
matemática, antropologia e geologia não era tão bem elaborada como o 
pensamento cognitivo atual. Vale ressaltar que o estudo da época esteve 
baseado na oralidade e percepção externa do mundo à volta. O fato de 
Deus tê-lo inspirado a escrever o primeiro livro da Bíblia não implica uma 
obrigação divina em atualizar conhecimentos centrados no homem e suas 
adaptações, ou ainda, cultivar algo “cientificamente salutar” para uma 
humanidade tão diversa. Deus quis mostrar que é possível tudo acontecer, a 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
38 
Sua sabedoria é loucura para os homens. Os céus, a terra, o firmamento, o 
mover de Sua presença espiritual em contraste com seu sopro de 
movimento frontalmente deparado sobre um refletir fulgurante de águas. 
Moisés ou qualquer outro homem, não poderia exprimir algo tão belo. 
A revelação não se faz apenas pelo poder divino, mas a capacitação 
a seres secularmente aculturados é latente na construção do entendimento a 
ser expresso para a compreensão de todos. Não se está dizendo que Deus 
se limita ao cerne humano; o que está posto é que a expressão divina, por 
obra de Sua inspiração, é manifestada de acordo como bem Lhe aprouver, 
contudo, para que a mensagem seja compreendida e Sua vontade 
manifestada, Ele permite a profusão simplificada de Suas manifestações 
para ter a humanidade o discernimento interpretativo que se faz posto. Em 
momento algum, no decorrer dos assuntos indicados e sua análise, se 
tentará diminuir Deus ou fazê-Lo humano em seu estado natural, mas a 
latência dada em todos os aspectos será o contraponto de uma relação em 
que o conhecimento cognitivo está para a compreensão, como a busca 
humana pelo divino está para o plano redentor. 
Há, na Bíblia, a mensuração de que um dia para Deus é como mil 
anos e mil anos como um dia, ou seja, o tempo divino não é cronológico, 
mas voluntário a Seu prazer, portanto, o estabelecimento de dias para 
criação não são, necessariamente, no sentido terreno, já que o fulgor da luz 
resplandecente divina vai-se firmar na constituição de luzeiros apenas no 
quarto dia. Por isso diz-se que esses dias são figurativos, tendo em si a 
essência de períodos à temporaneidade cronológica. 
 Ao tratar sobre a criação, os dias, o tempo e a relatividade, o autor 
escreve na revista do Seminário Presbiteriano do Sul (1996, p. 40): “A 
descrição do dia criativo parece indicar, (...), que o perfil do tempo nos 
primeiros seis dias era outro”. Esse que tem sido um campo de vastas 
interpretações e, por tentativas de interpretação apenas cronológica do 
tempo, transtorna pensadores que tentam exprimir o tempo real como o 
conhecido atualmente, para isso, acaso o Deus Poderoso não poderia 
construir, a Seu modo uma forma temporal que não a de vinte e quatro 
horas? É certo que sim. Existem alguns problemas em se interpretar a 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 39 
criação em tempo cronológico, Agostinho descreve com precisão e 
seriedade o assunto: 
 
Vemos que os dias conhecidos não têm tarde, senão em relação com o 
pôr-do-sol, nem manhã senão em relação com o seu nascimento. Pois 
bem, os três primeiros dias transcorrem sem sol, pois sua criação, 
segundo o Gênesis se deu no quarto dia (...) mas de que luz se trata e de 
que movimento alternativo? Sejam quais forem a tarde e a manhã feitas, 
é certo que nos escapam aos sentidos e não podemos entendê-lo tal qual, 
deve, sem a menor vacilação, ser crido (AGOSTINHO, 1990, p. 24-25). 
 
Por isso, diz-se que a criação aconteceu no tempo de Deus, 
incompreensível ao homem. Iniciou-se pela noite, seqüenciada pelo dia. 
Daí defender-se, entre os escolhidos de Deus, que o dia inicia-se com as 
trevas, como no primeiro dia, e tem fim com o entardecer sobrepujando a 
claridade da luz. 
Descreveu Moisés os dias criativos, numa espécie de tempo divino 
não cronológico, mas da vontade do Criador, assim sendo: no primeiro dia 
apareceu a energia universal e a luz cósmica; no segundo dia, ocorreu a 
expansão ou o que se chama firmamento, a separação entre águas de baixo 
e águas de cima13, o firmamento era concebido como uma abóbada que 
sustentava as águas superiores que caíam em forma de chuva; no terceiro, 
dia foram feitos os mares, terra seca e vegetação - é interessante que antes 
da vida animal Deus fez surgir a vegetação; no quarto, dia há o 
aparecimento do sol, da lua e dos astros, enquanto a terra tomava sua forma 
definitiva a cada dia da criação14; no quinto, dia foram criados animais 
aquáticos e aves, a água da terra, bem como as águas-sustentadas no 
firmamento, dão a idéia de uma vida primeira, iniciada no ambiente 
aquático, seja ele líquido como nos mares, rios e oceanos ou na atmosfera - 
 
13 Alguns teóricos acreditam que a divisão entre águas de baixo e de cima são ditas no 
sentido de: no primeiro, as águas serem subterrâneas e litosférica, enquanto no segundo 
sejam os cristais que formam as nuvens e, água no cosmo, como partículas encontradas 
por cientistas da NASA. 
14 Segundo alguns pensadores, já existia desde o primeiro dia, pelo fato de Deus 
determinar que o sistema revelasse sua operacionalidade. 
RR ee gg iinn ââ mm iioo BB oo nn ii ff áá cc ii oo dd ee LL iimm aa 
 
40 
nesse ponto os animais aquáticos e todas as aves do céu foram criados 
(Bará); no sexto dia, foram criados, em dois momentos distintos – no 
primeiro os animais terrestres, e no segundo o homem e a mulher15. Ao fim 
do sexto dia, Deus estava satisfeito com a realização de Seu plano, a 
criação estava de acordo com Seu agrado: “eis que era muito bom”; e ao 
sétimo dia descansou. 
 
 
 
 
15 Adão, em hebraico, significa “homem”. Como em hebraico “mulher”, Ishsha, parece 
derivar de Ish (varão), tanto o tradutor latim quanto o português tentaram imitar o jogo de 
palavras original. Ish, varão, homem. Ishsha, virago, mulher. Ao se falar que a mulher é 
formada de uma parte do homem, tenta-se estabelecer a unicidade representativa de 
ambos, a unidade do gênero humano. Assim quando se diz “uma só carne” quer se dizer 
corpo do indivíduo “uma só pessoa”. A união a ponto dos cônjuges formarem uma só 
pessoa. 
OO MM oo nn tt ee :: EE mm bb uu ss cc aa dd oo AA ll tt íí ss ss ii mm oo 41 
 
 
 
CAPÍTULO II 
 
OOOO Espaço Sagrado 
 
 
 
necessidade de refúgio em meio a adversidades provocadas 
intentantes contra a vida humana fez nascer, em diversos povos, o 
espírito de contrição salvífica momentânea. Seja qual gen ou 
tribo se aplaque em ofensiva, há nessas culturas conviventes, ainda que 
diferentes “bandos” de lutadores e guerreiros,

Mais conteúdos dessa disciplina