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UNIVERSIDADE PAULISTA Mateus Wanderson Barbosa Dos Santos Politicas de Atenção à Saúde da Mulher Imperatriz - MA 2021 Mateus Wanderson Barbosa Dos Santos Politicas de Atenção à Saúde da Mulher TRABALHO apresentado ao curso BACHA- REL EM ENFERMAGEM, como parte dos re- quisitos necessários à obtenção de nota para o 5° período. Professor(a): Marcos Antonio Barros Lima Disciplina: Politicas de Atenção à Saúde da Mulher Turma: Sala 7 Imperatriz - MA 2021 Resumo A promoção e a proteção à saúde no Brasil vêm passando por diversas transforma- ções, nas quais a figura do enfermeiro tem ganhado destaque. Isso se deve, principalmente, a atuação deste profissional na Atenção Primária à Saúde (APS) que caracteriza o primeiro nível de cuidados nas práticas do Sistema Único de Saúde (SUS). As mudanças têm como objetivo implantar um novo modelo assistencial, que atenda as práticas clínicas e curativas, mas que também dê atenção aos cuidados de saúde de forma integral, observando os fatores de risco, a prevenção de doenças e a promoção do bem-estar e da qualidade de vida. A essência da atuação do enfermeiro é o cuidar, por isso, em seu trabalho, deve buscar uma atuação abrangente e integral dos pacientes, de maneira que não se concentre apenas no problema apresentado pela pessoa, mas que também busque compreender as situações biopsicossociais presentes no quadro. Palavras-chave: Sistema Único de Saúde (SUS) Promoção e Proteção de Saúde Sumário 1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 1.1 Câncer Do Colo Do Útero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.2 Câncer De Mama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2 Abortamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 3 Infecções Sexualmente Transmissíveis . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 4 Violência Contra A Mulher . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 4.1 Violência Contra A Mulher No Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 4.1.1 Saúde Sexual E Reprodutiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 4.2 Direitos e Saúde Sexual e Reprodutiva No Brasil . . . . . . . . . . . 26 4.2.1 Politicas de Atenção á Saúde da Mulher no Brasil . . . . . . . . . . . . . 28 5 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 4 1 Introdução No Brasil, a Política Nacional de Promoção da Saúde, implantada em 2006, aborda a importância da autonomia dos sujeitos nos serviços de saúde. Portanto, é relevante estimular o olhar dos profissionais no sentido de encorajar as potencialidades de saúde dos indivíduos e grupos. O que significa não se restringir aos tratamentos das patologias e situações manifestados, mas sim ampliar projetos terapêuticos que reconheçam a qualidade de vida como meta de saúde a ser alcançada. Dentro desse processo, a ESF é um campo rico e de destaque, no qual a Promo- ção da Saúde vem se inserindo gradativamente nos serviços de saúde. Profissionais e comunidade passam a percebê-la como uma estratégia de saúde e qualidade de vida, assu- mindo suas atribuições no cotidiano do trabalho e como ponto-chave de suas ações. Nesse campo de evidência, a enfermagem vem ocupando seu espaço e, através da Consulta de Enfermagem, maior valorização e visibilidade profissional. A partir das experiências vividas, compreende-se a Consulta de Enfermagem como um espaço não apenas clínico e pré-estabelecido vinculado às normas e rotinas, mas também um espaço de aproximação e acolhimento ao partícipe que busca o serviço e de aproximação com a Saúde da Mulher. Um espaço de diálogo, reflexão e empoderamento da mulher, para assumir o controle sobre sua saúde, estabelecendo hábitos saudáveis e reivindicando seus direitos e o controle sobre os determinantes de sua saúde, de sua família e fortalecendo sua autonomia sobre o seu ser e seu viver. Ainda nesse contexto, alguns centros de saúde instituem práticas de promoção da saúde no intuito de constituí-las como um espaço de diálogo e acolhimento aos partícipes. No entanto, ao repensar as diversas vivências de Saúde da Família, percebe-se a necessi- dade de se estimular a autonomia e o empoderamento dos partícipes do sistema de saúde. No modelo dialógico e participativo, todos, profissionais e partícipes, atuam como iguais, ainda que com papéis diferenciados. O autor ainda reforça que no processo participativo as perspectivas e prioridades são legítimas e valorizadas, tanto dos profissionais de saúde quanto da comunidade. Com essas questões propõe-se investigar se as ações de Promoção da Saúde estão relacionadas com a atividade do enfermeiro na consulta da ESF, no que concerne ao estímulo da autonomia da mulher como sujeito e autor de sua história, de modo a dar visibilidade aos aspectos relacionais entre a saúde e melhoria da qualidade de vida. Pretende-se refletir, dentre as ações de Promoção da Saúde, como está sendo estimulada a autonomia das mulheres durante a Consulta de Enfermagem na Saúde da Família. A partir desse contexto, delineou-se, como objetivo geral deste estudo, compreender se a Consulta de Enfermagem está voltada para ações de Promoção da Saúde que propiciam a autonomia das mulheres na Saúde da Família. Capítulo 1. Introdução 5 1.1 Câncer Do Colo Do Útero O câncer do colo do útero ou cervical é definido pelo Ministério da Saúde do Brasil como a replicação desordenada do epitélio de revestimento do referido órgão, compro- metendo o tecido subjacente (estroma), que pode invadir estruturas e órgãos contíguos ou à distância. É considerado um problema de saúde pública, sobretudo nos países em desenvolvimento. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), 528 mil casos novos de câncer do colo do útero foram diagnosticados em todo o mundo no ano de 2012, dos quais aproximadamente 85% ocorreram em regiões menos desenvolvidas. No mesmo ano, 266 mil mulheres morreram no mundo em função desse tipo de câncer. Nos países de baixa a média renda, cerca de 9 em cada 10 mulheres morreram pela doença, enquanto 1 de cada 10 morreu em países de alta renda. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca) do Brasil, o câncer cervical é o terceiro tumor mais frequente nas mulheres brasileiras e a quarta causa de morte na população feminina por câncer no país. Estimava-se para o ano de 2016 a ocorrência de 16,340 casos novos desse câncer e 5,430 óbitos em função dessa infecção (BRASIL, [s.d.]a). Uma das mais importantes descobertas na investigação etiológica do câncer cervical dos últimos 30 anos foi a demonstração da relação entre o papilomavírus humano (HPV) e esse tipo de câncer. Segundo a evidência científica, a infecção persistente pelos tipos carcinogênicos de HPV é a causa da maioria dos cânceres do colo do útero (BRASIL, [s.d.]a; 2013a; OPAS, 2016). A prevenção primária do câncer do colo do útero está relacionada à redução do risco de contaminação pelo HPV, transmitido via sexual. O uso do preservativo (masculino ou feminino) em todas as relações sexuais constituem uma das formas de proteção contra o câncer cervical. Outra intervenção importante para reduzir as infecções por HPV é a imunização (BRASIL, 2013a; 2016a). Essa recomendação está fundamentada nas seguin- tes informações: a vacina administrada em mulheres jovens mostrou 100% de eficácia sem nenhum evento adverso grave reportado; nessa faixa etária, os mais altos níveis de anticorpos foram encontrados após a imunização; meninas que não foram infectadas por nenhum dos quatro sorotipos presentes na vacina terão maiores benefícios e existe uma elevada probabilidade de aquisição da infecção pelo HPV logo após o primeiro contato sexual (BORSATTO; VIDAL; ROCHA, 2011). A prevenção secundária do câncer cervical deve ser realizada por meio da aplicação de estratégias para a detecção precoce do câncer (abordagem de indivíduoscom sinais e/ou sintomas da doença) e para o rastreamento (realização de um exame em uma população assintomática, aparentemente saudável, com o objetivo de identificar lesões precursoras ou sugestivas de câncer e encaminhá-las para investigação e tratamento). A realização periódica do exame citopatológico cervical continua sendo a estratégia mais amplamente adotada no Brasil para o rastreamento do câncer do colo do útero e de suas lesões precursoras. Atingir alta cobertura da população definida como alvo é o componente mais Capítulo 1. Introdução 6 importante no âmbito da atenção primária em saúde, para que se obtenha significativa redução da incidência e da mortalidade por câncer do colo do útero. O Ministério da Saúde preconiza que a realização do exame citopatológico do colo do útero deve ocorrer na Unidade Básica de Saúde (UBS), podendo ser realizado durante a consulta ou em agendamentos específicos para esse fim. A estratégia de mutirão em horários alternativos pode ser utilizada, pois, permite atingir mulheres que geralmente não conseguem ter acesso ao exame. Usuárias que não comparecem espontaneamente podem ser convocadas para a realização do exame. Após a realização da coleta do citopatológico, cabe à Atenção Básica encaminhar o material para análise e aguardar o recebimento dos laudos (BRASIL, 2013a). A coleta de citopatológico para o rastreio de lesões precursoras e de câncer cervical é uma competência do enfermeiro. No entanto, de acordo com o Ministério da Saúde, esse procedimento pode ser realizado por técnicos em enfermagem devidamente treinados, em locais onde seja necessário, visando à ampliação do acesso da população-alvo ao exame. Na consulta de enfermagem para a coleta de colpocitologia oncótica, o enfermeiro deve obter informações para a identificação do histórico da usuária. Durante a entrevista, o profissional deve colher os seguintes dados da mulher: a idade; a data de realização do último exame e ocorrência de exames citopatológicos anormais; o preparo para o exame; os antecedentes pessoais obstétricos, cirurgias pélvicas e antecedentes patológicos, em especial as infecções sexualmente transmissíveis (IST) e, entre elas, a infecção pelo HPV; a data da última menstruação (DUM); a presença de queixas relacionadas a corrimentos vaginais; relato de dispareunia (dor ou desconforto durantes as relações sexuais) e de sangramentos vaginais pós-coito ou anormais. Ao proceder ao exame físico específico de ginecologia, o enfermeiro deve realizar a inspeção dos órgãos genitais externos, atentando para a integridade do clitóris, do meato uretral e dos grandes e pequenos lábios vaginais e para a presença de lesões anos genitais. Durante o exame especular, deve-se observar o aspecto do colo do útero, a presença de secreção anormal ou friabilidade cervical e a presença de lesões vegetantes, ou ulceradas.Antes de realizar o exame especular, o profissional deve orientar a usuária sobre o procedimento, buscando esclarecer suas dúvidas e reduzir a ansiedade e o medo e preencher a requisição de exame citopatológico do colo do útero (ficha). A realização de coleta de material citológico deve seguir as normas técnicas de coleta, conforme padronizado pelo Inca e disposto no Caderno de Atenção Básica do Ministério da Saúde (BRASIL, 2013a). As recomendações prévias para a realização da coleta de colpocitologia oncótica, segundo o Ministério da Saúde são as seguintes: evitar a utilização de lubrificantes, esper- micidas ou medicamentos vaginais por 48 horas antes da coleta, pois essas substâncias recobrem os elementos celulares, dificultando a avaliação microscópica e prejudicando a qualidade da amostra para o exame citopatológico; evitar a realização de exames intravagi- nais, como a ultrassonografia, nas 48 horas anteriores à coleta, pois é utilizado gel para a introdução do transdutor; a recomendação de abstinência sexual prévia ao exame só é Capítulo 1. Introdução 7 justificada quando são utilizados preservativos com lubrificante ou espermicidas, pois a presença de espermatozoides não compromete a avaliação microscópica; o exame não deve ser feito no período menstrual, pois a presença de sangue pode prejudicar o diag- nóstico citopatológico; nesses casos, deve-se aguardar o quinto dia após o término da menstruação. O consultório ou sala de coleta deve ser equipado para a realização do exame ginecológico com: mesa ginecológica; escada de dois degraus; mesa auxiliar; foco de luz com cabo flexível; biombo ou local reservado para troca de roupa e cesto de lixo. Os materiais necessários para a coleta do material são os seguintes. Espéculo vaginal de tamanhos variados, preferencialmente descartáveis; se for utilizado o espéculo metálico, ele deve ser esterilizado de acordo com as normas vigentes; balde com solução desencrostante em caso de instrumental não descartável; lâminas de vidro com extremidade fosca; espátula de Ayre; escova endocervical; • par de luvas de procedimento descartáveis; pinça de Cherron; solução fixadora, álcool a 96% ou ‘spray’ de polietilenoglicol. A conduta a ser adotada pelo profissional de saúde dependerá do resultado do exame de citologia oncótica cervical. Caso o resultado indique o encaminhamento a outro serviço, é fundamental realizar uma solicitação de encaminhamento qualificada, com os dados relevantes sobre a usuária, sobre o quadro clínico e sobre o resultado do exame. Além disso, deve a equipe acompanhar essa mulher durante todo o tratamento, avaliando a necessidade de intervenções durante esse processo. Desse modo, a Atenção Básica em Saúde (ABS), em especial a Estratégia Saúde da Família (ESF), tem importante papel na ampliação do rastreamento e monitoramento da população adscrita. É atribuição da ABS a prestação de cuidado integral e a condução de ações de promoção à saúde, de rastreamento e detecção precoce, bem como o acompanhamento do seguimento terapêutico das mulheres nos demais níveis de atenção, quando diante de resultado de citopatológico de colo do útero alterado. As unidades ambulatoriais, que podem ou não estar localizadas na estrutura de um hospital, e os serviços de apoio diagnóstico e terapêutico, responsáveis pela oferta de consultas e exames especializados, compõem os serviços de atenção secundária em saúde. Eles devem servir de referência para um conjunto de unidades de atenção básica, prestando atendimento mediante encaminhamento. É função dessas unidades a realização de colposcopia, bem como os outros procedimentos necessários para a confirmação diagnóstica conforme o caso. A atenção terciária em saúde é composta de serviços de apoio diagnóstico e te- rapêutico hospitalares. Constitui referência para a Atenção Básica dentro da lógica de hierarquização e regionalização do Sistema Único de Saúde (SUS). É o nível assistencial no qual são realizados os procedimentos cirúrgicos e de alta complexidade em oncologia – cirurgia oncológica, radioterapia e quimioterapia – e que é responsável pela oferta ou coordenação dos cuidados paliativos dos pacientes com câncer. Capítulo 1. Introdução 8 1.2 Câncer De Mama O câncer da mama é uma neoplasia maligna que resulta da proliferação desorde- nada de células anormais. Estas surgem em função de alterações genéticas, que podem ser hereditárias ou adquiridas por exposição a fatores de risco (ambientais ou fisiológicos). Tais alterações genéticas podem provocar mudanças no crescimento celular ou na morte celular programada, levando ao surgimento do tumor. Trata-se de um grupo heterogêneo de doenças, com comportamentos diferentes. Essa heterogeneidade se manifesta pelas diversas apresentações clínicas e morfológicas do câncer da mama, por variadas assi- naturas genéticas e, consequentemente, com uma diversificada resposta terapêutica. O câncer de mama é considerado um problema mundial de saúde pública. É o tipo mais incidente na população feminina no mundo e no Brasil, excetuando-se os casos de câncer de pele nãomelanoma, e responde por aproximadamente 28% dos casos novos a cada ano. Esse tipo de câncer também pode acometer os homens, embora represente apenas 1% do total de casos da doença (BRASIL, 2015a; [s.d.] a). É uma das principais causas de morte por câncer em países desenvolvidos e em desenvolvimento. As taxas de mortalidade variam entre diferentes regiões do mundo, com as maiores taxas nos países desenvolvidos (BRASIL, 2015a). No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) estima que em 2016 ocorreram 57,960 casos novos do câncer da mama e em 2013 aconteceram 14,388 óbitos em função da doença, sendo 181 homens e 14,206 mulheres (BRASIL, [s.d.]a). Embora haja uma grande heterogeneidade na distribuição de casos novos e de mortes por câncer da mama, as maiores taxas de incidência e mortalidade ocorrem nas regiões Sul e Sudeste do País, e as menores taxas se dão nas regiões Norte e Nordeste (BRASIL, 2015a). O processo de carcinogênese do câncer da mama geralmente é lento, o que significa que uma célula pode levar vários anos para se proliferar e originar um tumor palpável. Esse processo apresenta os seguintes estágios: 1 – Iniciação: fase em que os genes sofrem a ação de fatores cancerígenos. 2 – Promoção: etapa em que os agentes onco promotores atuam na célula já alterada. 3 – Progressão: caracterizada pela multiplicação descontrolada e irreversível da célula. A história natural do câncer de mama pode ser dividida em duas fases: pré-clínica e clínica. A primeira etapa compreende o intervalo de tempo entre o surgimento da primeira célula maligna e o desenvolvimento do tumor até atingir condições de ser diagnosticado clinicamente; já a segunda fase se inicia a partir desse momento. O carcinoma invasor pode permanecer por tempo variável como doença local, ou seja, limitada apenas à mama, ou evoluir com propagação regional e disseminação à distância. No carcinoma da mama, a disseminação ocorre sobretudo pelas vias linfáticas e menos frequentemente por via hematogênica pura. A etiologia do câncer de mama não é uni causal. Existem diversos fatores que Capítulo 1. Introdução 9 aumentam o risco de uma mulher desenvolver uma malignidade. Esses fatores podem ser mutáveis, quando associados ao estilo de vida (fatores comportamentais/ambientais), ou imutáveis, como o sexo, a idade, a história reprodutiva e os fatores endócrinos, genéticos e hereditários. Apresentamos a seguir uma relação dos fatores de risco para o desenvol- vimento do câncer de mama, segundo o Ministério da Saúde. idade; menarca precoce; menopausa tardia; primeira gravidez após os 30 anos; nuliparidade; exposição à radiação; terapia de reposição hormonal; obesidade; ingestão regular de álcool; sedentarismo; história familiar; idade. histórico familiar de, pelo menos, um parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de mama, abaixo dos 50 anos de idade; histórico familiar de, pelo menos, um parente de primeiro grau (mãe, irmã ou filha) com diagnóstico de câncer de mama bilateral ou câncer de ovário, em qualquer faixa etária; histórico familiar de câncer de mama masculino; diagnóstico histopatológico de lesão mamária proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ. Esses grupos representam cerca de 1% da população. Recomenda-se que essas mulheres sejam acompanhadas com um olhar diferenciado, com indicação para rastreamento anual. O sintoma mais frequente do câncer de mama é o aparecimento de um nódulo, geralmente indolor, duro e irregular. No entanto, existem tumores de consistência branda, globosos e bem definidos. Alguns estudos apontam que os nódulos representam 90% da apresentação inicial dos casos sintomáticos confirmados desse tipo de câncer. Outros sinais de câncer de mama incluem. Eliminação de secreção pelo mamilo, especialmente quando é unilateral e espontâneo. A secreção papilar associada ao câncer geralmente é transparente, mas pode ser rosada ou avermelhado devido à presença de hemácias. Não deve ser confundida com as descargas fisiológicas ou associada a processos benignos, que costumam ser bilaterais, turvas, algumas vezes amareladas ou esverdeadas, e se exteriorizam na maioria das vezes mediante manobras de compressão do mamilo. Coloração avermelhada da pele da mama, edema cutâneo semelhante à casca de laranja, retração cutânea, dor ou inversão no mamilo, descamação ou ulceração do mamilo. Presença de linfonodos axilares palpáveis. Manifestações clínicas relacionadas ao câncer de mama, nódulo palpável; endu- recimento da mama; secreção mamilar; eritema mamário; edema mamário com aspecto de “casca de laranja”; retração ou abaulamento; inversão, descamação ou ulceração do mamilo; linfonodos axilares palpáveis. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2015a), para o controle do câncer de mama, destacam-se as ações de promoção de saúde desenvolvidas especialmente na ABS, que envolvem o acesso à informação e a ampliação de oportunidades para controle do peso corporal e a prática regular de atividade física, além do acesso amplo da população a informações claras, consistentes e culturalmente apropri- adas. A prevenção primária do câncer de mama tem o objetivo de evitar a ocorrência da doença e suas estratégias estão relacionadas ao controle dos fatores de risco reconhecidos. Embora os fatores genéticos/ hereditários e muitos relacionados ao ciclo reprodutivo da Capítulo 1. Introdução 10 mulher não sejam passíveis de mudança, as evidências demonstram uma redução do risco relativo para o câncer de mama de cerca de 4,3% a cada 12 meses de aleitamento materno, adicionais à redução de risco relacionada à maior paridade. Desse modo, a amamentação é considerada um fator protetor (BRASIL, [s.d.]a). A detecção precoce do câncer é uma forma de prevenção secundária da doença que visa identificar o câncer em estágios iniciais, no qual se pode ter melhor prognóstico da doença. É importante destacar que os métodos existentes para a detecção precoce do câncer de mama não reduzem sua incidência, mas podem diminuir sua mortalidade. Existem duas estratégias de detecção precoce: o rastreamento e o diagnóstico precoce. O rastreamento é uma estratégia fundamentada na realização de testes ou exames relati- vamente simples em pessoas sadias, com o objetivo de identificar doenças em sua fase pré-clínica (assintomática), para reduzir a morbidade e mortalidade da doença, agravo ou risco rastreado, ou seja, viabiliza a identificação de indivíduos que têm a doença, mas que ainda não apresentam sintomas. Para que um teste de rastreamento seja aplicado, na prática, clínica é necessária a comprovação científica de sua eficácia, indicando que o método pode diminuir a mortalidade pela doença. O diagnóstico precoce é realizado com o objetivo de identificar as pessoas com sinais e sintomas iniciais de uma determinada doença, zelando pela qualidade e pela garantia da integralidade assistencial em todas as etapas da linha de cuidado da doença. Segundo o Ministério da Saúde e o INCA (BRASIL, 2015a), a estratégia de diagnóstico precoce do câncer de mama mais aceita no mundo nos últimos anos é formada pelo tripé: população alerta para os sinais e sintomas sugestivos de câncer; profissionais de saúde capacitados para a avaliação dos casos suspeitos; e siste- mas e serviços de saúde preparados para garantir a confirmação diagnóstica oportuna, com qualidade e garantia da integralidade da assistência em toda a linha de cuidado. De acordo com as Diretrizes para a detecção precoce do câncer de mama no Brasil, publicado pelo Ministério da Saúde e pelo INCA (BRASIL, 2015a), o rastreamento do câncer de mama em população de risco padrão inclui a mamografia, o autoexame das mamas (AEM), o exame clínico das mamas, (ECM), a ressonância nuclear magnética (RNM), a ultrassonografia mamária (US), a termografia e a tomossíntese mamária. No entanto, a estratégia adotada no Brasil para o rastreamento de câncer de mama na rotinada atenção integral à saúde da mulher envolve apenas a mamografia e o exame clínico das mamas (ECM). A mamografia é o único exame utilizado para o rastreamento do câncer de mama, com capacidade de detectar lesões não palpáveis e causar impacto na mortalidade pela doença, sendo por isso o exame de imagem recomendado para o rastreamento desse tipo de câncer no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde e o INCA (BRASIL, 2015a), a população-alvo para o rastreamento por meio da mamografia deve ser as mulheres com idades entre 50 e 69 anos. A recomendação é que essas mulheres realizem a mamografia bianualmente, ou seja, uma a cada dois anos (bienal), pois não existem evidências conclusivas sobre a existência de vantagens de periodicidades menores do que a bienal e os danos aumentam considera- Capítulo 1. Introdução 11 velmente com a maior frequência do rastreamento, podendo dobrar com a periodicidade anual. O autoexame das mamas (AEM) é o procedimento em que a mulher observa e palpa as próprias mamas e as estruturas anatômicas acessórias, visando detectar mudanças ou anormalidades que possam indicar a presença de um câncer (BRASIL, 2015a). Atualmente, o Ministério da Saúde e o INCA não recomendam o ensino do AEM como um método para o rastreamento do câncer de mama. A prática ocasional da observação e da auto palpação das mamas deve ser estimulada para o conhecimento do próprio corpo. Recomenda-se que cada mulher realize a auto palpação das mamas sempre que se sentir confortável para tal (no banho, no momento da troca de roupa ou em outra situação do cotidiano), sem qualquer recomendação de técnica específica, valorizando-se a descoberta casual de pequenas alterações mamárias. Para o Ministério da Saúde e o INCA (BRASIL, 2015a), aprender como as mamas aparentam em diferentes situações pode ajudar a mulher a reconhecer o que é normal para ela. Resumidamente, citam-se cinco alterações que devem ser consideradas sinais de alerta para a mulher ao realizar o AEM: nódulo ou espessamento que pareça diferente do tecido das mamas; mudança no contorno das mamas (retração, abaulamento); desconforto ou dor em uma única mama que seja persistente; mudanças no mamilo (retração e desvio); secreção espontânea pelo mamilo, principalmente se for unilateral. O tratamento do câncer de mama deve ser feito em unidades ou centros de assistên- cia de alta complexidade em oncologia (Unacon ou Cacon) que fazem parte de hospitais de nível terciário. Esse nível de atenção à saúde deve estar capacitado para determinar a extensão da neoplasia (estadiamento), tratar, cuidar e assegurar a qualidade da assistência oncológica. A doença deve ser tratada dentro de um contexto multidisciplinar, no qual a cirurgia e a radioterapia têm papel fundamental no controle locorregional e a quimiotera- pia, a hormonioterapia e a terapia biológica, no tratamento sistêmico. O tratamento deve ser individualizado e orientado não apenas pela extensão da doença, mas também por suas características biológicas e pelas condições da mulher (idade, status menopausal, comorbidades e preferências. Resumidamente, para o Ministério da Saúde, a ABS realiza prioritariamente ações de prevenção e detecção precoce e deve atuar em relação ao câncer de mama nos seguintes níveis. Prevenção primária: intervém sobre fatores de risco modificáveis para o câncer de mama, ou seja, estimula a manutenção do peso das pacientes em uma faixa saudável e a prática de atividades físicas e aconselha a redução do consumo de álcool e a cessação do tabagismo. Prevenção secundária: realiza rastreamento conforme indicação e coordena o cui- dado dos casos positivos, fazendo a ponte com outros pontos da Rede de Atenção à Saúde quando necessário e apoiando a família de forma integral; dá atenção às queixas de alterações reportadas e realiza a investigação necessária visando à detecção precoce, Capítulo 1. Introdução 12 encaminhando para a atenção especializada quando indicado. Prevenção terciária: auxilia a reabilitação, o retorno às atividades e a reinserção na comunidade; orienta cuidados; mantém o acompanhamento clínico e o controle da doença; orienta quanto aos direitos dos portadores de câncer e facilita o acesso a eles, quando necessário. Prevenção quaternária: evita ações com benefícios incertos para o paciente e a protege de ações potencialmente danosas, não solicitando mamografia de rastreamento na população menor de 50 anos e maior de 70 anos ou com periodicidade menor de dois anos; não estimula o rastreamento; realiza rastreamento de forma individualizada, fornecendo informações claras quanto aos benefícios e riscos da ação e compartilhando as decisões com o usuário. As políticas públicas relacionadas ao câncer de mama, desenvolvidas no Brasil desde meados da década de 1980, foram impulsionadas, particularmente, pelo Programa Viva Mulher, de 1998. O incentivo federal em prol das ações para o controle do câncer de mama sempre objetivou a redução da exposição aos fatores de risco, a diminuição da mortalidade e a melhoria da qualidade de vida da mulher com câncer de mama, estando estes em consonância com as diretrizes atuais da política de controle do câncer, publicadas pela Portaria GM nº 874, de 2013, e com a Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer. Destaca-se, ainda, a importância de facilitar ao máximo o acesso de mulheres dentro da faixa etária preconizada para as ações de rastreamento aos serviços de saúde. Cada local ou região deve planejar seus processos de trabalho, incluindo estratégias que podem envolver a flexibilização da agenda das equipes para as ações de rastreamento, a realização de busca ativa nos domicílios e espaços comunitários e a solicitação de mamografia de rastreamento por parte de médicos e enfermeiros. 13 2 Abortamento O Ministério da Saúde do Brasil define abortamento como a interrupção da gestação até a 20ª ou 22ª semana de idade gestacional (IG) ou com o produto da concepção pesando menos que 500 gramas (BRASIL, 2011a). Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o abortamento é entendido como a perda do concepto com até 22 semanas de IG (OMS, 2013). Embora sejam empregados como sinônimos, a palavra “abortamento” refere-se ao processo de perda do concepto, enquanto o termo “aborto” corresponde ao produto da concepção que é eliminado no processo de abortamento. O abortamento pode ser classificado em precoce ou tardio. Quando a perda do concepto ocorre antes de 12 semanas de IG, é chamado de abortamento precoce. Mais de 80% dos abortamentos espontâneos acontecem precocemente. As anormalidades cromossômicas são consideradas as principais causas da perda precoce do concepto (pelo menos 50% dos casos). Outras possíveis causas são a insuficiência lútea, o uso de álcool, fumo e outras drogas, além da presença de doenças sistêmicas, como diabetes mellitus descontrolado, lúpus eritematoso sistêmico e tireoideopatias. O abortamento tardio ocorre no segundo trimestre de gestação, ou seja, após a 12ª semana de IG. A maioria dos casos é decorrente de causas maternas, como a idade materna avançada e a paridade, a obesidade, as anomalias uterinas congênitas, as infecções maternas, a insuficiência istmo-cervical e os estados trombóticos. O abortamento ocorre espontaneamente em 10 a 15% das gestações. Os tipos de abortamento espontâneo incluem: ameaça, inevitável, incompleto, completo e retido. O seu diagnóstico é realizado com base nos sinais e sintomas clínicos apresentados pela mulher. A conduta a ser adotada pela unidade de saúde que atende à mulher nessa situação depende da classificação do tipo de abortamento espontâneo. Tradicionalmente, as amea- ças de abortamento têm sido tratadas com medidas de suporte. Entretanto, não existem terapias efetivas comprovadas para essa condição. O tratamento depende se a ameaça de abortamento evoluirá para o abortamento ou se os sintomas regridem e a gravidez evolui. O processo de enfermagem nos abortamentos espontâneosdeve incluir um levan- tamento adequado do histórico da mulher, priorizando a história obstétrica e da gestação atual (último período menstrual, data da última menstruação, gravidez prévia e perdas de gravidez), as queixas da mulher (dor, sangramento transvaginal e estado emocional), o exame físico e especular e a avaliação dos níveis de beta-HCG e progesterona. Os possíveis diagnósticos de enfermagem nessa situação podem incluir a ansiedade ou medo, o volume deficiente de fluído, a dor aguda, o luto antecipatório, a autoestima situacional baixa e o risco de infecção. Entre os resultados esperados, a mulher deverá: discutir o efeito da sua perda com a sua família, identificar e utilizar os sistemas de apoio disponíveis, não desenvolver complicações fisiológicas ou psicológicas e verbalizar o alívio da dor. A discussão sobre abortamento envolve uma intrincada teia de valores, que incluem aspectos legais, morais, religiosos, culturais e sociais. Vulnerabilidades como a desigual- Capítulo 2. Abortamento 14 dade de gênero, as normas religiosas e culturais, a desigualdade de acesso à educação e as múltiplas dimensões da pobreza (como a falta de recursos econômicos e de alternativas, a dificuldade de acesso à informação, os direitos humanos, a insalubridade, entre outros) fazem com que o abortamento inseguro atinja, de forma mais devastadora, as mulheres de comunidades pobres e marginalizadas.Dados do Ministério da Saúde indicam que 10% dos casos de abortamento atendidos nos hospitais brasileiros são provocados pela própria mulher. As necessidades não satisfeitas de planejamento reprodutivo, que envolvem as dificuldades de acesso aos métodos contraceptivos, a falta de informação sobre anticon- cepção, as falhas na sua utilização, o seu uso inadequado ou irregular e/ou a ausência de acompanhamento nos serviços de saúde são motivos que impulsionam essa atitude. Para outras mulheres, a gestação em decorrência de violência sexual é o fator motivador para a prática do abortamento. No Brasil, o Artigo 128 do Código Penal de 1940 prevê o abortamento legalizado nas seguintes situações: • Gravidez resultante de estupro ou outra forma de violência sexual; • quando existe risco de morte da mulher/mãe. A jurisprudência brasileira também tem autorizado a interrupção da gestação nos casos de malformação fetal com inviabilidade de vida extrauterina. Em todas essas situações, é necessário que haja o consentimento da mulher ou, se incapaz, de seu representante legal para a prática do abortamento. Ressalta-se que o consentimento da mulher é necessário para a prática do abortamento em quaisquer circunstâncias, exceto nos casos de iminente risco de morte, estando a mulher impossibilitada para expressar seu consentimento. Quando se trata de uma adolescente ou criança com menos de 16 anos, esta deve ser representada pelos pais ou por seu representante legal, que se manifestam por ela. Outra circunstância em que é necessário o consentimento de um representante legal refere-se à mulher que, por qualquer razão, não tenha condições de discernimento e de expressão de sua vontade. De qualquer modo, sempre que a mulher ou adolescente tiver condições de discernimento e de expressão de sua vontade, sua decisão deve ser respeitada.O Código Penal Brasileiro não exige qualquer documento para a prática do abortamento nos casos decorrentes de estupro (violência sexual). Assim, a mulher violentada sexualmente não tem o dever legal de noticiar o fato à polícia. Contudo, a mulher deve ser orientada a tomar as providências judiciais e policiais cabíveis, mas caso ela não o faça, o direito ao abortamento seguro não lhe pode ser negado. O Artigo 20 do mesmo Código também prevê que os profissionais de saúde não devem temer as possíveis consequências jurídicas caso a gravidez revele-se, posteriormente, como não resultante de violência sexual. No entanto, o consentimento da mulher é sempre necessário. É importante destacar que o Artigo nº 28 do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (COFEN, 2007) prevê que é proibido aos membros da equipe de Enfermagem provocar o abortamento ou cooperar em prática destinada à interrupção de uma gestação, exceto nos casos previstos em Lei. Contudo, o profissional Capítulo 2. Abortamento 15 deverá decidir, de acordo com a sua consciência, sobre a sua participação ou não no ato abortivo legal. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2011a), a humanização da assistên- cia às mulheres em situação de abortamento é um direito de toda mulher e um dever de todo profissional de saúde. A atenção humanizada às mulheres em situação de abortamento pressupõe o respeito aos princípios fundamentais da Bioética: • Autonomia: direito da mulher de decidir sobre as questões relacionadas ao seu corpo e à sua vida. • Não maleficência: a ação deve sempre causar o menor prejuízo à paciente, redu- zindo os efeitos adversos ou indesejáveis de suas ações (não prejudicar). • Justiça: o profissional de Saúde deve atuar com imparcialidade, evitando que aspectos sociais, culturais, religiosos, morais ou outros interfiram na relação com a mulher. A atenção à saúde da mulher deve ser garantida em todo caso de abortamento, independentemente de sua natureza, devendo estar alicerçado no respeito à liberdade, à dignidade humana e à autonomia. Diante de um caso de abortamento inseguro, a conduta recomendada é “não fazer juízo de valor e não julgar”, visto que o dever de todos os profissi- onais de saúde é acolhê-la dignamente e envidar esforços para garantir a humanização do seu atendimento, assim como a sua sobrevivência e, ainda, não causar nenhum transtornos e constrangimentos. Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2011a), a promoção do acolhi- mento e o fornecimento de informações devem ser realizados por todos os profissionais da equipe multiprofissional, devendo estar presentes de forma transversal durante todo o con- tato com a mulher. Os profissionais de saúde devem, ainda, promover a escuta privilegiada, evitando julgamentos, preconceitos e comentários desrespeitosos, com uma abordagem que respeite a autonomia das mulheres e seu poder de decisão, procurando estabelecer uma relação de confiança com a mulher. A orientação em planejamento reprodutivo também deve ser priorizada pelos profissionais de saúde que atendem à mulher em situação de abortamento. Entre as responsabilidades da equipe multiprofissional no atendimento humanizado à mulher em situação de abortamento, citam-se. • Respeitar a fala da mulher, auxiliando-a a contatar com os seus sentimentos e elaborar a experiência vivida, buscando a autoconfiança. • Organizar o acesso da mulher, priorizando o atendimento de acordo com necessi- dades detectadas. • Identificar e avaliar as necessidades e riscos dos agravos à saúde em cada caso, resolvendo-os, conforme a capacidade técnica do serviço, ou realizando o encaminhamento para serviços de referência, grupos de mulheres e organizações não governamentais (ONGs) feministas. • Dar encaminhamentos aos problemas apresentados pelas mulheres, oferecendo soluções possíveis e priorizando o seu bem-estar e comodidade. Capítulo 2. Abortamento 16 • Garantir a privacidade no atendimento e a confidencialidade das informações. • Realizar os procedimentos técnicos de forma humanizada e informando às mulheres sobre as intervenções necessárias. Nessa perspectiva e cumprindo os objetivos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), o Ministério da Saúde publicou em 2011 a nova edição da Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento, no qual recomenda a inclusão dos seguintes elementos essenciais. • Rede integrada com a comunidade e com os prestadores de serviço para a pre- venção das gestações indesejadas e do abortamento inseguro, para mobilizar recursos e para garantir que os serviços reflitam as necessidades da comunidade e satisfaçam suas expectativas. • Acolhimento e orientação para responder às necessidadesde saúde mental e física das mulheres, além de outras preocupações. • Atenção clínica adequada ao abortamento e suas complicações, segundo referen- ciais éticos, bioéticos e legais. • Oferecimento de serviços de planejamento reprodutivos às mulheres após o abor- tamento, inclusive para aquelas que desejam uma nova gestação. • Integração com outros serviços de atenção integral à saúde e de inclusão social das mulheres. É importante que os enfermeiros tenham conhecimento sobre as leis relacionadas às práticas do abortamento no Brasil antes de oferecerem aconselhamento sobre o tema. É fundamental reconhecer que a qualidade da atenção às mulheres em situação de aborta- mento envolve aspectos relativos à sua humanização. Compete aos profissionais de saúde a preservação da postura ética, independentemente dos seus preceitos morais e religiosos, garantindo o respeito aos direitos e à dignidade humana. 17 3 Infecções Sexualmente Transmissíveis A terminologia infecção sexualmente transmissíveis (IST) foi adotada pelo Ministério da Saúde do Brasil em 2015 para substituir a expressão doença sexualmente transmissíveis (DST). Esse novo termo está em consonância com a nomenclatura adotada internacio- nalmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pela Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e pela sociedade científica. Essa modificação ocorreu em função da possibilidade de transmissão de uma infecção por meio do contato sexual, mesmo que não haja sinais e sintomas. A transmissão das IST acontece, sobretudo, por via sexual e, eventu- almente, por via sanguínea. Também podem ser transmitidas verticalmente, da mãe para a criança durante a gestação, o parto ou a amamentação. Essas infecções são causadas por mais de 30 agentes etiológicos, incluindo vírus, bactérias, fungos e protozoários. Podem se apresentar sob a forma de síndromes: corrimento uretral, corrimento vaginal, úlcera (ano) genital, (verruga) ano genital e doença inflamatória pélvica (DIP). A infecção pelo HPV é responsável por 530 mil casos de câncer de colo uterino e por 275 mil mortes de mulheres em função dessa doença por ano. Além disso, a sífilis na gravidez causa cerca de 300 mil óbitos fetais e mortes neonatais anualmente e coloca 215 mil recém-nascidos (RN) sob o risco de morte prematura, baixo peso ao nascimento ou sífilis congênita. No Brasil, as IST também são consideradas um problema de saúde pública. Estima-se mais de 10 milhões de casos novos de IST passíveis de cura ao ano (LOWDERMILK, 2012). Segundo o Ministério da Saúde, no período de 2010 a junho de 2016, foram notificados um total de 227,663 casos de sífilis adquirida, dos quais 60,1% são homens. Em 2010, a razão de sexos era de 1,8 casos em homens para cada caso em mulheres; em 2015, foi de 1,5 casos em homens para cada caso em mulheres. Para promover a vigilância epidemiológica das IST, a Portaria nº 1.271, de 6 de junho de 2014, tornou obrigatória no Brasil a notificação dos casos de sífilis (adquirida, em gestante e congênita), de hepatite viral (B e C), de aids, de infecção pelo HIV e em gestante, parturiente ou puérpera e criança exposta ao risco de transmissão vertical do HIV. A organização de serviços para atenção às pessoas com IST acontece, na maioria dos municípios, mediante o agendamento de consultas. Para que haja a quebra da cadeia de transmissão das IST e do HIV, a unidade de saúde deve garantir, o mais breve possível, o acolhimento adequado e com privacidade. Nesse sentido, o Ministério da Saúde recomenda diferentes atividades a serem desenvolvidas no manejo operacional das IST conforme o nível de atenção em saúde. Na ABS, as atividades a serem desenvolvidas são as seguintes. • Garantir o acolhimento e realizar atividades de informação/educação em saúde. • Realizar consulta imediata no caso de úlceras genitais, de corrimentos genitais masculinos e femininos e de verrugas anogenitais. • Realizar coleta de material cérvico-vaginal para exames laboratoriais. • Realizar testagem rápida e/ou coleta de sangue e/ou solicitação de exames para Capítulo 3. Infecções Sexualmente Transmissíveis 18 sífilis, HIV e hepatites B e C, nos casos de IST. • Realizar tratamento das pessoas com IST e suas parcerias sexuais. • Seguir o protocolo do MS para prevenção da transmissão vertical de HIV, sífilis e hepatites virais. • Notificar as IST conforme a Portaria vigente. Os demais agravos são notificados de acordo com recomendações dos estados/municípios, quando existentes. • Comunicar as parcerias sexuais do caso-índice para tratamento, conforme proto- colo; • Referir os casos suspeitos de IST com manifestações cutâneas extragenitais para unidades que disponham de dermatologista, caso necessário. • Referir os casos de IST complicadas e/ou não resolvidas para unidades que disponham de especialistas e mais recursos laboratoriais. • Referir os casos de dor pélvica com sangramento vaginal, casos com indicação de avaliação cirúrgica ou quadros mais graves para unidades com ginecologista, ou que disponham de atendimento cirúrgico. Essas unidades de saúde devem ter condições mínimas para o atendimento, além de estarem inseridas em uma rede de atenção que possibilite o encaminhamento para os níveis mais complexos, quando houver necessidade. De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Trans- missíveis, publicado pelo Ministério da Saúde, a prevenção combinada das IST contempla diversas ações de prevenção e assistência, distribuídas em três áreas estratégicas: • Prevenção individual e coletiva. • Oferta de diagnóstico e tratamento para IST assintomáticas. • Manejo de IST sintomáticas com uso de fluxogramas. A abordagem das pessoas com IST deve compreender a anamnese, a identificação das diferentes vulnerabilidades e o exame físico para o diagnóstico das IST. Durante o exame físico, o profissional de saúde deve proceder à coleta de material biológico para exame laboratorial, quando indicado. Também devem ser realizados exames para triagem de gonorreia, clamídia, sífilis, HIV e hepatites B e C sempre que disponível. A consulta clínica se finaliza com a prescrição e a orientação para o tratamento, além do estabelecimento de estratégia para seguimento e atenção às parcerias sexuais e o acesso aos insumos de prevenção das IST, como o preservativo. Para garantir a qualidade do atendimento e a adesão ao tratamento faz-se necessário estabelecimento de uma relação de confiança entre o profissional de saúde e a pessoa com IST. Para tanto, é importante a promoção de atividades de educação em saúde, além de assegurar um ambiente privativo, proporcio- nando maior confidencialidade das informações. Nesse contexto, destaca-se a importância do papel do enfermeiro no manejo das IST, em consonância com a Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011, que aprova a Política Nacional da Atenção Básica e estabelece, entre outras atribuições específicas desse profissional, a realização de consulta de enfermagem, Capítulo 3. Infecções Sexualmente Transmissíveis 19 de procedimentos e de atividades em grupo. Estabelece, ainda, que o enfermeiro pode soli- citar exames complementares, prescrever medicações e encaminhar os usuários a outros serviços quando houver necessidade, conforme protocolos ou outras normativas técnicas estabelecidas pelo gestor federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal, observadas as disposições legais da profissão. Ademais, a Lei nº 7.498, de 25 junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício de enfermagem, estabelece que cabe ao enfermeiro, como integrante da equipe de saúde, a prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde. O uso do preservativo, masculino ou feminino, por pessoas sexualmente ativas é a maneira mais eficaz para a redução do risco de transmissão das IST. Constitui o único método que oferece dupla-proteção,sendo eficaz na prevenção das IST e também para a contracepção. Desse modo, as orientações adequadas para a conservação e o uso correto e regular dos preservativos masculino e feminino devem fazer parte da abordagem profissional. Além disso, esses insumos devem ser disponibilizados como parte da rotina de atendimento na atenção em saúde. Os cuidados com o preservativo masculino inclui. • Armazená-lo longe do calor, observando-se a integridade da embalagem, bem como o prazo de validade. • Colocá-lo antes da penetração, durante a ereção peniana. • Manter a extremidade do preservativo apertado entre os dedos durante a colocação, retirando todo o ar do seu interior. • Desenrolá-lo até a base do pênis, ainda segurando a sua ponta. • Utilizar apenas lubrificantes de base aquosa (gel lubrificante), pois a utilização de lubrificantes oleosos (como vaselina ou óleos alimentares) danifica o látex, facilitando a sua ruptura. • Substituí-lo imediatamente caso haja ruptura. • Retirá-lo após a ejaculação com o pênis ainda ereto, segurando o preservativo pela base para que não haja vazamento de esperma. • Não reutilizá-lo e, após o uso, descartá-lo no lixo e não no vaso sanitário. Com relação aos cuidados com o preservativo feminino, destacam-se. • Armazená-lo longe do calor, observando-se a integridade da embalagem e prazo de validade; • Não utilizá-lo juntamente com o preservativo masculino; • Pode ser colocado até oito horas antes da relação e retirado com tranquilidade após o coito, de preferência antes de a mulher levantar-se, para evitar que o esperma escorra do interior do preservativo; • Não colocar lubrificante, pois já vem lubrificado; • A mulher deve escolher uma posição confortável (em pé com um dos pés em cima de uma cadeira, sentada com os joelhos afastados, agachada ou deitada) para colocá-lo corretamente; Capítulo 3. Infecções Sexualmente Transmissíveis 20 • O anel móvel deve ser apertado e introduzido na vagina – com o dedo indicador, deve-se empurrar o anel o mais profundamente possível, para alcançar o colo do útero; • A argola fixa (externa) deve ficar aproximadamente 3 cm para fora da vagina; • Durante a penetração, o pênis deve ser guiado para o centro do anel externo; • Deve-se utilizar um novo preservativo a cada relação sexual. Corrimento vaginal É uma síndrome comum, ocorrendo principalmente na idade reprodutiva da mulher. Durante a avaliação clínica, é importante que o profissional tenha subsídios para diferenciar o conteúdo vaginal fisiológico do patológico. Candidíase vulvovaginal Trata-se de uma infecção vulvovaginal causada por um fungo comensal que habita a mucosa vaginal e digestiva, o qual cresce quando o meio se torna favorável ao seu desenvolvimento. Como esse microrganismo pode fazer parte da flora endógena em até 50% das mulheres assintomáticas, a relação sexual não é a principal forma de transmissão da infecção. Vaginose bacteriana É uma afecção caracterizada pelo desequilíbrio da flora mi- crobiota vaginal normal, com diminuição acentuada ou desaparecimento de lactobacilos acidófilos (Lactobacillus spp) e aumento de bactérias anaeróbias (Prevotella sp. e Mobi- luncus sp.), Gardnerella vaginalis, Ureaplasma sp., Mycoplasma sp. e outros. A bactéria Gardnerella vaginalis faz parte da flora vaginal normal das mulheres sexualmente ativas e é uma das principais responsáveis pela doença. Tricomoníase É causada pelo Trichomonas vaginalis, um protozoário flagelado, que tem como reservatório o colo uterino, a vagina e a uretra. Sua transmissão é quase exclusivamente por via sexual nos adultos. A infecção pode ser assintomática. Quando sintomática, apresenta-se nas mulheres com um corrimento vaginal e com uretrite nos homens. Uretrite gonocócica Também conhecida como gonorreia, blenorragia ou blenorreia. É um processo infeccioso e inflamatório da mucosa uretral, causado pela Neisseria gonor- rhoeae, um diplococo gram-negativo intracelular. O risco de transmissão de um parceiro infectado a outro é de 50% por ato sexual. Uretrite não gonocócica Segundo o Ministério da Saúde, são consideradas uretrites não gonocócicas as uretrites sintomáticas cujos exames de bacterioscopia pela coloração de Gram e/ou cultura foram negativas para o gonococo. Diferentes agentes têm sido responsabilizados por essas infecções, como C. trachomatis, U. urealyticum, M. hominis e T. vaginalis, entre outros. Os Herpes simplex virus (HSV), tipos 1 e 2, pertencem à família Herpesviridae, da qual fazem parte o citomegalovírus (CMV), o varicela zoster vírus (VZV), o Epstein-Barr vírus (EBV), o herpes-vírus humano 6 (HHV-6) e o herpes-vírus humano 8 (HHV 8). Embora os HSV 1 e 2 possam provocar lesões em qualquer parte do corpo, há predomínio do tipo 2 nas lesões genitais e do tipo 1 nas lesões periorais. A transmissão é feita por contato íntimo com indivíduo transmissor do vírus, a partir de superfície mucosa ou lesão infectante. O Capítulo 3. Infecções Sexualmente Transmissíveis 21 HSV é rapidamente inativado em temperatura ambiente e após secagem, o que faz com que a disseminação por aerossóis ou fômites seja rara. O vírus ganha acesso através de escoriações na pele ou contato direto com a cérvice uterina, uretra, orofaringe ou conjuntiva. Atualmente, tem sido reconhecida a importância do HSV na etiologia de úlceras genitais, respondendo por grande percentual dos casos de transmissão do HIV, o que coloca o controle do herpes como uma prioridade. Sífilis Também conhecida como doença de Lues, a sífilis é uma doença infectocon- tagiosa sistêmica, de evolução crônica, provocada por uma espiroqueta exclusiva do ser humano chamada Treponema pallidum. Pode ser classificada como congênita e adquirida (BRASIL, 2013b; 2016e). A sífilis congênita é a infecção do feto pelo T. pallidum, transmitida por via placentária, em qualquer momento da gestação ou estágio clínico da doença em gestante não tratada, ou inadequadamente tratada. Sua ocorrência evidencia falhas dos serviços de saúde, particularmente da atenção ao pré-natal, pois o diagnóstico precoce e o tratamento da gestante são condutas relativamente simples e muito eficazes para a prevenção dessa doença. A sífilis congênita é classificada em recente e tardia. Quando os sinais e sintomas surgem logo após o nascimento ou nos primeiros dois anos de vida da criança, é denominada sífilis congênita recente. Quando o surgimento da sintomatologia ocorre após esse período (dois anos), a sífilis congênita é classificada como tardia. O papilomavírus humano (HPV), também conhecido como condiloma acuminado ou verrugas ano genitais, é uma das IST virais mais frequentes no mundo (LOWDERMILK, 2012; BRASIL, 2016e). O risco estimado para a exposição a essa infecção é de 15% a 25% a cada nova parceria sexual. Em grande parte dos casos, a infecção é autolimitada e transitória, sem causar qualquer dano. A maioria das pessoas que entram em contato com o vírus pode nunca ter o diagnóstico da infecção se não desenvolver lesões clínicas e não realizar testes laboratoriais. Cerca de 1% a 2% da população apresenta verrugas genitais e 2% a 5% das mulheres apresentam alterações no exame de citologia oncótica do colo do útero em função da infecção pelo HPV. A prevalência é maior em mulheres jovens, quando comparadas às mulheres com mais de 30 anos de idade. 22 4 Violência Contra A Mulher A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a violência como o uso de força física ou do poder, em ameaça ou na prática, contra si próprio, outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade que resulte ou que possa resultar em sofrimento, morte, dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação. Desde a infância, homens e mulheres são condicionados a exercerem um papel socialmente determinado. Quando uma criança nasce com a genitália masculina (pênis), lhe são exigidos predicados como coragem, força e agressividade. Desse modo, o menino deve exercer um papel de dominação, pertencendo ao domínio público.Por outro lado, à criança com genitália feminina compete o papel social de passividade, dependência e submissão, com vocação para a maternidade e pertencente à esfera privada. De acordo com a OMS (2016), a violência contra a mulher está enraizada na desigualdade entre os gêneros masculino e feminino, fundamentada na cultura patriarcal existente em todo o mundo. Essa violência pode ocorrer em diferentes estágios das vidas das mulheres e incluem diferentes tipos, tais como: • A violência perpetrada por parceiros íntimos e por membros da família. • A violência sexual (incluindo estupro) por não parceiros (por exemplo, conhecidos, amigos, professores e estranhos). • O tráfico, inclusive para exploração sexual e econômica. • O feminicídio, incluindo o do parceiro íntimo (ou seja, o assassinato de uma mulher por um parceiro atual ou antigo). • Os assassinatos em nome de honra ou por dote, assassinatos especificamente dirigidos a mulheres, mas por alguém que não seja seu parceiro, ou assassinatos envolvendo violência sexual. • O ato de atirar ácido no corpo da mulher. • O assédio sexual em escolas, locais de trabalho e lugares públicos. • A violência on-line por meio da internet ou das mídias sociais, que está cada vez mais frequente. Todos os tipos de violência estão fortemente associados a consequências negativas para a saúde ao longo da vida. No entanto, a violência contra as mulheres e crianças contribui de forma desproporcional para prejuízos à saúde. A violência sexual contra as mulheres e as meninas é considerada um importante fator de risco para as infecções sexualmente transmissíveis, o vírus da imunodeficiência humana (HIV), as gestações indesejadas e outros problemas de saúde reprodutiva. Por exemplo, mulheres que sofreram violência praticada por parceiro íntimo têm probabilidade 16% maior de ter um bebê com baixo peso ao nascer e, no mínimo, duas vezes maior de praticar um aborto induzido. Em determinadas regiões do mundo, mulheres que sofreram esse tipo de violência têm probabilidade 1,5 vezes maior de adquirir HIV e 1,6 vezes maior Capítulo 4. Violência Contra A Mulher 23 de ter sífilis. As demais violências contra as mulheres e as crianças também está fortemente associada a muitas outras condições adversas à saúde, que afetam o cérebro e o sistema nervoso, os sistemas gastrointestinal e geniturinário, assim como as funções imunológicas e endócrinas. Associa-se também aos comportamentos de alto risco, tais como tabagismo e consumo abusivo de álcool e drogas, que, por sua vez, são fatores de risco para diversas causas importantes de morte, entre as quais doenças cardiovasculares, câncer, doenças pulmonares crônicas, doenças hepáticas e outras doenças não transmissíveis. Além disso, as mulheres vítimas de violência apresentam maior risco de depressão, ansiedade, transtor- nos de estresse pós-traumático e comportamento suicida. De acordo com a OMS (2014), as consequências sociais dos atos de violência geram um custo econômico importante para os países. Entre os custos diretos associados à violência citam-se a necessidade de tratamento, serviços de saúde mental, cuidados emergenciais e respostas da justiça criminal. Existe também uma ampla gama de custos indiretos. As vítimas de violência são mais propensas a vivenciar períodos de desemprego e absenteísmo e a sofrer problemas de saúde que afetam o seu desempenho no trabalho. Essas informações indicam que a violência é um importante problema para a saúde pública, pois além de ser um substancial fator de risco para o desenvolvimento de problemas de saúde ao longo da vida, também é responsável por um leque de problemas sociais e econômicos. 4.1 Violência Contra A Mulher No Brasil No Brasil, a partir das décadas de 1970 e 1980, o governo brasileiro propôs as primeiras políticas na área de enfrentamento da violência contra a mulher, com destaque para a Lei Maria da Penha e a Lei de Obrigatoriedade da Notificação de Violência contra Mulher. A Lei n° 10.778, publicada em 24 de novembro de 2003, estabelece a notificação compulsória no território nacional, dos casos de violência contra a mulher atendida nos serviços de saúde, públicos ou privados. Ela define que a violência contra a mulher inclui a violência física, sexual e psicológica que tenha ocorrido: • Dentro da família ou unidade doméstica ou em qualquer outra relação interpessoal, em que o agressor conviva ou haja convivido no mesmo domicílio que a mulher e que compreende, entre outros, estupro, violação, maus-tratos e abuso sexual. • Na comunidade e seja perpetrada por qualquer pessoa e que compreende, entre outros, violação, abuso sexual, tortura, maus-tratos de pessoas, tráfico de mulheres, prosti- tuição forçada, sequestro e assédio sexual no lugar de trabalho, bem como em instituições educacionais, estabelecimentos de saúde ou qualquer outro lugar. • Perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra. A Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, foi importante por criar mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, Capítulo 4. Violência Contra A Mulher 24 dispondo sobre a criação dos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher e também sobre o estabelecimento de medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. A referida Lei configura violência doméstica e familiar como a violência ocorrida: • No âmbito da unidade doméstica, entendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; • No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; • Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. A Lei Maria da Penha representou avanços importantes na assistência à mulher vítima de violência por tipificar a violência doméstica como uma das formas de violação dos direitos humanos. Ainda, possibilitou que agressores sejam presos em flagrante ou tenham prisão preventiva decretada quando ameaçarem a integridade física da mulher. Além disso, prevê as medidas de assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar, o atendimento pela autoridade policial, as medidas protetivas de urgência, como o afastamento do agressor do domicílio e a proibição de sua aproximação física junto à mulher agredida e, ainda, a assistência judiciária e da equipe de atendimento multidisciplinar. Outros avanços importantes nesse contexto foram a criação da Rede de Atenção Integral para mulheres e adolescentes em situação de violência doméstica ou sexual, o estabelecimento e implantação de normas técnicas e protocolos específicos para a assistência à saúde das mulheres e adolescentes vítimas de violência e a permissão do abortamento legal nos casos de gravidez resultante de violência sexual (estupro). Para fortalecer essas ações e monitorar os acidentes e violências ocorridos no Brasil, o Ministério da Saúde implantou o sistema de Vigilância de Violências e Acidentes (Viva) integrando dois componentes. • Vigilância sentinela: realizada por meio de inquérito nas portas de entrada de emergências de municípios selecionados; • Vigilância contínua: feita por meio da notificação compulsória das violências domés- tica, sexual e outras violências interpessoais ou autoprovocadas em serviços de referência e outros serviços de saúde, que são notificadas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Com a implantação da Viva nos serviços de saúde, o Ministério da Saúde espera subsidiar ações para o enfrentamento dos determinantes e condicionantes das violências em uma perspectiva intersetorial, incentivando a formação de redes de atendimento às vítimas de violência. Dessa forma, o Estado espera garantira atenção integral, compreendidas a promoção da saúde e da cultura de paz e a preservação de direitos. De acordo com o Ministério da Saúde, o atendimento às mulheres e adolescentes vítimas de violência doméstica e sexual deve incluir o acolhimento, a consulta e o acom- Capítulo 4. Violência Contra A Mulher 25 panhamento psicológico. Durante a consulta, o profissional de saúde deve proceder a entrevista, o registro da história e o exame clínico e ginecológico, caso haja a suspeita de violência sexual, e solicitar exames complementares. Deve-se considerar também a necessidade de encaminhamento para intervenções de emergência ou internação hospi- talar. O acolhimento pressupõe que os profissionais de saúde devem receber e escutar a pessoa, com respeito e solidariedade, procurando maneiras de compreender suas de- mandas e expectativas. É parte fundamental do atendimento às vítimas de violência. O estabelecimento de uma relação de confiança entre o profissional de saúde e a vítima é elementar para garantir a continuidade da assistência. O atendimento psicológico e as medidas de fortalecimento devem ser oferecidos à vítima, com o objetivo de auxiliar no enfrentamento dos conflitos e os problemas inerentes à situação vivida. Deve ser iniciado o mais precocemente possível e mantido pelo tempo necessário. Considera-se fundamental que a equipe e os profissionais de saúde estejam preparados e capacitados para atuar nas situações de violência para garantir o atendimento integral e humanizado das vítimas, assim como os direitos estabelecidos por lei. A articulação entre os diferentes setores envolvidos com essa questão é igualmente importante para garantir uma verdadeira rede de atenção, apoio e proteção a essas pessoas. Nesse sentido, a conscientização e a sensibilização da sociedade constitui um dos pilares para a mudança de comportamentos e atitudes que culminem na redução da desigualdade de gêneros e, consequentemente, na prevenção de qualquer forma de violência. 4.1.1 Saúde Sexual E Reprodutiva Direitos humanos devem ser compreendidos, como o direito à vida, à alimentação, à saúde, à moradia, à educação, ao afeto, aos direitos sexuais e aos direitos reprodutivos. Respeitá-los é promover a vida em sociedade, sem discriminação de classe social, de cultura, de religião, de raça, de etnia e de orientação sexual. Para o pleno exercício da cida- dania, é preciso a garantia do conjunto dos direitos humanos. Os direitos e a saúde sexual e reprodutiva são conceitos desenvolvidos recentemente e representam uma conquista histórica, fruto da luta pela cidadania e pelos direitos humanos e ambientais. A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo, em 1994, e a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, organizada em Pequim (Beijing), em 1995, promovidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), foram marcos referenciais inter- nacionais para essa definição, estabelecendo acordos internacionais que foram assumidos por quase duas centenas de países. A Conferência Internacional sobre População e Desen- volvimento (CIPD), realizada no Cairo, em 1994, foi um marco importante, pois conferiu um papel primordial à saúde, aos direitos sexuais e aos direitos reprodutivos, abandonando a ênfase na necessidade de limitar o crescimento populacional como forma de combater a pobreza e as desigualdades, focalizando-se no desenvolvimento do ser humano. Em seus Capítulo 4. Violência Contra A Mulher 26 debates sobre população e desenvolvimento, a CIPD considerou as questões relacionadas à mulher e as desigualdades de gênero, assim como o meio ambiente e a questão dos Direitos Humanos. Ainda, ampliou e ratificou o conceito de saúde reprodutiva definido pela Organização Mundial da Saúde. Nos dias atuais, é importante reconhecer que, no mundo das práticas humanas, a atividade sexual não implica, necessariamente, em reprodução. Embora a reprodução, geral- mente, envolva a atividade sexual, as novas técnicas de fertilização in vitro possibilitam cada vez mais a reprodução sem relação sexual. Nesse sentido, é muito importante compreender que gênero, sexualidade e reprodução são esferas da vida humana que se tangenciam, mas correspondem, ao mesmo tempo, a terrenos distintos em termos de representação, significado e prática sexual. O claro discernimento entre direitos reprodutivos e direitos sexuais é parte desse mesmo esforço de esclarecimento. Nas Conferências do Cairo e Pequim, os governos de vários países, inclusive o Brasil, assumiram o compromisso de fundamentar as políticas e os programas nacionais dedicados à população e ao desenvolvimento nos direitos sexuais e reprodutivos, incluindo os programas de planejamento familiar. Os programas e as plataformas de ação propostos nessas conferências enfatizaram a necessidade da promoção da igualdade entre homens e mulheres como requisito essencial para a conquista de melhores condições de saúde e de qualidade de vida. A partir dessas conferências, muitos avanços foram conseguidos no sentido de assegurar que as pessoas de todas as orientações sexuais e identidades de gênero possam viver com a mesma dignidade e respeito a que todas as pessoas têm direito. O reconhecimento da universalidade dos direitos sexuais e dos direitos reprodutivos é fundamental para a qualificação da proposição de políticas públicas que contemplem as especificidades dos diversos segmentos da população. De acordo com o Ministério da Saúde, a prática sexual e a maternidade/paternidade são direitos de todos, que devem ser garantidos pelo Estado a partir de ações e estratégias que promovam o compromisso e responsabilidade dos cidadãos com seu exercício de modo responsável e mediante condições saudáveis e libertas de riscos. 4.2 Direitos e Saúde Sexual e Reprodutiva No Brasil No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, destacam-se cinco marcos referenciais relacionados aos direitos sexuais e reprodutivos, os quais estão brevemente apresentados a seguir: • Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher. • Constituição Federal de 1988. • Lei nº 9.263, de 1996, que regulamenta o planeja- mento familiar. • Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. • Política Nacional dos Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos. Capítulo 4. Violência Contra A Mulher 27 Em 1984, o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), que incorporou o ideário feminista na atenção à saúde da mulher, introduzindo um novo enfoque nas políticas públicas de saúde voltadas para essa população. Centralizado na integralidade e na equidade do atendimento, o PAISM propôs uma abordagem global da saúde da mulher em todas as fases do seu ciclo vital, e não apenas no ciclo gravídico-puerperal. O PAISM incluía ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, em infecções sexualmente transmissíveis, em casos de câncer de colo de útero e de mama, além de outras necessidades identificadas a partir do perfil populacional das mulheres. Esse programa significou um avanço em relação aos direitos reprodutivos para as mulheres brasileiras. Contudo, enfrentou dificuldades políticas, financeiras e operacionais para a sua implementação, que impediram que se concretizasse de forma efetiva no cotidiano da atenção à saúde da mulher. A Política Nacional dos Direitos Sexuais e dos Direitos Reprodutivos foi implemen- tada pelo Ministério da Saúde em 22 de março de 2005, com o propósito de garantir os direitos de homens e mulheres, adultos e adolescentes, em relação à saúde sexual e à saúde reprodutiva, com ênfase no planejamento familiar. Entre as propostas dessa política, destacam-se as ações direcionadas a. • Ampliação da oferta de métodos anticoncepcionais reversíveis no SUS e ao incen- tivo à implementação de atividades educativasem saúde sexual e saúde reprodutiva para usuários da rede SUS. • Capacitação dos profissionais da atenção básica em saúde sexual e saúde re- produtiva; • ampliação do acesso à esterilização cirúrgica voluntária (laqueadura tubária e vasectomia) no SUS. • Implantação e implementação de redes integradas para atenção às mulheres e aos adolescentes em situação de violência doméstica e sexual. • ampliação dos serviços de referência para a realização do aborto previsto em lei e garantia de atenção humanizada e qualificada às mulheres em situação de abortamento. De acordo com o Ministério da Saúde, a Política do Planejamento Familiar vem sendo desenvolvida no âmbito nacional com o intuito de promover as ações direcionadas à concepção e anticoncepção, assim como a prevenção de infecções sexualmente trans- missíveis (IST). A assistência em planejamento familiar deve incluir acesso à informação e a todos os métodos e técnicas para concepção e anticoncepção cientificamente aceitos e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, de acordo com a Lei do Planejamento Familiar (Lei nº 9.263/1996). Desde a segunda metade da década de 1980, quando se iniciou a implementação do PAISM no Brasil, o governo brasileiro vem atuando nas questões relativas ao planejamento familiar, por meio da adoção de medidas para permitir o acesso da população aos meios de contracepção. Os primeiros esforços nesse Capítulo 4. Violência Contra A Mulher 28 sentido incluíram a provisão de insumos contraceptivos para os serviços públicos de saúde, sendo que alguns métodos contraceptivos começaram a ser distribuídos gratuitamente pelo Estado, e a capacitação dos profissionais para proverem atenção em planejamento familiar com qualidade. Entretanto, esse processo foi marcado pela descontinuidade e baixa efetividade. Em 2007, foi lançada a Política Nacional de Planejamento Familiar, que também foi considerada um importante marco na promoção dos direitos e da saúde sexual e repro- dutiva aos cidadãos brasileiros. Entre as suas ações, a Política Nacional de Planejamento Familiar englobou a distribuição gratuita de contraceptivos – incluindo os anticoncepcionais orais e injetáveis, o dispositivo intrauterino (DIU), o diafragma e os preservativos –, a venda de anticoncepcionais na Farmácia Popular e o fortalecimento de ações educativas relacio- nadas à saúde sexual e reprodutiva em unidades de saúde e escolas. Portanto, observa-se que os direitos, a saúde sexual e a saúde reprodutiva estão na pauta governamental. Por isso, diante das conquistas legais e políticas discutidas anteriormente, os gestores e os profissionais de saúde têm papel fundamental no sentido de conhecê-las e torná-las uma realidade no planejamento e na prática de atenção à saúde. 4.2.1 Politicas de Atenção á Saúde da Mulher no Brasil No Brasil, a saúde da mulher foi incorporada às políticas nacionais de saúde nas primeiras décadas do século XX. No entanto, os programas implementados voltavam-se, exclusivamente, para a assistência aos aspectos referentes à gestação e ao parto. Os programas materno-infantis, elaborados nas décadas de 1930, 1950 e 1970, traduziam uma visão restrita sobre a mulher, fundamentada em sua especificidade biológica e no seu papel social de mãe e doméstica, responsável pela criação, pela educação e pelo cuidado com a saúde dos filhos e dos demais familiares. Esses programas foram exaustivamente criticados pela perspectiva reducionista com que tratavam a mulher. Com forte atuação no campo da saúde, o movimento de mulheres contribuiu para introduzir na agenda política nacional as questões relacionadas às desigualdades nas relações sociais entre homens e mulheres que se traduziam também em problemas de saúde que afetavam particularmente a população feminina. Entre as reinvindicações do movimento feminista, incluía-se o entendimento da mulher como sujeito de direito, com necessidades que extrapolam o momento da gestação e parto, demandando ações que lhes proporcionassem a melhoria das condições de saúde em todo o ciclo vital da mulher. Em conjunto com as ações promovidas pelo movimento feminista, a Reforma Sanitária e o processo de redemocratização do Brasil, ocorridos nas décadas de 1970 e 1980, con- tribuíram para a mudança no modelo de atenção à saúde da mulher no País. Em 1984, o Ministério da Saúde elaborou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), marcando, sobretudo, uma ruptura conceitual com os princípios norteadores da política de saúde das mulheres e os critérios para eleição de prioridades nesse campo. O Capítulo 4. Violência Contra A Mulher 29 PAISM incorporou como princípios as propostas de universalidade, integralidade e equidade da atenção à saúde, bem como as diretrizes de descentralização, hierarquização e regio- nalização dos serviços. Paralelamente, no âmbito do Movimento Sanitário, foi concebido o arcabouço conceitual que embasou a formulação do Sistema Único de Saúde (SUS) pelo Ministério da Saúde. O PAISM foi anunciado como nova e diferenciada abordagem à saúde da mulher, rompendo a visão do modelo materno-infantil que compreendia a mulher simplesmente como uma reprodutora. Contudo, apesar de promover avanços significativos na saúde da mulher no Brasil, o PAISM não considerou em suas ações a necessidade de articulação com outras áreas técnicas e de ações direcionadas à saúde das mulheres que compõem grupos socialmente excluídos, como as mulheres rurais, com deficiência, negras, indígenas, presidiárias e lésbicas. Considerando essas perspectivas, o Ministério da Saúde lançou, em 2004, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), fortalecendo e ampliando as ações propostas pelo PAISM. Os objetivos gerais da PNAISM são os seguintes. • Promover a melhoria das condições de vida e saúde das mulheres brasileiras, mediante a garantia de direitos legalmente constituídos, e ampliar o acesso aos meios e serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde em todo o território brasileiro. • Contribuir para a redução da morbidade e mortalidade feminina no Brasil, especial- mente por causas evitáveis, em todos os ciclos de vida e nos diversos grupos populacionais, sem discriminação de qualquer espécie. • Ampliar, qualificar e humanizar a atenção integral à saúde da mulher no SUS. Além das ações de promoção à saúde da mulher na terceira idade, da negra, das trabalhadoras do campo e da cidade, da indígena e das mulheres em situação de prisão, a PNAISM também incluiu estratégias para. • Ampliar e qualificar a atenção clínico-ginecológica, inclusive para as mulheres com infecção pelo HIV e outras IST. • Estimular a implantação e implementação da assistência em planejamento familiar, para homens e mulheres, adultos e adolescentes, no âmbito da atenção integral à saúde. • Promover a atenção obstétrica e neonatal, qualificada e humanizada, incluindo a assistência ao abortamento em condições inseguras, para mulheres e adolescentes. • Promover a atenção às mulheres e adolescentes em situação de violência domés- tica e sexual. • Promover a prevenção e o controle das infecções sexualmente transmissíveis e da infecção pelo HIV/aids na população feminina. • Reduzir a morbimortalidade por câncer na população feminino. • Implantar um modelo de atenção à saúde mental das mulheres sob o enfoque de gênero. • Implantar e implementar a atenção à saúde da mulher no climatério. Capítulo 4. Violência Contra A Mulher 30 • Fortalecer a participação e o controle social na definição e implementação das políticas de atenção integral à saúde das mulheres. Humanização deve ser entendida com uma estratégia de interferência no processo de produção de saúde que considere que quando os sujeitos sociais são mobilizados, são capazes de transformar a realidade, modificando a si mesmos. Assim, trata-se da produção de um novo tipo de interação entre os sujeitos que constituem os sistemas de saúde e deles usufruem,
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