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TÉCNICAS DE COMUNICAÇÃO AULA 4 Profª Margarete Terezinha de Andrade Costa 2 CONVERSA INICIAL Esta aula tem como objetivo ampliar a capacidade prática e teórica de utilização das técnicas de redação. Para isso, vamos estudar como implementar mensagens de qualidade para a obtenção de resultados na racionalização do fluxo de informação; assim como usar os mecanismos de coesão textual de forma intencional e assertivamente. Sabemos que todo o texto tem uma estrutura básica a introdução, o desenvolvimento e a conclusão. Vamos estudar, com base nesse arcabouço, a adequação, a clareza, a concisão, a objetividade, a relevância na construção textual e verificar as conexões e termos de referências, buscando assim melhorar a leitura e a produção textual. TEMA 1 – GÊNEROS TEXTUAIS Alguns textos têm especificidade em situações habituais, isto é, são construídos com determinadas características que se repetem para situações próprias e, por isso, apresentam uma intencionalidade comunicativa definida. Eles têm objetivo claro e encaixam-se em contextos específicos, por exemplo, uma carta comercial. Ela tem forma, função e contexto próprio, e é facilmente reconhecida pelas suas propriedades. 1.1 Exemplos de gêneros textuais Não há como elencar todos os tipos de gêneros textuais que existem, visto que eles são mutáveis e adaptáveis a diferentes situações de uso. Mesmo possuindo características próprias, um gênero pode, ao amoldar-se a uma situação de uso, transformar-se e tornar-se um novo gênero textual. Mesmo assim, temos gêneros textuais que têm seu uso clássico, tais como receita, e-mail, relato científico, entrevista, curriculum vitae, verbete de dicionário, bula, manual, lista de compras, entre tantas outras. Observe que cada gênero pode ser identificado e usado como modelo pelas suas características, tais como forma do uso da linguagem, estilo, tamanho... Assim, se você pretende escrever uma carta, nada melhor que buscar modelos de cartas para analisar sua estrutura. 3 1.2 Gênero e tipologia textual Algumas vezes, gênero e tipologia textuais são confundidos. Os gêneros, como já expomos, são a forma como o texto se apresenta e sua relação direta com a situação de uso. Já a tipologia está relacionada com a estrutura e aspectos linguísticos voltados para a forma de organizar o texto, que pode ser narrativo, descritivo, dissertativo e explicativo. É importante lembrar que o texto narrativo tem como base “contar” uma história. Ele apresenta um personagem realizando algum fato em um determinado lugar e tempo; já a descrição é uma “foto” apresentada por meio da palavra e pode ser a descrição de uma pessoa, lugar, sentimento... A dissertação é a defesa de uma ideia com apresentação de argumentos que a comprovem ou refutem. O texto explicativo, como o próprio nome diz, esclarece, elucida. Como você já deve ter percebido, os tipos textuais são a base do texto, e a tipologia é a situação de uso destes. TEMA 2 – MECANISMOS DE COESÃO TEXTUAL Um bom texto é aquele que encaminha o leitor para o seu entendimento. Para isso, é importantíssimo que o texto tenha coesão. A coesão se dá por meio de termos, palavras ou expressões que criam uma relação, uma lógica textual. Lembre-se que um texto não é um aglomerado de palavras, as quais se ligam para garantir fluxo de ideias e sequência ao texto. Um texto coeso é aquele que apresenta as ideias postas “amarradas”, conectadas, ligadas. Cada frase deve se relacionar com a anterior e com a posterior, trazendo fluidez para a leitura e consequentemente para o entendimento do texto. A coesão, que é realizada por meio de relações linguísticas e recursos denominados de elementos de coesão, possibilita que uma mensagem seja expressa de forma eficaz, gerando, com isso, um melhor entendimento dela. Para se evitar que um texto fique solto, que uma frase fique sem relação com a anterior, por exemplo, utiliza-se a coesão textual, que permite diferentes tipos de encadeamento de ideias. 4 2.1 Tipos de coesão textual: referências, reiterações e substituições lexicais A coesão por referências e reiterações acontece quando um termo se refere a outro no próprio texto. Ela pode acontecer com a substituição de uma palavra, anunciação ou retomada de frases, sequências e palavras que indicam conceitos e fatos. As substituições lexicais se dão quando um termo é trocado por outro dentro do texto e, com isso, se estabelece uma relação. Para isso, normalmente se empregam sinônimos ou repetição de palavras. 2.2 Tipos de coesão textual: conectores e correlação Para se estabelecer uma relação entre os termos, uma forma de se manter a coesão textual é com o uso de conectores. Os mais utilizados são as conjunções (por exemplo, mas, porém, contudo, todavia), preposições (por exemplo, até, com, de, em, perante) e advérbios (por exemplo, talvez, muito, sempre, nunca). A coesão acontece também na correta utilização dos tempos verbais de forma ordenada, proporcionando ao leitor uma forma lógica e linear TEMA 3 – ESTRUTURA TEXTUAL Texto não é somente um ajuntamento de palavras, pois elas também precisam ter sentido. Texto é qualquer forma de interagir com o outro que tenha sentido, o que pode ocorrer por meio de palavras escritas ou faladas denominadas de verbal, mas também pode ser não verbal, isto é, sem o uso de palavras, por desenhos, imagens, gestos, cor, sons... Todavia o texto exige uma estrutura para ser entendido. O texto tem textualidade (ou textura), que é a premissa utilizada pelo autor que conhece elementos, estrutura e função de texto para que seja entendido pelo outro interlocutor; pois a leitura e compreensão dependem da produção de sentido no texto. 5 3.1 Coerência, intencionalidade, aceitabilidade A coerência está relacionada com a lógica dos fatos. Assim, um texto, mesmo sendo ficcional, precisa ter relações não contraditórias, criando, assim, uma conexão cognitiva e conceitual entre o que é dito e o que é real. Para que haja coerência, é necessário que o texto tenha sequência e continuação lógica de ideias. Ao se criar um texto, busca-se expressar determinada intenção. que pode estar implícita ou velada, porém sempre existe e, ao conhecê-la, se está mais próximo do entendimento esperado. Da mesma forma, diferentes intenções mostram-se em estruturas próprias, como já vimos anteriormente nos gêneros textuais. Cada situação exige formas diferentes de comunicação. Por exemplo, se a conversa é informal, nossa tese pode ser baseada em ideias livres. Mas se a situação é formal, devemos usar argumentos mais sólidos e consistentes. Quando produzimos um texto, nossa intenção deve estar bem colocada para ser entendida com clareza. O sentindo da leitura é dado por meio da interpretação e da interação dos saberes do escritor e do leitor. Sabemos que o leitor pode ter um conhecimento prévio e poderá avaliar o texto com critérios diferentes dos nossos. Outro fator importante é a aceitação do texto pelo receptor. Chamamos de aceitabilidade quando duas ou mais pessoas estão conversando e uma procura compreender a outra. Um bom exemplo de aceitabilidade é quando um adulto busca entender o que uma criança está falando. Há um esforço de compreender, de colocar-se no lugar da criança, de traduzir termos e ideias que não estão conexas. Assim, aceitar é permitir receber algo dado ou oferecido; é estar de acordo ou concordar em aceitar. Em nosso caso que estudamos os fatores da comunicação, aceitarseria o estado de receber a mensagem que está sendo passada. Isso parece simples, mas não é sempre que se está aberto para novas ideias ou opiniões. Ao se ler um texto, vai se criando um juízo de valor sobre ele, e isso interfere no entendimento deste, pois o leitor aceita ou refuta a ideia do texto e de seu escritor. Normalmente apreciamos textos dos autores de que gostamos e temos rejeição em relação aos autores que não nos são muito simpáticos. Também reagimos negativamente, até mesmo antes da leitura, a autores que 6 tenham linhas filosóficas ou políticas muito diferentes das nossas, pois não concordamos com as ideias deles, com a intenção que expressam. A intencionalidade está ligada ao autor; enquanto a aceitabilidade, ao leitor. Quando esses dois elementos se enquadram, a comunicação efetiva-se de forma mais estruturada. 3.2 Situacionalidade, intertextualidade, informatividade Todo o texto é produzido em um determinado tempo e contexto, da mesma forma que a leitura do texto é realizada nas mesmas condições. Assim, o texto apresenta marcas que identificam sua realização que podem ser diferentes do momento de sua leitura. A relação entre as ideias de um texto com outros textos é comum. O escrito busca em seus conhecimentos anteriores elementos para sua produção. Da mesma forma, é comum usarmos referências de outros textos em nossas produções e interpretações, cujas relações são denominadas de intertextualidade, que é a influência que um texto exerce sobre outro que o toma como modelo ou ponto de partida. Se analisarmos o termo inter, veremos que significa “relação”. Assim, fica claro que intertextualidade se refere à relação entre textos. Para que um texto seja interessante, é necessário que ele traga novidades. Dessa forma, a informatividade volta-se para a quantidade de informações e situações novas e inesperadas para interessar o leitor. Informatividade, como o próprio nome diz, está relacionada com a informação. Nesse caso, são textos que trazem informações que ampliem os conhecimentos de seus receptores (leitores, ouvintes). O grau de informatividade depende da finalidade da escrita, do objetivo do texto. Um texto infantil, por exemplo, vai abordar um assunto com informações diferenciadas de um texto para adultos. Seria aborrecido para um leitor ler um texto cuja informação ele já conheça ou que sejam de senso comum, do consenso geral. Portanto, os conhecimentos de mundo do emissor e do receptor do texto vão validar a qualidade deste. Para que a comunicação se efetive plenamente, é necessário que a informatividade do texto seja apropriada aos seus interlocutores. 7 É importante ressaltar que sempre quando vamos ler um texto, temos uma expectativa, esperamos alguma coisa e preferencialmente algo novo. Quanto mais singulares e relevantes se constituírem as informações, maior o grau de informatividade do texto. O texto, dessa forma, ficará mais atraente ao leitor e maior será a interação. Daí, a arte de saber a medida certa, pois muita informação cansa, pouca informação distrai... TEMA 4 – QUALIDADE DA COMUNICAÇÃO O desejo de todo escritor é ter uma comunicação clara e eficaz. Ela não acontece por acaso ou de forma plena sempre que desejamos, por isso existem recursos que ajudam a facilidade do leitor interagir e dar significado pleno ao texto. Reforçando, o exercício da leitura e da escrita é o caminho mais certeiro para melhorar a qualidade da comunicação, seja ela escrita ou não. 4.1 Tema e objetivo Toda a comunicação tem uma intenção e esta é marcada por ideias dominantes, isto é, ideias que indiquem o que se quer ponderar e que precisam ser entendidas pelo receptor. Assim, o tópico da comunicação é fundamental para sua realização, pois um bom texto é aquele que tem claro qual é a ideia central e a mantém durante todo seu percurso. Qualquer tipo de comunicação tem um objetivo e ir direto a ele é uma estratégia de comunicação eficiente. Com isso se evitam distrações, uma vez que o entendimento é mais expressivo. 4.2 Concretude e questionamento A comunicação se realiza de forma plena quando trata de tema real, concreto, pleno. Isso quer dizer que, mesmo se tratando de ficção, o leitor deve acreditar no texto. Assim, discorrer sobre acontecimentos particulares, detalhes, explicações, fatos e exemplos dão concretude à comunicação e possibilitam ao leitor criar um universo compreensivo com significados diferentes do senso comum, que não traz interesse. Quando o texto apresenta uma questão em cuja resolução o leitor se sente envolvido, o texto torna-se mais atraente e prende a atenção. Assim, 8 buscar reflexões e questionamento no texto é uma forma de realizar uma comunicação com mais qualidade. TEMA 5 – PARAGRAFAÇÃO O texto é divido em parágrafos, que são identificados pelo recuo na primeira linha do texto da margem esquerda (aproximadamente três centímetros ou dois dedos). Essa divisão representa a organização das ideias expostas, pois em cada parágrafo deve haver somente uma ideia central. Por sua vez, cada parágrafo deve estar ligado ao anterior e apresentar o conseguinte. Portanto, é importante conhecer e usar corretamente os parágrafos. 5.1 Estrutura do parágrafo Não há tamanho determinado para a construção de um parágrafo, que varia de acordo com o gênero textual, da mesma forma que a quantidade de informação varia de acordo com cada tópico tratado. Porém não se deve esquecer que a estrutura “introdução – desenvolvimento – conclusão” é um modelo assertivo dentro do parágrafo assim como no texto como um todo. Dessa forma, o parágrafo precisa ter, no mínimo, três linhas e o texto, três parágrafos. Reforçando, cada parágrafo transita em torno de apenas uma ideia central, a qual deve ser esgotada nele. O parágrafo apresenta um tópico frasal, que é uma afirmação objetiva e concisa do assunto a ser tratado e resume o conteúdo desenvolvido. Portanto, o texto deve ser um todo coeso, os parágrafos devem estar organizados com coerência e coesa, ampliando assim a possibilidade de compreensão do leitor. 5.2 Parágrafos, gêneros e tipologias textuais Os diferentes gêneros textuais apresentam organização própria e, com isso, estruturas de parágrafos distintas. Assim, em uma receita de bolo, por exemplo, primeiramente se apresentam os ingredientes em forma de lista; em seguida, a maneira de fazer a receita em parágrafos. Em histórias em quadrinhos, o texto é apresentado em forma de balões, modificando totalmente a estrutura comum dos parágrafos. Já em textos de tipologia narrativa, pode haver a presença de diálogos diretos, que são apresentados com travessões. Assim, é importante lembrar que 9 cada texto é um texto e precisa ser estruturado de forma que atenda a suas particularidades. NA PRÁTICA Você precisa escrever um texto. Para algumas pessoas, isso é relativamente fácil; já, para outras, é uma angústia. Escrever não é um dom, mas é uma arte que exige treino e apresenta alguns passos. Vamos fazer um exercício usando os elementos desta aula. O primeiro passo é buscar um texto que seja similar ao que você quer produzir, do mesmo gênero textual: se você que escrever uma carta, busque um bom exemplo dela; o mesmo se dá com um discurso, relatório, poesia. Em seguida, analise os elementos que compõem tal texto: a forma, o espaçamento, os termos. Você pode selecionar palavras ou termos interessantes para usar em seu texto (intertextualidade). Da mesma forma, observe a tipologia utilizada, se é uma narração ou uma dissertação, por exemplo. Agora comece a organizaro que você pretende. Escreva os tópicos ou ideias mais importantes sobre o assunto. Faça um esquema da melhor ordem de apresentação dessas ideias. Faça de forma que fique mais coerente, separando cada tópico em um parágrafo. Depois disso, desenvolva cada ideia de cada parágrafo, lembrando sempre da intenção que você quer explanar e de que forma esta poderá ser bem aceita pelo leitor. Lembre-se de que o texto precisa ter informações interessantes, que atraiam o leitor. Pronto! O caminho para escrever o texto está sinalizado e possivelmente as primeiras experiências não vão dar um resultado maravilhoso, mas você deixou de ficar olhando para o vazio buscando inspiração. Um bom texto exige trabalho, pesquisa, dedicação e muita prática. FINALIZANDO Nesta aula apresentamos assuntos relacionados à produção textual e vimos a importância dos aspectos da textualidade, como a coerência, que faz com que o texto tenha nexo e consistência. Estudamos a coesão, que harmoniza o texto com ligações lógicas; discorremos sobre a intencionalidade, que é a matriz de todo texto; falamos sobre a informatividade como bagagem de informações; a intertextualidade, que relaciona textos; a aceitabilidade, a forma como o texto é recebido pelo leitor; a situacionalidade, ou seja, o contexto no 10 qual o texto acontece; e, por fim, a paragrafação. Com o domínio desses elementos, você melhorará sua atuação como produtor e receptor de textos variados. Esperamos que tenha aproveitado bem a aula, e que continue estudando! 11 REFERÊNCIAS DISCINI, N. Comunicação nos textos. São Paulo: Contexto, 2009. GUIMARÃES, T. C. Comunicação e linguagem. São Paulo: Pearson, 2013. SILVA, L. A. Qualidade na comunicação escrita. Curitiba: InterSaberes, 2009. VALLE, M. L. E. Não erre mais: língua portuguesa nas empresas. Curitiba: InterSaberes, 2013.
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