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RESUMO DE FISIOLOGIA Cap. 8 Rossana Sousa Medicina - UEMA 1. Músculo liso – tipos O músculo liso vai se distinguir por aspectos como: dimensões físicas, organização em feixes ou folhetos, resposta a diferentes tipos de estímulo, características da inervação e função. Pode ser dividido em dois grandes tipos: músculo liso multiunitário e músculo liso unitário. O Músculo Liso Multiunitário é composto por fibras separadas e discretas, sendo que cada fibra opera independentemente das outras, com a inervação sendo feita por apenas uma terminação nervosa. As superfícies externas dessas fibras são recobertas por fina camada de substância semelhante a da membrana basal, composta por uma mistura de colágeno e glicoproteínas que isola as fibras umas das outras. A sua característica mais importante é que cada fibra se contrai independentemente das outras e o controle é exercido por sinais nervosos. Exemplos: músculo ciliar do olho, músculo da íris do olho e músculos piloeretores. O Músculo Liso Unitário (músculo liso sincicial ou músculo liso visceral) é composta por uma massa de fibras musculares lisas que se contraem ao mesmo tempo, como uma só unidade. Encontra-se disposta em folhetos ou feixes, com as membranas celulares aderidas entre si em múltiplos pontos, de maneira que a força gerada em uma fibra pode ser transmitida para a seguinte. São ligadas por junções comunicantes, de maneira que permite que os íons possam fluir livremente de uma célula para a seguinte. Isso permite que os potenciais de ação ou o simples fluxo de íons (sem potencial de ação) possam passar de uma fibra para a seguinte e fazer com que ocorra a contração em conjunto. Conhecido também como músculo sincicial por causa das interconexões entre as fibras e como visceral por ser encontrado nas paredes da maioria das vísceras do corpo. 2. Mecanismo contrátil no músculo liso A base química para a contração consiste na presença de actina e miosina, mas sem a presença do complexo de troponina normal necessário no controle da contração do músculo esquelético. O processo contrátil é ativado por íons cálcio e o ATP é degradado em ADP para fornecer energia para a contração. A base física para a contração do músculo liso se caracteriza por não apresentar a mesma disposição estriada dos filamentos de actina e miosina, de maneira que esses filamentos estão ligados pelos corpos densos. Esses corpos densos podem se encontrar ligados à membrana celular ou dispersos no interior da célula. Além disso, alguns corpos densos estão conectados por pontes de proteínas intercelular na membrana de células adjacentes. É principalmente por essas conexões que a força da contração é transmitida de célula a célula. Assim, os corpos densos do músculo liso vão desempenhar o mesmo papel que os discos Z no músculo esquelético. As fibras de miosina, na fibra muscular, se encontram entre os filamentos de actina. A maioria dos filamentos de miosina apresenta as chamadas pontes cruzadas “com polarização lateral”, de maneira que são dispostas de forma que as pontes de um lado se curvam em uma direção e as do outro lado dobram na direção oposta. Isso permite que a miosina puxe os filamentos de actina em uma direção de um lado, enquanto simultaneamente puxa na direção oposta outros filamentos de actina, no outro lado. A comparação entre a contração do músculo liso e a contração do músculo esquelético pode ocorrer em relação aos seguintes aspectos: a) Baixa frequência de ciclos das pontes cruzadas de miosina – A frequência do ciclo de pontes cruzadas consiste na sua ligação da miosina com a actina, seguida por desligamento e religamento para o novo ciclo. Essa frequência é muito mais baixa no músculo liso, de maneira que se acredita que a fração de tempo em que as pontes cruzadas se matem ligada aos filamentos de actina seja bastante aumentada. Possível razão: as cabeças das pontes cruzadas apresentam menos atividade de ATPase do que no músculo esquelético, o que causa a redução da atividade de degração de ATP, com baixa velocidade nos ciclos. b) Baixa energia necessária para manter a contração – Apenas 1/10 a 1/300 da energia do músculo esquelético são necessários para manter a mesma tensão de contração do músculo liso. Acredita-se que seja resultado do longo ciclo de conexão e desconexão das pontes cruzadas e porque apenas uma molécula de ATP é necessária para cada ciclo. c) Lentidão do início da contração e do relaxamento do tecido muscular liso total – O tecido muscular liso só começa a se contrair após alguns milissegundos depois de excitado, além de ter uma contração 30 vezes mais prolongada que uma só contração de uma fibra muscular esquelética (mas alguns músculos lisos podem ter contrações breves). O lento início da contração, assim como sua contração prolongada, é causado pela lentidão da conexão e desconexão das pontes cruzadas com os filamentos de actina. O início da contração, em resposta aos íons cálcio, é muito mais lento. d) A força máxima de contração é (geralmente) maior no músculo liso – A grande força de contração do músculo liso resulta do período prolongado de conexão das pontes cruzadas de miosina com os filamentos de actina. e) O mecanismo “Trava” facilita a manutenção prolongado das contrações – Quando desenvolvido contração completa, a quantidade de excitação continuada pode ser usualmente reduzida a bem menos que o nível inicial e ainda assim o músculo mantém sua força de contração. A energia consumida para manter a contração é frequentemente minúscula. A importância do mecanismo de trava é que ele pode manter a contração tônica prolongada do músculo liso por horas com o uso de pouca energia. f) Estresse-relaxamento do músculo liso – Importante característica do músculo liso, especialmente do tipo unitário visceral, é sua capacidade de restabelecer quase a mesma força original de contração, segundos ou minutos depois de ter sido alongado ou encurtado. Sua importância consiste na permissão que alguns órgãos ocos mantenham quase a mesma pressão no interior de seu lúmen, a despeito de grandes e prolongadas alterações de volume. 3. Regulação da contração pelos íons cálcio O estímulo inicial para a contração do M. Liso é o aumento intracelular dos íons cálcio, podendo ser causado por estimulação nervosa, estimulação hormonal, estiramento da fibra ou por alteração química no ambiente da fibra. O M. Liso não possui troponina, a proteína que é reguladora e ativada por íons cálcio para a contração do M. esquelético. Alguns mecanismos para a contração: Complexo cálcio-calmodulina – A proteína reguladora será a calmodulina, a qual vai ativas as pontes cruzadas através do seguinte mecanismo: os íons cálcio vão se ligar à calmodulina, o que vai fazer com que a miosina-quinase seja ativada através da união do complexo cálcio-calmodulina com essa enzima, o que faz com que as cadeias leves de cada cabeça de miosina, a cadeia reguladora, seja fosforilada em resposta a miosina-quinase, havendo a capacidade de que a cabeça se ligue repetidamente com o filamento de actina e que desenvolva as “trações” intermitentes, com consequente contração muscular. Miosina fosfatase – A desfosforilação da cabeça de miosina é catalisada pela fosfatase de miosina, quando a concentração de íons cálcio cai abaixo de seu nível crítico, e se encontra localizada nos líquidos da célula M. Lisa, a qual cliva o fosfato da cadeia leve reguladora. Consequentemente, o ciclo interrompe e a contração cessa. O tempo de regulação é determinado pela quantidade de fosfatase de miosina ativa na célula. Mecanismo para a regulação do fenômeno de trava – quando as enzimas miosina-quinase e miosina fosfatase das cabeças de miosina estão ambas muito ativadas, a frequência dos ciclos das cabeças de miosina e a velocidade de contração ficam aumentadas.Em seguida, com a redução da ativação dessas enzimas, a frequência dos ciclos diminui. Porém, ao mesmo tempo, sua desativação permite que as cabeças de miosina se mantenham ligadas ao filamento de actina por fração cada vez mais longa da proporção do ciclo. Portanto, o número de cabeças ligadas ao filamento de actina em qualquer momento permanece grande. Como o número de cabeças ligadas a actina determina a força estática da contração, a tensão é mantida ou “travada”; pouca energia é usada pelo músculo, porque o ATP não é degradado à ADP, exceto na rara ocasião em que a cabeça se desconecta. 4. Controle Nervoso e Hormonal O músculo liso pode ser estimulado a se contrair por múltiplos tipos de sinais, como pelos sinais nervosos, pelo estímulo hormonal, por estiramento do músculo e entre outras maneiras. A principal razão para essa diferença é que a membrana do músculo liso contém receptores proteicos que podem iniciar o processo contrátil. Outros receptores proteicos inibem a contração do músculo liso. 4.1 Junções Neuromusculares do músculo liso Anatomia fisiológica – As fibras nervosas autônomas inervam o M. Liso e geralmente se ramificam difusamente na extremidade superior do folheto de fibras musculares. Essas fibras não irão fazer contato direto com a membrana celular das fibras musculares lisas, mas formam as junções difusas, as quais vão secretar a substância transmissora na matriz que recobre o músculo liso, de maneira que substância transmissora vai se difundir para as células. Além disso, onde há muitas camadas de células musculares, as fibras nervosas vão inervar apenas a camada externa. Assim, a excitação muscular vai passar da camada externa para a interna, através da condução do potencial de ação pela massa muscular ou por difusão da substância transmissora. Os axônios que inervam as fibras musculares lisas não apresentam a ramificação típica e as terminações do tipo que ocorrem na placa motora nas fibras M. esqueléticas, pois vão ter na maioria dos terminais axonais múltiplas varicosidades, onde pode ser encontrada várias vesículas. Algumas vesículas vão apresentar acetilcolina, enquanto outras norepinefrina. As células de Schwan, que envelopam os axônios, são interrompidas para que a substância transmissora possa ser secretada por essas. OBS: No M. Liso do tipo multiunitário, vai haver a presença de junções de contato, as quais vão funcionar de forma parecida à junção neuromuscular do M. Esquelético, apresentando uma maior rapidez de contração nas fibras musculares lisas, quando comparada com as que são estimuladas pelas junções difusas. Substâncias transmissoras excitatórias e inibitórias – A acetilcolina e a norepinefrina nunca são secretadas pela mesma fibra nervosa. A acetilcolina pode agir como excitatória para algumas fibras, porém como inibitório para outras. Quando a acetilcolina excita uma fibra muscular, a norepinefrina obrigatoriamente a inibe, e vice-versa. A ação dessas substâncias ocorre através da ligação dessas em receptores proteicos na superfície da membrana da célula muscular. Alguns receptores são excitatórios, quanto outros são inibitórios. Assim, o tipo de receptor que determinará qual dos dois transmissores irá causar excitação ou inibição. 5. Potenciais de membrana e potencias de ação Potenciais de membrana – A voltagem quantitativa de potencial de membrana do M. Liso depende da situação momentânea do músculo. No estado normal e repouso, é -50 a -60 milivolts. Potenciais de ação no músculo liso unitário – Os potenciais de ação no músculo liso unitário ocorrem de duas formas: potenciais em ponta ou potenciais de ação com platôs. Os potenciais de ação em ponta ocorrem na maior parte dos tipos de músculo liso unitário, podendo ser desencadeado pela estimulação elétrica, pela ação de hormônios sobre o músculo liso, pela ação de substâncias transmissoras das fibras nervosas, pelo estiramento ou como resultado da geração espontânea na própria fibra muscular. Os potenciais de ação com platô vão possui o início semelhante ao do potencial em ponta, porém, em vez da rápida repolarização da membrana da fibra muscular, a repolarização é retardada por 1 segundo o que pode estar associado à contração prolongada. A importância dos canais de cálcio – A membrana celular do músculo liso apresenta muito mais canais de cálcio controlados por voltagem que o M. esquelético, porém poucos de sódio. O sódio participa pouco na geração do potencial de ação na maioria dos músculos lisos, ao contrário dos íons cálcio. Os canais de cálcio se abrem muito mais lentamente que os canais de sódio e permanecem abertos por tempo muito maior. Esse fato é o que provoca o platô prolongado do potencial de ação. Os íons cálcio vão agir diretamente sobre o mecanismo contrátil do músculo liso para provocar a contração. Potenciais de onda lenta podem levar à geração espontânea de potencias de ação – alguns músculos são auto excitatórios, sendo que esse potencial de ação está associado a ritmo em onda lenta básico do potencial de membrana. As ondas lentas são causadas pelo aumento e pela diminuição do bombeamento de íons positivos (íons sódio) para fora da membrana da fibra muscular, ficando mais negativo quando o sódio é bombeado rapidamente e menos negativo quando a bomba de sódio é menos ativa. Também se acredita é que a condutância dada pelos canais iônicos aumente e diminua ritmicamente. Quando elas têm amplitude suficiente podem iniciar potenciais de ação. As próprias ondas lentas não causam contração muscular, porém, quando o pico do potencial de onda negativo dentro da face interna da membrana celular aumenta, na direção positiva, de -60 para -35 milivolts, o potencial de ação se desenvolve e se propaga pela massa muscular e a contração ocorre. A cada pico de onda lenta ocorrem um ou mais potenciais de ação. As sequências repetitivas de potenciais de ação desencadeiam a contração rítmica da massa muscular lisa. São chamadas de ondas marca-passo. Excitação por estiramento muscular – Os potenciais de ação gerados pelo estiramento muscular resultam da combinação de dois fatores: potenciais de onda lenta normais e diminuição da negatividade do potencial de membrana, causada pelo próprio estiramento. Despolarização do Músculo Liso Multiunitário sem potenciais de ação – A contração vai ocorrer principalmente em resposta aos estímulos nervosos. As terminações nervosas secretam acetilcolina ou norepinefrina, dependendo do m. liso. As substâncias transmissoras vão provocar despolarização da membrana da musculatura lisa, provocando a contração. A razão para isso é que as fibras são muito pequenas para gerar o potencial de ação. Nas pequenas células musculares lisas, mesmo sem potencial de ação, a despolarização local (potencial juncional), causada pela substância neurotransmissora, propaga-se “eletro tonicamente” por toda a fibra. 6. Contração do músculo liso sem potencial de ação Os dois tipos de fatores estimuladores não nervosos e não associados a potencial de ação que estão frequentemente evolvidos são: fatores químicos teciduais locais e vários hormônios. Fatores químicos teciduais locais – Os menores dos vasos têm pouca ou nenhuma inervação. Ainda assim, o músculo liso é muito contrátil, respondendo rapidamente às alterações nas condições químicas locais no líquido intersticial circundante. No estado normal de repouso, muitos desses pequenos vasos sanguíneos permanecem contraídos. Porém, quando é necessário, múltiplos fatores podem relaxar a parede do vaso, sendo um controle realizado por feedback. Alguns dos fatores específicos são: falta de oxigênio, excesso de CO2, aumento da concentração de íons hidrogênio. Outras substâncias-situações que podem causar vasodilatação: adenosina, ácido lático, aumento da concentração de potássio, diminuição na concentração de íons cálcioe aumento da temperatura corporal. Efeitos dos hormônios – Um hormônio causa contração de um músculo liso quando a membrana da célula muscular contém receptores excitatórios controlados por hormônios. Ao contrário, o hormônio provoca inibição se a membrana contiver receptores inibitórios para o hormônio. Mais importantes: norepinefrina, epinefrina, acetilcolina, angiotensina, endotelina, vasopressina, oxitocina, serotonina e histamina. 7. Mecanismos de excitação ou inibição do músculo liso por hormônios ou fatores Alguns receptores hormonais na membrana do músculo liso abrem canais para íons sódio ou cálcio e despolarizam a membrana. O resultado é o potencial de ação, ou a amplificação de potenciais de ação que já estão ocorrendo. Em alguns casos, a despolarização ocorre sem potencial de ação, e essa despolarização permite que íons cálcio entrem na célula, o que promove a contração. A inibição, ao contrário, ocorre quando o hormônio (ou outro fator tecidual) fecha os canais de sódio ou de cálcio e evita o influxo desses íons positivos, a inibição também ocorre quando canais de potássio, normalmente fechados, são abertos, permitindo que os íons potássio se difundam para fora da célula. Essas ações aumentam o grau de negatividade no interior da célula muscular, estado chamado de hiperpolarização, que inibe fortemente a contração muscular. Algumas vezes a contração ou a inibição do músculo liso é iniciada pelos hormônios sem causar qualquer alteração direta do potencial de membrana. Nesses casos, o hormônio pode ativar um receptor de membrana que não abre os canais iônicos, mas que causa alteração interna na fibra muscular, tal como a liberação de íons cálcio do retículo sarcoplasmático intracelular; o cálcio então induz a contração. Para inibir a contração, outros mecanismos receptores ativam as enzimas adenilatociclase ou guanilato ciclase na membrana celular, levando a formação de AMPC ou GMPC, chamados de segundos mensageiros. Esses têm muitos efeitos, um dos quais é o de alterar o grau de fosforilação de várias enzimas que indiretamente inibem a contração. A bomba que move os íons cálcio, do sarcoplasma para o retículo sarcoplasmático, é ativada, esses efeitos reduzem a concentração de íons cálcio no sarcoplasma, inibindo a contração. 8. Fontes de íons cálcio que provocam contração através da membrana celular e a partir do retículo sarcoplasmático O retículo sarcoplasmático é pouco desenvolvido no m. liso, não sendo a principal fonte de fornecimento dos íons cálcio. A maioria dos íons cálcio que provocam a contração entra na célula muscular a partir do líquido extracelular no momento de potencial de ação ou de outros estímulos. O tempo de difusão é chamado de período de latência, antes do início da contração (50x maior que no músculo esquelético). Papel do retículo sarcoplasmático – algumas células musculares apresentam túbulos sarcoplasmáticos pouco desenvolvidos que se situam próximo à membrana celular e fazem contato com pequenas invaginações da membrana celular, as cavéolas (são análogas ao sistema de túbulos transversos do músculo esquelético). Quando um potencial de ação é transmitido para as cavéolas, acredita- se que ocorra a liberação de íons cálcio dos túbulos sarcoplasmáticos com que fazem contato. O efeito na contração do músculo liso depende da alteração da concentração extracelular do íon cálcio – quando a concentração dos íons cálcio, no líquido extracelular, cai de um terço a um décimo do normal a contração do m. liso cessa. Bomba de cálcio – O relaxamento do músculo liso ocorre quando os íons cálcio são removidos do líquido intercelular, sendo que isso ocorre através de bombas de cálcio, as quais bombeiam os íons cálcio para fora da fibra muscular lisa de volta para o líquido extracelular ou para o retículo sarcoplasmático, além disso, possui uma ação lenta (uma só contração do músculo liso dura geralmente segundos).
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