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Resumo referente ao capítulo I do livro “Psicopatologia: Perspectiva Clínica dos Transtornos Psicológicos” Whitbourn e Halgin Conceitualização de Anormalidade Ainda, nos dias atuais, pode-se perceber que há uma estigmatização, uma visão preconceituosa e, até mesmo, ocorrência de discriminação por parte da sociedade, quando o tema é transtornos psicológicos. As pessoas tendem a entender e aceitar mais facilmente a doença física de uma pessoa de seu convívio social, do que quando se trata de um transtorno psicológico. Os transtornos psicológicos são vistos, frequentemente, de uma perspectiva ruim, nas qual as pessoas, constantemente, temem que os pacientes sejam violentos e perigosos. Isso ocorre devido à linguagem, humor e os estereótipos utilizados para retratarem os transtornos psicológicos. E as atitudes sociais em relação a pessoas que apresentam algum transtorno mental variam de desconforto a preconceito evidente. Como resultado desse estereótipo, temos a discriminação social, que agrava a situação e complica a vida das pessoas afligidas. Para avaliar se um indivíduo se enquadra em critérios de anormalidade, a comunidade da saúde mental utiliza procedimentos de diagnósticos. Atualmente, são usados cinco critérios para determinar se há transtorno psicológico. O primeiro é a “significância clínica”, ou seja, o comportamento envolve um grau de prejuízo mensurável. Um outro critério indica se o comportamento reflete uma disfunção nos processos psicológicos, biológicos ou do desenvolvimento. O terceiro critério leva em consideração se o comportamento está associado com sofrimento ou incapacidades significativos em esferas importantes da vida. O quarto critério analisa se o comportamento não pode ser socialmente “desviante” em termos de religião, política e sexualidade. E o último critério leva em conta que os conflitos entre o sujeito e a sociedade não são considerados transtornos psicológicos a menos que reflitam uma disfunção do indivíduo. O comportamento anormal inclui causas biológicas, que são as influências genéticas e comportamentais sobre o funcionamento físico; causas psicológicas, que envolvem distúrbios nos pensamentos e sentimentos e causas socioculturais, que incluem o estigma, o preconceito e a discriminação e podem influenciar o desenvolvimento de comportamento anormal, além de poder agravar os sintomas de quem possui algum transtorno mental. Frequentemente, ocorre a interação entre os fatores biológicos, psicológicos e socioculturais, quando há um distúrbio. Os cientistas sociais referem-se a essa interação com o termo biopsicossocial, considerando que os três fatores desempenham um papel no desenvolvimento dos sintomas de um indivíduo. A perspectiva biopsicossocial incorpora um ponto de vista evolucionista, que consideram que os sujeitos devem ser vistos como mudando ao longo do tempo e que os fatores biopsicossociais interagem para modificar a expressão de padrões comportamentais. Temas Proeminentes em Psicopatologia ao Longo da História Os comportamentos considerados anormais vêm sendo estudados e explicados por meio, principalmente, de três abordagens desde a antiguidade, a abordagem espiritual, a humanitária e a científica. A crença de que os indivíduos que possuíam transtornos comportamentais estavam nessa situação por conta da possessão de um espírito maligno é característica da abordagem espiritual, que é a explicação mais remota e que foi predominante na pré-história. Acreditava-se que o espírito maligno deveria ser retirado do corpo da pessoa por meio de rituais de exorcismo, uma prática de tortura física e mental realizada por homens da medicina, padres ou xamãs. Além disso, a trepanação, perfurações no crânio das pessoas com objetivo de liberar os espíritos malignos, a magia, os conselhos de oráculos e os remédios populares eram usados na tentativa de libertação. Por conta da crença de ser uma possessão, os indivíduos com distúrbios psicológicos eram vistos pela sociedade como bruxos, pecadores ou personificações do diabo, o que resultava para eles em exclusão e castigos, como tortura, morte na fogueira e deportação, incitados, principalmente, pelo manual escrito por dois monges de indiciamento de bruxas Malleus maleficarum. A abordagem humanitária constituiu-se, ao longo do tempo, parcialmente como uma resposta à abordagem espiritual. Por conta da má condição dos sanatórios onde aglomeravam-se os pacientes, foi desenvolvida a ideia de “tratamento moral”, no qual o bem estar do paciente era priorizado, mas a quantidade de pessoas e a conduta dos funcionários dificultavam a situação. Dorothea Dix foi uma professora e reformista que, em 1841, conseguiu para Massachusetts, por meio da Legislatura, mais hospitais públicos que cuidariam dos pacientes com transtornos mentais. Posteriormente, sua atitude foi reproduzida na Europa e América do Norte, mas com o decorrer dos anos, os problemas, como superlotação e falta de funcionários, apareceram novamente. Por mais que o tratamento moral fosse bem-intencionado, não havia uma real efetividade. Mesmo assim, os pressupostos humanitários continuaram a interferir no sistema de saúde mental e ela teve seguidores que, durante o século XX, desenvolveram o movimento da higiene mental. No decorrer do século XX, mesmo com um maior entendimento dos transtornos psicológicos, as opções de tratamento continuavam a excluir e prejudicar os indivíduos. A situação só teve uma melhora quando foi instaurada A Lei dos Centros de Saúde Mental pelo governo norte-americano. As mudanças propostas pela lei incluíam programas de saúde menos restritivos, acesso a casas de passagem, que tinham o objetivo de desenvolver habilidades para retorno à sociedade, e assim proporcionar mais dignidade e liberdade aos pacientes. A desinstitucionalização, na prática, não obteve todos os resultados esperados e trouxe malefícios para eles. A falta de planejamento e verba, a constante troca de moradia dos pacientes, ou mesmo a falta dela, resultaram em escassez de estabilidade e autonomia. A abordagem científica começou desde os antigos filósofos gregos. Hipócrates e Claudius Galeno foram pensadores que dedicaram seus tempos ao estudo dos transtornos psicológicos. Em 1783, Benjamin Rush, fundador da psiquiatria norte-americana, propôs algumas mudanças quanto ao tratamento dos pacientes, como colocá-los em enfermarias específicas, o uso de cadeiras “tranquilizadoras”, que diminuíam o fluxo sanguíneo no cérebro e banhos frios com ameaças de morte, já que ele acreditava que a excitação excessiva seria neutralizada pelo medo. Em 1845, Wilhelm Greisinger publicou seu livro, onde propunha que as “neuropatologias” eram as causas de distúrbios psicológicos. Emil Kraepelin acreditava que os distúrbios psicológicos poderiam ser detectados por meio dos padrões de sintomas, o que deu embasamento científico para os procedimentos diagnósticos vigentes. A partir do momento que os estudiosos, psicólogos e psiquiatras, desenvolveram sistemas comportamentais que englobavam explicações de anormalidade, a abordagem científica ganhou uma nova dinâmica. No decorrer do século XX, alguns sistemas de terapia surgiram da explicação de modelos comportamentais normais, como o behaviorismo, a teoria da aprendizagem, o modelo cognitivo e a abordagem da terapia racional-emotiva. Os tratamentos farmacológicos começaram e deram resultados positivos na década de 1950, seria possível então que os pacientes não necessitassem mais de estar nos hospitais psiquiátricos frequentemente, o que foi reforçado pela Lei dos Centros de Saúde Mental em 1963. Recentemente, a psicologia positiva tem influenciado os tratamentos psicopatológicos com uma proposta mais preventiva e de crescimento pessoal. Métodos de Pesquisa em Psicologia O conhecimento científico em muito auxilia a conhecer mais sobre os comportamentos de anormalidade. Uma das características primordiais do método científico é a objetividade que permiteuma melhor compreensão de determinados fenômenos psicológicos. A busca desse conhecimento que visa compreender melhor determinados fatos lança mão de métodos que permitem alcançar resultados e responder algumas questões. Os métodos científicos precisam ser pautados na imparcialidade do pesquisador, de modo que as opiniões e crenças pessoais não interfiram nos resultados da pesquisa. Isso não descarta que o profissional possua certos interesses e propensões para determinados resultados. O modelo de pesquisa experimental baseia-se na manipulação de variáveis e observação, mensuração das possíveis mudanças inferidas. A variável independente (VI) é aquela que é ajustada, que imputa-se alguma mudança, já variável dependente é aquela que altera, que muda de acordo com variação da VI. As pesquisas de comportamento anormal são de difícil experimentação, pois muitas das variáveis não podem ser manipuladas, como é o caso do Autismo. Não se pode induzir uma pessoa tornar-se autista, por isso muitos dos estudos dessa área são baseados nos testes de eficácia de determinado tratamento. O modelo correlacional visa inferir o grau de relação existe entre variáveis. Esse valor pode variar entre +1 a -1, sendo que +1 indica alta correlação direta e -1 alta correlação inversa. A vantagem desse modelo é possibilidade de encontrar relações entre diversas variáveis, como o sono e depressão; depressão e autoestima. É importante frisar que esse método não explica um efeito, ou causa de uma variável sobre a outra, apenas indica se estão associadas e o grau dessa associação. A grande desvantagem desse método é não permitir a inferência de causas entre as variáveis. Tipos de Estudos de Pesquisa Existem diversas formas de coletar dados acerca dos transtornos psicológicos, dentre eles estão: levantamento, método do estudo de caso, modelo experimental de caso único e atualmente a investigação em genética comportamental. O levantamento é normalmente utilizado visando obter informações acerca da incidência e prevalência de determinados transtornos em uma população ou amostra dessa. Enquanto que o estudo de caso, visa colher informações detalhadas acerca de um único indivíduo ou grupo específico, isso possibilita que sejam estudados casos raros com considerável nível de profundidade, levando em consideração demais fatores que possam interferir tanto no tratamento quanto na aparição do transtorno. O Modelo experimental de caso único possibilitaria, por sua vez, uma avaliação das formas de tratamento de um transtorno, podendo avaliar se determinados tratamentos são realmente eficazes e os efeitos que cada um pode exercer. Porém deve-se atentar para possíveis fatores externos que possam interferir nos dados coletados, o que poderia fazer com que interpretássemos os dados erroneamente, atribuindo as mudanças que ocorrem ao tratamento utilizado e não a outros fatores. Por último as investigações em genética comportamental que buscam os fatores genéticos que fariam com que as pessoas herdassem certos transtornos psicológicos. Apesar da importância desses estudos deve-se ter em mente que uma visão biopsicossocial do indivíduo, de tal forma que fatores psicológicos e ambientais possam interferir no surgimento de determinados transtornos. Sendo assim apesar de existirem diversos métodos de pesquisa que busquem estudar tanto a origem dos transtornos como também seu tratamento, não há um em específico que se adeque a categoria de melhor método, devendo todos eles serem analisados em conjunto, levando sempre em consideração os diversos fatores (biológico, social e psicológico) que podem influenciar nos transtornos psicológicos.
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