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Carolina Pretti – TXIV A Bioética e Deontologia INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 2 DIREITOS HUMANOS ................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 2 RELAÇÃO MÉDICO -PACIENTE E O NOVO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA ........................................................................................................................................................................................................................... 4 EUTANÁSIA ........................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ 5 DISTANÁSIA ...................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 6 ORTANÁSIA ....................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 7 MISTANÁSIA .................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................... 7 Carolina Pretti – TXIV A 2 Introdução A bioética está intimamente ligada com a vida, os valores morais e princípios ideais do comportamento humano. Ela abrange questões relacionadas com os seres huma- nos, meio ambiente e animais. Possui como objetivo de elucidar e refletir acerca das soluções para questões éticas provocadas, principalmente, pelo avanço das tecnoci- ências biomédicas. Seu critério ético fundamental é o respeito ao ser humano, a seus direitos, a seu bem-estar, sendo então a dignidade da pessoa O desenvolvimento da bioética foi feito a partir de quatro princípios básicos, dois deles de caráter deontológico (não-maleficência e justiça) e os outros dois de caráter teleológico (beneficência e autonomia). Apesar de não serem absolutos sob o prisma filosófico, estes princípios foram rapidamente assimilados, passando a constituir a ferramenta mais utilizada pelos bioeticistas na mediação e/ou resolução dos conflitos morais pertinentes à temática bioética. Porém, o principialismo é apenas um 16 dos vários dialetos (ou formas específicas de expressão) do chamado “idioma” ou “linguagem bioética”. Apesar de este ser o dialeto mais utilizado e, hoje, quase hegemônico, deve haver o cuidado para que ele não seja confundido com o próprio idioma. A autonomia é a capacidade de pensar, decidir e agir de modo livre e independente. A beneficência é o ato de fazer o bem. Obrigação moral de agir para o benefício do outro, deve-se fazer o bem ao outro independente de desejá-lo ou não. A não-maleficência é o ato de não causar dano intencional, não prejudicar. A justiça distributiva é a distribuição justa, equitativa e apropriada na sociedade, de acordo com normas que estruturam os termos da cooperação social. Distribuição de benefícios e encargos de acordo com suas propriedade ou situações particulares. Atualmente, já são mais de dez diferentes linhas ou “dialetos” utilizados pela bioética no seu desenvolvimento. Destas, merece destaque, sem dúvida, o contextualismo, que defende a ideia de que cada caso deve ser analisado individualmente, dentro dos seus específicos contextos social, econômico e cultural. Os princípios do biodireito são a dignidade humana, igualdade, inviolabilidade da vida, informação e proteção à saúde. Os principais temas tratados na bioética são diagnóstico pré-natal, conselhos gené- ticos, eugenia fetal, terapia genética, práticas abortivas, esterilização masculina e fe- minina, reprodução humana assistida em todas as suas modalidades e suas implicações técnicas (bancos de esperma, bancos de embriões, mães de aluguel), terapia e mani- pulação genética em todas as suas formas, experiências com seres humanos, embri- ões e cadáveres em qualquer fase do ciclo vital, experiência com animais, reanimação, eutanásia e direito a uma morte digna, suicídio e ajuda ao suicídio, informações clínicas e a sua comunicação ao paciente, transplantes de órgãos humanos e biogenética ani- mal e vegetal Os princípios da bioética se dão por um conjunto de princípios, de referenciais, de meios, que contribuem para orientar a reflexão e a efetivação da ação ética. Teve origem nos EUA, com o Relatório de Belmont e Beauchamp e Childress. Atualmente, possuindo abrangência mundial. Os princípios éticos para abordagem dos problemas envolvidos na pesquisa com seres humanos são o respeito pelas pessoas, beneficência e a justiça Direitos humanos Apátrida é aquele que tendo perdido sua nacionalidade de origem, não adquiriu outra; que ou o que se encontra oficialmente sem pátria. Os direitos humanos são os direitos fundamentais e liberdades básicas de todo ser humano, sem nenhuma discriminação, seja étnica, social, econômica, jurídica, política ou ideológica. Eles constituem condição indispensável para alcançar uma convivência em que todos sejam respeitados indistintamente. Características Os direitos humanos são baseados no conceito inerente da dignidade humana e são inalienáveis, universais, indivisíveis, interdependentes, naturais e obrigatórias Toda as pessoas devem ter a mesma dignidade. Sua origem não é o Estado ou as leis, mas a própria natureza humana. Nenhuma pessoa pode renunciar a eles ou ne- gociá-los e o Estado não pode dispor dos direitos dos cidadãos. Não podem ser destru- ídos, o que constituiria um atentado contra a pessoa. Impõe às pessoas e ao Estado a obrigação de respeita-los, mesmo que não exista uma lei que assim o estabeleça. Su- primir qualquer um deles põe em risco o respeito aos demais. Possui diferentes dimensões, categorias ou gerações, como o direito civil, político, econômico, social, cultural e o de solidariedade. Devem ser distinguidos dos direitos dos cidadãos que são dependentes da cidadania e dos direitos das minorias que são depen- dentes da qualidade de membro de um grupo minoritário, uma vez que estes direitos humanos estão limitados aos membros destes grupos, não sendo, portanto, universais. História A historicidade dos direitos humanos configura-se a partir do seu nascimento e evolução em determinadas circunstâncias históricas, caracterizadas pelas lutas por novos direitos e liberdades contra os velhos poderes. Portanto, ao longo da história a concepção de direitos humanos tem sofrido variações, de acordo com o modo de organização da vida social e política de cada país. A diversidade culturalé um componente cultural da história humana. Cada cultura, grupo ou sujeito é uma perspectiva, uma localização, um modo de ver e se relacionar. Assim, entra facilmente em conflito com a aplicação global dos direitos humanos. Por exemplo, o que se faz quando um índio (que jamais teve contato com a civilização) quer enterrar viva uma criança deficiente, pois, segundo sua crença, sua sobrevivência é um motivo para os deuses se irritarem e destruírem toda a tribo? Deve-se proteger a vida? Ou deve-se proteger a autodeterminação dos povos? Os dois direitos são protegidos pela Declaração Universal dos Direitos do Homem (artigos 3º e 27º, res- pectivamente). O elenco dos direitos dos homens se modificou com as mudanças das condições históricas, o que é fundamental em uma época histórica e em uma determinada civili- zação, não é fundamental em outras épocas e em outras culturas. Historicamente, podemos dizer que os direitos humanos podem estar dispostos cronologicamente em diversas fases ou gerações. E ao surgirem, fazem uso do novo conceito jurídico ela- borado pela modernidade. O código de Hammurabi foi a primeira codificação a consagrar rol de direitos comuns a todos os homens livres (vida, propriedade, honra, dignidade e família). Na Grécia antiga pregava-se uma suposta igualdade e liberdade com a participação política (atra- vés de Péricles com a democracia direta) e com a supremacia do “direito natural” (através de sofistas e estóicos). Em Roma, com a Lei das Doze Tábuas foram interditos para a tutela dos diretos individuais frente ao arbítrio da autoridade. Com o cristianismo a igualdade essencial entre os homens foi pregada e a dignidade da pessoa humana (“Digo-lhes a verdade: Os publicanos e as prostitutas estão entrando antes de vocês no Reino dos Céus.” - Mt 21, 31-32). Com a Magna Charta, João Sem-Terra propôs a liberdade da igreja, restrições tributárias, proporcionalidade entre delito e sanção, liberdade de locomoção, livre acesso à justiça e devido processo legal. O Petition of Rights condenava a ilegalidade dos tributos sem ato do Parlamento e propunha abolição das prisões ilegais. O Habeas Corpus act propunha a regulamentação do habeas cor- pus, que já existia na Common Law. A Bill of Rights possuía o princípio da legalidade (contra a suspensão real de leis ou de sua execução), direito de petição, liberdade de eleição e imunidades parlamentares e vedação das penas cruéis. A Constituição Fran- cesa de 1793 pregou a igualdade, liberdade, segurança, propriedade, legalidade, livre acesso aos cargos públicos, direito de petição, direitos políticos, garantias penais, de- vido processo legal e ampla defesa. A Constituição Francesa de 1848 ampliou o rol dos direitos humanos fundamentais (em direção aos direitos sociais) com a liberdade do trabalho e da indústria, assistência social (aos desempregados, às crianças abandona- das, aos enfermos e aos idosos sem recursos). A Constituição Mexicana propôs tra- balhistas e efetivação do direito à educação. A Constituição de Weimar propôs os direitos e deveres fundamentais dos alemães, direitos e garantias individuais, direitos relacionados à vida social, direitos relacionados à religião e à Igreja, direitos relacionados à educação e ensino e direitos relacionados à vida socioeconômica, proteção da família, igualdade de direitos entre homens e mulheres e entre filhos legítimos e ilegítimos, propriedade, sucessão e liberdade contratual, proteção geral do trabalhador, liberdade de associação sindical e seguridade social. A evolução dos direitos humanos não se deu de uma forma tão harmoniosa. Inseri- dos na dinâmica histórica, em contextos determinados, esses não foram conquistados sem luta e sem conflitos de interesses, quer entre indivíduos, classes e países. Os avanços que vêm se processando nessas últimas décadas, manifestaram-se por meio de novas conquistas e pela ampliação do conceito de direitos humanos, abrangendo novas aspirações coerentes com o mundo moderno. A universalização dos direitos humanos é mais uma consequência da globalização. Fundamentações teóricas Podemos dizer que há três grandes fundamentações teóricas em torno dos direitos humanos. A primeira concepção metafísica e abstrata identifica os direitos humanos a partir de valores transcendentais, que se manifestam por meio da vontade divina. Essa visão Carolina Pretti – TXIV A 3 predominou durante o período feudal, ou da razão natural humana, ideia defendida pelos autores jusnaturalistas, no século XVII. A concepção metafísica defende a ideia de que os direitos humanos são inerentes ao homem, independentemente do seu re- conhecimento pelo estado. A segunda concepção, positivista, defende que os direitos humanos só podem ser considerados fundamentais e essenciais quando reconhecidos por ordenamento jurí- dico. Assim, os direitos não seriam inerentes ao homem, mas o resultado de lutas e conquistas e conquistas políticas e sociais. A terceira concepção, materialista-histórica, que teve como grande teórico Karl Marx, surge no século XIX como uma crítica ao pensamento liberal. Essa concepção considera que os direitos humanos, enunciados na Declaração dos Direitos do Homem de 1789, são expressão das lutas sociais da época que culminaram com a ascensão da burguesia ao poder, derrotando o Antigo Regime. Assim, podemos observar que, segundo as diferentes concepções, uns entendem que os direitos humanos, também chamados de direitos dos homens e fundamentais, são inerentes à natureza humana, já para outros, os direitos humanos são a expressão de conquistas sociais que ocorrem por intermédio das políticas. São divididas em três gerações. Na primeira geração dos direitos humanos, a luta pela conquista dos direitos indivi- duais ou de liberdade desenvolveu-se nos séculos XVII e XVIII. Os documentos mais famosos produzidos nesse período e que refletem o modo como a sociedade estava pensando os direitos humanos são a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da Revolução de 1789 e a Declaração dos Direitos do Estado da Virgínia na Indepen- dência Americana, em 1776. Esses dois documentos exprimem o desejo do povo de lutar contra a opressão que sofria por parte de seus governantes. Os direitos dos homens deixam de ser vistos apenas como vontade divina. A segunda geração dos direitos humanos formulada nos primeiros 70 anos do século XIX, quando ocorre o desenvolvimento de uma economia industrial e proletariado, uma classe de trabalhadores explorados e espoliados de sua força de trabalho pela bur- guesia. Diante da pobreza e da expropriação que era imposta a esses trabalhadores, aqueles ideais de igualdade de direitos e de liberdade para todos passaram a ser ques- tionados. Na realidade, havia uma distância muito grande entre os direitos humanos formalizados no papel e aqueles que eram vividos na realidade. Havia uma diferença muito grande entre os direitos formais e os direitos reais. Nessa geração foram con- siderados como direitos fundamentais “os direitos sociais, econômicos e culturais”, são eles a vida, educação, moradia, remuneração digna, greve, serviços públicos, segu- rança, proteção da infância e lazer. A terceira geração dos direitos humanos foi marcada por uma ampliação da noção de direitos humanos. Ela se desenvolveu no período após a Segunda Guerra Mundial, quando todo mundo pedia o fim dos crimes contra a humanidade. Foram incorporados, nessa geração o direito à paz, autodeterminação dos povos e o direito ao meio ambi- ente saudável e ecologicamente equilibrado. Os direitos civis e políticos incluem direito à vida, propriedade privada, liberdades de pensamento, de expressão, de crença, igualdade formal, direitos à nacionalidade, de participar do governo do seu Estado, podendo votar e ser votado, entre outros, fun- damentados no valor liberdade. Os direitos econômicos, sociais e culturais incluem direito ao trabalho, educação, saúde, previdência social, moradia, distribuição de renda,fundamentados no valor de igualdade de oportunidades. Os direitos de solidariedade incluem direito à paz, progresso, autodeterminação dos povos, ambiental, consumidor, inclusão digital, fundamentados no valor de fraternidade. Dessa forma, cada vez mais se amplia o entendimento de que essas três gerações de direitos são complementares umas às outras. Sendo assim, as gerações de direitos não podem ser hierarquizadas, nem a compreensão sobre o que são os direitos hu- manos pode ser fragmentada. Assim, os direitos nascem quando devem ou podem nascer. Nascem quando há um aumento do poder do homem pelo homem, ou cria ameaças à liberdade do indivíduo. Padrões de direitos humanos a nível universal A proteção jurídica internacional dos direitos humanos promoveu a constituição de um sistema internacional de proteção aos direitos humanos. O rápido desenvolvimento de novos direitos foi uma resposta às mudanças do século XX, onde a preocupação com o ser humano tornou-se o epicentro para o surgimento de leis e acordos que têm como principal inquietação o bem-estar humano. Houve uma urgência de se elimi- nar tudo que se opunha aos direitos humanos. Houve a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio. (1948), a Convenção contra o Genocídio (1949), a Convenção Internacional sobre a eliminação de todas as formas de discrimi- nação racial (1965), Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (1966), Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (1966), Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979), Con- venção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis), Desumanos ou De- gradantes (1984), Convenção sobre os Direitos da Criança (1989), Convenção Interna- cional sobre a proteção dos direitos de todos os trabalhadores migrantes e dos mem- bros das suas famílias (1990), Declaração de Viena (1993), Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006) e Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados (2006). Adotada pela ONU em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um dos mais importantes documentos já escritos. Trata-se da primeira proclamação internacional dos direitos básicos dos indivíduos no que se refere a direitos políticos, econômicos e sociais. Ela retoma os ideais da Revolução Francesa de igualdade, liber- dade e fraternidade, porém, em um âmbito universal. Aceita e respeitada internacio- nalmente, a declaração foi usada como base para a elaboração de muitas constituições ao redor do mundo e é considerada uma referência fundamental para qualquer outra certificação ou iniciativa. Porém esta não possui força jurídica. Esta declaração pode ser acatada como a maior prova de que existe um consenso entre os seres humanos quando a pauta se relaciona com a promoção e proteção de seus direitos. Contudo, todas essas conquistas não foram tão fáceis de serem alcançadas, uma vez que disparidades com os Estados orientais e com as nações que ainda se enquadravam como colônias dos países ocidentais, possuíam grande impacto. É inegável a representatividade da Declaração para a proteção dos direitos huma- nos. A DUDH foi o primeiro documento internacional que dedicou ao tema dos direitos humanos a importância e abrangência merecida, integrando os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais em um único patamar, inaugurando assim a concepção contemporânea do direito internacional dos direitos humanos. Os direitos e liberdades expressos no documento são amplamente conhecidos, servindo de inspiração para a defesa da vida, da liberdade, da segurança, da luta contra a escravidão, do reconhe- cimento da igualdade jurídica e de direitos entre homens e mulheres, e de diversos outros requisitos para que o ser humano tenha uma vida digna e com qualidade. Implementação dos instrumentos universais Os Estados têm o dever de respeitar os direitos humanos (nenhum órgão do Estado os pode violar), de proteger os direitos humanos (o Estado deve prevenir violações de direitos humanos, junto da população do seu território) e de implementar os direitos humanos (as obrigações internacionais devem ser implementadas e transformadas em direito nacional para que qualquer indivíduo os possa reivindicar). Os indivíduos têm obrigações para com a sociedade. As restrições dos direitos hu- manos pelo Estado são possíveis, mas apenas por lei, para garantir o respeito pelos direitos dos outros, proteger a moral, a ordem pública e o bem-estar público. Os direitos humanos não podem ser utilizados para violar outros direitos humanos. Em casos de emergência pública pode haver restrições de alguns, mas nunca de todos os direitos humanos. Os Sistemas Regionais de Proteção e Promoção podem resolver as queixas de forma mais eficiente, mostrar uma maior sensibilidade para com preocupações culturais e religiosas, resultar em sentenças vinculativas e com indemnizações para o indivíduo e resultar na alteração das leis nacionais potencialmente violadoras dos direitos humanos. Nas américas houve a Comissão Interamericana de Mulheres (1928), a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (1948), Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (1959), Convenção Americana sobre Direitos Humanos com o Proto- colo Adicional de1988 em Matéria de Direitos Económicos, Sociais e Culturais e o Pro- tocolo Adicional de 1990 referente à Abolição da Pena de Morte (1969), Tribunal Interamericano dos Direitos Humanos (1979), Convenção Interamericana para Preve- nir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (1994) e a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência (1999). É importante reconhecer que no Brasil o processo de reconhecimento dos direitos humanos é contínuo e é necessário que haja a participação de diferentes atores sociais para que se trabalhe continuamente o reconhecimento de tais direitos. No Brasil, os direitos humanos são garantidos na Constituição Federal de 1988, o que pode ser considerado um grande avanço jurídico, já que o país conta com uma história marcada por episódios de graves desrespeitos a esses direitos, sobretudo no período do Regime Militar. A mais recente constituição garante os direitos civis, políti- cos, econômicos, sociais e culturais dos nossos cidadãos. Essas garantias aparecem, por exemplo, logo no primeiro artigo, onde é estabelecido o princípio da cidadania, da dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho. Já no artigo 5º é esta- belecido o direito à vida, à privacidade, à igualdade, à liberdade e outros importantes direitos fundamentais, sejam eles individuais ou coletivos. Carolina Pretti – TXIV A 4 A Constituição Brasileira defende princípios como a igualdade entre gêneros, a er- radicação da pobreza, da marginalização e das desigualdades sociais, a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, gênero, idade ou cor, o racismo como crime imprescritível, propôs direito de acesso à saúde, à previdência, à assis- tência social, à educação, à cultura e ao desporto, reconheceu crianças e adolescen- tes como pessoas em desenvolvimento, estabeleceu políticas de proteção ao idoso, ao portador de deficiência e aos diversos agrupamentos familiares e a orientação de preservação da cultura indígena. Os direitos humanos são frutos de um processo histórico marcado por lutas e reivindicações em momentos em que a dignidade humana esteve ameaçada, contextos que ficaram marcados na história evolutiva do nosso planeta e que foram fundantes no processo de construção para uma cultura de direitos, na tentativa da promoção de uma cultura em prol da paz. No mundo atual, discutir questões relacionadas aos direitos humanos (DH) é cada vez mais relevante. A cada dia, as pessoas estão mais conscientes dosseus direitos, rei- vindicando-os e lutando para sua efetivação. Nesse sentido, discutir direitos humanos não é algo simples, mas é algo que deve estar inteiramente ligado às atividades de ensino, não só nas séries iniciais, mas também na educação superior, espaço onde estão sendo formados futuros multiplicadores do conhecimento. Relação médico -paciente e o novo código de ética médica O princípio da autonomia é extremamente relevante, na medida em que o médico deve ter em mente que somente pode atuar em seus pacientes, se eles de fato estiverem aptos e cientes de aceitar tais procedimentos e atitudes. Esta relação faz com que tanto o médico quanto o paciente desenvolvam diálogos e atendimentos ca- pazes de dar à relação profissional uma forma respeitosa e aceitável no ponto de vista médico, social e ético. O princípio da beneficência tem duas importantes funções e regras, que são não causar mal e maximizar os benefícios possíveis e minimizar os possíveis danos. Tal princípio é de observância contínua e irrestrita, haja vista que o paciente, ao procurar o profissional da área de saúde, busca a cura para o seu mal, e o profissional, por sua vez, tentará empreender todos os esforços para não agravar o mal do paciente e para curá-lo da doença que o aflige. O Princípio da Beneficência é que estabelece esta obrigação moral de agir em benefício dos outros. A beneficência no contexto médico é o dever de agir no interesse do paciente, a fim de proporcionar-lhe o maior conforto possível e/ou o menor sofrimento ao seu mal. O princípio da não-maleficência é o mais controverso de todas. Propõe a obrigação de não infligir dano intencional. Este, deriva da máxima da ética médica “Primun non nocere”. Assim, é aquele pelo qual o médico deve evitar produzir intencionalmente danos ou malefícios aos seus pacientes, tratando-os como gostaria de ser tratado. O princípio da privacidade é a liberdade que o paciente tem de não ser observado sem autorização. Tal princípio, na relação médico-paciente, é fundamental. É obvio que o médico deve abster-se de repassar as informações clínicas de seus pacientes para qualquer pessoa e deve evitar a exposição pública de um caso particular levado ao seu conhecimento, pelo simples fato que existe nesta relação uma confiança muito grande dos pacientes no sigilo médico. Portanto, a base da relação, além dos princípios éticos anteriormente descritos, funda-se em uma relação de confiança, credibilidade e de intimidade que não permite a exposição da situação médica do paciente para pessoas não envolvidas com o seu tratamento. A exceção à preservação de informações ocorre quando, por força de legislação existente, um profissional é obrigado a comunicar informações a que teve acesso em função de sua atividade, em caso de ocorrência de doença de informação compulsória, ocorrência de maus-tratos em crianças ou adolescentes, ocorrência de abuso aos cônjuge ou idosos e ocorrência de ferimento por arma de fogo ou de outro tipo, quando houver suspeita de que tal lesão tenha sido resultante de ato criminoso. A relação médico-paciente segue alguns modelos, como o sacerdotal, engenheiro, colegial ou contratualista. O modelo sacerdotal é o mais tradicional, pois baseia-se na tradição hipocrática. Neste modelo o médico assume uma postura paternalista com relação ao paciente. O médico exerce não só a sua autoridade, mas também o poder na relação com o paci- ente. O processo de tomada de decisão é de baixo envolvimento, baseando-se em uma relação de dominação por parte do médico e de submissão por parte do paciente. O modelo engenheiro coloca todo o poder de decisão no paciente. O médico assume o papel de repassador de informações e executor das ações propostas pelo paciente. O médico preserva apenas a sua autoridade, abrindo mão do poder, que é exercido pelo paciente. É um modelo de tomada de decisão de baixo envolvimento, que se ca- racteriza mais pela atitude de acomodação do médico que pela dominação ou imposição do paciente. O paciente é visto como um cliente que demanda uma prestação de serviços médicos. O modelo colegial não diferencia os papéis do médico e do paciente no contexto da sua relação. O processo de tomada de decisão é de alto envolvimento. Não existe a caracterização da autoridade do médico como profissional, e o poder é compartilhado de forma igualitária. A maior restrição a este modelo é a perda da finalidade da relação médico-paciente, equiparando-a a uma simples relação entre indivíduos iguais. O modelo contratualista estabelece que o médico preserva a sua autoridade, en- quanto detentor de conhecimentos e habilidades específicas, assumindo a responsa- bilidade pela tomada de decisões técnicas. O paciente também participa ativamente no processo de tomada de decisões, exercendo seu poder de acordo com o estilo de vida e valores morais e pessoais. O processo ocorre em um clima de efetiva troca de informações e a tomada de decisão pode ser de médio ou alto envolvimento, tendo por base o compromisso estabelecido entre as partes envolvidas. O acelerado processo de desenvolvimento científico e tecnológico na Medicina se opôs a ausências de políticas públicas eficazes, deterioração dos serviços de saúde, relações de trabalho inadequadas e deficiências do ensino médico. É dever do médico falar a verdade, prestar atendimento humanizado, com tempo e atenção necessários, saber ouvir o paciente, esclarecendo dúvidas e expectativas, com registro no prontuário, explicar detalhadamente, de forma simples e objetiva, o diagnóstico e o tratamento, seus benefícios, complicações e prognósticos. No trata- mento deve-se respeitar a autonomia do paciente. O médico deve estar atualizado cientificamente. Como direitos do paciente, o médico não pode abandonar o paciente, exceto em casos de deterioração da relação médico-paciente, desde que assegurada a continui- dade do tratamento, o paciente tem o direito de acompanhante nas consultas, inter- nações, exames pré-natais e no momento do parto e recusar tratamentos dolorosos ou extraordinários para tentar prolongar a vida. O paciente tem direito a um atendi- mento digno, atencioso e respeitoso, sendo identificado e tratado pelo nome ou so- brenome. O paciente pode consentir ou recusar, de forma livre, voluntária e esclare- cida, com adequada informação, procedimentos diagnósticos ou terapêuticos a serem realizados. A criança, ao ser internada, terá em seu prontuário a relação das pessoas que poderão acompanhá-la integralmente durante o período de internação. É vedada a realização de exames compulsórios, sem autorização do paciente, como condição para internação hospitalar, exames pré-admissionais ou periódicos e ainda em esta- belecimentos prisionais e de ensino. O paciente tem o direito de gravar a consulta, em caso de dificuldades de entendimento. O paciente tem o direito de optar pelo local de morte (conforme Lei Estadual válida para os hospitais do Estado de São Paulo). O paciente deve ser prévia e expressamente informado, em caso de pesquisa (Comitê de Ética em Pesquisa do hospital ou instituição) e ter acesso ao seu prontuário médico. O paciente pode desejar não ser informado do seu estado de saúde, devendo indicar quem deve receber a informação em seu lugar. Deve ter direito de uma segunda opinião sobre o seu estado de saúde, como ter resguardado o segredo sobre dados pessoais, (sigilo profissional), desde que não acarrete riscos a terceiros ou à saúde pública. O novo código de ética médica possui princípios fundamentais, sendo alguns deles o: XXI - No processo de tomada de decisões profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões legais, o médico aceitará as escolhas de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por eles expressos, desde que adequadas ao caso e cientificamente reconhecidas. XXII - Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentosdiagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos paci- entes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados. XXIII - Quando envolvido na produção de conhecimento científico, o médico agirá com isenção e independência, visando ao maior benefício para os pacientes e a sociedade. XXIV - Sempre que participar de pesquisas envolvendo seres humanos ou qualquer animal, o médico respeitará as normas éticas nacionais, bem como protegerá a vulne- rabilidade dos sujeitos da pesquisa. Em relação com a pacientes e familiares, é vedado ao médico: Art. 31. Desrespeitar o direito do paciente ou de seu representante legal de decidir livremente sobre a execução de práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso e iminente risco de morte. Art. 32. Deixar de usar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento, cientificamente reconhecidos e a seu alcance, em favor do paciente. Carolina Pretti – TXIV A 5 Art. 33. Deixar de atender paciente que procure seus cuidados profissionais em casos de urgência ou emergência, quando não haja outro médico ou serviço médico em condições de fazê-lo. Art. 34. Deixar de informar ao paciente o diagnóstico, o prognóstico, os riscos e os objetivos do tratamento, salvo quando a comunicação direta possa lhe provocar danos, devendo, nesse caso, fazer a comunicação a seu representante legal. Art. 35. Exagerar a gravidade do diagnóstico ou do prognóstico, complicar a tera- pêutica ou exceder-se no número de visitas, consultas ou quaisquer outros procedi- mentos médicos. Art. 36. Abandonar paciente sob seus cuidados. Art. 37. Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em casos de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente após cessar o impedimento. Art. 38. Desrespeitar o pudor de qualquer pessoa sob seus cuidados profissionais. Art. 39 Opor-se à realização de junta médica ou segunda opinião solicitada pelo paciente ou por seu representante legal. Art. 40. Aproveitar-se de situações decorrentes da relação médico-paciente para obter vantagem física, emocional, financeira ou de qualquer outra natureza. Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu represen- tante legal. Art. 42. Desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre método contraceptivo Em relação aos direitos humanos, é vedado ao médico: Art. 22. Deixar de obter consentimento do paciente ou de seu representante legal após esclarecê-lo sobre o procedimento a ser realizado, salvo em caso de risco imi- nente de morte. Art. 23. Tratar o ser humano sem civilidade ou consideração, desrespeitar sua dig- nidade ou discriminá-lo de qualquer forma ou sob qualquer pretexto. Art. 24. Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo. Art. 27. Desrespeitar a integridade física e mental do paciente ou utilizar-se de meio que possa alterar sua personalidade ou sua consciência em investigação policial ou de qualquer outra natureza. Art. 28. Desrespeitar o interesse e a integridade do paciente em qualquer instituição na qual esteja recolhido, independentemente da própria vontade. Eutanásia A eutanásia é definida como a conduta pela qual se traz a um paciente em estado terminal, ou portador de enfermidade incurável que esteja em sofrimento constante, uma morte rápida, sem dor e mais humanizada, com menos sofrimento. A prática é realizada por um profissional da saúde a partir de um pedido formal documentado da pessoa doente. Pode ser feita de modo passivo ou ativo, ou ainda, de forma voluntária ou não voluntária. A eutanásia passiva é um tipo de eutanásia em que o médico deixa o paciente morrer. Para compreender a ideia, imagine a seguinte situação. Uma pessoa se encon- tra em estado de doença terminal. Não há esperança de que ela sobreviva por muito tempo. Em virtude do sofrimento pelo qual está passando, ela deseja morrer. Na eu- tanásia passiva o médico deixa de fazer uma série de procedimentos, como o uso de medicamento, aparelhos, entre outros., e deixa de prolongar artificialmente a vida desse paciente. A eutanásia ativa é um tipo de eutanásia em que, ao invés de simplesmente deixar morrer, o médico faz alguma coisa para matar, abreviar a vida do paciente. Se consi- derarmos o exemplo anterior, o médico teria usado algum tipo de produto letal para abreviar a vida do paciente. A eutanásia voluntária é um tipo de eutanásia ocorre quando é o paciente que escolhe morrer e pede isso ao médico. A eutanásia não voluntária ocorre quando alguns pacientes não são capazes de manifestar seu desejo em relação à eutanásia. Por exemplo, um paciente em estado terminal ou com algum tipo de deficiência grave pode ser incapaz de manifestar qual- quer desejo. Nesses casos, é a família que deve decidir pela eutanásia. Por isso é chamada de eutanásia não voluntaria, já que não foi escolhida pela pessoa afetada. Os países que permitem a eutanásia atualmente são a Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Suíça, Canadá, Portugal e EUA. Na Holanda, a legalização da eutanásia e a descriminalização do suicídio assistido foram aprovadas em abril de 2002. Foi o primeiro país a permitir a prática dessas intervenções. Contudo, cabe ressaltar que o país europeu impôs uma série de restri- ções para controlar a prática, cabendo a uma comissão regional de juízes, médicos e sociólogos o exame de cada caso. Os elementos necessários são, que o paciente possua uma doença diagnosticada como incurável e apresente dores insuportáveis, sem pos- sibilidade de melhora. Além disso, o paciente deve fazer essa decisão, ainda lúcido e é necessário o parecer de um segundo médico sobre o assunto. A idade permitida para a realização da intervenção é a partir de 12 anos. Porém, até os 16, ela só pode ser realizada com o aval da família. Depois, o consentimento da família para a realização do procedimento não é necessário. Na Bélgica, assim como na Holanda, a prática é expressamente permitida. A legali- zação na Bélgica ocorreu em maio de 2002, após o parecer favorável do Comitê Consultivo Nacional de Bioética, que até então tratava a prática como ilegal dentro do país. Ao entrar em vigor, a lei permitia a interrupção da vida em qualquer indivíduo, mesmo os que não se encontrassem em estado terminal. Os menores de idade eram proibidos de realizar a eutanásia, independentemente da autorização dos pais. Contudo, em 2014, essa lei sofreu uma reformulação e passou a permitir o procedimento em qualquer idade, desde que os responsáveis legais autorizem a operação e após avalia- ção do médico responsável e de um psiquiatra infantil. A nova versão da lei também limitou o procedimento para pacientes em estado terminal. Estes precisam fazer o pedido de maneira voluntária e refletida, desconsiderando as pressões externas. Por fim, assim como na Holanda, na Bélgica todos os procedimentos são analisados por uma comissão especial e, nos casos de eutanásia infantil, o processo é feito com acompanhamento psiquiátrico. Em Luxemburgo, a Lei da Eutanásia local está em vigor desde 2009. Tornou-se o 3º país europeu, após Bélgica e Holanda, a permitir a prática. Para que a medida entrasse em vigor, foi necessário modificar a constituição e reduzir os poderes do chefe de Estado, o grão-duque Henri, já que esse ameaçou não sancionar a lei alegando ‘’razoes de consciência’’. Em 2019, a eutanásia e o suicídio assistido passaram a ser considerados morte natural e foram registrados 71 casos ao todo. A Suíça não apresenta uma legislação expressa sobre a prática da eutanásia. Porém, a Corte Federal do país reconheceu, por meio de uma interpretação ampla do texto legislativo, o direito dos pacientes de escolher a morte. O país possui fama pelo pro- cedimento da morte assistida. Por lá se consolidou chamado turismo da morte:pessoas de diversos países vão até o país para realizar esse procedimento. Isso se deve, sobretudo, à ação de duas empresas locais, a “Dignitas” e a “Exit”, que garantem ao paciente uma morte digna e indolor. No Canadá, o Supremo Tribunal do país considerou inconstitucional, em 2015, a pro- ibição do direito ao suicídio assistido. Porém, a prática foi legalizada em 2016 e em 2018 foi feita por três mil pessoas. Em Portugal, a eutanásia foi legalizada em 20 de fevereiro de 2020. A nova legis- lação estabelece a prerrogativa da morte assistida aos portugueses e aos residentes no país, maiores de idade com doenças incuráveis e em fase de sofrimento duradouro e insuportável. O paciente terá de fazer o pedido de forma consciente e lúcida, com exceção para pessoas com transtornos mentais. Cada caso terá de ser avaliado por dois médicos. A Ordem dos Médicos e a dos Enfermeiros de Portugal se posicionaram contrários à descriminalização. Nos EUA, a eutanásia é permitida no estado de Oregon, enquanto em outros países como Washington, Vermont, Montana, Califórnia e em parte do Novo México a prática é criminalizada, porém o suicídio assistido é permitido. A prática em Oregon foi apro- vada em plebiscito em 1994 e confirmada em 1997. O Brasil é um país que não descriminalizou a prática da eutanásia. Contrariando a tendência recente de despenalização da prática do dito homicídio piedoso ou homicídio eutanásico, o atual Código Penal (Decreto-Lei 2.848/40) em nada explicita ou mesmo despenaliza a prática da morte por benignidade, alocando todas as condutas analisadas no item supra como sendo facetas de um mesmo crime, o homicídio tipificado no art. 121 do referido Código. A prática da eutanásia, quer seja ativa ou passiva, é punida por nossa legislação penal em vigor de acordo com o dispositivo que trata do homicídio (Artigo 121 do Código Penal, Decreto-Lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940). Pode ocorrer, todavia, em ambos os casos, diminuição da pena, tendo em vista o fato de podermos classificar, em alguns casos, a conduta eutanásica como espécie de homi- cídio privilegiado, cujo privilégio advém do relevante valor moral que, de certa forma, vem justificar a conduta do agente (Artigo 121, § 1º do Código Penal). A opinião acerca da eutanásia é polemica e muito polarizada, por um lado alguns utilizam religião e moral para serem contra tal prática, por outro, os adeptos a des- criminalização citam o respeito às decisões pessoais para defenderem seu ponto de vista, esse é inclusive um dos argumentos utilizados pelos apoiadores da ong “Dying in Dignity” do Reino Unido que reúne em seus site histórias de pessoas que querem passar por esse processo, e procuram fazer com que a prática possa ser permita Carolina Pretti – TXIV A 6 em seu país. No Brasil, onde temas polêmicos como aborto e a própria eutanásia são pouco discutidos no plenário, estamos longe de termos uma resposta positiva sobre a liberação da realização dessa prática. Argumentos contrários Com efeito, a experiência dos países, como a Bélgica, onde a eutanásia está legali- zada desde 2002, revela que um acompanhamento adequado permite suprimir a quase totalidade dos pedidos de eutanásia. Comecemos pela luta contra o sofrimento físico: segundo estudos, os sofrimentos físicos podem ser aliviados em 98% dos casos. Assim, na Bélgica, um doente que manifeste sofrimentos psíquicos que não possam ser aliviados no contexto de uma doença grave e incurável, tem acesso à eutanásia. Os cuidados paliativos são a res- posta adequada para estas situações. Eles não atrasam nem aceleram a morte, mas consistem em acompanhar o doente com paciência, amor e compaixão, não apenas aliviando as suas dores físicas, mas também reforçando o seu desejo de ser escutado, de ser consolado, de entender que a sua vida ainda tem valor, e em resumo, de ser amado. Os cuidados paliativos não se limitam ao acompanhamento do doente, mas ao dos membros da família que sofrem por ver o seu familiar querido estar a viver momentos tão difíceis. O olhar que os familiares dirigem à pessoa doente é funda- mental. Se ela se sentir acompanhada, valorizada, amada, então será capaz de en- frentar a última etapa da sua vida com calma e confiança. Um fim de vida sereno permite frequentemente confidências magnificas muito valiosas para a pessoa doente e para os seus familiares. Pelo contrário, uma eutanásia, sobretudo se ela for decidida sem o consentimento dos familiares (o que é possível na Bélgica), é normalmente motivo de grandes dificuldades para a família, mesmo se esta aceitar a decisão to- mada. Perante os fatos, é difícil assegurar que uma decisão individual de eutanásia não tenha consequências muito prejudicais para a família e as pessoas próximas. De acordo com muitos testemunhos, cerca de 20 anos de prática da eutanásia na Bélgica modi- ficaram, com efeito, o papel do médico e a sua relação com os doentes. O paciente espera que o médico resolva o problema do seu sofrimento, visto pri- meiro como um problema técnico, com todos os meios. A eutanásia resulta assim da recusa, tanto da parte do médico como do paciente, em aceitar que existem situações em que a medicina não consegue aliviar certos sofrimentos extremos. Deste modo, para evitar a perda de controle, a eutanásia surge como a solução onde o paciente e o médico voltam a ter o controle da situação. Este tipo de atitude está perfeitamente de acordo com a mentalidade dominante, individualista e neoliberal, da sociedade na qual vivemos. É por isso que o aspeto humano, afetivo e até espiritual do acompanhamento paliativo é tão importante para dar ao paciente uma qualidade de vida aceitável, apesar da situação tão difícil na qual ele se encontra. A legalização da eutanásia envia uma mensagem extremamente desestabilizadora a toda a sociedade A banalização da eutanásia em curso na Bélgica está causando uma fragilização da solidariedade humana, um declínio do vínculo social, um desconforto no pessoal cuidador. Argumentos a favor Em maio de 2018, David Goodall, um cientista australiano de 104 anos escolhe mor- rer na Suíça ao som do Hino à Alegria, da 9ª sinfonia de Beethoven. Em uma sociedade como a ocidental, pautada por costumes majoritariamente cristãos, onde o 6º man- damento “não matarás” está enraizado na cultura, argumentos favoráveis à prática da eutanásia não são muito comuns. Assim, surge uma questão muito importante ao falarmos sobre a eutanásia: a quem pertence a vida? Na crença cristã, o único ser que possui o poder de dar e tirar a vida é Deus. Em outras culturas o indivíduo é detentor de sua própria vida, sendo o único que pode decidir o que fazer com ela. Dessa forma, para as pessoas favoráveis à permissão da eutanásia, o mais importante seria o respeito, visto que, se uma pessoa não acre- dita que ela deva acontecer, de acordo com seus princípios e crenças, ela deve res- peitar a vontade do outro, que possui uma percepção de mundo completamente dife- rente, de poder realizá-la. Nesse sentido, a eutanásia e suicídio são ideias muito diferentes. A palavra eutanásia significa “morte boa” e é realizada em momentos que a vida se torna insustentável para o indivíduo na ocasião em que ele se encontra. Portanto, são diversos fatores que podem contribuir para que essa decisão seja como por exemplo dores físicas extremamente dolorosas, a tristeza em ver a desestruturação da família e a sensação de não possuir mais sentido estar presente. Dessa maneira, nessa discussão, deve-se sempre utilizar as perguntas “quem?” “porquê?” “em que circunstâncias?” “quando?”, visto que cada situação é única. Assim, quem poderá julgar alguém que, apesar de todas as tentativas, não possui mais salvação, de escolher não passar os últimos dias de sua vida em sofrimento? Ou alguém que sobrevive em uma situação de total impotência e não acredita que pode ser feliz assim? Ou um senhor de 104 anos como David Goodall, que acreditava já ter cumprido suamissão nesse plano e escolheu partir ouvindo Hino à Alegria, da 9ª sin- fonia de Beethoven, música que enaltece, de forma genial, a beleza da própria vida. Distanásia A distanásia é um método que visa prolongar a vida de um paciente terminal, mas na verdade está prolongando somente o sofrimento dele. Pois, não consegue discernir quando intervenções terapêuticas são inúteis e quando se deve deixar a pessoa abra- çar em paz a morte como desfecho natural de sua vida. Assim, os cuidados paliativos e o respeito ao direito do paciente são meios eficazes para prevenir a prática da distanásia No brasil já houve mudanças em relação a ética médica pois de acordo com o código de 1931 tinha -se que a finalidade da medicina é sempre prolongar e conservar a vida. No entanto, com o atual código de ética acrescenta-se que o alvo da atenção do médico é a saúde da pessoa e o critério para avaliar seus procedimentos é se eles vão beneficiá-la ou não. Por meio dessa mudança, o compromisso com a saúde sendo entendida como bem- estar global da pessoa e não apenas ausência da doença, abre possibilidades de se preocupar outras questões no tratamento do terminal além de questões curativas. Assim a medicina que atua dentro do paradigma da benignidade humanitária e soli- dária e que opera com o conceito de saúde como bem estar tende a optar por um meio termo que nem mata e nem prolonga exageradamente o processo de morrer, mas que procura favorecer à pessoa uma morte sem dor, uma morte digna na hora certa, rodeada de amor. No período dos primeiros códigos, o médico é visto como sacerdotal pela comunidade, ou seja, ele possui a função de dar esperança e conforto para o paciente, em que a morte é vista como natural. No momento atual, no entanto, o paradigma muda, e o médico passa a ser aquele que luta incansavelmente contra a morte. Os códigos médicos possuem como um dos objetivos de limitar a guerra contra a morte e respaldar intervenções distanásicas. Ou seja, o objetivo da medicina não é apenas prolongar ao máximo o tempo de vida da pessoa; o alvo é a saúde da pessoa e o critério para avalizar seus procedimentos é se eles vão beneficia-lo ou não. Não se pode impor nenhum tratamento em que o paciente não deseja, ela tem o direito de optar por morrer com qualidade de vida, no ambiente em que considerar melhor, e é dever do médico atuar sempre em benefício do paciente. É importante desde já detectar que tipo de discurso ético é utilizado para falar da vida. Podemos ter dois tipos de discursos éticos no âmbito da ética da vida: o parenético e o científico. Ao se falar de sacralidade da vida, utiliza-se a explicação parenética e ao se falar em qualidade de vida, o discurso científico. O discurso parenético exorta para algo que já é conhecido e intelectualmente claro. Pressupõe um acordo básico entre os que falam e discutem sobre a questão. Não busca justificar ou explicar um conteúdo, mas visa a eficácia de sua concretização. Enfatiza, sobretudo, a responsabilidade pessoal e a ação coerente, antes que a coe- rência lógica do discurso. O discurso científico, por outro lado, visa explicar e justificar um conteúdo não claro. Busca proceder com rigor e método, almeja ser um discurso coerente e orgânico. E repensa continuamente seus conteúdos e afirmações à luz das experiências e con- quistas humanas. A ética da sacralidade da vida utiliza um discurso parenético. A vida é considerada como propriedade de Deus, dada ao homem para administrá-la. É um valor absoluto que só a Deus pertence. O ser humano não tem nenhum direito sobre a vida própria e alheia. As exceções no respeito à vida são concessões de Deus. O princípio funda- mental é a inviolabilidade da vida. A ética da sacralidade da vida utiliza um discurso parenético. A vida é considerada como propriedade de Deus, dada ao homem para administrá-la. É um valor absoluto que só a Deus pertence. O ser humano não tem nenhum direito sobre a vida própria e alheia. As exceções no respeito à vida são concessões de Deus. O princípio funda- mental é a inviolabilidade da vida. A sacralidade e a qualidade de vida não precisam ser dois princípios oponentes. A intangibilidade é um forte princípio na defesa da vida, mas não precisa opor-se ao princípio da autodeterminação do ser humano sobre a vida. É necessário conjugar as duas abordagens Considerando que a distanásia é a manutenção da vida de forma artificial, aplicada nessa perspectiva de estender artificialmente o processo da morte. Nesse limiar, não existe no Brasil limites claro e bem definido, uma vez que é um processo dinâmico que acontece no dia-a-dia, entre médico e paciente. A melhor terapêutica trazida na Carolina Pretti – TXIV A 7 atualidade, é a conversa franca com os familiares, visando respeitar suas questões éticas e religiosas. Quando não há aceitação e compreensão dos limites, a busca incessante e constante pela cura pode, muitas vezes, atrapalhar no cuidado paliativo e se tornar um cuidado curativo que prolonga de forma desumana a vida daqueles que sofrem. É difícil compreender os limites quando o avanço terapêutico proporciona infinitas possibilidades de cuidado. Por outro lado, nem tudo que é tecnicamente possível é eticamente correto! A obstinação terapêutica submete o paciente a uma morte dolo- rosa. Grandes diferenças culturais, econômicas, religiosas, sociais e legais podem jus- tificar as dificuldades encontradas por profissionais, pacientes e familiares em lidar com esse tipo de decisão. Os pacientes têm direito a autonomia e a morte digna. Esta autonomia é respeitada quando se dá ao paciente o direito de governar a si mesmo, realizar sua vontade e participar do processo decisório. Entretanto, só há exercício da autonomia se houver compartilhamento de conhecimento e informação da equipe com paciente e família para qualquer decisão a ser tomada.Entretanto, muitos pacientes terminais não estão aptos a decidir sobre a terapêutica a ser adotada, por isso é importante não só a participação como a inclusão da família em todas as etapas de assistência. A família é uma das partes que tem maior legitimidade para aceitar ou vetar certas condutas, constituindo o terceiro elemento de um tripé, junto com a equipe multipro- fissional e o próprio paciente. É possível que a comunicação das possibilidades tera- pêuticas não esteja sendo efetivo, o que prejudicaria a compreensão da família acerca do que seria a Distanásia e da importância de evitá-la .A equipe de saúde surge, por- tanto, como um instrumento para promover o amadurecimento da família diante da iminência da morte, evitando assim mecanismos de defesa, culpabilização ou potenci- alização de processos de luto complicado no sistema familiar. Ortanásia É o termo utilizado pelos médicos para definir a morte natural, sem interferência da ciência, permitindo ao paciente morte digna, sem sofrimento, deixando a evolução e percurso da doença. Portanto, evitam-se métodos extraordinários de suporte de vida, como medicamentos e aparelhos, em pacientes irrecuperáveis e que já foram submetidos a suporte avançado de vida. A escolha do paciente é de total importância, se o paciente ou sua família assim o requerer, o doente pode finalmente ter o direito de morrer dignamente, sem pa- decimentos excessivos, mais ou menos como partiam seus ancestrais. Para isso, os médicos procuram não recorrer a técnicas extras de apoio à manutenção da vida, como determinadas substâncias e instrumentos, os quais apenas levariam o enfermo à distanásia, ou seja, à morte dolorosa. A adoção deste procedimento não significa que o paciente seja abandonado. A medicina continua a lhe conceder cuidados paliativos, no sentido de amenizar o sofri- mento, e permita que o morrer chegue naturalmente a cada enfermo. A ortotanásia promove uma morte natural, digna e que segue o curso da vida, sem que sejam feitos tratamentos considerados fúteis, invasivos e artificiais para manter a pessoa viva eprolongar a morte, como a respiração por aparelhos, por exemplo. A ortotanásia é praticada por meio dos cuidados paliativos, abordagem que procura manter a qualidade de vida do paciente, e da sua família, em casos de doenças graves e incuráveis, ajudando no controle de sintomas físicos, psicológicos, sociais e espirituais. Podemos perceber que a ortotanásia é um meio termo entre o conceito de euta- násia e distanásia. Visto que a eutanásia antecipa a morte do paciente, diminuindo o tempo de vida e seu sofrimento e a distanásia prolonga a morte, aumentando os dias de vida e o seu sofrimento, a ortotanásia deixa o paciente morrer naturalmente, ou seja, a morte é vista como algo natural pelo qual todo ser humano irá passar sem que sejam feitos tratamentos considerados fúteis, invasivos e artificiais para manter a pessoa viva e prolongar a morte, como a respiração por aparelhos, por exemplo, buscando sempre o objetivo de não é abreviar ou adiar a morte, mas sim buscar a melhor maneira de passar por ela, mantendo a dignidade da pessoa que está doente. Argumentos contra O lado jurídico que afirma que a prática é crime de homicídio doloso na modalidade omissiva, conforme interpretação do artigo 13, parágrafo 2º do Código Penal. Ou seja, de acordo com a lei, impedir a morte de um indivíduo é responsabilidade pública. O lado médico garante utilizar de todos os meios para prolongar a vida de uma pessoa. Os Direitos Humanos falam que: “Constitui-se direito de caráter negativo (direito à vida), impondo-se pelo respeito que a todos os componentes da coletividade se exige. Com isso, tem-se presente a ineficácia de qualquer declaração de vontade do titular que importe em cerceamento a esse direito, eis que se não pode ceifar a vida humana, por si, ou por outrem, mesmo sob consentimento, porque se entende universalmente, que o homem não vive apenas para si, mas para cumprir missão própria da sociedade.” Argumentos pró Respeita o direito humano da vida dando autonomia ao paciente em decidir o que ele julga melhor para sua vida. A ortotanásia é uma prática completamente voltada ao indivíduo e a sua individualidade. Os direitos de personalidade têm caráter absoluto de maneira que todos são obrigados a respeitá-los. É de caráter intransferível e irrenun- ciável de acordo com o direito legal. Portanto, é dever do paciente em escolher como decide encerrar o seu ciclo de vida, tendo este o direito legal de decisão seja em consentimento ou não de sua família. Evita o estresse do corpo humano e seu sofrimento. A prática visa garantir a integridade do corpo humano e evitar completamente o estresse desnecessário de seus sistemas. Como dito anteriormente, o paciente que optar por esse curso de tratamento não prolongará sua vida com ressuscitação cardíaca, medicamentos e ventilação assistida, por exemplo. Quando o médico decide que se trata de um quadro irreversível, o direito de escolha recai sobre as mãos do doente. Evita gastos desnecessários no sistema de saúde . Ao evitar equipamentos desne- cessários e medicamentos ocorre uma redução de custos naquele paciente irreversí- vel, o que vai muito de encontro com o princípio de equidade do SUS. Os gastos de fundos são mais bem direcionados para aqueles com maior chance de sobrevivência. Causa conforto ao paciente em poder passar seus últimos momentos livres de dor e junto aos seus entes queridos. A ortotanásia não só atinge o paciente como sua família. Trata-se de um apoio de multidisciplinar se necessário a todos que são afetados naquela morte. Seja por apoio psicológico, nutricional, entre outros. Ao invés do indivíduo sofrer num leito de UTI, ele tem a chance de passar seus momentos finais de forma mais confortável e menos estressante. Sem dor, com o apoio profissional e familiar. Vemos que se trata de uma medicina mais humanizada e mais voltada para o trata- mento completo da pessoa e não de uma doença. Não interfere no curso da morte, não prolonga como faz a distanásia e, não adianta como faz a eutanásia. Não interfere no andar natural da morte, sendo que esta pode ocorrer em dias ou em meses. Não afeta no curso natural da vida, apenas melhora as condições psicológicas e físicas de um paciente terminal. Mistanásia É definida como a morte miserável que se refere a uma morte prematura, infeliz e abandonada. Desse modo, a mistanásia (eutanásia social) refere-se, legalmente, a morte fora de seu tempo, ocorrendo em sua maioria de forma lamentável. Esta pre- domina, no Brasil, em situações cuja grande massa de doentes e deficientes – que não chegam à condição de pacientes – não possuem acesso efetivo ao sistema de saúde, seja este por conta de infraestrutura, distância ou até mesmo negligência. A mistanásia apresenta-se com duas classificações, sendo estas: mistanásia omis- siva e mistanásia ativa. A mistanásia ativa caracteriza-se por ser fruto da crueldade humana, cujo indivíduo é exposto a experimentos, sente este uma cobaia. Estas situ- ações são conhecidas legalmente por “reificação” e “nadificação” do ser humano. A mistanásia passiva (omissiva) seria, portanto, aquela em que há negligencia, irrespon- sabilidade, omissão ou imprudência do serviço médico, resultando no prolongamento do sofrimento até a precipitação da morte. Desse modo, a inacessibilidade do indivíduo ao tratamento ou acessibilidade precária, carente de condições adequadas para o correto tratamento dispõe-se como o símbolo da mistanásia passiva – devido à grande inci- dência de casos no Brasil. Os noticiários, frequentemente, evidenciam casos em que o cidadão, ao procurar assistência pública, encontra um estado precário no atendimento, com negativas, e, por vezes, omissão em seu atendimento. Situações como estas quando não gera a morte, provoca danos muitas vezes irreversíveis à saúde do indivíduo. Mesmo diante da pressão social e midiática, com amostras do descaso por parte dos administradores públicos responsáveis, nota-se que o Estado se apresenta de forma indiferente diante as demandas de pessoas carentes, permanecendo numa postura de menosprezo e inoperância aos indivíduos dependentes de sua assistência. Um tratamento minima- mente digno é negado para essa parcela populacional, sendo que é dever do Estado em garantir saúde A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 afirma, em seu art. 196, que “a saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos”. Carolina Pretti – TXIV A 8 Portanto, fica-se estabelecido que o acesso à saúde deve ser universal e igualitário. Nos casos de mistanásia, onde pessoas não conseguem ter o acesso ao sistema pú- blico, podemos perceber o quão falho é o sistema ao não conseguir cumprir o que está na Constituição Os médicos de certa forma, escolheram a medicina com a ambição de salvar vidas e não as tirar, na prerrogativa sobre-humana de amenizar a dor, mitigar o sofrimento e adiar a morte do semelhante. Por isto, o seu erro assume proporções dramáticas, representa a negação do bem, mas nunca a intenção do mal. No entanto a mistanásia é um resultado de um mau e cruel relacionamento humano, diante de um quadro de banalização da morte, mormente das mais carentes social e financeiramente, atin- gindo-se um processo de coisificação do indivíduo, em que sua vida não apresenta a devida relevância. Sendo assim, devemos considerar as causas pelas quais a mistanásia acontece: te- mos os pacientes que não chegaram a ser pacientes, erro médico ou por má prática dos médicos. A figura central dessas condições é em sua maioria dos médicos, seguido pelo Estado que atuou de forma ineficiente. Deve-se conscientizar a sociedade mostrando que além do erro médico existem outras causas que favorecem o mau resultado, como as péssimas condições de tra- balho e a penúria dos meios indispensáveis no tratamento das pessoas. Afinal de con- tas, muitos dos pacientes nãoestão morrendo nas mãos dos médicos, mas nas filas dos hospitais e a caminho dos ambulatórios. Desse modo, ignorando tais realidades o mais simples é sempre condenar os médicos Com base no apresentado podemos concluir que a mistanásia é um tipo de morte que ocorre quando o indivíduo é vítima não só de uma enfermidade, mas também de um abandono por parte dos médicos, do sistema de saúde e do Estado. Isso ocorre por diversos motivos, entre eles se encontram o fato da pessoa muitas vezes nem conseguir chegar ao sistema de saúde decorrente de motivos sociais, políticos ou estruturais, e o fato de o paciente muitas vezes conseguir ser atendido, mas se tornar vítima de um erro ou de má conduta médica. Este problema se torna ainda mais controverso quando se analisa os artigos da constituição que garantem a todos o acesso a saúde universal e igualitário, mas acabam sendo somente promessas que não saem do papel, uma vez que o acontecimento da mistanásia é algo conhecido, mas nada é feito sobre o caso. Ainda é discutível a contrariedade da existência SUS, um sistema de saúde constru- ído para ser universal, mas que não abrange todos da prática, seja por falta de in- vestimentos por conta do Estado ou por falta de capacidade desse sistema. Por fim, percebe-se que a mistanásia está presente não só no Brasil, mas no mundo e muitas vezes é fruto de uma desigualdade social e esquecimento de algumas classes sendo necessária uma reavaliação dos valores sociais da população como um todo, de forma que se coloque um fim nesta morte miserável.
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