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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA Thaynara da Cruz Campos PERFIL PSICOLÓGICO DE HOMENS AGRESSORES ENQUADRADOS NA LEI MARIA DA PENHA EM SITUAÇÃO DE ALTERNATIVAS PENAIS. JUIZ DE FORA - MG, 2019. UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA Thaynara da Cruz Campos PERFIL PSICOLÓGICO DE HOMENS AGRESSORES ENQUADRADOS NA LEI MARIA DA PENHA EM SITUAÇÃO DE ALTERNATIVAS PENAIS. Monografia de conclusão de curso apresentada ao Curso de Psicologia do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial à conclusão do curso. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Kamizaki JUIZ DE FORA - MG, 2019. RESUMO Os testes psicológicos são instrumentos de avaliação psicológica exclusivos do uso de psicólogos. Dentre os diversos instrumentos existem os testes projetivos baseados em teorias que valorizam questões subjetivas e até mesmo inconscientes para determinados seres humanos. Este estudo tem como objetivos gerais verificar o perfil e as principais características psicossociais de homens considerados agressores e enquadrados na Lei 11.340/06, mais conhecida como “Lei Maria da Penha”, a partir da aplicação do Teste das Manchas de Tinta de Rorschach e questionário socioeconômico. Os testes foram aplicados individualmente em 20 homens participantes, divididos em dois grupos não equivalentes e de conveniência. 10 dos participantes pertenciam ao projeto de extensão com Grupos de Reflexão e Reeducação para a Paz, junto ao Centro de Psicologia Aplicada da Universidade Federal de Juiz de Fora, e os outros 10 foram escolhidos randomicamente, obedecendo ao critério de não possuir nenhum histórico de agressão. A utilização de técnicas projetivas sugere uma hipótese de que, conforme o modo como percebe o estímulo e estrutura suas respostas, a pessoa reflete aspectos intrínsecos de como funciona psicologicamente. Os testes foram aplicados individualmente no Centro de Psicologia Aplicada da Universidade Federal de Juiz de Fora, em horários previamente marcados. Verificou-se que não há muitas diferenças entre as amostras, sendo encontradas divergências apenas com relação a variedade e esteriotipia do pensamento. Palavras-chaves: Homens agressores; teste de Rorschach; alternativas penais; violência. ABSTRACT Psychological tests are instruments of psychological evaluation exclusive to the use of psychologists. Among the various instruments there are projective tests based on theories that value subjective and even unconscious issues for certain human beings. This study has as general objectives to verify the profile and main psychosocial characteristics of men considered aggressors and framed in Law 11.340/06, better known as "Maria da Penha Law", based on the application of the Rorschach Paint Stains Test and socioeconomic questionnaire. The tests were applied individually in 20 participating men, divided into two non-equivalent and convenience groups. 10 of the participants belonged to the extension project with Reflection and Reeducation Groups for Peace, together with the Center for Applied Psychology of the Federal University of Juiz de Fora, and the other 10 were chosen randomly, obeying the criterion of having no history of aggression. The use of projective techniques suggests a hypothesis that, according to how he perceives the stimulus and structure sits his answers, the person reflects intrinsic aspects of how psychologically works. The tests were applied individually at the Center for Applied Psychology of the Federal University of Juiz de Fora, at previously scheduled times. It was found that there are not many differences between the samples, and divergences were found only with respect to the variety and steriotymia of thought. Key words: aggressive men; Rorschach Test; penal alternatives; violence. BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Kamizaki Departamento de Psicologia – Universidade Federal de Juiz de Fora Professor Orientador ____________________________________________________ Prof.ª Dr. ª Edelvais Keller Departamento de Psicologia – Universidade Federal de Juiz de Fora _____________________________________________________ Dr. ª Alana Andrade Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG SUMÁRIO 1 Introdução --------------------------------------------------------------------------------------- 07. 2 Método ------------------------------------------------------------------------------------------- 10. 3 Resultados e discussão ------------------------------------------------------------------------- 13. 4 Considerações finais ---------------------------------------------------------------------------- 32. 5 Referência bibliográficas ----------------------------------------------------------------------- 34. 7 INTRODUÇÃO Na busca de características pertinentes à amostra de homens agressores enquadrados na Lei Maria da Penha, percebeu-se a necessidade de dissertar sobre o tema, iniciando-se com um breve histórico sobre a violência doméstica contra a mulher no Brasil e as legislações pertinentes ao assunto. Esta pesquisa se justifica pela sua relevância social e possível contribuição na educação dos homens quanto ao seu relacionamento com mulheres, bem como possível influência na formulação de futuras políticas públicas para homens e mulheres. Outra justificativa é que na revisão de literatura percebeu-se que existem poucos estudos teóricos e poucas pesquisas atuais acerca do tema, mesmo que essa lei tenha sido promulgada há mais de 13 anos. Levou- se em conta também que a violência contra as mulheres existe em todo o planeta mas no Brasil, devido a uma cultura patriarcal. Os índices de violência tendo as mulheres como vítimas agredidas em especial pelos seus parceiros ou ex companheiros é preocupante, pois mesmo com a Lei Maria da Penha homologada em 2006, ainda são significativos e elevados os índices brasileiros de violência tendo como o alvo as mulheres, e que muitas vezes culminam em feminicídio. A queixa da violência doméstica oferece à mulher agredida a oportunidade de obter medidas protetivas. Os homens agressores depois de cumprida a pena estipulada por um juiz, ou como pena alternativa, tem sido orientados também por juízes, para participarem de grupos ou programas específicos de reeducação para lidarem de forma mais adequada com a sua agressividade. Na literatura científica sobre gênero percebe-se um avanço das demandas e lutas de grupos feministas ao longo da história. Na Constituição Brasileira de 1988, a mulher passa a ter igualdade material garantida. Porém, não há nesse documento nenhuma lei específica para pôr fim às desigualdades entre homens e mulheres socialmente e culturalmente estabelecidas em nosso país. Sendo assim, em relação à população feminina, percebe-se que os direitos humanos 8 de integridade física, psicológica, moral e de propriedade tem sido desrespeitado e deixado em segundo plano, mantendo-se forte uma cultura machista que empodera os homens e enfraquece as mulheres. Em 2003 houve a criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, visando estabelecer políticas públicas de assistência à mulher com o objetivo de redução das igualdades de formação, condições e empregabilidade entre os gêneros. Em 2006 foi sancionada a Lei Maria da Penha (11.340/06) que trata da violência doméstica contra a mulher, aumentando o tempo de reclusão e garantindo prisão em flagrante ou preventiva do suspeito. Junto com as Delegacias Especializadas de Atenção à Mulher, a Lei Maria da Penha foiresponsável por uma conscientização e aumento de denúncias de casos de violência contra a mulher. Tal lei foi criada a partir da história da farmacêutica e bioquímica Maria da Penha Maia Fernandes. Segundo o Instituto Maria da Penha ((http://www.institutomariadapenha.org.br/ recuperado em novembro, 2019), a mesma foi vítima de inúmeros casos de violência cometidas pelo seu próprio marido, resultando em paraplegia com complicações na coluna e traumas psicológicos. Diante da impunidade de tais crimes e sucessivos comportamentos criminosos, Maria da Penha se sentiu órfã do Estado e publicou em 1994 um livro relatando sua história sob o título: “Eu sobrevivi...posso contar”, além de fazer uma denúncia em razão forma negligente com que tratavam os casos de violência doméstica. Portanto, após o país após receber 4 ofícios da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização da Organização dos Estados Americanos - CIDH/OEA (de 1998 a 2001), o Estado do Ceará pagou a ela uma indenização e o Governo Federal batizou a Lei 11.340/06, com o seu nome, como reconhecimento de sua luta contra as violações dos direitos humanos das mulheres, e uma tentativa de reparo material e simbólico. Já em 2015, com a Lei 13.104/15, o feminicídio se torna um qualificador do crime de homicídio com pena de reclusão de 12 a 30 anos e caráter hediondo. Além disso, há a Lei http://www.institutomariadapenha.org.br/ 9 13.718/18 que tipifica como crime a importunação sexual (prática, na presença de alguém e sem sua anuência, de ato libidinoso com o objetivo de satisfazer lascívia própria ou de terceiro), a divulgação de fotos íntimas sem consentimento e aumenta a punição em casos de estupro coletivo e/ou corretivo. A violência doméstica, crime pelo qual os participantes desta pesquisa foram julgados, se refere a qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (Gadoni-Costa & Dell’Aglio, 2010, p. 152). Dados publicados em 2018 pelo site eletrônico Folha de São Paulo (https://www.folha.uol.com.br/cotidiano/brasil-registra-606-casos-de-violencia domestica-e- 164-estupros-por-dia.l/ recuperando em novembro, 2019) mostram que, em média, 530 mulheres acionam a Lei Maria da Penha por dia, totalizando ao ano mais de 221 mil casos. Como consequência direta do crescente aumento dos casos de violência doméstica, surgiu a necessidade de se pensar em alternativas para evitar o encarceramento em massa. Desse modo, introduziu-se as alternativas penais, que visam garantir métodos mais humanizados e que sejam mais eficientes e eficazes, buscando atingir o sentido principal da aplicação de penas: a reeducação e a ressocialização do infrator. (Bezzera, 2014). Um dos projetos que contemplam esse objetivo é o realizado no Centro de Psicologia Aplicada da Universidade Federal de Juiz de fora, como resultado da parceria entre a UFJF, a prefeitura do município, o Ministério Público e Poder judiciário. O grupo media dinâmicas de fala e reflexão com os homens julgados e condenados por ter tido um episódio de violência contra a mulher, assim como trabalha a necessidade de se repensar a relação entre os homens infratores e as mulheres vítimas. O projeto extensionista de Grupos de Reflexão e Reeducação para a Paz visou acolher homens considerados agressores e enquadrados na forma da Lei Maria da Penha, encaminhados por juízes, exigindo a sua participação em encontros semanais em um grupo coordenados pelo https://www.folha.uol.com.br/cotidiano/brasil-registra-606-casos-de-violencia%20domestica-e-164-estupros-por-dia.l/ https://www.folha.uol.com.br/cotidiano/brasil-registra-606-casos-de-violencia%20domestica-e-164-estupros-por-dia.l/ 10 professor de Psicologia com a ajuda de bolsistas de Psicologia, que por meio da aplicação de técnicas de dinâmica de grupo e estimulação da fala e a reflexão dos participantes, trabalham a necessidade de se repensar a relação entre os homens e as mulheres. Os participantes são homens julgados e condenados por ter tido um episódio de violência contra uma ou mais mulheres. A presente pesquisa, inseriu-se no campo de aplicação das penas alternativas, e buscou investigar os sentenciados através da aplicação nos mesmos do Teste das Manchas de Tinta de Rorschach (1920) para desvendar as questões acerca do perfil e principais características psicossociais de homens agressores, enquadrados na Lei Maria da Penha. De acordo com Torres (2010), o uso dos testes projetivos é muito útil na investigação de traços de personalidade, visto que, os estímulos destas técnicas influenciam o sujeito a responder trazendo à tona um conteúdo inconsciente de sua personalidade. Os resultados da aplicação do teste revelam informações a respeito do tipo de produtividade intelectual, da tipologia que agrega os polos introversão-extroversão e sobre a estrutura da personalidade, fomentando assim a possibilidade de se elucidar uma categorização psicológica dos sujeitos (Torres, 2010). O projeto desta pesquisa foi aprovado em 2019, pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), campus Juiz de Fora - MG, Brasil, sob Protocolo Número 3.425.001, e os dados foram coletados após livre consentimento informado dos participantes. A confidencialidade das informações e o direito de recusa em participar foram plenamente garantidos. MÉTODO Objetivou-se realizar uma análise quantitativa da pesquisa, através da descrição e análise da dinâmica da personalidade pelos resultados obtidos das amostras. 11 Participantes Participaram da pesquisa 20 homens no total, sendo 10 participantes do grupo experimental e 10 participantes do grupo controle. Para o segundo grupo, foram convidados 10 homens, de forma aleatória, de forma que atendesse o critério de não possuir histórico de processo judicial devido ao crime de violência doméstica. Já os participantes do grupo experimental foram 10 homens, em situação de alternativas penais, que tiveram um episódio de violência contra mulheres, encaminhados pelo Poder Judiciário e também pelo CRAS de Juiz de Fora para participar do grupo de reflexão. Essa amostra faz parte do projeto do Grupo de Reflexão com Homens, e os encontros são realizados no Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da UFJF, e visa produzir uma contribuição social e uma intervenção direta junto a população condenada pela Lei Maria da Penha. O critério utilizado para compor a amostra de sujeitos do grupo experimental foi estar ou já ter finalizado o processo de alternativas penais. Coleta de dados A coleta de dados teve início logo após a aprovação da pesquisa pelo Comitê de ética da UFJF. A mesma foi realizada no Centro de Psicologia Aplicada da Universidade Federal de Juiz de Fora, visto que, os sujeitos do grupo experimental já eram atendidos pela instituição para a realização do encontro do grupo de reflexão. Delineamento do Estudo Para alcançar objetivos, como informar a estrutura da personalidade de um indivíduo, o Teste Rorschach é composto por dez cartões com manchas de tinta, apresentando borrões com perfeita simetria, visando alcançar estímulos pouco organizados que, segundo Souza & Rezende (2016), tem o intuito de levar o indivíduo a fazer uma avaliação e expressar conteúdos associativo-perceptivos representativos de sua forma habitual de pensar, sentir e agir. Sua 12 administração é feita de forma individual e sem tempo determinado, de modo que a cada prancha de tinta mostrado pelo examinador seja observada pelo sujeito, fazendo com o que mesmo responda o que a mancha lhe parece, o que lhe sugere, ou o que lhe faz lembrar. O método desta pesquisa incluiu a comparação de dados entre um grupo de homens participantes do grupo de reflexão e reeducação para a paz e um grupo controle de homens não participantesdo programa. A partir da comparação dos resultados obtidos no grupo controle e no grupo experimental, objetivou-se verificar as diferentes características presentes em ambos os grupos, a fim de conseguir categorizar aquelas presentes nos homens agressores e elaborar um perfil psicológico da amostra de participantes das oficinas, e investigar se estas são capazes de influenciar em seus comportamentos. Instrumentos Foram utilizados o Teste das Manchas de Tinta de Rorschach (1920) cotado pelo método da Escola Francesa, com o objetivo de investigar características da personalidade de um sujeito a partir das interpretações do mesmo acerca de dez imagens com padrões abstratos, e o Questionário Socioeconômico (Caldeira, 2012), que objetivou caracterizar a amostra de participantes no que se refere idade, classe social e histórico de comportamento agressivo/violento. Para a aplicação do Teste de Rorschach (1920) utiliza-se uma mesa com as cadeiras dispostas uma ao lado da outra. O aplicador e o paciente sentam-se lado a lado. O cronômetro é acionado após entregar a prancha para o indivíduo e assim que ele der a primeira resposta, o tempo é anotado. Só se para o cronômetro após o mesmo dizer que não vê mais nada na prancha. Esse procedimento é aplicado para todas as 10 pranchas. A seguir, a relação dos conteúdos latentes das pranchas, segundo Traubenberg (1998): 13 I: Situação inicial do teste. Quem sou eu? A mesma faz referência à imagem materna tanto positiva como negativa. II: Conteúdo que pode eliciar o lado agressivo do paciente. Quanto menos integrado, este ver a prancha, mas agressivo, principalmente devido a cor vermelha. Quanto mais integrado o paciente ver a prancha, mais resolvido ele está. Está relacionada com a díade mãe-filho. III: Relação do paciente com o pai e mãe. IV: Relacionada com a força, autoridade. V: Relação do paciente perante ele próprio – prancha espelho. VI: Relacionada com a sexualidade, tanto a masculina quanto a feminina. VII: É nitidamente feminina e/ou materna. Representa a relacionamento primitivo com a figura materna. Para a mulher representa sua feminilidade. Para o homem, como se relaciona com a psique feminina e/ou materna. VIII: Relacionamento social, geralmente superficial, desejo, possibilidade de troca com o meio, necessidade de comunicação IX: Está relacionada com o contato social profundo. X: Relacionado com o luto, por ser a última prancha. Tratamento de Dados Os protocolos foram cotados e analisados pelo método da Escola Francesa e com fundamentação teórica de Rausch de Traubenberg (1998). A partir das cotações, os protocolos foram avaliados e comparados por dois juízes, a fim de obter os índices de acordo e desacordo. Não houve a necessidade de um terceiro juiz. No que tange a cotação dos resultados do teste, o processo de interpretação das respostas fornecidas pelo sujeito sobre às manchas leva em consideração três fatores fundamentais, sendo eles: a localização da mancha na prancha (G, D, Dd, Ddbl), que diz respeito a porção visualizada 14 e diz respeito a maneira como o indivíduo concebe e se relaciona com sua realidade e o mundo; os determinantes e a forma como eles são percebidos, sendo eles a existência ou não de cor (CF; FC), formas (F+; F-), movimento (K; Kan; Klob) e sombreamento (EF; FC); e por fim o conteúdo da mancha visualizada, podendo ser humano (H), animal (A), geográfico (Geo), anatômico (Anat), etc. Desse modo, optou-se pela Escola Francesa de Rorschach, visto que, o método que que norteia essa leitura do protocolo de Rorschach encontra-se na concepção teórica de que o comportamento humano se insere em um continuum psíquico caracterizado por oscilações na atuação da consciência. Por sua vez, essa livre associação das respostas tende a se encontrar nos momentos de transição entre um nível primário - nível narcísico de funcionamento psíquico - e um nível secundário, que permeia uma combinação cuja fonte está relacionada ao perceptivo-verbal e de controle (Rausch de Traubenberg, 1998). RESULTADOS E DISCUSSÃO Para caracterizar a amostra, inicialmente, foi aplicado um questionário socioeconômico (Caldeira, 2012), que visava investigar algumas questões pertinentes ao tema, como idade, escolaridade, renda, estado civil, bem como, relações interpessoais e históricos de violência. No grupo experimental, a média de idade é de 35,5 anos. A maioria dos participantes apresentam estado socioeconômico médio, são solteiros, concluíram o ensino médio e estão empregados. Além disso, a maior parte deles afirmam ser relativamente fácil conquistar seus objetivos de vida e consideram ter uma rede de suporte familiar confiável. Quando questionados sobre a existência de problemas significativos na vida e suas origens, 46% afirmou não ter. Os outros 54% tiverem seus problemas agrupados em diferentes categorias, como apresentado na Figura 01. 15 Figura 01. Problemas significativos do grupo experimental. Nas questões referentes ao histórico de violência presenciada entre os pais na infância, os tipos delas e sobre os comportamentos e respostas adotadas pelos participantes, 46% dos participantes relataram nunca ter presenciado nenhum tipo de violência anteriormente. As Figuras 02, 03 e 04 revelam, de forma geral, as respostas obtidas. Figura 02. Tipos de violências presenciadas pelo grupo experimental. 16 Figura 03. Respostas comportamentais a violência do grupo experimental. Figura 04. Respostas emocionais a violência do grupo experimental. Para essa amostra, foram questionados às informações que tangem a violência cometida pelos participantes, que culminaram na sua participação obrigatória do grupo de reflexão, bem como, a frequência e o alvo desse comportamento. 60% dos participantes afirmaram que os comportamentos violentos eram nada frequentes. Já 90% relataram que o alvo dos mesmos eram as respectivas companheiras no momento do crime, sendo elas namoradas ou esposas. Os resultados estão melhor representados nas Figuras 05 e 06. 17 Figura 05. Frequência de comportamentos agressivos do grupo experimental. Figura 06. Alvo do comportamento agressivo do grupo controle. Já em relação ao grupo controle, a média de idade é de 22 anos. A maioria dos participantes apresentam estado socioeconômico médio-baixo, são solteiros, estão cursando o ensino superior, e no momento, encontram-se desempregados. No tocante a questão sobre objetivos de vida, 50% deles afirmam que encontram dificuldades para alcança-los e os outros 50% afirmam ser relativamente fácil. Todos os participantes relataram ter uma rede de suporte familiar com quem pode contar. 18 Quando questionados sobre a existência de problemas significativos na vida e suas origens, apenas um quatro da amostra afirmou não ter. Os outros 75% tiverem seus problemas agrupados em quatro categorias diferentes, o que pode ser observado na Figura 07. Figura 07. Problemas significativos de vida do grupo controle. Nas questões referentes ao histórico de violência presenciada entre os pais na infância, os tipos delas e sobre os comportamentos e respostas adotadas pelos participantes, o número foi menor em relação ao grupo experimental, tendo apenas 33% dos participantes relatado nunca ter presenciado nenhum tipo de violência anteriormente. Esses dados, juntamente com as respostas comportamentais e emocionais estão representados nas Figuras 08, 09 e 10. 19 Figura 08. Tipos de violência presenciadas pelo grupo controle. Figura 09. Respostas comportamentais a violência do grupo controle. Figura 10. Respostas emocionais a violência do grupo controle. As questões referentes ao comportamento violento não foram aplicadas nesse grupo, visto que, um de seus pré-requisitos era não possuir histórico de processo judicialdevido ao crime de violência doméstica. Teoricamente fundamentado por Traubenberg (1998) e orientado pelo método de cotação da Escola Francesa, serão apresentados a seguir os determinantes escolhidos para interpretação e suas seguintes definições, características e conclusões, de acordo com os aspectos correspondentes a cada um. 20 Aspectos Cognitivos O determinante de forma F+ diz respeito as respostas de boa qualidade, e geralmente são imagens estatisticamente comuns, com ou sem descrição detalhada, sem comentários sobre ação, cor ou sombra. Sua fórmula é dada pela equação abaixo: F+% = 100x ∑(F1+ F+/2). ∑F De acordo com Traubenberg (1998), a partir da análise dos resultados, é possível encontrar as seguintes respostas e os mesmos serão apresentados nas Tabelas 01 e 02: F+ > 70%: caracteriza pensamento rígido, ansiosamente controlado. É associado a comportamentos obsessivos (pessoas que não se permitem falhar). F+ = 60 - 70%: normal – demonstra a capacidade de observação, atenção F+ < 60%: dificuldade de controle do pensamento, dificuldade de atenção, indica déficit intelectual, aparece também em pessoas normais com problemas afetivos. Tabela 01: Resultados do determinante F+ no grupo experimental. F+ I 50% ↓ II 50% ↓ III 60% ↕ IV 38% ↓ V 73% ↑ VI 66% ↕ VII 44% ↓ VIII 48% ↓ IX 43% ↓ X 75% ↑ 21 Tabela 02: Resultados do determinante F+ no grupo controle. Passian (2000) sinaliza para a importância do determinante F+ em relação à função intelectual do participante. Dessa forma, é possível observar que, no grupo experimental, seis participantes apresentaram resultados abaixo do esperado, dois apresentaram resultados acima do esperado e apenas dois com o resultado esperado dentro da norma. No grupo controle, apenas um participante apresentou resultado acima da média, enquanto que os nove restantes tiverem um número menor que o esperado. Rorschach (1978) destaca que resultados acima da média desse tipo de resposta implica em um alto grau de inteligência e em interpretação crítica apropriada à realidade. De encontro a essa premissa, observa-se uma tendência dos participantes de ambos os grupos a apresentarem algumas dificuldades no que se refere ao controle de pensamento e produtividade intelectual, podendo estar relacionada a presença de problemas emocionais e um esforço para o controle da impulsividade. F+ I 70% ↑ II 42% ↓ III 54% ↓ IV 50% ↓ V 46% ↓ VI 56% ↓ VII 42% ↓ VIII 37% ↓ IX 55% ↓ X 53% ↓ 22 Já o determinante F% pressupõe a capacidade de controle dos afetos, e seus resultados são obtidos através da fórmula F% = 100 x ∑F/R, sendo que, os números esperados estão em torno de 60-65% (Traubenberg 1998). A partir da análise dos resultados, nas Tabelas 03 e 04, é possível encontrar as seguintes respostas: F% > 65%: aumento da racionalidade e impedimento de manifestação de afetividade. Quase 100%: possível privação de contato com o mundo externo e os afetos. Mecanismo de defesa: medo de se expor, repressão dos afetos. F% < 60%: a parte racional está incapaz de controlar os afetos. É encontrado frequentemente em adolescentes, artistas e histéricos. Tabela 03: Resultados do determinante F% no grupo experimental. F% I 85% ↑ II 69% ↑ III 83% ↑ IV 80% ↑ V 92% ↑ VI 94% ↑ VII 84% ↑ VIII 91% ↑ IX 65% ↑ X 93% ↑ 23 Tabela 04: Resultados do determinante F% no grupo controle. Em ambos os grupos, em relação ao determinante F%, todos os participantes obtiverem resultados acima de 65% e abaixo de 100%, indicando para uma racionalidade elevada, nitidez da percepção e atenção, e diminuição da manifestação do componente afetivo. Esses índices, de acordo com Traubenberg (1998), tratam da acuidade perceptiva do indivíduo, assim como, da base do funcionamento lógico do mesmo. Essas características são fundamentais quando se pretende avaliar a integridade das funções egóicas e os tipos de vínculos que são desenvolvidos para com a realidade. Em decorrência de um elevado número de resultados acima dos valores esperados, pode- se pressupor uma boa capacidade de controle egóico (Fiorini & Figueiredo, 2003). Entretanto, como sinalizado anteriormente, há também um distanciamento com os seus aspectos afetivos. As médias das amostras foram 51,7 (DP=18,36) para a amostra experimental e 50,05 (DP=9,41) para a amostra controle, considerando assim que as mesmas se equivalem. Aspectos afetivos F% I 86% ↑ II 90% ↑ III 92% ↑ IV 92% ↑ V 84% ↑ VI 89% ↑ VII 87% ↑ VIII 88% ↑ IX 82% ↑ X 85% ↑ 24 O tipo de ressonância íntima (TRI) é o conceito central do teste porque irá determinar a atitude fundamental da pessoa para consigo mesmo e com o mundo exterior. A relação é assim dada: K: ∑Cp (Traubenberg, 1998). É a forma como a pessoa poderá viver, mas não sobre todas as reações afetivas. Mostra a sua tendência mais frequente. A tendência Latente (TL) é responsável pela parte da personalidade do indivíduo que aflora a impulsividade e prevalência do inconsciente. Se dá pela seguinte fórmula: ∑k: ∑E – tendências latentes (Traubenberg, 1998). Já a terceira Fórmula, de acordo com Traubenberg (1998), está em oposição com a TRI, diz respeito a reatividade emocional, e se dá através da seguinte equação: (VIII + IX + X) x 100 =29%. R De acordo com os resultados encontrados e observados nas Tabelas 05 e 06, é possível obter as seguintes respostas: > 40: Extratensivo 30-40: Ambigual <30: Introversivo O índice introversivo (I) sugere que a pessoa com essas características tende a se preocupar mais com suas ideias. Tem o pensamento mais orientado para a vida interior. Tem um interesse relativo pelas coisas que ocorrem no meio ambiente. Tende a ter vida mental rica, elaborada, com grande capacidade de imaginação, criação. Intelectualmente tende a ser mais brilhante que os outros. Geralmente tem pouco habilidade motora. Prefere o isolamento ou então, frequenta grupos pequenos. As relações afetivas podem ser intensas, mas reservadas. Tende a ser individualista e interiorizado. O mundo das fantasias prevalece sobre a realidade. Pensa mais do que age (Traubenberg, 1998). 25 O índice extratensivo (E) aponta para um indivíduo que entra com facilidade em relações com o ambiente. O meio é algo com o qual se adapta facilmente. Se preocupa com fatos externos. É geralmente, mais objetivo, mais materialista do que idealista. A inteligência é prática, orientada para soluções de coisas concretas. Tem muitos amigos. Tem facilidade em relação aos outros, porém suas relações são voláteis, menos estáveis. São pessoas sugestionáveis, emotivas, podendo se opor ao meio, devido ao descontrole afetivo (Traubenberg, 1998). O índice ambigual (AMB) caracteriza-se numa personalidade rica, equilibrada, ao nível intelectual e afetiva e tem boa capacidade de adaptações sociais, dinamismo e entusiasmo nas suas relações (Traubenberg, 1998). Por fim, o índice coartado se refere a participante que reagem a forma. Exerce um domínio extremo sobre suas emoções. Não há espontaneidade. Não se deixa levar pelas fantasias, imaginações. São pessoas de mente reduzidas. Sua vida subjetiva é pobre. Pessoas isoladas, despertam poucas simpatias. O coartado pode ser resultado de um bloqueio, ou de pobreza afetiva real ou dificuldade intelectual. O único critério de contato do coartado geralmente é a função lógica (Traubenberg, 1998). Uma pessoa que é, por exemplo, extratensiva, pode, em alguns momentos, apresentar- se mais coartado. Se as fórmulas tiverem direções diferentes indicam conflito no participante em relação às suasvivências afetivas, o que corresponde a incoerência intrapsíquica. Dessa maneira sendo a TRI for mais dilatada do que a segunda fórmula, ou seja, K > ∑k, o indivíduo apresenta personalidade equilibrada, sem maiores problemas. Já se segunda fórmula é mais dilatada do que a TRI, ou seja, ∑Cp > ∑Ep, o participante apresenta elementos são mais infantilizados. Então, através da psicoterapia, pode ser que a TRI aumente e a tendência latente diminua (Freitas, 2005). 26 Tabela 05: Resultados dos determinantes TRI, TL e 3’F no grupo experimental. TRI (1) TL (2) 3’F (3) Coerência Intrapsíquica I Coartativo Coartado 70% Presente II Coartativo Introvertido Puro 30% Ausente III Coartativo Coartativo 33% Presente IV Introversivo Puro Coartativo 20% Ausente V Coartativo Coartado 20% Presente VI Coartado Coartativo 23% Presente VII Coartativo Coartativo 35% Presente VIII Coartativo Coartado 36% Presente IX Introversivo Misto Coartativo 34% Ausente X Coartado Coartativo 26% Presente Tabela 06: Resultados dos determinantes TRI, TL e 3’F no grupo controle. TRI (1) TL (2) 3’F (3) Coerência Intrapsíquica I Extroversivo Puro Coartativo 29% Ausente II Ambigual Coartativo 30% Ausente III Coartativo Introversivo Puro 38% Ausente IV Extroversivo Puro Coartado 33% Ausente V Introversivo Misto Coartativo 25% Ausente VI Coartativo Coartado 23% Presente VII Coartativo Coartado 15% Presente VIII Introversivo Puro Coartativo 30% Ausente IX Introversivo Misto Coartativo 29% Ausente X Ambigual Coartativo 28% Ausente Em relação ao tipo de ressonância íntima dos participantes do grupo experimental, podemos observar a predominância do índice coartativo em seis participantes, onde a proporção entre K e C é mínima, desse modo, registrando- se uma tendência ao índice coartado e suas características. Ao encontro desses resultados, verificou-se a presença da coerência intrapsíquica em sete homens, de modo que, a tendência latente dos mesmos teve o mesmo número de índice coartativo que o TRI (Freitas, 2005). No que tange à terceira fórmula dessa amostra, cinco participantes (II, III, VII, VII, IX) apresentaram resultados correspondentes ao índice ambigual, quatro (IV, V, VI, X) com 27 resultados correspondentes ao índice introversivo, e apenas um (I) participante com índice extratensivo. Dessa forma, percebe-se uma tendência dos participantes do grupo experimental, pautando-se pelo TRI e pela TL, de apresentarem índices correspondentes aos aspectos coartativos, que apontam para uma pobreza afetiva real ou dificuldade intelectual, além da tentativa constante de domínio sobre seus aspectos emocionais, corroborando com os resultados obtidos em relação aos determinantes F+ e F%. Essa característica pode ser um fator coadjuvante que explicam os rampantes agressivos contra a mulher. Além disso, em relação a tendência latente, o predomínio de presença de coerência intrapsíquica pressupõe a ausência de angústia, visto que o índice TL tem um papel complementar ao TRI, sendo o primeiro um indicativo potencial do resultado do segundo (Pasian, 2000). Já no tocante ao tipo de ressonância íntima dos participantes do grupo controle, podemos observar uma grande variedade de índices, não havendo predominância estatística de nenhum. O mesmo é possível verificar na tendência latente, aonde seis participantes apresentam índice coartativo, três apresentam índice coartado e apenas um participante apresenta índice introversivo puro. Portanto, nessa amostra, constatou-se a ausência de coerência intrapsíquica em oito participantes, o que pressupõe a presença de angústia, sinalizada pelo índice TL. Esses resultados podem sinalizar para uma tendência conflituosa em relação a vivência e expressão dos afetos (Fiorini & Figueiredo, 2003) e vão ao encontro das informações supracitadas na discussão dos determinantes F+ e F%. No que se refere à terceira fórmula dessa amostra, seis participantes (I, V, VI, VII, IX, X) apresentaram resultados correspondentes ao índice introversivo e quatro participantes (II, III, IV, VII) com resultados correspondentes ao índice ambigual. 28 A ausência de uma predominância estatística de um dos índices impossibilita a identificação de qual deles caracterizaria melhor esta amostra. Em relação aos resultados dessa amostra, pode-se apontar para uma tendência a um alto nível de intelectualidade e aspectos afetivos reservados, quando se tratar dos participantes introversivos. Para os participantes ambiguais, indica-se uma personalidade intelectual e afetiva equilibradas (Fiorini & Figueiredo, 2003). Já em relação ao determinante K (f 2-3 respostas), o mesmo está relacionado a vida afetiva interior (introversidade). Pode ser maior ou menor de acordo com algumas características de personalidade, e é um componente fundamental da inteligência no que se refere a imaginação criativa. Também representa um fator de estabilização afetiva. Se as respostas K aumentam, passa-se da extroversão para a introversão (Traubenberg, 1998). Os resultados estão dispostos nas Tabelas 07 e 08. Tabela 07: Resultados do determinante K no grupo experimental. K I 1 II 0 III 1 IV 2 V 1 VI 0 VII 1 VIII 1 IX 5 X 0 29 Tabela 08: Resultados do determinante K no grupo controle. O índice de dinamismo interno (K), revelado pelas respostas que indicam movimento humano, possui valor mínimo esperado como K= 1 (Fiorini & Figueiredo, 2003). Desse modo, no grupo experimental, cinco participantes apresentaram esse resultado mínimo esperado, além de três participantes apresentarem K = 0 e dois participantes apresentarem K > 1. No grupo controle, os resultados apresentados foram: três participantes apresentaram K = 1, dois participantes apresentaram K = 0 e cinco participantes apresentaram K > 1. De acordo com Pasian (2000), a ausência de respostas do determinante K indica pobreza imaginária, receio de se projetar, e sendo assim, uma constante tentativa de manter o controle no plano objetivo. Há também sinais de inibição e retraimento da personalidade. A autora ainda destaca que, participantes que apresentam o valor mínimo esperado para respostas do tipo K, podem ter dificuldade de manterem o interesse e atenção voltados para si mesmos, apresentando falhas de introspecção, projetando-se sempre para o mundo externo, e estabelecendo contatos afetivos superficiais. As médias foram 1,2 (DP=1,47) e 1,6 (DP=1,27) para as amostras experimental e controle respectivamente não havendo diferença. Aspectos Adaptativos K I 0 II 2 III 1 IV 0 V 3 VI 1 VII 1 VIII 2 IX 4 X 2 30 Segundo Traubenberg (1998), o conteúdo animal (A) é o mais frequente no teste. Significa ou avalia a estereotipia e variedade do pensamento e mecanismos mentais automatizados. É bem positivo quando aparecem dentro da frequência normal (7 -15). Seu resultado é obtido através de: A%= ∑[A+(A) + AD + (Ad) x 100, de modo que, o esperado sinalize entre 35 a 50%. R Seus resultados apresentam as seguintes características e estão nas Tabelas 09 e 10: A% ↑: relacionado a estereotipia do pensamento, encontram-se em pessoas pouco cultas, com pensamento infantil, de espírito conformista, de atitudes defensivas (adolescentes, seleção de pessoal), depressão, pessoas resistentes a mudanças e déficit intelectual. A%↓: intelectuais, artistas, variedade de pensamentos, otimistas, gostam de mudanças e também com incoerências de pensamento. Tabela 09: Resultados do determinante A% no grupo experimental. A I 4 (25% ↓) II 5 (54% ↕) III 4 (42% ↓) IV 3 (20% ↓) V 6 (58% ↑) VI 4 (47% ↓) VII 16 (55% ↕) VIII 8 (41%↓) IX 6 (26%↓) X 9 (60% ↑) 31 Tabela 10: Resultados do determinante A% no grupo controle. Os dados do grupo experimental revelam que apenas dois participantes (II, VII) apresentaram os resultados esperados em relação ao determinante A%. Dois participantes apresentaram resultados acima da média e seis apresentaram resultados abaixo da média. Já no grupo controle, nenhum participante obteve a porcentagem acima da média. Apenas dois apresentaram os resultados esperados enquanto os oito participantes restantes apresentaram resultados abaixo do valor esperado. As médias foram 6,5 (DP=3,83) e 11,8 (DP= 4,34) respectivamente. Considerando que a média de idade da amostra experimental é 35,5 e da amostra controle é 22,0, infere-se que esses dados sejam devido a juventude da amostra controle, ou seja um grupo mais imaturo em relação a amostra experimental. Em ambos os grupos, há uma predominância de indivíduos com características relacionadas a movimentos intelectuais e artísticos, otimistas, que gostam de mudanças e também apresentam incoerências de pensamento (Traubenberg, 1998). Outra possibilidade de respostas são as consideradas banais (Ban), sendo aquelas extremamente populares e comuns a mais de 17% da população. Diz respeito às características responsáveis pela adaptação ao meio social. Seus resultados esperados variam entre Ban% 20- 25, com um número de respostas f entre 4-7 (Traubenberg, 1998). Os resultados desse índice estão apresentados nas Tabelas 11 e 12. A I 11 (37% ↓) II 10 (31% ↓) III 16 (51% ↕) IV 18 (61% ↕) V 11 (33%↓) VI 7 (43% ↓) VIII 5 (40% ↓) VII 11 (38% ↓) IX 18 (56% ↓) X 11 (41% ↓) 32 Tabela 11: Resultados do determinante Ban no grupo experimental. Tabela 12: Resultados do determinante Ban no grupo controle. No grupo experimental, apenas o participante V apresentou resultado acima do esperado para o determinante Ban. Os nove outros participantes apresentaram resultados abaixo da média. Já os participantes do grupo controle, em sua totalidade, apresentaram os resultados com valores abaixo do esperado. Pessoas com baixo percentual de Ban tem dificuldade de relacionamento. Quando a resposta é rebaixada, pode ser sinal de desadaptação ao meio social. A pessoa é incapaz de ver o que os outros veem, podendo até indicar psicose. Já um grande percentual dessa resposta pode caracterizar um conformismo, concordam sempre com o pensamento vigente, e pode ser uma Ban I 3 (15% ↓) II 4 (31% ↓) III 2 (17% ↓) IV 2 (13% ↓) V 5 (42% ↑) VI 4 (24% ↓) VII 4 (13% ↓) VIII 3 (13% ↓) IX 4 (17% ↓) X 4 (27% ↓) Ban I 4 (11% ↓) II 2 (4% ↓) III 5 (13% ↓) IV 5 (14% ↓) V 4 (9% ↓) VI 2 (7% ↓) VII 2 (13% ↓) VIII 3 (8% ↓) IX 3 (9% ↓) X 6 (15% ↓) 33 característica defesa (Pasian, 2000). A média do grupo experimental foi 3,5 (DP= 0,97) e do grupo controle 3,6 (DP = 1,42). Na prática as médias são muito próximas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nos resultados obtidos durante a pesquisa, não foi possível determinar nenhuma diferença significativa entre as amostras. Os participantes de ambos os grupos apresentaram índices semelhantes, a não ser no quesito conteúdo animal (A), na qual as médias diferiram significativamente, por conta provavelmente da diferença de idade entre as amostras, sendo que agrupá-los em perfis dissonantes não foi possível. De maneira geral, os participantes do grupo experimental apresentam características como dificuldade de controle de pensamento e impulsividade, diminuição dos componentes afetivos e emocionais, tentativa de domínio sobre as emoções, vida subjetiva pobre e desadaptação ao meio social. Já as características pertinentes aos participantes do grupo controle dizem respeito a um conflito em relação a vivência e expressão dos afetos, angústia, incoerências de pensamentos, além de alguns aspectos que também fazem parte da amostra experimental, como dificuldade de controle de pensamento e impulsividade, diminuição dos componentes afetivos e emocionais e dificuldades de relacionamento. A respeito disso, Pervin e John (2008) dispõem que, muitas das respostas do Teste de Rorschach podem, por vezes, expressar sentimentos de negação e até mesmo ocultação, quando levado em conta o contexto no qual os participantes estão inseridos. Desse modo, suas respostas poderão ter uma tendência a expressar emoções e situações que não condizem com suas realidades. Portanto, uma hipótese para a ausência de resultados com valores de alta relevância no grupo experimental, diz respeito a uma provável negação e resistência no momento de 34 responder às pranchas de tintas de acordo com sua realidade, fornecendo assim, respostas superficiais e que não fornecem todas as características presentes na personalidade do indivíduo. Assim, corroborando à justificativa inicial para o desenvolvimento desse trabalho, enfatiza-se para a necessidade de mais pesquisas nesse campo que busquem contemplar questões que ainda não foram passíveis de conclusões, contemplando assim algumas limitações do estudo envolvendo a necessidade de amostras maiores, que possam resultar em resultados mais satisfatórios, assim como também é importante que os grupos de comparação sejam mais equivalentes na idade e no nível socioeconômico. Talvez um bom incremento ao trabalho seja aplicar mais de um teste (projetivo ou objetivo) e utilizar concordância de avaliadores na correção. Por fim, é necessário atentar para a possibilidade de uso do presente trabalho como subsídio teórico para a elaboração e condução dos encontros referentes ao grupo de reflexão, que atendem aos indivíduos pertencentes ao grupo experimental. Pode-se trabalhar questões como os aspectos afetivos, expressão das emoções e da personalidade, melhoria das relações interpessoais, visto que esses temas foram recorrentes ao longo dos resultados, a fim de contribuir no seu desenvolvimento e prevenir a reincidência do comportamento violento. É importante salientar que o feedback foi fornecido aos participantes envolvidos. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bezerra, Rafaela Pinto da Costa. Origem e fundamentos das penas alternativas. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVII, n. 122, mar 2014. Brasil. Lei nº. 13.104/2015. Altera os arts. 121 e 129 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e o art. 1º da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990 (Lei de Crimes Hediondos). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13142.htm#art3 Brasil. Lei Maria da Penha. Lei n. 11.340/2006. Coíbe a violência doméstica e familiar contra a mulher. Presidência da República, 2006 Caldeira, C. T. M. (2012). 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Biografia disponível em http://www.institutomariadapenha.org.br/quem-e-maria-da-penha.html Pasian, S.R. (2000). Psicodiagnósticode rorschach em adultos: atlas, normas e reflexões. São Paulo: Ed. Pearson. https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/3891/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o.pdf 36 Pervin, L. A., & John, O. P. (2008). Personalidade: teoria e pesquisa (8º ed.). São Paulo: Artmed. Rorschach, H. (1967). Psicodiagnóstico. São Paulo: Mestre Jou. (Original publicado em 1921). Souza, Carolina Cardoso de, & Resende, Ana Cristina. (2016). Perfis de Personalidade de Adolescentes que Cometeram Homicídio. Psico-USF, 21(1), 73-86. Torres, J. M. A. (2010). O Teste Rorschach na história da avaliação psicológica. Revista do Nufen - Ano 02, v. 01, n.01, janeiro-junho, 2010. Traubenberg, N. R. (1998). A prática do Rorschach. São Paulo: Vetor.
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