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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE - UNINORTE SER EDUCACIONAL LICENCIATURA PLENA EM LETRAS LÍNGUA PORTUGUESA ESCOLA DE HUMANAS SUSELLE AIRES MACHADO EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA NA PERSPECTIVA DE ÉMILE DURKHEIM MANAUS - AM 2020/1 SUSELLE AIRES MACHADO EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA NA PERSPECTIVA DE ÉMILE DURKHEIM Projeto solicitado pela professora Yone Gama da Costa, como requisito para nota parcial da disciplina de Projeto Integrador: Práticas em Educação Ambiental - Espaços Formais e Não Formais. MANAUS - AM 2020/1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 5 3 POSSIBILIDADE DE RESULTADOS ................................................................. 6 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 9 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 10 4 1 INTRODUÇÃO Este artigo trata da relação entre teoria do fato social e educação, constituindo uma revisão acerca do método sociológico de Émile Durkheim, com mais de cem anos de existência, mas que ainda faz-se pertinente e pode ser fomentado, de modo a estabelecer mudanças no contexto escolar. Para tanto, os principais autores que embasaram a pesquisa foram: Durkheim (2003), Furtado (2014), Laraia (2001) e Rogers (1973, 1997). De acordo com Laraia (2001), a sociedade funciona como uma estrutura, constituída por um grupo de pessoas, que ocupam um território comum. Dessa maneira, os agrupamentos sociais partilham o mesmo sistema cultural, possuindo, portanto, os mesmos padrões de comportamento, modos de organização, instituições e regras de convivência. Esses sistemas culturais, sejam em uma sociedade composta por milhões de habitantes ou em uma pequena tribo, funcionam por meio das ações dos indivíduos que compõem os grupos sociais. Nesse sentido, Émile Durkheim (1858-1917), priorizou em seus estudos a análise dos fenômenos sociais, partindo da premissa de que as ações dos indivíduos são submetidas à fatores externos. Por esse viés, Durkheim (1985) formulou a teoria do fato social, que foi exposta na obra Regras do Método Sociológico. Contudo, a teoria foi muito criticada, sobretudo, por defender que os fatos sociais criam uma espécie de consenso social e uma moral coletiva, reivindicando, de certo modo, uma qualificação contrária à ideia de que nosso comportamento individual é motivado por fatores internos e não procede da coletividade. Desse modo, Durkheim (2003) postulou que o indivíduo não seria perfeitamente autônomo e que a maioria de suas escolhas, tendências e ideias estariam submetidas à exterioridade. Por conseguinte, o ser social seria formado por medidas de repressão impostas pela sociedade na qual o indivíduo está inserido, bem como, pelas instituições que formam a estrutura dessa sociedade, como é o caso das igrejas e escolas. Portanto, a escola entendida como formadora da estrutura social, com seus múltiplos ambientes de interação, não pode ser vista dissociada das ações dos indivíduos. Ademais, historicamente, os processos de educação escolar vêm perpetuando relações de poder, que exercem forte influência sobre os alunos. 5 Partindo desse pressuposto, surge o problema: Como o fator coercitivo pode ser utilizado como instrumento de transformação social? Para a realização do estudo, foi adotada a abordagem qualitativa e o procedimento de pesquisa bibliográfica, tendo como objetivo geral refletir acerca da função transformadora da escola, sugerindo uma mudança na prática pedagógica, para estabelecer uma proposta de educação transformadora. Para tanto, foram definidos os seguintes objetivos específicos: Caracterizar os fatos sociais; identificar a educação como fato social; e inferir a educação como instrumento de transformação social. Segundo Furtado (2014), vivemos um período em que a sociedade deixou de construir novos padrões, portanto, os comportamentos e as relações são balizados por valores e crenças de outras gerações. Diante disso, o projeto surge devido à necessidade de refletir acerca da educação como estrutura de imposição, visando o rompimento com os modos reprodutivos de ensino. Logo, não pode-se desconsiderar o importante papel do processo de ensino formal na preparação do indivíduo, o que enfatiza a necessidade de discutir propostas, que priorizem o desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos O projeto está estruturado de modo a apresentar, primeiramente, as premissas do pensamento de Émile Durkheim e a teooria do fato social; posteriormente, expor sua abordagem no contexto escolar; e, por fim, estabelecer uma reflexão acerca da relação entre professor e aluno, considerando-a preponderante no desenvolvimento de uma proposta de educação transformadora à luz do método sociológico de Durkheim. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Este projeto adotou em sua concepção a abordagem qualitativa, tendo em vista que o estudo visa, de modo subjetivo, compreender grupos sociais e seus processos pedagógicos, sem preocupar-se com representatividade numérica. Para Minayo (2001, p.14): “A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos [...]”. Desse modo, o enfoque na interpretação do objeto de estudo pode ser maior na pesquisa 6 qualitativa, apesar de possuir o quadro teórico menos estruturado que na pesquisa quantitativa. De acordo com Barros (2000, p. 78), a pesquisa aplicada possui como motivação a necessidade de produzir conhecimento, para aplicação de seus resultados, no sentido de contribuir para fins práticos, visando a solução dos problemas encontrados. Nesse sentido, sua natureza é aplicada, pois busca proporcionar uma reflexão acerca da teoria do fato social, de Émile Durkheim, sugerindo propostas metodológicas que utilizem o poder de coerção da escola, para estabelecer uma proposta de educação transformadora. Quanto aos procedimentos, a escolha pela modalidade de pesquisa bibliográfica se deu devido à necessidade de conhecer o que já foi estudado e observar as diversas posições acerca do problema, criando um direcionamento para a solução. Diante disso, Fonseca (2002, p. 32), explica que: Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta. A observação das informações se deu através da verificação das publicações selecionadas, familiarização com o problema, interpretação e revisão das hipóteses levantadas durante a etapa inicial da pesquisa. Dessa forma, foi possível refletir acerca do tema abordado, partindo do levantamento de estudos teóricos, verificando as divergências entre os resultados esperados e os resultados observados durante o estudo, para, dessa maneira, refutar ou confirmar as hipóteses. 3 POSSIBILIDADE DE RESULTADOS Antes de indagar qual a relação entre escola e fatos sociais, faz-se necessário conhecer as premissas do pensamento de Émile Durkheim e caracterizar o que foi postulado acerca da teoria do fato social. Destarte, com o escopo de definir o objeto de estudo da Sociologia, Durkheim (2003, p. 40) propôs a teoria do fato social, definindoos fatos sociais como “[...] toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior: que é geral no âmbito de uma 7 dada sociedade, tendo existência própria, independente das suas manifestações individuais”. Por esse viés, Durkheim (2003, p. 37) atribuiu três características aos fatos sociais: coercitividade, que diz respeito à repressão que é exercida sobre os indivíduos e os mantém em conformidade consciente ou inconsciente; exterioridade, que não depende do indivíduo e decorre da aceitação do conjunto de regras e leis, bem como, da adoção de elementos socioculturais; e generalidade, que constitui a natureza coletiva comum a todos os indivíduos da sociedade ou ao grupo. Laraia (2001, p. 48), afirmou que culturas são sistemas de padrões comportamentais responsáveis por definir os agrupamentos sociais, os modos de organização econômica e política, além das práticas religiosas e pedagógicas, dentre outros aspectos. Esses sistemas culturais, desenvolvidos por diversas gerações, condicionam os indivíduos a reagir de forma negativa aos comportamentos que forem contrários aos padrões, o que demonstra a presença do fator coercitivo na nossa herança cultural. Com efeito, o fator coercitivo, inerente à vida em sociedade, pode ser verificado quando se manifesta por reações diretas, como, por exemplo, a moral, as leis e as crenças. Entretanto, quando não é perceptível, as medidas de coerção ainda estão presentes em comportamentos, hábitos ou modos de organização social. Portanto, Durkheim (2003, p. 20), assevera que os indivíduos não são perfeitamente autônomos, tendo em vista que as escolhas, tendências e ideias, que não compõem as ordens fisiológicas, são submetidas a impulsos coletivos, que impõem modos de fazer aos indivíduos. Por sua vez, Laraia (2001, p. 56), ressalta que: Mesmo o exercício de atividades consideradas como parte da fisiologia humana podem refletir diferenças de cultura. Tomemos, por exemplo, o riso [...]. O riso exprime quase sempre um estado de alegria. Todos os homens riem, mas o fazem de maneira diferente por motivos diversos. Pessoas de culturas diferentes riem de coisas diversas. A partir dessas informações, é possível perceber que o ser social é formado por medidas de repressão, que perpetuam padrões definidos pelo sistema cultural no qual o indivíduo está inserido, bem como, pelas instituições que formam a estrutura dessa sociedade. Consequentemente, a escola pode ser entendida como uma instituição, que trabalha na formação do ser social concebido como ideal, dentro de 8 um detetminado contexto sociocultural, o que pode ser constatado pelo esforço contínuo para impor modos de fazer aos alunos. Nessa perspectiva, identificando a educação como um fato social, somos levados a refletir acerca da postura dos professores enquanto parte dessa estrutura condicionante. Durkheim (2003, p. 52), notou que a conformidade é vista como algo positivo, enquanto a contrariedade é evitada. Tal afirmação demonstra uma postura coercitiva presente nas interações entre alunos e professores, sobretudo, em práticas pautadas nas tendências pedagógicas tradicionais. Acerca dessas questões, Furtado (2014, p. 25), explica que somos parte de uma cultura e que, no contexto escolar, o processo de mediação da aprendizagem constitui o fator generalizador, que, por meio das percepções, possibilita a construção de valores e crenças determinantes no comportamento do indivíduo. Nesse sentido, ao mediar a aprendizagem, o professor pode transformar os estímulos, de modo intencional, organizando ou alterando o objeto de conhecimento, diminuindo, portanto, a pressão das regras impostas pelo meio. Rogers (1973, p. 101) salienta que: “[...] o bom professor deve ser uma pessoa realmente existente, realmente presente aos seus alunos; é pelo contato que se educa. Contato é a palavra fundamental da educação”. Em conformidade, Furtado (2014, p. 54), enfatiza a necessidade de envolvimento pessoal por parte do professor, defendendo que o vínculo e a afetividade possuem um papel fundamental no desenvolvimento dos alunos. Assim sendo, ao romper com a neutralidade, o professor adota uma postura transformadora, utilizando o poder coercitivo, para desenvolver o pensamento crítico, abrindo espaços de comunicação. Rogers (1997; p. 23) afirma que: Como professor encontrei enriquecimento sempre que abri canais por meio dos quais os outros pudessem se revelar. É por essa razão que tento, muitas vezes em vão, criar na aula um clima em que se possam exprimir os sentimentos, onde cada um possa ter opiniões diferentes das do professor ou dos colegas. Por fim, ao enxergar a comunicação como um dos pontos mais importantes no processo de ensino e aprendizagem, criando espaços para que os alunos se expressem livremente, o professor distancia-se da metodologia de transmissão do conhecimento em que todos aprendem padronizadamente. Além disso, os modos de fazer consolidados, ao serem alterados e reorganizados pelo professor, com a 9 intenção de estabelecer uma educação transformadora, exercem menos pressão e permitem que os alunos tirem suas próprias conclusões. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em relação aos fatos sociais, é notório que pouco pode ser feito para evitar que as ideias individuais sejam submetidas à generalidade. Efetivamente, o pensamento coletivo exerce influência coercitiva sobre a consciência individual, estabelecendo os modos de fazer de acordo com imposições originadas culturalmente. No entanto, no que tange ao processo de escolarização, parece haver apenas uma saída capaz de reduzir a dominação imposta pela estrutura social: a adesão de uma postura transformadora, por parte dos professores. Nesse sentido, seria assumida a tarefa de instituir um processo de ensino e aprendizagem participativo, contribuindo para desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos Em suma, ao abrir canais de comunicação e diminuir a pressão acerca dos modos de fazer determinados pela sociedade, o professor tem a possibilidade de romper com as práticas educativas de dominação social, estimulando, assim, a autonomia e emancipação dos indivíduos. REFERÊNCIAS BARROS, A. Fundamentos de Metodologia: Um guia para a iniciação científica. 2 Ed. São Paulo: Macron Books, 2000. DURKHEIM, E. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martin Claret, 2003. FONSECA, J. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. FURTADO, J. Vínculos e aprendizagem. Curitiba: Expoente, 2014. LARAIA, R. Cultura: um conceito antropológico. 14 Ed. Rio de. Janeiro: Zahar, 2001. MINAYO, M. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001. ROGERS, C. Liberdade para aprender. Belo Horizonte: Interlivros, 1973. ROGERS, C. Tornar-se Pessoa. 5 Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
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