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O debate da Questão Étnico Racial no curso de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina

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O debate da Questão Étnico Racial no curso de Serviço Social 
da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) 
 
Jaina da Conceição Goes1, Leonardo Moura da Silva2, Mathaus Nascimento Caricate3, Vanessa Zoraide 
Domingos4 
 
Palavras-chave: Questão Racial; Serviço Social; Sociedade; Formação Profissional; 
 
Resumo: Neste artigo visamos sistematizar as ações e importância da criação do Coletivo Negro de 
Serviço Social Magali da Silva Almeida ao atuar no curso de Serviço Social da UFSC em prol da 
qualificação da formação profissional ao agregar a temática étnico-racial no bojo dos debates 
empreendidos no meio acadêmico e institucional. A partir de referências importantes como Almeida (2018), 
Williams (2012), Jacino (2014) e também referências negras da área de Serviço Social como Almeida 
(2015) e Santos (2016), contextualizamos historicamente a questão do negro no Brasil do início da 
escravatura até o lugar ao qual ocupa na sociedade atual. Objetivamos visibilizar as ações do coletivo e 
importância da inserção de estudantes negros e negras nas universidades para mover as estruturas 
vigentes. Concluímos que a criação do coletivo possibilitou avanços significativos na inserção da temática 
racial no Serviço Social da UFSC, contudo ainda há desafios a serem enfrentados, como a criação da 
disciplina obrigatória no currículo do curso. 
 
INTRODUÇÃO 
 
O debate étnico-racial está sendo discutido em setores sociais como coletivos, 
organizações e movimentos sociais que buscam enfrentar a questão no cotidiano de 
suas lutas. Também é identificada em espaços da produção teórica nas universidades, 
através de núcleos de estudo, projetos de iniciação científica e demais iniciativas que 
estão circunscritas à academia. Ou seja, há diversos espaços na sociedade cuja temática 
racial é trabalhada a fim de explicitar a desigualdade e discriminação vivida pela 
população negra. A construção de uma resistência faz frente ao projeto do sistema 
capitalista, que visa sustentar o racismo e demais mecanismos de discriminação racial 
para a permanência da lógica da desigualdade e subjugação dos sujeitos. 
 
1 Graduanda em Serviço Social da 8ª Fase na Universidade Federal de Santa Catarina, integrante do Coletivo Negro 
de Serviço Social Magali da Silva Almeida. Pesquisa Serviço Social, Questão Étnico-Racial, Gênero e Feminismo 
Negro. 
2 Graduando em Serviço Social da 6ª Fase na Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC), integrante do Coletivo 
Negro de Serviço Social Magali da Silva Almeida, integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Serviço Social da 
UFSC. Pesquisas em Exercício Profissional na Contemporaneidade e Serviço Social e Processos Político 
Organizativos. 
3 Graduando em Serviço Social da 4º Fase e integrante do Coletivo Negro de Serviço Social Magali da Silva Almeida. 
Atualmente está vinculado como bolsista no Programa de Educação Tutorial do Serviço Social. (PET), atuando 
principalmente nos seguintes temas: etnia, questão social, serviço social e questão racial. 
4 Graduanda da 5° fase de Serviço Social na Universidade Federal de Santa Catarina, integrante do Coletivo Negro de 
Serviço Social Magali da Silva Almeida. 
 
 
Contudo, no Serviço Social observa-se uma insuficiência deste debate, fazendo 
com que haja uma demanda cada vez mais presente por parte dos estudantes e 
profissionais da área. O que pode ser reflexo da implementação das Políticas de Ações 
Afirmativas, especificamente a cota racial que, com a entrada de pessoas negras, enseja 
também o debate étnico-racial nas áreas de conhecimento e na sociedade em geral. 
Uma expressão de tal demanda é a criação do Coletivo Negro de Serviço Social Magali 
da Silva Almeida, em 2017. 
No intuito de possibilitar o debate étnico-racial no curso de Serviço Social da 
UFSC, o Coletivo Negro Magali propôs realizar um evento que teve como objetivo 
trabalhar a questão racial como elemento fundamental para análise da realidade social, 
especialmente, a brasileira, marcada desde o período escravocrata pela discriminação 
racial e subjugação dos sujeitos negros mesmo após a abolição. Sendo tal temática 
assegurada pela Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-
brasileira (BRASIL, 2003). 
Participaram do evento as professoras Drª Magali S. Almeida e Drª Ana Paula 
Procópio, que discutiram a formação sócio-histórica brasileira a partir da análise das 
relações étnico-raciais e os desdobramentos desta questão nos espaços de formação 
acadêmica e profissional do Serviço Social. No total, participaram da atividade 243 
pessoas, que estiveram nos dois espaços proporcionados, a palestra, no dia 15 de maio, 
e o minicurso, no dia 16 de maio. 
A realização do evento contribuiu de forma a trazer o debate ao curso de Serviço 
Social da UFSC, sendo feito, até então, de forma esporádica em algumas iniciativas do 
centro acadêmico, no entanto, a nível de graduação há uma ausência do tema nas 
discussões previstas no currículo obrigatório. A iniciativa resultou na abertura do diálogo 
entre o Coletivo Negro e o Departamento de Serviço Social na construção do debate 
étnico-racial em sala de aula através não somente de sua inserção nas disciplinas já 
existentes, como também lança margem à idealização de uma disciplina de Serviço 
Social que trate, exclusivamente, da questão racial. 
 
O ESCRAVISMO BRASILEIRO E SUA IMPLICAÇÃO NA ESTRUTURA SOCIAL NA 
ATUALIDADE 
 
Com tal objetivo, é importante entendermos que as relações sociais estruturadas 
no Brasil são fundamentadas na racialização da ideologia colonial europeia. Esta 
ideologia cristã europeia e pré capitalista construiu e legalizou o sistema escravista nas 
diversas colônias dos países europeus. No caso brasileiro, a colonização teve seu início 
no contato primário dos povos indígenas originários da Nova Terra, com os navegantes 
portugueses que chegavam. Assim, através do jogo persuasivo, os colonizadores 
incentivaram os conflitos já existentes entre as diferentes aldeias indígenas brasileiras e 
os obrigavam a se converterem ao catolicismo. Apoiados na falsa irmandade entre 
portugueses e indígenas, os colonizadores deram início a escravização dos povos 
 
 
indígenas e os desapropriaram de suas terras, para que pudessem utilizar do solo para 
produção de riqueza para coroa portuguesa. 
Em busca do aumento da produção colonial, os colonizadores brancos, em 1535, 
legalizaram a escravidão dos povos africanos no país, dando início ao tráfico 
transatlântico negreiro, que traficava pessoas originárias da costa oeste da África, 
passando por Cabo Verde, Congo e Zimbábue. Eram homens e mulheres sudaneses, 
guienos-sudaneses, muçulmanos e bantus, sequestrados pelos portugueses e trazidos 
à força para o Brasil, já não mais como pessoas e sim como mercadoria, para a 
exploração forçada e desumana de sua força de trabalho nas lavouras açucareiras que 
iniciavam a sua produtividade no Nordeste brasileiro. 
 
Os comerciantes de escravos portugueses vendiam os negros africanos como 
se fossem mercadorias. O transporte das mulheres negras e homens negros 
africanos era realizado através de embarcações chamadas de navios negreiros 
ou tumbeiros. Este comércio se tornou lucrativo, trouxe riqueza e poder aos 
donos de tais embarcações. O roteiro destas embarcações iniciava-se em portos 
africanos onde seus comandantes esperavam pelo embarque da "mercadoria", 
que era encaminhada pelos sócios africanos dos comerciantes de escravos. 
Eram esses africanos os responsáveis por capturar no interior do continente os 
povos que iriam encher os porões dos barcos. Os sócios africanos separavam 
propositalmente os negros e negras de suas famílias para evitar possíveis 
rebeliões (SANTOS, 2016, p. 15). 
 
Homens e mulheres negras eram acorrentados nos porões dos navios, durante 
a viagem sem volta para a colônia, essas pessoas ficavam meses presas nesses navios 
sobrecarregados de pessoas negras e em condições fatalmentedegradantes. Tais 
condições acarretavam na morte de muitos durante a viagem e mesmo com a perda da 
mercadoria, ainda sim era lucrativo superlotar os navios, pois os que sobreviviam eram 
considerados carga de reposição (Ibid., 2016). 
Cabe ressaltar a importância econômica do escravismo que implicou no 
fortalecimento do processo de acumulação primitiva realizado pelos países europeus. 
Era necessário que a colônia mantivesse com a metrópole um comércio exclusivista, 
rebaixando o preço dos produtos coloniais e estabelecendo preços altos para os 
produtos metropolitanos, o que assegurou mercado às manufaturas em expansão e 
propiciou a acumulação acelerada, onde o dinheiro se valorizou no processo de 
circulação da mercadoria (MARX, 2011; IANNI, 1978). 
Remontar a tais origens da escravidão no Brasil implica, necessariamente, 
compreender a origem do racismo e suas sequelas na sociedade brasileira atual. 
Segundo Williams, em seu célebre livro Capitalismo e Escravidão (2012), a escravidão 
não é proveniente do racismo, mas o racismo é consequência direta da escravidão. O 
racismo tornou plausível justificar e racionalizar a escravidão negra, “[...] arrancar uma 
obediência mecânica como a um boi de tração ou a um cavalo de carga, exigir aquela 
resignação e aquela completa sujeição moral e intelectual indispensáveis para a 
existência do trabalho escravo” (WILLIAMS, 2012, p. 50). 
 
 
Williams (2012) nos proporciona desmantelar discursos que confirmem a 
escravidão africana por motivações tais quais a preguiça do indígena para o trabalho ou 
a fraqueza do branco para suportar as condições do trabalho manual no clima tropical 
do novo mundo segundo o autor, a causa da escravização negra foi a necessidade de 
um grande e organizado abastecimento de mão de obra para o sucesso do capitalismo 
mercantil. 
Em seu livro Crítica da Razão Negra, Achille Mbembe explica que “[...] onde quer 
que apareça, o negro desencadeia dinâmicas passionais e provoca uma exuberância 
irracional que invariavelmente abala o próprio sistema racional” (MBEMBE, 2018, p. 13). 
Conforme o autor, a ideia de raça reduz o ser vivo a sua aparência, especialmente, de 
pele e de cor, atribuindo a estes uma característica biológica. Tal perspectiva 
fundamenta processos históricos violentos que resultam em catástrofes criminosas em 
nome de uma inferioridade racial dos não-brancos. 
Após o processo de abolição, que contou não somente com a pressão 
internacional no que tange à inutilidade da escravidão para a fase do capitalismo 
industrial, como também com a resistência dos escravizados e negros libertos, temos 
no Brasil, uma fase marcada pela instituição do modo capitalista de produção 
dependente das grandes potências e a marginalização social dos negros e negras 
brasileiras. É pelo fato de que esse quadro social ainda reverbera no século XXI que o 
estudo desse aspecto contribui sobremaneira para a compreensão de um elemento 
fundamental das opressões vivenciadas pela classe trabalhadora no Brasil: o racismo 
estrutural. 
Silvio Luiz de Almeida no livro O que é Racismo Estrutural? localiza o conceito 
como parte da ordem social vigente, realidade que permeada por conflitos de classe, 
gênero, raça, sexualidade, dentre outras questões. É o racismo estrutural a base que 
sustenta as discriminações raciais, o preconceito racial, o racismo institucional, a 
desigualdade racial, dentre outros elementos que reforçam que “comportamentos 
individuais e processos institucionais são derivados de uma sociedade cujo racismo é 
regra e não exceção” (ALMEIDA, 2018, p.38). 
 
O que queremos enfatizar do ponto de vista teórico é que o racismo, como 
processo histórico e político, cria as condições sociais para que, direta ou 
indiretamente, grupos racialmente identificados sejam discriminados de forma 
sistemática. Ainda que os indivíduos que cometam atos racistas sejam 
responsabilizados, o olhar estrutural sobre as relações raciais nos leva a concluir 
que a responsabilização jurídica não é suficiente para que a sociedade deixe de 
ser uma máquina produtora de desigualdade racial (Ibid., 2018, p.39). 
 
No pós-abolição, o racismo enquanto elemento fundamental para a manutenção 
da estrutura social desigual fica evidenciado pela permanência da condição do negro 
enquanto subalterno. O que se observa é que, mesmo após ter sido formalmente liberto 
com a promulgação do decreto número 3353, de 13 de maio de 1888 (ou Lei Áurea), tal 
liberdade foi condicionada de acordo com os limites que o Estado brasileiro impôs. O 
 
 
negro, mesmo na condição de liberdade, continuou aprisionado a um status social cuja 
cor da pele o denunciava como inferior, independente da classe social. 
A rejeição dos negros no cenário de desenvolvimento e industrialização brasileira 
é revelada nos estudos de Ramatis Jacino (2014), que demonstra a não incorporação da 
população negras nas indústrias, ao contrário da população imigrante que foi sendo 
absorvida pelo setor. O projeto imigrantista teve como concepção o incentivo da 
imigração europeia visando o progresso da nação, na medida em que, na Europa, o 
processo industrial estava em nível avançado. Ademais, o imigrante europeu servia 
como elemento chave para o sucesso do projeto de branqueamento do país, através da 
miscigenação, onde se previu um país branco em algumas gerações. 
As teorias racistas que ganharam expressão a partir da metade do século XIX 
no Brasil reforçaram a emergência do branqueamento visto que defendiam a 
hierarquização racial, onde o europeu branco localizou-se na posição de superioridade, 
enquanto que negros e indígenas localizavam-se na base da pirâmide e as demais raças 
ocupavam posições intermediárias (SEYFERTH, 1996). O darwinismo social foi uma 
teoria que “afirmava que os brancos - por sua pureza, superioridade e civilidade - eram 
resultado da seleção natural das raças humanas” (SANTOS, 2009). 
Ao terem sido derrubadas as teorias eugenistas, cresceu no país a necessidade 
de conformação de uma identidade nacional, onde as três raças (brancos, negros e 
indígenas) foram convocadas a representar a gênese da população brasileira. Essa 
perspectiva endossou o discurso de uma democracia racial, onde a diversidade racial 
implicou em relações harmônicas, sem conflitos raciais ou desigualdade racial. Tal 
perspectiva ganhou notoriedade com a obra de Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala 
(1933), no qual inverte o valor da mestiçagem, vista por alguns intelectuais como mistura 
degenerativa, 
 
[...] sublinhou um efeito positivo da miscigenação advinda do relacionamento 
entre senhor branco e mulher negra e indígena [...] O pressuposto ideológico 
dessa concepção era o de que a relação racial brasileira ocorreu sem conflito, 
fato esse que estimulou a assimilação e a troca cultural. Disso depreendia-se 
que a miscigenação era algo desejável por todos os brasileiros (SANTOS, 2009, 
p. 49-50) 
 
Tal problemática passou a ser alvo da militância do movimento negro, no sentido 
de demandar do Estado políticas de reparação social para com a comunidade negra 
brasileira. A Frente Negra Brasileira (1931-1938), primeira entidade que mobilizou-se 
frente às questões relativas ao negro e obteve grande participação social, operou na 
grande metrópole de São Paulo, na qual se intensifica as novas relações de trabalho e 
se expressa o modo pelo qual a população negra é integrada nesse processo. Após o 
Golpe Militar de 1964 há uma desarticulação do que vinha se conformando numa elite 
intelectual negra, só retomada durante o período de reabertura política na década de 
1980 (GONZALEZ, 1982). Somente no período da redemocratização foi que o 
 
 
movimento negro pode desenvolver-se novamente, marcando um momento de 
amadurecimento de suas pautas políticas, estratégias e ações. 
A denúncia do mito da democracia racial torna-se importante meio para combater 
as narrativas hegemônicas sobre as relações raciais no Brasil. Enquanto mito, a 
democracia racial afirma-seenquanto ideia construída por intelectuais da época que 
reverbera também em algumas análises atuais, no entanto, não encontra representação 
na realidade, constituindo-se enquanto um simbolismo criado a um determinado fim 
(SANTOS, 2009). 
Atualmente, a temática racial vem se inserindo em espaços como coletivos 
negros, organizações e movimentos sociais que buscam fazer o enfrentamento desta 
questão no cotidiano de suas lutas. Além disso, essa questão também é identificada em 
espaços científicos da produção teórica nas universidades através de núcleos de estudo, 
bolsas de iniciação científica, programas, e demais iniciativas que estão circunscritas à 
academia universitária. Esse movimento vem crescendo ainda mais desde a instituição 
da Lei nº 12.711/2012 conhecida como a Lei de Cotas, que estabelece porcentagem de 
vagas no ensino superior público a estudantes negros e negras, bem como outros 
sujeitos sociais historicamente excluídos da universidade. Tal contexto cria novas 
demandas às instituições, que, com crescimento do número de estudantes negros é 
confrontada com suas bases hierarquizadas e aristocráticas. 
 
O DEBATE ÉTNICO-RACIAL NO SERVIÇO SOCIAL BRASILEIRO 
 
O Serviço Social, enquanto profissão, entra em vigor no momento em que a 
“Questão Social” se acirra e deixa de ser tratado apenas sob viés repressivo, no qual as 
ações filantrópicas já se mostram ineficientes, passando a ser uma responsabilidade 
social do Estado autoritário varguista, em conjunto com as igrejas católicas e elites locais, 
atuando através da Legião Brasileira de Assistência - LBA. Neste contexto, as mulheres 
da classe média e alta, eram selecionadas para se dedicarem ao trabalho voluntário 
direcionado aos “mais necessitados”, assim realizavam atividades em grupo com a 
mulheres mais pobres, com o objetivo de educar essas mulheres quanto aos 
ensinamentos relativos aos cuidados e à função materna (COSTA, 2017). 
Durante o processo de industrialização as famílias negras sofriam intensamente 
os reflexos do recém abolido sistema escravista, estas eram famílias que fugiam do 
padrão das elites e da classe média branca (FERNANDES, 1995). Assim, 
processualmente, o Serviço Social vai se tornando uma ferramenta do Estado e da elite 
para disciplinarização das famílias pobres e camponesas que estavam chegando para 
os grandes centros urbanos. Dentre as ações profissionais, estava a necessidade de 
moralizar e responsabilizar as mulheres inseridas nos núcleos familiares, vistas como as 
principais ferramentas de interlocução entre o poder público e os trabalhadores homens, 
com potencial para adequar suas famílias a um padrão de normalidade que era 
heteronormativa e branca: 
 
 
 
À medida que o Serviço Social surge profundamente marcado pelo caráter de 
apostolado católico, analisando a questão social como problema moral e 
religioso, as relações raciais não são problematizadas adequadamente, uma vez 
que as reflexões da categoria privilegiam as ações direcionadas à “resolução” 
moral das contradições de classe (EURICO, 2013, p 292). 
 
Interessante destacar a especificidade das famílias negras, cujas mulheres 
negras não se adequavam às representações de mulher importadas da Europa. “Uma 
das prerrogativas do homem livre era a possibilidade de ser provedor da família, mas a 
realidade histórica da mulher negra - livre ou escravizada - seria de garantir sozinha a 
sua sobrevivência e de sua prole” (JACINO, 2014, p. 85). 
Após transformações sociais, históricas e econômicas no cenário internacional e 
nacional das décadas de 1980 o Serviço Social rompe com suas bases tradicionais, 
conformando um projeto político profissional pautado em elementos democráticos, 
éticos, racionais e humanos. Nesse período, expressa-se a incorporação do método 
crítico dialético advindo da teoria marxista, permitindo uma apreensão do movimento de 
transformação da realidade social e suas implicações na vida dos sujeitos. Neste 
processo, o Serviço Social compreende que não há uma neutralidade no trabalho do 
assistente social e se reconhece enquanto classe trabalhadora e interventiva nos 
processos de produção e reprodução das relações sociais. 
O processo de redemocratização brasileiro teve um importante significado para 
as lutas sociais, dentre elas as lutas dos movimentos negros na reivindicação pelo 
reconhecimento das disparidades raciais e da necessidade de responsabilização do 
Estado em promover políticas públicas reparatórias. É nesse cenário em que o 
movimento negro avança em suas pautas, amadurecendo sua consciência política e 
aliando-se a partidos políticos de esquerda da sociedade. 
 
[...] o ideário de “igualdade” instituído pela Carta Magna contempla ainda alguns 
anseios do Movimento Feminista e do Movimento Negro que, desde a década 
de 1930, vinham denunciando, respectivamente, o sexismo e o racismo brasileiro 
(COSTA, 2017, 229) 
 
Tendo em vista que o Serviço Social faz parte da sociedade e pelas 
transformações desta é concomitantemente alterado, a década de 1980 representa uma 
mudança radical na postura dos profissionais assistente sociais ao colocarem-se ao lado 
da classe trabalhadora. No interior da profissão, a aprovação do Código de Ética 
Profissional de 1986 caracteriza-se como a materialização da reformulação em curso. 
Após sete anos, o Código é relançado e, em 1993, traz pela primeira vez como princípio 
fundamental a recusa de comportamentos discriminatórios em razão de raça, etnia, 
gênero, classe social, nacionalidade, religião, identidade de gênero, idade ou condição 
física (CFESS, 1993). 
 
Isso remete a uma reflexão acerca da importância atribuída à ética e aos direitos 
humanos no interior do projeto ético‑político a partir dos anos 1990, fortalecendo 
 
 
as bases para o desenvolvimento de um debate sobre a questão étnico/racial no 
cotidiano do assistente social (EURICO, 2013, p. 293). 
 
O Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais - CBAS é um dos espaços de 
excelência da profissão, pois nele ocorrem importantes discussões e decisões a respeito 
da organização e atuação da categoria. Sendo também palco da inserção da temática 
étnico racial na profissão que desde os primórdios vinha estudando a Questão Social 
sem atrelar à análise sobre raça no país. Em 1989, o Serviço Social realiza o VI CBAS, 
onde a temática da questão racial passa a ser reivindicada por algumas assistentes 
sociais, como uma categoria de análise (JUNIOR, 2013). 
 
No VI CBAS foram apresentadas duas teses: a)Tese 7- Autoras: Maria José 
Pereira, Matilde Ribeiro, Suelma Inês Alves de Deus. Estado: São Paulo; “A 
questão racial enquanto elemento de uma prática transformadora”; b)Tese 8 – 
Autoras: Magali da Silva Almeida; Fátima Cristina Rangel Sant’Ana ; Estado: Rio 
de Janeiro; “O Serviço Social e os bastidores do racismo” (Ibid., 2013,p.4). 
 
Ambas as teses buscavam mostrar que para compreender a exploração da 
classe era necessário estudar as bases da opressão racial e as outras expressões 
sociais que atravessavam a questão da classe, o relatório final do Congresso foi emitido 
com uma indicação para a inclusão de um eixo temático que discutisse raça/etnia, 
garantindo uma maior visibilidade para a questão (JUNIOR, 2013). 
Em 1995 é reconhecida pelo Estado brasileiro a existência do racismo e de suas 
expressões, até então negada sob o véu da democracia racial. Esse fato ocorre no 
mesmo ano em que o Serviço Social cria em seu VIII CBAS um eixo temático de teses 
que abordassem o tema das relações raciais: “O Serviço Social Frente às Relações de 
Gênero e Etnia” (Ibid., 2013). 
Entretanto mesmo com os avanços dos direitos humanos na Constituição 
Federal brasileira e no Código de Ética Profissional, o debate da questão étnico-racial 
ainda se faz ausente, pois mesmo no atual cenário em que os movimentos e coletivos 
de povos não brancos estão em ascensão, as contribuições da profissão na produção 
de conhecimento na área de assuntos étnicos-raciais e degênero ainda carecem de 
aprofundamento. Ao se depararem com os termos “[...] afrodescendente, branquitude, 
discriminação racial, etnia, negro, preconceito racial, racismo, racionalismo e raça [...]” 
(grifo da autora), as profissionais transitam por diversas interpretações, muitas vezes 
antagônicas (EURICO, 2013, p. 293). Sendo esta dificuldade de interpretação um 
possível reflexo da precariedade do debate étnico-racial na formação profissional, ela se 
torna uma das problemáticas levantadas e abordadas pelo Coletivo Negro de Estudantes 
de Serviço Social Magali da Silva Almeida da Universidade Federal de Santa Catarina. 
 
 
Parafraseando Jurema Werneck (2010), nossos passos vêm de longe e não são 
recentes as investidas, protagonizadas pelas/os Assistentes Sociais negras/os, com 
relação à ampliação e qualificação do debate étnico-racial no bojo das discussões 
teóricas da profissão. Desde muito que são produzidos trabalhos sobre o tema, 
destacamos como exemplo o Trabalho de Conclusão de Curso da professora Elisabete 
Aparecida Pinto, de 1986, intitulado “O Serviço Social a Questão Racial: um estudo da 
relação do Serviço Social e Clientela Negra”, mas que não são oferecidos como 
bibliografia básica nos espaços de formação profissional. 
Recentemente foi inaugurada a campanha de Gestão do Conjunto CFESS-
CRESS (2017-2020), cujo objetivo é trazer a tona o debate do racismo no exercício 
profissional de assistentes sociais, incentivar a promoção de ações de combate ao 
racismo no cotidiano profissional, ampliar a percepção das diversas manifestações do 
racismo, combater o racismo institucional nos espaços de trabalho de assistentes 
sociais, visibilizar a dimensão racial das demandas por direitos sociais e denunciar o 
racismo no Brasil e suas variadas expressões. Este é um momento marcante para os 
profissionais e estudantes que afirmam o compromisso de combate ao racismo existente 
dentro e fora da profissão. 
No entanto, sob o prisma de seu projeto ético-político, o Serviço Social nega o 
racismo que pratica através da invisibilização da temático dentro de seus espaços de 
debate. Se negamos o racismo, por que não falamos sobre ele? Por que o profissional 
assistente social, em alguns espaços sócio ocupacionais, tem uma maioria de 
usuários/as negras e não fala sobre isso? Uma resposta possível para tais 
questionamentos é a funcionalidade do mito da democracia racial que, mesmo em 
movimentos que defendem pautas progressistas, persiste em difundir a crença de 
relações raciais harmônicas, responsabilizando negro por sua condição subalterna. 
 
O COLETIVO NEGRO DE SERVIÇO SOCIAL NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE 
SANTA CATARINA 
 
O Estado de Santa Catarina é, popularmente, conhecido como um estado que 
se reivindica branco e desenvolvido. Tais características, colocadas como forma de 
sobrepor-se aos demais estados e vinculando, explícita ou implicitamente, a brancura 
(por ser o estado com maior número de brancos do país) com o progresso e com os altos 
índices de desenvolvimento5, reforça as crenças de que o branco é o sujeito civilizado e 
 
5 Florianópolis, a capital catarinense, ocupa o terceiro lugar no que tange ao Índice de Desenvolvimento 
Humano Municipal (IDHM), em relação aos demais estados brasileiros, Santa Catarina aparece em terceiro 
lugar. “IDH é composto por três indicadores, que representam a oportunidade de uma sociedade de ter 
 
 
as demais raças estão fadadas ao atraso em função de sua não adaptação a um sistema 
desenvolvido. As contribuições negras e indígenas no estado catarinense são 
invisibilizadas, seja nas narrativas culturais hegemônicas, no conhecimento formal 
difundido pelas instituições educacionais ou nos livros sobre a conformação populacional 
da região. A construção histórica do estado rebate diretamente na postura e atuação da 
Universidade Federal, constituindo-se enquanto o maior centro de ensino superior 
público do estado. 
O currículo vigente no curso de Serviço Social da UFSC passou a ser 
implementado a partir do segundo semestre de 2013, abarcando 39 disciplinas 
obrigatórias e 26 disciplinas optativas, sendo que dentro do rol das optativas, uma prevê 
a discussão étnico-racial como central, tal ausência não é exclusiva da UFSC, como 
também se observa em outras universidades (Santos, 2016). Denominada Relações 
Inter-étnicas, a disciplina tem como ementa o seguinte texto: 
 
Grupos étnicos. Processos sócio-culturais de construção de identidade étnicas. 
Particularidades históricas e processos de diferenciação. Etnicidades e questões 
raciais, acomodações e conflitos. Sociedades pluriétnicas, cultura e política. 
(UFSC, 2013, p.11) 
 
Segundo a pesquisa sobre formação profissional e Serviço Social realizada por 
Santos (2016), a maior parte das disciplinas nos cursos de Serviço Social das instituições 
públicas federais do Brasil que abordam a questão étnico-racial no título estão 
distribuídas da seguinte maneira: 
 
[...] cinco no Nordeste, uma no Centro Oeste, quatro na região Sudeste, uma na 
região Norte e uma na região Sul. Outra valiosa informação é que das dez 
disciplinas apresentadas, oito são na modalidade optativa e somente duas na 
modalidade obrigatória, mostrando, mais uma vez, que mesmo dando 
visibilidade ao assunto tenta-se diminuí-lo não tomando-o como um assunto 
essencial nas disciplinas obrigatórias, mas com toda a certeza ter disciplinas que 
abordem estas questões dentro das matrizes curricular e seja de forma 
obrigatória ou de forma optativa é um grande avanço (SANTOS, 2016, p. 59). 
 
O discurso que comumente sustenta esse apagamento é o de que há a 
necessidade de que o tema seja discutido de maneira transversal em todas as 
disciplinas, cabendo aos/às professores/as introduzirem essa problematização durante 
a aula. No entanto, esse ideal se demonstra inoperável na medida em que o corpo 
docente é composto exclusivamente por professores e professoras brancas, cujos tema 
de pesquisa se aprofunda em questões outras que pouco abarcam o racismo enquanto 
problemática. Longe de tornar esse um problema individual do corpo docente de uma 
universidade, colocamos a questão situada em um racismo sintomático dentro de toda e 
 
vidas longas e saudáveis, de ter acesso ao conhecimento, e de ter comando sobre os recursos de forma 
a garantir um padrão de vida digno” (IPEA; PNUD; FJP, 2013, p.25). 
 
 
qualquer instituição de educação brasileira, pois seu fundamento é a racionalidade 
branca desde sua fundação e finalidade. 
Segundo Almeida (2018), enquanto materialização formal da vida social, as 
instituições reproduzem as condições para o estabelecimento e manutenção da ordem 
social vigente, incorporando em suas regras e padrões um teor racista inerente à ordem 
social capitalista. Nesse sentido, o corpo negro dentro da universidade não é bem visto 
no lugar de estudante ou professor, isso porque a construção social do negro é isenta do 
elemento racional como parte constitutiva desse ser, relegado a um corpo restrito a 
instintos passionais. O conhecimento afrocentrado não é legitimado como epistemologia 
digna de ser trabalhada na sala de aula de uma universidade, restringindo-se aos 
espaços de formação criados por movimentos negros organizados ou autônomos. 
Observa-se no Serviço Social a diluição da questão racial no debate classista, 
com algumas defesas de que as problemáticas de classe são capazes de explicar e 
superar o racismo, perspectiva que se coloca como um entrave a discussão aprofundada 
da funcionalidade do racismo para o capitalismo. Dias destaca que 
 
[...] alguns entraves se dão pela baixa produção teórica acerca desses temas, e 
também pela pouca apropriação da categoria pela discussão das temáticas de 
cor/raça/etnia. A discussão étnico-racial sempre foi secundarizada por essa 
categoria profissional, e por muitos profissionais não é percebidacomo 
importante variável para uma análise crítica das relações sociais sob a 
perspectiva de totalidade. (2015, p. 324) 
 
Buscando enfrentar os desafios postos na realidade da formação profissional em 
Serviço Social no que tange à inserção da temática étnico-racial como imprescindível 
para qualificação da mesma, cria-se em novembro de 2017 o Coletivo Negro de Serviço 
Social Magali da Silva Almeida. Pautados no objetivo de fortalecer política e 
academicamente o corpo estudantil de negros e negras as ações do coletivo baseiam-
se na realização de eventos sobre o tema, bem como encaminhar ações de articulação 
com as instâncias institucionais para concretização de pautas essenciais como a 
introdução da disciplina sobre questão racial na grade curricular, dentre outras questões. 
O evento “O Serviço Social no debate da questão étnico racial” realizado pelo 
coletivo no dia 15 maio de 2018, mesma data de comemoração do dia do/a assistente 
social, buscou debater sobre a formação sócio-histórica do Brasil e sua relação com a 
teoria marxista adotada pelo projeto ético político do Serviço Social, com o objetivo de 
compartilhar com a comunidade acadêmica e profissionais da área os conhecimentos 
existentes em torno do tema da questão racial. Para isso, foram convidadas para compor 
a mesa, a professora da UFBA Magali da Silva Almeida e a professora da UERJ Ana 
Paula Procópio que, para conduzir os debates utilizaram autores e autoras 
majoritariamente negros e latino americanos como Cláudia Pons Cardoso e Clóvis Moura 
e autoras norte americanas como Angela Davis. Em geral foi utilizadas literaturas que 
trabalhassem a relação da teoria marxista com a questão racial no Brasil e na ordem 
capitalista de maneira crítica. 
 
 
Este evento teve a duração de dois dias, no primeiro dia ocorreu a palestra de 
abertura com uma mesa composta pelas professoras convidadas e pelas estudantes em 
Serviço Social Karoline Franciele dos Santos da pós-graduação e Vanessa Zoraide 
Domingos como mediadoras do debate. No segundo dia ocorreu o minicurso que visava 
contribuir para a formação do curso de Serviço Social, capacitar profissionais da área 
sobre a questão étnico-racial brasileira, e formar multiplicadores dessa temática, tendo 
em vista a invisibilização das produções que analisam com especificidade o contexto das 
relações raciais na formação da sociedade brasileira durante a formação do curso. 
Considera-se um marco importante para o fortalecimento do processo de 
construção da disciplina de Serviço Social na medida em que ele qualifica o debate sobre 
o assunto entre o corpo docente, discente e profissional implicando, inclusive, em 
pequenas mudanças na composição das referências bibliográficas indicadas e no teor 
dos debates realizados nas disciplinas já existentes. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
As grandes conquistas do século para o movimento negro tais como as políticas de 
ações afirmativas demonstram o crescente fortalecimento da juventude negra através da 
inserção massiva nos espaços acadêmicos de nível superior, “[...] nunca a Universidade, 
os órgãos governamentais, sobretudo o Ministério da Educação, produziram, debateram 
e aprenderam tanto sobre as desigualdades raciais como no atual momento [...]” 
(GOMES, 2001, p. 148). Essa juventude compõe os diversos espaços universitários 
militando nos Diretórios Acadêmicos e Centros Acadêmicos, participando de grupos de 
pesquisa e extensão, bem como adentrando nos Programas de Pós-Graduação. 
Tornando-se vanguarda em suas áreas de formação, essas jovens e esses jovens 
atuam em uma prática que podemos cunhar de político-acadêmica na medida em que 
resgatam autores e autoras negras historicamente desconsiderados como produtores de 
conhecimento pela academia para realizar uma contestação às epistemologias 
eurocêntricas que apagam as contribuições teóricas de matriz e perspectiva africana e, 
consequentemente, ao enfrentar esses eurocentrismos acadêmicos, esses estudantes 
estão enfrentando também o racismo institucional que lhes atinge cotidianamente. Sendo 
a partir desse enfrentamento, que são formados os coletivos de estudantes negros, 
auxiliando na permanência, fortalecimento, capacitação e no embate ao racismo 
estrutural brasileiro. 
Neste sentido o Coletivo Negro de Serviço Social, que recém completou seu primeiro 
ano de existência, já ressignifica alguns espaços dentro de seu campo de atuação, 
fincando a bandeira da questão étnico-racial e inserindo, mesmo que à margem do 
currículo acadêmico institucional, o debate na formação profissional dos estudantes da 
UFSC. Além disso, o coletivo esteve presente no processo que ocorreu em de 
construção de cotas raciais na pós-graduação de Serviço Social, onde foi conquistado a 
inserção dessas cotas para os próximos editais de seleção. 
 
 
Contudo ainda são muitos os desafios a serem enfrentados pelas estudantes negras 
e negros que vivem em Santa Catarina, sob o cotidiano de embate ao racismo existente 
dentro e fora da academia, que atinge diretamente a sua saúde mental e 
consequentemente o seu desenvolvimento acadêmico, destruindo vagarosamente a 
permanência estudantil destas jovens pesquisadoras e destes jovens pesquisadores e 
estudantes. O fortalecimento e resistência dos estudantes fruto das cotas raciais é 
fundamental para a continuidade dos coletivos negros que estão sendo criados nas 
universidades, pois há nestas iniciativas o potencial para modificação da estrutura 
desigual posta na sociedade capitalista. 
 
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