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ESTRADAS Aula 06: Projeto Geométrico – Curvas Horizontais com Transição Curitiba, 29 de março de 2021 Prof.ª MSc. Larissa Vieira Exercício: 1) Considerando o traçado a seguir com curvas circulares, calcular a estaca final do trecho. Dados: - R1 = 1.200,00 m - AC1 = 46° T1 = R1 . tg AC1 2 = 1200 . tg 46° 2 = 509,37 m D1 = π . R1. AC1 180 = π . 1200. 46 180 = 963,42 m T1 T1 D1 PC1 = 1.080,00 – 506,37 = 570,63 m PT1 = 570,63 + 963,42 = 1.534,05 m PC1 PT1 Dados: - R2 = 1.600,00 m - AC2 = 30º T2 = R2 . tg AC2 2 = 1600 . tg 30° 2 = 428,72 m D2 = π . R2. AC2 180 = π . 1600. 30 180 = 837,76 m T2 D2 PC2 = PT1 + 2.141,25 – T1 – T2 = 1.534,05 + 2.141,25 – 509,37 – 428,72 = 2.737,21 m PT2 = PC2 + D = 2.737,21 + 837,76 = 3.574,97 m Est. Final = PT2 + 1.809,10 - T2 = 3.574,97 + 1.809,10 – 428,72 = 4.955,35 m Est. Final = [247] + 15,35 m PC2 PT2 T2 T1 T1 D1 PC1 PT1 Curvas horizontais com transição • Traçados com linhas retas concordando diretamente com curvas circulares não são recomendados pois criam problemas nos pontos de concordância → descontinuidade da passagem da tangente para a circular (PC) e na passagem da circular para a tangente (PT); • Assim, é necessário que, tanto nos PCs quanto nos PTs, exista um trecho com curvatura progressiva para cumprir as seguintes funções: a) Permitir uma variação contínua da superelevação: a criação de um trecho de curvatura variável entre a tangente e a curva circular permite uma variação contínua da inclinação transversal da pista, até atingir a superelevação do trecho circular. b) Criar uma variação contínua da aceleração centrípeta na passagem do trecho reto para o trecho circular: sendo a força centrípeta Fc dada por Em que m é a massa do veículo, V é a velocidade e R é o raio da curva, seu valor é nulo na reta e, dependendo o valor do raio, pode aumentar consideravelmente após PC; O aparecimento de uma força transversal de maneira brusca causa impacto no veículo e em seus ocupantes, trazendo desconforto e instabilidade. Fc = m . V2 R c) Gerar um traçado que possibilite ao veículo manter-se no centro da sua faixa de rolamento: na prática, o veículo não passa do trecho reto para o trecho circular instantaneamente, mas sim em um intervalo de tempo no qual o veículo percorre uma trajetória de raio variável; d) Proporcionar um trecho fluente, sem descontinuidade da curvatura e esteticamente agradável: a descontinuidade na curvatura gera insegurança ao motorista, que pode não sentir segurança para entrar na curva. Tipos de curvas de transição • Existem vários tipos de curva cujo raio varia de infinito até o valor do raio circular, em uma extensão conveniente, que podem ser utilizadas como curvas de transição: y = ax³ a = constante R . P = K p = raio vetor R . L = K K = constante Tipos de curvas de transição • A clotóide é uma curva de equação R . L = K, em que R é o raio, L é comprimento percorrido e K é uma constante; • É a mais vantajosa do ponto de vista técnico pois: I) É a curva realizada por um veículo em velocidade constante, quando o volante é girado com velocidade angular constante; II) O grau da curva G, que é proporcional à curvatura, varia linearmente com o comprimento percorrido: R . L = K → G = K’ . L Como a aceleração centrípeta varia inversamente proporcional ao raio (ac = V²/R), também varia linearmente com o grau da curva (ac = V² . G . const) e, portanto, varia linearmente com o comprimento percorrido. Assim, temos a superelevação variando linearmente com o comprimento (construtivamente vantajoso) e a superelevação e a aceleração centrípeta variando na mesma proporção (mais confortável para usuários). Características geométricas da espiral Escolha da constante K da espiral: • O valor a ser adotado para a constante K está relacionado ao comprimento escolhido para a transição e ao raio do trecho circular; • Sendo Ls o comprimento da curva de transição e Rc o raio do trecho circular, temos K = Ls . Rc; • O parâmetro K determina o comprimento de arco que será percorrido para que a curvatura varie de zero até o valor 1/Rc, onde começa o trecho circular → o grau da curva varia de zero até G=1146/Rc (variação linear); • Cada valor de K corresponde a uma determinada curva na família das clotóides; • Cada curva atinge o valor Rc após percorrer um determinado comprimento Ls durante um tempo ts → esse tempo será utilizado como um dos critérios para estabelecer o comprimento mínimo Parâmetros da curva Sendo Ls o comprimento de transição e Rc o raio do trecho circular, temos: dL = R . dθ dθ = dL R = dL K/L = L . dL K θ Integrando-se, temos: θ = 1 K . L² 2 , em que θ = L² 2. Ls . Rc em radianos dX = dL . cos θ X = න 0 L cos θ . dL Desenvolvendo cosθ em série e integrando, temos: X = L 1 − θ2 10 + θ4 216 − … Parâmetros da curva θ dY = dL . sen θ Y = න 0 L sen θ . dL Desenvolvendo senθ em série e integrando, temos: Y = L θ 3 − θ3 42 + θ5 1320 −⋯ Parâmetros da curva TS = ponto tangente - espiral ST = ponto espiral - tangente SC = ponto espiral – circular CS = ponto circular – espiral P = ponto genérico da transição Parâmetros da curva No ponto SC da curva, onde R assume o valor Rc e L é o comprimento da espiral, que chamamos de Lc, temos: θs = Ls 2. Rc (em radianos) Xs = Ls 1 − θs2 10 + θs4 216 − … Ys = Ls θs 3 − θs3 42 + θs5 1320 −⋯ Q = Xs − Rc . sen θs p = Ys − Rc . (1 − cos θs) TT = Q + Rc + p . tg AC 2 Dc = AC − 2 . θs . Rc E = (Rc + p) cos AC 2 − Rc TL = Xs − Ys . cotg θs TC = Ys sen θs Parâmetros da curva • O valor de TT (tangente total) localiza dos pontos TS e ST em relação ao PI; • O valor de Q (abcissa do centro), serve para localizar o centro O’ em relação ao TS (ou ST); • O valor de p mede o afastamento da curva circular em relação às tangentes. Comprimentos de transição • Conforme visto anteriormente, um dos motivos para usar a curva de transição é evitar o impacto causado pelo aparecimento brusco de uma força transversal. Comprimentos de transição • É necessário que a variação da aceleração centrípeta não ultrapasse uma taxa máxima, para que haja segurança e conforto → a essa taxa máxima corresponderá um comprimento mínimo de transição Comprimentos de transição • São três os critérios mais utilizados para estabelecer o comprimento mínimo de transição: a) Critério dinâmico: a taxa máxima de variação da aceleração centrípeta por unidade de tempo (J) é dada pela relação Na condição mais desfavorável, quando J = Jmáx e V = Vp, tem-se: A experiência internacional estabeleceu para J o valor máximo de 0,6 m/s²/s. Substituindo o valor de J e transformando a velocidade para km/h, temos: J = ac t = V2/Rc Ls/V = V³ Rc . Ls em que Ls = V³ J . Rc Lsmín = Vp³ J máx. Rc Lsmín = 0,036 . Vp³ Rc Comprimentos de transição b) Critério de tempo: estabelece o tempo mínimo de dois segundos para o giro do volante e, consequentemente, para o percurso da transição. Usando Vp em km/h e Lsmín em metros, temos Lsmín = Vp/1,8 c) Critério estético: estabelece que a diferença de greide entre a borda e o eixo não deve ultrapassar de um certo valor, que depende da velocidade de projeto. Valores propostos pela AASHTO para pista única com duas faixas de tráfego: Lsmín = 2. Vp Comprimentos de transição • A AASHTO recomenda que o comprimento mínimo de transição seja o mesmo utilizado para a variação da superelevação; • A variação da inclinação relativa máxima com a velocidade de projeto irmáx = f (Vp) pode ser representada por duas retas: irmáx = 0,9 – 0,005 Vp para Vp ≤ 80 km/h e ir em % irmáx = 0,71 – 0,0026 Vp para Vp > 80 km/h e ir em % Ls . ir = e . lf → Lsmín = e . lf / irmáx Portanto: Lsmín = e. lf /(0,9 – 0,005 Vp) para Vp ≤ 80 km/h Lsmín = e. lf /(0,71 – 0,0026 Vp) para Vp > 80 km/h Para e em %, lf em m e Vp em km/h e = tg α ir = tg β Comprimentos de transição • Considerando lf = 3,6 m, obtemos a seguintetabela: Comprimentos de transição • A AASHTO arredondou os valores para múltiplos de 5 e substituiu o comprimento mínimo de transição, calculado pelo critério de tempo, os valores que estavam abaixo deste: • Podemos adotar como comprimento mínimo de transição o maior dos três valores encontrados e assim estarão sendo atendidos os três critérios. Comprimentos de transição • Além do valor mínimo estabelecido para garantir segurança e conforto, há um limite máximo de natureza geométrica; • Para obter o comprimento máximo, que corresponde a SC ≡ CS, basta impor δc = 0 na equação AC = 2 θs + δc, de modo que teremos AC = 2 θs, logo: • Sendo Ls = 2 θs . Rc, temos: Lsmáx = AC . Rc para Lsmáx e Rc em metros e AC em radianos; para Lsmáx e Rc em metros e AC em graus. θs = AC 2 𝐋𝐬𝐦á𝐱 = 𝛑 .𝐀𝐂 . 𝐑𝐜 𝟏𝟖𝟎 Comprimentos de transição • O comprimento de transição pode ser um valor qualquer entre Lsmín e Lsmáx; • A escolha de comprimentos de transição muito grandes geram valores elevados de p (afastamento), afastando muito a curva circular da sua posição primitiva; • A experiência mostra que valores de J=0,3 m/s²/s são bastante confortáveis, não sendo necessário o uso de valores menores; • Sugere-se adotar, sempre que possível, Ls = 2. Lsmín calculado pelo critério dinâmico, que corresponde a J=0,3 m/s²/s → Ls desejável Lsmín = 0,036 . Vp³ Rc → Lsdes = 0,072 . Vp³ Rc Concordância da curva de transição • Para que seja geometricamente possível a concordância da transição com a tangente e com a curva circular, é necessário criar um espaço, o afastamento (p), entre a curva circular e a tangente • Adotado um valor Ls para o comprimento de transição e conhecendo-se o raio Rc da curva circular, fica definida a constante K = Rc . Ls, e também o afastamento p: Concordância da curva de transição Há três maneiras de conseguir o afastamento (p): a) Com a redução do raio Rc da curva para o valor (Rc – p), mantendo o mesmo centro da curva circular → método do centro conservado; b) Mantendo a curva circular em sua posição original e afastando as tangentes a uma distância p → método do centro e raio conservados; c) Afastando o centro O da curva circular para uma nova posição O’, de forma que seja conseguido o afastamento desejado, conservando o raio e as tangentes → método do raio conservado. Concordância da curva de transição • A alteração da posição das tangentes traz, como consequência, a modificação do traçado e a alteração das curvas imediatamente anterior e posterior à curva estudada; • O método do raio conservado é geralmente o mais utilizado, pois não altera o raio preestabelecido para a curva circular nem a posição das tangentes. Estacas dos pontos notáveis da curva de transição Conhecida a estaca do PI, temos: Estaca do TS = estaca do PI – TT Estaca do SC = estaca do TS + Ls Estaca do CS = estaca do SC + Dc Estaca do ST = estaca do CS + Ls TT Ls Ls Dc Desenho da curva As tangentes e o raio circular (Rc) são conhecidos previamente; Estabelecido o comprimento de transição Ls, fica determinada a constante da espiral (K= Ls . Rc); Calculamos, então, os parâmetros na seguinte ordem: θs, Xs, Ys, Q, p, TT. 1) Marcar o segmento TT do PI para trás, determinando o ponto TS, e para frente determinando o ponto ST. TT PI .TS . TT ST Desenho da curva 2) A partir do TS, marcar os segmentos Q e Xs, fazendo o mesmo, em sentido inverso, a partir do ST; 3) Pelos dois pontos obtidos com o segmento Q, traçamos perpendiculares às tangentes, cujo cruzamento é o centro da circunferência O’; 4) Com o centro em O’ e o raio Rc traçamos a circunferência (a distância do centro às tangentes será Rc + p); Xs PI Rc .TS . Xs ST Q Q O’ Desenho da curva 5) Com os pontos obtidos pelo segmento Xs, traçamos perpendiculares às tangentes e marcamos sobre estas o segmento Ys, obtendo os pontos SC e CS, que devem ficar sobre a circunferência; 6) Traçamos o arco entre SC e CS, e também as clotóides entre TS e SC e entre CS e ST, concordando nos extremos e passando pelo centro do afastamento p. Xs PI .TS . Xs ST Ys Ys SC CS p . . Locação da curva A locação da curva de transição pode ser feita de duas formas: a) Com uso de coordenadas; b) Pelas deflexões d em cada ponto. Para facilitar a locação, é feita uma tabela; normalmente são locadas as estacas inteiras da curva, mas para raios pequenos pode ser necessária a locação de pontos a cada 10 metros. Locação da curva Os valores de L, θ, X, Y e d são calculados pelas equações: L = distância do TS (ou ST) ao ponto considerado, ao longo da curva. θ = L² 2 . Rc . Ls X = L 1 − θ2 10 + θ4 216 − … Y = L θ 3 − θ3 42 + θ5 1320 −⋯ d = arctg X Y Exemplo: Estamos projetando uma rodovia para 100 km/h. Calcular o comprimento de transição mínimo, o máximo e o desejável para uma curva horizontal cujo raio no trecho circular é 600,00 m, a superelevação é 9%, o ângulo central é 60° e a largura da faixa de tráfego é 3,60 m. Cálculo do comprimento de transição mínimo: a) Critério dinâmico: b) Critério de tempo: Lsmín = 0,036 . Vp³ Rc = 0,036 .100³ 600 = 60,00 m Lsmín = Vp 1,8 = 100 1,8 = 55,56 m c) Critério estético: 100 km/h > 80 km/h Lsmín = e. lf /(0,71 – 0,0026 Vp) = 9 . 3,60 / (0,71 – 0,0026 . 100) = 72,00 m Adotando-se o maior entre os três critério, Lsmín = 72,00 m Cálculo do comprimento máximo: Comprimento desejável: Lsdes < Lsmáx → OK! Lsmáx = π . AC . Rc 180 = π . 60 . 600 180 = 𝟔𝟐𝟖, 𝟑𝟐 𝐦 Lsdes = 0,072 . Vp³ Rc = 0,072 . 100³ 600 = 𝟏𝟐𝟎, 𝟎𝟎 𝐦 Com os dados do exemplo, adotando Ls = 120,00 m, calcular os seguintes elementos da curva: θs, Xs, Ys, Q, p e TT. θs = Ls 2. Rc = 120 2. 600 = 0,1000000 rad Xs = Ls 1 − θs2 10 + θs4 216 − … = 120 1 − 0,12 10 + 0,14 216 = 119,88 m Ys = Ls θs 3 − θs3 42 + θs5 1320 −⋯ = 120 0,1 3 − 0,13 42 + 0,15 1320 = 4,00 m Q = Xs − Rc . sen θs = 119,88 − 600 . sen 0,1 = 59,98 m p = Ys − Rc . 1 − cos θs = 4,00 − 600 . 1 − cos 0,1 = 1,00 m TT = Q + Rc + p . tg AC 2 = 59,98 + 600 + 1,00 . tg 60 2 = 406,97 m Exercício: 1) Com os dados do exemplo anterior e sabendo que a estaca do PI é igual a 847 + 12,20 m, calcular as estacas do TS, do SC, do CS e do ST.
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