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4 1. INTRODUÇÃO Com a evolução do Estado do absolutismo monárquico para um modelo Liberal - iluminista e posteriormente para um modelo de Estado Social, o conhecimento formulou-se a partir de bases científicas. Estrutura econômica foi influenciada com os efeitos da Revolução Industrial e atualmente vislumbra-se um avanço da tecnologia. A ciência do Direito, não ficou à espreita dessas transformações que ocorreram no seu seio, se não homogeneamente, certamente em toda sua extensão. O Direito Agrário, como ramificação do Direito também não ficou à deriva nesse processo, se compôs como campo de atuação num conjunto de matérias que compõe o sistema jurídico. Nos contratos agrários, a legislação específica trouxe para sua disciplina as mais recentes conquistas da dogmática jurídica que procuraram tornar ainda mais eficazes e eficientes os mecanismos fomentados pelas políticas estatais, colocando-os em conformidade na busca dos objetivos colimados pelo conjunto da sociedade fazendo luz nesse contexto, a função social da propriedade como princípio que emana em qualquer espécie de negócios jurídicos cujo conteúdo verse sobre propriedade e posse de bens. O Direito Agrário é o ramo do Direito onde os negócios jurídicos que dele se originam, apresentam-se como um dos mais sensíveis nas modificações sócio-político-jurídicas. Diante do exposto, faz-se mister, em qualquer estudo que aborde o direito agrário, a abordagem a cerca da função social da propriedade que é a face mais proeminente das novas concepções político-jurídicas. A função social da propriedade, princípio que hoje se encontra dentre as normas constitucionais sujeitas a uma rigidez de nível máximo, é instituto jurídico que alicerça os contratos agrários. Apresentaremos um esboço da função social da propriedade dando especial enfoque à irradiação de sua influência à luz da Constituição Federal. 5 2. CONCEITO A noção de função social da propriedade é uma cizânia entre autores, alguns estabelecem que uma ligação entre proteção da propriedade individual e utilização da propriedade de acordo com as expectativas da sociedade. Cumpre citar a definição objetiva de função social da propriedade: trata-se de concepção de função, atribuída ao bem, que impõe a adoção, partindo do Estado, de medidas fundamentadas no bem comum, através da intervenção de natureza econômica, tendo em vista a necessidade de gerir a situação jurídica, individual, de exercício do direito de propriedade. Para estudar a função social da propriedade torna-se necessário conceituar os institutos da desapropriação, reforma agrária e interesse social. A desapropriação é a atuação da vontade do Estado, consistente na retirada de bem de um patrimônio, em atendimento do interesse publico, mediante indenização. Constata-se no conceito acima, que o integra a finalidade, que é a satisfação do interesse público, compreendido como o fundamento deste instituto. É a necessidade do bem para a realização do interesse público que leva o Estado a retirar esse bem de um patrimônio particular, obrigando-se a indenizar. O interesse público, na fórmula constitucional, desdobra-se em necessidade pública, utilidade pública e interesse social. Tratando-se de interesse social vinculado à função social da propriedade imobiliária rural, que envolve o aproveitamento racional e adequado, conforme se depreende do art. 186, inciso I, da Constituição brasileira, dispositivo constitucional que indica a expressão interesse social compreende sanção pelo exercício do direito de propriedade em desconformidade com o socialmente almejado ou de maneira, objetiva condicionar o exercício da propriedade a sua função social, assim, poder-se-ia dizer que o interesse social, nos termos constitucionais desses mandamentos citados, significa cumprimento da função social. A legislação brasileira indica os casos da necessidade e utilização com relação ao interesse social, enumerados, em especial, pela Lei 4.132/62, que dispõe os casos de desapropriação por interesse social e pela Lei 4.504/64, Estatuto da Terra. 6 3- ANTECEDENTES A função social da propriedade,como doutrina, tem sua origem nos escritos de São Tomás de Aquino, para o qual o conceito de propriedade privada era visto em três planos distintos na ordem de valores: 1) O homem, que em razão de sua natureza específica, animal e racional, tem um direito natural ao apossamento dos bens materiais. 2) A apropriação dos bens, qual gera, em última instância, no direito de propriedade propriamente dito. 3) No condicionamento da propriedade ao momento histórico de cada povo, desde que não se chegue ao extremo de negá-la. A doutrina da "função social da propriedade" tem como finalidade dar sentido mais amplo ao conceito econômico de propriedade, encarando-a como uma riqueza que se destina à produção de bens que satisfaçam as necessidades sociais, transcendendo a noção de instrumento de satisfação unicamente das necessidades do titular desse direito. Nas Revoluções Liberiais, especialmente na Revolução Francesa, houve o estabelecimento da função social como parâmetro de fruição do direito de propriedade, chegando, inclusive, a Declaração dos Direitos do Homem, a inovar a ordem jurídica com o surgimento do princípio da desapropriação por utilidade pública, a qual foi depois inserida na Constituição de 1791 e no Código Civil de Napoleão Bonaparte. Vale ressaltar, também, a inegável carga de influência da sociolgia na formulação do coneceito da função social da propriedade. Augusto Comte, antes dos juristas franceses que melhor sustentaram essa teoria, defendeu a função social da propriedade, ao condenar os abusos do sistema capitalista de propriedade e ao mesmo tempo as doutrinas socialistas consideradas por ele como utopias ou extravagâncias. A origem constitucional da função social da propriedade data da Constituição do México de 1917. Em seu Capítulo II, afirma a mesma: 7 “1º - A fim de se realizar a socialização da terra, é abolida a propriedade privada da terra; todas as terras passam a ser propriedade nacional e são entregues aos trabalhadores sem qualquer espécie de indenização, na base de uma repartição igualitária em usufruto. 2º As florestas, o subsolo e as águas que tenham importância nacional, todo o gado e todas as alfaias, assim como todos os domínios e todas as empresas agrícolas-modelos passam a ser propriedade nacional.” Em um segundo momento de constitucionalização desse princípio, a Constituição de Weimar, Alemanha, de 1919, em seu Art. 153, alínea II, traduziu a função social da propriedade através de uma fórmula célebre : “a propriedade obriga”. Diz o citado texto: “Art. 153. A propriedade é garantida pela Constituição. Seu conteúdo e seus limites resultam das disposições legais. (...) A propriedade obriga. Seu uso deve, ademais, servir ao bem comum.” Em um plano mais contemporâneo à nossa época, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada a 10 de dezembro de 1948, por iniciativa da ONU, estabelece em seu artigo XVII: “1 - Toda a pessoa tem direito à propriedade, individual e coletivamente. 2 - Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.” Percebe-se com uma leitura atenta que a preocupação do enunciado da Declaração Universal dos Direitos do Homem se referia, principalmente, ao acesso à propriedade. Por outro lado, a Constituição de Weimar afirma que a propriedade obriga, sem definição exata da extensão dessa obrigação, além de não se referir ao acesso. Essa indefinição quanto à função social da propriedade foi apontada pelo Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos Sociais e Culturais, em 1966. Afinal, tanto poderia representar o próprio acesso ao bem, como também significar o fundamento para regulamentação de exercício do direito de propriedade. Talindefinição foi sanada em julho 1976, com a Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos, que publicou ato normativo internacional afirmando que a função social da propriedade estaá fundamentada nos dois critérios descritos anteriormente: inicialmente seria regulamentação de uso, cujo objeto estaria, também, no acesso à propriedade como resultado da regulamentação. 8 4. RECEPÇÃO CONCEITUAL NO BRASIL Muito embora o direito à propriedade privada já fosse tema debatido pelo ordenamento, o tema, especialmente no que tange à Função Social da Propriedade ganhou relevância com o advento da Constituição de 1934, que, cujo direito à propriedade não poderia ser exercido contra o interesse social ou coletivo. Princípios tais que foram mantidos nas Constituições de 1937 e de 1942. Posteriormente o tema foi ganhando mais peso. De forma mais objetiva, já na Constituição de 1946, o uso da propriedade obrigatoriamente, estava condicionado ao bem-estar social, preconizando, em seus artigos 141, §16, e 147, que se promovesse a justa distribuição da propriedade, com igual oportunidade para todos. No ano de 1962, foi editada a Lei nº 4.132, que, ainda que timidamente, passou a regular a desapropriação por interesse social. Com a Constituição Federal de 1967 e a Emenda Constitucional nº. 1 o direito à propriedade finalmente foi dotado de uma Função Social, propriamente dita. Preocupação esta, ensejada pela festejada Lei 4.504, de 30.11.64 – o Estatuto da Terra, primeira legislação latino-americana a tratar sobre reforma agrária, bem como, a definir a função social da propriedade, estabelecendo, inclusive, os seus requisitos essenciais. Contudo, foi com o nascimento da Constituição Federal de 1988, conhecida também como, Constituição Cidadã, que o Direito à Propriedade e a sua Função Social ganharam peso. Ladeado às garantias e direitos fundamentais à vida, à liberdade, à igualdade e à segurança, o direito à propriedade emerge no seio da Constituição Federal de 1988 como direito e garantia fundamental ao cidadão. Inserto em diversos dispositivos da Lei Maior, constitui, outrossim, um dos princípios da ordem econômica e financeira, cuja finalidade é assegurar uma existência digna a todos (CF/88 – ART. 5, XXII, XLI, E ART. 170, II). Adiante, em seu Art. 5º. inciso XXIII, da Carta Magna, determina que, a propriedade atenderá a sua função social, seja ela rural ou urbana, a propriedade deverá cumprir sua função social. Desta forma, ainda tendo ganhado contorno de direito fundamental, o seu exercício não é absoluto. Uma das balisas que a Carta Magna instituiu, decorre justamente, da sobredita função social da propriedade, princípio de ordem pública que subsume o exercício deste direito à defesa ao meio ambiente e do bem estar comum da sociedade, como instrumento de pacificação social. 9 Do prisma constitucional positivo, foi a Constituição de 1934 a que primeiro referiu-se ao exercício do direito de propriedade subordinado ao interesse social ou comum, ainda que sem mencionar explicitamente o princípio da função social da propriedade. Essa Constituição também inovou na temática constitucional ao instituir um título destinado à ordem econômica e social, no qual se afirmava que “A ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da Justiça e as necessidades da vida nacional”. As Constituições de 1824 e de 1891 apenas referiam-se ao direito de propriedade como passível de ser atingido pelo jus imperium do Estado no que se refere à possibilidade de desapropriação sem condicioná-lo, contudo, à satisfação de fins sociais. Vejamos os textos constitucionais pertinentes em ANEXO I 5- PRINCÍPIO NO ART 186 CF/88 Em se tratando de pequenas e médias propriedades rurais, é importante ressaltar que nos termos da Lei 8629/93 e do artigo 185 da Constituição Federal, estas não podem ser objeto de reforma agrária, se o proprietário não for titular de outra propriedade. Art. 185. São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I – a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; · Lei nº 8629, de 25.2.1993, que dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal. II – a propriedade produtiva. Parágrafo único. A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social. 10 · Lei nº 8629, de 25.2.1993, que dispõe sobre a regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária, previstos no Capítulo III, Título VII, da Constituição Federal. Porém, podemos observar algumas exceções na jurisprudência: "É possível decretar-se a desapropriação-sanção, mesmo que se trate de pequena ou de média propriedade rural, se resultar comprovado que o proprietário afetado pelo ato presidencial também possui outra propriedade imobiliária rural. Não incidência, em tal situação, da cláusula constitucional de inexpropriabilidade (CF, art. 185, I, in fine), porque descaracterizada, documentalmente (certidão do registro imobiliário), na espécie, a condição de uni titularidade dominial da impetrante. A questão do conflito entre o conteúdo da declaração expropriatória e o teor do registro imobiliário: quod non est in tabula, non est in mundo (CC/1916, art. 859; CC/2002, art. 1.245, §§ 1º e 2º, e art. 1.247). Eficácia do registro imobiliário: subsistência (LRP, art. 252). Irrelevância, no entanto, na espécie, do exame da alegada divergência, considerada a existência, no caso, de outra propriedade imobiliária rural em nome da impetrante." (MS 24.595, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 20-9-06, DJ de 9-2-07) "A saisine torna múltipla apenas a titularidade do imóvel rural, que permanece uma única propriedade até que sobrevenha a partilha (art. 1.791 e parágrafo único do vigente Código Civil). A finalidade do art. 46, § 6º, do Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/64) é instrumentar o cálculo do coeficiente de progressividade do Imposto Territorial Rural- ITR. O preceito não deve ser usado como parâmetro de dimensionamento de imóveis rurais destinados à reforma agrária, matéria afeta à Lei n. 8.629/93. A existência de condomínio sobre o imóvel rural não impede a desapropriação-sanção do art. 184 da Constituição do Brasil, cujo alvo é o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social. Precedente (MS n. 24.503, Relator o Ministro Marco Aurélio, DJDJ de 3-6- 2005). O registro público prevalece nos estritos termos de seu conteúdo, revestido de presunção iuris tantum. Não se pode tomar cada parte ideal do condomínio, averbada no registro imobiliário de forma abstrata, como propriedade distinta, para fins de reforma agrária. Precedentes (MS n. 22.591, Relator o Ministro Moreira Alves, DJ de 14-11- 2003 e MS n. 21.919, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 6-6-97).” (MS 24.573, Rel. p/ o ac. Min. Eros Grau, julgamento em 12-6-06, DJ de 15-12-06). No mesmo sentido: MS de 5-9-2003). O cadastro efetivado pelo SNCR-INCRA possui caráter 11 declaratório e tem por finalidade: i) o levantamento de dados necessários à aplicação dos critérios de lançamentos fiscais atribuídos ao INCRA e à concessão das isenções a eles relativas, previstas na Constituição e na legislação específica; e ii) o levantamento sistemático dos imóveis rurais, para conhecimento das condições vigentes na estrutura fundiária das várias regiões do País, visando à provisão de elementos que informem a orientação da política agrícola a ser promovida pelos órgãos competentes. O conceito de imóvel rural do art. 4º, I, do Estatuto da Terra, contempla a unidade da exploração econômica do prédio rústico, distanciando-se da noção de propriedade rural. Precedente (MS n. 24.488,Relator o Ministro Eros Grau, 26.129, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 14-6-07, DJ de 24-8-07.) 6- A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE PRODUTIVA: ABORDAGEM CIVILISTA VERSUS CONSTITUCIONAL Uma questão que se levanta na análise da função social da propriedade é a da sua natureza jurídica, se limitação ou elemento essencial do direito de propriedade. Há entendimento doutrinário divergente sobre esse questionamento. A importância dessa questão reside no fato de se atribuir ou não ao direito de propriedade uma condicionante essencial ao seu exercício que se parametrize por interesses não privatísticos, mas coletivos ou sociais. Passemos à análise do ordenamento jurídico para construção de uma concepção sobre isso. Segundo o Art. 1.228 do Código Civil de 2002: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.” Dito de forma parafraseada com o artigo, “é o direito de usar, gozar e dispor da coisa da maneira mais completa possível, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou a detenha.” Não se menciona no sub sistema jurídico civil a função social no rol de elementos constitutivos do direito de propriedade. Contudo, há uma permeabilidade de todo sistema jurídico às normas constitucionais, sendo, por isso, necessário para compreensão e aplicação de qualquer enunciado de valor normativo a compatibilização ou harmonização dessa norma em específico com o conteúdo constitucional. 12 Já mencionamos que a Lei Fundamental em vigor adotou a função social da propriedade e ao reconhecer essa função, a Constituição não denega o direito exclusivo o dono sobre a coisa, mas exige que o uso desta seja condicionado ao bem-estar coletivo. A utilização em prol do social passa a ser uma obrigação do titular do direito de propriedade, que somente o conservará integralmente se mantiver a função social do mesmo. Essa concepção de propriedade pela Constituição Federal se harmoniza com o entendimento de que a função social da propriedade é uma condicionante essencial ao exercício desse direito, não sendo, portanto, tutelada juridicamente a propriedade que não atenda essa função finalística. O direito à propriedade convive inseparavelmente, no atual sistema constitucional brasileiro, com o exercício da função social desse mesmo direito. É lógico, portanto, concluir que a função social não é uma limitação do uso da propriedade, mas um elemento essencial, interno, que compõe a definição da propriedade. Só se legitima no ordenamento jurídico brasileiro a propriedade que cumpre a função social. A propriedade que descumpre a função social não pode ser objeto de proteção jurídica. Sobre esse entendimento, o Supremo Tribunal Federal se pronunciou no sentido de que: “O direito de propriedade não se reveste de caráter absoluto, eis que, sobre ele, pesa grave hipoteca social, a significar que, descumprida a função social que lhe é inerente (CF, art. 5º, XXIII), legitimar-se-á a intervenção estatal na esfera dominial privada, observados, contudo, para esse efeito, os limites, as formas e os procedimentos fixados na própria Constituição da República. .... Incumbe, ao proprietário da terra, o dever jurídico-social de cultivá-la e de explorá-la adequadamente, sob pena de incidir nas disposições constitucionais e legais que sancionam os senhores de imóveis ociosos, não cultivados e/ou improdutivos, pois só se tem por atendida a função social que condiciona o exercício do direito de propriedade, quando o titular do domínio cumprir a obrigação (1) de favorecer o bem-estar dos que na terra labutam; (2) de manter níveis satisfatórios de produtividade; (3) de assegurar a conservação dos recursos naturais; e (4) de observar as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que possuem o domínio e aqueles que cultivam a propriedade.” (INFORMATIVO Nº 301, Invasão de Terras, Reforma Agrária e Movimentos Sociais Organizados (Transcrições), ADI – 2213) 13 7 - A QUESTÃO DA REFORMA AGRÁRIA À LUZ DO PRINCÍPIO DA P.P. A reforma agrária visa promover a distribuição de terras rurais, a fim de dá função social as que se concentram na mão de poucos proprietários, formando latifúndios, ou seja, grande partes de terras, das quais a maioria não é cultivada. Nesse sentido, é correto afirmar que uma vez improdutiva uma propriedade, deve a mesma ser desapropriada pelo poder-dever do estado, buscando a reforma agrário; fato contrário a propriedade produtiva que dá destinação à terra. Tal decorre da função social da propriedade rural, condicionante imposta pela Constituição Federal de 1988, como limite ao exercício do direito da propriedade enquanto direito fundamental, insertos em seu artigo 185. Da análise do dispositivo legal, depreende-se que é remetida a lei como instrumento adequado para fixar os requisitos do exato cumprimento da função social. Nesse mesmo sentido, o legislador constitucional continua no artigo 186 dispondo que “A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei”, estipulando requisitos como o aproveitamento racional e adequado da propriedade, a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, a observância das disposições que regulam as relações de trabalho, e a exploração que favoreça o bem- estar dos proprietários e dos trabalhadores. Tal dispositivo legal é, na concepção da doutrina majoritária, taxativo, e não meramente enunciativo ou exemplificativo. Ademais, nota-se que o conceito de propriedade produtiva funcional do Texto Constitucional é antagônico ao de função anti-social da propriedade. Ou seja, o tratamento jurídico dispensado ao domínio das terras agrícolas repousa sobre o binômio propriedade produtiva- função social da propriedade. A lei confere tratamento especial de um regime mais benéfico às propriedades produtivas do que para aquelas tidas por não satisfatoriamente produtivas. No entanto, exige-se das propriedades produtivas que cumpram sua função social. 14 8 - JURISPRUDÊNCIA PRECEDENTE I: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. ARTIGO 535, II, DO CPC. VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE SOCIAL PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. ÁREA QUILOMBOLA. DESVIO DE FINALIDADE. NÃO VERIFICAÇÃO. LEGITIMIDADE DO INCRA. 1. Inicialmente, no tocante à alegada violação do disposto no artigo 535, II, do CPC, É de se destacar que os órgãos julgadores não estão obrigados a examinar todas as teses levantadas pelo jurisdicionado durante um processo judicial, bastando que as decisões proferidas estejam devida e coerentemente fundamentadas, em obediência ao que determina o art. 93, inc. IX, da Constituição da República vigente. Isto não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC. Neste sentido, existem diversos precedentes desta Corte 2. As hipóteses previstas pelo art. 5º, do Dec-lei 3.365/41, para a desapropriação por utilidade pública, conforme a dicção da letra "q" ("os demais casos previstos por leis especiais"), são taxativas. Inexiste previsão de desapropriação por utilidade pública para a destinação de terras aos chamados Kalungas. 3. O imóvel não vai servir à Administração Pública e, sim, ao interesse da coletividade. Logo, a desapropriação em tela caracteriza-se como sendo de interesse social, cabível apenas a desapropriação prevista no art. 184 da CF/88. 4. Nos termos do artigo 13 do Decreto 4.887/03, compete ao INCRA a desapropriação de imóveis rurais que estejam dentro de áreas tituladas de domínio dos quilombolas e não tiveram os títulos invalidados por nulidades, prescrição ou comisso, como se mostra o casoem análise. 5. Recurso especial provido com a determinação de retorno dos autos à origem. (REsp 1046178/GO, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/12/2010, DJe 14/02/2011) 15 PRECEDENTE II: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE DESAPROPRIAÇÃO. INTERESSE SOCIAL. REFORMA AGRÁRIA. IMÓVEL RURAL. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. ÁREA REGISTRADA MAIOR QUE A LEVANTADA PELO INCRA. COBERTURA FLORÍSTICA. AUSÊNCIA DE EXPLORAÇÃO ECONÔMICA. INDENIZAÇÃO. CÁLCULO SEPARADO DA TERRA NUA. SITUAÇÃO PECULIAR. TDA'S. CORREÇÃO MONETÁRIA. JUROS MORATÓRIOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. - Considerando que todas as questões jurídicas ventiladas na apelação foram enfrentadas pelo Tribunal de origem, fica afastada a alegada violação do art. 535 do Código de Processo Civil. - Conforme precedentes desta Segunda Turma, quando a área contida no registro imobiliário for menor que aquela efetivamente levantada, deve essa última ser considerada para efeito da indenização. Entretanto a importância relativa à área que superar a do registro deverá permanecer depositada judicialmente até que seja promovida a necessária retificação formal do título de propriedade, ressalvado o meu entendimento pessoal. - Na linha da jurisprudência firmada na Primeira Seção desta Corte, não é permitido que se fixem, separadamente, as indenizações para a terra nua e para a cobertura florestal quando, como no caso em debate, nenhuma atividade intensiva relacionada à floresta é exercida pelo expropriado no respectivo imóvel. Na hipótese, apesar de indicados valores separados, tais indenizações foram fixadas sem considerar a potencialidade econômica da cobertura vegetal, não tendo o somatório de ambas ultrapassado o valor de mercado do imóvel desapropriado, o que afasta a possibilidade de enriquecimento indevido. - A simples ausência de exploração econômica da área desapropriada ou de parte dela não impede a incidência dos juros compensatórios, devendo-se ressaltar a ausência, no caso concreto, de qualquer informação precisa no sentido de que o imóvel expropriado, irremediavelmente, não possa ser objeto de nenhuma exploração econômica, atual ou futura, em decorrência de limitações legais ou da situação geográfica ou topográfica. Repetitivo. - Sendo o valor integral da indenização arbitrada na sentença superior à importância total ofertada pelo Incra na inicial da desapropriação, apresenta-se correta a fixação da verba honorária, em desfavor do autor, em 5% sobre a diferença corrigida entre a oferta e o preço final da indenização. 16 Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido para determinar que permaneça depositado judicialmente o valor relativo à área que exceder a medida constante do registro imobiliário. (REsp 1252371/RN, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/12/2011, DJe 07/12/2011) PRECEDENTE III: ADMINISTRATIVO. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. JUROS COMPENSATÓRIOS. BASE DE CÁLCULO. OMISSÃO. TEMPUS REGIT ACTUM. OBSERVÂNCIA. 1. Em suas razões de recorrente especial, o INCRA formula tese de aplicação do princípio do tempus regit actum, no sentido de que, no período de vigência da Medida Provisória nº 1.577/97 até 2001, a base de cálculo para incidência dos juros compensatórios seria a diferença eventualmente apurada entre o preço ofertado em juízo e o valor da condenação. Entendo assistir razão ao INCRA. 2. O enunciado sumular n. 408/STJ, assim preceitua: Nas ações de desapropriação, os juros compensatórios incidentes após a Medida Provisória n. 1.577, de 11/6/1997, devem ser fixados em 6% ao ano até 13/09/2001, e, a partir de então, em 12% ao ano, na forma da súmula n. 618 do Supremo Tribunal Federal. 3. Analisando, portanto, as disposições do referido enunciado sumular, tem-se o seguinte, quanto à base de cálculo: Antes da Medida Provisória 1.577 de 11.6.1997: base de cálculo corresponderia ao valor da indenização fixada em sentença, tendo como termo a quo a imissão provisória da posse do imóvel. Após 11.6.1997, a MP 1.577 acrescenta o art. 15-A no Decreto-lei 3.365/41, em que a base de cálculo corresponderia ao valor ofertado pela Administração menos o valor fixado judicialmente pelo comando sentencial. A partir de 13.9.2001, considerando a liminar concedida na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2.332 que declarou inconstitucional o art. 15-A do Decreto-lei, suspendendo-se a expressão "até 6%" (interpretação conforme a Constituição), a base de cálculo para incidência dos juros compensatórios deve ser a diferença entre os 80% do valor ofertado e o valor fixado na sentença. 4. Portanto, no período compreendido entre a Medida Provisória 1.577/97 e a decisão liminar proferida na ADIn 2.332/2001, a base de cálculo para incidência dos juros compensatórios deverá corresponder ao valor ofertado pela Administração, menos o valor fixado pela sentença, em observância ao princípio do tempus regit actum. 17 5. Embargos de declaração acolhidos, para esclarecer que no período compreendido entre a Medida Provisória 1.577/97 e a decisão liminar proferida na ADIn 2.332/2001, a base de cálculo para incidência dos juros compensatórios deverá corresponder ao valor ofertado pela Administração, menos o valor fixado pela sentença. (EDcl no REsp 1215458/AL, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/11/2011, DJe 11/11/2011) PRECEDENTE IV: "É possível decretar-se a desapropriação-sanção, mesmo que se trate de pequena ou de média propriedade rural, se resultar comprovado que o proprietário afetado pelo ato presidencial também possui outra propriedade imobiliária rural. Não incidência, em tal situação, da cláusula constitucional de inexpropriabilidade (CF, art. 185, I, in fine), porque descaracterizada, documentalmente (certidão do registro imobiliário), na espécie, a condição de uni titularidade dominial da impetrante. A questão do conflito entre o conteúdo da declaração expropriatória e o teor do registro imobiliário: quod non est in tabula, non est in mundo (CC/1916, art. 859; CC/2002, art. 1.245, §§ 1º e 2º, e art. 1.247). Eficácia do registro imobiliário: subsistência (LRP, art. 252). Irrelevância, no entanto, na espécie, do exame da alegada divergência, considerada a existência, no caso, de outra propriedade imobiliária rural em nome da impetrante." (MS 24.595, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 20-9-06, DJ de 9-2-07) PRECEDENTE V: "A saisine torna múltipla apenas a titularidade do imóvel rural, que permanece uma única propriedade até que sobrevenha a partilha (art. 1.791 e parágrafo único do vigente Código Civil). A finalidade do art. 46, § 6º, do Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/64) é instrumentar o cálculo do coeficiente de progressividade do Imposto Territorial Rural-ITR. O preceito não deve ser usado como parâmetro de dimensionamento de imóveis rurais destinados à reforma agrária, matéria afeta à Lei n. 8.629/93. A existência de condomínio sobre o imóvel rural não impede a desapropriação-sanção do art. 184 da Constituição do Brasil, cujo alvo é o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social. Precedente (MS n. 24.503, Relator o Ministro Marco Aurélio, DJDJ de 3-6-2005). O registro público prevalece nos estritos termos de seu conteúdo, revestido de presunção iuris tantum. Não se pode tomar cada parte ideal do condomínio, averbada no registro imobiliário de forma abstrata, como propriedade distinta, para fins de reforma agrária. Precedentes (MS n. 22.591, Relator o Ministro Moreira Alves, DJ de 14-11- 2003 e MS n. 21.919, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 6-6-97).” (MS 24.573, Rel. p/ o ac. Min. Eros Grau, julgamento em 12-6-06, DJ de 15-12-06). No mesmo sentido: MS de 5-9- 2003). O cadastro efetivado pelo SNCR-INCRA possui caráter declaratórioe tem por finalidade: i) o levantamento de dados necessários à aplicação dos critérios de lançamentos 18 fiscais atribuídos ao INCRA e à concessão das isenções a eles relativas, previstas na Constituição e na legislação específica; e ii) o levantamento sistemático dos imóveis rurais, para conhecimento das condições vigentes na estrutura fundiária das várias regiões do País, visando à provisão de elementos que informem a orientação da política agrícola a ser promovida pelos órgãos competentes. O conceito de imóvel rural do art. 4º, I, do Estatuto da Terra, contempla a unidade da exploração econômica do prédio rústico, distanciando-se da noção de propriedade rural. Precedente (MS n. 24.488, Relator o Ministro Eros Grau, 26.129, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 14-6-07, DJ de 24-8-07). 9- CONCLUSÃO A Constituição Federal de 1988 determina expressamente no artigo 185 e seguintes, alguns bens que não podem ser desapropriados para fins de reforma agrária. Ela torna insuscetível a esse tipo de desapropriação, essas espécies de imóveis, desde que incidente o elemento subjetivo, que consiste em não possuir, o titular da propriedade, outro prédio rural. A propriedade produtiva é assim considerada, por todo o contexto da Constituição Federal de 1988, quando cumpre a função social da propriedade. Assim compreendido o artigo 185, e seus incisos, que elenca a exclusão da possibilidade de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária do imóvel rural que estiver cumprindo as dimensões econômicas, social e ecológica, enquanto que o parágrafo único, do aludido artigo da Constituição brasileira traz como garantia especial a propriedade produtiva. Neste diapasão, verificamos que a função social da propriedade é um princípio solidamente assentado sobre uma base doutrinária e legislativa, tendo sido erigido em princípio constitucional como se pode atestar em várias passagens de nossa constituição. Como a propriedade é um instituto de vasta aplicação jurídica o princípio da função social, inserindo-se no conteúdo da propriedade, irradia efeitos por igual extensão, atuando, porém mais intensamente em algumas áreas capitais. O jurista moderno não pode se alhear a esse novo enfoque que se dá ao instituto da propriedade, mormente o agrarista, tanto mais quando vivemos sérios problemas de distribuição de terras e graves tensões no campo. Da correta compreensão da função 19 social da propriedade, depende indubitavelmente a atuação do jurista, qualquer que seja a atividade a ser desenvolvida. ANEXO I “CONSTITUICÃO POLITICA DO IMPERIO DO BRAZIL (DE 25 DE MARÇO DE 1824) TITULO 8º Das Disposições Geraes, e Garantias dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros. Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte. XXII. E'garantido o Direito de Propriedade em toda a sua plenitude. Se o bem publico legalmente verificado exigir o uso, e emprego da Propriedade do Cidadão, será elle préviamente indemnisado do valor della. A Lei marcará os casos, em que terá logar esta unica excepção, e dará as regras para se determinar a indemnisação. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL ( DE 24 DE FEVEREIRO DE 1891) SEÇÃO II Declaração de Direitos 20 Art 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: § 17 - O direito de propriedade mantém-se em toda a sua plenitude, salva a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, mediante indenização prévia. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 16 DE JULHO DE 1934) CAPÍTULO II Dos Direitos e das Garantias Individuais Art 113 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: 17) É garantido o direito de propriedade, que não poderá ser exercido contra o interesse social ou coletivo, na forma que a lei determinar. A desapropriação por necessidade ou utilidade pública far-se-á nos termos da lei, mediante prévia e justa indenização. Em caso de perigo iminente, como guerra ou comoção intestina, poderão as autoridades competentes usar da propriedade particular até onde o bem público o exija, ressalvado o direito à indenização ulterior. TíTULO IV Da Ordem Econômica e Social Art 115 - A ordem econômica deve ser organizada conforme os princípios da Justiça e as necessidades da vida nacional, de modo que 21 possibilite a todos existência digna. Dentro desses limites, é garantida a liberdade econômica.” A Constituição de 1946 foi a primeira a mencionar a possibilidade de desapropriação por interesse social no seu Art. 141, § 16, e, no Art. 147, prever a “justa distribuição da terra, com igual oportunidade para todos” em clara referência à reforma agrária, senão vejamos: “CONSTITUIÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL (DE 18 DE SETEMBRO DE 1946) CAPíTULO II Dos Direitos e das Garantias individuais Art 141 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, a segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: § 16 - É garantido o direito de propriedade, salvo o caso de desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante prévia e justa indenização em dinheiro. Em caso de perigo iminente, como guerra ou comoção intestina, as autoridades competentes poderão usar da propriedade particular, se assim o exigir o bem público, ficando, todavia, assegurado o direito a indenização ulterior. TíTULO V Da Ordem Econômica e Social Art 147 - O uso da propriedade será condicionado ao bem-estar social. A lei poderá, com observância do disposto no art. 141, § 16, promover a justa distribuição da propriedade, com igual oportunidade para todos.” No sistema jurídico brasileiro infraconstitucional, a função social da propriedade foi inserida explicitamante através do Estatuto da Terra, Lei nº 4.504/64, que, em seu Art. 2º, consolidou que: 22 “Art. 2° É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta Lei.” Seguindo a esteira do Estatuto da Terra, a Constituição de 1967 foi a primeira a mencionar explicitamente a função social da propriedade como princípio da ordem econômica e social, em seus Art. 150, § 22, e 157, III: “CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1967 TÍTULO II Da Declaração de Direitos CAPÍTULO IV Dos Direitos e Garantias Individuais Art 150 - A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pais a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 22 - É garantido o direito de propriedade, salvo o caso de desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou por interesse social, mediante prévia e justa indenização em dinheiro, ressalvado o disposto no art. 157, § 1º. Em caso de perigo público iminente, as autoridades competentes poderão usar da propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior. TÍTULO III Da Ordem Econômica e Social Art 157 - A ordem econômica tem por fim realizar a justiça social, com base nos seguintes princípios: .... III - função social da propriedade;” 23 Em relação à Emenda Constitucional de 1969, a única inovação foi a faculdade do expropriado aceitaro pagamento em título especiais de dívida pública em caso de desapropriação rural, Art. 161: “EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 1, DE 17 DE OUTUBRO DE 1969 TÍTULO II DA DECLARAÇÃO DE DIREITOS CAPÍTULO IV DOS DIREITOS E GARANTIAS INDIVIDUAIS Art. 153. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos têrmos seguintes: § 22. É assegurado o direito de propriedade, salvo o caso de desapropriação por necessidade ou utilidade pública ou interêsse social, mediante prévia e justa indenização em dinheiro, ressalvado o disposto no artigo 161, facultando-se ao expropriado aceitar o pagamento em título de dívida pública, com cláusula de exata correção monetária. Em caso de perigo público iminente, as autoridades competentes poderão usar da propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior. Art. 160. A ordem econômica e social tem por fim realizar o desenvolvimento nacional e a justiça social, com base nos seguintes princípios: ..... III - função social da propriedade;” Art. 161. A União poderá promover a desapropriação da propriedade territorial rural, mediante pagamento de justa indenização, fixada segundo os critérios que a lei estabelecer, em títulos especiais da dívida pública, com cláusula de exata correção monetária, resgatáveis no prazo de vinte anos, em parcelas anuais sucessivas, 24 assegurada a sua aceitação, a qualquer tempo, como meio de pagamento até cinqüenta por cento do impôsto territorial rural e como pagamento do preço de terras públicas.” Atualmente, a Carta da República de 1988, em seu Art. 5º, XXIII, estabelece a função social da propriedade como direito fundamental coletivo, e no Art. 170, III, como princípio da ordem econômica e financeira. “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: ... III - função social da propriedade;”
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