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PARECER JURÍDICO - : DIREITO TRIBUTÁRIO E FINANCEIRO. TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS. PREFEITURAS. DESCUMPRIMENTO DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL. APLICAÇÃO DE MULTA. REGULAÇÃO. CONSTI

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PARECER JURÍDICO 
 
REQUERENTE: Prof.ª Amanda Ferreira Marques. 
EMENTA: DIREITO TRIBUTÁRIO E FINANCEIRO. TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS. PREFEITURAS. DESCUMPRIMENTO DA LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL. APLICAÇÃO DE MULTA. REGULAÇÃO. CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA TRANSPARÊNCIA. 
RELATÓRIO 
Trata-se de um Trabalho solicitado pela Prof.ª Amanda Ferreira Marques, no dia 08 de março de 2021, em que a análise seria as eventuais infrações no caso concreto, em que o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, no ano de 2014, aplicou multas no valor total de R$ 278.000,00 a 69 prefeituras por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal. Estas prefeituras deixaram de encaminhar no prazo legal àquele Tribunal o Relatório de Gestão Fiscal, o Relatório Resumido de Gestão Orçamentária e o Comparativo das Metas Bimestrais de arrecadação. 
Considerando as jurisprudências, doutrinas e legislações pertinentes, questionasse se a aplicação de multas do Tribunal de Contas é ato regular; estas multas podem ser questionadas perante o Poder Judiciário, ou já se encontram alcançadas pela coisa julgada; e qual o princípio contido na Lei de Responsabilidade Fiscal relacionado com os relatórios exigidos. 
É o relatório, passo a opinar. 
FUNDAMENTOS JURÍDICOS 
Aos Tribunais de Contas, em sua atuação como órgãos judicantes, devem-se assegurar os mecanismos legalmente estabelecidos para garantir a eficácia de suas deliberações, no que concerne à defesa do erário, especialmente, quanto à verificação da legalidade, regularidade e economicidade dos atos dos administradores públicos e demais responsáveis pela guarda e emprego de recursos públicos. 
Nesse sentido, é preciso atentar-se ao dispositivo constitucional (art. 71, VIII, CR/88) que autoriza a aplicação, por intermédio das Cortes de Contas, aos responsáveis, no caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas, das sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional ao dano causado ao erário. Apesar desse dispositivo tratar apenas do Tribunal de Contas no âmbito da União (TCU), entende que em observância ao princípio da simetria, aplica-se ao Tribunal de Contas Estadual. 
Nesse entendimento a jurisprudência preceitua: 
EMENTA: Tribunal de Contas dos Estados: competência: observância compulsória do modelo federal: inconstitucionalidade de subtração ao Tribunal de Contas da competência do julgamento das contas das Mesas das Câmaras Municipais - compreendidas na previsão do art. 71, II, da Constituição Federal, para submetê-las ao regime do art. 71, c/c art. 49, IX, que é exclusivo da prestação de contas do Chefe do Poder Executivo local (CF, art. 31, § 2º): precedente (ADIn 849, 11.2.99, Pertence): suspensão cautelar parcial dos arts. 29, § 2º e 71, I e II, da Constituição do Estado do Espírito Santo. 
 
Pode-se observar que quanto ao primeiro questionamento sobre a aplicação de multas pelos TCE de Minas Gerais é ato regular, pois sua função é fiscalizar, e se preciso, aplicar sanções aos seu fiscalizados. 
Quanto ao questionamento das multas perante o poder Judiciário, podem plenamente serem questionada já que o tribunal de conta não tem legitimidade jurisdicional 
Assim Meirelles explica: 
Não se confunda jurisdicional com judicial. Jurisdição é atividade de dizer o direito, e tanto diz o direito o Poder Judiciário como o Executivo e até mesmo o Legislativo, quando interpretam e aplicam a lei. Todos os Poderes e órgãos exercem jurisdição, mas somente o Poder Judiciário tem o monopólio da jurisdição judicial, isto é, de dizer o direito com força de coisa julgada. É por isso que a jurisdição do Tribunal de Contas é meramente administrativa, estando suas decisões sujeitas a correção pelo Poder Judiciário quando lesivas de direito individual.[10] 
 
O doutrinador José Afonso da Silva é incisivo ao afirmar que não há argumentos plausíveis para determinar que o Tribunal de Contas é um órgão Jurisdicional, mas sim de caráter administrativo “o Tribunal de Contas é um órgão técnico, não jurisdicional. Julgar contas ou da legalidade dos atos, para registros, é manifestamente atribuição de caráter” [11] 
Conclui-se, que o Poder Administrativo atribuído ao Tribunal de Contas pela doutrina, é pautado na possibilidade das decisões do Tribunal de Contas sofrer análise pelo Poder Judiciário, e que apesar da Constituição Federal de 1988 ter determinado que o Tribunal possui competência para “julgar as contas” dos gestores essas contas contêm apenas dados técnico contábeis e administrativo não possuindo análise de legalidade. A doutrina vai além ao afirmar que em nenhum momento o texto constitucional determinou que o Tribunal de Contas deveria analisar questões que envolvem legalidade, sendo essa incumbência do Poder Judiciário. 
No que tange ao princípio contido na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que se relaciona com os relatórios exigidos, está relacionado ao princípio da Transparência. 
 Esse princípio, que foi inserido na legislação federal a partir da Lei Complementar nº 101 de 04.05.2000, denominada Lei de Responsabilidade Fiscal. A lei estabelece normas de finanças públicas, traçando regras para a conduta dos administradores públicos e atrelando maior responsabilidade aos seus gestores. A lei preocupa-se com a responsabilidade da gestão fiscal, e está sustentada em três pilares principais: planejamento, transparência e controle. 
 A transparência na gestão fiscal tem como finalidade levar a conhecimento da sociedade de forma compreensível as informações relativas à atividade financeira do Estado. E ainda assegurar a participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e de discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos. Com isso, buscou-se demonstrar a importância deste princípio que além de ser uma forma de fiscalização da sociedade na aplicação dos recursos públicos, traz a oportunidade da participação popular na administração pública. 
No que tange à LRF e o princípio da transparência, Maren Guimarães Taborda leciona que: 
(…) a Lei Complementar nº 101/00, que dispõe sobre a 
Responsabilidade Fiscal, também realiza, direta ou indiretamente, o princípio da transparência administrativa, porquanto obriga os administradores públicos não só a emitirem declarações de responsabilidade como também a permitirem o acesso público a essas informações. 
 
 Assim, é possível afirmar que a intenção da Lei de Responsabilidade Fiscal é justamente aumentar a transparência na gestão do gasto público, permitindo que os mecanismos de marcado e o processo político sirvam como instrumento de controle e punição dos governantes que não agirem de maneira correta. 
CONCLUSÃO 
Ante o exposto, sobre a análise do caso concreto, com base em jurisprudência, doutrina e legislação cabível, conclui-se que o Tribunal de Contas é órgão auxiliar do Legislativo tendo plena capacidade de fiscalização do orçamento público, com competência para aplicar sanções e multas de caráter administrativo. 
Por fim, o princípio da transparência é um alicerce para a Lei de Responsabilidade Fiscal, e tem por objetivo permitir à sociedade conhecer e compreender as contas públicas. 
É o parecer.

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