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RESENHA CRÍTICA AS APRESENTAÇÕES AO VIVO (“LIVES”) E OS EXECUTIVOS DE COMPANHIAS DE CAPITAL ABERTO A pandemia da Covid-19 trouxe inúmeras inovações nas empresas, as quais enfrentam uma nova fase. Gestores mais e menos experientes estão aprendendo que é preciso participar de lives, podcasts, Twitter e LinkedIn e traduzir a linguagem da companhia, se quiserem sobreviver em um mercado cada vez mais competitivo. A era coronavírus realizou o desapego dos jargões do mercado e contribuiu para acelerar o movimento da era totalmente digital. No entanto, as lives ocasionaram certos problemas para as empresas quando seus gestores informaram dados e/ou asseveraram maneiras de registros irreais. Por isso, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) instaurou novas regras que envolvem a participação de executivos de companhias de capital aberto em transmissões ao vivo. As incertezas sobre o efeito da pandemia da Covid-19, popularizou a realização de transmissões ao vivo com a participação de executivos de companhias abertas, as lives. Em virtude das modificações nas rotinas laborativas, a Superintendência de Relações com Empresas da CVM divulgou orientações sobre boas práticas que devem ser adotadas em eventos dessa natureza. A autarquia recomenda que as lives devem ser divulgadas com antecedência, sendo que este comunicado deve ser ao mercado, informando data, horário e endereço na internet em que será realizada a transmissão, uma vez que tais eventos não constam no Calendário de Eventos Corporativos da empresa. Foi orientado, ainda, que a recomendação acima vale para quaisquer informações a serem divulgadas na live. Por mais que possam não existir apresentações visuais, como em slides ou qualquer formato, o comunicado ao mercado que informar sobre a realização do mesmo deverá conter, também, uma relação dos temas a serem discutidos, e eventualmente as perguntas que serão respondidas. Ou seja, há a necessidade de uma pauta prévia definida entre os organizadores e a companhia. Para isso, a CVM pontuou que, de acordo com o artigo 30, inciso XIV, da Instrução CVM nº 480/09, a companhia deverá enviar pelo “Sistema Empresas.NET” o material que será apresentado nos encontros virtuais, no mesmo dia da realização do evento, assim como em reuniões com analistas e agentes do mercado. Isso foi determinado para providenciar tratamento equitativo de todos os participantes do mercado, o material deve ser enviado antes ou simultaneamente ao início da reunião, contendo todas as informações relevantes que serão abordadas e, caso não seja possível divulgar com antecedência o conteúdo da live, por impossibilidade de se obter tais informações junto aos organizadores, ou devido ao formato da apresentação, a transmissão deverá ser realizada fora do horário do pregão, preferencialmente após o fechamento do mercado. Cabe mencionar que na maioria das vezes, as apresentações ao vivo são organizadas por terceiros e tais recomendações devem ser seguidas. Resumindo, a utilização em larga escala e repentina das lives, causou, inadvertidamente, “falas demais” dos executivos, com potencial prejuízos para os acionistas. Segundo o Ofício-Circular 07/20, a intenção da CVM não foi adicionar obrigações àquelas já previstas na Lei 6.404/76, na Instrução 358 e na Instrução 480, mas esclarecer procedimentos específicos com relação à realização de lives, com o intuito de evitar qualquer tipo de assimetria de informação, entre as divulgadas aos acionistas em eventos oficiais constantes do calendário de eventos e informações que sejam relevantes e obtidas por meio desses eventos on-line. De acordo com o site “Legislação e Mercado”, essas diretrizes da CVM causaram um verdadeiro rebuliço entre as companhias abertas, resultando em diversas reações de associações, como a Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas). Há certas preocupações dos acionistas e das lives realizadas pelos gestores, sendo, entre essas: a definição do que seriam as lives; os temas comunicados ao mercado, já que muitos executivos de companhias abertas participam de lives diversas sobre comportamento, marketing, tendências, assuntos que muitas vezes nem são de interesse do mercado de capitais e dos acionistas; a realização das lives fora do horário de negociação e; a restrição a questionamentos, no sentido de evitar a imprevisibilidade das informações a serem divulgadas; a definição de executivos, vez que a orientação só é aplicável aos administradores ou aos demais executivos da companhia. Em meio de tantos questionamentos, o presidente da CVM, Marcelo Barbosa, se manifestou e esclareceu alguns pontos. Informalmente, a CVM já respondeu à Abrasca e a outros participantes do mercado que: a definição de lives se refere apenas a eventos destinados ao público em geral, gratuitos ou não, e, portanto, não se trata de reuniões fechadas realizadas on-line, como no caso de reuniões via aplicativo Zoom, Teams, Google Meet, dentre outros; as lives a serem comunicadas ao mercado são aquelas cujos temas são de interesse do mercado de capitais, investidores da companhia e seus acionistas. Desse modo, quando abordarem sobre temas gerais que não sejam relevantes para os negócios da companhia não precisam ser previamente divulgadas; o esclarecimento da restrição das lives apenas para aquelas de temas relevantes ao mercado de capitais pode auxiliar na questão de restrição de horários, mas será preciso aguardar a manifestação oficial da CVM sobre a manutenção da restrição para realização fora do horário de funcionamento das negociações em bolsa; a restrição a questionamentos parece ser exagerada e, nesse caso, a tendência é de que a CVM apenas oriente que os executivos não respondam informações relevantes que não tenham sido divulgadas ao mercado; e, por último, quanto à definição de executivo, a mesma é propositalmente ampla, no sentido de abranger não apenas administradores estatutários, mas executivos que representem a companhia de forma geral. Verifica-se que a CVM, se mostrou hábil e proativa, ao responder de maneira satisfatória aos anseios do mercado por uma resposta com relação a relatos de potenciais abusos envolvendo a recente realização de eventos dessa natureza. Além disso, as recomendações são eficientes para a condução da ferramenta de comunicação em tempos de restrição ao contato presencial entre pessoas e, mesmo não criando regras, a CVM foi capaz de atualizar sua orientação com relação às normas em vigor, orientando o mercado e indicando as boas práticas que espera de seus agentes, em mais uma postura reconhecidamente positiva, na qual se propôs a orientar antes de agir de forma meramente repressiva e reativa. Outrossim, insta salientar que os executivos da companhia devem permanecer em treinamentos constantes no sentido de condicioná-los para que não revelem informações relevantes da companhia. Como sabido, tais treinamento eram válidos para a participação dos executivos em eventos, entrevistas e em debates e programas de rádio e televisão, havendo apenas uma extensão para o novo meio de comunicação que foi alavancado em tempos de pandemia. Para finalizar, os departamentos de relações com investidores deverão manter acompanhamento junto aos executivos e se informem sobre as lives e que deverá ou não participar, para que então seja verificado se esta deverá ou não ser objeto de comunicado ao mercado, bem como se será necessária a disponibilização do material no site da companhia e no “Empresas.net”. Por ora, as empresas devem se atentar ainda a provável carga de excesso de trabalho no relacionamento com o investidor e a possível percepção de banalização dos comunicados ao mercado. Como forma de demonstrar a utilidade das lives, o advogado Pedro Torres, publicou artigo no site JusBrasil, conforme segue: A empresa Midas Trend, empresa sediada em Salvador/BA,que conta com usuários em todo Brasil, sempre se mostrou como empresa que oferece rentabilidade rápida e liquidez mensal de 30% (trinta por cento) e, principalmente, que opera legalmente por meio da atividade de arbitragem, a qual consiste em se aproveitar da diferença do preço de um criptoativo entre duas corretoras, pegando para si parte do lucro e repassando o resto para seu cliente. Para viabilizar a atividade da empresa, é necessária a aquisição de um “robô”, denominado como “BOT” (na realidade, um algoritmo matemático), com preços variados desde R$ 180,00 (cento e oitenta reais) até R$ 8.000,00 (oito mil reais), a fim de realizar transações de arbitragem, gerando o rendimento do valor investido, sendo que cada BOT tem um custo específico e um valor máximo de aporte financeiro. Assim, o usuário investe um valor, dentro do teto permitido pelo robô, que, por sua vez, se vale desse valor para supostamente operar no mercado de criptoativos. A empresa se dizia autorizada pela CVM, entretanto, atualmente, vem sendo investigada pela autarquia, visto que sempre operou ilegalmente sem autorização. Ademais, a empresa realizou sucessivas mudanças unilaterais no contrato firmado com seus clientes, deixando milhares de pessoas sem qualquer possibilidade de saque de seus valores investidos e dos lucros obtidos, promovendo a retenção ilegal de milhões de reais. Foi então, após diversas promessas e explicações por meio de lives nas redes sociais, que o sócio presidente da empresa, Sr. Deivanir Santos, admitiu que não iria conseguir honrar os pagamentos, deixando milhares de usuários em todo o Brasil em grave prejuízo financeiro. Em consonância ao artigo publicado em junho de 2020, nomeado como “Midas Trend: como recuperar seu dinheiro investido”, alegou que o Sr. Santos, sócio da empresa, tentou se eximir de qualquer responsabilidade por meio de intimações aos clientes e alegações vitimistas descoladas da realidade. A CVM mantém a investigação em face da empresa Midas e busca, por via judicial, a rescisão contratual, bem como perdas e danos, com o intuito de recuperar o valor investido que está sendo retido indevidamente, na forma prometida pela empresa. Diante do exposto e para finalizar, as lives servem como impulso para novos caminhos que foram acelerados pela pandemia da Covid-19, bem como abrem portas para novos métodos de transparência das companhias, permitindo que sejam vigiadas pela CVM e pelos acionistas, bem como criem laços mais íntimos entre os acionistas e futuros acionistas, ampliando o mercado competitivo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _________. CVM orienta empresas sobre participação de executivos em lives. Legislação e Mercados. Disponível em: https://legislacaoemercados.capitalaberto.com.br/cvm-orienta- empresas-sobre-participacao-de-executivos-em-lives/. Acesso em 14 de junho de 2021. LAZARINI, Jader. CVM orienta empresas sobre “lives” com executivos. Suno Notícias. Disponível em: <https://www.suno.com.br/noticias/cvm-orienta-empresas-lives-executivos/>. Acesso em 14 de junho de 2021. LEWGOY, Júlia. Lives, podcasts e redes sociais viram tarefas de gestor de fundo em plena crise. Valor investe - São Paulo. Disponível em: <https://valorinveste.globo.com/produtos/fundos/noticia/2020/06/15/lives-podcasts-e-redes- sociais-viram-tarefas-de-gestor-de-fundo-em-plena-crise.ghtml>. Acesso em 14 de junho de 2021. _______. Live com CVM sobre nova regulação de fundos está disponível no YouTube. Anbima Notícias. Disponível em: <https://www.anbima.com.br/pt_br/noticias/live-com-cvm- sobre-nova-regulacao-de-fundos-esta-disponivel-no-youtube.htm>. Acesso em 14 de junho de 2021. https://legislacaoemercados.capitalaberto.com.br/cvm-orienta-empresas-sobre-participacao-de-executivos-em-lives/ https://legislacaoemercados.capitalaberto.com.br/cvm-orienta-empresas-sobre-participacao-de-executivos-em-lives/ https://www.suno.com.br/noticias/cvm-orienta-empresas-lives-executivos/ https://valorinveste.globo.com/produtos/fundos/noticia/2020/06/15/lives-podcasts-e-redes-sociais-viram-tarefas-de-gestor-de-fundo-em-plena-crise.ghtml https://valorinveste.globo.com/produtos/fundos/noticia/2020/06/15/lives-podcasts-e-redes-sociais-viram-tarefas-de-gestor-de-fundo-em-plena-crise.ghtml https://www.anbima.com.br/pt_br/noticias/live-com-cvm-sobre-nova-regulacao-de-fundos-esta-disponivel-no-youtube.htm https://www.anbima.com.br/pt_br/noticias/live-com-cvm-sobre-nova-regulacao-de-fundos-esta-disponivel-no-youtube.htm SCHINCARIOL, Juliana. Participação de executivos em ‘lives’ deve ser divulgada em comunicado, diz CVM. Valor investe - São Paulo. Disponível em: <https://valorinveste.globo.com/mercados/renda- variavel/empresas/noticia/2020/08/26/participacao-de-executivos-em-lives-deve-ser- divulgada-em-comunicado-diz-cvm.ghtml>. Acesso em 14 de junho de 2021. TORRES, Pedro. Midas Trend: como recuperar seu dinheiro investido. JusBrasil. Disponível em: <https://pedrotct1.jusbrasil.com.br/artigos/868571253/midas-trend-como- recuperar-seu-dinheiro-investido>. Acesso em 14 de junho de 2021. https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/empresas/noticia/2020/08/26/participacao-de-executivos-em-lives-deve-ser-divulgada-em-comunicado-diz-cvm.ghtml https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/empresas/noticia/2020/08/26/participacao-de-executivos-em-lives-deve-ser-divulgada-em-comunicado-diz-cvm.ghtml https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/empresas/noticia/2020/08/26/participacao-de-executivos-em-lives-deve-ser-divulgada-em-comunicado-diz-cvm.ghtml https://pedrotct1.jusbrasil.com.br/artigos/868571253/midas-trend-como-recuperar-seu-dinheiro-investido https://pedrotct1.jusbrasil.com.br/artigos/868571253/midas-trend-como-recuperar-seu-dinheiro-investido
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