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Introdução ao direito penal

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TEORIA GERAL DO DIREITO PENAL
Aulas de Cleber Masson
Introdução ao direito penal
 Conceito de direito penal – conjunto de normas, que se dividem em regras (rígidas,
precisas) e princípios (maleáveis), destinados a punir e a prevenir a prática de crimes e
contravenções penais mediantes a imposição de um sansão penal
 Um ramo do direito público
o “ius puniend”, o direito de punir pertence ao estado, é um direito e um dever de punir
por parte do estado; 
o composto por normas de ordem pública que são indisponíveis e genéricas (por ser
aplicáveis indistintamente a todas as pessoas); 
o o estado funciona como sujeito passivo de todas as infrações, pode ser imediato
quando um direito seu é violado e mediato em todo e qualquer crime
 Nomenclatura – Direito penal ou Criminal?
o Direito criminal é mais ampla, porque ela abrange o crime propriamente dito, já foi
utilizada no Brasil com o Código Criminal do Império em 1930 (já tivemos 3 códigos)
o Direito penal é uma expressão menos abrangente por enfatizar a pena, embora as
duas terminologias sejam adequadas Direito penal é mais adequado porque temos
um código penal, além da CF/88 trazer a expressão no art.22, inciso I
 CP também é chamado de Pergaminho Penal
 Características do direito penal
o Magalhães Noronha “Direito penal é uma ciência cultural, normativa, valorativa e
finalista”
 O conjunto de suas normas formas a dogmática penal e traduz a ideia de que
é uma ciência
 Ciência Cultural porque ela pertente a classe do “Dever ser” contrário a
ciências naturais que estudam o “Ser”
 Ciência Normativa porque seu objeto de estudo é as normas (que se dividem
em regras e princípios), norma se deriva da palavra normal, tratando de
comportamentos normais
 Ciência Valorativa porque o Direito penal apresenta sua própria escala de
valores para os fatos que lhe são submetidos
 Ciência Finalista porque tem uma finalidade prática e não meramente
acadêmica
 Finalidade prática do direito é a proteção de bens jurídicos de acordo
com 
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 O direito penal é constitutivo ou sancionados? Se falar que é constitutivo significa que cria
algo novo, já sendo sancionador significa que traz apenas um sansão para violação dos
institutos criados por outras áreas do direito
o Para Zaffaroni, “é predominantemente sancionador e excepcionalmente constitutivo”
 Ex.: o homicídio existe porque alguém matou
Funções do direito penal
 Proteção de bens jurídicos (Claus Roxin) – Função primordial do direito penal, o
fundamento de validade e legitima o direito penal, pois ele existe para proteger tais bens
o Bens jurídicos = são os valores e interesses relevantes para a manutenção e o
desenvolvimento do indivíduo e da sociedade
o Nem todo bem jurídico é tutelado pelo direito penal, apenas os mais relevantes são
classificados como penais
o O legislador precisa fazer uma seleção para saber quais podem ser tutelados pelo
direito penal, por meio de um juízo valorativo; o critério para saber quais são
merecedores de tutela penal é a Constituição Federal
o Teoria Constitucional do Direito penal, ele só é legitimo quando tutela direitos e
valores previstos na CF. Ex: homicídio é crime no Brasil porque o Art.5°, caput da
CF assegura o direito à vida
 Só são legitimas a sanção e o crime quando o bem jurídico está previsto na
CF
 Instrumento de Controle Social – busca a manutenção da paz pública e trazer tranquilidade
para as pessoas
 Garantia (Franz von Liszit) “O código penal é a magma carta do delinquente” – muito mais
que punir busca proteger e um escudo do cidadão contra o arbítrio do estado
 Função ético-social do direito penal (ou função criadora/configuradora dos costumes) –
estreita ligação entre o direito penal e os costumes de uma sociedade; assume uma função
educativa e um efeito moralizador o que é extremamente perigoso pois não é ou não
deveria ser papel do direito penal
 Função simbólica – existe em todo e qualquer ramo do direito, mas é mais visível no direito
penal; só produz efeitos internos, na mente dos governantes e dos governados; não produz
efeitos internos/concretos/práticos
o Contribui para uma hipertrofia do direito penal – o direito penal cada vez maior e
mais forte; criando um direito penal do medo e do terror; contribui para uma inflação
legislativa que contribui para um direito penal de emergência
o A criação de crimes, mas que não resolve
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o A curto prazo só serve para criar propaganda de governo; a médio e longo prazo
leva ao descrédito do direito penal pois aparenta que não resolve os problemas
sociais, no entanto, não é papel do direito penal resolver os problemas sociais
o Ex.: criação da lei dos crimes hediondos
 Função motivadora – ameaça de um sansão motiva uma pessoa a não violar leis penais
 Função de redução da violência estatal – apresentada por Jesus Maria Silva Sanchez, a
imposição de uma pena mesmo que legitima é uma violência do estado contra o cidadão,
relacionado com a função mínima do direito penal
 Função promocional – o direito penal tem que funcionar como um instrumento de
transformação social, tem que ajudar a sociedade a evoluir
A ciência do direito penal
 José Cerezo Mir – “enciclopédia de ciências penais” – o direito penal estuda o crime, o
criminoso, a sansão penal e também o papel da vítima, ou seja, existe ciências auxiliares ao
direito penal
o Dogmática penal – diferente de dogma/dogmatismo (aceitação de algo como
incontestável), a dogmática penal tem a finalidade de conhecer o sentido das
normas penais, pois é o ponto de partida para a compreensão do direito penal. No
entanto, deve ser estudado em sintonia com os demais campos do direito, valores
sociais e etc.
o Política criminal – é o “filtro” entre a letra da lei e os interesses da sociedade; Ex.: “lei
penal que não pega” por estar contra os valores e interesses da sociedade
o Criminologia – Antônio Garcia Pablos de Molina “criminologia é uma ciência empírica
e interdisciplinar”, empírica porque pode ser provado no caso concreto e
interdisciplinar porque se relaciona com outras esferas; Criminologia estuda as
causas do crime, antecede o crime e estuda antes do crime enquanto que o Direito
penal estuda as consequências do crime
o Vitimologia – estudo do papel da vítima no direito penal; na concepção inicial do CP
só olha para o agente
Divisões do direito penal
 Direito penal fundamental (primário) versus complementar (secundário)
o Direito penal Fundamental – são as normas gerais do direito penal, aplicáveis
inclusive aos crimes previstos em leis especiais quando não traz disposição
contraria; previsto na parte geral do CP e também algumas regras previstas na parte
especial e nas leis extravagantes
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o Direito penal complementar – Normas que integram a legislação penal especial
 Direito penal comum versus direito penal especial
o Direito penal comum – aplicado indistintamente a todas as pessoas, ex.: CP
o Direito Penal especial – normas aplicadas somente a determinadas pessoas que
preenchem os requisitos previstos em lei, ex.: CP militar
 Direito penal geral versus Direito penal local
o Direito penal geral – se aplica a todo o território nacional e produzido pela união
(Art.22°, inciso I, CF)
o Direito penal local – se aplica apenas aos estados (Art.22, §único, CF)
 Direito penal objetivo versus Direito penal subjetivo
o Direito penal objetivo – conjunto de leis penais em vigor, todas as leis penais
produzidas e ainda não revogadas
o Direito penal subjetivo – o direito de punir, “ius puniend”
 Direito penal material versus direito penal formal
o Direito penal material ou substantivo – o direito penal propriamente dito, é o direito
penal em vigor
o direito penal formal ou adjetivo – é o conjunto de leis processuais em vigor, o direito
processual penal
Fontesdo direito penal
 Diz respeito as formas como o direito é criado e depois como ele se manifesta
 Fontes matérias, substanciais ou de produção – o órgão encarregado de criar o direito penal
(Art. 22°, inciso I, CF), os estados também podem (Art. 22°, § único, CF) desde que
preenchidos dois requisitos: questão especifica de interesse local daquele estado e
autorização da união mediante lei complementar
 Fontes formais, cognitivas ou de conhecimento – diz respeito a aplicação do direito penal,
se dividem em: Imediatas e mediatas
o Imediatas – lei, porque ela cria crimes e culmina penas
o Mediatas – auxiliam na aplicação do direito penal; 
 CF (mandados de criminalização/ constituição penal), 
 jurisprudência (mas não pode ser qualquer, CPC art. 927), 
 doutrina
 tratados e convenções internacionais de direitos humanos
 costumes (é a reintegração e repetição (objetivo) de uma conduta e
comportamento em face da sua obrigatoriedade (subjetivo/ o que difere do
hábito)
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 costume interpretativo, “segundum legem”, auxilia na interpretação do
costume do local, ex.: ato obsceno, o sentido varia
 costume negativo, “contra legem” (dessuetudo), contraria a lei, mas
não a revoga, ex.: jogo do bicho
 costume integrativo, “praeter legem”, supre a lacuna da lei
 atos administrativos, funcionam como complemento das normas penais em
branco heterogêneas
 Princípios gerias do direito
Interpretação da lei penal
 Atividade mental que busca alcançar o significa e conteúdo da lei penal
 Toda e qualquer norma penal, por mais simples que seja, deve ser interpretada
 Hermenêutica e exegese – hermenêutica é a ciência que estuda a interpretação das leis no
geral, enquanto que a exegese é a atividade pratica da interpretação das leis
Espécies de interpretação
 Quanto ao sujeito
o Autentica – aquela feita pelo legislador mediante uma outra lei, “lei interpretativa”
que pode ser contextual (editada no mesmo momento) ou posterior (para dissipar
dúvidas que não eram imaginadas), a lei interpretativa é de aplicação obrigatória e
pode ser aplicada em fatos passados mesmo que para prejudicar o réu
o Judicial – efetuada pelos juízes e pelos tribunais, em regra não é obrigatória e o juiz
pode decidir de forma contraria; obrigatória em poucas situações: decisão do caso
concreto, porque temos a coisa julgada; quando constitui uma sumula vinculante;
o Doutrinaria/cientifica – é a efetuada pelos estudiosos e não é obrigatória, a
exposição de motivos do CP ou de qualquer outra lei é doutrinaria
 Quanto aos meios ou métodos
o Gramatical/ sintática/literal – é a espécie mais precária e simplista, é a mera
interpretação das palavras e por isso muito frágil
o Lógica/ teleológica/ sistemática – é aquela que o interprete estuda a lei como um
todo, leva em conta os fins a que a lei se destina
 Quanto ao resultado
o Declaratória – perfeita coincidência entre texto da lei e sua vontade, a lei diz
exatamente o que queria dizer
o Extensiva – a lei disse menos do que queria e precisa ampliar o seu alcance
o Restritiva – a lei disse mais do que queria e precisa reduzir seu alcance
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 Interpretação progressiva, adaptativa ou evolutiva – busca moldar e adaptar à realidade
atual
 Interpretação analógica ou intra legem – não se confunde com analogia; ocorre quando o
legislador traz uma fórmula casuística seguida de uma formula genérica
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