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Graduação em Direito Teoria da Pena (ARA1228/3681170) 3001 Avaliação 1 Aplicação: 28 de abril de 2021 (18:30) Nome: Renata Lobato Bezerra Matrícula: 201909100404 Instruções: 1. O limite para cada resposta discursiva é de 20 linhas por questão. Serão utilizados como parâmetros de contagem: (i) a fonte Times New Roman; (ii) o tamanho 12. 2. As respostas devem ser formuladas dentro do formato de prova enviado, não sendo permitido qualquer tipo de modificação. 3. A avaliação respondida deve ser encaminhada ao professor no formato pdf como mensagem privada no chat TEAMS, e, igualmente, no e-mail borgesdevasconcelos@gmail.com 4. O prazo de envio é de 24 horas após o início da avaliação Questão 1 Em 14/04/2021 a Deputada Federal Aline Gurgel (Republicanos-AP) apresentou o Projeto de Lei 1396/2021, que acrescenta o inciso I, ao art. 1.º parágrafo 3.º, da Lei 9.455, de 07 de abril de 1977 (que define o crime de tortura). Em essência, foi proposto que havendo morte (em razão da tortura) “perderá o direito ao regime de progressão o apenado que praticar homicídio contra menor de 14 anos de idade”1. A justificativa foi a seguinte: “É preciso ações enérgicas e urgentes do Estado para contermos a violência praticada contra as nossas crianças e tem esse o objetivo de retirar o direito à progressão, aqueles que tenham praticado homicídio contra menores de 14 anos. Não tão distante, retornamos ao caso Isabella Nardoni, de cinco anos de idade, jogada covardemente do sexto andar do Edifício London, em São Paulo/Capital. O juiz Maurício Fossen, em sua sentença, ressaltou a frieza do casal, que, segundo a denúncia, passou um dia "relativamente tranquilo com a vítima, passeando com ela pela cidade", antes de investir "de forma covarde" contra a menina. Os promotores se baseiam nos relatos de testemunhas e nos laudos periciais para afirmar que Anna Carolina feriu a criança com uma chave e a esganou, deixando-a inconsciente. Depois, segundo a acusação, Alexandre fez a própria filha passar pelo buraco na rede da janela e, segurando a "delicadamente" pelos braços, jogou Isabella do sexto andar. Nas últimas semanas foi a vez de tomarmos conhecimento de que o menor Henry, de apenas 4 anos de idade, após sofrer lesões corporais, praticadas supostamente pelo seu padrasto e de conhecimento de sua mãe, veio a óbito. Os pais, movidos pelos laços familiares, são pessoas que têm o dever de preservar a integridade física e psicológica da criança e não tirar esse direito dela, principalmente o de VIDA! São acontecimentos como estes que nos fazem direcionar a legislação para penas mais severas com o fito da contenção dessa prática de crime, agravada pela inocência e vulnerabilidade de uma criança, que não possui intelecto formando e nem discernimento para se defender. Mediante minha justificativa, conto com a colaboração e apoio de meus nobres pares para que venhamos a conseguir a aprovação dessa proposta para que crimes como esse sejam definitivamente extirpados nossa sociedade pois, citando Ágatha Christie, “o amor de mãe por seu filho é diferente de qualquer outra coisa no mundo. Ele não obedece lei ou piedade, ele ousa todas as coisas e extermina sem remorso tudo o que ficar em seu caminho”2. Tal proposta é juridicamente válida à luz das teorias da pena e, principalmente, do regramento constitucional e legal que regem o sistema de progressão de regime adotado pelo Brasil? Fundamente Esta é uma questão de interpretação das normas e princípios constitucionais e encontra posições divergentes na doutrina. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara de Deputados se debruçará sobre a análise da situação. A luz da jurisprudência mais recente do Supremo Tribunal Federal, mas rejeitada por parte da Doutrina, observa-se que: O STF manifestou em processos anteriores pela constitucionalidade do regime integralmente fechado. Porém, houve uma mudança no regime prisional brasileiro a partir da decisão do STF, no julgamento do HC n. 82.959-SP, em 23.02.2007, que entendeu inconstitucional o § 1º do art. 2º da Lei nº. 8.072/90, que previa que os condenados por crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo, cumpririam a pena em regime integralmente fechado. Segundo o STF a não progressão do regime viola o Princípio Constitucional da Individualização da Pena. Questão 2 No senso comum, e na via político-legislativa, é frequente o uso simbólico do Direito Penal – e de elevadas penas – como forma de intimidação de potenciais autores e autoras de práticas delitivas. Por essa ótica, a pena seria útil, apenas, para gerar um sentimento de “proteção” para a sociedade. Esse é um raciocínio adequado dentro das finalidades que a pena, à luz do Direito brasileiro, deve cumprir? Não. A pena é estudada por óticas variadas. Entre as finalidades da Pena apontadas pela Doutrina Majoritária, os pontos comuns são: 1. Finalidade reeducativa ou ressocializadora 2. Finalidade Preventiva (Geral ou espcial) 3. Finalidade Retributiva Ou seja, uso simbólico do Direito Penal – e de elevadas penas – como forma de intimidação estaria apenas ressaltando a Finalidade Retributiva da Pena que não é sua essência. Questão 3 Situação fática Aníbal, nascido em 21/03/1990, foi condenado pela prática de roubo (art. 157, Código Penal). Ele respondeu ao processo em liberdade, e, após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, a sua pena foi fixada em 5 (cinco) anos e 4 (quatro) meses de detenção em regime semiaberto. No momento da execução da pena, contudo, verificou-se, no juízo de execução, que não há, no sistema prisional, vaga em colônia agrícola (e tampouco em colônia penal industrial ou outro estabelecimento do gênero). Sendo assim, analise as afirmações abaixo e – com base na atual interpretação legal do STF – considere se, no caso de Aníbal, elas (a) iniciar o cumprimento da sua pena em regime fechado, visto que o roubo é caracterizado pelo emprego de violência ou grave ameaça, pois isso, por si só, já demonstra a maior periculosidade da pessoa que comete tal crime. (b) solicitar o reconhecimento da extinção de sua punibilidade, já que, em tal circunstância, ele (Aníbal) permanecer em liberdade até que o Estado providencie vaga em estabelecimento adequado. (c) cumprir sua pena em regime domiciliar. (d) deve invocar o entendimento do STF no sentido de (i)garantir a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto. Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao sentenciado. Questão 4 Analise se as afirmações abaixo, referidas aos fins da pena, e, após, indique se cada uma delas é verdadeira (V) ou falsa (F) à luz da ordem jurídica brasileira. (V) O fim da pena, do ponto de vista judicial, é permitir a reinserção e reintegração da pessoa condenada na vida em sociedade, visto que o Estado não dar respostas de vingança. (V) A pena, e o direito penal como um todo, protegem a sociedade de práticas delituosas, sendo esse o parâmetro punitivo do Estado. (F) Do ponto de vista teórico, a doutrina dominante afirma que a pena serve para reforçar a vigência da norma violada. (F) Pelo Código Penal, a pena deve ser aplicada para intimidar potenciais infratores da lei. Questão 5 Indique se cada uma das afirmações seguintes é verdadeira (V) ou falsa (F). (_V_) Diante da gravidade do aprisionamento para a liberdade do apenado, permite-se a denominada progressão de regime per saltum (por salto). Entretanto, isso é possível apenas nos casos em que a pessoa condenada já descontou tempo de pena suficiente para tanto. (_V_) Jamais a falta de estabelecimento penal adequado autoriza a manutenção do condenadoem regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS. (_V_) O exame criminológico é uma condição obrigatória para a progressão de regime, especialmente nos delitos mais graves. (_V_) A pessoa condenada por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou. (_F_) A reincidência determina que o regime inicial de cumprimento da pena seja obrigatoriamente o fechado. (_F_) Considerando-se que o nosso Direito Penal está vinculado ao fato (direito penal do fato) tem-se que a consideração das consequências do crime é irrelevante para a determinação do regime inicial de cumprimento de penal (_V_) Veda-se o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão de sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito, nos termos do entendimento sumulado tanto pelo STJ quando pelo STF.
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