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MENDONÇA E DIAS cap_4

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4. Impactos, riscos, vulnerabilidade e resiliência socioambientais 
A dinâmica acelerada das paisagens instáveis incita a discussão acerca dos 
impactos socioambientais que o mundo experiencia há décadas. Diversas são as 
variáveis que implicam nesse cenário, entre elas estão as concepções dos riscos e 
vulnerabilidades sociais e ambientais por meio de uma pretensiosa análise sobre a 
ótica do pensamento crítico. 
Teorias que fundamentam estudos socioambientais e metodologias que 
servem de exemplo serão evidenciadas, principalmente o Sistema Socioambiental 
Urbano (S.A.U). Expostas tais relações, são então apresentadas medidas que podem 
culminar no despertar da consciência popular sobre a temática ambiental, 
exemplificando a política e as condições de vida das populações no globo. 
Nesse aspecto, apresenta-se o conceito de resiliência e a capacidade dos 
seres humanos e dos ambientes de se recuperarem. 
Os impactos ambientais podem ser compreendidos como 
Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio 
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das 
atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: a saúde, a 
segurança e o bem estar da população; as atividades socioeconômicas; o meio 
biótico e abiótico; as condições estéticas e sanitárias ambientais e a qualidade dos 
recursos ambientais. (Brasil, 1986) 
Impactos ambientais dizem respeito, diretamente, aos processos de 
transformação e degradação do meio ambiente causados pelas atividades humanas. 
Esses ambientes degradados passaram a constituir motivo de preocupação, de forma 
mais explícita, há algumas décadas, quando a queda na qualidade de vida no meio 
urbano tornou-se mais evidente, o que decorreu na crise ambiental urbana (Mercer, 
2016). 
As transformações impregnadas pelas sociedades à natureza são, na maioria 
dos casos, muito difíceis ou mesmo impossíveis de recuperação. Essa situação torna-
se mais intensa quando nos deparamos com tecnologias e novas descobertas 
científicas que apontam para a aceleração do desenvolvimento econômico, 
inconsequente que se dá em face de princípios ecológicos e de justiça social. 
Observa-se, assim, uma clara contradição na relação sociedade-natureza, pois, 
ao mesmo tempo em que degradam a natureza e o meio ambiente, os seres humanos 
não conseguem desenvolver sua vida em ambientes marcados pela poluição do ar, do 
solo e da água, e também pela incorreta destinação de rejeitos etc. Considerando 
essa contradição e complexidade de situações, neste capítulo abordaremos os riscos 
e as vulnerabilidades socioambientais, temas dos mais caros à analise ambiental 
contemporânea, e que demanda de ambientalistas, científicos e políticos 
conhecimento para uma tomada de decisão mais coerente. 
Um estudo exitoso dos problemas socioambientais é, geralmente, elaborado 
tendo por base teorias e metodologias de caráter sistêmico e multi ou interdisciplinar, 
pois os problemas dessa ordem não cabem somente no âmbito de uma disciplina, 
como visto anteriormente. Os problemas atinentes ao ambiente urbano, por exemplo, 
não pertencem somente ao campo da arquitetura, do urbanismo, da engenharia ou da 
geografia. A poluição atmosférica urbana, por exemplo, demanda um conjunto de 
profissionais – cientistas e técnicos, da gestão pública da cidade, do terceiro setor etc. 
– para ser devidamente solucionada. 
Nesta parte da obra enfocaremos os problemas relacionados ao fenômeno da 
urbanização, notadamente porque a população da Terra é, neste momento, 
sobretudo urbana, o que demanda uma atenção especial da ciência e da gestão 
publica. Segue-se a discussão fazendo-se referência à constituição da sociedade de 
risco que apresenta fatores concernentes ao processo de globalização. A ideia de 
sustentabilidade aparece como a grande promessa capaz de resolver o impasse 
meio ambiente versus economia, e, por fim, o conceito de resiliência fornece 
argumentos para compreender melhor as desventuras que assolam populações em 
todas as partes do planeta. 
4.1 Riscos e vulnerabilidades socioambientais 
As cidades evidenciam, cada vez mais, ambientes degradados e problemas 
graves de fundo social (violência, altos índices de criminalidade e homicídios, pobreza, 
desemprego) e de fundo físico-natural (poluição hídrica, poluição do ar, poluição dos 
solos, perda ou degradação da vegetação etc.), e demandas psicossociais rogam por 
gestores dispostos a resolvê-los. 
Os cenários de degradação da natureza não são especificidades dos séculos 
XX e/ou XXI, mas sim problemáticas marcantes de todos os momentos históricos em 
que as sociedades humanas exploraram a natureza para além de suas condições de 
autorregeneração. Durante e após o processo da Revolução Industrial a degradação 
da natureza se efetivou de maneira cada vez mais intensa. As cidades, por exemplo, 
passaram a atestar cada vez mais a ausência ou insuficiência de saneamento básico e 
de moradia adequada, a poluição atmosférica e dos rios e a precariedade das 
condições de vida para a maioria da população. 
Figura 4.1 – Escravos despejando excrementos no rio – Litografia de Fleuiss 
 
Figura 4.2 – Papa Paulo VI visita favela em Manila (Filipinas), 1970 
 
 
 
 
 
 
 
 
A indústria, como integrante fundamental do processo da modernidade – 
urbanização –, desenvolveu-se à custa da precarização social e máxima exploração 
dos recursos naturais. A partir do final do século XVIII, na Europa central, por exemplo, 
tornaram-se flagrantes as péssimas condições de vida dos proletários e dos operários, 
bem como a intensa degradação das áreas de exploração de carvão mineral que 
proporcionou as bases para o desenvolvimento do capitalismo no Estado Moderno. 
O êxodo rural, um processo marcante do final do Mercantilismo e do início do 
Capitalismo na Europa central, foi marcado pela saída dos trabalhadores do campo 
em direção às cidades. Essa migração tinha como fim encontrar condições para a 
sobrevivência, fazendo com que as cidades, sem preparo para recebê-los dignamente, 
gerassem espaços e ambientes fortemente degradados. Guerra e Marçal (2006) 
consideram que as revoluções agrícola e industrial (séculos XVIII e XIX) ocuparam 
regiões – os campos –, anteriormente utilizadas para o sustento da população, e em 
razão disso os recursos naturais foram explorados com afinco para suprir as 
necessidades do sistema de produção capitalista. Tempos depois essa situação torna-
se amplamente comprovada quando se observa a devastação de áreas e regiões nas 
quais se explorou recursos naturais de interesse do processo industrial. 
Mas num contexto de intensa e flagrante diferença de classes, como é a 
sociedade capitalista, nem todos sofrem os impactos da degradação do ambiente da 
mesma forma. Torna-se, então, imperativo averiguar as situações de riscos e 
vulnerabilidades a que as populações estão submetidas. Assim, parece haver um 
consenso de que quanto menor a qualidade de vida, mais exposição ao risco uma 
sociedade terá. 
Dessa forma, qual a diferença entre os riscos e as vulnerabilidades? 
De antemão, um exemplo facilita a compreensão e atenta para as diferenças e 
semelhanças, já que os dois conceitos se complementam. 
Um indivíduo que reside em uma área de relevo plano com sua casa bem 
próximo de determinado rio em área tropical é, corriqueiramente, vitimado por 
alagamentos e/ou inundações. Ele é vulnerável a enchentes, alagamentos, doenças, 
perdas material e humana, ou seja, está situado em um ambiente vulnerável. A 
vulnerabilidade é promovida por uma diversidade de fatores (sociais, econômicos, 
políticos, culturais, educacionais etc.) associados às condições de vida de dada 
população. 
Mas não haveria problema para esse indivíduo se ele não morasse nesse local 
e se, ao mesmo tempo, as chuvas não provocassem as inundações e alagamentos da 
área. É essa condição, de origem natural, que nos permiteidentificar a formação dos 
riscos naturais ao caso em tela; ou seja, as inundações (associação entre chuvas 
concentradas e relevo plano), por exemplo, constituem um risco natural que afeta a 
vida das pessoas e a economia de dada localidade. 
Mendonça (2010, p. 156) cita outras influências a essas adversidades: “Uma 
das principais dimensões dos riscos, e de interesse das sociedades, é sua expressão 
espacial, ou seja, os riscos são espacial e temporalmente datados”. São espaciais por 
acontecerem em determinado local, igual ao que serviu de exemplo nos parágrafos 
anteriores, e também possuem uma temporalidade, pois acontecerão em um período 
determinado tempo. 
Um recurso às concepções de risco e vulnerabilidade se impõe nesse 
momento. Primeiramente é necessário ter ciência de que o termo risco surge: 
com o próprio processo de constituição das sociedades contemporâneas, a partir 
do final do Renascimento e início das revoluções científicas, quando ocorreram 
intensas transformações sociais e culturais associadas ao forte impulso nas 
ciências e nas técnicas, às grandes navegações e à ampliação e fortalecimento do 
poder político e econômico de uma nascente burguesia. (Freitas; Gomez, 1996, p. 
486) 
Atualmente, a conotação dada a esse termo provém da teoria das 
probabilidades, implicando certa previsibilidade, graças ao conhecimento prévio. 
Embora esse conceito seja “associado ao potencial de perdas e danos e de magnitude 
das consequências, até o período anterior à Revolução Industrial o que dominava era 
sua compreensão como manifestação dos deuses” (Freitas; Gomez,1996, p. 487). E 
tais riscos, atualmente concebidos como “naturais”, figuravam no sentido de castigos 
divinos, ou sobrenaturais, e somente foram desmistificados na modernidade. Freitas e 
Gomez (1996, p. 488) apresentam um discurso proferido por Rousseau em 1756 
acerca de um terremoto em Lisboa colocando que: 
A maior parte de nossos males físicos são obra de nós mesmos. [...] admiti, por 
exemplo, que, se não tivéssemos permitido a construção de um aglomerado de 
vinte mil prédios, de seis a sete pavimentes naquela grande cidade, e se os 
habitantes estivessem distribuídos de modo mais uniforme, alojados 
espaçadamente, a destruição teria sido muito menor, quase nenhuma [...]. 
(Freitas; Gomez, 1996, p. 488) 
Mesmo rara para sua época, essa constatação é válida para os dias de hoje, 
ou seja, a natureza não é culpada pela grande parte dos graves problemas 
socioambientais que vitimam as sociedades atuais. Não se trata do retorno ao 
malthusianismo, mas, sobretudo, da forma como se desenvolvem e se estabelecem os 
assentamentos humanos, notadamente quando se analisam as áreas sujeitas a riscos 
naturais e a vulnerabilidade dos grupos sociais nelas instaladas. 
O cenário de riscos naturais é extremamente paradoxal na atualidade, pois, 
exatamente no momento de maior desenvolvimento científico e tecnológico da 
humanidade, é quando se registram os mais graves e intensos impactos dos 
fenômenos naturais sobre parcelas da sociedade. Em determinadas situações a 
potencialidade dos riscos coloca a todos em condição de fragilidade, mas o que se 
observa é que ela se revela bastante diferenciada quando da efetivação do perigo 
posto que a chamada “bomba atômica dos pobres” tem exacerbado os impactos sobre 
eles. 
Segundo Mendonça (2010, p. 156) “a noção de risco introduz uma nova 
perspectiva na abordagem e gestão do espaço e dos territórios, sejam eles urbanos ou 
rurais, litorâneos ou continentais, naturais ou fortemente alterados [...]”. Mas é preciso 
entender os riscos para além de sua gênese natural, especialmente no contexto da 
sociedade de risco, como o ponderou Ulrick Beck. Nesse sentido, Mendonça (2004, p. 
155) considera que “estudiosos desta temática são concordantes em conceber o risco 
segundo três dimensões [...], os riscos naturais, os riscos tecnológicos e os riscos 
sociais”. 
 Riscos naturais: São fenômenos que têm origem na própria dinâmica da 
natureza, por exemplo: terremotos, inundações, furacões, incêndios florestais etc. Sua 
gênese está fortemente atrelada à própria natureza dos lugares, mas também podem 
ser intensificados pelo homem. 
 Riscos tecnológicos: Em acordo com a sociedade de risco eles derivam 
notadamente do avanço técnico-tecnológico auferido pela sociedade no período pós-
Revolução Industrial, tendo se agudizado no momento atual. Estão, em geral, 
associados ao processo produtivo no âmbito da urbanização-industrialização do 
planeta. Por exemplo: armazenamento, produção e transporte de produtos perigosos, 
redes de transmissão elétrica, usinas nucleares, uso de equipamentos 
eletroeletrônicos, uso de produtos químicos na agricultura, transporte de pessoas etc. 
 Riscos sociais: Tem origem no processo de segregação da sociedade, 
especialmente quando se trata da diferenciação de classes e da questão racial, na 
medida em que parte importante da sociedade encontra-se alijada dos resultados 
benéficos da produção capitalista moderna. Essa exclusão verifica-se principalmente 
nas periferias sociológicas, geralmente também geográficas, dos grandes centros 
urbanos de países como o Brasil, em razão do empobrecimento da população 
associado à especulação imobiliária. 
Nesse contexto de disputas resta às populações mais carentes a única 
possibilidade de assentamento em locais fragilizados, sem segurança para a 
habitação e destituídos das condições mínimas para a vida digna – um flagrante de 
injustiça social. Para essas pessoas, que formam um expressivo contingente da 
população, não resta alternativa senão a ocupação de áreas frágeis e em condições 
de risco. 
No entanto, os riscos sociais explicitam outras situações também importantes, 
como a habitação em locais de risco. Toma-se, por exemplo, o contexto da crescente 
e absurda criminalidade que assola as grandes e cidades médias do país e se verá, 
claramente, a cotidiana exposição das pessoas aos mais diferentes atos de 
delinquência, roubo, homicídios etc. Para além dessas situações, figura, também, a 
ação policial desenfreada e descontrolada, o tráfico de drogas, a violência banal no 
momento dos grandes eventos esportivos etc. Ou seja, a perversa concentração da 
renda no país deixou a sociedade em riscos extremamente altos no seu cotidiano os 
quais, de maneira evidente, colocam a população negra e pobre como a mais vitimada 
na sociedade. 
Contudo, os riscos devem ser compreendidos como uma construção social. Os 
riscos não se formam isolados dos contextos históricos, eles são frutos das condições 
reinantes em dado momento e em dado lugar. Os riscos atuais são essencialmente 
distintos daqueles de outros tempos, e não há risco para a natureza, nem para as 
máquinas nem para os deuses. Os riscos dizem respeito essencialmente às 
sociedades, posto que são os homens e mulheres, aqueles que formam a sociedade, 
os impactados por um fenômeno de origem natural, tecnológica ou social. 
Todavia, raramente um tipo de risco se manifesta isolado; há sempre uma 
associação entre sua origem e as condições de dado contexto histórico-social-
economico-cultural-tecnológico, assim pode-se afirmar que os riscos são, em sua 
essência, sempre híbridos. Uma inundação, por exemplo, tem sua gênese na natureza 
(clima e relevo), mas torna-se um risco somente quando atinge populações e/ou áreas 
de interesse para a produção econômica social; idem para um risco tecnológico e 
social, o que confirma a condição de os riscos serem, sobretudo, riscos híbridos. 
Já o termo vulnerabilidade foi amplamente propagado dentro do movimento 
dos direitos humanos na década de 1980, e servia para caracterizar melhor indivíduos 
em condições favoráveis e suscetíveis ao vírus HIV e à aids. Conforme percebido, tal 
enunciação foi difundida nas ciências da saúde e, por ser algo de ordem pública, 
impactando e gerando consequências para a sociedade, alicerçou-se tambémjunto às 
ciências humanas. A vulnerabilidade “envolve um conjunto de fatores que pode 
diminuir ou aumentar o(s) risco(s) no qual o ser humano, individualmente ou em grupo, 
está exposto nas diversas situações da sua vida” (Esteves, 2011, p. 69). 
Assim, verifica-se que os riscos têm seus impactos acentuados quando 
acometem determinadas populações, ou seja, os impactos dos riscos se distribuem de 
forma diferenciada sobre a sociedade. Essa diferenciação constitui-se numa 
consequência direta dos distintos aspectos econômicos, educacionais, tecnológicos, 
culturais, políticos etc. da sociedade. A identificação dessas diferenças coloca-se 
como uma premissa fundamental, ou seja, a identificação da vulnerabilidade a dado 
risco constitui-se em uma das primeiras instâncias da análise e previsão de riscos na 
atualidade. 
Nas áreas urbanas, por exemplo, a vulnerabilidade aos riscos expõe sempre 
situações muito evidentes. Magalhães (1994) trata da cronologia dos processos de 
alteração da paisagem nas áreas urbanas em três fases: 
1) A transformação do pré-urbano para o urbano inicial, marcada pela remoção da 
vegetação e a construção das primeiras casas, o que vai aumentar a vazão dos rios e 
de sua sedimentação etc. (Santos, 2007); 
2) A construção de mais casas e edifícios, a impermeabilização dos solos pelos 
calçamentos, diminuindo a infiltração da água e seu escoamento superficial, a 
insuficiente rede de tratamento de esgoto e a poluição das águas etc.; 
3) O urbano avançado com a instalação de indústrias, construção de grandes edifícios 
residenciais e comerciais e a completa impermeabilização dos solos, enchentes, 
formação de ilhas de calor, chuva ácida etc. 
Figura 4.3 – Degradação ambiental urbana: poluição industrial, chaminés e esgoto 
 
As imagens exemplificam a poluição gerada pelas indústrias na atmosfera e 
despejos diretos em cursos hídricos, exemplos corriqueiros de impactos nas áreas 
urbanas e rurais que colocam a população em situações de risco socioambiental. 
O impacto causado por obras de engenharia (estradas, ferrovias, barragens etc.), 
por atividades de mineração a céu aberto, atividades industriais (incluindo as 
exigências de terrenos para indústrias), a malha de transporte e tantas outras 
ações aumentam as pressões sobre os recursos naturais, e certamente são os 
fatores que derivam na degradação do ambiente; nas áreas urbanas eles se 
apresentam de forma concentrada e são fortemente impactantes. (Dias, 2017, p. 
2) 
As cidades, em virtude das intensas mudanças promovidas pela urbanização 
moderna, são locais onde os impactos da degradação ambiental decorrem em maiores 
prejuízos, tanto econômicos quanto sociais. Mas as cidades também promovem 
alterações, por exemplo no clima. Elas alteram o balanço de energia, que se reflete na 
temperatura do ar e na umidade relativa, ocasionando o surgimento de ilhas de 
calor/frescor e, consequentemente, em conforto/desconforto térmico (Mendonça, 
20010, 2011). 
A intensidade de alteração dos ambientes e o impacto associado têm sido 
alertados por estudiosos dos problemas ambientais há tempos. Eles se amparam no 
quadro legal da gestão do ambiente, revisam-no e cobram do poder do Estado sua 
aplicação visando garantir a dinâmica dos ecossistemas e da sociedade humana 
(Dias, 2017). Importante ressaltar que a escala de análise dos estudos implicará 
diretamente o resultado final objetivado. Há processos que podem ser analisados na 
microescala, outros na meso e outros na macroescala. Muitas vezes a interação 
escalar é fundamental para uma compreensão satisfatória dos processos e elementos 
em interação em dada situação de risco e vulnerabilidade. 
Para além da perspectiva científica, técnica e política, é preciso também 
considerar a dimensão dos saberes tradicionais (ou vernaculares) das populações em 
situação de riscos. O conhecimento que determinadas sociedades gerou sobre seus 
lugares, justamente por sobre eles habitar há gerações e com eles conviver, causa 
nelas uma compreensão conhecimento intrínseca as suas dinâmicas, algo expresso 
muitas vezes nas suas próprias culturas. Apostar nessa dimensão é, certamente, uma 
atitude não somente de respeito para com as construções históricas de seus saberes, 
mas também uma potencialidade ímpar para resolver os problemas advindos dos 
impactos de um fenômeno. 
4.2 A “sociedade de risco” 
É bem verdade que a natureza uma vez modificada pelo homem pode se 
recompor, contudo não é possível fazê-lo até sua forma primitiva. Surge assim uma 
nova natureza, diferente da primeira... uma segunda natureza, ou natureza alterada 
(Mendonça, 2010, p. 155). 
Com o intenso processo urbano-industrial do último século, observa-se a 
formação de uma sociedade nova, com uma natureza mais alterada, ou pelos menos 
com outra configuração. Entretanto, ela é marcadamente resultante de uma nova 
lógica da relação sociedade-natureza embasada na exploração máxima de uma pela 
outra no processo de produção e reprodução capitalista. Beck (1998) ao analisar essa 
condição social predominante nas últimas décadas, cria a ideia de haver no planeta 
atual uma sociedade de risco, impregnada pela distribuição de perigos intrínsecos ao 
processo de globalização. 
Beck concebe o mundo dos anos 1980 através da globalização despontada no 
início da terceira Revolução Industrial impregnado por uma ampla tecnificação de 
espaços e processos. A tecnologia, assim, insere riscos às sociedades e ao meio 
ambiente. Para ele uma sociedade detentora de mais técnica possui mais 
probabilidade a riscos; por exemplo, uma população que constantemente usa o 
transporte aéreo está sujeita a um risco eminente de queda. 
A tecnologia acirra determinadas condições que outrora eram associadas à 
natureza, por exemplo, as intempéries sobre os homens. As intempéries afetam, 
atualmente, de maneira distinta os homens devido às diferentes condições 
tecnológicas dos grupos humanos. Surge, assim, a sociedade de risco, a nossa 
sociedade, da globalização e da tecnologia, que é tida como o grande acontecimento 
que nos posicionou em risco. Esse conceito, segundo Guivant (20010, p. 96) “cruza 
diretamente com o conceito de globalização”, também comentados por Beck (1998): 
Com a eclosão dos processos de globalização e de mudanças globais, no âmbito 
dos quais especula-se acerca da rápida e intensa alteração das paisagens, as 
discussões acadêmicas e políticas passam a articularem-se em torno das 
incertezas dos cenários futuros para o planeta; ganha destaque a constituição de 
uma sociedade de risco. (Beck, 1998 citado por Mendonça, 2011, p.113) 
A sociedade de risco reflete a modernidade e os efeitos da globalização, que 
podem ser imprevisíveis. Contudo, há estudiosos que acreditam ter ocorrido um leve 
exagero por parte de Beck que, ao traçar cenários para o mundo a partir do contexto 
europeu, comete um exagero ao generalizar condições eminentemente locais para 
dimensões globais; por exemplo, não se pode comparar o interior da Amazônia 
brasileira com a cidade de Berlim. No contexto europeu a tecnologia encontra-se muito 
mais impregnada e robusta, e coloca a sociedade muito mais em risco; todavia, no 
caso brasileiro e em tantos outros cenários parecidos, não. 
Figura 4.4 – Exemplos de riscos tecnológicos 
 
 
Legenda: A. Teste para detectar radiação; B. Explosão de plataforma de 
petróleo e derramamento de óleo; C. Explosão de refinaria em Israel em área urbana; 
D. Acidente com caminhão que transportava inflamáveis. 
Os problemas ambientais, que também evidenciam diferentes faces dos riscos, 
conforme já comentado, resultam de interações complexas. Eles se tornam mais 
graves quando verificados em países não desenvolvidos, onde sua repercussão sobre 
a sociedade se dá de maneira bastante catastrófica em razão da ausência de políticas 
públicas voltadas à promoção da qualidade de vida com segurança e respeito aos 
direitos humanos.Os impactos socioambientais e a vitimização da sociedade se processam de 
maneira profundamente distinta quando da ocorrência de um natural hazard em um 
país desenvolvido como o Japão ou os Estados Unidos e um país não desenvolvido 
como Bangladesh ou o Haiti. Mendonça (2010, p. 153) reflete sobre essas implicações 
ao considerar com: 
a perspectiva das mudanças climáticas globais, e a consequente intensificação do 
calor e da urbanização, particularmente nos países não desenvolvidos, estima-se 
que haverá uma exacerbação dos riscos e das vulnerabilidades socioambientais 
urbanos, embora esta condição não seja decorrência única e exclusiva daquela. 
(Mendonça, 2010, p. 153) 
As escalas de ocorrência desses processos também devem ser alvo de 
discussão visto que tais situações podem acontecer tanto nos grandes centros 
urbanos quanto em cidades pequenas ou comunidades locais e mesmo nas áreas 
rurais. As diferenças de desenvolvimento social e econômico das populações refletem-
se diretamente na capacidade de fazer face aos impactos dos desastres naturais e, 
por conseguinte, na intensidade dos perigos ou riscos socioambientais. 
Os aglomerados subnormais – termo empregado pelo Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística (IBGE) para designar favelas, ou áreas destituídas de 
condições mínimas para a vida urbana – constituem áreas nas quais os riscos 
socioambientais atingem proporções alarmantes, pois ali se observam indicadores de 
altíssima vulnerabilidade social. Em espaços exíguos se observa grande densidade de 
pessoas e construções, enquanto em extensos espaços da cidade há o privilégio do 
pouco adensamento. Os aglomerados subnormais estão, geralmente, situados em 
áreas sujeitas a inundações, movimentos de massa etc., e são também aqueles de 
mais alta vulnerabilidade no âmbito das cidades. 
Figura 4.5 – Segregação socioespacial (esquerda) e habitação em área de risco na 
capital paulistana (direita) 
 
A grande segregação das cidades brasileiras, proveniente da má distribuição 
de renda e da especulação imobiliária, está na gênese dos graves riscos 
socioambientais urbanos brasileiros. 
O processo de adensamento populacional nas cidades não será freado tão 
cedo, pois ele é fruto e impulsionador do sistema econômico excludente que impera no 
país. Conforme Santos (1993, p. 10): 
Ao longo do século, mas, sobretudo, nos períodos mais recentes, o processo 
brasileiro de urbanização revela uma crescente associação com a pobreza, cujo 
locus passa a ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo a grande cidade. O campo 
brasileiro moderno repele os pobres, e os trabalhadores da agricultura capitalizada 
vivem cada vez mais nos espaços urbanos. 
Constata-se assim que os impactos socioambientais são mais expressivos 
no ambiente urbano, pois é ali que há mais vítimas quando comparado às áreas rurais. 
A cada vez mais expressiva densidade urbana, que resulta em maiores contingentes 
populacionais expostos aos riscos, é uma consequência direta da associação entre o 
êxodo rural e o crescimento vegetativo urbano; a cidade tem sido alardeada como o 
locus do desenvolvimento, do sucesso financeiro e da realização plena da vida, enfim 
o exemplo máximo do meio técnico-científico-informacional concebido por Milton 
Santos. 
É nesse período histórico que a concepção da cidade como ambiente urbano 
vai se consolidar, sobretudo pelo processo de urbanização corporativa (novamente 
uma concepção de Milton Santos). No entanto, é fato que o processo de 
desenvolvimento desigual e injusto gerou espaços e cidades totalmente distintos no 
mundo, visto que dinâmicas e processos seguiram períodos históricos de ocupação, 
lógica de planejamento e ordenamento e avanços tecnológicos bastante diferenciados. 
Dessa forma, considerando que a lógica da urbanização resulta também de 
sua busca por ofertas, a discussão e os esforços devem ser em prol de iniciativas e 
alternativas que revertam e/ou limitem o processo de degradação do ambiente urbano. 
Constituindo-se, pois, num ambiente complexo, os problemas socioambientais 
urbanos colocam em xeque as capacidades da ciência, da técnica, da tecnologia e da 
política na perspectiva de encontrar soluções teóricas e práticas para os mesmos. O 
Sistema Socioambiental Urbano (S.A.U.) constitui-se numa das perspectivas para a 
compreensão e gestão dos problemas socioambientais urbanos, como se verá a 
seguir. 
4.3 Sistema Socioambiental Urbano (S. A. U.) 
Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a 
Agricultura) de 2015 indicam que a perda de cinco milhões de hectares de terras 
aráveis por ano se dá devido às más práticas agrícolas, secas e pressão 
populacional, além de inúmeras atividades humanas de exploração inadequada 
dos recursos naturais. (Dias, 2017, p. 1) 
As cidades podem ser consideradas o palco das principais, concentradas e 
grandes atividades agressivas ao meio ambiente natural, o que resulta no fato de que 
os ambientes urbanos são, em geral, altamente degradados. 
Verificando a situação alarmante da degradação ambiental urbana, sobretudo 
concernente à formação de ilhas de calor, ocorrência de inundações e crescente 
poluição atmosférica, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro (1976) utilizou princípios 
da teoria geral dos sistemas e criou o “Sistema de Clima Urbano” (SCU). Seu 
propósito era auxiliar na promoção da melhor gestão socioambiental da cidade dentro 
da lógica sistêmica. Para tanto tratou do ambiente urbano através da interação entre 
elementos e fatores que compõem a atmosfera urbana e a cidade. 
Figura 4.6 – SCU – Sistema Clima Urbano de Monteiro (1976) (Simplificado) 
 
Fonte: Andreotti; DIAS, MENDONÇA, 2017. 
Sistematizando uma metodologia prática e simples de compreender, o 
professor Monteiro formou as bases para a compreensão e gestão dos problemas do 
clima urbano, um dos elementos fundamentais do estudo do ambiente da cidade. Na 
sua proposta, um tanto inovadora para o momento histórico no qual foi construída, 
entende-se que há um considerável avanço na perspectiva de analisar, de forma 
integrada, a sociedade e a natureza, sobretudo porque os problemas socioambientais 
urbanos têm uma característica de transversalidade disciplinar. 
O conceito de ambiente urbano reside na ideia de um ambiente artificial que, 
mesmo possuindo elementos oriundos da natureza, é transformado pelo ser humano 
conforme suas necessidades (Freire, 2010). 
Mendonça esquematiza o ambiente urbano separando a dimensão da 
qualidade de vida (elementos de ordem física-natural) das condições de vida 
(elementos de ordem humana-social) da cidade, da seguinte maneira: 
Figura 4.7 – Ambiente urbano (Mendonça, 2004). 
 
Fonte: Mendonça; Dias, 2017. 
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento/Oficina de Serviços 
para Projetos das Nações Unidas (PNUD/UNOPS) elaborou na década de 1990 um 
documento com direcionamentos sobre a gestão do meio urbano na América Latina. 
Os urbanistas e estudiosos autores da obra conceberam que o “meio ambiente urbano 
é o processo de intercâmbio entre a base natural de uma cidade, a respectiva 
sociedade ali existente e a infraestrutura construída, consequentemente, o ambiente 
urbano é o resultado de diversos processos de interação [...]” (Mendonça, 2004, p. 
195). Diferentemente do ambiente urbano de Mendonça (que o concebe em duas 
partes, a natural e a social), esse documento entende que o ambiente urbano é 
formado por três subsistemas: o natural, o construído e o social. 
Figura 4.8 – Dinâmica da Problemática Ambiental Urbana 
 
Fonte: PNUD/UNOPS, 1997, p. 65. 
Entretanto, esse ambiente não envolve apenas o perímetro das cidades, 
compreendendo as atividades que fornecem matéria-prima para a indústria, algo que 
Lefebvre (2003) aponta como fruto desse processo, o fenômeno da urbanização, 
quando indústrias invadiram espaços que depois se tornaram as cidades de hoje. 
Mendonça (1993, p. 154) tambémcompartilha dessa ideia colocando que 
os processos de industrialização são os grandes responsáveis pela degradação 
do meio ambiente urbano, que sequenciou o modelo de desenvolvimento 
concentrador dos benefícios e de forte impacto sobre a queda da qualidade de 
vida da sociedade como um todo; sendo a qualidade do ar um dos importantes 
impactos negativos deste processo sobre a população. 
Mendonça et al. (2016, p. 134) colocam que: 
os níveis de poluição atmosférica em áreas urbanas apresentam diferentes 
valores e espacialidades, que estão na dependência de vários fatores. Dentre eles 
destacam-se a urbanização, a industrialização, o sítio urbano, as áreas verdes, a 
quantidade e o fluxo de veículos, as condições meteorológicas etc. (Monteiro, 
1976; Mendonça; Danni-Oliveira, 2007) 
Castelhano et al. (2014, p. 2871), ao analisar os problemas da qualidade do ar 
da cidade de Curitiba, explicam a concepção da poluição atmosférica como sendo a 
inserção de qualquer substância dispare em seus componentes naturais, seja de 
origem natural ou antrópica, como exemplos: polens, bactérias e erupções vulcânicas 
(naturais), e a queima de combustíveis fósseis (derivadas das atividades humanas). 
A discussão atual sobre as mudanças climáticas coloca no centro dos debates 
o aquecimento global, a depleção da camada de ozônio, a elevação do nível dos 
mares etc. como consequências da queima de combustíveis fósseis, do 
desmatamento das florestas, da poluição dos oceanos, do aumento da frota de 
veículos etc. Grande parte desses processos tem sua gênese na urbanização-
industrialização do planeta, especialmente na fase da globalização. 
Considerando a problemática das mudanças climáticas globais, e a 
contribuição das cidades nesse processo, constata-se a necessidade de estudos 
voltados ao clima urbano, especialmente à poluição atmosférica, a fim de sanar e 
desenvolver o conhecimento acerca dos impactos da sociedade na natureza e, num 
processo de feedback, da natureza sobre a sociedade. 
Assim, os estudos de Monteiro (1976, 2003) e posteriormente de Mendonça 
(1993, 2003, 2015) acerca do clima, e as problemáticas a ele associadas, situam-se 
como marcos para os estudos do ambiente urbano. O estudo do clima e do ambiente 
urbano como um todo constitui em abordagens transversais e intermultidisciplinares 
dos problemas urbanos, envolvendo a ciência, a política e os citadinos. 
Ambas as metodologias, de Monteiro (1976 – S.C.U) e do PNUD/UNOPS 
(1997 – Sistema Ecológico Urbano) deram base para que Mendonça criasse, no início 
da última década, a proposta do SAU – Sistema Ambiental Urbano (S.A.U). Nessa 
proposta os problemas atinentes ao ambiente urbano são concebidos como 
resultantes da interação entre a natureza e a sociedade na cidade. 
Figura 4.9 – S. A. U. – Sistema Ambiental Urbano (Simplificado) 
 
Fonte: Mendonça, 2004, p. 201. 
O SAU é então um sistema aberto e característico de um enlace de relações 
que a sociedade estabelece com a natureza local (sítio urbano), sendo dinamizadas 
pelos atributos urbanos que geram, sobretudo nos países não desenvolvidos, 
problemas socioambientais urbanos de toda ordem. Compreender estes e suas 
relações é de fundamental importância para elaborar planos de correção dos 
problemas e garantir qualidade de vida urbana para os habitantes da cidade. 
Mendonça (2004, p. 203) coloca que os problemas socioambientais urbanos 
mais comuns são: a degradação/poluição do relevo, do ar, da água, do solo e da 
vegetação que, uma vez comprometidos, comprometem sobremaneira a qualidade da 
vida urbana; os resíduos sólidos urbanos, as inundações, os 
deslizamentos/movimentos de terra, as erosões, as ocupações irregulares 
(subnormais), o favelamento, a fome, a miséria, as doenças transmissíveis, 
parasitárias, as neoplasias etc. 
Essa proposta, como várias outras, contribui para a elaboração do 
Planejamento e Gestão Socioambiental Urbana, atividade necessária para a correção 
dos atuais problemas socioambientais urbanos e também para a prevenção de 
problemas futuros. O planejamento e a gestão ambiental constituem-se nos temas 
principais a serem tratados no capítulo seguinte. 
4.4 A consciência popular para a mudança com sustentabilidade e resiliência 
É complexo e paradoxal pensarmos na proteção e conservação da natureza, 
na defesa do meio ambiente, quando nos damos conta da expressiva parcela da 
população que vive em condições desumanas, na pobreza e na miséria. A abordagem 
das questões ambientais não logrará sucesso se for feita como se o meio ambiente 
estivesse à parte das questões sociais, pois não se pode promover a melhoria da 
qualidade ambiental sem se promover a qualidade de vida dos homens... sem justiça 
social não há justiça ambiental. 
Os impactos à natureza e o efetivo comprometimento dos ecossistemas serão 
claramente mais evidentes nos locais nos quais os homens e suas sociedades 
também estão degradados, nos quais perderam a dignidade da vida humana, nos 
quais impera a exploração dos homens pelos homens. Para a efetiva recuperação das 
áreas degradadas há que primeiro e conjuntamente se recuperar a qualidade de vida 
humana e o respeito aos seres sociais que habitam esses locais. 
Figura 4.10 – Habitações perto de curso hídrico (Kathmandu, Nepal) 
 
A construção de moradias perto de rios e áreas de risco é uma alternativa 
encontrada pelas populações que não possuem capital para se estabelecerem em 
locais com segurança habitacional. Essa realidade registra graves problemas 
socioambientais com grandes riscos devido à alta vulnerabilidade dos assentamentos 
humanos: doenças, inundações, miséria etc. 
Figura 4.11 – Condições precárias de subsistência (Kathmandu, Nepal) 
 
As figuras 4.10 e 4.11 ilustram as condições precárias a que estão submetidas 
populações, sobretudo as dos países considerados subdesenvolvidos, como o Brasil. 
Dessa maneira, pode-se afirmar que a degradação ambiental é uma 
consequência direta do sistema de concentração de renda que impera no mundo 
atual. As classes altas da sociedade apropriam-se da natureza, a transformam e, com 
isso, degradam de maneira profunda os recursos naturais e os lugares de sua 
exploração e reprodução da riqueza, mas afastam de sua proximidade os resíduos daí 
derivados. As classes menos abastadas, os pobres e miseráveis, convivem com esses 
resíduos, evidenciando uma falsa imagem que associa a pobreza à degradação do 
ambiente; seus espaços são, aparentemente, os mais degradados, mas a gênese da 
degradação não lhes compete na totalidade. 
Alier (1992) afirma que tanto a riqueza quando a pobreza estão imbricadas nos 
processos de degradação. Ele coloca em evidência exemplos de camponeses que 
queimam até o último ramo de árvore para conseguir cozinhar ou se aquecer, ou ainda 
perdem seus solos pelo intenso produzir contrário ao ciclo natural, por não possuírem 
tempo nem dinheiro para a compra de fertilizantes que beneficiem mais o volume 
pedológico. Ao mesmo tempo apresenta as grandes empresas transnacionais que 
exploram até os últimos elementos de jazidas minerais, madeireiras, do agrobusiness 
etc., sem qualquer respeito para com a necessária dinâmica da natureza. 
“Os ambientes desagradáveis, degradados e altamente problemáticos são 
também produzidos onde uma grande parcela da população reside sendo necessário 
buscar melhorias” (Mendonça, 2004, p. 193). O desenvolvimento sustentável vai 
representar, segundo Jacobi (2004), essa possibilidade de mudanças sociopolíticas, 
entretanto, desde que não comprometa sistemas ecológicos nos quais as populações 
se concentram; o desafio está em amenizar a exploração e a degradação que assola, 
através de riscos variados, desigualmente a população. 
Porto Gonçalves (1990) desperta-nos para alguns questionamentos 
fundamentais para a reflexão acerca dos problemas derivados da relação entre a 
sociedade e a natureza, tais como: 
 Quando falamosque “o homem está destruindo a natureza”, de que homens 
estamos falando? 
Os indígenas também são esses homens e não destroem a natureza, pelo 
menos no nosso imaginário de paraíso perdido, de um “bom selvagem”. É preciso 
pensar nesse homem sob determinadas formas de organização social, no seio de uma 
cultura, e não no homem como categoria genérica... afinal que homens degradam a 
natureza? 
Também se levanta a questão sobre as pessoas que buscam a vida no campo 
e/ou meio rural, lugares mais distantes dos centros urbanos. Será que esses também 
não degradam o ambiente? Como tratam o esgoto que produzem? Como se aquecem 
no inverno? Quais os ecossistemas destruídos para a construção de suas casas? 
Fica claro dizer que a organização da sociedade e seus padrões de consumo é 
que levam à degradação ambiental, pois, “sem dúvida, a riqueza é a causa principal 
da degradação ambiental, já que o consumo derrocador de energias e materiais é 
maior entre os ricos, assim como os seus rejeitos” (Alier, 1992, p. 13). 
Tais questionamentos aguçam o entendimento das problemáticas e das 
relações que fazem parte de nossa vida, sendo que tudo está em permanente 
interação. Trata-se da visão fragmentada e reduzida da realidade do homem moderno, 
a qual não lhe permite entender a intrínseca relação entre particularidades e o todo. 
Atingindo essa consciência, torna-se mais fácil tratar os problemas ao mesmo tempo 
que um desafio, até porque, após esse entendimento, passamos a ser responsáveis 
pelas nossas ações degradantes para com o ambiente. De posse disso, é possível 
pensar e de fato promover mudanças, mesmo que elas circundem o perímetro de 
nossas ruas e cidades. 
Essa sensibilidade e consciência, que aqui enfatizamos como necessária para 
a promoção da mudança, em alguns casos, se apresentam de forma brusca e forçosa 
como quando indivíduos têm que conquistar capacidades para resistir aos impactos 
dos riscos socioambientais. Nesse âmbito, evoca-se a concepção de resiliência, 
apresentada por Mendonça (2011) como sendo as “variações individuais e/ou em 
resposta aos fatores de risco, e refere-se, em geral, à capacidade de um ambiente, ou 
sociedade, de voltar às condições anteriores após ser impactada/vitimada por um 
evento de caráter extremo (natural ou social/tecnológico)” (Mendonça, 2011, p. 114). 
Uma vez vitimados por desastres naturais, por exemplo, as pessoas e os 
lugares reagirão de forma distinta. A resiliência ambiental diz respeito, exatamente, à 
capacidade de voltar às condições anteriores ao impacto, seja o indivíduo, a 
coletividade, seja o lugar afetado. Todavia, é bastante claro na modernidade que a 
capacidade de resiliência de uma sociedade ou lugar tem a ver, diretamente, com o 
estágio do desenvolvimento material, intelectual e emocional dos grupos. Nos países 
não desenvolvidos a resiliência socioambiental constitui-se um desafio de extrema 
envergadura, posto a elevada vulnerabilidade das sociedades desses países. A 
educação ambiental constitui-se, nesse contexto, uma importante perspectiva para 
não somente atuar na construção da resiliência dos lugares e comunidades, mas, 
sobretudo, para auxiliar na prevenção dos riscos e desastres. 
Pode se falar em um “ecologismo pela sobrevivência”, algo que Alier (1992) 
indica ser um ecologismo carregado de subordinação e dependência. Questionando 
qual o real valor da natureza para os pobres, Alier crê que essa valorização vai 
acontecer quando a perda impossibilitar o sustento, promover a escravização e 
extinguir a saúde e dignidade. O autor apresenta a luta de Gandhi e nos direciona a 
refletir sobre esse e tantos outros movimentos sociais que eclodiram por questões 
socioambientais – sabe-se que a desobediência civil praticada por Gandhi teve seu 
estopim após a exploração dos recursos naturais e sociais da Índia, por conta da 
colonização inglesa. No Brasil, Chico Mendes, seringueiro, lutou e morreu em prol de 
seus ideais ecologistas, mas também o fez por não mais aceitar a exploração de seu 
lugar e seu povo. 
Nota-se nessa perspectiva outra dimensão que deve ser considerada nas 
averiguações de impactos: a cultural. O meio ambiente agrega a dimensão cultural e a 
diversidade deve fazer parte do conjunto que possibilita essa análise. Algo que explica 
o motivo pelo qual os índios de pouco contato com o mundo ocidental exploram seu 
hábitat e, apoiados no conhecimento vernacular, compreendem os processos que a 
natureza realiza e com ela interagem. 
Assim, a consciência popular para a mudança é necessária. Todavia, em 
muitos casos, ela resulta de ações através da força, ou contra a vontade dos 
indivíduos, principalmente os mais pobres, sujeitos a riscos e vulnerabilidades e que 
se tornam capazes de lidar com adversidades, o que é aqui apresentado pelo conceito 
de resiliência. 
O discurso de sustentabilidade, tratado no capítulo 2, foi retomado a fim de 
elucidar novas reflexões e questionar até que ponto ele é verdadeiro, atendendo a seu 
propósito máximo de utilizar os recursos naturais sem esgotar, de garanti-los às 
futuras gerações, ou é falso, privilegiando os propósitos dos mercados econômicos e 
os lucros das grandes potências mundiais.

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