Buscar

Aula 19

Prévia do material em texto

19
Meta da aula
Apresentar a dinâmica do processo de (re)configuração de 
espaços e paisagens para o turismo contemporâneo. 
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, 
você seja capaz de:
identificar práticas sociais que constroem e fomentam 
interesses por lugares e destinos turísticos;
abordar as mudanças na configuração de espaços e 
paisagens, evidenciando as atuações públicas para o 
desenvolvimento urbano e turístico.
Pré-requisito
Para que você encontre mais facilidade na compreensão 
desta aula, sugerimos que releia a Aula 18.
1
2
Reconfiguração de espaços e 
paisagens para o turismo
Andreia Pereira de Macedo
8
Aula 19 • Reconfiguração de espaços e paisagens para o turismo
Introdução
Na aula passada, realizamos uma reflexão sobre a produção de 
espaços que estabelecem e difundem formas de apropriação de 
lugares turísticos, as quais podem ser consideradas superficiais 
em termos de uma experiência social autêntica do turista com o 
lugar visitado. Assim, você já sabe que a atividade turística vem 
se revelando como um importante fator nas mudanças sociais e 
espaciais, com destaque especial nos centros urbanos, e que os 
lugares explorados pelo turismo impõem novos usos dos espa-
ços e práticas sociais locais. 
Pois bem, nesta aula, iremos refletir sobre alguns aspectos do pro-
cesso de reorganização de espaços e paisagens presentes no de-
senvolvimento do turismo na atualidade. Para tanto, iremos apro-
fundar a discussão sobre a importância do consumo visual para 
o turismo, evidenciando o processo de construção social de uma 
imagem prévia à realização da visita. Iremos mostrar, também, 
como essa construção está presente em imagens e produtos que 
despertam o interesse por lugares, principalmente quando são le-
gitimados como patrimônio histórico, artístico e cultural. 
O turismo organiza-se pelo deslocamento de pessoas atraídas 
por diversas motivações para determinadas localidades. Nessa 
perspectiva, podemos ressaltar a busca pelo afastamento do co-
tidiano por parte do viajante, como um relevante tema para a 
reflexão sobre a construção social tanto da necessidade de viajar 
como dos destinos turísticos, tendo em vista que o deslocamen-
to turístico é marcado por motivações e o destino das viagens, 
pelo anticotidiano. 
Sendo assim, o comportamento e as experiências dos viajantes 
e a situação da população local constituem-se em aspectos re-
levantes para a investigação sociológica dos efeitos produzidos 
pelo turismo nas localidades receptoras. Desse modo, a forma 
como os lugares se transformam em atrações turísticas, sobre-
tudo através de imagens e de símbolos, possui uma importância 
na explicação dos processos sociais ligados à dinâmica do turis-
mo na atualidade. 
Turismo e Sociedade
9
A construção social de lugares turísticos
Você já deve saber que o turismo sofreu profundas mu-
danças do ponto de vista histórico e estrutural, assumindo for-
tes tendências mercantis. Assim como outros setores econô-
micos, o turismo passou a ser subordinado às leis de mercado. 
Dessa maneira, o sucesso do desenvolvimento da atividade tu-
rística na atualidade está diretamente relacionado ao aspecto 
lucrativo, o que implica a adaptação dos destinos segundo os 
interesses do mercado e aos novos padrões de consumo.
Quais seriam as estratégias dessas mudanças nos territó-
rios e paisagens explorados pela indústria turística? 
Jonh Urry (2001) realiza uma abordagem crítica das trans-
formações dos destinos turísticos em lugares encenados, prática 
relacionada ao turismo de massa que produz atrativos sem qual-
quer vínculo com a cultura e com a realidade locais, reflexão que 
já realizamos nas últimas duas aulas. Contudo, uma das grandes 
contribuições desse autor está em sua análise sobre o desen-
volvimento e a mudança do “olhar do turista”. De acordo com o 
autor, o turista deixou de ter um olhar individual e romantizado 
para ter um olhar coletivo e sóbrio. Este olhar coletivo requer a 
presença de outros turistas, uma condição necessária para o su-
cesso dos lugares que são objetos de contemplação turística.
Urry reconhece que não existe um único olhar do turista, 
assim como uma experiência universal para todos os turistas 
em todos os tempos. Sua análise se limita aos últimos sécu-
los, período em que se difunde o turismo de massas em toda a 
Europa, América do Norte e em outras partes do mundo. Neste 
contexto, o autor destaca a importância da cultura pós-moderna 
no processo de construção e de mudança desse olhar, tendo em 
vista que a sua principal característica é a valorização da diver-
são, do prazer e da imitação. O novo olhar do turista também 
estaria atrelado à penetração da propaganda, da televisão e dos 
meios de comunicação, que muitas vezes conseguem transfor-
mar a realidade em momentos instantâneos. 
10
Aula 19 • Reconfiguração de espaços e paisagens para o turismo
O autor enfatiza a natureza sistemática e regularizada de 
diversas contemplações, as quais dependem de uma multiplici-
dade de discursos e práticas sociais, bem como de aspectos que 
fomentam elementos necessários de um lugar. Estes aspectos 
são organizados por diversos profissionais e produtos culturais, 
tais como fotografias, guias e livros de viagem, cartões-postais, 
programas televisivos de viagem, arquitetos, planejadores, aca-
dêmicos do turismo, profissionais da indústria cultural e do tu-
rismo, entre outros. Assim, lugares são redesenhados com in-
fraestruturas turísticas, construídas a partir de uma imagem 
associada a algum tema, nem sempre seguindo uma vocação 
turística natural. 
A escolha de um destino por parte de um turista está sujei-
ta a fatores externos, entre os quais está a imagem socialmente 
construída e percebida do destino que atua sobre as preferências 
e, portanto, na decisão de visitar determinado lugar. Isto porque, 
para que um destino turístico se estabeleça enquanto tal e seja 
escolhido para ser visitado, é necessário que exista uma expecta-
tiva dos turistas em relação a esse destino. Tal expectativa quase 
sempre está baseada em motivações que são fruto da comuni-
cação midiática.
Pois bem, proponho a você uma pequena reflexão sobre 
os discursos e imagens que fomentam e constroem objetos e 
lugares em atrações turísticas, tomando como exemplo a Torre 
Eiffel, construída no século XIX, em Paris, como marco da Ex-
posição Universal de 1889. Essa torre tornou-se o símbolo mais 
importante da França e um dos monumentos mais reconhecidos 
e visitados do mundo, sendo parte do cenário caracterizado em 
dezenas de filmes europeus e norte-americanos, ambientados na 
cidade de Paris. A imagem da torre também foi utilizada repe-
tidamente em novelas, moedas, bilhetes, selos, logotipos, foto-
grafias, cartões-postais, guias de viagens, mapas etc., elementos 
os quais cumpriram um papel relevante na configuração de sua 
imagem como atração turística.
A Torre Eiffel é uma 
estrutura de ferro pro-
jetada pelo engenheiro 
francês Gustave Eiffel e 
seus colaboradores para 
a Exposição Universal de 
1889, em Paris. Situada 
em Campo de Marte 
(Champ de Mars), esse 
monumento parisiense, 
símbolo da França e de 
sua capital, tornou-se um 
dos lugares mais visita-
dos do mundo por turistas 
estrangeiros. O tamanho 
excepcional e a silhueta 
reconhecível fizeram da 
torre um emblema. Com 
uma altura de aproxima-
damente 330 metros, a 
Torre Eiffel foi o edifício 
mais alto do mundo por 
mais de 40 anos, sendo 
superada pelo edifício 
Chrysler, construído na 
cidade de Nova Iorque, 
em 1930. Inaugurada 
oficialmente em 31 de 
março de 1889, a Torre 
Eiffel só conhecera ver-
dadeiramente um êxito 
massivo e constante após 
a década de 1960, graças 
ao desenvolvimento do 
turismo internacional, 
recebendo mais de seis 
milhões de visitantes 
anuais.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/
wiki/Ficheiro:Tour_Eiffel_Wi-
kimedia_Commons.jpg
Turismoe Sociedade
11
De fato, o estatuto de ícone da Torre Eiffel é tão determi-
nante que, quando mencionamos a palavra França ou Paris, re-
cordamo-nos de sua imagem. No entanto, isso nem sempre foi 
assim. A atenção nos progressos social e técnico da sociedade da 
época deu origem às exposições universais. Desde a primeira ex-
posição (Grande Exibição dos Trabalhos da Indústria de todas as 
Nações, Londres, 1851), os governantes perceberam que, atrás 
da aposta tecnológica, encontrava-se uma vitrine política, sendo 
um erro não aproveitar tal oportunidade. 
Nesse sentido, demonstrando a destreza industrial, o país 
anfitrião da referida exposição mostrava a sua superioridade so-
bre as demais potências europeias, que então governavam no 
mundo. Seguindo esta orientação, a França recorreu à Exposição 
Universal, nos anos de 1855, 1867 e 1878. Jules Ferry, presidente 
do Conselho de 1883 a 1885, decidiu reviver a ideia de celebrar 
uma exposição universal na França, quando em 8 de novembro 
de 1884 assinou um decreto que estabeleceu oficialmente a cele-
bração de uma Exposição Universal em Paris, de 5 de maio a 31 
de outubro de 1889. 
É importante ressaltar que a escolha desse ano não foi por 
acaso, já que simbolizava o centenário da Revolução Francesa, o 
que colocaria a cidade de Paris novamente no “centro do mun-
do”. Dessa maneira, evidencia-se a relevância das representações 
históricas e sociais que envolvem a projeção da Torre Eiffel, já 
que nelas estão presentes as construções que podem ser a ori-
gem de seu reconhecimento mundial.
Ainda sobre o processo de construção social de lugares 
em atrações turísticas, podemos destacar o estudo realizado por 
Freire-Medeiros (2006), autora que examina a construção da fave-
la carioca como destino turístico, levando-se em conta a atuação 
de agentes públicos e privados na configuração dos desejos que 
moldam o produto turístico. Em sua análise, a autora privilegia as 
estratégias discursivas e práticas que estão presentes no processo 
de venda e de consumo da favela como atração turística, sobretu-
do por se tratar de um lugar associado à pobreza e à violência. 
Destino turístico
Denomina-se destino 
turístico uma área 
geográfica onde se 
realiza a maior parte das 
atividades de produção e 
de consumo turístico. Tal 
área pode ser um país, 
uma região, uma cidade 
ou um lugar concreto, 
por exemplo, onde se 
concentram instalações e 
serviços projetados para 
satisfazer às necessi-
dades dos turistas que 
chegam a esses lugares. 
Dessa maneira, o destino 
turístico conforma-se 
como o lugar onde se 
produz a maioria dos efei-
tos geográficos, sociais, 
econômicos e culturais 
do turismo. 
12
Aula 19 • Reconfiguração de espaços e paisagens para o turismo
Considerando o produto como um “conjunto de bens sim-
bólicos fabricados pelos agentes promotores e pela linguagem 
midiática”, Freire-Medeiros (2006) verifica que o turismo na favela 
tornou-se uma prática massiva no início da década de 1990, pre-
cisamente a partir da Eco-92. A autora ressalta, porém, que tanto 
a construção quanto a incorporação da favela no cenário turístico 
estão vinculadas à expansão dos chamados reality tours, os quais 
transformam aspectos da realidade social em produto turístico, 
assim como à veiculação internacional da vida na favela carioca, 
idealizada através de imagens e diversos produtos culturais.
Segundo Menezes (2008), a partir de 2000, a favela carioca 
passou a integrar os roteiros turísticos oficiais da cidade do Rio 
de Janeiro. Atualmente, configuram esse mercado as favelas da 
Rocinha, do Morro da Providência, da Babilônia e do Morro dos 
Prazeres, além da Favela Pereira da Silva. O Morro da Providên-
cia, por exemplo, foi transformado em Museu a Céu Aberto pela 
prefeitura do Rio de Janeiro; o da Babilônia e o Morro dos Praze-
res vêm capitalizando o seu potencial turístico. Na favela Pereira 
da Silva, inaugurou-se a “Pousada Favelinha”. Quanto à favela da 
Rocinha, ela pode ser considerada um caso paradigmático, uma 
vez que há várias agências de turismo que disputam esse merca-
do, diversificando os seus serviços.
Um outro caso é o da favela Santa Marta (situada no bairro 
de Botafogo – zona sul da cidade do Rio de Janeiro), que também 
vem se abrindo para a manifestação da indústria do turismo. Pró-
xima ao Corcovado, essa favela, além de oferecer uma das vistas 
mais privilegiadas da cidade, tornou-se famosa por ter sido pal-
co de um clipe do cantor norte-americano Michael Jackson. Por 
esse motivo, ela sofreu intervenções urbanísticas, que alteraram 
a paisagem local, incluindo a instalação de postos de segurança 
ocupados pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. Em 2009, a favela 
em questão voltou às manchetes dos jornais, quando recebeu a 
instalação de uma rede de internet gratuita para uso da comuni-
dade e a visita da cantora norte-americana Madonna. 
Turismo e Sociedade
13
Corcovado: Um pouco da sua história remonta ao século XVII, pe-
ríodo em que foi batizado pelos colonizadores portugueses de Cor-
covado devido à sua forma que lembraria uma corcunda (corcova). 
Em 1824, dois anos após a independência do Brasil, Dom Pedro I 
liderou uma expedição ao topo do Corcovado, abrindo um caminho 
para o cume. Trinta e cinco anos mais tarde, em 1859, o padre Pe-
dro Maria Boss sugeriu à princesa Isabel que fosse construído um 
monumento religioso no alto do Corcovado, ideia que só se concre-
tizaria décadas mais tarde. Em 1882, Dom Pedro II autorizou a cons-
trução da Estrada de Ferro do Corcovado, que começou a funcionar 
em 1884, no trecho Cosme Velho Paineiras. Um ano mais tarde, foi 
inaugurado o trecho final da estrada de ferro, ligando as Paineiras 
ao topo do morro. Somente em 1921, foi retomada a ideia do padre 
Maria Boss de construir um monumento religioso que, na ocasião, 
comemorar-se-ia o centenário da independência do Brasil. A pedra 
fundamental da construção foi lançada em 4 de abril de 1922. Em 
1923, foi realizado um concurso para a escolha do monumento a 
ser construído, e o projeto vencedor foi o do engenheiro Heitor da 
Silva Costa. Finalmente, em 1931, inaugurou-se oficialmente a Es-
tátua do Cristo Redentor. O desenho da estátua é de Carlos Oswald, 
e a sua execução, do escultor francês Paul Maximilian Landowski. 
As escadas rolantes e os elevadores são de 2003. Em 2007, o Cristo 
Redentor foi declarado uma das sete maravilhas do mundo mo-
derno, após um concurso baseado em votos populares (internet 
e telefone). O monumento também aparece em filmes e canções, 
consagrando-se em uma referência cultural. Podemos destacar, por 
exemplo, algumas canções em que o monumento é lembrado, tais 
como: “Corcovado” (Tom Jobim), “Samba do Avião” (Tom Jobim), 
“Samba do Grande Amor” (Chico Buarque), “Subúrbio” (Chico 
Buarque), “Las Muchachas de Copacabana” (Chico Buarque), “Os 
Passistas” (Caetano Veloso), “Expresso 2222” (Gilberto Gil), “Ala-
gados” (Paralamas do Sucesso), “Paralelas” (Belchior), “Um Trem 
para as Estrelas” (Cazuza), “Redentor” (Zélia Duncan), “Braços Cru-
zados” (Zélia Duncan), “Realidade Virtual” (Engenheiros do Hawaii), 
“Bananas” (Titãs) etc.
14
Aula 19 • Reconfiguração de espaços e paisagens para o turismo
Vale lembrar que a vista do Cristo Redentor é uma ima-
gem que fascina a muitos turistas e atrai viajantes de diferentes 
países e localidades. Além do cenário privilegiado, a ideia de um 
símbolo que abraça a cidade do Rio de Janeiro contribui para as 
intervenções urbanísticas pontuais, especialmente quando há a 
necessidade de ampliar o consumo visual e dinamizar o turismo 
na localidade. Tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico 
e Artístico Nacional (IPHAN), o monumento do Cristo Redentor 
passou por obras de recuperação em 1980 e 1990, valorizando a 
sua importância para a memória nacional. Em 2003, foram rea-
lizadas relevantes obras, quando foi implantado um sistema de 
escadas rolantes e elevadorespara facilitar o acesso dos visitan-
tes à plataforma de onde se eleva o monumento.
Desse modo, o consumo visual pode ser considerado como 
um importante fator para o turismo, especialmente quando se 
tem um patrimônio histórico, artístico e cultural, legitimado pela 
sociedade, ou quando lugares são modificados para atender aos 
interesses dos viajantes que buscam um símbolo construído e 
mantido por órgãos públicos e privados. Além disso, não pode-
mos nos esquecer dos investimentos e estratégias na propagan-
da da atração turística, os quais criam e fomentam um imaginá-
rio social que motiva a escolha e o deslocamento de viajantes.
Mas, afinal, como se constrói a expectativa do turista em 
relação à escolha da favela como destino?
Você já sabe que a favela é percebida e caracterizada mun-
dialmente como o lugar do trabalhador pobre, da precariedade 
ou ausência de infraestrutura urbana e de serviços públicos es-
senciais, da ocupação irregular e da autoconstrução da moradia. 
Na parte superior da imagem, à esquerda, encontra-se a favela San-
ta Marta. No plano mais baixo da imagem, vê-se o bairro de Botafo-
go, situado na cidade do Rio de Janeiro.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Rio_Corcovado_Pain_de_Sucre.jpg
Turismo e Sociedade
15
A favela carioca também é conhecida pelos elevados índices de 
violência, disseminados pelos meios de comunicação nacionais 
e internacionais. Dessa maneira, a favela é representada como 
um exemplo de cotidiano de exclusão social e de violência, cons-
truções que possuem um importante papel na formulação das 
identidades locais. 
Você também já sabe que, quando falamos de um desti-
no turístico, referimo-nos à sua configuração socioespacial e às 
imagens que lhe são associadas. Estas imagens devem a sua 
existência a práticas e discursos que lhes dão forma. No caso da 
escolha da favela como destino turístico, de acordo com Freire-
Medeiros (2006), essa expectativa é construída e mantida através 
de discursos e práticas que constroem e reforçam um olhar so-
bre a favela. A autora destaca ainda que tal construção depende 
diretamente da antecipação da experiência turística, a qual se 
conforma com as imagens veiculadas em diversos produtos cul-
turais – como filmes, documentários, fotografias – e marcas que 
investem ansiedades e desejos no turista “alternativo” e contri-
buem para a elaboração da favela como produto turístico. 
Desta forma, para fecharmos a primeira metade desta aula, 
podemos entender que a recente experiência do turismo na favela 
carioca revela que a dinâmica produzida pelo turismo elabora no-
vas formas e práticas sociais, talvez na busca de condições ótimas 
para o exercício e exploração de sua atividade. Essas mudanças 
são contraditórias, como vender e consumir a pobreza alheia, e 
contribui não somente para a reconfiguração de lugares e paisa-
gens, mas também para uma ressignificação do próprio turismo.
Atividade
Atende ao Objetivo 1
1. A atividade que se segue tem como principal objetivo exami-
nar elementos simbólicos presentes no processo de elabora-
ção e venda de um lugar como atração turística. Propomos que 
você realize uma pequena pesquisa sobre um destino turístico e 
16
Aula 19 • Reconfiguração de espaços e paisagens para o turismo
analise os recursos discursivos e visuais utilizados na sua comer-
cialização, identificando os aspectos valorativos que reforçam o 
lugar como destino atraente àquele que viaja.
Comentário
Sugerimos que você faça o levantamento do destino turístico em 
uma agência de viagem de sua cidade ou através de pesquisa na 
internet. Você deverá identificar os aspectos ou elementos presen-
tes nos discursos ou imagens utilizadas como recursos positivos na 
construção desse destino como um lugar atrativo. Você poderá rea-
lizar uma pequena entrevista com agentes envolvidos na comerciali-
zação do destino e analisar as produções impressas e visuais utiliza-
das na publicidade e na comercialização do destino escolhido.
Política urbana, turismo e modernidade
A segunda parte desta aula tem como objetivo propor 
uma reflexão sobre as mudanças na configuração de espaços e 
paisagens, convertidos em atrações altamente valorizadas pelo 
turismo internacional, e evidenciar como as atuações públicas 
para o desenvolvimento urbano passam a redefinir o turismo, 
Turismo e Sociedade
17
com consequências para as cidades. Para que possamos atingir 
tal objetivo, iremos recorrer ao caso de Valencia, terceira cida-
de em tamanho populacional da Espanha, localidade onde tive 
a oportunidade de acompanhar de perto algumas das recentes 
políticas urbanas claramente relacionadas ao processo de ela-
boração, venda e consumo dessa cidade como um importante 
destino turístico. 
Nas últimas décadas, a cidade de Valencia experimentou 
uma profunda transformação urbana, sendo convertida em uma 
referência do turismo cultural e de ócio na Espanha. Além da 
oferta cultural e do patrimônio histórico e artístico dessa cidade, 
foram impulsionados grandes projetos urbanísticos e arquitetô-
nicos com infraestruturas relacionadas ao turismo, evidenciando 
o esforço público para torná-la um dos principais destinos urba-
nos espanhol. 
Vale a pena advertir que, desde os anos de 1960, a costa 
mediterrânea espanhola converteu-se em um importante polo 
de atração turística, o que provocou um crescimento das locali-
dades. A região de Valencia não foi uma exceção. Com mais de 
350 km de costa, ao turismo de praia e sol juntaram-se os norte-
europeus aposentados que, atraídos pelo clima, paisagem e ser-
viços, converteram-se em residentes permanentes.
Ao fazermos uma breve recapitulação da evolução urbana 
de Valencia, a partir do transbordamento do rio Turia em 1957, 
podemos dizer que foi elaborado e executado um plano, o qual 
permitiu o crescimento da cidade e o desaparecimento da área 
agrícola que a circundava. Na realidade, são famosos os transbor-
damentos desse rio, sendo a crescida de 1957 conhecida como 
a grande inundação de Valencia. Este acontecimento fomentou a 
implementação do conhecido Plano Sul, que se materializou com 
a construção de um novo leito para o rio Turia, gerando novas 
infraestruturas para o crescimento da cidade. 
Quanto ao antigo leito do rio Turia, que passa pelo centro da 
cidade de Valencia, ele foi convertido em um espaço lúdico e cul-
tural, como pode ser verificado na Figura 19.1. Nele, podemos en-
18
Aula 19 • Reconfiguração de espaços e paisagens para o turismo
contrar grandes espaços ajardinados, zonas desportivas, salas de 
exposições, auditórios abertos e a Cidade das Artes e das Ciências. 
Figura 19.1: Antigo leito do rio Turia, Valencia-Espanha. No plano 
superior da imagem, encontra-se a Cidade das Artes e das Ciências. 
Essas intervenções configuram elementos arquitetônicos 
e espaços emblemáticos que estão sendo utilizados como o eixo 
estruturador da atual ordenação urbana da cidade. Portanto, en-
tre os novos elementos que conformam o processo de moderni-
zação da cidade estão o projeto do antigo leito do rio Turia, o Ins-
tituto Valenciano de Arte Moderna (IVAM), o Palácio da Música, o 
Palácio de Congressos e a Cidade das Artes e das Ciências.
A Cidade das Artes e das Ciências (em valenciano: Ciutat de les 
Arts i les Ciències) foi projetada pelos arquitetos Santiago Calatrava 
e Felix Candela. Inaugurado progressivamente de 1998 a 2005, o 
complexo arquitetônico está situado no final do antigo leito do rio 
Turia. A seguir, os edifícios que integram o complexo:
1. L´Hemisfèric: possui forma de olho. Inclui sala de projeções de 
Cine IMAX, planetário e laser. Dispõe de uma superfície aproxima-
da de 13.000m2.
A
n
d
re
ia
 P
. d
e 
M
ac
ed
o
Turismo e Sociedade
19
2. O Museu das Ciências Príncipe Felipe: possui forma parecida 
com a de um esqueleto de dinossauro. É um museu interativo de 
ciências e ocupa aproximadamente 40.000m2, divididos em três an-dares. 
3. L’Umbracle: passeio ajardinado com espécies autóctones da região 
de Valencia, coberto por arcos flutuantes, de onde se pode ver todo 
o complexo da Cidade das Artes e das Ciências. Conta também com 
uma galeria de arte com esculturas de artistas contemporâneos.
4. L’Oceanogràfic: considerado o maior aquário oceanográfico da 
Europa, com 110.000m2 e 42 milhões de litros de água. 
5. O Palácio das Artes Rainha Sofia: possui quatro grandes salas: 
uma sala principal, sala magistral, anfiteatro e teatro de câmera. 
Está dedicado à música e às artes cênicas.
6. A Ponte de l´Assut de l`Or: ponte cujo pilar de 125 metros de altu-
ra é o ponto mais alto da cidade.
7. A Praça Principal: projeto ainda em construção. Lugar onde serão 
realizados concertos e eventos esportivos.
8. As Torres de Valencia, Castellón e Alicante: um projeto que consistia 
na construção de três arranha-céus de 308, 226 e 220 metros. No en-
tanto, por razões de segurança aérea, surgidas no primeiro edifício, 
chamado Torre de Francia, os dois restantes não foram construídos.
De fato, a Cidade das Artes e das Ciências projeta uma 
nova imagem de Valencia, sendo definida por atuais gestores 
públicos da região como o “espaço da modernidade e do pro-
gresso”. Construído para fomentar o desenvolvimento urbano e o 
crescimento turístico, esse complexo está ajudando a converter 
a cidade em um dos destinos mais atrativos do turismo cultural 
e de ócio do país nos últimos anos. 
Uma das estratégias adotadas pela atual administração 
pública local foi criar a “marca Valencia”, conseguindo que a cida-
de fosse escolhida como sede de eventos internacionais, como 
a Copa América – uma competição náutica. A instalação de no-
vos complexos arquitetônicos culturais, a ampliação da rede de 
transportes que comunicam os principais atrativos urbanos, as-
sim como a transformação da fachada marítima para a realização 
da Copa América foram realizadas com o intuito de impulsionar 
o desenvolvimento urbano e turístico da referida cidade. 
20
Aula 19 • Reconfiguração de espaços e paisagens para o turismo
Por outro lado, levando-se em conta uma perspectiva crí-
tica, esses projetos refletem uma maneira de compreender a 
modernidade e o progresso, tendo em vista que a dinâmica ur-
banística e do turismo local revela o esforço planejado da ad-
ministração pública para conectar a cidade de Valencia com os 
fluxos globais. A visão de Luchiari (2004) sobre as contradições 
mais visíveis do turismo, especialmente no que se refere ao pro-
cesso de urbanização, ajuda-nos a refletir sobre os atuais proje-
tos urbanos para fins turísticos, como vemos a seguir:
É uma atividade que não depende mais exclusivamente da 
vocação natural de uma região, pois pode ser construída ar-
tificialmente pelo poder econômico e político, pela criação 
de parques temáticos, de uma natureza artificial, de uma 
autenticidade histórica reinventada para saborearmos cos-
tumes, hábitos e tradições sociais que foram perdidos na 
corrida frenética para obter um papel no processo de globa-
lização contemporâneo (LUCHIARI, 2004).
O recente processo de urbanização na região de Valencia 
vem produzindo um desenvolvimento territorialmente contradi-
tório. Assim, estão sendo estudados novos projetos de ordena-
ção urbana, os quais incluem as centenárias vias ferroviárias no 
centro da cidade, tornando-as subterrâneas, para a construção 
de jardins, prédios e residências. Também está em debate um 
antigo projeto de reestruturação urbana, que irá prolongar uma 
das mais importantes avenidas da cidade, a Blasco Ibañez, até a 
costa marítima. Contudo, a materialização deste projeto urbano 
inclui a eliminação de parte do Cabanyal, bairro histórico da cida-
de, o que originou calorosos debates nos meios de comunicação 
e acadêmico, assim como manifestações de organizações coleti-
vas, sobretudo dos atores mais afetados. 
De fato, é digno de nota o amplo movimento em defesa do 
território que se proliferou na região de Valencia, evidenciando 
que os habitantes não estão passivos diante dos grandes projetos 
que transformam a cidade. Integrado por coletivos, associações, 
Turismo e Sociedade
21
coordenadoras e plataformas de cidadãos, articuladas em rede e 
utilizando a internet para conectar-se, esse movimento demanda 
uma nova política de desenvolvimento urbano. Cabe advertir que 
os posicionamentos críticos também provêm de outras organiza-
ções e entidades públicas e privadas. 
Na Figura 19.2, a imagem de um cartaz de convocação de 
manifestação a favor do bairro de Cabanyal, isto é, contra a elimi-
nação de áreas do bairro.
Figura 19.2: Cartaz de convocação para a manifestação 
a favor do bairro de Cabanyal, Valencia-Espanha. 
Você deve estar se perguntando: mas como a política de 
desenvolvimento urbano e turístico, levada a cabo em Valencia, 
chegou a esta situação de desequilíbrio?
As bases da profunda transformação do perfil urbano de Va-
lencia estão nos anos de 1980, quando o antigo leito do rio Turia 
A
n
d
re
ia
 P
. d
e 
M
ac
ed
o
22
Aula 19 • Reconfiguração de espaços e paisagens para o turismo
foi urbanizado e ajardinado, constituindo-se no eixo vertebral da 
cidade, assim como as construções projetadas que representam 
a modernidade da cidade: o Palácio da Música, o Museu Instituto 
Valenciano de Arte Moderna e a Cidade das Artes e das Ciências. 
Entretanto, esta política desenvolveu-se na primeira me-
tade dos anos de 1990. Para tanto, foi aprovada em 1994 a Lei 
Reguladora de Atividade Urbanística (LRAU) que pretendia libe-
rar solo para dotar o governo regional de um instrumento de 
intervenção urbanística. Contudo, não foi aprovado um regula-
mento de aplicação dessa lei, sendo apostado desde o princí-
pio pela privatização do solo liberado pela lei em benefício dos 
promotores imobiliários, que levam décadas atuando na cidade, 
sem uma normativa que ordene o processo. 
Após a aprovação da LRAU, a cidade de Valencia iniciou 
uma intensa fase de expansão urbana, marcada pela conver-
são de antigos terrenos de uso agrícolas em novas zonas urba-
nas e residenciais, através de Programas de Atuação Integrada, 
bem como a construção de marcos urbanos para fins turísticos. 
Resultou desse processo o aumento do preço do solo na região, 
convertido em um dos mais caros do país. Esse aumento produ-
ziu a falta de rentabilidade da atividade agrícola, levando pro-
prietários e agricultores a vender suas terras para promotores e 
construtores imobiliários ou ansiar pela sua requalificação urba-
nística. Por sua vez, as prefeituras veem a requalificação do solo 
como uma maneira de aumentar seus recursos e de melhorar a 
sua dotação em equipamentos e infraestruturas.
Em 2006, entrou em vigor a nova Lei Urbanística de Valen-
cia (LUV), substituindo a polêmica LRAU, que está sob investi-
gação em distintos organismos europeus (Parlamento Europeu, 
Comissão Europeia, Tribunal Europeu etc.) em função de denún-
cias que põem em questão a política de gestão urbanística da re-
gião. No entanto, o governo regional continua aprovando novos 
Programas de Atuação Integrada (PAI), que promovem a reclassi-
ficação de solos rústicos em urbanizáveis.
Turismo e Sociedade
23
Esse processo de transformação urbana de Valencia está 
claramente associado à preocupação com a competitividade ur-
bana, uma das características das metrópoles contemporâneas. 
Isto porque, na busca por um lugar destacado na hierarquia ter-
ritorial que integra os fluxos globais, os governos regionais ten-
dem a apostar na renovação da oferta urbana como motor de 
transformação da base de atividades econômicas. 
Como destaca Luchiari (2004), os lugares passam a fazer 
parte do fluxo de informações do mundo globalizado através da 
“urbanização turística”, já que ela reinventa paisagens e lugares 
segundo a lógica do mercado turístico, e não mais segundo as 
práticas sociais e relações de poderque se constroem no cotidia-
no de uma determinada população. No caso da região de Valen-
cia, tal reinvenção está intrinsecamente relacionada à criação de 
novos espaços para o turismo e o lazer, portanto à redefinição 
das formas de apropriação do espaço urbano. 
Como tudo isso repercute na dinâmica local, o estudo reali-
zado por Raussel & Carrasco (2005) revela que, assim como toda 
estratégia tem seu custo, a planificação urbana de Valencia vem 
produzindo seus efeitos econômicos e sociais. Além dos conflitos 
territoriais mencionados, a remodelação arquitetônica da cidade 
modificou a sua imagem patrimonial, tendo em vista que a criação 
da “marca Valencia” tem como principal expoente a Cidade das 
Artes e das Ciências. 
Essa mudança se refletiu na demanda turística da cidade 
nos últimos anos, gerando novos fluxos de visitantes. Enquan-
to o número de visitantes da cidade cresceu progressivamente, 
a demanda turística pelo patrimônio histórico, artístico e cultu-
ral existente diminuiu, gerando consequências na configuração 
do turismo na cidade. Logo, podemos concluir que as recentes 
transformações urbanas para o aumento do consumo turístico 
na cidade estão impulsionando a modificação histórica de luga-
res, assim como a construção de novas práticas sociais.
24
Aula 19 • Reconfiguração de espaços e paisagens para o turismo
Atividade
Atende ao Objetivo 2
2. Nesta atividade, propomos que você amplie a sua análise so-
bre o destino turístico escolhido na primeira atividade desta aula. 
Desta vez, investigue se os discursos e as práticas, que elaboram 
e reforçam o destino como um lugar atrativo, influenciaram in-
tervenções públicas ou privadas no espaço e paisagem locais.
Resposta Comentada
Sugerimos que você faça um levantamento da atuação de agen-
tes públicos, empresários e ONGs ligados ao desenvolvimento do 
turismo nessa localidade. Você deverá identificar projetos e ações 
públicas e privadas de caráter urbanístico que correspondem e re-
forçam as imagens e discursos identificados na primeira atividade, 
tais como recuperação de monumentos de valor histórico, artístico 
e cultural, construção de edificações e equipamentos para fins turís-
ticos, entre outros.
Turismo e Sociedade
25
Conclusão
A reconfiguração de espaços urbanos e de paisagens para 
a exploração do turismo pode proporcionar a venda e o consu-
mo de lugares impensáveis, além de dar grande visibilidade para 
as cidades. As políticas de desenvolvimento urbano são acom-
panhadas pela implantação de construções emblemáticas e de 
equipamentos de cultura e lazer, os quais estão diretamente rela-
cionados às estratégias administrativas na busca de uma posição 
favorável na hierarquia internacional das cidades. Todavia, essas 
transformações podem extrair dimensões sociais e históricas de 
lugares, cuja apropriação depende fortemente de publicidade e 
marketing, bem como das implicações econômicas e espaciais. 
Atividade Final
Atende aos Objetivos 1 e 2
Considerada um dos maiores fenômenos do turismo na atualida-
de, a cidade de Dubai, nos Emirados Árabes, pode ser considera-
da um exemplo paradigmático de intervenções no espaço e na 
paisagem para o desenvolvimento urbano e do turismo. A ilha de 
Palm Jumeirah, a seguir, apresentada conforma uma área para 
residência, entretenimento e ócio, sendo famosa por suas atra-
ções turísticas e seus edifícios de arquitetura arrojada. Relacione 
a construção dessas infraestruturas, em um lugar onde a primeira 
vista seria improvável, com a atual dinâmica da economia global.
Fonte: http://es.wikipedia.org/wiki/Archivo:Palm_Island_Resort.jpg
26
Aula 19 • Reconfiguração de espaços e paisagens para o turismo
Comentário
Nesta atividade, gostaríamos que você evidenciasse que a política 
urbana e turística, levada a cabo em Dubai, tem como estratégia 
a modernização da cidade, modificando as referências culturais e 
gerando competitividade urbana, assim como efeitos sociais e am-
bientais. Sugerimos que você realize uma pesquisa documental so-
bre o crescimento econômico, turístico e urbano nos últimos anos 
na região, bem como as estratégias de marketing que apresentam 
Dubai como um centro dinâmico de negócios e da modernidade. 
Resumo
O turismo organiza-se pelo deslocamento de pessoas atraídas 
por diversas motivações para determinadas localidades, um re-
levante tema para a reflexão sobre a construção social tanto da 
necessidade de viajar como dos destinos turísticos. Além disso, o 
sucesso do desenvolvimento da atividade turística na atualidade 
está diretamente relacionado ao aspecto lucrativo, o que impli-
ca a adaptação dos destinos segundo os interesses do mercado 
e aos novos padrões de consumo. A escolha de um destino por 
parte de um turista está sujeita a fatores externos, à imagem so-
cialmente construída e percebida do destino que atua sobre as 
Turismo e Sociedade
27
preferências e, portanto, na decisão de visitar determinado lugar. 
Isto porque, para que um destino turístico se estabeleça enquan-
to tal e seja escolhido para ser visitado, é necessário que exista 
uma expectativa dos turistas em relação a esse destino. Essa ex-
pectativa é fabricada pelos agentes promotores do turismo e pela 
linguagem midiática. Assim, quando falamos de um destino turís-
tico, referimo-nos à sua configuração socioespacial e às imagens 
que lhe são associadas, as quais contribuem não somente para 
a reconfiguração de lugares e paisagens, mas também para uma 
ressignificação do próprio turismo. Na realidade, as mudanças 
na configuração de espaços e paisagens convertidos em atrações 
altamente valorizadas pelo turismo internacional evidenciam 
como as atuações públicas para o desenvolvimento urbano pas-
sam a redefinir o turismo, com consequências para as cidades. 
Essas atuações refletem uma maneira de compreender a moder-
nidade e o progresso, tendo em vista que revelam um esforço 
planejado para conectar as cidades com os fluxos econômicos 
globais. Desse modo, as políticas de desenvolvimento urbano são 
acompanhadas pela implantação de construções emblemáticas e 
de equipamentos de cultura e lazer, os quais estão diretamente 
relacionados às estratégias administrativas na busca de uma po-
sição favorável na hierarquia internacional das cidades. Todavia, 
essas transformações podem extrair dimensões sociais e históri-
cas de lugares, além das implicações econômicas e espaciais. 
Informação sobre a próxima aula
Na próxima aula, iremos abordar o debate sobre os impac-
tos sociais e culturais do fenômeno turístico.

Continue navegando