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TÓPICOS FUNDAMENTAIS EM PSICANÁLISE CLÍNICA GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA academico@psicanaliseclinica.com André Figueira GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA "O ser humano é gregário, e ele só existe, ou subsiste, em função de seus inter-relacionamentos grupais. Sempre, desde o nascimento, ele participa de diferentes grupos, numa constante dialética entre a busca de sua identidade individual e a necessidade de uma identidade grupal e social." (ZIMERMAN, 1993, p. 51). GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Caracterizações do grupo ⚫ O grupo não é uma mera somatória de indivíduos, mas sim uma nova entidade, com leis e mecanismos próprios. ⚫ Compreender as demandas do grupo, mas não desconfigurar as individualidades – partir das falas individuais para compreender o imaginário grupal. ⚫ Forças contraditórias – coesão e desintegração Pertinência e pertencência x capacidade continente (ataques) Necessidades básicas/primitivas – ser amado, agressividades... ⚫ Mesmos dispositivos presentes na análise individual Resistências, transferências, atuações, identificações projetivas... ⚫ Fenômeno da ressonância Fala individuais vão “ressoando” (Cs/Ics) nos demais integrantes mobilizando associações, manifestações, ansiedades... GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Caracterizações do grupo ⚫ Diversos tipos e contextos Instituições, clínicas particulares, hospitais, CAPS... Grupos operatórios, terapêuticos, analíticos (dirigida ao insight)... ⚫ Estar atento à formação dos grupos, sobretudo a pacientes regredidos – possibilidade de entrevista individual antes. Minimizar a possibilidade de impasses, actings... ⚫ Possibilidade de construção do setting grupal Além dos acordos terapêuticos/analíticos, a possibilidade de reexpetimentação de vivência grupais (família, escola, amigos...) e o contato com questões, então, antes não tocadas. GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Resistências-contra-resistência ⚫ Influências que se põem e contrapõem Conluios inconscientes (evitação de temas “polêmicos”) Fantasias narcísicas (impossibilidade de viver frustrações) Dependências e co-dependências – analista/pacientes Papeis/funções estabelecidas e mantidas Conluio de acomodação: “desejo de não desejar” – desistência Enquanto houver resistência há vontade de viver! Transferência-contratansferência ⚫ Ocorrem com o analista e com os pacientes ⚫ Compreender a contratransferência com uma forma de comunicação primitiva – tal qual nas análises individuais GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Formas de comunicação no grupo ⚫ “O maior mal da humanidade consiste no problema dos mal-entendidos” ⚫ Diferentes formas de comunicação podem despertar elementos transferenciais-contratransferenciais – comunicação primitiva – tom de voz, conteúdo, tipo de linguagem, linguagem não-verbal (posturas, gestos, atuações, desconforto...), o silêncio (o que ele diz?) ⚫ Diferenças entre ouvir/escutar, falar/dizer... Fala-se muito, não se diz nada... Fala-se pouco, diz-se muito... ⚫ Com isso, fazer uma “leitura” adequada desses significados para uma codificação, interpretação e intervenção pertinentes e adequadas. GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Formas de comunicação no grupo “Assim, o analista deve saber que um paciente, ou o grupo, atua quanto ele não consegue recordar experiências traumáticas, ou usa excessivamente o mecanismo de negação das verdades dolorosas, as externas ou internas, ou não as consegue pensar, ou quando tampouco tem condições de verbalizar. Uma adequada atividade interpretativa do analista (dar sentido à experiência) pode fazer a profilaxia e reduzir substancialmente a ocorrências de actings, principalmente daqueles que possam ser malignos.” (p. 387) GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Dinâmicas interpretativas/elaborativas ⚫ Terapia em/do/de/com grupo Análise individual dentro do grupo Análise partindo do olhar total grupal Análise das falas individuais valorizando/ interagindo com os demais Análise dos contextos individuais e coletivos somados a uma participação mais ativa “com” o analista (Zimerman) ⚫ Clínica “com grupo” “(...) em um estilo coloquial e em uma atmosfera descontraída, por mais sérios e até dramáticos que possam ser os problemas que estejam sendo ventilados, tendo por objetivo maior o reconhecimento da geografia das distintas e contraditórias “zonas psíquicas” de cada um, da sorte a proporcionar a construção de um definitivo sentimento de identidade, sob a égide daquilo que considero ser a conquista maior de qualquer indivíduo ou grupo: a liberdade, para fantasiar, pensar, contestar, agredir, amar sofrer e criar!” (p. 393) GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Métodos de trabalho ⚫ Possibilidade de aquisição de insights - processo Intelectivo: intelectualização (ir além) Cognitivo: tomada de conhecimento Afetivo: cognição acompanha de afetos (atuais e evocativas) Reflexiva: acolher os afetos e aprender a pensar como parte da experiência Insight pragmático: poder localizar o insight na práxis cotidiana ⚫ Possibilidade elaborativa Aquisição de um insight total e definitivo – lugar de sujeito! Romper com as fantasias narcísicas “(...) assumir a verdade de que não é aquilo que cada um pensava que era, nem aquilo que ele pensava que os outros pensariam que ele fosse, que muito provavelmente nunca venha a ser, e que terá que voltar a uma estaca zero para traçar um verdadeiro projeto de vir a ser” (p. 388) GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Métodos de trabalho ⚫ Terapêutico x analítico Conter crises agudas, desorganizantes, sintomáticos... Significativas mudanças na estrutura psíquica “(...) para dizer sim ao seu próprio ego, é necessário dizer não aos seus objetos internalizados que os oprimem, ora ameaçando, ora com expectativas exageradas, ora com uma desqualificação permanente, etc...” ( p. 389) “Ser realmente quem ele, de fato, é, e não quem os outros querem que ele seja” (p, 389) Compreender as demandas patológicas para além da redução etiológica clássica (ID x superego), mas as dinâmicas vividas na construção da história do sujeito – possíveis carências primitivas – e na relação com o meio ambiente. GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Métodos de trabalho ⚫ Observações na clínica Perceber relação indivíduo grupo (suas experiências) Grupo como uma galeria de espelhos (especularidade) fundamentais nos processos de identificação (introjeção e projeção). Compreender lugares, posições, funções e papéis Trabalhar as capacidades egóicas do grupo Ser responsável, capaz de pensar, criar, dizer, reconhecer limites, enfrentar a verdade, assumir responsabilidades... Re-significação de vivências em grupos Reexperimentar cenas e dar um novo sentido Capacidade contingente do grupo (tolerar angústias) Grupoterapeuta e o seu papel de agente terapêutico Modo com o qual se porta frente às angústias e incertezas Possibilidade dos pacientes fazerem reparações verdadeiras Possibilidade (individual) de reconhecer seus conteúdos reprimidos, além de compreender o outro como sendo outro (individuação) GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Métodos de trabalho ⚫ Observações na clínica Outras possibilidades do grupo frente à análise individual Compreender manifestações patológicas coletivas Olhar ao complexo fraterno – fatalmente obscurecido pelas relações parentais Identificar fantasias compartilhadas e o que as sustenta “(...) reconhecimento dos múltiplos significados da existência dos outros, com a possibilidade de fazer ressignificações, desindentificações e transformações no exercício de papeis, assim como também com uma possível reconstrução de desagregado grupo familiar tal como está interiorizado, juntamente com o exercício da experiência emocional de poder fazer recíprocas reparações, podemos aquilatar o grau de importância que a psicoterapia analítica de grupo representa para a ciência psicanalítica.” (p. 391). GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Métodos de trabalho “Partindo das vivências relatadas por cada um, descubro um denominador comum nas diferentes narrativas e, só então, formulouma interpretação, mais como sendo uma hipótese do que uma verdade acabada, e fico à espera de novas associações. Também tenho por hábito, ao final da sessão, como um recurso de integrar os aspectos que muitas vezes aparecem de forma muito dissociada e, às vezes, até caótica, fazer uma síntese (é diferente de resumo), que unifique aquilo que aconteceu na sessão, de forma a nomear, integrar e tornar compreensível para todos aquilo que se passou no curso da sessão, com as respectivas correlações e interações entre todos os participantes.” (p. 388). GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Caso clínico Ester refere que ficou muito chocada quando o seu amante (de quem ela estava afastada, com a condição que só voltaria quando ele resolvesse a sua situação conjugal) contou-lhe que a esposa provavelmente está com um câncer; Ester ficou com pena dela, “tão moça ainda”, e deu uns conselhos de como ele deveria proceder. (No curso de seu permenorizado e contristado relato, movido por um sentimento contratransferencial, perguntei se, bem no fundo, ela não percebia um oculto desejo de que um “cancerzinho não vinha mal”, visto que poderia resolver o seu problema. GRUPOTERAPIA PSICANALÍTICA Caso clínico A paciente perturbou-se visivelmente, ficou vermelha, tropeçou nas palavras e balbuciou que “era uma coisa horrível ter um desejo tão nojento como esse”, mas que admitia que isso era verdade, completando que “nem valia a pena cultivar esse desejo porque com os recursos modernos da medicina, o desenlace da morte ainda iria demorar um longo tempo”. Assinalei, em meio a risadas gerais, que por baixo da negação do desejo proibido ela já estava com tudo planejado. Perguntei a Ester se o sentimento que predominava nela, nesse momento da sessão, era de culpa e vergonha, ou o de alívio, ao que ela respondeu que era o de um grande alívio. Lancei então uma pergunta ao grupo todo: é proibido fantasiar, sejam quais forem os desejos proibidos?) (p. 392) REFERÊNCIAS ZIMERMAN, D. Fundamentos básicos das grupoterapias. Porto Alegre - Artes médicas Sul, 1993.
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