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-1 - Projeto Integrador_ Temas Transversais em Direito

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PROJETO INTEGRADOR: TEMAS 
TRANSVERSAIS EM DIREITO
CAPÍTULO 1 - AFINAL, PARA QUÊ SERVE O 
DIREITO?
Ademario Andrade Tavares e Maíra Souto Maior Kerstenetzky
- -2
Introdução
O avanço tecnológico vivenciado por toda humanidade vem provocando transformações em praticamente todos
âmbitos da vida em sociedade. Os métodos diagnósticos por imagem na medicina, a exploração do espaço, os
novos fármacos, a engenharia genética, as tecnologias digitais de comunicação, as novas formas de expressão artí
stica. Enfim, são inúmeras, profundas e velozes as mudanças advindas deste período.
Neste contexto vão se produzindo rupturas em vários modelos tradicionais de atividades econômicas, enquanto
em algumas áreas da atividade humana pode haver uma impressão que há um certo imobilismo, ou ao menos
uma forte resistência à transformação. Em uma destas áreas apontadas como pouco dinâmicas costuma estar o
Direito.
Neste capítulo vamos entender que os conflitos sempre fizeram parte da convivência humana, e ao longo da
história a humanidade vem desenvolvendo mecanismos de manutenção da paz, e, quando necessário, de
resolução de conflitos. É somente com a garantia de um mínimo de convivência harmônica e justa que a
sociedade pode avançar de forma integral. Vamos também responder às seguintes perguntas: qual o papel do
Direito neste contexto? Por meoe de que mecanismos é possível uma convivência harmônica e produtiva para
todos – seja no plano individual ou coletivo? Qual o princípio que equilibra (ou deveria equilibrar) os conflitos de
relacionamento social? Terminaremos este capítulo entendendo que o Direito utiliza uma série de mecanismos
para promover a justiça aplicando a ideia de que as leis devem adequar-se à vontade da maioria, mas esta
mesma norma não pode excluir os interesses e peculiaridades de alguns grupos sociais mais vulneráveis,
justamente por vivenciarem uma situação cotidiana de desigualdade.
1.1 O conflito como elemento de convivência social
Desde o início da história humana, o conflito faz parte do cotidiano social. Da briga entre duas crianças por um
brinquedo até a ameaça constante de uma guerra nuclear, o conflito está presente em nosso cotidiano.
Obviamente que a maior parte dos conflitos podem ser classificados como meras desavenças, dificuldades ou
contrariedades, como ser cortado por alguém no trânsito ou não conseguir descansar por causa de um ruído na
rua. Mas há conflitos que geram consequências graves, que podem provocar a perda do emprego ou renda de
alguém, sua saúde ou até sua vida. E quanto mais importante for o interesse (direito) lesado e profunda for a
consequência (dano), mais ampla, robusta e eficaz deve ser a proteção proporcionada pelo Direito, que
chamamos de tutela ou proteção jurídica. De acordo com BUSATO (2017, p. 149),
O homem é um ser gregário. A vida em sociedade determina uma interação entre as pessoas que nem
sempre se desenvolve harmonicamente. É sabido que os interesses individuais podem convergir
para um interesse comum, como também podem divergir entre si, gerando o confronto entre as
pessoas. A própria sobrevivência da estrutura social e, com ela, a do próprio homem, depende da
existência de uma ordem mínima (...). Mas os interesses pessoais não são absolutamente
coincidentes, tendem claramente a contrapor-se. Por isso, o estabelecimento de regras é necessário
para determinar e regular o limite das expectativas mútuas, compondo uma rede de padrões que
regulam tais expectativas. Toda vida de relação é gerida por padrões de comportamento que podem
ser considerados aceitáveis por todos, que são, portanto, normais. Assim, aos padrões estabelecidos
como base da estrutura social se denomina normas.
As normas jurídicas se configuram como os instrumentos que estabelecem os parâmetros de comportamento
- -3
As normas jurídicas se configuram como os instrumentos que estabelecem os parâmetros de comportamento
consideradas aceitáveis por uma sociedade, de tal forma que seu desejável cumprimento integral previne e,
quando necessário, serve de guia para a resolução dos conflitos que naturalmente surgem na convivência
humana (BUSATO, 2017).
1.1.1 O conflito na sociedade humana
Ao tempo em que as mudanças ocorrem em todos âmbitos da vida social, invariavelmente conflitos surgem. É
um curioso paradoxo: onde há evolução, há conflito. Clique na interação a seguir para saber mais sobre este
assunto.
Mais paradoxal ainda é perceber que, quando controlado e moderado, o conflito é até positivo, no sentido de que
reflete a ruptura de uma estrutura já estabelecida por uma nova. Tomemos como exemplo a revolução criada
pela popularização da Internet. Negócios já bem estruturados, como o de serviço de táxi, sofreram (e continuam
a sofrer) um enorme impacto em virtude de uma série de desenvolvimentos tecnológicos que culminaram com
os aplicativos de transporte, como o Uber. 
Não se pode negar, porém, que esta mudança tirou a renda e o sono de milhares de taxistas em todo o mundo – e
suas famílias. Alguns anteciparam a sua aposentadoria, outros mudaram de atividade ou acabaram por sucumbir
à força da mudança e se tornaram motoristas de aplicativo também. É apenas um dos milhares de exemplos que
podemos observar a partir da evolução socioeconômica derivada do progresso tecnológico. 
E muito antes deste período o estudo da História revela a ocorrência de conflitos das mais variadas formas. A
teoria do conflito encontra-se entre os principais estudos de Karl Marx. Na visão de Marx, histórico-dialética, a
humanidade está em constante mudança social, ou seja, a história da humanidade está sempre sendo alterada.
Para ele, “a história é uma luta contínua entre os opressores e os oprimidos, luta que em última instância iria
culminar em uma sociedade igualitária, sem classes” (SCHAEFER, 2016, p. 142). Isso, pois, para o pensamento
marxista, não poderia haver mudança na sociedade, se não houvesse o conflito. Logo, o conflito se faz necessário
para que a desigualdade e a opressão como característicos ao capitalismo deixem de existir e, assim, a sociedade
evolua. “Como Marx, os teóricos contemporâneos do conflito acreditam que os seres humanos são propensos a
entrar em conflito por recursos escassos, como riqueza, status e poder” (idem, ibidem).
- -4
Figura 1 - A história da humanidade se confunde diretamente com o chamado processo civilizatório. Desde as 
primeiras comunidades humanas há registro de conflitos.
Fonte: Jannarong, Shutterstock, 2019.
Na perspectiva da teoria do conflito, a estratificação social é uma das maiores fontes de tensão e de conflito
social. A estratificação social é, pois, a divisão desigual da sociedade, ou seja, a separação dos membros de uma
sociedade com base em fatores como classe social, religião, cultura, sexo, gênero, idade, origem, dentre outros. 
(SCHAEFER, 2016, p. 140). 
Contudo, Schafer (2016, p. 140) indica que de acordo com pesquisas realizadas no âmbito da ciência social, a
desigualdade faz-se presente em todas as sociedades, mesmo nas mais primitivas, sendo um dos principais
motivadores do conflito social. Assim, nas próximas linhas, iremos analisar quais os mecanismos utilizados nas
sociedades para manter o equilíbrio social, mesmo estando presente a desigualdade social nas suas mais
variadas facetas.
1.1.2 Mecanismos de manutenção da paz social
Ao longo dos séculos a humanidade testemunhou a existência de uma série de mecanismos de manutenção da
ordem social.Contudo, não precisamos ir muito longe para compreender a paz social.
A Constituição Federal de 1988, em seu art. 4º, IV, dispõe que relações internacionais do País, deverão ser
registas, pela defesa da paz. Já, em seu art. 136, prevê a possibilidade de o Presidente de República decretar
estado para reestablecer a ordem pública e a paz social.
Dentro desta escala evolutiva, a primeira forma de se estabelecer o domínio (aqui entendido como uma
modalidade de poder) sobre os demais foi a violência, o uso da força física. Nas sociedades primitivas, a
dominação por via da força físicaé a manifestação mais direta do estado de natureza, e baseia-se no medo da
agressão física. Ainda há em vários lugares do mundo, atualmente, normas jurídicas que permitem o uso de
castigos físicos (como espancamento, chibatadas, amputação de membros) como forma de punição de quem
viola normas de convivência social.
- -5
Mesmo na sociedade brasileira contemporânea, além do relato de espancamentos coletivos, algumas vezes
motivada por uma notícia falsa, divulgada pelas redes sociais, e que tem provocado a morte violenta inclusive de
pessoas comprovadamente inocentes, há uma parcela da população que apoia este tipo de expressão de
reprimenda coletiva – e que nada mais é que a face mais primitiva dos impulsos instintivos do perigoso
fenômeno conhecido como “comportamento de manada”. (CAVALCANTI, 2016, p. 112)
Desde a perspectiva psicológica, é perfeitamente compreensível - mas não justificável como legitimação de
atuação do Estado como torturador ou espancador - que a vítima de um crime (ou as pessoas mais próximas a
ela), justamente em virtude dos legítimos sentimentos de perda, dor e raiva, sinta pelo agressor o desejo de
vingança. Este fenômeno é, inclusive, o fato que gerou, há aproximadamente 4000 mil anos, a chamada Lei do
Talião, inscrita na Lei das XII Tábuas, uma das normas de convivência social mais antiga de que se tem notícia na
humanidade.
VOCÊ SABIA?
O chamado é o ponto de partida dos estudos de vários pensadores doEstado de Natureza
Iluminismo, em especial de dois de seus maiores expoentes, Thomas Hobbes e John Locke. De
acordo com esta ideia, a sociedade humana, ao superar seu estado de natureza, que apenas se
organizava para sobreviver valendo-se da força física – como os demais animais – avança para
um estágio mais complexo, chamado Estado de Sociedade. Saiba mais em
<https://moiseslima.wordpress.com/2011/10/18/estado-de-natureza-contrato-social-estado-
/>.civil-na-filosofia-de-hobbes-locke-e-rousseau
- -6
Figura 2 - Monólito do Código de Hamurabi, uma das mais antigas leis escritas da história. Nele está também a 
famosa "Lei do Talião".
Fonte: jsp, Shutterstock, 2018.
A Lei do Talião, sintetizada na ideia do “Olho por olho, dente por dente”, pode parecer, em uma primeira leitura,
uma manifestação de selvageria, ao permitir que alguém, vítima de um crime de lesão corporal tenha o direito
legal de esfaquear o olho de um agressor que cometeu, contra essa pessoa, esta mesma agressão. Mas à época de
sua criação, a Lei do Talião foi extremamente importante para estabelecer dois parâmetros jurídicos utilizados
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sua criação, a Lei do Talião foi extremamente importante para estabelecer dois parâmetros jurídicos utilizados
até hoje por praticamente toda humanidade civilizada: a ideia da individualização e da proporcionalidadeda
sanção ou punição. (RAMOS, 2014, p. 32)
No Direito, e especificamente no Direito Penal, a punição prevista pelo cometimento de um crime chama-se pena
. É, segundo SOLER apud JESUS (2013, p 563), “a sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação penal, ao
autor de uma infração (penal), como retribuição de seu ato ilícito, consistente na diminuição de um bem jurídico,
e cujo fim é evitar novos delitos”. Ou seja, é o castigo ou punição aplicável a quem viola as normas de conduta
social previstas em lei.
Este é um dos temas mais presentes no contexto político global contemporâneo (e no qual o Brasil também se
insere), de “endurecimento” do sistema penal, que quase sempre se limita à discussão do aumento da pena.
Como no ordenamento jurídico da maioria dos países não se permite mais a aplicação de castigos físicos, o
clamor por parte da sociedade pelo aumento da punição em geral ofusca outro debate que é, certamente, mais
urgente: o que pode ser feito para que se diminua a criminalidade. Sobre isso, Felberg, (2015, p. 24) responde
que
O que se impõe urgentemente, cremos, é o estudo e aprimoramento de medidas necessárias à
redução da criminalidade, com destaque à reintegração social pelo trabalho, visando conferir aos
egressos alternativas viáveis à vida em sociedade, afastando-os de suscetibilidades e oportunidades
à delinquência.
Ainda sobre a Lei do Talião, seu legado mais importante é o princípio da individualização da pena. É comum que
a chamada “sede de vingança” gere uma reação tão desproporcional que o agredido se vingue em pessoas
próximas do agressor, em especial sobre parentes seus. O papel essencial do direito é prevenir que situações
como essa ocorram, criando um sistema baseado na razão para tentar ao máximo que os conflitos ocorram, e,
quando vierem a ocorrer, que sejam resolvidos ou controlados da forma mais eficaz e equilibrada possível.
VOCÊ QUER VER?
Há excelentes filmes que nos fazem refletir sobre o perigo da chamada “vingança privada”,
quando as pessoas, vingando-se de crimes cometidos contra si ou pessoas próximas, cansadas
de esperar ou descrentes de uma postura ativa do Estado para punir um criminoso, resolvem
“fazer justiça com as próprias mãos”. Dentre estes filmes está“ ”, de WalterAbril Despedaçado
Sales; Ao assisti-lo, tente responder à pergunta: quais as consequências que estes atos de
vingança privada geram na vida de cada envolvido, em suas famílias e na sociedade?
- -8
Muitas sociedades primitivas iniciaram sua jornada utilizando a ameaça da violência física como única forma de
manutenção da paz e da ordem. Este mecanismo ainda é utilizado hoje, de forma mais sutil, em Estados que
podem ser considerados ditatoriais. Os regimes totalitários, incluindo as ditaduras, caracterizam-se pela rigidez
absoluta no trato dos seus cidadãos, e em especial pelo uso da ameaça constante de punição (inclusive física)
daqueles que se opõem ou simplesmente criticam o sistema de poder estabelecido. 
Um pouco mais à frente na história, algumas sociedades começaram a perceber que também poderia ser feito o
controle social de uma forma mais eficaz utilizando-se de um importante mecanismo de psicologia das massas: a
religião. O desenvolvimento do monoteísmo, ou seja, a crença e devoção a uma divindade única – que
invariavelmente vinha acompanhado de um representante seu na terra (normalmente uma autoridade
eclesiástica, como o Papa, ou da nobreza, como os reis), utilizou-se do mesmo mecanismo de manutenção da paz
e da ordem social pelo temor aos castigos divinos, e em especial pela condenação dos pecados (ou institutos de
culpa equivalentes) no pós-morte, seja em uma outra dimensão de existência (como os conceitos de céu, purgató
rio e inferno). 
VOCÊ QUER LER?
Em todo o mundo há constantes debates sobre as penas impostas aos infratores da lei, e as
baixas penas são apontadas como uma das causas que fomentam a criminalidade. Mas será que
estas penas realmente representam os valores considerados caros à sociedade? O que será
mais importante, o furto de um calçado (pena de reclusão de 1 a 4 anos) ou a debilidade
permanente de uma função do corpo, como a perda parcial da visão ou da mobilidade de uma
mão (pena de reclusão de 1 a 5 anos)? Compare as penas previstas no Código Penal a partir do
art. 121. Disponível em
< >.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm
VOCÊ QUER VER?
Não deixe de ver “A Onda” (2009), de Dennis Gansel. Rainer é um professor a quem foi
designada a tarefa de instruir seus estudantes de Ensino Médio sobre o Estado Autocrático
durante uma sessão às lições longas. Um professor favorito entre as crianças, Rainer decide
deixar seus alunos desenvolver o assunto e pede a eles que construam sua própria autocracia.
No entanto, quando as crianças formam um Estado-nação similar com o da Alemanha nazista, e
os professores não sabem o que fazer.
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Apesar das críticas se fazem a este sistema, é importante reconhecer que há uma clara evolução em relação aos
mecanismos de manutenção da paz social baseados exclusivamente na violência onipresente. Os sistemas
derivados das chamadas Teocracias (Teo = Deus, Cracia = Governo, o “ ”), usam a forçGoverno da divindade a política da indução e do discurso sedutor do acolhimento em uma comunidade fraternal, conduzida pelos
representantes da divindade na terra (daí o nome Pastor, que conduz suas ovelhas, ou de Padre (pai, em Latim),
que conduz seus filhos), para um lugar melhor (o céu ou paraíso), através das virtudes apregoadas nos dogmas
de cada religião.
Por fim, o movimento filosófico do Iluminismo, iniciado no século XVII, tenta romper com a ideia de que os
poderes públicos que condicionam e regulam a vida de uma determinada sociedade tenham que se estabelecer
pela força da ameaça do castigo físico ou pelo temor a uma sanção divina. Segundo os ideais deste movimento, a 
razão é o critério que dever usado para a tomada de decisões individuais e coletivas
Pode-se sintetizar a evolução das relações de poder, com finalidade exclusivamente didática e levando em
consideração apenas as linhas gerais de atuação de cada um dos mecanismos citados na seguinte estrutura:
Figura 3 - Modelos de estabelecimento de relações de poder.
Fonte: Elaborada pelos autores, ChameleonsEye, Stocksnapper, Shutterstock, 2019.
Note que a evolução da humanidade até o Iluminismo não prega, de forma geral, a abolição total do uso da força f
ísica como instrumento de poder (o Direito no mundo todo o usa, em especial no Direito Penal), nem o fim das
religiões. O que se defende é que deve ser a razão o princípio reitor, a guia para a tomada de decisões que afetem
a vida das pessoas, tanto no plano individual quanto coletivo, para que uma verdadeira, duradoura e ampla paz
social possa se estabelecer, por meio da ideia de cidadania, na qual os indivíduos colaboram com o bem estar
VOCÊ O CONHECE?
Hyeronimus Bosch, conhecido como “El Bosco” ou “Bosco”, foi um pintor da baixa idade média
que talvez tenha sintetizado da forma mais impactante os sentimentos de ameaça e medo que
pairavam sobre as condutas humanas, condicionadas pela religião, como se vê em pinturas
como “O Jardim das Delícias Terrenas”. Conheça mais as obras de Bosch:
<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/06/12/Os-sites-interativos-com-obras-de-
>.Hieronymus-Bosch-em-alta-resolu%C3%A7%C3%A3o
- -10
social possa se estabelecer, por meio da ideia de cidadania, na qual os indivíduos colaboram com o bem estar
geral contribuindo com suas capacidades e habilidades de forma ativa, ao tempo em que respeitam as normas de
convivência social para a proteção de seus próprios interesses.
1.1.3 O Direito como tecnologia humana de resolução de conflitos
Da mesma forma que a engenharia pesquisa novas técnicas e materiais para resolver problemas, o Direito, como
ciência, aborda problemas novos e antigos de convivência social e constrói, na medida do possível, soluções que
aos poucos se incorporam ao cotidiano social. 
É inegável, entretanto, o caráter científico do Direito contemporâneo. Claro que os valores morais, políticos,
religiosos, filosóficos e econômicos condicionam os debates jurídicos, mas deve-se notar que não é nenhum
destes fatores que, isoladamente, direciona a tomada de decisão jurídica (embora seja inegável que em
determinadas áreas o fator econômico pese de forma mais evidente em algumas decisões normativas).
É para prevenir, evitar e resolver conflitos, com o fim de garantir a paz social efetiva, livre, justa, solidária e
duradoura que serve o Direito.
- -11
Figura 4 - Apesar de todas as críticas cabíveis, o Direito é uma tecnologia social indispensável à resolução de 
conflitos de forma racional e civilizada.
Fonte: Andrey Burmakin, Shutterstock, 2018.
Sem estas condições, o real progresso da sociedade humana (chamada por alguns, apropriadamente, de Processo
Civilizatório), não pode ocorrer. De que adiantam pontes, túneis e viadutos sem a liberdade de locomoção? De
que adianta uma conexão ultraveloz de internet de não se pode ver ou divulgar o que se pensa? Para quê
avançarmos na tecnologia médica que estende nossa vida por décadas, se não houver uma efetiva proteção do
direito de estar vivo, e de viver com dignidade?
A ideia de centralidade do Direito como criação humana essencial para o desenrolar do processo civilizatório
exige um compromisso de cada pessoa com a coletividade, pois somente com o conhecimento das normas de
convivência social e seu cumprimento de forma ativa e consciente permite que o Direito seja um real
instrumento de paz social. 
- -12
1.2 Cidadania
Desde a Grécia Clássica, berço da filosofia ocidental, que se evoca a ideia da participação efetiva dos indivíduos
nas decisões de interesse coletivo de forma ativa.
Mas na esfera das Ciências Sociais Aplicadas o conceito de cidadania envolve atitudes e um âmbito de atuação
mais amplo. Conhecer e envolver-se nos problemas da vizinhança, do bairro, da cidade, do estado, do país e do
mundo mostram como se ampliam as responsabilidades de cada um.
A cidadania revela-se de caráter duplo: é respeitando as normas de convivência social que posso exigir aos
demais que sejam respeitados tanto nos meus interesses individuais (como o direito ao descanso) quanto
coletivos (por exemplo, que o meio ambiente em que vivo esteja adequado – para mim e para os demais).
O Direito tem que desenvolver mecanismos que atendam os interesses de todos – mesmo os contraditórios. Fica
óbvia a complexidade de sua missão. Para tanto, o Direito busca na Filosofia, na Política e na Sociologia Jurídica
os parâmetros centrais de orientação na criação de normas legais: os princípios norteadores da convivência
social harmônica.
1.2.1 Princípios norteadores da convivência social harmônica
Antes que a Constituição, as leis e quaisquer outras normas sejam redigidas, durante o processo legislativo os
membros do Poder Legislativo (chamados de Parlamentares) devem levar em consideração uma série de princí
pios que norteiam a convivência social. Clique na interação a seguir para conhecê-los.
Após a Revolução Francesa, baseada nos ideiais ilumimistas, foi criada a Declaração Francesa dos Direitos do
Homem e do Cidadão, consgrando-se a e a , como direitos inatos a todos os indivíduos,igualdade liberdade
visto que eram (e ainda são) um dos mais importantes valores humanos e que nem o Estado, nem outra pessoa
poderiam violar em relação a cada pessoa. Ganharam espaço os chamados Direitos Fundamentais de 1ª. geração
(ou dimensão), conhecidos como Direitos Individuais, ou Liberdades Públicas (RAMOS, 2014, p. 43).
No final do século XVIII, defendeu-se a ampliação de direitos abarcados pela Declaração Francesa dos Direitos do
Homem e do Cidadão, para abarcar os direitos sociais, tais como o direito à educação. Com o decorrer do tempo,
com a industrialização, o crescimento dos centros urbanos, começaram questionamentos sobre como pode ser
injusto tratar duas pessoas que estão em situações bastante distintas da mesma forma. Nesta época contestou-
se, por exemplo a “liberdade” do empregado a se submeter contratualmente com seu empregador a uma jornada
diária de trabalho de 12 horas ou mais, de domingo a domingo, sem descanso, sem férias, trabalhando de dia ou
de noite. 
Em uma situação de desemprego generalizado, com excesso na oferta de mão de obra, as contratações neste per
íodo eram do estilo “pegar ou largar: se você não assinar, há várias pessoas na fila dispostas a se submeter a
estas condições”. E, por precisar do emprego para sua subsistência e de suas famílias, trabalhadores de todo o
mundo usavam de sua “liberdade” e assinavam o contrato de trabalho mesmo nestas condições.
Assim, em meados do século XIX, crescem na Europa, os movimentos socialistas por sua luta contra o modo de
produção capitalista. . E, por sua vez, em 1919, cria-se a Organização Mundial do Trabalho, através do Trato de
Versalles. (RAMOS, 2014, p. 45).
Percebeu-se, então, que a liberdade é um parâmetro válido em condições de igualdade real, mas não entre
pessoas em situação de desigualdade, especialmente quando uma delas detém algum tipo de vantagem ou poder
sobre a outra. Nascem no início do século XX os primeiros direitos que buscam corrigir estas diferenças,
conhecidoscomo Direitos Sociais. Neles, o valor da ocupa um papel central. igualdade
E, por fim, no final do século XX, com a massificação da produção e seus impactos nas relações comerciais e no
meio ambiente (inclusive em virtude dos fenômenos da urbanização e a globalização), os juristas começaram a
desenvolver estudos – que se transformaram em normas legais – sobre a responsabilidade conjunta que todos
temos com os demais até no âmbito global, já que o planeta terra é o lar comum de toda humanidade e os
fenômenos ambientais (como o aquecimento global) não é delimitado por fronteiras geográficas. Neste momento
nascem os Direitos Fundamentais de 3ª. Geração ou dimensão, pautados no princípio da fraternidade ou
- -13
nascem os Direitos Fundamentais de 3ª. Geração ou dimensão, pautados no princípio da fraternidade ou
(Direitos Difusos). (RAMOS, 2014, p. 56)solidariedade 
Além destes valores – que compõem o tríptico da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade),
outros valores guiam, em todos os países civilizados, a criação e aplicação das normas que visam a convivência
social harmônica. (RAMOS, 2014, p. 43)
1.2.2 Cidadania como categoria jurídica
A previsão normativa no texto constitucional do compromisso com os valores de uma convivência social harm
ônica, em uma sociedade empenhada com a solução pacífica dos conflitos, só reforça a dupla face da cidadania,
como um ao tempo em que tambépoder m é um dever. Ser cidadão transcende o conceito formal de participaçã
o política – seja através do voto ou da candidatura. Assim,
[...] cidadania, bem sabemos, jamais foi um conceito estanque. Ao contrário, é o espelho histórico da
busca incessante pelo exercício pleno da democracia, uma con- cepção evolutiva, ligada ao tempo e
relacionada a cada região, construída por meio de manifestações, lutas, reivindicações, revoluções
(FELBERG, 2015, p. 9).
Essa afirmação se reflete na própria ideia do que é um direito – que, apesar das possiblidades conceituais
absolutamente amplas –, pode ser descrito como um poder conferido pela lei a uma pessoa para que exija a
proteção de um interesse seu, ao tempo em que esta mesma lei incumbe a outra pessoa o dever de respeitar este
interesse alheio, sob pena de ser sancionado (castigado, punido), se não cumprir o que está determinado na
norma jurídica.
A responsabilização em geral vem acompanhada de uma punição (sanção legal), como uma multa, a suspensão
ou cassação de um direito, ou mesmo a privação de nossa liberdade. A corrente científica dominante do Direito
inclusive afirma que não é possível a existência de um direito sem a previsão da respectiva sanção em caso de
violação da norma jurídica.
VOCÊ QUER LER?
Cidadania jurídica internacional: o fenômeno da globalização, iniciado com as relações
econômicas de comércio internacional e depois incorporada ao âmbito da cidadania política
foram ampliadas para o âmbito jurídico, pela criação de vários órgãos internacionais de
jurisdição. Entenda um pouco mais como se delimita o conceito de cidadania jurídica global e
sua relação com o Direito no Brasil no texto “Dos direitos humanos à cidadania jurídica global”,
de Ademario Tavares. Disponível no link:
<http://www.academia.edu/33577873/ DOS_DIREITOS_HUMANOS_%C3%
>.80_CIDADANIA_JUR%C3%8DDICA_GLOBAL_Uma_hist%C3%B3ria_inacabada
- -14
1.2.3 Educação em cidadania
Como em qualquer âmbito de atividade humana, a forma mais eficaz de prevenção de problemas decorre da
educação das pessoas – tanto no sentido estrito da palavra, sobre o nível de conhecimento e escolaridade, como
no sentido amplo, de agir de forma gentil, polida e respeitosa com os demais em todos aspectos do dia a dia.
A educação para a cidadania envolve a incorporação, no comportamento cotidiano dos indivíduos, dos princípios
norteadores da convivência social harmônica. Sua educação escolar e caseira devem constantemente indicar que
um cidadão tem consciência de que seus atos sempre têm consequência - para si e para os demais, configurando
a ideia da ; demonstrar que, ao não violar o direito alheio nem deixar que se viole um direitoresponsabilidade
seu se firma, em sociedade, a ideia do ; e que na esfera de liberdade das pessoas, cada uma de suasrespeito
escolhas e características que não agridam direito de outra pessoa faz parte de sua individualidade, promovendo
desta forma a ideia de tolerância à diversidade.
Figura 5 - A cidadania ativa é essencial para uma sociedade democrática e civilizada. Sem a participação ativa 
dos membros da coletividade as normas jurídicas ficam vulneráveis à manipulação que coloca em risco o 
desenvolvimento social justo.
Fonte: Shutterstock, 2018.
É inegável, porém, que mesmo nas sociedades mais civilizadas ocorrem litígios relacionados aos interesses de
cada pessoa ou grupo, e que muitas vezes são incompatíveis entre si. É justo, por exemplo, que uma empresa
deixe de operar em uma determinada área porque os vizinhos reclamam do intenso trânsito que surgiu em
virtude da sua instalação? É justo que se pague uma indenização aos vizinhos afetados? Afinal, o que é justo? O
que é Justiça? 
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1.3 O que é Justiça?
A palavra justiça, tanto no vocabulário popular, como no próprio vocabulário jurídico, tem mais de um
significado. Em seu conceito orgânico é o conjunto de órgãos e pessoas (como Tribunais, Juízes, serventuários da
Justiça), instituição à que se busca para resolver algum litígio em que seja necessária a aplicação das normas
legais (AZEVEDO et al., 2015, p. 71).
A segunda dimensão do termo Justiça está ligada à sua função (conceito funcional). De início pode-se afirmar que
a Justiça é o princípio central do Direito. Tanto para prevenir, como para resolver conflitos, o Direito tem a
função de, utilizando do raciocínio lógico, e guiado pelos princípios de convivência harmônica (em especial
responsabilidade, respeito e tolerância), ponderar os interesses envolvidos e, baseados nas normas existentes,
determinar qual a solução mais adequada para o caso apresentado (AZEVEDO et al., 2015, p. 71).
1.3.1 Fundamentos do conceito de justiça
Quando se diz que algo é ou está justo, pode-se entender que não há nenhum tipo de excesso – não falta nem
sobra nada. A ideia do justo, que permeia todo nosso cotidiano, reflete dois elementos fundamentais: o uso da
razão para proceder à escolha mais equilibrada, e que esta decisão deve atender, da forma mais adequada
possível, todos interesses envolvidos – individuais e coletivos. Clique na interação a seguir e veja um exemplo.
 
Vamos usar como exemplo de aplicação prática um dos mais antigos e constantes problemas de justiça no
mundo: o sistema tributário. Todos pagamos impostos, seja pelo que recebemos (impostos sobre a renda), seja
sobre o que compramos (impostos sobre o consumo). 
 
Um sistema que cobre impostos extremamente elevados sobre o consumo, e não sobre a renda, é
necessariamente injusto, pois quem tem mais renda acaba contribuindo proporcionalmente menos que a
população de menor renda, pois o valor dos impostos embutidos no mesmo produto que ambas populações
compram será o mesmo, fazendo com que quem tem pouco poder aquisitivo não possa adquirir tudo que
necessita.
 
Por outro lado, um sistema tributário que incida de forma exagerada sobre a renda é também injusto, pois os que
têm maior renda podem alegar que apenas seus esforços contribuem para a manutenção do Estado, e aqueles
que têm pouca renda (ou não a tem) de forma indireta se beneficiam, desestimulando a quem trabalha e tem
uma renda maior. Um sistema tributário justo leva em consideração a necessidade de tributar renda e consumo
de forma equilibrada, para que não haja um esforço desproporcional de todos grupos de interesse envolvidos.
Mas é importante perceber também que a Justiça, enquanto valor jurídico, não é absolutamente neutra, pois sua
compreensão depende, na maioria das vezes, da visão de mundo e dos interesses de quem faz, aplica e julga as
regras legais. 
- -16
Nota-se que, mesmo utilizando-se parâmetros racionais,o princípio da justiça não é imparcial, nem neutro, pois
outros valores (políticos, ideológicos, econômicos e até religiosos) acabam por condicionar sua aplicação no dia a
dia. 
1.3.2 Direito ao desenvolvimento
Na linha evolutiva dos Direitos, no final do século XX começou a se debater sobre o real impacto da evolução da
humanidade na vida de cada indivíduo. A ONU (Organização das Nações Unidas) criou o PNUD (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento), que entre vários objetivos analisa e divulga o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). Este índice busca refletir o quão “civilizada” é uma sociedade, utilizando como
indicadores o nível de renda, escolaridade e expectativa de vida de uma determinada localidade. 
O alto IDH de um país indica que seus cidadãos gozam de uma qualidade de vida elevada. As pessoas que aí
vivem têm a oportunidade de levar uma vida digna, confortável e segura usando suas competências e
habilidades, protegidas por um sistema jurídico democrático e eficaz. 
CASO
Embarcações e aeronaves não devem pagar o Imposto sobre Propriedade de Veículos
Automotores (IPVA). Esta foi a decisão do Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) ao dar
provimento, por maioria, ao Recurso Extraordinário (RE) 379572. Inicialmente, O recurso foi
interposto contra decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), que havia julgado
válidos o artigo 5º, II, da Lei estadual 948/85 e o artigo 1º, parágrafo único do Decreto 9.146
/86. Estes dispositivos faziam incidir o IPVA sobre proprietários de veículos automotores,
incluindo embarcações e aviões. No início do julgamento, cinco Ministros entenderam ser
incabível a cobrança do IPVA para embarcações e aeronaves, afirmando que este imposto
sucedeu a Taxa Rodoviária Única, que historicamente exclui embarcações e aeronaves.
Contudo, dois Ministros divergiram a por entender que “a expressão ‘veículos automotores’
seria suficiente para abranger embarcações, ou seja, veículos de transporte aquático”. Ao final,
mais dois Ministros entenderam pela ilegalidade da incidência de IPVA sobre aeronaves e
embarcações, dando provimento ao Recurso Extraordinário em questão.
- -17
Em uma das edições mais influentes do relatório do IDH, a do ano 2000, cujo mote central foi “Direitos Humanos
e Desenvolvimento Humano”, além de destacar a necessária relação entre os dois conceitos – não há sociedade
desenvolvida onde não se respeitam os Direitos Humanos (e vice-versa) – o relatório define o conceito de
Desenvolvimento Humano:
O desenvolvimento humano, por seu turno, é um processo que melhora as capacidades humanas –
alarga as escolhas e oportunidades, de forma que cada pessoa possa levar uma vida de respeito e
valor. Quando os direitos humanos e o desenvolvimento humano avançam em conjunto, reforçam-se
mutuamente – expandindo as capacidades das pessoas e protegendo os seus direitos e liberdades
fundamentais (...). Os direitos humanos podem acrescentar valor à agenda do desenvolvimento.
Chamam a atenção para a responsabilidade de respeitar, proteger e cumprir os direitos humanos de
todas as pessoas. A tradição dos direitos humanos traz os instrumentos legais e as instituições – leis,
sistema judicial e processo de litigação – enquanto meios que asseguram as liberdades e o
desenvolvimento humano (PNUD 2000, p. 2). 
De acordo com este conceito, uma sociedade civilizada, desenvolvida, é necessariamente justa, pois parte da
ideia de que a proteção integral dos direitos de seus cidadãos de forma relativamente igual é essencial para que
todos possam, de acordo com suas afinidades, usar suas habilidades e competências para progredir em todas
dimensões da existência humana.
1.4 O fiel da balança: justiça como igualdade
A noção de justiça, como vimos, está condicionada ao contexto político, social e econômico de sua aplicação. Por
exemplo, é injusto (e ilegal) que um determinado prefeito decida contratar uma empresa que pertence a um
amigo íntimo seu para a realização de uma obra pública (paga com recursos públicos) na cidade exclusivamente
em virtude desta amizade. Perceba que esta afirmação não é válida quando se trata do uso do recurso privado
para fins privados. Imagine que este mesmo prefeito está preparando o casamento de uma filha sua e, usando
legalmente seus recursos privados, escolhe uma empresa de um amigo seu, porque confia e gosta de seu
trabalho, embora haja outras empresas na cidade que fornecem serviços semelhantes a um custo menor. Neste
segundo caso não há ilegalidade, nem, via de regra, injustiça.
VOCÊ QUER LER?
Periodicamente a ONU publica o Relatório do Desenvolvimento, que lista o IDH de
praticamente todos países do mundo e retrata o panorama geral do desenvolvimento da
sociedade humana. A cada edição um tema específico recebe destaque. Todos relatórios estão
disponíveis no site do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Disponível em:
<http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/idh0/relatorios-de-desenvolvimento-
>.humano/rdhs-globais.html
- -18
1.4.1 A justiça e o princípio da igualdade
Para que uma determinada situação possa ser considerada justa, duas pessoas que estejam em uma mesma
situação jurídica devem ser tratadas de forma igual, em especial quando se trata do uso de prerrogativas e
recursos públicos. Esta afirmação é uma consequência lógica da visão de justiça desde uma perspectiva racional.
Duas pessoas que trabalham em uma mesma empresa, exercendo a mesma função com o mesmo nível de
qualidade não podem ser remunerados de forma diferente, em especial se o motivo da remuneração menor for
consequência de uma característica do funcionário sem nenhum vínculo com o desempenho da função – como o
fato de ser mulher, negro, estrangeiro, homossexual, ateu etc. Mesmo nas empresas privadas os critérios de
seleção estão condicionados ao respeito aos Direitos Fundamentais, e a seleção de pessoal e a política e cargos e
salários baseados na discriminação de pessoas é punível por lei – e no Brasil é inclusive crime, como veremos na
interação a seguir. Clique para ver.
O princípio da igualdade repete-se constantemente em nossa legislação. Diz, por exemplo, o art. 5º da
constituição brasileira (BRASIL, 1988), que todos devem ser tratados da mesma forma perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, para garantir a todos o tratamento justo, igual. 
Há, entretanto, uma característica fundamental para a correta interpretação desde artigo: todos que estão na
mesma situação jurídicadevem ser tratados de forma igual perante a lei. No direito, esta situação chama-se 
Igualdade Formal (RAMOS, 2014, p. 477).
Por outro lado, há pessoas e grupos sociais que, por diferentes motivos, sofrem algum tipo de interferência
negativa sobre seus direitos, o que dificulta ou impossibilita que elas possam usufruir completamente dos
mesmos. 
Um exemplo clássico é o das pessoas que tem algum tipo de deficiência física. Se não houvessem regras jurídicas
específicas sobre acessibilidade, por exemplo, estas pessoas teriam muito mais dificuldade (além das que já tem
que enfrentar em virtude de sua condição) para se locomover pela cidade, poder frequentar escolas e faculdades,
informar-se, ir ao médico, poder ir ao cinema ou a outros tipos de atividade lúdica.
O ordenamento jurídico de qualquer sociedade minimamente civilizada cria normas para a inclusão destas
pessoas (através, por exemplo, das chamadas “normas edilícias de acessibilidade” – as regras de construção que
levem em conta as necessidades das pessoas com deficiência física). 
Este tipo de norma jurídica, que trata as pessoas que estão em uma condição especial de forma diferenciada, é
classificada como regra de , ou seja, leva-se em consideração a dificuldade (normalmenteIgualdade Material
chamada pelo Direito de vulnerabilidade) específica de um determinado grupo social para que se desenvolvam
regras jurídicas de inclusão que minimizem o impacto negativo destas vulnerabilidades sobre seus direitos. 
(RAMOS, 2014, p. 477)
Através da equidade, são desenvolvidos mecanismos quepromovem a justiça através de uma igualdade efetiva
(material) e não apenas aparente (formal). Para isso, são utilizadas as ações afirmativas, as quais
consistem num conjunto de diversas medidas, adotadas temporariamente e com oco determinado,
que visa compensar a existencia de uma situação de discriminação que políticas generalistas nao
conseguem eliminar, e objetivam a concretização do acesso a bens e direitos diversos (RAMOS, 2014,
p. 480).
O Direito é um dos mais importantes mecanismos de promoção da equidade, juntamente com a educação para a
cidadania (em especial no tocante ao respeito às diferenças e do estímulo à formação humanista e fraterna).
Estes mecanismos são essenciais para o combate ao preconceito, à discriminação e ao racismo.
- -19
1.4.2 Preconceito, discriminação e racismo
O preconceito, como o próprio nome indica, é o conceito prévio sobre algo ou alguém desconhecido. A afirmação,
por exemplo, de que todo alemão é pontual e que todo brasileiro gosta de sambar é, do ponto de vista da lógica
mais simples, falsa, pois há alemães impontuais, como há brasileiros que não gostam de sambar. As afirmações
acima são preconceituosas no sentido lógico da palavra, pois são a manifestação pré-concebida sobre dois
grupos sociais específicos (alemães e brasileiros) sobre duas características apontadas genericamente como suas
(pontualidade e gostar de sambar). Leia mais na interação a seguir. 
Quando uma pessoa tem um direito seu negado ou violado em virtude de um preconceito a situação é bem
distinta. Neste caso afirma-se que ocorreu uma discriminação, e todas sociedades civilizadas têm leis que
punem quem age desta maneira – o art. 3º, IV da Constituição (BRASIL, 1988) estabelece que um dos objetivos
fundamentais da República Federativa do Brasil é “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Além disso, diversas legislações brasileiras tipificam como crime, situações de discriminação, dentre elas a
discriminação em virtude de grupo étnico-racial, em especial contra negros e indígenas, o racismo. 
A Lei Federal nº 7.716/1989, estabelece a pena de reclusão (prisão) para quem, em virtude de preconceito de raç
a, cor, etnia, religião ou procedência nacional nega a alguém emprego em empresa privada ou impede acesso a
cargo público, recusa ou impede o acesso a estabelecimento comercial (incluídos bares, restaurantes etc.), nega
matrícula em instituição de ensino (pública ou privada), impede acesso a elevadores e áreas sociais, por
exemplo. 
As penas variam de 1 a 5 anos de reclusão, a depender do crime praticado. Já, em 2010, foi editada a Lei nº
12.228, instituindo-se o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da
igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à
discriminação e às demais formas de intolerância étnica.
Há, entretanto, outras modalidades de discriminação pautados em condutas preconceituosas não previstas na
Lei nº 7.716/1989 e na Lei nº 12.228/2010, a exemplo da discriminação contra a mulher e em virtude da
identidade de gênero e orientação sexual.
Após aderir à Convenção sobre Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher das Nações
Unidas e à Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, em 2006, o
Brasil editou a Lei nº 11.340, popularmente chamada de Lei Maria da Penha. A referida lei objetiva coibir e
prevenir a violencia doméstica e familiar contra a mulher.
Outra forma de discriminação é aquela em virtude da identidade de gênero e da orientação sexual. Nesse
sentido, “o direito fundamental à livre orientação sexual consiste no direito ao respeito, por parte do Estado e de
terceiros, da preferência sexual e afetiva de cada um, não podendo dela ser extrapída nenuma consequência
VOCÊ SABIA?
Outra forma de discriminação, é o preconceito de classe social, ainda muito no Brasil. Há pouco
tempo ocorreu um caso em que um juiz de direito negou o acesso de um agricultor à sala de
audiência porque ele estava calçado com chinelos, e não com um sapato social fechado.
Constatou-se que aquele era o único calçado que o trabalhador tinha. Posteriormente, o juiz foi
condenado a pagar uma indenização. Saiba mais em
<http://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2017/03/juiz-que-barrou-lavrador-por-
>.usar-chinelo-e-condenado-pagar-r-12-mil.html
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terceiros, da preferência sexual e afetiva de cada um, não podendo dela ser extrapída nenuma consequência
negativa ou restrição de direitos”. (RAMOS, 2014, p. 487)
Não há proteção expressamente prevista à orientação sexual e à identidade de gênero na legislação brasileira.
Contudo, essa proteção pode ser extraída do princípio da dignidade da pessoa humana, previsto no art. 1º da 
Constituição (BRASIL, 1988), bem como do princípio da não discriminação, elencado no art. 3º, IV da
Constituição.
Ainda, sobre a proteção à livre orientação sexual e à identidade de gênero, tem-se os Princípios de Yogyakarta
(CORRÊA; MUNTARBHORN, 2006, p. 12), dispondo que “os seres humanos de todas as orientações sexuais e
identidades de gênero têm o direito de desfrutar plenamente de todos os direitos humanos”.
1.4.3 Ações afirmativas
Algumas formas de prevenção de conflitos e de promoção da justiça 
decorrentes do Direito como tecnologia social aplicada se 
concretizam por meio das “ , também chamadas Ações Afirmativas
de ”. (RAMOS, 2014, p. 481)Discriminações Positivas
As leis que criam ações afirmativas buscam dar a oportunidade 
para que determinados indivíduos e grupos sociais possam 
enfrentar as vulnerabilidades que ameaçam, enfraquecem ou 
violam seus direitos, utilizando-se do conceito de igualdade 
material. As normas constitucionais que estabelecem a 
aposentadoria feminina com 5 anos de antecedência à masculina 
são uma forma de ação afirmativa. Da mesma forma as cotas em 
concursos públicos e espaços reservados em meios de transporte e 
em lugares coletivos (cinemas, teatros, estádios etc.) para 
deficientes físicos.
- -21
Figura 6 - As normas de proteção dos interesses de grupos vulneráveis, como os deficientes físicos, são 
chamadas de Ações Afirmativas, e concretizam o princípio da fraternidade.
Fonte: pryzmat, Shutterstock, 2018.
Verifica-se, pois, que o Direito pode buscar novas soluções que 
melhorem a vida das pessoas de forma justa, para promover os 
direitos que cada ser humano tem, de acordo com suas 
peculiaridades. O tratamento diferenciado proporcionado pelas 
ações positivas a grupos sociais específicos, deve ser temporário, 
até que estas vulnerabilidades se extingam, fazendo com que as 
diferenças sejam abraçadas e respeitadas não pela imposição de 
penas, mas sim pela consciência humana e cidadã (daí, reitere-se, a 
importância da educação para a cidadania) da necessidade da 
quebra dos preconceitos para a construção de uma sociedade livre, 
justa, fraterna e civilizada.
- -22
Síntese
O Direito é essencial para a manutenção de uma mínima convivência social pacífica. Embora o Direito seja para
todos, há grupos, que devido a sua vulnerabilidade social, necessita de proteção específica do Estado.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
• compreender que as transformações sociais, que são absolutamente essenciais para o progresso da 
humanidade, invariavelmente produzem conflitos;
• compreender como o Direito tem um papel central como instrumento de prevenção, controle e 
resolução de conflitos;
• identificar nos princípios norteadores da convivência social harmônica os fundamentos da cidadania;
• compreender que a Justiça é o meio e fim do Direito como tecnologia social aplicada para a manutenção 
da paz e da ordem com conteúdo, visando ao desenvolvimento de todos membros de uma sociedade;
• conhecer o conceito de igualdade formal, igualdade material, equidade e ações positivas como 
mecanismos jurídicos de promoção da justiça e do desenvolvimento das pessoas.
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