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Fisiologia Humana I (AT) João Vitor Novaes | 74A Medicina FCM-MG 1º período 2020.2 BIOFÍSICA CELULAR: POTENCIAL DE MEMBRANA E POTENCIAL DE AÇÃO (capítulos 04 e 05 do Guyton) MEMBRANA CELULAR - Define os limites do que é célula e a separa do meio no qual ela se encontra (meio extracelular). - “Fronteira” que forma a “barreira” para a passagem de substâncias entre o interior e o exterior da célula. - Funciona como um intercâmbio “seletivo” de substâncias entre os meios intracelular e extracelular. Constituição estrutural da membrana - Bicamada lipídica (duas camadas de fosfolipídios justapostas). - Esses fosfolipídios são organizados por ação da repulsão da água pelas regiões apolares. - Meio hidrofóbico (interior): água, íons e outras moléculas não passam por essa barreira. - A água pode ter sua permeabilidade aumentada pela presença de proteínas aquaporinas. Permeabilidade seletiva da membrana Proteínas das membranas - Mediar o transporte de água (aquaporinas) e compostos hidrofílicos através da membrana. - São chamadas de canais ou transportadores. - São seletivas medeiam o transporte de substâncias específicas. Como na figura ao lado, vemos canais dos íons potássio, sódio e cálcio e uma bomba de sódio e cálcio – ou seja, são estruturas específicas para a passagem desses íons. Proteínas receptoras - São aquelas que recebem uma informação para passar adiante dentro da própria célula. Por isso, elas se ligam a mediadores químicos (neurotransmissores, hormônios, polipeptídios). - Agem através de efeitos sobre a permeabilidade iônica da célula e efeitos sobre a atividade das enzimas intracelulares (isso significa que, de acordo com o aumento ou diminuição da permeabilidade, as proteínas conseguem abrir canais e facilitar a entrada de íons, como também pode, quando ligada ao mediador, evitar que alguma substância saia do interior da célula fechando as comportas). - Acetilcolina: é um mediador químico/neurotransmissor que se liga em várias células através de seus receptores específicos (receptor nicotínico e receptor muscarínico). o Receptor nicotínico: quando a acetilcolina se liga a esse receptor, é gerada uma alteração na conformação desse receptor (que está ligado a um canal), juntamente da abertura do canal para permitir a passagem de cátions. o Receptor muscarínico: quando a acetilcolina se liga a esse receptor, é gerada uma alteração no receptor, que acaba por ativar uma sequência de reações enzimáticas no citoplasma. Transportes através das membranas - Gradiente de concentração: passagem de substâncias do meio + concentrado para o - concentrado. Transporte passivo: - A favor do gradiente de concentração - Sem gasto de energia Transporte ativo: - Contra o gradiente de concentração - Com gasto de energia (ATP) 1. Transportes PASSIVOS DIFUSÃO SIMPLES Pode ocorrer de duas maneiras: - Através dos interstícios da bicamada lipídica (lipossolúvel). - Através de canais aquosos de grandes proteínas transportadoras. Exemplo: água e substâncias lipossolúveis. O oxigênio e o dióxido de carbono atravessam a membrana celular com grande facilidade, simplesmente se dissolvendo na matriz lipídica dessa membrana – são gases lipossolúveis. DIFUSÃO ATRAVÉS DE CANAIS PROTEICOS E AS COMPORTAS DESSES CANAIS - Canais formados por proteínas que possuem permeabilidade seletiva. Existem dois tipos de canais: Canais por voltagem: - Também chamados de canais voltagem dependentes ou sensíveis à voltagem. - A conformação molecular do canal responde ao potencial elétrico através da membrana celular. Quando se tem o potencial de ação, o canal abre. Quando não se tem o potencial de ação, o canal fecha. Canais químicos: - São abertos pela ligação da substância química (ligante) com a proteína. - Gera uma alteração conformacional (abre/fecha o canal). - Mecanismo de chave-fechadura. Porta = canal Fechadura = ligante/receptor Chave = mediador químico DIFUSÃO FACILITADA - Substância insolúvel à matriz lipídica e de grande peso molecular. - Atravessa a membrana com a ajuda de uma proteína carregadora específica. Exemplo: a glicose atravessa a membrana celular do LEC para o LIC ligada a uma proteína carregadora específica para a glicose, chamada GLUTs. Difusão simples x Difusão facilitada - Facilitada: substância com peso molecular maior englobada por uma proteína carregadora. - Simples: substância de peso molecular menor passando do meio + concentrado para o - concentrado. 2. Transporte ATIVO - Transporte que ocorre com gasto de energia (moeda energética ATP). - Ocorre contra o gradiente de concentração: meio – concentrado para o + concentrado. - Transporte ativo muito importante no organismo: bomba de sódio e potássio. Através do gasto de energia, a bomba de sódio e potássio tira, do interior da célula, 3 íons sódio e leva para o LEC (fluido extracelular). Do LEC, tira 2 íons potássio e leva para o citosol, fazendo movimento contrário de acordo com a concentração dessas substâncias, pois sabemos que a concentração de sódio é maior no LEC do que no LIC. Bomba de sódio e potássio: - Íon Na+ (sódio): mais concentrado no LEC. - Íon K+ (potássio): mais concentrado no LIC. - Difusão desses íons: Na+ entra na célula por difusão facilitada e o K+ sai da célula pelo mesmo processo. - Tendência de equilíbrio entre as concentrações interna e externa desses dois íons (homeostasia). - A célula gasta energia (ATP) para fazer o transporte oposto desses íons: colocar o Na+ para fora e colocar o K+ para dentro. - Importante: manter eletronegatividade dentro da célula. K+ e Na+ POTENCIAL DE MEMBRANA - Diferença de carga elétrica através da membrana, medida em mV. - Para existir a homeostasia celular, existe a difusão dos íons que passam pelos canais específicos. - Saída de K+ (potássio) do interior celular gera cargas negativas dentro da célula. - Entrada de Na+ (sódio) no interior celular gera cargas positivas dentro da célula. - Equação de Nernst Como existe a difusão dos íons potássio e sódio, que se movimentam e geram potencial dielétrico, existe uma equação que descreve o potencial de difusão desses íons de acordo com a diferença da concentração deles através da membrana. Achamos um valor específico de quanto que a passagem desses íons deixa o interior mais eletronegativo (no caso do potássio) e mais eletropositivo (no caso do sódio). Daí, chegamos a um denominador comum para entender o quanto é eletronegativo o interior da membrana – potencial de repouso da célula é eletronegativo. Proporção dos íons (de dentro para fora): [Na+] interna / [Na+] externa = 0,1 [K+] interna / [K+] externa = 35 A, B e C fibras nervosas Difusão de potássio Potencial de Nernst = -94 mV Difusão do sódio Potencial de Nernst = +61 mV Enquanto entra sódio em 61 mV, saem -94 mV de potássio. O resultado final dessa diferença de fluxo de íons de sódio (entrando) e de potássio (saindo) é o fato de a membrana ficar eletronegativa em -86 mV. - A membrana é cerca de 100x mais permeável ao potássio do que ao íon sódio. Potencial de repouso da membrana: - O potencial de repouso da membrana é eletronegativo – tem uma variação de -70 mV e -90 mV. O que provoca essa diferença? Difusão de sódio, difusão de potássio e bomba de sódio e potássio. O potencial da membrana é eletronegativo e existem células que, através de um estímulo, conseguem provocar a inversão dessa polaridade. De acordo com o estímulo, o interior vai ficar, durante determinado tempo, eletropositivo e o exterior ficará eletronegativo (inversão da polaridade da célula). Os tecidos que possuem essa capacidade são chamados de tecidos excitáveis.TECIDOS EXCITÁVEIS - Caracterizados pela gênese (criação) e propagação de impulsos bioelétricos através da membrana em repouso em resposta a algum estímulo. - Os dois tipos de tecidos que são capazes de gerar potencial de ação no nosso organismo (nos nossos sistemas de controle) são os neurônios e os músculos. Neurônios: transmitem impulsos dentro do sistema nervoso. Músculos: contraem em resposta a um estimulo nervoso. POTENCIAL DE AÇÃO NEURAL - Sinais neurais são transmitidos por potenciais de ação, gerando os impulsos nervosos. - O potencial de ação neural corresponde a rápidas variações do potencial da membrana. - Ocorre através de estímulos elétricos, mecânicos, químicos e térmicos. o Elétricos: milivoltagem da eletricidade. o Mecânicos: estímulos de pressão, contato físico. o Químicos: neurotransmissores/mediadores químicos. o Térmicos: sensação de frio e calor. - Potencial de ação ocorre rapidamente (0,1 milissegundos). Estágios do potencial de ação: - Repouso: antes do início do potencial de ação (-90 mV). - Despolarização: Abertura dos canais voltagem-dependentes de sódio. Íons Na+ passam por esse canal. Deixa o interior da célula eletropositivo (+35 mV). - Repolarização: Fechamento dos canais de Na+ e abertura dos canais de K+ voltagem-dependentes. Rápida difusão dos íons K+ para o exterior da célula. Reestabelecimento do potencial de repouso negativo (-90 mV). Existe uma fase que pode acontecer: a hiperpolarização. Nela, a membrana está mais polarizada que o normal. Se o normal da célula é ser eletronegativa, na hiperpolarização, ela estará ainda mais eletronegativa. Princípio do tudo ou nada: - A despolarização da membrana somente ocorrerá se o estímulo for suficiente para deflagrar um potencial de ação. - Limiar de excitabilidade da membrana: o estimulo deve romper esse valor limiar para que a ação seja realizada. Reestabelecimento das concentrações de Na+ e K+: Bomba de sódio e potássio funciona a partir do metabolismo energético celular. Quando maior for a intensidade da bomba, maior deve ser o metabolismo (consumo de ATP). Canais voltagem-dependentes de Na+ e K+: - Figura 1: em repouso (-90 mV). Canal fechado para a entrada de sódio. - Figura 2: -90 a +35 mV. Ativado para entrada de sódio. Ativação lenta em relação ao potássio. - Figura 5: ativação lenta para saída de K+. Gráfico ao lado: - Temos o potencial de membrana variando de -70 até +50 mV e o tempo em milissegundos. - Curva em azul: -7º em repouso recebe um estímulo (princípio do tudo ou nada: o estímulo tem que ser forte o suficiente para atingir o limiar de excitabilidade de -65 mV) despolariza toda a célula (interior positivo a +50 mV) fechamento dos canais de sódio abertura dos canais voltagem-dependentes de potássio sai potássio para repolarização da célula (interior eletronegativo) no gráfico, ocorre a hiperpolarização (a célula fica mais eletronegativa que no início do processo) com o tempo e com as concentrações desses canais e a bomba de sódio e potássio, essa hiperpolarização acaba naturalmente. - Curvas verdes no gráfico = respostas sublimiares (os dois estímulos em verde não atingiram o limiar de excitabilidade da célula não despolarizou não gerou potencial de ação). - Propagação do estímulo (Princípio do Tudo ou Nada): O estímulo é forte o suficiente para chegar ao limiar de excitabilidade. A célula “nervosa” se despolariza no centro e leva para um lado e para o outro (deixando todo o interior da célula despolarizado). Na situação ao lado, de um prego perfurando a pele de uma pessoa (estímulo doloroso), será formado um potencial de ação, que levará uma informação ascendente de dor ao cérebro (atingiu o limiar de excitabilidade). - Base iônica do potencial de ação: Temos um gráfico de potencial de ação de -70 mV em repouso. - Curva ascendente vermelha canais de sódio se abrem. - Chega no -65 mV (limiar de excitabilidade) mais canais de sódio se abrem (área verde). - Fase da despolarização (overshoot): canais de sódio se fecham. - Canais de sódio se fecham e os de potássio abrem (azul claro) repolarização. - Canais de potássio se fecham (célula hiperpolarizada). - Volta e reestabelece seu potencial de repouso de -70 mV. Conceitos importantes: - Período refratário absoluto: (círculo verde) É o tempo em que está ocorrendo o potencial de reação no qual, se dermos outro estímulo, (logo depois do estímulo dado que deflagrou o potencial de ação) não ocorrerá outro potencial de reação – sofrerá refração. - Período refratário relativo: (círculo branco) Se tiver um estimulo nesse momento e chegar ao limiar de excitabilidade, pode ocorrer um outro potencial de ação. TRANSMISSÃO SINÁPTICA E INTEGRAÇÃO NEURAL Dividimos os axônios (fibras nervosas) em dois tipos de fibras: Fibras mielínicas: - Possuem bainha de mielina. - Mais calibrosas. - Potencial de ação ocorre de forma saltatória ( gasto de energia). Não passa no espaço da bainha de mielina (tecido lipídico – isolante elétrico). Então, passa de nódulo de ranvier a nódulo de ranvier. Isso faz com que a velocidade média seja muito alta (+/- 100 m/s). Fibras amielínicas: - Não possuem bainha de mielina. - Mais delgadas. - Condução lenta (+/- 0,25 m/s). No gráfico ao lado, mostra-se, no eixo Y a condução de velocidade de 0 a 80 m/s, e o diâmetro das fibras mielínicas (vermelho) e das fibras amielínicas (azul). O traçado da linha vermelha é mais acentuado (demonstrando, consequentemente, uma maior velocidade de propagação realizada pelas fibras mielínicas em relação ao potencial de ação quando comparamos às fibras amielínicas). Comparando as fibras mielínicas e amielínicas: - Diâmetro: Mielínicas: 1 – 10 micrômetros. Amielínicas: 0,5 – 2 micrômetros. O diâmetro interfere na velocidade de condução: Diâmetro das fibras. Velocidade da condução do potencial de ação (tanto na mielínica quanto na amielínica). Integração Neural: sinapses no Sistema Nervoso Central (SNC) - Transmite as informações do SNC através de potenciais de ação nervosos (impulsos nervosos). - Ocorre por uma sucessão de neurônios, um após o outro, formando circuitos (circuitos neuronais). - As sinapses são divididas em elétricas e químicas. As diferentes sinapses no SNC: Nessa figura, são mostradas as diferentes formas de ocorrerem sinapses. Geralmente, aprendemos que a sinapse ocorre entre o contato do axônio de um neurônio com o dendrito de outro neurônio. Porém, existe sinapse em qualquer parte de um neurônio que recebe uma informação / impulso nervoso / potencial de ação. Sinapse: - Axôniodendrítica: axônio dendrito - Axôniosomática: terminal axônio corpo celular - Dendrodendrítica: dendrito dendrito - Axônioaxonal: terminal axônio terminal axônio A homeostasia do encéfalo é realizar sinapses. Funções sinápticas dos neurônios: - Pode ser bloqueada na sua transmissão de um neurônio para o próximo. Pode existir uma inibição através de mediador químico, fármaco, droga ou doença neurodegenerativa que pode bloquear a sinapse e ela acabar não ocorrendo. - Pode ser alterado de um impulso único para impulsos repetitivos. Um único neurônio (pré-sináptico) manda um estímulo para outro neurônio (pós-sináptico), sendo que essa informação pode ser mais lenta ou mais rápida (um impulso atrás do outro – somação temporal). - Pode ser integrado a impulsos de outros neurônios. Um único neurônio (pós-sináptico) pode receber, no mesmo período, impulsos nervosos de vários outros neurônios (somação espacial). Relação Estímulo-Resposta: (também chamado de somação) - Somação ESPACIAL: Vários estímulos de diferentes terminações pré- sinápticaschegam simultaneamente ao neurônio pós-sináptico. - Somação TEMPORAL: Descargas de uma mesma terminação pré- sináptica são geradas em rápida sucessão ao neurônio pós-sináptico. Essas somações são interessantes para quando estamos realizando atividades que estamos aprendendo ou então em atividades que exigem alta concentração. Pode ocorrer somação espacial junto com somação temporal. Tipos de sinapses: ELÉTRICAS - Ocorre em uma menor quantidade (em relação às sinapses químicas). - Como elas funcionam? São canais abertos diretos de um neurônio para outro que conduzem a eletricidade da célula pré-sináptica para a célula pós-sináptica. Esses canais abertos são canais proteicos que formam as junções comunicantes entre as células neurais. - Junções comunicantes: permitem o livre movimento de íons entre o interior de uma célula para o interior da próxima célula. - Transmite sinais para qualquer direção. Um neurônio pré-sináptico, que transmite a informação unilateral para o neurônio pós-sináptico. Porém, na sinapse elétrica, isso ocorre de maneira diferente: tanto o “neurônio pré-sináptico” envia informações para o “neurônio pós-sináptico” quanto o “neurônio pós-sináptico” envia informações para o “neurônio pré- sináptico” – a informação é passada em via de mão dupla. - A figura ao lado mostra as junções comunicantes (canais de proteína), que estabelecem comunicação bilateral de troca de informações. QUÍMICAS - Quase todas as sinapses do SNC são químicas. - Utiliza neurotransmissores contidos nas vesículas sinápticas para transmissão do impulso nervoso. - Condução em uma só direção: do pré-sináptico para o pós-sináptico.
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