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Curso de Capacitação e 
Aperfeiçoamento em Neuropsicologia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
Sumário 
1.0 NEUROPSICOLOGIA ............................................................................................. 5 
2.0 PERÍODOS HISTÓRICOS .................................................................................... 6 
2.1 Pré-história ......................................................................................................... 6 
2.1 Antigüidade ............................................................................................................. 8 
2.2 Idade Média e Renascimento .......................................................................... 10 
2.3 Séculos XVII e XVIII......................................................................................... 14 
2.4 Séculos XX – XXI ............................................................................................. 21 
3.0 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA: ASPECTOS HISTÓRICOS E 
SITUAÇÃO .................................................................................................................. 29 
3.1 Aspectos Históricos da Neuropsicologia ......................................................... 31 
3.2 Aspectos Históricos da Psicometria ................................................................ 32 
3.3 A Neuropsicologia no século XX ..................................................................... 39 
4.0 TESTES NEUROPSICOLÓGICOS..................................................................... 42 
5.0 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA (AN) ........................................................... 46 
6.0 NEUROPSICOLOGIA INFANTIL .......................................................................... 48 
6.1 Avaliação neuropsicológica na criança - indicações e contribuições ............. 49 
6.2 Testes utilizados .............................................................................................. 51 
6.2.1 Inteligência ................................................................................................ 51 
6.2.2 Memória .................................................................................................... 56 
6.2.3 Linguagem ................................................................................................ 57 
6.2.4 Lobos frontais ........................................................................................... 59 
6.2.5 Lobos parieto-occipitais ............................................................................ 61 
7.0 NEUROPSICOLOGIA DA ADOLESCÊNCIA ........................................................ 73 
8.0 NEUROPSICOLOGIA DO IDOSO ........................................................................ 74 
9.0 NEUROPSICOLOGIA E FUNÇÕES COGNITIVAS ........................................... 80 
9.1 Memória ........................................................................................................... 81 
9.1.1 Modelos de classificação quanto ao tempo de retenção .............................. 82 
9.1.2 Modelos de classificação quanto ao conteúdo de informação armazenada 83 
9.9.3 Memória de trabalho ...................................................................................... 86 
9.1.4 Relação entre memória de trabalho e linguagem: evidências e reflexões .. 88 
9.2 ATENÇÃO ........................................................................................................ 92 
9.3 Linguagem ....................................................................................................... 94 
9.5 APRAXIA ............................................................................................................. 103 
9.4 Agnosia .......................................................................................................... 104 
3 
 
10.0 ENFERMIDADES NEUROLÓGICAS NA CRIANÇA E ADOLESCENTE (TDAH, 
Dislexia, Disgrafia e Discalculia) .................................................................................. 105 
10.1 Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade ........................................ 105 
10.1.1 Características gerais do TDAH ...................................................................... 108 
10.1.2 Neuropsicologia do TDAH Infantil .......................................................... 111 
9.2.5 Avaliação neuropsicológica do TDAH Infantil ............................................. 113 
10.2 Dislexia ........................................................................................................... 116 
10.2.1 Intervenção nas dislexias de desenvolvimento: enfoque da neuropsicologia 
e psicologia cognitiva ............................................................................................ 125 
10.3 Disgrafia ......................................................................................................... 128 
10.4 Discalculia ......................................................................................................... 132 
10.4.1 Finalidade da realização da Avaliação Neuropsicológica ..................... 137 
10.5 Instrumentos utilizados na Avaliação Psicológica e Neuropsicológica nos 
casos de dislexia, disgrafia e discalculia .................................................................. 140 
10.6 Planejamento da reabilitação cognitiva funcional ......................................... 141 
10.7 Importância do trabalho psicoterapêutico ..................................................... 145 
11.0 SÍNDROMES NEUROLOGICAS ...................................................................... 146 
11.1 Síndrome Fetal Alcoólica ............................................................................... 146 
11.1.1 Como se pode verificar a existência da síndrome do alcoolismo fetal? 147 
11.2 Síndrome de Williams......................................................................................... 147 
11.2.1 Sintomas de Síndrome de Williams ............................................................... 148 
11.2.2 Síndrome de Williams tem cura? .................................................................. 149 
11.3 Síndrome de X Frágil ..................................................................................... 149 
11.3.1Causas ........................................................................................................... 150 
11.3.2 Sintomas de Sindrome do X frágil ...................................................................... 150 
11.4 Síndrome de Down ........................................................................................ 151 
11.4.1 O que causa a Síndrome de Down? ............................................................. 152 
11.4.2 Sintomas de Síndrome de Down .................................................................. 153 
12.0 ESCLEROSE MÚLTIPLA E NEUROPSICOLOGIA ......................................... 153 
12.1 Avaliação neuropsicológica ........................................................................... 155 
13.0 DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL E NEUROPSICOLOGIA ........................... 156 
13.1 Avaliação neuropsicológica nas demências ................................................. 158 
14.0 DETECÇÃO DA DEMÊNCIA E DIAGNÓSTICOS – O PAPEL DA 
NEUROPSICOLOGIA .................................................................................................. 161 
14.1 Déficits Cognitivos Associados a Demências .................................................. 164 
14.1.1Memória ...................................................................................................... 164 
14.1.2 Linguagem.................................................................................................. 165 
4.1.3 Percepção .................................................................................................... 167 
14.1.4 Orientação Espacial ...................................................................................168 
4 
 
14.1.5 Apraxias motoras ....................................................................................... 169 
14.1.6 Funções executivas frontais ...................................................................... 170 
14.2 Padrões de déficitis Neuropsicológicos em demências................................... 171 
14.3 Demência com Corpos de Lewy ...................................................................... 174 
14.4 Doença de Parkinson ....................................................................................... 174 
14.5 Paralisia Supranuclear Progressiva ................................................................. 175 
14. 6 Apraxia ideomotora.......................................................................................... 176 
14.7 Demência frontotemporal ................................................................................. 176 
14.8 Afasia Progressiva Primária ............................................................................. 178 
14.9 Demência semântica ........................................................................................ 180 
14.9 Encefalite Herpética.......................................................................................... 184 
14.10 Neurocisticercose ........................................................................................... 184 
14.11 Neurossífilis .................................................................................................... 185 
14.12 Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva .................................................... 186 
14.13 Meningoencefalite ........................................................................................... 186 
REFERÊNCIA ........................................................................................................... 188 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
1.0 NEUROPSICOLOGIA 
 
A neuropsicologia é uma ciência do século XX, que se desenvolveu 
inicialmente a partir da convergência da neurologia com a psicologia, no objetivo 
comum de estudar as modificações comportamentais resultantes de lesão 
cerebral. Atualmente, podemos situá-la numa área de interface entre as 
neurociências (neste caso, ela também pode ser chamada de neurociência 
cognitiva), e as ciências do comportamento (psicologia do desenvolvimento, 
psicolingüística, entre outras) entendendo que o seu enfoque central é o estudo 
da relação sistema nervoso, comportamento, e cognição, ou seja, o estudo das 
capacidades mentais mais complexas como a linguagem, a memória, e a 
consciência. 
 
Entre os profissionais interessados pela neuropsicologia ressalta-se os 
educadores, que têm no processo ensino-aprendizagem o seu objeto de 
investigação. Sujeitos com perturbações na aprendizagem sempre existiram e 
por isso estudos sobre os fatores determinantes das dificuldades do aprendiz 
existem há séculos. Na área escolar, os comprometimentos do aluno foram 
inicialmente apenas vinculados a causas orgânicas, centradas no indivíduo, que 
6 
 
passava a ser entendido como um doente ou paciente. Posteriormente, esta 
perspectiva somática foi abandonada e substituída pela socioeconômica que, 
como o nome sugere, admite apenas a influência dos fatores do meio no 
desenvolvimento da inteligência. Ainda, a crença de que o aprendizado ocorre 
na mente e esta não tem nada a ver com o corpo levou muitos educadores a 
acreditar que o estudo do corpo cabia apenas aos profissionais da área da 
saúde, ou quiçá, ao professor de educação física. Atualmente, nenhum educador 
sério deixa de considerar tanto os fatores biológicos quanto os ambientais no 
surgimento e desenvolvimento do ser, entendendo que tudo que é psicológico é 
também biológico. 
 
2.0 PERÍODOS HISTÓRICOS 
 
 
2.1 Pré-história 
 O sistema nervoso tal como o conhecemos hoje surgiu há cerca de 
30.000- 35.000 anos; os seres que como nós o apresentam são ditos Homo 
sapiens sapiens ou simplesmente homens modernos. Nossos ancestrais mais 
próximos, chamados Homo sapiens neanderthalensis (homens antigos ou 
arcaicos), que viveram entre 130.000-35.000 anos, tinham um sistema nervoso 
diferente e conseqüentemente, uma mente diferente. Em outras palavras, assim 
7 
 
como se admite, em relação ao gênero Homo, mudanças significativas no 
sistema nervoso (a mais óbvia relacionada ao aumento do tamanho do 
 Diferenciam-se os distúrbios de aprendizagem das dificuldades 
(problemas, disabilidades) de aprendizagem porque neles se admite haver 
sempre uma perturbação na neurologia da aprendizagem, identificada ou não 
pelas técnicas atuais de neuro-imagem. As expressões déficits, transtornos, 
lesões, entre outras, são igualmente utilizadas. Em outras palavras, pessoas 
com distúrbios de aprendizagem têm desordens comportamentais resultantes de 
disfunções neuronais. A inteligência do indivíduo pode ser normal, acima ou 
abaixo da média. 
Indícios moleculares consensuais sugerem que a família humana originou-se há cerca 
de 7 milhões de anos, quando espécies semelhantes aos macacos com um modo de locomoção 
bípede, ou ereta, evoluíram. Entre 3 e 2 milhões de anos atrás, houve uma espécie que 
desenvolveu um cérebro significantemente maior, dando origem ao gênero Homo. (LEAKEY, 
1995, p. 14). 
cérebro), também se admite uma evolução da mente e, especificamente, da 
consciência humana. Para Richard E. F. Leakey, um dos maiores 
paleontologistas do século XX, uma atividade humana plena de consciência e 
que às vezes deixa a sua marca no registro arqueológico é o sepultamento 
deliberado dos mortos; isto porque nesta atividade podemos identificar 
claramente uma percepção da morte e, portanto, uma percepção do eu. Na 
história humana, o primeiro indício de sepultamento deliberado, segundo Leakey 
(1995, p. 148), “é o sepultamento neanderthal há não muito mais que 100 mil 
anos (...). Antes de 100 mil anos atrás, não há indício de qualquer tipo de ritual 
que pudesse indicar consciência reflexiva”. A ausência de tais indícios, contudo, 
como bem destaca este autor, não corrobora a hipótese da ausência de 
consciência, mas também não permite que seja acrescentada como apoio à 
existência da consciência. Leakey ainda deixa claro que esta não é, 
provavelmente, “a primeira mente humana” – o Homo erectus provavelmente 
tinha uma consciência reflexiva altamente desenvolvida (sua complexidade 
social, grande tamanho cerebral e uma provável habilidade lingüística, apontam 
para isso). Assim, ao se perguntar quando, na pré-história humana a mente 
atingiu o estágio que ora experimentamos, a resposta, para Leakey, é em alguma 
época nos últimos 2,5 milhões de anos (período relacionado com a própria 
8 
 
evolução do gênero Homo e com a origem de um cérebro maior). Voltando a 
atenção para os “humanos como nós” (sapiens moderno), a literatura refere a 
descoberta de crânios trepanados4 datados entre 7.000 e 20.000 anos, 
encontrados em vários continentes. Na falta de evidências documentais, pode-
se apenas supor os motivos (terapêuticos? ritualistas?) para estas operações: 
tais especulações admitem que a tentativa consciente do homem de combater a 
doença é tão antiga quanto a própria consciência e que a medicina se originou 
de práticas mágicas e sacerdotais. 
 
2.1 Antigüidade 
Entre as mais antigas informações escritas sobre o sistema nervoso, 
destaca-se o papiro descoberto no Egito por Edwin Smith, no século XIX. O 
documento foi escrito em cerca de 1700 a.C., possivelmente pelo médico egípcio 
Inhotep, mas admite-se que ele se baseie em textos mais antigos, provavelmente 
do Antigo Império (cerca de 3000 a.C.). 
 Os sinais deixados pelos instrumentos confirmam o caráter operatório de grande número 
de trepanações, feitas em vida ou após a morte, assim como os sinais de regeneração nas 
brechas ósseas indicam a sobrevivência de vários operados. (MARGOTTA,1998, p. 9). 
 
Esse papiro é um verdadeiro tratado de cirurgia e contém a descrição 
clínica detalhada de pelo menos 48 casos com os respectivos tratamentos 
racionais e prognósticos (favorável, incerto e desfavorável). Vários desses casos 
são importantes para a neurociência, pois neles se discute o encéfalo (o termo 
aparece pela primeira vez neste documento), as meninges, o líquor, e a medula 
9 
 
espinhal. (BERNARDES DE OLIVEIRA, 1981, p. 30). O papiro Edwin Smith, 
contudo, constitui exceção. No cômputo geral, ainda por mais de dois mil anos, 
as concepções médicofilosóficas giraram em torno do empirismo e do 
sobrenatural. Na antiga Grécia, a medicina era inicialmente dominada pelos 
filósofos cientistas e as discussões giravam em torno do problema corpo-alma. 
A partir do século V a.C. estabelece-se a diferenciação entre medicina e filosofia, 
e a “etiologia” da doença deixa de ser mitológica e passa a ser percebida em 
termos científicos. Para todos esses pensadores gregos, contudo, a saúde exigia 
a harmonia do corpo e da alma. Entre as idéias defendidas, destacamos: a de 
Pitágoras (580-510 a.C.), que admitia que no encéfalo estava situada a mente, 
enquanto no coração localizavam-se a alma e as sensações; a de Alcmeon 
(cerca de 500 a.C.), que descreveu os nervos ópticos e investigou os distúrbios 
funcionais do encéfalo, considerando-o a sede do intelecto e dos sentidos; a de 
Hipócrates (cerca de 460-370 a.C.), que discutiu a epilepsia como um distúrbio 
do encéfalo, e o considerava como sede da inteligência e das sensações (tese 
cefalocentrista); a de Platão (427-347 a.C.), que considerava o encéfalo como 
sede do processo mental e julgava a alma tríplice, sendo o coração a sede da 
alma afetiva, o cérebro da alma intelectual, e o ventre da concupiscência (apetite 
sexual); a de Aristóteles (384-322 a.C.), que admitia ser o coração o centro das 
sensações, das paixões e da inteligência (tese cardiocentrista), enquanto o 
encéfalo tinha como função refrigerar o corpo e a alma;5 e a de Herófilo (335-
280 a.C.), médico de Alexandria, que efetuou grandes avanços anatômicos, 
estudando com minúcias, entre outros, o sistema nervoso central e o periférico 
10 
 
 
Aristóteles distinguia 3 tipos de alma: a vegetativa, comum a todos os seres animados, 
princípio da nutrição e da reprodução; a sensitiva, só existente nos animais, incluindo o homem, 
que lhes confere a sensibilidade que sentem e a racional ou intelectual, inicialmente considerada 
exclusiva dos homens (mais tarde esta idéia foi modificada). Ainda, para Aristóteles a alma não 
existia separada da matéria (corpo), à qual dá existência particular; por isso ela não podia ser 
imortal. (ABRÃO; COSCODAI, 2002, p. 61). 
 
2.2 Idade Média e Renascimento 
 
Já durante o período pré-medieval, a medicina de Cláudio Galeno, (cerca 
de 130-203), teve enorme projeção, mantendo-se incontestada durante mais de 
mil anos, tendo influenciado toda a Idade Média e até mesmo após o advento 
renascentista.6 Embora médico de gladiadores, o que lhe permitia investigar as 
conseqüências de lesões na medula e no cérebro, a maior parte de suas idéias 
11 
 
sobre o funcionamento cerebral humano derivava de suas cuidadosas 
dissecações em animais. Para Galeno, o encéfalo era formado de duas partes: 
uma anterior, o cerebrum e uma posterior, o cerebellum. Galeno deduziu 
(corretamente) que o cerebrum estava relacionado com as sensações, sendo 
também um repositório da memória, enquanto o cerebellum estava relacionado 
com o controle dos músculos. Os nervos eram condutos que levavam os líquidos 
vitais ou humores, permitindo que as sensações fossem registradas e os 
movimentos iniciados. A doutrina humoral atingiu o seu apogeu na teoria de 
Galeno, mas admite-se que tenha sido elaborada pela escola hipocrática a partir 
da idéia présocrática de que o mundo era constituído de 4 elementos 
inalteráveis, que formavam a raiz de tudo: terra, ar, fogo, e água. Esses 4 
elementos, por sua vez, eram dotados de 4 qualidades, opostas aos pares: 
quente e frio, seco e úmido (a terra era fria e seca, o ar quente e úmido, o fogo 
quente e seco, e a água fria e úmida). A transposição deste conceito para o 
comportamento/ temperamento humano deu origem à concepção dos 4 líquidos 
essenciais (sangue, fleuma, bile amarela – pituíta, e bile negra – atrabílis) que, 
quando em equilíbrio e harmonia (eucrasia) asseguravam a saúde do indivíduo, 
enquanto a doença era devida ao seu desequilíbrio e desarmonia (discrasia). 
Assim, segundo a predominância de um ou outro desses 4 humores, tinha-se o 
indivíduo otimista, falante, irresponsável (tipo sanguíneo); calmo, sereno, lento, 
impassível (tipo fleumático); explosivo, ambicioso (tipo colérico); introspectivo, 
pessimista (tipo melancólico). As expressões “bom humor”, “mau humor”, “bem 
humorado”, “mal humorado”, são reminiscências dos conceitos de eucrasia e 
discrasia. Para Oliveira (1981, p. 113), este é o princípio da psiquiatria e da teoria 
química aplicada às atividades cerebrais. 
 
 O princípio fundamental da vida, segundo Galeno, era o pneuma, que se manifestava 
de 3 formas e com 3 tipos de função: espírito animal (pneuma psychicon), localizado no cérebro, 
centro das percepções nervosas e do movimento; espírito vital (pneuma zoticon), centrado no 
coração e que regula o fluxo de sangue e a temperatura do corpo; espírito natural (pneuma 
physicon), residente no fígado, centro da nutrição e do metabolismo. (MARGOTTA, 1998, p. 41). 
12 
 
 
A partir da morte de Galeno, o conhecimento médico sofreu um processo 
de decadência qualitativa e quantitativa. Nesta decadência, dois fatores 
merecem ser destacados: primeiro, a ampla aceitação da doutrina cristã de que 
o corpo tinha pouca ou nenhuma importância em comparação com a alma (daí 
os estudos que tinham por objeto o corpo serem considerados desprezíveis e 
indignos); segundo, a crença (a princípio rejeitada pela Igreja, mas depois 
absorvida por aqueles que professavam a religião), de que “a forma humana 
simboliza a estrutura do Mundo Maior, que o microcosmo é construído nos 
moldes do macrocosmo, que o homem é um epítome do Universo”. (SINGER, 
1996, p. 84). Daí porque o esquema do homem zodiacal, no qual os signos do 
zodíaco eram escritos primeiramente ao redor e depois sobre as várias partes 
do corpo que se supunha governassem, estava entre os produtos mais comuns 
da época. Dada a manutenção da estreita relação da medicina com as correntes 
filosófico-religiosas predominantes, a leitura de Aristóteles que, de início, era 
condenável pela Igreja, acabou por elevá-lo à culminância de fonte de 
conhecimentos comparável à Bíblia; e os escritos de Galeno que, sob muitos 
ângulos encerravam fundo religioso acentuado, foram aceitos e mantidos como 
dogmas. Em outras palavras, o pensamento médico ocidental durante a Idade 
Média, tentou ajustar as doutrinas biológicas e médicas de Aristóteles e Galeno 
aos ideais da Igreja. Daí, por exemplo, as câmaras ventriculares do cérebro, 
descritas por Galeno, terem sido ajustadas à idéia do corpo como abrigo natural 
da alma, dando suporte à chamada hipótese de localização ventricular (doutrina 
13 
 
ventricular). O número de ventrículos, igual a três, representando a Santíssima 
Trindade, ajustava-se ao sentimento religioso reinante, ou seja, destacava o 
esforço de munir a fé de argumentos racionais, de promover a conciliação entre 
a fé e a razão, aceitando a noção das funções cerebrais localizadas nos 
ventrículos (achando-se na célula anterior as sensações, na média o 
pensamento, e na posterior a memória). A partir do final do período medieval, 
teve início um movimento cultural caracterizado pelo estudo de obras gregas e 
romanas até então desconhecidas. Esse movimento cultural coincide com o 
Humanismo, parte do que hoje chamamos de Renascença ou Renascimento. 
 Note-se que a idéia do corpo comomáquina, do mundo material como 
máquina, é dos pensadores renascentistas - para eles, a ordenação do mundo 
natural era a manifestação da inteligência de algo para além da natureza (o 
criador divino e senhor da natureza), e não, como admitiam os gregos, a 
inteligência da própria natureza. 
Iniciado na Itália, a intensa renovação artística e cultural produzida neste 
período garantiu, entre outros, um grande avanço no estudo da anatomia 
humana graças principalmente, às obras de Leonardo da Vinci (1452-1519) e 
Andreas Vesalius (1514-1564), que contribuíram de forma decisiva. A 
observação e a extraordinária habilidade técnica de Da Vinci, representada por 
meio de seus desenhos anatômicos, destacam este autor como criador da 
ilustração médica. Em relação ao sistema nervoso, sua mais notável contribuição 
foi a realização de moldes dos ventrículos cerebrais (a partir da injeção de cera 
líquida aquecida, que se solidificava após refrigeração). Tornou-se evidente, 
então, que não eram três, mas quatro os ventrículos cerebrais (dois laterais, um 
em cada hemisfério cerebral, o terceiro, localizado na altura do tronco encefálico, 
e o quarto ventrículo, localizado na altura do cerebelo). Os maravilhosos 
desenhos de Da Vinci, no entanto, permaneceram ignorados durante cerca de 
300 anos e o homem celebrado como pai da anatomia foi Vesalius que, em 1543, 
publicou sua obra monumental De humani corporis fabrica libri septem, dividida 
em sete volumes, freqüentemente referida como Fabrica, considerada uma das 
obras mais importantes já publicadas. Além de representar um marco na história 
da medicina, este livro tem alta significação como obra de arte − não apenas 
pelos estudos terem sido feitos em cadáveres humanos (rompendo a tradição 
14 
 
imposta por Galeno de estudar a anatomia nos animais para transplantá-la para 
o homem), o que assegurava a qualidade da expressão corporal de suas figuras, 
mas pelo fato de ser um dos primeiros exemplos de ilustrações impressos com 
fundo panorâmico tirado do natural. (BERNARDES DE OLIVEIRA, 1981, p. 189). 
2.3 Séculos XVII e XVIII 
Durante a segunda metade do século XVII e o início do século XVIII, o problema 
corpo x alma motivou vários pesquisadores na proposição de novas 
interpretações; tais idéias, contudo, tinham como característica principal o fato 
de que se baseavam em especulações e não em observações clínicas ou 
experimentais. Uma das teorias melhor conhecida é a de René Descartes (1596- 
1650); esta teoria admitia que a alma (denominada res cogitans, “a coisa 
pensante”) era uma entidade livre, não substantiva, imaterial, indivisível e o corpo 
(res extensa, “extensão da coisa”) uma parte mecânica, material, divisível. 
Embora diferentes, a alma interagia com o corpo por meio da glândula pineal, 
que também funcionava como centro de controle. Assim, no conceito cartesiano, 
a alma (o espírito) transcende o corpo e este é matéria dotada de movimento, 
como uma máquina. 
 
Esta teoria provocou uma dissociação mente e corpo e os indivíduos 
passaram a se identificar com a sua mente racional e não com o organismo 
(SANVITO, 1991, p. 152); surgiram então as expressões “corpo sem alma”, 
“alma sem corpo”, e “de corpo e alma” (completamente, inteiramente). Damasio 
(1996, p. 279) discute a afirmação “penso, logo existo” (em francês, “je pense, 
donc je suis”), publicada por Descartes, em 1637, na obra O discurso do método8 
e depois, em 1644, na obra Princípios de Filosofia (em latim, cogito ergo sun). 
15 
 
Para Damasio, a referida citação afirma o oposto daquilo que ele acredita ser 
verdade acerca das origens da mente e da relação entre a mente e o corpo. Isso 
porque o conhecimento atual sobre o desenvolvimento filogenético (entre 
espécies biológicas), e ontogenético (em uma espécie biológica; no caso, Homo 
sapiens) permite-nos compreender que muito antes do aparecimento da 
humanidade, os seres já eram seres. O surgimento de uma consciência 
elementar e com ela uma mente simples, que com uma maior complexidade 
possibilitou o pensar e, mais tarde o uso de linguagens para comunicar e melhor 
organizar os pensamentos, é anterior ao surgimento dos humanos modernos. 
Mesmo no presente, quando viemos ao mundo e nos desenvolvemos, 
começamos por existir, e só mais tarde pensamos; daí, para Damasio (1996, p. 
279) “existimos e depois pensamos e só pensamos na medida em que existimos, 
visto o pensamento ser, na verdade, causado por estruturas e operações do ser”. 
 
A crença de Descartes em uma mente separada do corpo, uma mente 
desencarnada, contribuiu para alterar o rumo da medicina, ajudando-a a 
abandonar a abordagem da mente-no-corpo que predominou de Hipócrates até 
o Renascimento, e moldou a forma peculiar como a medicina ocidental aborda a 
investigação e o tratamento da doença (prática médica). Como resultado, as 
conseqüências psicológicas das doenças do corpo, propriamente dito, as 
chamadas doenças físicas, são normalmente ignoradas ou levadas em conta 
muito mais tarde; mais negligenciados ainda são os efeitos dos conflitos 
psicológicos no corpo (DAMASIO, 1996, p. 282). Ainda, a idéia cartesiana da 
16 
 
mente separada do corpo explica porque ainda hoje muitos investigadores em 
psicologia se julgam capazes de entender a mente sem nenhum recurso à 
neurobiologia (“psicologia sem cérebro”)9 ou porque para muitos neurocientistas 
a mente pode ser perfeitamente explicada em termos de fenômenos cerebrais, 
deixando de lado o resto do organismo e o meio ambiente físico e social 
(ignorando também que o próprio meio é um produto das ações anteriores do 
organismo). 
A expressão Psicologia sem cérebro nos remete a correntes psicológicas 
que não têm qualquer preocupação com os substratos anatômicos cerebrais e 
com os mecanismos neurofisiológicos do comportamento e dos processos 
cognitivos. Entre estas correntes, podemos citar o Behaviorismo e a 
Epistemologia Genética 
 
Século XIX O século XIX foi, entre outros, marcado pelo nascimento da 
biologia e pela revolução de idéias decorrentes da teoria da seleção natural 
proposta pelo naturalista Charles Robert Darwin (1809-1882). A concepção de 
mente, enquanto atributo supremo e divino do ser humano, fortemente marcada 
pelo dogma e poder religioso, deixava os vapores etéreos para se encarnar no 
sistema nervoso humano. A descoberta de que o córtex cerebral, até então 
considerado homogêneo do ponto de vista funcional, apresentava áreas 
anatomicamente definidas, deu suporte à idéia de que diferentes funções 
mentais estavam alojadas nas diferentes porções do córtex. O mais ilustre e 
provavelmente o primeiro proponente da localização cerebral das funções 
mentais foi o austríaco Franz Joseph Gall (1758-1828). Gall acreditava que o 
cérebro era na verdade um conjunto de órgãos separados, cada um dos quais 
controlava uma “faculdade” (aptidão) inata separada (WALSH, 1994, p. 14). 
17 
 
Originalmente, Gall postulou a existência de 27 “faculdades afetivas e 
intelectuais” (entre elas, benevolência, agressividade, sentido da linguagem, 
amor parental); este número foi posteriormente aumentado. O desenvolvimento 
de uma determinada “faculdade” causava uma hipertrofia na zona cortical 
correspondente; esta zona hipertrofiada exercia pressão sobre a calota craniana, 
produzindo neste local uma pequena saliência óssea. As funções pouco 
desenvolvidas ou ausentes produziam, ao contrário, uma depressão na 
superfície craniana. Assim, pelo processo da cranioscopia (apalpação das 
proeminências) o praticante da Frenologia10 poderia determinar a natureza das 
propensões do indivíduo.11 E como as “faculdades” se encontravam em áreas 
circunscritas, essas idéias deram origem à chamada corrente localizacionista (e 
ao conseqüente surgimento dos mapas frenológicos). 
 O termo frenologia (do grego phrén, phrenós = alma, inteligência, espírito), foi cunhado 
por Johann C. Spurzheim (1776-1832);enquanto colaborador de Gall, ele o ajudou a disseminar 
suas idéias nos Estados Unidos e na Europa. 
 Note-se que a crença de que o formato da cabeça é determinante na forma de pensar 
é muito anterior à Idade Média, quando se tinha por hábito moldar o crescimento da cabeça das 
crianças que estavam destinadas a ocupar posições importantes e diferenciadas na sociedade, 
como sacerdotes e chefes. 
Descartada a partir de meados do século XX enquanto procedimento 
científico, a Frenologia, ainda hoje apresenta muitos adeptos. Quem nunca ouviu 
as expressões “cabeça chata” e “testa baixa”; elas se mantêm de uso corrente e 
são usadas no cotidiano para denotar pouca inteligência ou mesmo 
características de sujeitos de “raça inferior” (numa clara alusão preconceituosa). 
Gall estabelecia a função a partir do sintoma, isto é, se a lesão de uma 
determinada zona do cérebro causava perturbação de um determinado 
comportamento, isto se devia ao fato desta atitude ter sua sede nesta região. 
Admitir que cada parte do córtex cerebral tem uma função diferente deveria 
permitir, por exemplo, que se provocasse deficiências comportamentais 
específicas por meio da remoção de porções circunscritas desse córtex; com o 
intuito de testar essa hipótese, muitos cientistas começaram a provocar lesões 
cerebrais em animais de laboratório e a observar suas conseqüências. Para 
Herculano-Houzel (2001, p. 21), estes experimentos marcaram o nascimento da 
neurociência experimental que conhecemos hoje. Entre os opositores do 
18 
 
localizacionismo, merece destaque o fisiologista francês Marie-Jean-Pierre 
Flourens (1794-1867); este acreditava que as funções mentais não dependiam 
de áreas particulares do sistema nervoso, mas que este funcionava como um 
todo, de modo orquestrado, integrado. Suas idéias anteciparam a noção de 
equipotencialidade (plasticidade neuronal), isto é, a capacidade de outras partes 
do cérebro assumirem funções do tecido neural lesado e deram início ao 
movimento que resultou na corrente holista (nãolocalizacionista, unitarista) da 
função cerebral. O século XIX foi também particularmente importante por ter 
demarcado o nascimento da neuropsicologia da linguagem. Isto porque, embora 
a literatura inclua registros de observações clínicas sobre distúrbios de 
linguagem em decorrência de traumatismo cerebral feitos há milhares de 
anos,12 foi apenas no século XIX que as correlações anatomo-clínicas entre 
lesões cerebrais e patologia da linguagem tornaram-se um importante foco de 
atenção. Entre os estudiosos que investigaram indivíduos com 
comprometimento na linguagem decorrentes de lesão cerebral, destaca-se o 
médico e antropólogo francês Pierre-Paul Broca (1824-1880) e o neurologista 
alemão Carl Wernicke (1848-1905). 
 
 No papiro cirúrgico Edwin Smith encontra-se, por exemplo, o registro de um 
homem que devido a uma lesão cerebral perdeu a capacidade de falar, sem paralisia 
de sua língua. Já entre os escritos hipocráticos, há referência a uma paciente que 
perdeu a capacidade de falar porque o lado direito de seu cérebro estava paralisado 
devido a convulsões. 
Em 1865, baseando-se em vários estudos anatomo-patológicos de 
pacientes com perda da fala (“amnésia verbal”), Broca estabeleceu para sede da 
19 
 
linguagem articulada a parte posterior da terceira circunvolução frontal do 
hemisfério esquerdo (região atualmente conhecida como área de Broca). O 
distúrbio descoberto por Broca foi por ele denominado de afemia, mas na 
literatura médica o termo consagrado foi “afasia”.13 Anos depois, Broca publicou 
a famosa frase “nous parlons avec l’hémisphère gauche” (WALSH, 1994, p. 17), 
que se tornaria um marco na história do funcionamento cerebral. A localização 
da sede da faculdade de expressão oral no hemisfério esquerdo não implicava 
apenas na aceitação de uma assimetria funcional dos hemisférios cerebrais; 
Broca também acreditava que, no que tange a linguagem expressiva, o 
hemisfério esquerdo era dominante sobre o direito, ou seja, o direito exercia 
apenas papel coadjuvante ou secundário. 
Note-se que a idéia da dominância hemisférica é precursora da 
concepção moderna de especialização funcional dos hemisférios cerebrais que, 
em síntese, admite que os dois hemisférios sempre trabalham em conjunto, mas 
como detêm especializações funcionais, um se encarrega de um grupo de 
funções enquanto o segundo encarrega-se de outro; no caso dos dois 
hemisférios realizarem a mesma função, as diferenças residem nos modos de 
execução ou estratégias funcionais de cada hemisfério. Voltaremos a este 
assunto posteriormente. 
Em 1874, Wernicke mostrou que, assim como uma lesão unilateral 
anterior é suficiente para perturbar a expressão oral, uma lesão do mesmo lado 
localizada posteriormente no hemisfério esquerdo causa freqüentes problemas 
de compreensão da linguagem falada. Esses problemas são associados a uma 
linguagem fluente, mas aberrante, sendo que a pessoa erra ao usar palavras ou 
sons. A área atingida pelas lesões estudadas por Wernicke recebeu 
posteriormente, em sua homenagem, a denominação de área de Wernicke e 
atualmente tem sido considerada restrita ao terço posterior do giro temporal 
superior esquerdo, incluindo a parte oculta do assoalho do sulco lateral de 
Sylvius. (LENT, 2001, p. 636). Deve-se também a Wernicke, a elaboração do 
primeiro modelo científico do processamento lingüístico − este modelo considera 
que a área de Broca 13 O termo “afasia” foi cunhado, segundo alguns autores, 
por Armand Trousseau (1801- 1867) e, segundo outros, por Sigmund Freud 
(1856-1939). Atualmente, entende-se por afasia o distúrbio de linguagem devido 
20 
 
a lesões nas regiões envolvidas com o processamento lingüístico. Exclui-se, 
portanto, as alterações de linguagem decorrentes de lesões nos sistemas motor 
contém os programas motores da fala (isto é, as memórias dos movimentos, que 
permitem a estes expressar os fonemas, compô-los em palavras e estas em 
frases), enquanto a área descrita por Wernicke contém as memórias dos sons 
que compõem as palavras, possibilitando sua compreensão. Quando as duas 
áreas se conectam, a pessoa associa a compreensão das palavras ouvidas com 
a sua própria fala. Anatomicamente, as duas áreas são conectadas por um feixe 
de fibras nervosas que se encontra imerso na substância branca cortical e se 
denomina feixe arqueado. Assim, Wernicke previu corretamente que uma lesão 
desse feixe deveria provocar uma “afasia de condução”, na qual os pacientes 
seriam capazes de apresentar uma fala fluente, mas cometendo erros de 
repetição e de resposta a comandos verbais. A descoberta do fato de que formas 
complexas de atividade mental podiam ser localizadas em regiões circunscritas 
do córtex cerebral da mesma forma que funções elementares (tais como 
movimento e sensação), suscitou a realização, por mais de meio século, de um 
grande número de estudos que visavam demonstrar que todos os processos 
mentais complexos eram o resultado do funcionamento de áreas locais 
individuais. 
Tal abordagem de estudo é dita reducionista. Entre os grandes opositores 
dos localizacionistas estreitos, destaca-se o neurologista inglês John Huhlings 
Jackson (1834-1911). Baseado em detalhadas observações clínicas, Jackson 
propôs que a organização cerebral dos processos mentais complexos devia ser 
abordada do ponto de vista do nível da construção de tais processos, ao invés 
do da sua localização em áreas particulares do cérebro. Assim, Jackson 
formulou uma “teoria de organização neurológica da função mental” que, em 
síntese, admite que essa não é resultante do funcionamento de um grupo 
circunscrito de células que se organizam em “centros”, mas resulta de uma 
complexa organização “vertical” ditada pela evolução cerebral. Esta função é 
representada primeiro num nível “inferior” (automático; medula e tronco 
encefálico), posteriormente rerepresentada em um nível“intermediário” 
(voluntário; porções motora e sensorial do córtex cerebral), e finalmente 
representada em um nível “superior” (voluntário; porções frontais do córtex 
cerebral). Daí, segundo Jackson, a localização de um sintoma que acompanha 
21 
 
uma lesão de uma determinada área não pode ser identificada com a localização 
dessa lesão (ou seja, existe uma grande diferença entre localizar a área lesada 
que destruiu a linguagem e localizar a linguagem em alguma área do cérebro). 
A função pode se originar de uma maneira muito mais complexa e pode ter uma 
organização cerebral bastante diferente, de acordo com a “noção de dissolução 
de função” (passagem do mais organizado para o menos organizado, do mais 
complexo para o mais simples, do voluntário para o automático). Esta hipótese 
de Jackson foi adotada e desenvolvida cerca de 50 anos mais tarde, 
reaparecendo nos escritos de eminentes neurologistas do século XX. Cabe 
ainda destacar que o tecido neural só se tornou tema da ciência neurologia no 
fim do século XIX, quando os estudos do médico italiano Camillo Golgi14 
(1843/4-1926) e do histologista espanhol Santiago Ramón y Cajal15 (1852-1934) 
descreveram em detalhes a estrutura das células nervosas. Ainda, em 1897, Sir 
Charles Scott Sherrington (1857-1952) propôs os termos “sinapse”, definido 
como o local de contato entre dois neurônios, e “transmissão sináptica”, definida 
como a passagem de informações por meio da sinapse. Estes conceitos, 
contudo, permaneceram como concepções teóricas por muito tempo, pois só a 
partir da década de 50 do século XX, com o uso do microscópio eletrônico e das 
técnicas de registro dos sinais elétricos produzidos pelos neurônios, foi possível 
determinar experimentalmente suas bases morfológicas e funcionais. (LENT, 
2001, p. 99). 
2.4 Séculos XX – XXI 
Segundo Engelhardt, Rozenthal e Laks (1995, p. 112), a neuropsicologia 
moderna começa com Donald Olding Hebb (1904-1985), Karl Spencer Lashley 
(1890-1958) e Aleksandr Romanovitch Luria (1902-1977). O termo 
neuropsicologia foi utilizado pela primeira vez em 1913, mas o seu 
desenvolvimento começou nos anos 40, a partir dos trabalhos de Hebb. Em 1949 
este autor propôs uma teoria de funcionamento do córtex cerebral a partir de 
conexões neuronais modificáveis, isto é, cujas possibilidades de conexão de 
umas com as outras são múltiplas. Em outras palavras, Hebb propôs uma “teoria 
para a memória com base na plasticidade sináptica”; esta teoria, em síntese, 
admite que a transmissão de mensagens entre os neurônios pode ser 
22 
 
 Em 1875, Golgi desenvolveu um método de coloração por prata que, ao 
microscópio, revelava toda a estrutura do neurônio, incluindo o corpo celular 
(soma) e seus prolongamentos os dendritos e os axônios. 
 Ramón y Cajal usou o método de coloração por prata de Golgi para 
marcar células individuais, mostrando que o tecido neural não era uma massa 
contínua e sim uma rede de células distintas. Ele também propôs a “doutrina do 
neurônio” − princípio que admite que os neurônios individuais são os 
sinalizadores primários do sistema nervoso, e “o princípio da polarização 
dinâmica”, segundo o qual a informação desloca-se em apenas uma direção 
dentro do neurônio (usualmente dos dendritos para o axônio, chegando às 
terminações nervosas). 
regulada, não sendo um fenômeno rígido e imutável, mas algo modulável de 
acordo com as circunstâncias. Desse modo, o armazenamento de memória não 
repousaria na modificação das propriedades dos neurônios e tampouco 
implicaria na presença de circuitos determinados e únicos, mas “o traço mnésico 
estaria ligado à formação e à persistência de uma rede de conexões entre as 
células, embora nenhuma delas contenha a informação necessária à restituição 
da lembrança”. (SANVITO, 1991, p. 89). Atualmente, a teoria de Hebb tornou-se 
um modelo celular e molecular da memória. Os trabalhos experimentais de 
Lashley, por outro lado, sugeriram fortemente que as funções cerebrais 
requerem a participação de grandes massas cerebrais de tecido nervoso e por 
isso ele formulou uma teoria de funcionamento cerebral denominada de “ação 
de massa”, que diminui a importância dos neurônios individuais, das conexões 
neuronais específicas, e das regiões cerebrais distintas, funcionalmente 
especializadas. Segundo esta teoria, portanto, é a massa cerebral, e não seus 
componentes neuronais, que é importante para o funcionamento cerebral. 
 
As conclusões de Lashley, a favor do papel de “ação de massa” e da 
equipotencialidade da função cerebral, dado ao rigor e precisão dos estudos 
(incluindo experimentação associada à observação, quantificação dos dados, 
controle anatômico estrito dos preparados, uso de grupos, controle e verificação 
estatística dos dados), influenciaram profundamente o conhecimento 
neuropsicológico. Já Luria, influenciado, entre outros, por Ivan Petrovitch Pavlov 
23 
 
(1849 - 1936), Pioter Kuzmitch Anokhin (1898-1974), e Lev Semiónovitch 
Vigotski (1896-1934), investigou as funções superiores nas suas relações com 
os mecanismos cerebrais e desenvolveu a noção do sistema nervoso 
funcionando como um todo, considerando o ambiente social como determinante 
fundamental dos sistemas funcionais responsáveis pelo comportamento 
humano. Luria afirmava que as funções psíquicas do homem são produtos de 
uma larga evolução, possuem uma estrutura complexa e estão sujeitas a 
modificações em seus elementos constitutivos. Desse modo, não podem ser 
localizadas senão dinamicamente, em constelações de trabalho, com a ajuda de 
diferentes neurônios. Segundo Luria “toda atividade mental humana é um 
sistema funcional complexo efetuado por meio de uma combinação de estruturas 
cerebrais funcionando em concerto, cada uma das quais dá a sua contribuição 
particular para o sistema funcional como um todo”. (LURIA, 1981, p. 23). 
 As idéias de Luria sobre o “cérebro em funcionamento” são seguramente um 
desenvolvimento do conceito original dos sistemas funcionais de Anokhin, ou da Teoria dos 
Sistemas Funcionais do Organismo, criada por este autor. (BURZA, 1986, p. 27) 
 
Enquanto sistema dinâmico, o cérebro luriano é constituído de três 
unidades funcionais básicas cuja participação é necessária para qualquer tipo 
de atividade mental; cada uma delas exibe uma estrutura hierarquizada própria, 
formada por pelo menos três zonas corticais construídas umas sobre as outras. 
As propriedades funcionais de cada uma dessas três unidades ou blocos 
funcionais podem ser assim resumidas (LURIA, 1981, p. 27): a primeira unidade 
24 
 
regula o estado do córtex cerebral, alterando seu tono e mantendo o estado de 
vigília (sua estrutura mais importante é a formação reticular, uma rede nervosa 
“não-específica” que desempenha gradualmente a sua função de modificar o 
estado de atividade cerebral); a segunda unidade tem como função primária 
receber, analisar e armazenar informações, e inclui as regiões visuais (occipital), 
auditivas (temporal), e sensorial geral (parietal) do córtex cerebral; finalmente, a 
terceira e última unidade funcional elabora os programas de comportamento, 
responde pela sua realização e participa do controle de sua execução (suas 
estruturas se localizam nas regiões anteriores, frontais ou pré-frontais, dos 
hemisférios cerebrais). A obra de Luria tem subsidiado atualmente boa parte dos 
estudos neuropsicológicos realizados por educadores, com vistas a investigar a 
aprendizagem em crianças e adolescentes. (ANTUNHA, 2000, p. 33; ANTUNHA, 
2002, p. 116; CIASCA, 2000, p. 127). 
A partir da década de 60, um grande número de pesquisadores 
desenvolveu estudos sobre especialização dos hemisférios cerebrais. Entre 
estes estudos destaca-se os realizados por Roger W. Sperry (1913-1994), que 
lhe garantiu o prêmio Nobel de medicina e fisiologia em 1991. A partir de 
experimentos realizados com pessoas com o cérebro dividido 
(comissurotomizados)18e com indivíduos normais, Sperry demonstrou que as 
especialidades dos hemisférios podem ser diferentes, e que raramente a 
especialização hemisférica significa exclusividade funcional. 
 
Assim, por exemplo, o hemisfério esquerdo controla a fala em mais de 
95% das pessoas, mas isso não significa que o direito não participe desta função 
25 
 
é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala nuances afetivas essenciais 
para a comunicação. Outro exemplo, se a questão é o reconhecimento de faces, 
o hemisfério direito é especializado na identificação de seus aspectos gerais 
(homem ou mulher, criança ou adolescente), enquanto o esquerdo é melhor no 
reconhecimento do dono de cada face (Maria ou Marta?). Ao ser divulgada pela 
mídia, a idéia da especialização hemisférica foi transformada numa concepção 
simplista do funcionamento cerebral, onde um dos hemisférios seria, entre 
outros, o “verbal”, o “racional”, enquanto o outro seria o “não-verbal”, o “intuitivo”; 
daí denominar-se o hemisfério esquerdo de “intelectual” e o direito de “artístico”. 
Tais dicotomias exageradas resultaram em recomendações não-científicas do 
tipo “pense com o hemisfério direito”, “aja com o hemisfério esquerdo”, entre 
outras, e na crença equivocada de muitos educadores de que esta ou aquela 
atividade realizada pelo aluno propicia apenas o desenvolvimento de um dos 
hemisférios cerebrais. (SPRINGER; DEUTSCH, 1998, p. 328). 
 As “comissuras cerebrais” são três: o corpo caloso (a maior delas), a comissura anterior 
e a comissura do hipocampo. Enquanto feixes de fibras nervosas, as comissuras conectam 
ambos os hemisférios, transmitindo informações entre os hemisférios cerebrais. As comissuras 
são responsáveis por unificar os campos sensoriais (principalmente os hemicampos visuais) e 
sincronizar o processamento funcional de ambos os hemisférios (LENT, 2001, p. 645). 
Recentemente, os sistemas lingüísticos foram tratados pelos 
psicolingüistas sob uma abordagem neuropsicológica, passando-se a produzir 
obras especializadas nas bases neurais da linguagem. Entre tantas 
contribuições, destacam-se as revisões conceituais sobre as áreas de Broca e 
de Wernicke, anteriormente citadas. O “modelo neurolingüístico” proposto por 
Wernicke foi substituído pelo “modelo neuroanatômico conexionista da 
linguagem falada”, que surgiu a partir da análise dos sintomas de pacientes com 
lesões pequenas e envolve a interação de diversas áreas corticais, mais restritas 
do que as definidas por Broca e Wernicke. Pelo modelo conexionista, a área de 
Wernicke não é a responsável pela compreensão do significado das palavras, 
mas faria a identificação das palavras como tal, isto é, seria uma das sedes do 
léxicon fonológico. A afasia de compreensão propriamente dita seria típica de 
lesões mais posteriores, que atingem o giro angular e o supramarginal; nestas 
regiões estaria uma das sedes do léxicon semântico ou mesmo o centro 
conceitualizador. 
26 
 
Pacientes com lesões nestes locais repetem corretamente as palavras, 
mas não entendem o que repetiram. Outro tipo de afasia de compreensão surge 
a partir de lesões dos giros temporais médios e inferior (também locais do léxicon 
semântico); esta afasia é denominada anômica fluente porque os pacientes têm 
fluência verbal, mas incapacidade de identificar nomes de pessoas, animais ou 
objetos. A revisão feita sobre a área de Broca considera que os portadores de 
distúrbios de expressão mais severos apresentam alguma disartria (dificuldade 
de articular a fala; um distúrbio claramente motor), afasia anômica não-fluente 
(fala dificultada principalmente nos verbos) e agramatismo (dificuldade de 
construir frases gramaticalmente corretas). Contudo, nos casos de lesões mais 
restritas, esses sintomas aparecem dissociados; por exemplo, anomia com 
disartria surge quando as lesões envolvem, além da área de Broca, as regiões 
motoras e pré-motoras posteriores da fala. (LENT, 2001, p. 638). 
 
A partir da segunda metade do século XX, a neuropsicologia firmou-se 
efetivamente enquanto área de estudo, e embora a linguagem tenha sido a área 
mais amplamente investigada, diversos temas têm sido enfatizados nos últimos 
anos tais como: a atenção, a percepção visual e auditiva, e a memória. Ainda 
entre os avanços obtidos, destacam-se a introdução e o desenvolvimento de 
técnicas de observação do cérebro e/ou de sua atividade (tomografia 
computadorizada, ressonância magnética, tomografia por emissão de pósitrons, 
entre outros), o aperfeiçoamento dos instrumentos de avaliação 
neuropsicológica, e o desenvolvimento de métodos de intervenção com o 
objetivo de obter a restauração de funções psíquicas superiores comprometidas 
27 
 
por lesão cerebral. As técnicas de imagem funcional computadorizada do 
sistema nervoso (que podem produzir imagens precisas do fluxo sangüíneo 
cerebral ou do metabolismo neuronal), permitem concluir fortemente em favor da 
localização cerebral das funções neurais (mesmo das mais complexas, como a 
linguagem). As diferentes regiões, contudo, não funcionam isoladamente, mas 
apresentam alto grau de interação, ou seja, não há uma função pura mas uma 
combinação bastante complexa de ações psicológicas e fisiológicas em cada 
comportamento que o indivíduo realiza. 
A questão “de que forma a mente se relaciona com o cérebro?” 
permanece ainda hoje como um problema sem solução. De uma forma resumida, 
podemos afirmar que duas grandes correntes filosóficas se destacaram quanto 
ao modo de interpretar esta questão: o dualismo e o monismo. O dualismo 
admite a coexistência de dois princípios irredutíveis, em qualquer ordem de 
idéias; no caso, dualismo da alma e do corpo, da matéria e do espírito. Em outras 
palavras, para os dualistas, a mente (o espírito) e o cérebro (a matéria) são duas 
entidades distintas. Dentre seus adeptos, há os que acreditam que a mente e o 
cérebro são duas entidades independentes e não relacionadas (por exemplo, 
René Descartes), e os que preferem considerar que a mente e o cérebro se 
relacionam de algum modo, embora nunca tenham explicado convincentemente 
como. (KOLB; WHISHAW, 1990, p. 327). Por exemplo, John Carew Eccles 
(1903-1997) propunha que a mente seria inicialmente um produto do cérebro, 
mas capaz de adquirir independência dele − seria uma propriedade emergente 
do cérebro, obedecendo a uma lógica própria, independente. Já Roger W. Sperry 
admitia que a mente era uma entidade distinta do cérebro, produzida por ele e 
emergente, mas, além disso, capaz de influir sobre o cérebro, modificando-o. 
O monismo, por outro lado, pode ser definido como uma doutrina filosófica 
segundo a qual o conjunto das coisas pode ser reduzido à unidade, quer do 
ponto de vista de sua substância, quer do ponto de vista das leis (lógicas ou 
físicas) pelas quais o universo se ordena. (FERREIRA, 1986, p. 1153). Para os 
monistas, portanto, a mente e o cérebro constituem uma unidade, em que um é 
mera propriedade do outro. Dentre os monistas,20 destacam-se os idealistas 
(espiritualistas), que acreditam que a matéria é mera criação da mente (espírito), 
e os materialistas, que acreditam na primazia da matéria e admitem que todas 
28 
 
as funções psicológicas são originadas da atividade cerebral. Jean Piaget (1896-
1980), por exemplo, era idealista; daí se entender porque a teoria do 
desenvolvimento da inteligência criada por ele não tinha qualquer preocupação 
com os substratos anatômicos cerebrais e com os mecanismos neurofisiológicos 
do comportamento e dos processos cognitivos. 
 
Vigotski e Luria, por outro lado, eram materialistas e ao criar e desenvolver 
a sua teoria, partiram das idéias evolutivas de Charles R. Darwin e estenderam 
os conceitos biológicos de desenvolvimento filogenético e ontogenético, para 
uma teoria sociohistórica (sociocultural) dos processos mentais superiores, 
destacando as relações entre o funcionamento intelectuale a cultura da qual os 
indivíduos fazem parte. (VYGOTSKY; LURIA, 1996, p. 27). Em outras palavras, 
Vigotski e Luria discutiram as relações entre desenvolvimento e aprendizagem a 
partir do pressuposto básico de que a mente organiza-se na sociedade. 
(VYGOTSKY; LURIA; LEONTIEV, 1988, p. 39). Atualmente, os conceitos 
vigotskianos de “aprendizagem colaborativa” e de “zona de desenvolvimento 
proximal” são bastante familiares para muitos profissionais da educação; por 
outro lado, o conhecimento dos estudos neuropsicológicos lurianos tem 
29 
 
despertado interesse cres cente dos educadores interessados em compreender 
a causa do não-aprendizado do aluno. 
Ao longo do tempo, os estudiosos discutiram os níveis de existência do 
sistema nervoso, creditando, quase sempre, mais importância a um deles. 
Assim, a linguagem, a memória e a percepção (nível psicológico) seriam 
reduzidas a suas manifestações fisiológicas; a motricidade e as sensações (nível 
fisiológico) seriam reduzidas a suas manifestações celulares; e os fenômenos 
celulares a suas manifestações moleculares (nível bioquímico ou 
microfisiológico). Atualmente, contudo, estas visões reducionistas não são 
aceitas como explicação, embora possam resultar em bons métodos de estudo. 
Assim, concorda-se com Lent (2001, p. 3) quando este afirma que os níveis de 
existência do sistema nervoso não são uns conseqüências dos outros, mas 
coexistem simultaneamente, em paralelo. 
3.0 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA: ASPECTOS HISTÓRICOS E 
SITUAÇÃO 
Compreender a situação atual da Neuropsicologia requer um percurso histórico 
abrangendo a confluência deste campo com o da Psicometria. 
O termo NEUROPSICOLOGIA surgiu no século XX com OSLER mas a 
preocupação com as inter-relações entre cérebro e mente remonta aos antigos 
egípcios. Hoje temos tomografia computadorizada e Ressonância Magnética, 
técnicas que combinadas à avaliação psicológica representam um enorme 
avanço para o diagnóstico e tratamento de inúmeros patologias. 
Compreender a situação atual da Neuropsicologia requer um percurso histórico, 
abrangendo a confluência deste campo com o da Psicometria. 
O termo Neuropsicologia surgiu no século XX, com Osler. Mas a 
preocupação com as inter-relações entre cérebro e mente remonta aos antigos 
egípcios. Hoje, temos tomografia computadorizada e ressonância magnética, 
técnicas que combinadas à avaliação psicológicas representam um enorme 
avanço para o diagnóstico e tratamento de inúmeras patologias. 
30 
 
 
Neuropsicologia é a ciência dedicada a estudar a expressão 
comportamental das disfunções cerebrais, segundo a definição de Muriel D. 
Lezak Jf Avaliação Neuropsicológica é o método para investigação do 
funcionamento cerebral através do estudo comportamental. Os objetivos da 
avaliação neuropsicológica são basicamente auxiliar o diagnóstico diferencial, 
estabelecer a presença ou não de disfunção cognitiva e o nível de funcionamento 
em relação ao nível ocupacional, localizar alterações sutis, a fim de detectar as 
disfunções ainda em estágios iniciais. Contribui para planejamento do tratamento 
e no acompanhamento da evolução do quadro em relação aos tratamentos 
medicamentoso, cirúrgico e reabilitação. Difere da avaliação psicológica por 
tomar como ponto de partida o cérebro. 
 
31 
 
Os recursos utilizados nas avaliações neuropsicológicas são muito 
diversos, baseados principalmente em material desenvolvido em laboratórios de 
neuropsicologia, neurologia e psicometria. Para compreender melhor a 
metodologia atualmente utilizada vamos a princípio revisar alguns aspectos 
históricos da neuropsicologia e da psicometria. Estas duas ciências, embora 
distintas na história, hoje contribuem fundamentando a prática na avaliação 
neuropsicológica. Por caminhos diferentes, aqueles interessados em desvendar 
os processos mentais, nos proporcionaram hoje um campo de pesquisa 
fascinante. Para compreender melhor a situação atual da neuropsicologia vamos 
fazer uma breve revisão histórica do desenvolvimento da neuropsicologia e da 
psicometria. 
3.1 Aspectos Históricos da Neuropsicologia 
 
Os antigos egípcios já faziam referência a palavra cérebro, e tinham 
razoável noção sobre as relações entre cérebro e funções motoras. Os papiros 
adquiridos por Edwin Smith em Luxor, datados dos séculos 16 e 17 aC, 
documentam o conhecimento destes povos sobre as funções cerebrais (12). Na 
Grécia Antiga, Hipócrates já considerava o cérebro como órgão do pensamento 
e das sensações, e já observava representação contralateral e relação entre 
alteração da linguagem e do lado direito do corpo (12). Um pouco mais tarde, 
século III AC, Herófilo descreveu a anatomia do cérebro e acreditava que os 
ventrículos eram responsáveis pela cognição . Galeno (sec. IIAC) pensava que 
a massa cerebral era responsável pelas atividades da mente. 
32 
 
Durante a Idade Média, pouco avançaram os estudos sobre as relações 
entre cérebro e comportamento. Mas no século XVI, Vesalius, em Louvain, 
estabeleceu a era moderna na observação e na pesquisa descritiva, estudando 
a anatomia de animais, concluiu que o cérebro humano era semelhante, apenas 
com diferentes proporções (12). Mais tarde, Descartes (século XVII) postulou 
que a glândula pineal seria a sede da mente. No século seguinte, Gall, 
importante pesquisador vienense, afirmou que as faculdades mentais estavam 
localizadas em órgão cerebrais e correlacionou-os com as proeminências do 
crânio, pois acreditava que estes órgão estavam na córtex. Gall recebeu o apoio 
de Spurheim que cunhou o termo Frenologia. Sendo assim, o século XIX assistiu 
ao início da grande discussão sobre a localização cerebral (7.12). 
Flourens( 1820) afirmou que as funções mentais não dependiam de partes 
particulares do cérebro, mas que este funcionava como um todo. Baseou seus 
estudos em pesquisas com animais e observou a recuperação de funções após 
lesões cerebrais. Na mesma época, as pesquisas de Bouillard (1825) 
demonstravam que as funções cerebrais eram localizadas e relatou a freqüente 
associação de perda da fala com lesões no lobo frontal. Pouco tempo depois, 
Paul Broca (1861), baseado em estudos anatômicos de pacientes afásicos, 
afirmou "nós falamos com o hemisfério esquerdo", e localizou a fala na parte 
posterior do lobo frontal do hemisfério esquerdo. Carl Wernicke (1874) localizou 
a compreensão da palavra no giro temporal superior esquerdo. Acreditava que 
as atividades complexas eram aprendidas por meio de conexões entre as 
regiões funcionais, valorizando a idéia de fibras neurais conectando várias áreas 
cerebrais (7.12). 
Antes de avançar na história da Neuropsicologia no século XX, vamos passar 
pela história da Psicometria que se inicia ainda no século XTX. 
3.2 Aspectos Históricos da Psicometria 
33 
 
 
Do século XIX, datam os primeiros trabalhos envolvendo a mensuração de 
comportamentos humanos interesse pela inteligência e testagem intelectual. 
Começou a se desenvolver a Psicometria, "avaliação quantitativa dos traços e 
atributos psicológicos de um indivíduo" (J.Sattler,1992). Os ingleses 
preocupavam-se com a análise estatística, os franceses com a experimentação 
clínica, os alemães enfocaram mais os estudos das psicopatologias e funções 
cognitivas mais complexas. Os americanos procuraram implementar as idéias 
de Binet desenvolvendo escalas e métodos estatísticos para trabalhar com os 
dados. Os objetivos variavam desde estudos sobre hereditariedade (Galton), 
diferenças individuais (Cattell) e nível intelectual (Binet). vamos rever um pouco 
desta história (10). 
No século XTX havia pouca distinção entre os termos idiotas e lunáticos, 
ambos eram afastados da sociedade e discriminados. Jean Esquirol, em 1838, 
propôs uma distinção entre estas duas situações: "os idiotas jamais 
desenvolvem as capacidades intelectuais, os doentes mentais perderam 
habilidades que antes possuíam".Esquirol desenvolveu também alguns métodos 
de avaliação baseados em aspectos físicos e verbais (10). 
34 
 
Na Inglaterra, Sir Francis Galton (1822-1911),estabeleceu, em 1884, o 
laboratório psicométrico na International Health Exibition, posteriormente 
transferido para University College de Londres. O laboratório pesquisava 
medidas de capacidade mental e física, e conta com cerca de 6500 registros. 
Galton acreditava que os conhecimentos humanos se desenvolviam através dos 
sentidos e assim aqueles com inteligência superior deveriam ter as melhores 
habilidades de discriminação sensorial. Com este objetivo desenvolveu testes de 
discriminação sensorial e coordenação motora. Embora seus pressupostos 
fossem discutíveis, marcou neste momento posição na metodologia de estudo 
das funções mentais(10). 
 
Karl Pearson (1857-1936), um amigo de Galton e professor de 
matemática da University of London colaborou muito para a psicometria 
desenvolvendo as fórmulas para cálculos estatísticos, correlação linear, múltipla 
35 
 
correlação e teste do chi-square, que servem para determinar a fidedignidade 
das observações experimentais (10). 
 
O americano James McKeen Cattell (1860-1944) estudou primeiro com 
W.Wundt (1832-1920) no laboratório de psicologia experimental de Leipzig e 
depois trabalhou com Galton. Em 1890 publicou um artigo onde pela primeira 
vez aparece o termo teste mental, descreveu 50 diferentes medidas, das quais 
citamos aqui alguns exemplos: pressão de dinamômetro, velocidade de 
movimentos dos braços, discriminação entre dois pontos, menor diferença 
perceptível entre dois pesos, tempo de reação para o som, tempo para 
denominar cores, número de letras lembradas após uma única exposição oral. 
J. Gilbert (1890), da Yale University, estudou como as crianças 
respondem aos vários tipos de testes, utilizando-se apenas testes 
36 
 
sensoriomotores chegou a conclusão que apenas velocidade de manual e 
julgamento de comprimentos e distâncias poderiam distinguir entre crianças 
normais e deficientes mentais (10). 
Hoje, sabe-se que estas medidas têm pouco valor preditivo para 
desempenho escolar ou funcionamento intelectual. Mas a contribuição é 
fundamental para o desenvolvimento da psicometria. Através destes estudos 
Cattel afastou o estudo da habilidade mental da filosofia, propondo um estudo 
mais experimental. 
 
Kraepelin (1855-1926), psiquiatra alemão, também aluno de Wundt, 
introduziu testes complexos para avaliação das habilidades mentais, percepção, 
memória, funções motoras e atenção. Muitos destes testes eram baseados em 
habilidades de vida diária. H. Múnstenberg (1863- 1916), também na Alemanha, 
desenvolveu vários testes para crianças, incluindo percepção, memória, leitura 
e informação. H. Ebbinghaus (1850-1909) desenvolveu testes para avaliar o 
desempenho acadêmico das crianças, com exercícios de memória, computação 
e completar sentenças(10). 
37 
 
 
Carl Wernicke (1848-1905), já conhecido na Polônia e na Alemanha por 
seus trabalhos sobre localização cerebral montou testes para avaliar retardo 
mental com questões enfatizando pensamento conceitual: "Qual a diferença 
entre escada e escada de armar?" (leiter/ treppe). T. Ziehen em 1908, publicou 
uma bateria de testes contendo questões que requeriam generalizações: (O que 
tem em comum uma águia, um pato, um ganso e uma cegonha?)(10). 
É na França do início do século XX, que se estabeleceram os princípios 
básicos para uma bateria de avaliação psicométrica com Alfred Binet (1857-
1911), Vitor Henri (1872-1940), Theodore Simon (1973-1961). Estes 
investigadores estudaram uma variedade de funções mentais, e acreditavam 
que a chave para as medidas de inteligência estava nos processos mentais 
superiores e não apenas nas funções sensoriais, posição oposta aos trabalhos 
anteriores, impulsionando sobretudo a compreensão a respeito da inteligência 
humana. Publicaram em 1905 a Escala de Inteligência Binet-Simon, considerada 
o primeiro teste de inteligência prática. Com o objetivo de graduar retardo mental 
é a primeira escala que se preocupa com a idade mental e desenvolvimento 
cognitivo em relação a idade, compõe-se de testes com graduação de 
dificuldades. A escala de Binet-Simon foi revisada em 1908 e 1911(10). 
38 
 
Os americanos muito se interessaram pelo trabalho dos franceses e, em 1908, 
Goddard levou a Escala Binet-Simon para EUA e padronizou para 2000 crianças. 
Terman (1916) revisou a escala Stanford-Binet e adotou o conceito "Quociente 
Intelectual" segundo a definição de Stern (1914). "Este valor não expressa a 
diferença, mas o a relação entre idade mental e idade cronológica e assim 
parcialmente independente da absoluta magnitude da idade cronológica, 
quociente mental=idade mental: idade cronológica"(10). 
Considerando inteligência como "capacidade do indivíduo de agir 
intencionalmente, pensar racionalmente e lidar adequadamente com seu meio", 
David Wechsler (1936) publica em 1936 a Wechsler Bellevue Scale, marcando 
o início de uma série de baterias de avaliação de inteligência, hoje as mais 
utilizadas. Mesmo trabalhando com uma forma tão quantitativa Wechsler nunca 
perdeu de vista a complexidade da inteligência humana: "A inteligência se 
manifesta de várias formas, nenhum dos subtestes das escalas Wechsler 
pretende refletir toda a inteligência" (1944). 
As escalas Wechsler são estruturadas em dois grandes grupos de testes, 
os verbais e os não verbais, chamados de performance ou execução. Esta 
estrutura permanece em todas as baterias, para todas as idades e permite hoje 
a análise fatorial dos subtestes em quatro índices. A Wechsler Adult Intelligence 
Scale (WAIS) foi publicada em 1955, revisada (WAIS R) em 1981(13), abrange 
uma escala de 16 a 74 anos. A Wechsler Intelligence Scale for Children (WISC), 
publicada em 1949, revisada (WISC R)em 1979, e atualmente tem sua terceira 
revisão (WISC IH) editada em 1991(14), que contém escalas de 6 a 16 anos. A 
Wechsler Primary and Intelligence Scale for Children (WPPSI) saiu em 1967 e 
também foi revisada em 1989(WPPSI R) (15) permitindo a avaliação de crianças 
de 3 anos e meio a 7 anos. A série de baterias de Wechsler não se restringe a 
avaliação de inteligência, em 194p foi publicada a Wechsler Memory Scale 
(WMS) que mais recentemente foi revisada (WMS R) em 1987(16). Esta bateria 
de memória contempla testas de memória verbal e visual, por evocação e por 
associação. Embora construídas como baterias de avaliação de inteligência, as 
escalas Wechsler são hoje parte de todas as baterias de avaliação 
neuropsicológica, já foram extensamente estudadas para verificar seu yalor para 
localização cerebral. 
39 
 
3.3 A Neuropsicologia no século XX 
É com esta perspectiva histórica que compreendemos então o avanço na 
avaliação das funções cognitivas relacionadas ao cérebro. O 
termo Neuropsicologia propriamente dito apareceu apenas no século XX, pelas 
palavras do Sir William Osler(1913), este utilizou o 
termo Neuropsychology numa exposição no Johns Hopkins Hospital (2). 
Lashley (1938) desenvolveu a teoria equipotencial para a qual as 
alterações do comportamento dependiam mais de quantidade de massa que 
localização. Esta posição iria influenciar as teorias da Gestalt, no entanto, a 
prática hoje mostra o contrário. MacLean (1952) introduziu o termo sistema 
límbico e contribuiu para o estudo das especializações hemisféricas. Teuber 
(1955), Weiskrantz (1968) e Shallice (1979), através de suas pesquisas, 
mostraram a independência de tipos específicos de processamento da 
informação, evidenciando a dissociação das funções(7.12). 
 
Na segunda metade do século XX, o neuropsicólogo americano Ward 
Halstead (1947) pesquisou testes mais sensíveis para aquilo que ele acreditava 
ser o substrato biológico da inteligência. Selecionou dez testes sensório motores 
para a sua bateria neuropsicológica. Seu seguidor RalphReitan (1955) 
selecionou sete dos dez testes (funções sensoriais, de percepção, motoras, 
verbais e abstração) e completou a bateria com WAIS e Minnesota Multiphasic 
40 
 
Personality Inventory (MMPI). Alguns destes testes são ainda muito utilizados, 
como o Category Test e o Trail Malring. 
 
"Inteligência é o interjogo dinâmico entre as três unidades com a ativação, 
regulação e planejamento do ato consciente pelos lobos frontais"(6). Com esta 
proposição o russo Alexander Luria (1966) elaborou a teoria dos Sistemas 
Funcionais: 1) Unidade de Atenção (sistema reticular) 2) Unidade Sensorial 
(áreas primárias , secundárias e terciárias) 3) Unidade de Planejamento (áreas 
primárias, secundárias e terciárias). Desenvolveu vários métodos de eliciar 
comportamentos e assim analisá-los qualitativamente. A contribuição de Luria 
veio a incrementar uma visão mais dinâmica do funcionamento cerebral, e 
colaborar na compreensão do funcionamento das áreas frontais (4). Por algum 
tempo o trabalho desenvolvido na Rússia ficou distante do mundo ocidental, mas 
posteriormente alcançou projeção mundial. No entanto, pouco se sabe sobre o 
trabalho desenvolvido com testes quantitativos no Instituto Bekhterev de 
Psiquiatria e Psicologia Médica de St. Petesburg (9). 
41 
 
Dra. Elisabeth Warrington (Inglaterra) enfocou basicamente a análise das 
funções cognitivas relacionadas as disfunções cerebrais. Propôs a síntese dos 
métodos intuitivo e empírico resultando na análise de habilidades complexas, 
seus componentes e subcomponentes (1990). Sua bateria de testes 
neuropsicológicos contém testes de inteligência geral, percepção visual, funções 
verbais, memória para eventos e raciocínio. Elaborou vários testes de memória 
visual, verbal, pesquisando a diferenciação entre evocação e reconhecimento, 
percepção visual, e também estudos detalhados sobre as correlações 
neuropatológicas dos subtestes do WAIS R(4.7). 
 
Arthur Benton (EUA) fez importantes contribuições para os métodos de 
avaliação neuropsicológica, desenvolveu testes de memória, de percepção 
visuale práxis construtivas (1). Edith Kaplan e o grupo de Boston (EUA) 
desenvolveram métodos de avaliação do processamento das informações nos 
diversos testes quantitativos (4). Elaboraram em 1991 o WAIS R NI, onde 
compilaram uma série de experiências sobre a avaliação das respostas do WAIS 
R fora dos limites de tempo do manual. Esta forma "Neuropsychological 
Instrument" (NI) traz significativa contribuição para a compreensão do 
funcionamento dos pacientes que não conseguem responder dentro da regras 
do teste. A análise das construções dos Cubos (Block Design) contribui para a 
diferenciação entre lesões. Kaplan utiliza uma bateria básica com testes satélites 
de inteligência, conceituação, memória, linguagem, percepção visual, 
habilidades acadêmicas e funções motoras. 
Também não podemos deixar de mencionar a contribuição de Brenda Milner 
(1975), do Montreal Neurological Instituí, no estudo dos pacientes epilépticos 
42 
 
submetidos a cirurgia dos lobos temporal e frontal. Através da análise dos 
resultados dos testes de Wada e do estudos neuropsicológicos pré e pós 
cirúrgicos, Milner desenvolveu testes para avaliação de memória e funções 
executivas(8). 
Década 90, estamos na Década do Cérebro. A Neuropsicologia, embora 
tenha suas raízes na antigüidade vem evoluindo no mundo inteiro. Os exames 
por imagem evoluíram significativamente, temos Tomografia Computadorizada 
(desde 1973), Ressonância Magnética (desde 1985) acessíveis para diagnóstico 
mais preciso de lesões cerebrais. Os diversos centros de pesquisa, hoje mais 
especializados, desenvolvem trabalhos sobre envelhecimento normal e 
patológico, distúrbios cognitivos nas epilepsias, alterações de raciocínio nos 
pacientes psiquiátricos, distúrbios de aprendizagem, distúrbios da fala e outras 
funções cognitivas relacionados as diferentes patologias do Sistema Nervoso 
Central. A Neuropsicologia, voltou seus interesses para as correlações com os 
exames de imagem, estudos aprofundados das funções corticais e determinação 
mais precisa do nível de função. 
Nos dias atuais devido a divulgação e o interesse crescente neste campo, 
não é possível abarcar aqui todos os neuropsicólogos e neurologistas que 
contribuíram e ainda contribuem significativamente. Mencionamos aqui o 
trabalho de peso de Marsel Mesulam e Norman Geschwind na neurologia 
comportamental. 
Em 1989 foi fundada em Buenos Aires a Sociedade Latinoamericana de 
Neuropsicologia, em 1991, por ocasião do II Congresso Latino Americano de 
Neuropsicologia e do I Congresso Brasileiro de Neuropsicologia, foi organizada 
a Sociedade Brasileira de Neuropsicologia, órgão atuante na divulgação desta 
ciência no nosso país e proporcionaram condições para formação de 
profissionais interessados no estudo daneuropsicologia. 
4.0 TESTES NEUROPSICOLÓGICOS 
43 
 
 
Conforme já foi mencionado, a avaliação neuropsicológica utiliza testes 
psicométricos e neuropsicológicos organizados em baterias fixas ou flexíveis. As 
baterias fixas são aplicáveis em pesquisas, em protocolos específicos para 
investigação de uma população particular. As baterias flexíveis são mais 
apropriadas para a investigação clínica pois estão mais voltadas para as 
dificuldades específicas do paciente. Considerando a variação dos testes 
neuropsicológicos, tempo de aplicação e indicação, recomendamos organizar 
um protocolo básico com a possibilidade de complementar a avaliação com 
outros testes sobre as funções mais comprometidas, a fim de realizar um exame 
mais detalhado. A sensibilidade e a especificidade dos testes para as funções a 
serem examinadas deve ser considerada nesta escolha. O psicólogo interessado 
nesta área deve estar ciente da complexidade de cada função e das formas de 
avaliá-la através de testes. Inteirado destas questões, aprofunda seus estudos 
sobre o funcionamento cerebral e as diversas patologias do Sistema Nervoso 
Central. 
 
Entre outros, os estudos sobre as epilepsias e as demências têm muito 
contribuído para a investigação da sensibilidade e especificidade dos testes 
neuropsicológicos. 
44 
 
A avaliação neuropsicológica nas demências tem por objetivos colaborar 
no diagnóstico diferencial entre demências, depressão e Deficiência de Memória 
Associada a Idade. Através da avaliação é possível determinar o nível atual de 
funcionamento, as características predominantes dos quadros demenciais. 
Demências consistem em distúrbios cognitivos, sensorio-motores, das funções 
motoras e personalidade, suficientemente importantes para comprometer o 
funcionamento social e laboral do paciente. O diagnóstico é principalmente 
sintomatológico e a neuropsicologia tem uma participação importante neste. 
Dentre os testes mais sensíveis para detectar alterações precoces estão: 
Aprendizagem de Listas de Palavras, Figura de Rey (cópia e memória), Trail 
Making, Weigl Color Form Sorting Test, Fluência Verbal (Semântica e 
Categorias), e Semelhanças do WAIS R(5). 
 
As alterações das funções cognitivas relacionadas as epilepsias 
motivaram os epijeptologistas a investigar as caráterísticas mais predominantes. 
Atualmente considera-se que as crises iniciadas prematuramente estão mais 
relacionadas com dificuldades cognitivas, assim como a localização do foco 
epileptogênico e alterações estruturais tais como esclerose mesial temporal. As 
drogas antiepilépticas individualmente interferem de modo sutil no 
funcionamento cognitivo, mas a politerapia tem efeitos mais comprometedores. 
45 
 
Estes resultados baseiam-se em testes neuropsicológicas sensíveis aos 
efeitos de drogas (memória e concentração da atenção) e testes específicos para 
lateralização da memória de material específico. Estes últimos são 
extremamente úteis na avaliação e programação do tratamento cirúrgico das 
epilepsias de difícil controle. Citamos aqui alguns

Outros materiais