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PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Carla Tatiana Flores Carvalho Determinação e formas de avaliar a inteligência Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Avaliar a importância e as limitações dos chamados testes de inteligência. � Listar os principais testes de medição de inteligência, tanto individuais como de grupos. � Reconhecer um conjunto de inteligências e habilidades, a partir dos estudos de inteligência múltipla propostos por Howard Gardner. Introdução Neste capítulo, você estudará sobre a importância e as limitações dos testes de inteligência e verificará que os mesmos são regulamentados pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP, pois só assim podem ser utilizados. O processo de validação de um teste é bastante rigoroso e requer muita dedicação de quem se propõe a fazê-lo. Você verá, também, os principais testes de inteligência que estão no mercado atualmente e são autorizados para aplicação, tanto individuais como coletivos. A lista de testes é bastante extensa, por isso, trabalha- remos com os mais utilizados, como o G 36, Wisc III, R 1, entre outros. Serão estudados os testes de inteligência tanto verbais quanto não verbais. Por fim, você estudará as inteligências múltiplas propostas por Howard Gardner — trata-se de um tema complexo, porém fascinante, pois, assim, podemos nos dar conta do quanto somos capazes. A importância e as limitações dos testes de inteligência Vamos iniciar nosso estudo conceituando inteligência, para que possamos compreender melhor a importância e as limitações dos testes de inteligência. Segundo Gardner (1995), a inteligência é a capacidade de resolver proble- mas ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou em uma comunidade cultural. Essa capacidade de resolver problemas permite à pessoa abordar uma situação em que um objetivo deve ser atingido e localizar a solução adequada para esse objetivo. Tendo em vista que nós, seres humanos, somos submetidos diariamente a diversas situações em que devemos resolver situações que nos são apresentadas, a inteligência é fator determinante no sucesso das mesmas. Os testes de inteligência são instrumentos de uso exclusivo dos psicólogos e regulamentados pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), e são utilizados em avaliações psicológicas, em concursos públicos, nas escolas, para verificar a deficiência cognitiva e a inteligência superior à média, entre outros. Podemos dizer que os testes de inteligência são parte da vasta gama de testes psicológicos existentes atualmente e que tiveram seu início no final do século IX e início do século XX, sendo possível inferir que são bastante recentes. Para Cronbach (1996 apud PASQUALI, 2001, p. 18), “[...] um teste é um procedimento sistemático para observar o comportamento e descrevê-lo com a ajuda de escalas numéricas ou categorias fixas [...]”. Podemos dizer, então, que um teste, minimamente, precisa ser válido e fidedigno para que possa existir. Isso quer dizer que ele é preciso e apresenta consistência em seus dados, ou seja, se ele for exposto a repetidas mensurações, os resultados serão sempre os mesmos. Os testes de inteligência são psicométricos, ou seja, sua avaliação é reali- zada de forma objetiva. Já a validade se refere à capacidade de o teste medir/ mensurar aquilo que ele propõe: se for para avaliar a inteligência, então, necessariamente, ele deve ser capaz de avaliar a inteligência de uma pessoa. Conforme Silva (2008), os primeiros testes de inteligência foram desen- volvidos por volta de 1900, a Década de Binet — o qual foi um pedagogo e psicólogo francês, que contribuiu muito para a psicometria. Na década de Binet, a avaliação das aptidões humanas, tendo em vista a predição na área acadêmica e da saúde, exerceu total predomínio com os trabalhos de Binet, o qual, concomitantemente a Simon, psicólogo e psico- metrista francês, elaborou testes de conteúdo mais cognitivo, não sensorial, que abrangiam funções mais amplas, não específicas. Todavia, no mesmo Determinação e formas de avaliar a inteligência2 período, Spearman, um psicólogo inglês conhecido pelo seu trabalho na área da estatística, contribuiu com a elaboração dos fundamentos da teoria clássica dos testes psicológicos (SILVA, 2008). Nascia, assim, a era dos testes com base no Quociente de Inteligência (QI). Esse período, que ocorreu de 1910 a 1930, desenvolveu-se sob a influência dos trabalhos, até então, elaborados por Galton, Binet, Simon e Spearman e o impacto da Primeira Guerra Mundial, que impôs a necessidade de seleção rápida, eficiente e universal de recrutas para o exército. Esse fenômeno fez com que vários estudiosos desenvolvessem testes de inteligência e de seleção para soldados, os quais introduziram os testes de aplicação coletiva, pois, até então, eles eram todos de aplicação individual, e passaram a ser maciçamente utilizados (PASQUALI, 2001). Na década da análise fatorial, 1930, os testes de inteligência eram dema- siadamente dependentes da cultura em que eram criados, e os psicólogos estatísticos começaram a repensar a ideia de fator geral ou universal, a qual já havia sido abordada por Spearman. Por conseguinte, estudiosos como Thomson, psicólogo inglês, e Thurstone, engenheiro mecânico americano e psicólogo conhecido por ser o mais famoso psicometrista de sua época, dedicaram-se à elaboração de testes psicológicos que levavam em consideração os fatores universais, os quais também passaram a ser muito utilizados, de forma indiscriminada e pejorativa, nas indústrias e nas instituições de ensino, resultando na falta de credibilidade dos mesmos (SILVA, 2008). No Brasil, mais especificamente na Bahia, em 1924, o educador Isaias Alvez fez a adaptação da escala Binet-Simon, considerada um dos primeiros estudos de adaptação de instrumentos psicométricos no Brasil (NORONHA; ALCHIERI, 2005). Sabemos que os testes de inteligência têm várias limitações, pois dependem de variáveis como examinador, local, escolha adequada do teste. Cabe ressaltar que o próprio CFP orienta que o uso de testes de inteligência não deve ser um instrumento único na avaliação da inteligência, mas, sim, mais um recurso que auxilia o profissional na compreensão e no fechamento das considerações acerca de uma pessoa, independentemente do fim a que se destina, ou seja, em processos seletivos ou em pacientes, tanto na avaliação psicológica quanto no psicodiagnóstico. Outro ponto de fragilidade dos testes de inteligência é a existência de inúmeros sites que divulgam indiscriminadamente testes de QI, rotulando, muitas vezes, as pessoas. Porém, devemos sempre nos lembrar de que os testes de inteligência são de uso exclusivo dos psicólogos. 3Determinação e formas de avaliar a inteligência É importante salientar que os testes de inteligência, bem como todos os testes psicológicos, apresentam uma numeração e só podem ser comprados por psicólogos, sendo vetado o uso de cópias. Todas essas orientações são determinadas pelo CFP. Conheça a Legislação que regulamenta os testes psicológicos, acessando o link a seguir. https://goo.gl/qJ3w6K Principais testes de medição de inteligência, individuais e coletivos Para compreendermos este capítulo, primeiro classificaremos a forma de aplicação dos testes de inteligência, ou seja, eles podem ser individuais ou coletivos. Os testes individuais são aqueles que só podem ser aplicados individual- mente, ou seja, a aplicação é realizada com uma pessoa de cada vez. Já os testes coletivos são aqueles que podem ser aplicados coletivamente, ou seja, a sua aplicação é realizada com duas ou mais pessoas. É importante ressaltar que cabe ao psicólogo avaliar, caso não exista orientação diferente no manual do teste, o número ideal de pessoas para a aplicação do teste, considerando, inclusive, o tamanho da sala de aplicação. Podemos, também, recorrer ao Conselho Regional de Psicologia (CRP), para uma consulta técnica sobre o assunto.Os testes coletivos são geralmente utilizados quando existe a necessidade de uma avaliação psicológica para um concurso público, por exemplo, pois, assim, se pode aplicar, simultaneamente, o teste em um grande número de pessoas. É claro que a aplicação de forma coletiva quase que anula a possibilidade de o psicólogo observar os examinandos, diferentemente do que acontece com os testes individuais, em que é estabelecida uma relação, onde a cooperação é nitidamente percebida, e a observação pode ser mais uma das ferramentas utilizadas pelo psicólogo na elaboração das suas considerações. Determinação e formas de avaliar a inteligência4 Para conhecermos os testes psicológicos, é importante ter acesso ao SA- TEPSI, que é o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos. O SATEPSI foi instituído em 2001 e é o sistema de avaliação de testes psicológicos desenvolvido pelo CFP para divulgar informações sobre os testes psicológicos à comunidade e aos psicólogos. O psicólogo dispõe de um conjunto de ferramentas para sua prática profissional. A Lei nº 4119/62, art. 13 §1º, dispõe que o psicólogo poderá utilizar métodos e técnicas psicológicas com os seguintes objetivos: diagnóstico psicológico, orientação e seleção profissional, orientação psicopedagógica e solução de problemas de ajustamento. A Resolução CFP nº 002/2003, em seu art. 3º, definiu os requisitos mí- nimos que os instrumentos devem ter para serem reconhecidos como testes psicológicos. No site do SATEPSI, são apresentados, em duas abas, os testes psicológicos e instrumentos. Pode-se obter informações sobre os testes psicológicos com parecer favorável e desfavorável, verificando a possibilidade de uso do teste na avaliação psicológica, bem como da identificação de instrumentos privativos e não privativos do psicólogo. A seguir, veremos a lista com os principais testes de inteligência, tanto verbal quanto não verbal, existentes atualmente no mercado, bem como a sua forma de aplicação, individual ou coletiva, e autorizados pelo CFP. Teste Não Verbal de Raciocínio Dedutivo (TRAD) � Objetivo: auferir o raciocínio analógico dedutivo. � Público-alvo: adolescentes e adultos. � Aplicação: individual ou coletiva. Teste Verbal de Inteligência (V-47) � Objetivo: avaliar a capacidade de compreensão verbal. � Público-alvo: adolescente e adultos a partir do ensino médio. � Aplicação: individual ou coletiva, sem limite de tempo. 5Determinação e formas de avaliar a inteligência G-38 Teste Não Verbal de Inteligência � Objetivo: avaliar o fator G de inteligência. � Público-alvo: adolescentes e adultos com escolaridade a partir do ensino médio. � Aplicação: individual ou coletiva, 30 minutos ou tempo livre dependendo da finalidade. R 1 Teste Não Verbal de Inteligência � Objetivo: avaliar o fator G de inteligência. � Público-alvo: adultos a partir dos 18 anos. � Aplicação: individual ou coletiva, com limite de tempo de 30 minutos. R 2 Teste Não Verbal de Inteligência para Crianças — Atualização de normas em avaliação � Objetivo: avaliar o fator G de inteligência de crianças. � Público-alvo: crianças com idade de 5 a 11 anos. � Aplicação: individual, sem limite de tempo, sendo que a maioria das aplicações leva em média 8 minutos. WISC-III Escala de Inteligência Wechsler para Crianças, 3.ed. � Objetivo: avaliar a capacidade intelectual. � Público-alvo: crianças e adolescentes com idade de 6 a 16 anos. � Aplicação: individual. BFM-3 (Bateria de Funções Mentais para Motorista — Teste de Racio- cínio Lógico) � Objetivo: a Bateria de Funções Mentais para Motoristas – BFM-3 visa a estabelecer uma investigação, avaliação e mensuração nas diversas operações mentais envolvidas no raciocínio lógico dos motoristas. � Público-alvo: pode ser aplicado desde sujeitos alfabetizados até nível superior de instrução e com mais de 18 anos de idade. � Aplicação: individual ou coletiva. Determinação e formas de avaliar a inteligência6 Teste Não Verbal de Inteligência G-36 � Objetivo: avaliar o fator G de inteligência. � Público-alvo: adolescentes e adultos com escolaridade a partir do ensino médio. � Aplicação: individual ou coletiva, 30 minutos ou tempo livre dependendo da finalidade. Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WAIS III) � Objetivo: a Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WAIS III) tem por objetivo avaliar a capacidade intelectual, o funcionamento cognitivo global do indivíduo. � Público-alvo: adolescentes, a partir dos 16 anos e adultos de até 89 anos. � Aplicação: individual. Teste de Inteligência Geral — Não Verbal (TIG-NV) � Objetivo: o Teste de Inteligência Geral Não Verbal TIG-NV tem como objetivo avaliar a inteligência. � Público-alvo: pessoas com idade entre 10 a 79 anos, com escolaridade do ensino fundamental ao superior. � Aplicação: individual ou coletiva. TONI-3: Teste de Inteligência Não Verbal: Uma Medida de Habilidade Cognitiva Independente da Linguagem � Objetivo: o Teste Não Verbal de Inteligência – TONI-3 tem por obje- tivo avaliar a inteligência geral de crianças por meio da resolução de problemas-desenhos de figuras abstratas, que não requerem leitura, escrita, fala ou audição. � Público-alvo: crianças com idade entre 6 e 10 anos. � Aplicação: individual. 7Determinação e formas de avaliar a inteligência Teste Não Verbal de Inteligência — SON-R 2½-7[a] � Objetivo: o SON-R 2 ½-7[a] – Teste Não Verbal de Inteligência tem por objetivo a avaliação geral do desenvolvimento e das habilidades cognitivas, fornecendo escores que avaliam habilidades espaciais e viso-motoras e de raciocínio abstrato e concreto. � Público-alvo: crianças de 2 anos e 6 meses a 7 anos e 11 meses de idade. � Aplicação: individual. Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC-IV), 4.ed. � Objetivo: a Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC IV) tem como objetivo avaliar o desempenho cognitivo, a capacidade inte- lectual e o processo de resolução de problemas em crianças. � Público-alvo: crianças na faixa etária entre 6 anos e zero meses e 16 anos e 11 meses. � Aplicação: individual. Escala de Inteligência Wechsler Abreviada (WASI) � Objetivo: a Escala Wechsler Abreviada de Inteligência (WASI) visa a atender à necessidade de uma medida breve de inteligência. � Público-alvo: crianças de 6 anos de idade até idosos na faixa etária dos 89 anos. � Aplicação: individual. Matrizes Avançadas de Raven � Objetivo: o Matrizes Progressivas de Raven (APM) tem por objetivo proporcionar uma avaliação da inteligência, fator G, bem como fornecer informações sobre a capacidade edutiva do indivíduo. � Público-alvo: pessoas com 17 a 63 anos de idade e escolaridade mínima de ensino superior em andamento. � Aplicação: o teste APM pode ser administrado individualmente por um psicólogo, autoadministrado individualmente na presença de tal profissional ou administrado de modo coletivo. Determinação e formas de avaliar a inteligência8 Teste Não Verbal de Raciocínio para Crianças (TNVRI) � Objetivo: o Teste Não Verbal de Raciocínio para Crianças (TNVRI) tem por objetivo avaliar o potencial intelectual de crianças e jovens com base no fator G de inteligência. � Público-alvo: destinado a crianças com idade entre 5 anos e 9 meses e 13 anos e 3 meses, desde analfabetos. � Aplicação: individual ou coletiva (máximo de 10 crianças por turma) — no caso de crianças com idade inferior a 7 anos ou com deficiências intelectuais ou motoras, faz obrigatória a forma de aplicação individual. Teste Não Verbal de Inteligência Geral BETA-III (Subtestes Raciocínio Matricial e Códigos) � Objetivo: o Teste Não Verbal de Inteligência Geral – BETA III tem por objetivo a avaliação da inteligência, mais especificamente a ca- pacidade para resolver problemas novos, relacionar ideias, induzir conceitos abstratos e compreender implicações e avaliar a velocidade de processamento. � Público-alvo: adolescentes e adultos com baixa escolaridadeaté o nível superior. � Aplicação: individual ou coletiva. Teste de Inteligência Verbal (TIV) � Objetivo: o Teste de Inteligência (TI) avalia o fator G ou inteligência geral proposto por Spearman, por meio do preenchimento de espaços em branco que devem ser completados pela análise de relações e matrizes. � Público-alvo: pessoas com idade entre 18 e 67 anos, de ambos os se- xos, com nível de escolaridade entre ensino fundamental incompleto e pós-graduação. � Aplicação: individual ou coletiva, em grupos de no máximo 20 pessoas. Existem vários outros testes de inteligência validados pelo Conselho Federal de Psicologia, os quais não foram contemplados no texto, em virtude do livre acesso no SATEPSI para conhecimento. 9Determinação e formas de avaliar a inteligência No site do SATEPSI, ou seja, o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos, do Conselho Federal de Psicologia (CFP), você encontrará a lista de todos os testes com pareceres favoráveis e desfavoráveis. Este site é para consulta dos psicólogos e da população em geral. https://goo.gl/rzC2hc Inteligências múltiplas propostas por Howard Gardner Para iniciarmos o nosso estudo, primeiramente, precisamos compreender o que são habilidades. Entende-se por habilidade a capacidade que a pessoa desenvolve para desempenhar determinada função. Isso significa que podemos desenvolver habilidades voltadas para as nossas áreas de interesse. Você já parou para pensar quais são as suas áreas de interesse? Já a inteligência nos remeterá, por exemplo, à nossa capacidade de apren- der, compreender e nos adaptar às coisas. Para isso, precisamos desenvolver habilidades, tais como a capacidade de resolver adequadamente os problemas que nos são apresentados diariamente em nosso cotidiano. Gardner (1994) refere que as inteligências apresentam uma escala de de- senvolvimento de acordo com os seguintes estádios: � habilidade de padrão cru ou “inteligência pura” — compreende o pri- meiro ano de vida dos bebês, quando eles começam a entender melhor o mundo que os rodeia, tendo a capacidade de receber uma diversidade de informação, porém não são capazes de manifestá-las; � estádio de sistemas simbólicos — compreende a faixa etária dos dois aos cinco anos de idade, é o momento das simbolizações básicas, pois, nesta fase, as inteligências se revelam por meio de símbolos; � sistemas de segunda ordem — compreende níveis mais elevados de destreza, pois, aqui, aprendem a escrever e desenhar; � realização em campo específico — compreende desde a adolescência e vai até a idade adulta, onde a inteligência expressar-se-á por meio de atividades profissionais ou ocupacionais. Determinação e formas de avaliar a inteligência10 Nós, adultos, estamos no estágio da realização do campo específico, pois é aqui que já desenvolvemos, ou ainda estamos desenvolvendo, a descoberta da nossa escolha profissional e estamos trilhando o caminho para trabalharmos nela. É claro que, muitas vezes, realizamos escolhas que não são tão adequa- das aos nossos interesses — por falta de informação ou por pensarmos que não temos capacidade para nos arriscarmos em determinadas áreas —, mas sempre é tempo de reavaliarmos e buscarmos novos caminhos, pois somos seres inteligentes. Dessa forma, podemos dizer que o ser humano passa por vários estágios para desenvolver a sua inteligência, para que possa pensar, aprender e agir. Tendo em vista que somos inteligentes e capazes de desenvolvermos ha- bilidades, vamos conhecer um pouco da Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner, desenvolvida por volta dos anos 1980. Gardner desafiou o conceito de Quociente de Inteligência (QI), que se baseia na ideia da existência de uma inteligência genérica e única, capaz de ser medida por meio de testes. Dessa forma, o QI acabou rotulando muitas pessoas e, consequentemente, desmerecendo muitos talentos. Para Gardner (1995), a Teoria das Inteligências Múltiplas diverge dos pontos de vista tradicionais. Numa visão tradicional, a inteligência é definida opera- cionalmente como a capacidade de responder a itens em testes de inteligência. A inferência a partir dos resultados de testes, de alguma capacidade subjacente, é apoiada por técnicas estatísticas que comparam respostas de sujeitos em diferentes idades; a aparente correlação desses resultados de testes através das idades e de diferentes testes corrobora com a noção de que a faculdade geral da inteligência, G, não muda muito com a idade ou com o treinamento ou a experiência — ela é um atributo ou uma faculdade inata do indivíduo. A Teoria das Inteligências Múltiplas de Gardner, por outro lado, pluraliza o conceito tradicional. Uma inteligência implica na capacidade de resolver problema ou elaborar produtos que são importantes num determinado ambiente ou numa comunidade cultural. A capacidade de resolver problemas permite à pessoa abordar uma situação em que um objetivo deve ser atingido e loca- lizar a rota adequada para esse objetivo. A criação de um produto cultural é crucial nessa função, na medida em que captura e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou os sentimentos da pessoa. Os problemas a serem resolvidos variam desde teorias científicas até composições musicais para campanhas políticas de sucesso (GARDNER, 1995). 11Determinação e formas de avaliar a inteligência Gardner (1995) desenvolveu a teoria na tentativa de reconhecer a plurali-dade das capacidades mentais. Tendo em vista a diversidade do intelecto, ele desenvolveu oito inteligências: inteligência linguística, inteligência lógico--matemática, inteligência espacial, inteligência musical, inteligência cinestésica/corporal, inteligência interpessoal, inteligência intrapessoal e inteligência naturalista. Segundo o autor, nós temos, minimamente, oito competências intelectuais que se combinam e organizam de maneira diferente em cada indivíduo. Gardner (1994) considera, ainda, que essas competências são independentes, no entanto todos os indivíduos as apresentam, só que algumas podem estar mais desenvolvidas do que outras, dependendo dos estímulos que as crianças recebem do ambiente cultural onde se inserem. Dessa forma, podemos dizer que a Teoria das Inteligências Múltiplas consi- dera não só o indivíduo, mas, também, a sociedade, como meio ao qual estão in- seridos. Assim, podemos dizer que cada indivíduo aprenderá de forma diferente, considerando o seu tempo, os seus interesses, bem como a sua história de vida. Segundo Gardner (1995), as inteligências começam a ser visualizadas nas crianças desde cedo, pois é quando elas mostram alguma aptidão para uma determinada inteligência. Veremos, no Quadro 1, a seguir, a descrição das oito inteligências propostas por Gardner (1995). Tipo Descrição Inteligência linguística ou verbal Esta competência caracteriza-se pela capacidade de lidar bem com a linguagem oral e com a linguagem escrita e é uma das inteligências mais estimuladas no ensino. Assim, os principais componentes desta inteligência são: a sensibilidade para os sons, a identificação dos significados das palavras e, a compreensão das diferentes funções da linguagem. Esta inteligência assenta ainda, na habilidade de usar a linguagem para agradar, convencer outras pessoas, ou transmitir ideias e opiniões. Essa habilidade se verifica nos alunos por meio da capacidade para contar histórias originais ou para relatar com alguma precisão experiências vivenciadas. Quadro 1. Oito inteligências propostas por Gardner (Continua) Determinação e formas de avaliar a inteligência12 Quadro 1. Oito inteligências propostas por Gardner Tipo Descrição Inteligência lógico- -matemática Esta inteligência é considerada como uma das inteligências de maior prestígio na sociedade, assenta na habilidade para a resolução de problemas que envolvam números ou outros elementos matemáticos e está, ainda, ligada à capacidade para explorar padrões, por meio da manipulação controlada de objetos,e à habilidade para lidar com diversos raciocínios a fim de resolver problemas. O aluno que manifesta aptidão nesta inteligência revela facilidade para contar, para realizar cálculos matemáticos ou para perceber a geometria nos espaços. Inteligência espacial Nesta inteligência, o aluno tem a capacidade de formar um modelo mental de uma situação espacial e utilizá-lo para se orientar no espaço ou entre objetos. Gardner (1994) descreve esta inteligência como a capacidade para perceber o mundo visual e espacial de uma forma mais precisa. Nos alunos, o potencial nesta inteligência verifica-se por meio da habilidade para quebra-cabeças ou outros jogos espaciais. Inteligência musical Esta inteligência se caracteriza pela habilidade para organizar sons de maneira criativa, a partir de elementos como tom ou timbre. Manifesta-se por meio de uma habilidade para admirar, reproduzir ou compor uma peça musical. Os alunos demonstram, desde cedo, facilidade em identificar diferentes sons e frequentemente cantam para si. Inteligência cinestésica/ corporal Nesta inteligência, os alunos revelam habilidade para usar e controlar os movimentos do seu corpo e para manipular habilmente objetos. É possível, ainda, usar a motricidade fina ou global no desporto. A inteligência cinestésica/corporal se verifica nos alunos quando estes demonstram uma grande destreza e coordenação motora. Inteligência interpessoal Nesta inteligência, os alunos manifestam habilidade para responder adequadamente aos diferentes estados de humor, às motivações e aos desejos das outras pessoas. O indivíduo tem a capacidade de se relacionar bem com as outras pessoas e, ainda, a capacidade de compreender e perceber as motivações e inibições dos outros. Os alunos manifestam habilidade para entender as intenções e os desejos das outras pessoas e a capacidade de reagir apropriadamente a partir dessa percepção. (Continua) (Continuação) 13Determinação e formas de avaliar a inteligência Para saber mais sobre as inteligências múltiplas, leia o livro “Inteligências múltiplas: a teoria na prática”, escrito em 1995 por Howard Gardner. Fonte: Gardner (1995). Tipo Descrição Inteligência intrapessoal Esta é a capacidade de se conhecer, diferenciando as suas próprias emoções, manifestando facilidade em reconhecer as suas fraquezas e forças. O indivíduo deve, ainda, gerir as suas emoções e os seus sentimentos em função dos seus objetivos. Esta inteligência é a mais pessoal de todas. Inteligência naturalista Esta inteligência consiste na capacidade de compreender e organizar os objetos e padrões da natureza, tais como reconhecer e classificar plantas, animais, meio ambiente e seus componentes. Essa competência engloba a capacidade de observar e entender o ambiente natural. E você, conseguiu reconhecer para qual(quais) inteligência(s) suas habilidades estão voltadas? Quadro 1. Oito inteligências propostas por Gardner (Continuação) BRASIL. Lei nº 4.119, de 27 de agosto de 1972. Dispõe sôbre os cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão de psicólogo. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/1950-1969/L4119.htm>. Acesso em: 12 jun. 2018. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP nº 2/2003. Alterada pela Reso- lução CFP n° 006/2004 e Resolução CFP nº 005/2012. Define e regulamenta o uso, a elaboração e a comercialização de testes psicológicos e revoga a Resolução CFP n° 025/2001. Disponível em: <https://site.cfp.org.br/resolucoes/resolucao-n-2-2003/>. Acesso em: 12 jun. 2018. Determinação e formas de avaliar a inteligência14 GARDNER, H. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. NORONHA, A. P. P.; ALCHIERI, J. C. Reflexões sobre os instrumentos de avaliação psicológica. In: PRIMI, R. (Org.). Temas em avaliação psicológica. Porto Alegre: IBAP; São Paulo: Casa do Psicólogo. PASQUALI, L. Técnicas de exame psicológico: T.E.P manual. São Paulo: Casa do Psicó- logo, 2001. SILVA, V. G. Os testes psicológicos e as suas práticas. 2008. Disponível em: <http://www. psicologia.pt/artigos/textos/A0448.pdf >. Acesso em: 11 abr. 2018. Leituras recomendadas ARSUFFI, E, S. História dos testes psicológicos: origens e transformações. [S.l.]: Vetor, [2010]. CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA; CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA. Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI). [2018]. Disponível em: <http://satepsi.cfp. org.br/>. Acesso em: 12 jun. 2018. GARDNER, H. Cinco mentes para o futuro. Porto Alegre: Artmed, 2007. GARDNER, H. Mentes que mudam. Porto Alegre: Artes Médicas, 2005. 15Determinação e formas de avaliar a inteligência
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