Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
COCOS GRAM NEGATIVOS – NEISSERIA As 2 principais espécies são Neisseria gonorrhoeae e Neisseria meningitidis e são estritamente patogênicas ao homem. Há outras 8 espécies, mas de virulência limitada. São cocos Gram negativos, aeróbios, arranjados na forma de diplococos com os lados adjacentes achatados (semelhantes a grãos de café). Todas as espécies são oxidase-positivas (enzima citocromo oxidase) e a maioria produz catalase. A combinação dessas características com a coloração de Gram e a morfologia permitem uma rápida identificação presuntiva. N. gonorrohea oxida glicose enquanto que N. meningitidis oxida maltose também (útil para diferenciação). Crescimento melhor em meio de cultura com substâncias orgânicas complexas (as espécies patogênicas), como o ágar chocolate e em atmosfera úmida com 5% de CO2 (capnofílicas). O crescimento é inibido por traços de metais e ácidos graxos tóxicos e para isso é adicionada amido solúvel para neutralizar. Esses traços de metais e ácidos graxos tóxicos são decorrentes do próprio metabolismo da bactéria. A temperatura ótima é entre 35-37°C e são extremamente sensíveis à luz solar. A parede celular é típica de uma Gram negativa e o principal fator de virulência de N. meningitidis é a cápsula polissacarídica. ESTRUTURA Tanto as cepas patogênicas quanto as não patogênicas apresentam pili que parte da membrana citoplasmática, cuja função é aderência, transferência de material genético e motilidade. Proteínas de membrana externa o Porinas: formam poros ou canais para a passagem de nutrientes para dentro da célula ou saída de produtos indesejáveis. Também auxilia na adesão e permite que a bactéria fagocita sobreviva dentro dos leucócitos polimorfonucleares. São codificadas por 2 genes. Não existe vacina contra gonorreia porque o Por B possui diversas variantes sorológicas, além disso o pili dessas bactérias também tem parte da culpa. o Opa (proteína de opacidade) medeia a ligação íntima ao epitélio e aos fagócitos, importante para a sinalização e adesão entre as células. Colônias visivelmente opacas expressam essa proteína (ou seja, nem todas produzem) que está mais relacionada a infecções locais. o Rmp (proteínas modificadas por redução): estimula anticorpos bloqueadores que impedem a atividade bactericida do soro. O ferro é um composto essencial e as Neisserias são capazes de competir por ele com o hospedeiro humano, através da ligação da transferrina da célula do hospedeiro a receptores específicos da superfície bacteriana mediada por proteínas ligadoras. Talvez a especificidade dessa ligação à transferrina seja o motivo pelo qual é estritamente patogênica ao homem. A ligação ao ferro ocorre também por proteínas de ligação à lactoferrina e à hemoglobina, que são constituintes da parede celular dessas bactérias. O LOS (lipo-oligossacarídeo) é um antígeno parecido com o LPS, que é formado pelo lipídio A + oligossacarídeo e aumenta a toxicidade mediada pela endotoxina. Também produzem protease IgA1 que cliva e inativa a IgA1, o primeiro anticorpo que elas entram em contato. Algumas cepas de N. gonorrhoeae produzem β-lactamases capazes de degradar a penicilina. Há a cápsula polissacarídica que é o principal fator de virulência de N. meningitidis que apresenta 13 sorogrupos, mas a maioria das infecções é causada pelos grupos A, B, C, Y e W135. EPIDEMIOLOGIA: N. gonorrhoeae Segunda maior das IST’s bacterianas, perdendo apenas para clamídia. As mulheres possuem mais chances (50%) de adquirir após um único contato enquanto que os homens possuem 20%, o que faz da mulher (infectada e assintomática) o principal reservatório gonocócico. Por A • gene silencioso na N. gonorrhoeae • relacionado à adesão à célula do hospedeiro Por B • é expressamente ativo pelas 2 espécies • imprescindível para a sobrevivência de N. gonorrhoeae • interfere na desgranulação de neutrófilos e facilita a invasão de células epiteliais Transmissão via sexual e vertical. PATOGÊNESE E IMUNIDADE: N. gonorrhoeae As proteínas Pili, Por B e Opa medeiam a aderência e a invasão nas células do epitélio urogenital, a Neisseria terá que competir com a microbiota e formar sua própria microcolônia (biofilme) e então a bactéria vai invadir o tecido com auxílio também da porina. Dentro da célula vai liberar algumas vesículas com LOS e proteínas externas. Isso estimula a liberação de citocinas pró-inflamatórias e TNF-α que causam a maioria dos sintomas associados à doença. Elas conseguem sobreviver dentro de neutrófilos e se disseminar através deles. Com o influxo de neutrófilos há a formação de exsudato purulento no epitélio da uretra ou no colo uterino (principal sintoma da gonorreia) e isso aumenta a transmissão. A invasão tecidual é um processo de transcitose (entra no espaço intracelular por endocitose e é expulsa por exocitose) e é mediado pela proteína Opa que também estimula TNF-α à apoptose dos tecidos. Gera um processo infeccioso piogênico. DOENÇAS CLÍNICAS: N. gonorrhoeae Gonorreia, homens geralmente apresentam sintomatologia aguda (corrimento uretral purulento e disúria) enquanto as mulheres apresentam corrimento vaginal, disúria e dor abdominal. Em adolescentes pode ocorrer a vulvovaginite principalmente em meninas que ainda não menstruaram, devido ao epitélio ainda não ser queratinizado (a queratinização faz parte do ciclo hormonal). Gonococcemia: infecções disseminadas com septicemia e infecção da pele e articulações. Sintomas: artralgia migratória, febre, artrite supurativa, etc. Ocorre principalmente em pessoas assintomáticas não tratadas. Conjuntivite purulenta (oftalmia neonatal): acomete principalmente RN. Doença inflamatória pélvica: é uma infecção ascendente da cérvice uterina e acomete útero, trompas e ovários. Outras: gonorreia anorretal e faringite. O risco é aumentado durante a gravidez. Além de aumentar o risco de gravidez ectópica, aborto espontâneo ou parto prematuro, ruptura prematura de membranas e morte fetal. EPIDEMIOLOGIA: N. meningitidis Doença endêmica com períodos de surtos epidêmicos. Acomete indivíduos de todas as faixas etárias, mas tem predileção por crianças menores de 5 anos, que não possuem anticorpos contra a cápsula, ou seja, quem não foi vacinado. A transmissão é por meio de aerossóis respiratórios através de contato próximo e prolongado. Pacientes assintomáticos são portadores transitórios. O surto é quando tem 3 ou mais casos, taxa de ataque 10/100mil num período menor de 3 meses, e indivíduos não relacionados na mesma área. Possui 13 sorotipos de polissacarídeos capsulares (A, B, C, W, X e Y). Atualmente o sorogrupo atuante é o C. Doenças causadas: meningite, meningococcemia, artrite e pneumonia. PATOGÊNESE E IMUNIDADE: N. meningitidis Muito parecida com a de N. gonorrhoeae. Os pilis e adesinas promovem a fixação na mucosa da nasofaringe após o contato da pessoa com aerossóis, a presença das vesículas e seus constituintes vão gerar resposta imune, liberação de TNF-α que vai gerar um dano tecidual local. Com esse processo inflamatório também há uma maior permeabilidade das células da mucosa. A cápsula é um importante fator de virulência para a fuga da fagocitose e com isso pode alcançar a corrente sanguínea. Quando o indivíduo possui anticorpos contra os polissacarídeos capsulares essa resposta é debelada. DOENÇAS CLÍNICAS: N. meningitidis Meningite: disseminação hematogênica, com dor de cabeça, sinais meníngeos, febre e sequelas neurológicas. Pneumonia meningocócica: alcança os pulmões por disseminação hematogênica ou aspiração do MO, infecção viral prévia e sintomas de faringite. Meningococcemia (sepse): pode ter meningite ou não, depende dos sintomas do paciente. Também aparece na forma de lesão de pele, pode ocorrer coagulação intravascular difusa (CID), falência de múltiplos órgãos, hipotensão e choque em respostaà endotoxina. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Amostra N. gonorrhoeae: pus e secreção da uretra, colo, reto, conjuntivo, garganta e líquido sinovial. Faz a cultura e esfregaço. Amostra N. meningitidis: sangue para hemocultura e líquido cerebrospinal. Para diagnosticar o gênero: coloração de Gram, teste de catalase e oxidase. Para diagnosticar a espécie: prova positiva ou negativa para fermentação de maltose. A coloração de Gram é sensível e específica para detecção de infecção gonocócica em homens. Como a mulher pode apresentar outros MO em sua microbiota, a cultura deve ser feita em meios não seletivos (ágar chocolate) e meios seletivos (Thayer-Martin). O meio não seletivo deve ser usado porque algumas cepas de gonococos são inibidas pela vancomicina presente na maioria dos meios seletivos. Usando os dois meios também se pode fazer um comparativo da cultura. Teste para maltose: 1% da maltose em ágar CTA com indicador vermelho de fenol e há viragem quando o MO oxida a maltose. TRATAMENTO Gonorréia: Ceftriaxona + azitromicina. Meningite: Ceftriaxona IM ou Cefotaxima IV. Vacinas meningocócicas: MenACWY (disponível no SUS) e MenB.
Compartilhar