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O ESTADO PLURINACIONAL NAS NOVAS CONSTITUIÇÕES DA BOLÍVIA E DO 
EQUADOR 
Guilherme Andrade Silveira e Janaina Ferreira da Mata 
RESUMO: As novas constituições do Equador, de 2008, e da Bolívia, de 2009, dentro do 
marco do Novo Constitucionalismo Latino-Americano, representam casos emblemáticos das 
transformações vivenciadas na região durante as últimas décadas. Essas constituições têm 
despertado grande interesse por parte de pesquisadores devido às importantes inovações 
apresentadas, sejam institucionais, como a redefinição das funções do Estado, seja em termos 
de direitos, como participativos e buen vivir. De forma mais destacada, esses textos 
constitucionais propõem uma refundação do próprio conceito de Estado, cunhado pela tradição 
liberal europeia como Estado-nação, em ruptura aos processos de colonização e a partir do 
reconhecimento dos povos indígenas, campesinos e originários. Este trabalho tem como 
objetivo discutir o conceito de Estado Plurinacional, destacando seu papel e importância nas 
lutas decoloniais em Abya Yala e sua imbricação com um novo e ampliado modelo de 
democracia, que inclui o fortalecimento da participação social e o desenvolvimento de 
instâncias comunitárias, em uma concepção aprofundada de autodeterminação dos povos. Além 
disso, pretende comparar os modelos de Estado Plurinacional implantados na Bolívia e no 
Equador, demonstrando suas principais características, perspectivas, instituições e atores 
envolvidos. Para tanto, o artigo perpassa as recentes transformações constitucionais dos países 
supracitados, destacando os processos de resistência e mobilização social, e se apropriando de 
literatura recente, produzida no Sul, acerca da democracia e decolonialidade. 
Palavras-chave: Estado Plurinacional, decolonialidade, democracia. 
EL ESTADO PLURINACIONAL EN LAS NUEVAS CONSTITUCIONES DE BOLIVIA 
E ECUADOR 
RESUMEN: Las nuevas constituciones de Ecuador, de 2008, e de Bolivia, de 2009, en el marco 
del Nuevo Constitucionalismo Latinoamericano, representan casos emblemáticos de las 
transformaciones vividas en la región durante las últimas décadas. Tales constituciones tienen 
despertado gran interés por parte de los investigadores debido a las importantes innovaciones 
presentadas, sean institucionales, como la redefinición de las ramas del Estado, sean en términos 
de derechos, como participativos y buen vivir. Con mayor destaque, esos textos constitucionales 
proponen una refundación de la propia concepción de Estado, acuñado por la tradición liberal 
europea como Estado-nación, en ruptura con los procesos de colonización y a partir del 
reconocimiento de los pueblos indígenas, campesinos e originarios. Este trabajo tiene como 
objetivo discutir el concepto de Estado Plurinacional, destacando su papel e importancia en las 
luchas decoloniales en Abya Yala y su imbricación con un nuevo y ampliado modelo de 
democracia, que incluye el fortalecimiento de la participación social y el desarrollo de 
instancias comunitarias, en una concepción profundizada de autodeterminación de los pueblos. 
Además, pretende comparar los modelos de Estado Plurinacional desplegados en Bolivia y 
Ecuador, demostrando sus principales rasgos, perspectivas, instituciones e actores 
involucrados. Para tanto, el artículo recorre a las recientes transformaciones constitucionales de 
los países citados arriba, destacando los procesos de resistencia e movilización social, y 
apropiándose de literatura reciente, producida en el Sur, acerca de la democracia e 
decolonialidad. 
Palabras-clave: Estado Plurinacional, decolonialidad, democracia. 
 
INTRODUÇÃO 
Os arranjos políticos e sociais, bem como os processos de transição, consolidação e 
reestruturação da democracia nos países latino-americanos têm sido fonte de intensa e constante 
investigação por parte de pesquisadores de diversas áreas, incluindo a Sociologia, 
Antropologia, Economia, Direito e Ciência Política. Recentemente, algumas experiências 
surgidas em nosso continente têm merecido maior destaque, dentro e fora da região, sobretudo, 
na literatura constitucional e sobre inovações democráticas. Desde o final do século passado e, 
sobretudo, nos primeiros anos do século XXI, a América Latina assistiu a um importante 
processo de mudanças políticas, sociais, econômicas e culturais, protagonizado pela própria 
população, especialmente, pelos grupos tradicionalmente excluídos e marginalizados em todas 
essas dimensões, como os povos originários, que culminaram na positivação de novos e antigos 
direitos, por meio de processos de constituintes amplamente democráticos. 
Como resultado desse processo, as Constituições da Colômbia (1991), Venezuela 
(1999), Equador (2008) e Bolívia (2009)1 estão sendo analisadas como a construção de um 
arcabouço jurídico inovador e diferenciado, formando o que vem sendo chamado pelos 
estudiosos de “Novo Constitucionalismo Latino-Americano”2 (SANTOS, 2009, 
MAGALHÃES, WEIL, 2010; VICIANO PASTOR, MARTÍNEZ DALMAU, 2010 e 2011; 
 
1 Reconhecemos a existência de um importante debate acerca da inclusão dos casos da Colômbia e da Venezuela 
no paradigma do Novo Constitucionalismo Latino-Americano. Nos parece ser adequado o enquadramento que 
caracteriza as constituições desses dois países como percussora desse movimento, apresentando, no entanto, 
limitações profundas frente aos avançados representados pelos casos equatoriano e boliviano. Contudo, 
entendemos que esse debate deva ser feito de maneira robusta, algo que ultrapassaria os objetivos deste estudo, 
que analisa apenas os dois últimos casos, por serem os únicos em que o Estado foi concebido, em seu projeto 
constitucional, como plurinacional. 
2 Esse movimento tem recebido variadas denominações. Uma listagem bastante completa pode ser encontrada em 
Brandão (2015). 
GARAVITO, 2011; LINZÁN, FRANCO, 2011; GARGARELLA, 2012; PISARELLO, 2014). 
Essas constituições são fruto de um intenso processo de mobilização social frente à profunda 
situação de crise econômica, política e social experimentada por essas funções, sendo duas de 
suas causas mais notáveis a aplicação dos programas de ajustes estruturais de matriz neoliberal 
nos anos de 1970 e a forte condição de exclusão e desigualdade vivenciada por seus 
protagonistas. 
Diante da falta de habilidade do “velho” constitucionalismo para resolver os problemas 
fundamentais da sociedade, o Novo Constitucionalismo se distancia e representa uma ruptura 
em relação aos modelos prévios, sendo marco pela ampla participação e protagonismo popular 
durante o processo de elaboração e aprovação das cartas magnas. Entre as principais 
características desse paradigma constitucional estão a ativação direta do poder constituinte pelo 
povo, a ampliação de mecanismos de participação e controle popular do Estado, uma extensa 
carta de direitos e garantias, a integração de setores sociais historicamente marginalizados, 
especialmente os povos indígenas, o controle concentrado de constitucionalidade e a forte 
normatividade constitucional, bem como a definição de um papel mais ativo do Estado na 
economia, associado ao maior compromisso com a integração regional. 
Dentro do marco do Novo Constitucionalismo Latino-Americano, as novas 
constituições do Equador, de 2008, e da Bolívia, de 2009, representam casos emblemáticos das 
transformações vivenciadas na região durante as últimas décadas. Além de contar com as 
características apresentadas anteriormente, essas constituições têm despertado grande interesse 
por parte de pesquisadores devido às importantes inovações apresentadas, sejam institucionais, 
como a redefinição das funções do Estado, seja em termos de direitos, como participativos e 
buen vivir. De forma mais destacada, essas constituições propõem uma refundação do próprio 
conceito de Estado, cunhado pela tradição liberal europeia como Estado-nação, em rupturaaos 
processos de colonização e a partir do reconhecimento dos povos indígenas, campesinos e 
originários. 
Se anteriormente a literatura destacava a influência da colonização na formatação dos 
países latino-americanos e a exclusão da população indígena na vida política do Estado-nação 
(DUSSEL, 1994; LOSURDO, 2008; WACHTEL, 1998), agora os estudos ser voltam para o 
processo de descolonização (CANQUI, 2010; MOLLINEDO, 2010) e para a mobilização dos 
povos originários em prol da transformação do aparato estatal (MOTA, 2008; GUIMARÃES, 
2009; MAYORGA, 2014). Essas cartas passam a reconhecer a diversidade enquanto direito 
individual e também coletivo, na perspectiva da interculturalidade (YRIGOYEN FAJARDO, 
2011), a autonomia dos povos, o pluralismo jurídico e a representação direta dos povos 
originários, segundo seus usos e costumes, nos diferentes níveis da estrutura do Estado. 
Diante disso, é preciso desenvolver a produção científica no sentido de buscar 
compreender os fatores, contextos e influências que propiciaram a substituição do modelo de 
Estado-nação, tipicamente excludente e homogeneizador, que perdurou durante séculos, pelo 
modelo de Estado Plurinacional. Este trabalho tem como objetivo discutir o conceito de Estado 
Plurinacional, destacando seu papel e importância nas lutas decoloniais em Abya Yala3 e sua 
imbricação com um novo e ampliado modelo de democracia, que inclui o fortalecimento da 
participação social e o desenvolvimento de instâncias comunitárias, em uma concepção 
aprofundada de autodeterminação. Além disso, pretende comparar os modelos de Estado 
Plurinacional implantados na Bolívia e no Equador, demonstrando suas principais 
características, perspectivas, instituições e atores envolvidos. Para tanto, o artigo perpassa as 
recentes transformações constitucionais dos países supracitados, destacando os processos de 
resistência e mobilização social, e se apropriando de literatura recente, produzida no Sul, acerca 
da democracia e decolonialidade. 
As novas experiências constitucionais na América Latina nos oferecem caminhos e 
possibilidades, que, como observado, geram avanços democráticos e populares nos rumos dos 
países que fizeram recentemente essa opção de convocar uma Assembleia Constituinte para a 
elaboração de uma nova Constituição. Ao propor contribuir para o debate que se faz entorno 
desse paradigma constitucional, buscamos analisar os elementos que permitem aprofundar um 
projeto constitucional igualitário, capaz de lidar com o pesado legado deixado pelos duzentos 
anos de constitucionalismo conservador e liberal na região e superá-lo. 
O NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO 
Ao percorrer os mais de 200 anos de constitucionalismo latino-americano, o valor da 
igualdade parece assumir um papel central para aqueles que o desejam analisar a partir de um 
ponto de vista emancipatório. Durante a maior parte desse período, quiçá durante toda a história 
desse continente, a desigual distribuição do poder político, econômico e cultural, a exclusão de 
minorias e, muitas vezes, maiorias étnicas e a vulnerabilidade da região frente às ingerências 
de organismos externos foram e continuam sendo elementos decisivos na hora de se pensar a 
fragilidade dos textos constitucionais dos países latino-americanos desde essa perspectiva. 
 
3 “Abya Yala, na língua do povo Kuna, significa Terra madura, Terra Viva ou Terra em florescimento e é sinônimo 
de América. [...] Abya Yala vem sendo usado como uma autodesignação dos povos originários do continente em 
oposição a América, expressão que, embora usada pela primeira vez em 1507 pelo cosmólogo Martin 
Wakdseemüller, só se consagra a partir de finais do século XVIII e inícios do século XIX, adotada pelas elites 
crioulas para se afirmarem em contraponto aos conquistadores europeus, no bojo do processo de independência” 
(PORTO-GONÇALVES, 2009, p. 26). 
Entretanto, nas últimas décadas, uma nova tendência constitucional tem se mostrado como 
ponto de inflexão na história da região. 
As bases para a construção desse novo modelo podem ser encontradas ao longo de 
todo o constitucionalismo regional, marcado pela exclusão e pelo predomínio de modelos 
conservadores e liberais4 (GARGARELLA, 2010). Contudo, sua justificativa mais direta 
remonta à década de 1970, quando, após a caída dos regimes militares que assolaram todo o 
continente durante boa parte do século XX, a aplicação de políticas de ajustes estruturais de 
matriz neoliberal do Consenso de Washington5 e a difícil estabilização do sistema democrático, 
a região vivia uma intensa crise política, econômica, social e de direitos humanos, ainda diante 
de um intenso quadro de exclusão e negação de direitos. Em pouco tempo, se assistiu a uma 
forte mobilização social e a processos destituintes6, que levariam a queda de inúmeros chefes 
de governo7 e obrigariam a revisar uma série de aspectos da ordem constitucional vigente 
(PISARELLO, 2009). 
Por outro lado, outros dois importantes e simultâneos acontecimentos marcaram a vida 
política da América Latina nesse contexto: a proeminência de movimentos sociais e a eleição 
de um número significativo de governos orientados à esquerda ou centro-esquerda (PREVOST, 
CAMPOS, VANDEN, 2012), em um movimento convergente em direção ao progressismo 
político, nomeado por alguns teóricos como “giro a la izquierda”8 (PARAMIO, 2006). Esse 
período pode ser caracterizado, então, pela abertura à participação eleitoral, sobretudo, de 
 
4 Uma das principais marcas das constituições promulgadas ao longo da história da América Latina é a diversidade 
de projetos políticos em disputa. Entre eles, três assumiram destacada importância: o conservador, o liberal e o 
republicano. Esses grupos foram protagonistas dos processos constituintes durante os mais de 200 anos de 
constitucionalismo latino-americano, oferecendo as principais respostas para os problemas experimentados no 
continente. Segundo Gargarella (2010), suas posições divergiam, sobretudo, frente a dois ideais fundacionais 
profundamente caros à trajetória política do continente: os ideais de autonomia individual e de autogoverno 
coletivo. 
5 A partir de 1979, com eleição de Margaret Thatcher na Inglaterra, seguida por Reagan, nos Estados Unidos 
(1980) e Khol, na Alemanha (1982), as políticas neoliberais ganharam força. Nesse período, governos de perfil 
conservador assumiram o poder em praticamente todos os países da Europa e levaram a cabo esse novo pacote de 
ajustes econômicos. 
6 “El levantamiento zapatista en México del 1 de enero de 1994, fecha de entra del Tratado de Libre Comercio de 
América del Norte, marcó un hito en las resistencias populares a políticas vigentes” (PISARELLO, 2009, p. 6). 
Ver, por exemplo, CEDOZ, Centro de Documentación sobre Zapatismo. http://www.cedoz.org. 
7 Um dos casos mais paradigmáticos desse período é o da Argentina, no ano de 2001, com a destituição de três 
presidentes democraticamente eleitos, frutos de intenso processo de mobilização social, diante de um cenário de 
crise econômica, social e de representação sem precedentes. “El gobierno de Alfonsín, Menem y De la Rúa 
generaron una profunda crisis del propio régimen democrático. La asociación de la democracia al 
conservadorismo liberal y a los malos resultados que esto generó puso en riesgo a supervivencia de la propia 
sociedad y de la política argentina” (SILVEIRA, 2013, p. 15). 
8 “Giro a la izquierda” é a expressão para designar a chegada, pela via eleitoral, de governos que podem ser 
classificados como populares ou de esquerda na América Latina, durante o século XXI. São exemplos, Hugo 
Chávez (Venezuela, 1998), Lula (Brasil, 2002), Nestor Kirchner (Argentina, 2003), Tabaré Vázquez (Uruguai, 
2004), Michelle Bachelet (Chile, 2006), Rafael Correa (Equador, 2006) e Alan García (Peru,2006). 
http://www.cedoz.org/
setores mais pobres e da classe média, e por uma alta heterogeneidade da agenda programática 
y da composição organizativa e histórica dos partidos que chegaram ao poder nesse período 
(RAMÍREZ GALLEGOS, 2006). Assim, “junto com a ampliação da democracia ou sua 
restauração, houve também um processo de redefinição de seu significado cultural ou da 
gramática social vigente” (SANTOS; AVRITZER, 2010). 
A resistência oferecida pelos movimentos sociais, como os movimentos indígenas, de 
mulheres, de direitos humanos, de ecologistas, entre outros, às ditaduras militares, às políticas 
neoliberais e aos regimes democráticos excludentes produziram, e vem produzindo, 
importantes avanços em termos de igualdade para o constitucionalismo da região 
(PISARELLO, 2009). Esses movimentos protagonizaram um importante processo de mudanças 
políticas, no qual a população passou a exigir do Estado o cumprimento de um papel mais forte 
frente à economia e a recuperação dos antigos direitos sociais ora esvaziados e a sanção de 
novos direitos, individuais e coletivos, incluindo os da natureza, que refletem novas concepções 
de direitos e aspirações de boa vida, desde diversas tradições culturais. Povos e comunidades 
tradicionais demandam ser reconhecidos não só como culturas diversas, mas como nações, 
nações originárias, isto é, sujeitos políticos coletivos, com direitos e garantias específicas. 
Conforme argumentam Nogueira e Dantas (2012), reformas constitucionais nos 
Estados Latino-Americanos tornaram-se necessárias a partir dos conflitos sociais criados, 
especialmente por instituições modernas, desde o período colonial e ao longo de toda a história 
do continente. Essas mudanças e o adensamento dos conflitos sociais foram importantes para 
as transformações constitucionais e políticas experimentadas desde o fim do século passado. 
De modo distintivo, casos como o da Colômbia (1990-1991), Venezuela (1999), Equador 
(2007-2008) e Bolívia (2006-2009), foram precedidos por crises estruturais especialmente 
profundas e logo levaram a mudanças constitucionais ainda mais inovadoras e radicais. 
O Novo Constitucionalismo Latino-Americano, paradigma constitucional surgido a 
partir dos processos de reforma das constituições da Colômbia, Bolívia, Equador e Venezuela, 
tem como principais características a ativação direta do poder constituinte pelo povo, a 
ampliação de mecanismos de participação e controle popular do Estado, uma extensa carta de 
direitos e garantias, a integração de setores sociais historicamente marginalizados, 
especialmente os povos indígenas, o controle concentrado de constitucionalidade e a forte 
normatividade constitucional, bem como a definição de um papel mais ativo do Estado na 
economia, associado ao maior compromisso com a integração regional. 
Em Gargarella e Courtis (2009) podemos ver que, em geral, as constituições nascem 
em momentos de crise, tendo como objetivo resolver essa situação, ou “drama político-social 
fundamental”. Para eles, diferentemente das constituições ditadas a partir dos anos 80 na região, 
que classificamos como neoconstitucionais, que se dirigiram a combater a instabilidade política 
a partir da limitação do poder presidencial, uma das principais perguntas que as novas 
constituições, especialmente as cartas da Bolívia e Equador, vieram a responder é como 
solucionar o problema da “marginalização político-social dos grupos indígenas”9. Viciano 
Pastor e Matínez Dalmau (2011) demarcam os elementos formais e materiais comuns ao Novo 
Constitucionalismo Latino-Americano10. Entre os elementos formais estão: 
 
su contenido innovador (originalidad), la ya relevante extensión del 
articulado (amplitud), la capacidad de conjugar elementos técnicamente 
complejos con un lenguaje asequible (complejidad), y el hecho de que se 
apuesta por la activación del poder constituyente del pueblo ante cualquier 
cambio constitucional (rigidez). (VICIANO PASTOR, MATÍNEZ 
DALMAU, 2011, p. 15) 
 
Já entre os elementos materiais estão (a) o estabelecimento de mecanismos de 
legitimidade e controle sobre o poder constituído, por meio da ampliação de mecanismos de 
participação popular; (b) a extensa carta de direitos; (c) inclusão de setores historicamente 
marginalizados, como os povos indígenas; (d) o controle concentrado de constitucionalidade; e 
(e) a definição de um papel ativo do Estado na economia, traduzido em amplos capítulos 
econômicos nas constituições (VICIANO PASTOR, MATÍNEZ DALMAU, 2011). 
Em relação ao primeiro deles, uma das principais apostas do Novo Constitucionalismo 
está na redefinição das relações entre soberania e governo, que se estendem para além do 
processo constituinte. Em efeito, as novas constituições latino-americanas introduziram uma 
série de mecanismos de participação popular e controle social do poder, reconhecendo formas 
mais diretas de democracia, atento às camadas mais postergadas e excluídas da população. O 
novo paradigma constitucional também é marcado pela presença de uma extensa declaração de 
direitos, entre os quais estão os de proteção ao meio ambiente, cultura, saúde, educação, 
alimentação, moradia e trabalho. Boa parte deles destinam-se explicitamente aos setores 
historicamente marginalizados, como é o caso dos povos indígenas. 
Outra dimensão que pode ser destacada por esses novos textos é o controle 
concentrado de constitucionalidade. Nas palavras de Viciano Pastor e Matínez Dalmau (2011, 
 
9 Para os autores, essas constituições também serviram para a reeleição daqueles que as promoveram, algo que 
será muito importante para o que discutiremos mais adiante. 
10 Conforme demonstramos anteriormente, para os autores, o primeiro elemento comum a este paradigma 
constitucional é a natureza das assembleias constituintes, bastante democráticas, assumindo a necessidade de 
legitimar amplamente um processo constituinte revolucionário (VICIANO PASTOR, MATÍNEZ DALMAU, 
2011). 
p. 25), “las nuevas constituciones huyen del nominalismo anterior y proclaman el carácter 
normativo y superior de la Constitución frente al resto del ordenamiento jurídico”. Por fim, o 
modelo econômico dessas constituições privilegia um modo solidário e soberano, baseado em 
uma relação harmoniosa com a natureza (ACOSTA, 2009; SANTOS, 2010). A preocupação 
com os setores sociais mais vulneráveis pode ser percebida em amplos capítulos econômicos, 
que demarcam uma orientação para a superação de desigualdades e de defender 
constitucionalmente o papel do Estado na economia. “Ello no niega que la economía capitalista 
sea acogida en la Constitución, pero impide (y ya bastante) que las relaciones capitalistas 
globales determinen la lógica, la dirección y el ritmo del desarrollo nacional” (SANTOS, 2010, 
p. 83). Essa característica do Novo Constitucionalismo está relacionada, ademais, a uma outra 
dimensão desse paradigma, referente à integração regional. 
De forma mais avançada, as constituições da Bolívia e do Equador têm como grande 
marco o protagonismo indígena e o giro descolonizador e plurinacional do Estado. Conforme 
afirma Brandão (2015, p. 40), “tornar visível o que era invisível, entender a lógica dos povos 
ancestrais e positivar na Constituição seus conhecimentos, essa, sem dúvida, parece-nos a maior 
contribuição desse novo movimento político e constitucional surgido em nuestra America”. A 
composição do Estado Plurinacional é tratada por diversos autores como o elemento mais 
importante do Novo Constitucionalismo Latino-Americano, apresentando rupturas e potenciais 
emancipatórios refundantes para o contexto da região. Para analisar melhor os significados 
dessa nova institucionalidade, a próxima seção discute o conceito de Estado Plurinacional, 
destacando seu papel e importância nas lutas decoloniais latino-americanas e sua imbricação 
com um novo e ampliado modelo dedemocracia. 
DO ESTADO MODERNO AO ESTADO PLURINACIONAL 
O Estado Moderno possui um largo debate conceitual, especialmente no campo teórico 
do Direito, da Sociologia e da Ciência Política. O nosso objetivo aqui é apenas confrontar o 
núcleo duro desse conceito com a concepção do Estado Plurinacional, dando ênfase aos 
aspectos que o diferenciam do primeiro. Em sua origem e essência, a noção de Estado Moderno 
passa pela ideia da conquista, da força e do poder, podendo ser caracterizado como uma 
“instituição social, que um grupo vitorioso impôs a um grupo vencido, com o único fim de 
organizar o domínio do primeiro sobre o segundo e resguardar-se contra rebeliões intestinas e 
agressões estrangeiras” (OPPENHEIMER, 1954 apud BONAVIDES, 2000, p. 76). Essa mesma 
perspectiva será utilizada por Max Weber para demonstrar como o Estado racionalizou e 
legitimou o emprego da violência, podendo ser caracterizado, então, pelo monopólio da 
violência física legítima. 
Tal origem reverbera nos elementos que se tornaram constitutivos do Estado, que 
acabou por não se desvincular da teoria de Oppenheimer. Dallari (1998), por exemplo, 
demonstra que, apesar da diversidade de opiniões em relação aos elementos característicos do 
Estado Moderno, a maioria dos autores parece convergir quanto à centralidade de dois 
elementos materiais: o território e o povo. Em geral, os teóricos incluem um terceiro elemento, 
com maior variabilidade entre as diferentes concepções de Estado, das quais prevalece sua 
identificação com o poder ou alguma de suas expressões, tais como a soberania, o governo ou 
a autoridade. Duguit (1901 apud BONAVIDES, 2000, p. 76) destaca esses dois elementos 
principais como de ordem material, em que o elemento humano, ou o povo, se apresenta em 
termos demográficos (população), jurídicos (povo) e culturais (nação), e o elemento território 
pode ser compreendido como o espaço em que o referido grupo humano encontra-se fixado. De 
ordem formal, por sua vez, Duguit considera o poder político, que, de acordo com o autor, surge 
do domínio dos mais fortes sobre os mais fracos. 
Nessas definições, contudo, pode-se desvelar os aspectos mais perversos do Estado 
Moderno. Conforme nos demonstra Magalhães (2002), o conceito de povo é dotado de uma 
forte carga emocional, que surge, dentro desse modelo de Estado, com a criação do sentimento 
de pertinência. Entretanto, esse sentimento, que releva a própria ideia de nação, é formado por 
aspectos históricos, étnicos, psicológicos e sociológicos, de cunho eminentemente político. Em 
geral, a aceitação de um modelo de Estado-nação foi feita, historicamente, por cima dos 
próprios sentimentos nacionais preexistentes, como se pode verificar apenas em casos como o 
da Espanha, Reino Unido, Bélgica, e a antiga Iugoslávia. Por isso, Magalhães (2002, p. 55) 
argumenta que “o sentimento de pertinência a um estado nacional é uma criação histórica para 
a formação de um Estado unificado”. Para o autor, os Estados-nações se formaram a partir do 
encobrimento de nacionalidades já existentes, por meio de um processo de criação artificial (ou 
de imposição) do sentimento de pertinência a novos valores “compartilhados” pelo povo que 
faz parte do território. A formação do Estado Moderno, nesse sentido, é fruto de um contrato 
desigual entre as nações. 
Conforme argumenta Boaventura de Sousa Santos (2010), 
 
el Estado moderno ha pasado por distintos órdenes constitucionales: Estado 
liberal, Estado social de derecho, Estado colonial o de ocupación, Estado 
soviético, Estado nazi-fascista, Estado burocrático-autoritario, Estado 
desarrollista, Estado de Apartheid, Estado secular, Estado religioso y, el más 
reciente (quizá también el más viejo), Estado de mercado. Lo que es común a 
todos ellos es una concepción monolítica y centralizadora del poder del 
Estado; la creación y control de fronteras; la distinción entre nacionales y 
extranjeros y, a veces, entre diferentes categorías de nacionales; la 
universalidad de las leyes a pesar de las exclusiones, discriminaciones y 
excepciones que ellas mismas sancionan; una cultura, una etnia, una religión 
o una región privilegiadas; organización burocrática del Estado y de sus 
relaciones con las masas de ciudadanos; división entre los tres poderes de 
soberanía con asimetrías entre ellos, tanto originarias (los tribunales no 
tienen medios para hacer ejecutar sus propias decisiones) como contingentes 
(la supremacía del Ejecutivo en tiempos recientes); aun cuando en la práctica 
el Estado no tiene el monopolio de la violencia, su violencia es de un rango 
superior una vez que puede usar contra “enemigos internos” las mismas 
armas diseñadas para combatir a los “enemigos externos”. (SANTOS, 2010, 
p. 69) 
 
Na América Latina, como sabemos, os Estados Modernos, nacionais, foram criados 
por uma lógica ainda mais perversa, a partir dos processos de invasão, luta e dominação dos 
povos originários de Abya Ayala. Os Estados-nações latino-americanos se formaram a partir 
das lutas pela independência no decorrer do século XIX, construídos para uma parcela 
minoritária da população. Boaventura de Sousa Santos (2010, p. 60) afirma, ainda, que o 
processo formativo da região se deu “por medios tan diversos como el genocidio, la 
evangelización, la tutela estatal de los “menores” indígenas, el asimilacionismo y el mito de 
la democracia racial”. Dessa forma, os povos originários, assim como os imigrantes forçados 
africanos, escravizados, foram radicalmente excluídos de qualquer ideia de nacionalidade 
(MAGALHÃES, 2002), ou, pelo menos, de suas próprias nacionalidades. A lógica excludente 
e integralista foi predominante. “O direito não era para essas maiorias, a [nova] nacionalidade 
não era para essas pessoas” (MAGALHÃES, 2002, p. 22). 
Essa perspectiva, marcada “por un largo proceso de hegemonización, está encarnada 
en las normas, instituciones y prácticas del Estado, hasta ahora organizado como un Estado 
uninacional y monocultural” (TRUJILLO, 2013, p. 306). Atualmente, um dos grandes entraves 
e desafios para a região, e, especialmente, para aqueles que defendem um projeto de Estado e 
um projeto constitucional mais igualitário, é o de lidar com as instituições criadas sob essa 
lógica (GARGARELLA, 2010), fortemente arraigadas no arcabouço jurídico latino-americano, 
comprometidas com a reprodução de uma ordem desigual e excludente. Conforme demonstra 
Yrigoyen Fajardo (2005), 
 
la juridicidad republicana que emerge de los procesos de Independencia en 
el s. XIX en Latinoamérica es una juridicidad de y para los criollos, esto es, 
en función de los intereses de los descendientes de los conquistadores y 
encomenderos. En este sentido, la nueva institucionalidad jurídica no sólo 
excluye la participación de los pueblos indígenas, sino que busca completar 
la obra de la Conquista, esto es, la sujeción indígena, y sin el freno que la 
Corona había impuesto a los encomenderos (YRIGOYEN FAJARDO, 2005, 
p. 93). 
 
Fundamental aqui remarcar que o modelo constitucional prevalecente em toda a história 
da América Latina, o modelo liberal-conservador, esteve fundamentado na negação de um 
compromisso igualitário, em que apenas uma pequena elite da sociedade tinha acesso aos 
direitos políticos. Para Gargarella (2010, p. 110), “la reparación de ese quiebre crucial de la 
igualdad, requiere de una reflexión nueva sobre el tipo de diseño institucional que se quiere, y 
sobre los fundamentos últimos del mismo”. 
A concepção de Estado como plurinacional, levada a cabo na região pelas experiências 
constitucionais recentes do Equador e da Bolívia, pretende contribuir substancialmente para a 
superação das bases uniformizadoras e excludentes do modelo nacional e moderno de Estado. 
Para Magalhães (2010), a grande revolução do Estado Plurinacional está na possibilidade de 
rompimento com as bases teóricas e sociais do Estado nacional constitucionale democrático 
representativo, tradicionalmente excludente daqueles grupos que não se encaixam nos valores 
e culturas dominantes, inclusive determinados nas próprias constituições nacionais em termos 
de direitos. Esse rompimento, segundo ao autor, está associado ao reconhecimento da 
democracia participativa como base da democracia representativa, de modo a garantir a 
coexistência de distintas formas de vida e manifestações de valores dos diversos grupos sociais. 
O reconhecimento de um país como multicultural e pluriétnico não faz dele um Estado 
Plurinacional, visto que, apenas expressar no texto constitucional a existência de diferentes 
etnias, línguas e costumes culturais não é o suficiente para que exista um concreto 
reconhecimento das nações originárias como parte efetiva do Estado. As Constituições do 
Equador (2008) e da Bolívia (2009), nesse sentido, propõem “uma refundação do Estado a partir 
do reconhecimento explícito das raízes milenárias dos povos indígenas”, não apenas como 
“culturas diversas”, mas como “nações originárias” ou nacionalidades com autodeterminação 
ou livre determinação (YRIGOYEN FAJARDO, 2011, p. 149, tradução nossa). Essas cartas se 
inserem no que a autora chama de terceiro ciclo de reformas constitucionais dentro do horizonte 
pluralista, que se dá no contexto de aprovação da Declaração das Nações Unidas sobre os 
Direitos dos Povos Indígenas, entre 2006 e 2007, redefinindo a forma de reconhecimento das 
populações indígenas e originárias nestes países e garantindo sua autodeterminação. 
 
Las Constituciones de Ecuador y Bolivia se proponen una refundación del 
Estado a partir del reconocimiento explícito de las raíces milenarias de los 
pueblos indígenas ignorados en la primera fundación republicana, y por ende 
se plantean el reto histórico de poner fin al colonialismo. Los pueblos 
indígenas son reconocidos no sólo como “culturas diversas” sino como 
naciones originarias o nacionalidades con autodeterminación o libre 
determinación. Esto es, sujetos políticos colectivos con derecho a definir su 
destino, gobernarse en autonomías y participar en los nuevos pactos de 
Estado, que de este modo se configura como un “Estado plurinacional”. Al 
definirse como un Estado plurinacional, resultado de un pacto entre pueblos, 
no es un Estado ajeno el que “reconoce” derechos a los indígenas, sino que 
los colectivos indígenas mismos se yerguen como sujetos constituyentes y, 
como tales y junto con otros pueblos, tienen poder de definir el nuevo modelo 
de Estado y las relaciones entre los pueblos que lo conforman. (YRIGOYEN 
FAJARDO, 2011, p. 149) 
 
Neste sentido, o constitucionalismo plurinacional não se restringe a prover direitos 
consagrados em acordos11 internacionais, vai além e incorpora a perspectiva indígena nos novos 
direitos sociais e políticos, afirma o princípio do pluralismo jurídico e reconhece “o direito dos 
povos indígenas ou originários à autodeterminação (Equador) ou livre determinação dos povos 
(Bolívia)” (YRIGOYEN FAJARDO, pp. 149-150, tradução nossa). 
Para Boaventura de Sousa Santos (2010) a plurinacionalidade envolve o 
reconhecimento de um conceito de nação diferente daquele do Estado Moderno, que a 
compreendia como um conjunto de habitantes localizados em um certo espaço geopolítico, para 
a ideia de nação enquanto pertencimento comum a uma etnia, cultura ou religião. Por esse 
motivo é que o autor ressalta que esse processo de refundação do Estado é, sobretudo, uma 
demanda civilizatória, que exige um diálogo intercultural entre diferentes nações, e, dessa 
forma, etnias, culturas e religiões. Segundo Boaventura, “para que tenga lugar este diálogo 
intercultural es necesaria la convergencia mínima de voluntades políticas muy diferentes e 
históricamente formadas más por el choque cultural que por el diálogo cultural, más por el 
desconocimiento del otro que por su reconocimiento” (SANTOS, 2010, p. 70). 
Face ao exposto, ressaltamos a definição de plurinacionalidade apresentada pelo 
sociólogo e atual vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera (apud SCHAVELZON, 
2012, p. 137): “es la igualdad de derechos de pueblos, de culturas en nuestro país. No es nada 
más que eso. Todo en el marco de una sola identidad nacional [...]. Somos una nación de 
naciones”. Essa definição vai ao encontro do que Santos (2007, pp. 31-35) estabelece como 
conceito de nação comunitária, que é desenvolvido pelos povos indígenas, abrangendo a 
autodeterminação e combinando diferentes conceitos de nação dentro de um mesmo Estado, o 
que se contrapõe ao conceito apresentado de Estado Nação (uma nação, um Estado) e 
consolidando um constitucionalismo intercultural, plurinacional e pluricultural. 
Para finalizar nosso recorrido sobre a definição do Estado Plurinacional em 
contraposição ao Estado Moderno, apresentamos os elementos que Oscar Vega Camacho 
(2010) apresenta como fundamentais do conceito de Estado Plurinacional. O primeiro deles 
 
11 Das quais merecem destaque o Convênio 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Declaração das 
Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas; de 2007. 
seria o caráter coletivo da construção da proposta de um Estado Plurinacional, que chama a 
atenção para os processos de mobilização e ação coletiva protagonizados pelos movimentos 
sociais e povos indígenas como fatores explicativos chave para a consolidação desse novo 
projeto. Um segundo elemento é a centralizadas das lutas pela descolonização do Estado, 
entendendo a situação atual desses povos como resultado de um processo de dominação e 
exclusão que não foi finalizado quando do fim da colonização política da América Latina, “sino 
su persistente y eficaz refuncionalización a través del tiempo histórico y su actualización 
permanente en los poderes constituidos estatales, pero también en las denominadas esferas 
civiles de la sociedad y en los ámbitos privados” (CAMACHO, 2010, p. 111). 
O terceiro elemento de Camacho (2010) é a redefinição do âmbito público, em uma 
contraposição à separação típica entre público e privado, dotando uma visão política sobre o 
âmbito “não estatal”, notadamente o comunitário. A relação entre o Estado e a sociedade 
aparece, para o autor, como o quarto elemento do Estado Plurinacional, tendo em vista a 
necessidade iminente de superação das desigualdades estruturais causadas pelo modelo 
moderno de institucionalidade. Por fim, está o quinto elemento, que é a construção de um 
modelo alternativo de Estado, com uma nova institucionalidade, “que sea descolonizador en 
una sociedad racista, anti-imperialista, cuando estamos subsumidos en potentes dependencias 
geopolíticas, económico-culturales y anti-capitalistas, persistiendo en las lógicas del desarrollo 
del capital” (CAMACHO, 2010, p. 113). 
Por fim, cabe chamar atenção a outros dois aspectos. Como sexto elemento, Camacho 
(2010) destaca a distinção entre governo e Estado, o que, quando não realizada, acaba por 
silenciar um campo de lutas que faz parte não só do governo, mas do Estado, invisibilizando o 
papel da cidadania na sustentação e legitimidade dos poderes instituídos. O último elemento, 
por sua vez, apresenta a forma comunitaria “y su rol en el desempeño de las nuevas estructuras 
del Estado, en las formas de gobiernos territoriales y en el modelo económico” (CAMACHO, 
2010, p. 114). 
A construção de um Estado Plurinacional implica, portanto, em reformar as relações 
entre o Estado e a sociedade. Para Luis Tapia (2010, p. 136), as novas estruturas estatais devem 
tratar de se articular com estruturas sociais “provenientes de diferentes matrices de sociedad, 
además de poblaciones que se han socializado o formado en diferentes conjuntos de relaciones 
sociales, cosmovisiones, lenguas y también bajo diferentes estructuras de autoridade”. Coloca-
se em questão, nesse sentido, a própria condição estatale a possibilidade de se pensar uma 
estrutura distinta daquela existente, herdada de fora, que perdurou durante tantos séculos em 
nossa região segundo uma lógica de exclusão, de eliminação e invisibilidade. 
O ESTADO PLURINACIONAL NA BOLÍVIA E NO EQUADOR 
Nesta seção buscamos diferenciar, em seu cerne, as matrizes em que se fundam os 
modelos de Estado Moderno, ou Estado-nação, e o Estado Plurinacional. Tal mudança está 
fundamentada sob uma nova forma de olhar para a população existente no território e entende-
la como diversa, como formada por nações distintas e que merecem ser respeitadas nas suas 
diferenças, segundo seus próprios olhares e práticas, o que destaca a necessidade de um novo 
pacto com o Estado, uma nova forma de organização dessa institucionalidade. Para tanto, as 
dificuldades e as possibilidades são diversas. 
As recentes transformações constitucionais observadas na Bolívia e no Equador foram 
fruto de processos de mobilizações intensas, de batalhas políticas não isentas de violência, que 
perdurou durante anos de resistência e reclamos sociais na América Latina. Os processos de 
refundação do Estado não começaram com a eleição dos atuais presidentes desses países, Evo 
Morales e Rafael Correa, e, certamente, não terminaram com a promulgação das constituições 
equatoriana, em 2008 e boliviana, em 2009. Esses acontecimentos fazem parte de um processo 
histórico, amplo e complexo, que envolve resistências, mobilizações e também adaptações dos 
povos originários, que infelizmente, não serão o foco de análise deste artigo. Contudo, cabe 
ressaltar que os processos de constituição do Estado Plurinacional desenvolvidos até aqui “son 
de carácter irreversible en los imaginarios colectivos de la sociedad, por lo cual generan 
diversos y, sobre todo, antagónicos posicionamientos que a final de cuentas develan las 
perspectivas asumidas y los horizontes trazados” (CAMACHO, 2010, p. 112). 
Nas linhas que se seguem, procuramos apresentar como o conceito de Estado 
Plurinacional se materializou nas constituições da Bolívia e do Equador e se estabeleceu 
segundo uma nova institucionalidade. Segundo nosso entendimento, o desenho de Estado 
expresso nessas duas cartas magnas pode ser sintetizado em quatro eixos, que congregam as 
principais inovações institucionais apresentadas por esses Estados: (a) reconhecimento de 
direitos próprios e da cosmovisão dos povos originários; (b) reconhecimento da autonomia 
territorial e formas de organização desses espaços; (c) ampliação dos espaços de participação e 
representação política no estado; e (d) pluralização do sistema de justiça. 
Reconhecimento de direitos próprios e da cosmovisão dos povos originários: Tanto 
o Equador como a Bolívia apresentam em suas novas constituições um extenso rol de direitos, 
consagrados nos princípios do buen vivir (Sumak Kawsay ou Suma Qamaña) e nos direitos da 
natureza (segundo a cosmovisão andina de Pachamama12). Conforme demonstra Pedro 
 
12 Divindade indígena que representa a Madre Tierra. 
Brandão (2015, p. 150), a positivação do Sumak Kawsay possui um duplo objetivo: “no campo 
simbólico, dá destaque à visão de mundo daqueles que foram marginalizados e excluídos; no 
plano econômico, aponta os equívocos do desenvolvimentismo, a partir da realidade 
periférica”. 
A positivação do buen vivir deve ser entendida não apenas como um fim em si mesmo, 
mas como um princípio sólido, que se desdobra ao longo dessas constituições em seus diversos 
dispositivos e direitos, tendo uma função irradiante e transversal (BRANDÃO, 2015). Dessa 
forma, as constituições boliviana e equatoriana consagram os direitos à água e à segurança 
alimentar; articulam modelos de economia solidária e comunitária, inclusive, com limitação ao 
latifúndio e à dupla titulação de terra, reconhecem diferentes idiomas como oficiais e 
estabelecem modelos de educação intercultural e proteção à diversidade cultural. Além disso, 
declaram de interesse público os recursos naturais que fazem parte do Estado, garantindo 
direitos próprios à Pachamama e às formas de produção que preservem o Sumak Kawsay. 
Reconhecimento da autonomia territorial e formas de organização desses espaços: 
Sem dúvida, a democracia comunitária contempla os mais avançados mecanismos proclamados 
nas atuais constituições equatoriana de 2008 e boliviana de 2009. Sua existência planteia a 
viabilidade de uma verdadeira democracia intercultural, nos termos de Boaventura de Sousa 
Santos (2010), a partir da coexistência de diferentes formas de deliberação pública e critérios 
de representação democrática, bem como o reconhecimento de direitos coletivos aos povos e 
novos direitos fundamentais. De qualquer forma, para além das suas contradições e limites, 
conforme argumenta o autor, 
 
los diferentes derechos colectivos permiten resolver o atenuar injusticias 
estructurales o injusticias históricas y fundamentan acciones afirmativas 
necesarias para libertar comunidades o pueblos de la sistemática opresión o 
para garantizar la sustentabilidade de comunidades colectivamente 
inseguras. (SANTOS, 2010, p.101) 
 
Ao proclamar-se como plurinacional, a Bolívia e o Equador carregam consigo a ideia 
de autodeterminação e autogoverno, devendo garantir os direitos coletivos aos grupos 
minoritários, sobretudo ao reconhecimento, persistência de identidade cultural e a não 
discriminação. Em suas constituições, proclama-se aos povos originários, indígenas, 
campesino, afrodescendentes e montubios o direito de formarem circunscrições territoriais para 
defesa de sua cultura, sua autonomia, o reconhecimento de suas instituições e a consolidação 
de suas identidades territoriais. Além disso, é reconhecido seu direito a conservar a propriedade 
de suas terras comunitárias, em ambos os países tidas como inalienáveis, irrevogáveis e 
indivisíveis. 
As cartas magnas defendem o direito dessas nações e comunidades de desenvolver suas 
próprias formas de convivência e organização social, inclusive de geração e exercício de 
autoridade, construindo e mantendo organizações que os representem, participar, mediantes 
seus representantes, de organismos oficiais, na definição de políticas públicas que lhes afetem, 
bem como no desenho e decisão de prioridades nos planos e projetos do Estado. Por fim, 
garante-se o direito de que eles sejam consultados antes da adoção de uma medida legislativa 
que possa afetar qualquer direito coletivo. 
Ampliação dos espaços de participação e representação política no Estado: Em 
ambos os países, o direito à participação política assume centralidade no ordenamento 
constitucional, exercida por meio de todos os órgãos do poder político e de formas de 
participação direta. Para o Boaventura de Sousa Santos (2010), o reconhecimento da 
plurinacionalidade está associado à noção de autogoverno e autodeterminação, o que implica o 
fim da homogeneidade do Estado e a adoção desse princípio pelas próprias instituições públicas, 
como o Parlamento e a Corte Constitucional, que assumem papel de grande importância nesse 
contexto. A participação é concebida com um direito e deverá ser considerada fortemente para 
a tomada de decisões, planejamento e gestão pública. O povo assume, então, importante papel 
no controle do Estado, garantindo maior legitimidade às ações do governo. 
Em respeito ao modelo de organização política particular de cada um desses grupos, 
também são consagrados os direitos à construção e manutenção de organizações 
representativas, participação, mediante seus representantes, em organismos oficiais na 
definição de políticas públicas afetas a eles, bem como no desenho e decisão de suas prioridades 
nos planos e projetos do Estado. Também passa a ser constitucional a obrigação de consultá-
los antes da adoção de qualquer medida legislativa que possa afetar seus direitos coletivos. A 
participação política possui,ademais, um importante papel para a consolidação desse projeto 
de país e dessa nova institucionalidade. “É através dela que aqueles deixados à margem poderão 
ser incluídos dentro do processo democrático, colaborando na própria definição da comunidade 
a que estão inseridos” (PEREIRA, 2007, p. 11). 
Para controlar seus representantes, as constituições estipulam, ainda, dois mecanismos 
básicos: a ampliação do acesso às informações públicas e a revocatória de mandatos. Ambos 
correspondem a ações de accountability, que promovem maior responsividade do mandato em 
relação aos eleitores. Por fim, e não menos importante, estabelece novas formas de 
representação, autônoma em seus próprios territórios, e por meio de organizações sociais, e não 
só partidos, nos órgãos oficiais do Estado. Entre as grandes inovações institucionais 
apresentadas pela Constituição do Equador de 2008, merece destaque, ainda, a redefinição do 
conjunto de funções do Estado, instituindo, para além da Executiva, Legislativa e Judiciária, a 
Função Eleitoral e a Função de Transparência e Controle Social e a Função Eleitoral, sendo que 
essa última propõe um novo status e locus para a participação, passando agora a atuar de dentro 
do próprio aparelho do Estado. 
Pluralização do Sistema de Justiça: o fundamento do pluralismo jurídico nas 
constituições da Bolívia e do Equador está assentado sobre o reconhecimento do direito dos 
povos indígenas e originários à autodeterminação, no Equador, e à livre determinação dos 
povos, na Bolívia (YRIGOYEN FAJARDO, 2015). As constituições desses países reconhecem 
a legitimidade das decisões tomadas pelas autoridades indígenas, que devem ser respeitas pela 
Justiça ordinária (GRIJALVA JIMÉNEZ, 2013). Dessa forma, é garantida a essas comunidades 
aplicar suas próprias normas, construídas sobre suas próprias cosmovisões, a partir de suas 
próprias autoridades, inclusive ancestrais. 
Conforme ressalta Brandão (2015), 
 
é claro que não existe apenas um sistema de Justiça indígena, mas sistema(s) 
de Justiça(s) Indígena(s), tendo em vista que não há necessariamente 
uniformidade ou homogeneidade em seus procedimentos e sanções, que 
ocorrem sempre de acordo com tradições e costumes específicos. Seria um 
erro “moderno” entender que as diferentes comunidades indígenas dispõem 
de apenas um modelo de Justiça indígena (BRANDÃO, 2015, p. 196). 
CONCLUSÃO 
A refundação do Estado sob as bases de uma composição Plurinacional, em 
contraposição à visão moderna uninacional, representa hoje um dos estágios mais avançados 
de lutas políticas pela descolonização. “Porque son las luchas y memorias de la acción colectiva 
de los movimientos sociales las que produjeron esta oportunidad y posibilitaron este reto, [...]; 
es desde esta perspectiva que se debe trabajar y orientar el llamado a refundar el país y 
transformar el Estado” (CAMACHO, 2010, p. 111). Nesse cenário, o grande desafio é 
estabelecer um desenho institucional que seja capaz de dotar os povos originários, juntamente 
com o restante da população, como protagonistas do processo político, sem que isso acabe por 
restringir ou limitar suas formas de vida e de organização. 
Em nosso trabalho, reconhecemos que o modelo de Estado-nação é, per si, colonial, 
pois envolve a ideia de construção de uma nação única, mais ou menos homogeneizada, dentro 
de um determinado território de forma impositiva. Esse desafio refere-se às concepções de 
unidade do Estado, tradicionalmente forçadas pela cultura e valores ocidentais. Ao romper com 
a ideia de nação e reconhecer a coexistência de distintas nações, com seus próprios costumes e 
formas de organização, o Estado quebra suas primeiras amarras coloniais, abrindo espaço para 
um processo de descolonização. 
Em um Estado Plurinacional demanda-se, antes de mais nada, estratégias de 
reconhecimento dos povos originários, que lhes permitam se compreender como sujeitos de 
direitos, como parte do Estado, o que envolve a necessidade de reconhecer e de exumar as 
tradições coloniais do Estado. Um Estado Plurinacional precisa, portanto, lidar com o passado, 
isto é, a falta de memória é um mal para a construção de uma institucionalidade que se propõe 
decolonial. Só assim ele poderá superar os legados e os vícios de uma institucionalidade 
colonizadora. 
Conforme procuramos demonstrar aqui, as constituições do Equador e da Bolívia 
apresentam importantes inovações institucionais e principiológicas, que permitem levar adiante 
importantes processos de refundação democrática e decolonial do Estado. Essas inovações, 
contudo, não estão isentas de limites e contradições. A ideia, contudo, é a de que essas cartas 
magnas constituem um instrumento para a construção desse novo Estado, que não se concluiu 
com o término do processo constituinte, mas que segue em contínua construção. 
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