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ATIVIDADE APS UNIFAMETRO 7 SEMESTRE

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História de vida de 
 profissionais da 
saúde na pandemia
Por
Curso de Serviço Social- 7º Semestre
COTIDIANO DE CADA DIA COM O COVID-19
 (Assistente Social)
Enquanto eu assistia apenas na TV, notícias falando de um vírus de uma gripe que se espalhava pela China, e deixava milhares de pessoas doentes e até ceifando suas vidas, me dava uma tristeza por aquele país, aquelas pessoas, porém, quando se confirmou o primeiro caso no Brasil, e tiveram início as primeiras medidas de isolamento social, a ficha caiu, passaram tantas coisas na minha mente, e a primeira que me assustou foi imaginar um futuro indefinido.
Com o passar dos meses foram aumentando o número de casos e de mortes, meu medo principal era com as pessoas mais próximas a mim, minha família, minha mãe, tios, primos, noivo, amigos próximos. Na última sexta-feira do mês de abril do ano de 2020, estava eu com todos os sintomas da Covid-19, e com medo de contaminar minha mãe idosa, decidimos que era ficaria na casa de sua irmã, que morava em um interior, era isolado, a cidade ainda não tinha tanta contaminação e lá em sentir-se-ia bem ao lado da família. 
Fiquei sozinha, doente, sentindo muita falta de ar e muitas dores em todo o corpo, porém tranquila por saber que minha mãe estava segura. Os piores momentos da doença, e o fato de estar sozinha, era a noite, pois aumentavam as dores, meu corpo parecia que derretia, e muitas vezes na madrugada me faltava o ar, era difícil levantar, mas buscava o aparelho de aerossol, para aliviar a falta de ar. Posso afirmar que é uma doença horrível, nada pior do que te faltar o ar e você achar que vai morrer. Passaram-se dez dias e os sintomas estavam melhor, com 15 dias já me sentia muito bem, o olfato e o paladar estavam voltando aos poucos.
Continuei acompanhando as notícias sobre o Covid-19, e vendo como estavam sendo ceifadas muitas vidas, e agradecendo a Deus por ter superado essa doença, ao mesmo tempo reportavam também que empresas estavam sendo fechadas, desemprego aumentando, pessoas com pagamentos comprometidos, contas atrasadas, sem dinheiro até para comprar o que comer, a fome e a miséria se instalando, os governos locais buscando medidas de contenção e isolamento social, o Governo Federal, no discurso de negação e contrariando qualquer orientação cientifica. 
No dia 22 de maio de 2020, em meio ao primeiro lockdown em Fortaleza, era uma sexta-feira ensolarada, o céu estava azul e limpo, acordei cedo, cuidei dos afazeres domésticos, tomei café, e como de costume de todo dia, as 8hs da manhã liguei para falar com minha mãe que ainda estava na casa de sua irmã. Ligo a primeira vez e ninguém atende, na segunda meu primo atende, dou bom dia e pergunto pela minha mãe, ele com a voz meio trêmula me pergunta o que minha mãe tinha, eu sem saber, questionei, “como assim? O que minha mãe tinha?”, então ele me falou: “é que a titia não acordou”, não compreendi o que escutei, a ligação caiu no mesmo momento, tentei retornar, e nada, não atendia. 
Foi um desespero grande, comecei a ligar para os amigos mais próximos, no intuito de ligarem para meu primo e descobrirem o que aconteceu, minha melhor amiga conseguiu, ele afirmou que iria me ligar e contar o que aconteceu. Ela se resumiu a dizer essas informações, deixando-me ainda mais aflita. Liguei para meu noivo que na mesma hora afirmou que vinha me buscar para irmos até a casa da minha tia, minha amiga também. Poucos minutos a esposa do meu primo me liga, e conta que minha mãe não acordou, eu não queria acreditar, perdi o chão naquele momento. Me passou tantas coisas na mente, principalmente o fato de tê-la enviado para lá no intuito de protegê-la, eu senti uma dor profunda, um vazio, e ao mesmo percebendo como essa pandemia se aproximou de mim e daqueles próximos.
Chegamos na casa da minha tia, era meio-dia, ela estava abatida, eu sem reação, minha mãe estava no quarto, sem vida, não consegui vê-la daquele jeito, não conseguia lidar com a morte, a morte dela. Até aquele momento o que eu tinha perdido com a pandemia era minha liberdade, minha conexão com as pessoas, pois estava distante, meus planos, e um pouco de minha expectativa de futuro. Naquele momento ela estava me tirando a pessoa mais importante para mim. Sempre fomos nós duas, ela foi uma guerreira para me criar e educar sozinha, com muita garra, superando preconceitos por ser mãe solteira e as dificuldades de uma sociedade injusta.
Sempre fui uma pessoa forte e determinada, mas porque tinha uma pessoa que me apoiava e sempre tinha a palavra certa a me dizer. Estava desolada, e todos se mobilizando para buscar um médico para liberação do corpo, porém, em plena uma sexta-feira e em meio a uma pandemia, não tinha um médico no posto de saúde, uma burocracia e muita dificuldade impediam que conseguissem um médico para realizar a liberação do corpo e a declaração de óbito.
Foi nesse momento, eu ali na garagem, em um canto, sentada no chão, sem coragem de entrar na casa, que aquela pessoa chegou perto de mim e falou: “ânimo! Você não pode permitir que sua mãe continue ali naquele quarto! Precisa agir e tomar uma atitude!”. Senti como se uma força e uma determinação enorme tomassem conta de mim, peguei o celular e comecei a ligar para todas as pessoas que gostavam de mim, meus amigos, pessoas com as quais já trabalhei ou não, mas tinha algum vínculo de amizade construído ao longo dos anos, e essas pessoas entraram em contato com outras, tudo para me ajudar naquele momento.
Eram exatamente 16hs, quando minha prima me diz que o nome da minha mãe e o meu estavam em todos os grupos de WhatsApp da saúde do município, era impressionante, na mesma hora começaram as ligações e a solução aconteceu, quando já estava no hospital com o médico liberando a declaração de óbito e o corpo, uma ligação do secretário de saúde para saber se o problema estava solucionado.
A pandemia me levou a pessoa mais importante da minha vida, mas percebi que ela colocou no mundo uma mulher forte e determinada, assim como ela mesma foi, que independente de não tê-la mais perto de mim, levo comigo todos os seus ensinamentos e o desejo dela de ver correr atrás e conquistar meus objetivos me dar forças para continuar. Outra coisa que descobri, é que os laços de amizade verdadeiros são mais fortes que qualquer laço de sangue. Nesse momento percebi que tenho amizades maravilhosas, amigos maravilhosos e que posso contar sempre, assim como eu sempre vou estar aqui para eles.
A minha fuga, para amenizar a ausência, foi primeiramente estudar, focar na finalização de uma segunda graduação e início de uma especialização, na qual fui aprovada em primeiro lugar, depois focar no trabalho, e fazer parcerias, e me inscrevi em cursos online. 
Por fim, faltam poucos dias para completar um ano de sua partida, todo dia a saudade é imensa, assim como a dor, porém são reforços para continuar lutando e cada conquista me alegra porque sei que onde ela estiver estará orgulhosa. E hoje, continuo contando com meus amigos distantes, porém mais próximos do que nunca, e tenho certeza que a pandemia pode afastar fisicamente, mas a amizade verdadeira nada afasta.
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