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Ciências Contábeis Comunicação, Relações Sociais e Econômicas Módulo 2.1 Editorial S um ár io SISTEMA COC DE EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO Presidente Chaim Zaher Vice-Presidente Adriana Baptiston Cefali Zaher Diretoria Executiva Fernando Henrique Costa Roxo da Fonseca Rafael Gomes Perri FACULDADE INTERATIVA COC Diretor de EAD Jeferson Ferreira Fagundes Diretora Acadêmica Cláudia Regina de Brito Coordenação Pedagógica de EAD Gladis S. Linhares Toniazzo Kátia Cristina Nascimento Figueira Marina Caprio Cièncias Contábeis Coordenação do curso Andréia Marques Maciel Autores Erika Osakabe Luiz Claudio Dallier Saldanha Michele Fanini Coautores Emiliane Januário Heloisa M. dos Santos Toledo Luiz Claudio Dallier Saldanha S um ár io Apresentação da Faculdade Interativa COC ....... 11Apresentação do Módulo ...................................... 12 Sociologia geral .......................................................... 13 Unidade 1 .................................................................................. 15 Processo de ensino-aprendizagem .................................................. 15 Objetivos da aprendizagem ................................................................. 15 Você se lembra? ....................................................................................... 15 1.1 O homem é um ser social .................................................................... 16 1.2 A Sociologia é uma ciência social .......................................................... 17 1.3 Breve história da ciência ............................................................................ 18 1.4 As revoluções e as novas formas de organização social .............................. 20 1.5 O surgimento e o desenvolvimento da Sociologia .......................................... 23 1.6 O positivismo ................................................................................................... 26 1.7 Os clássicos da Sociologia ................................................................................. 29 1.8 Afinal, o que é Sociologia? .................................................................................. 37 1.9 A sociologia das organizações .............................................................................. 39 Atividades ...................................................................................................................... 43 Reflexão ......................................................................................................................... 45 Leituras recomendadas ................................................................................................... 46 Na próxima unidade ...................................................................................................... 47 Unidade 2: Desigualdade social ................................................................................. 49 Processo de ensino-aprendizagem ............................................................................... 49 Objetivos da aprendizagem ....................................................................................... 49 Você se lembra? ....................................................................................................... 49 2.1 A desigualdade social ................................................................................... 50 2.2 Estratificação social .................................................................................. 54 2.3 Desigualdade social, mercado de trabalho e pobreza no Brasil ............ 59 Atividades ................................................................................................ 69 Reflexão ................................................................................................ 74 Leituras recomendadas ..................................................................... 74 Referências ................................................................................... 75 Na próxima unidade................................................................. 76 Unidade 3: Cultura e sociedade ................................................................................... 77 Processo de ensino-aprendizagem .................................................................................. 77 Objetivos da aprendizagem ............................................................................................. 78 Você se lembra? .............................................................................................................. 78 3.1 O que é cultura? ....................................................................................................... 79 3.2 Cultura popular e cultura erudita ............................................................................ 87 3.3 Cultura e cidadania ................................................................................................. 90 3.4 Indústria cultural ..................................................................................................... 91 Atividades ....................................................................................................................... 99 Reflexão ........................................................................................................................ 101 Leituras recomendadas .................................................................................................. 103 Na próxima unidade ...................................................................................................... 104 Unidade 4: Globalização: questões contemporâneas ............................................... 105 Processo de ensino-aprendizagem ................................................................................ 105 Objetivos da aprendizagem ........................................................................................... 105 Você se lembra? ............................................................................................................ 105 4.1 Introdução .............................................................................................................. 106 4.2 A tese da ocidentalização do mundo ...................................................................... 110 4.3 Os paradoxos e os limites da globalização ............................................................ 114 Atividades ..................................................................................................................... 126 Reflexão ........................................................................................................................ 130 Leituras recomendadas .................................................................................................. 131 Referências .................................................................................................................... 131 Na próxima unidade ...................................................................................................... 132 Unidade 5: Trabalho e relações de produção Processo de ensino-aprendizagem ...... 133 Objetivos da aprendizagem ........................................................................................... 133 Você se lembra? ............................................................................................................ 133 5.1 Os significados do trabalho ao longo da história ................................................... 134 5.2 O que é trabalho? ................................................................................................... 140 5.3 A jornada de trabalho ............................................................................................. 144 5.4 Desemprego e precarização do trabalho ................................................................ 147 5.5 Responsabilidade social das empresas ................................................................... 153 Atividades .....................................................................................................................162 Reflexão ........................................................................................................................ 163 Leituras recomendadas .................................................................................................. 163 Português instrumental .................................................................................. 165 Unidade 1: Reflexões sobre alinguagem .................................................................... 167 Objetivos da sua aprendizagem .................................................................................... 167 Você se lembra? ............................................................................................................ 167 1.1 Introdução .............................................................................................................. 168 1.2 Por que aprender língua portuguesa? ..................................................................... 169 1.3 Linguagem e língua ................................................................................................ 171 1.4 Origem da linguagem ............................................................................................. 173 1.5 Origem da escrita ................................................................................................... 176 Reflexão ........................................................................................................................ 178 Leituras recomendadas .................................................................................................. 178 Referências bibliográficas ............................................................................................. 179 Na próxima unidade ...................................................................................................... 179 Unidade 2: Concepções sobre linguagem e comunicação ........................................ 181 Objetivos da sua aprendizagem .................................................................................... 181 Você se lembra? ............................................................................................................ 181 2.1 Algumas observações preliminares ........................................................................ 182 2.2 Linguagem como expressão do pensamento .......................................................... 182 2.3 Linguagem como instrumento de comunicação .................................................... 183 2.4 Linguagem como lugar ou experiência de interação humana ................................ 184 2.5 Níveis de linguagem .............................................................................................. 186 2.6 Teoria da comunicação ........................................................................................... 188 2.7 Crítica à concepção tradicional de comunicação .................................................. 191 Reflexão ....................................................................................................................... 192 Leitura recomendada ..................................................................................................... 193 Referências bibliográficas ............................................................................................. 193 Na próxima unidade ...................................................................................................... 194 Unidade 3: Funções da linguagem e tipos de mensagem ........................................ 195 Objetivos da sua aprendizagem .................................................................................... 195 Você se lembra? ............................................................................................................ 195 3.1 As seis funções da linguagem ................................................................................ 196 3.2 Funções sociais da linguagem ................................................................................ 198 3.3 Tipos de mensagem ................................................................................................ 200 3.4 Variação linguística ................................................................................................ 205 Reflexão ........................................................................................................................ 208 Atividade ....................................................................................................................... 209 Leituras recomendadas .................................................................................................. 210 Referências bibliográficas ............................................................................................. 210 Na próxima unidade ...................................................................................................... 211 Unidade 4: A linguagem organizacional ................................................................... 213 Objetivos da sua aprendizagem .................................................................................... 213 Você se lembra? ............................................................................................................ 213 4.1 A linguagem das organizações .............................................................................. 214 4.2 Qualidades do texto empresarial ............................................................................ 214 4.3 Vícios de linguagem do texto empresarial ............................................................. 221 4.4 Padronização de documentos empresariais ............................................................ 223 4.5 Dicas para redação de relatórios e cartas ............................................................... 225 4.6 Correspondência oficial ......................................................................................... 227 Reflexão ........................................................................................................................ 228 Atividade ....................................................................................................................... 228 Leituras recomendadas .................................................................................................. 229 Referências bibliográficas ............................................................................................. 229 Na próxima unidade ...................................................................................................... 229 Unidade 5: Texto, discurso e coesão textual ............................................................. 231 Objetivos da sua aprendizagem .................................................................................... 231 Você se lembra? ............................................................................................................ 231 5.1 A produção de um texto ......................................................................................... 232 5.2 Texto e discurso ..................................................................................................... 232 5.3 Coesão textual ........................................................................................................ 234 5.4 Coesão textual e a articulação sintática do texto ................................................... 239 5.5 Coerência textual ................................................................................................... 241 Reflexão ........................................................................................................................ 243 Atividades ..................................................................................................................... 243 Referências bibliográficas ............................................................................................. 245 Na próxima unidade ......................................................................................................245 Unidade 6: Produção textual ...................................................................................... 247 Objetivos da sua aprendizagem .................................................................................... 247 Você se lembra? ............................................................................................................ 247 6.1 Experiências com a escrita ..................................................................................... 248 6.2 Crendices e mitos sobre redação ........................................................................... 251 6.3 Concepções ou princípios sobre redação ............................................................... 253 6.4 Algumas características da escrita ......................................................................... 256 6.5 Tipos de redação ................................................................................................... 257 Covardia ........................................................................................................................ 263 Reflexão ........................................................................................................................ 264 Leituras recomendadas .................................................................................................. 266 Referências bibliográficas ............................................................................................. 266 Na próxima unidade ...................................................................................................... 267 Unidade 7: Comunicação oral.................................................................................... 269 Objetivos da sua aprendizagem .................................................................................... 269 Você se lembra? ............................................................................................................ 269 7.1 Diferenças entre a oralidade e a escrita .................................................................. 270 7.2 Elementos da comunicação oral ............................................................................. 271 Atividade ...................................................................................................................... 276 Atividade ....................................................................................................................... 277 7.3 Usando recursos especiais para falar em público .................................................. 278 7.4 Feedback e o valor de ser um bom ouvinte ............................................................ 280 Reflexão ........................................................................................................................ 283 Leituras recomendadas .................................................................................................. 283 Referências bibliográficas ............................................................................................. 283 Unidade 8: Revisão gramatical .................................................................................. 285 Objetivos da sua aprendizagem .................................................................................... 285 Você se lembra? ............................................................................................................ 285 8.1 Concordância verbal .............................................................................................. 286 8.2 Concordância nominal ........................................................................................... 287 8.3 Regência verbal ...................................................................................................... 289 8.4 Regência nominal ................................................................................................... 291 8.5 Uso dos “porquês” ................................................................................................. 292 8.6 Palavras e expressões parecidas, mas diferentes .................................................... 293 8.7 Algumas observações sobre verbos ....................................................................... 297 Atividades ..................................................................................................................... 300 Leituras recomendadas .................................................................................................. 300 Reflexão ....................................................................................................................... 301 Referência bibliográfica ................................................................................................ 301 Na próxima unidade ...................................................................................................... 302 Unidade 9: Ortografia e prosódia .............................................................................. 303 Objetivos da sua aprendizagem .................................................................................... 303 Você se lembra? ............................................................................................................ 303 9.1 Afinal, o que é mesmo ortografia? ......................................................................... 304 9.2 Regras sobre o emprego de algumas letras ............................................................ 305 9.3 Acentuação gráfica ................................................................................................. 309 9.4 Acento agudo indicador da crase ........................................................................... 312 9.5 Trema ..................................................................................................................... 313 9.6 Hífen ...................................................................................................................... 314 9.7 Prosódia.................................................................................................................. 318 Atividades ..................................................................................................................... 319 Reflexão ....................................................................................................................... 320 Leituras recomendadas .................................................................................................. 320 Referências bibliográficas ............................................................................................. 321 Macroeconomia ............................................................................................... 323 Unidade 1: Produto Interno Bruto (PIB) .................................................................. 325 Objetivos de sua aprendizagem .................................................................................... 325 Você se lembra? ............................................................................................................ 325 Introdução ..................................................................................................................... 326 1.1 Conceito ................................................................................................................. 327 1.2 Cálculo do PIB pelo método do dispêndio ............................................................ 329 1.3 Cálculo do PIB real e PIB nominal ........................................................................ 334 1.4 O deflator do PIB ................................................................................................... 336 1.5 PNB (Produto Nacional Bruto) .............................................................................. 337 Atividades ..................................................................................................................... 339 Reflexão .......................................................................................................................340 Expandindo conhecimento ............................................................................................ 341 Referências ................................................................................................................... 341 Na próxima unidade ...................................................................................................... 342 Unidade 2: Crescimento econômico e desenvolvimento .......................................... 343 Objetivos de sua aprendizagem .................................................................................... 343 Você se lembra .............................................................................................................. 343 Introdução ..................................................................................................................... 344 2.1 Desenvolvimento e subdesenvolvimento ............................................................... 344 2.2 PIB per capita ......................................................................................................... 345 2.3 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) .......................................................... 347 2.4 Distribuição de renda ............................................................................................. 351 2.5 Desenvolvimento econômico e meio ambiente ..................................................... 354 Atividades ..................................................................................................................... 359 Reflexão ........................................................................................................................ 360 Expandindo conhecimentos ...........................................................................361 Referências Bibliográficas ............................................................................................ 361 Na próxima unidade ...................................................................................................... 362 Unidade 3: Nível de preços e indicadores de inflação ............................................. 363 Objetivos de sua aprendizagem .................................................................................... 363 Você se lembra? ............................................................................................................ 363 Introdução ..................................................................................................................... 364 3.1 Definição de inflação ............................................................................................. 364 3.2 Consequências da inflação ..................................................................................... 365 3.3 O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) .............................................................. 367 3.4 Principais causas da inflação ................................................................................. 371 3.5 Tipos de inflação .................................................................................................... 375 3.6 Sistemas de metas inflacionárias ........................................................................... 379 Atividades ..................................................................................................................... 382 Reflexão ....................................................................................................................... 384 Leituras recomendadas .................................................................................................. 385 Referências .................................................................................................................... 385 Na próxima unidade ...................................................................................................... 386 Unidade 4: A moeda, o sistema monetário e a política monetária .......................... 387 Objetivos de sua aprendizagem .................................................................................... 387 Você se lembra? ............................................................................................................ 387 Introdução ..................................................................................................................... 388 4.1 A moeda e seus tipos .............................................................................................. 389 4.2 As funções da moeda ............................................................................................. 391 4.3 Liquidez ................................................................................................................. 392 4.4 A Moeda na economia ............................................................................................ 393 4.5 Agregados monetários ........................................................................................... 394 4.6 A oferta de moeda e a política monetária ............................................................... 396 4.7 Os bancos comerciais ............................................................................................. 399 4.8 Banco Central ......................................................................................................... 402 Atividades ..................................................................................................................... 406 Reflexão ....................................................................................................................... 408 Leitura Recomendada ................................................................................................... 408 Referências .................................................................................................................... 409 A pr es en ta çã oNa próxima unidade ...................................................................................................... 410Unidade 5: Regimes cambiais e comércio internacional ......................................... 411 Objetivos de sua aprendizagem .................................................................................... 411 Você se lembra? ............................................................................................................ 411 5.1 O comércio internacional ....................................................................................... 412 5.2 Benefícios do comércio internacional .................................................................... 415 5.3 Barreiras ao comércio internacional ...................................................................... 415 5.4 Taxa de câmbio ..................................................................................................... 416 5.5 Taxa de câmbio nominal ....................................................................................... 419 5.6 Vantagens e desvantagens da moeda nacional valorizada ..................................... 420 5.7 Vantagens e desvantagens da moeda nacional desvalorizada ................................ 421 5.8 Taxa de câmbio real .............................................................................................. 421 5.9 Regimes cambiais: taxas de câmbio fixas e taxas de câmbio flutuante (flexíveis) 423 Atividades ..................................................................................................................... 429 Reflexão ....................................................................................................................... 431 Leituras Recomendadas ................................................................................................ 432 Referências .................................................................................................................... 433 Na próxima unidade ...................................................................................................... 434Unidade 6: Setor público ............................................................................................ 435 Objetivo ......................................................................................................................... 435 Você se lembra .............................................................................................................. 435 Introdução ..................................................................................................................... 436 6.1 As falhas de mercado ............................................................................................. 437 6.2 Os objetivos da política fiscal ............................................................................... 442 6.3 Funções econômicas do governo ........................................................................... 445 6.4 A teoria da tributação ............................................................................................. 446 6.5 Os tipos de impostos .............................................................................................. 448 6.6 Política fiscal e financiamento do déficit ............................................................... 449 Atividades ..................................................................................................................... 452 Reflexão ........................................................................................................................ 454 Expandindo conhecimento ............................................................................................ 454 Referências Bibliográficas ............................................................................................ 455 A Faculdade Interativa COC Prezado acadêmico(a) Bem-vindo(a) à Faculdade Interativa COC. Temos o prazer de recebê-lo(a) no novo segmento desta insti- tuição de ensino que já possui mais de 40 anos de experi- ência em educação. A Faculdade Interativa COC tem se destacado pelo uso de alta tecnologia nos cursos oferecidos, além de possuir corpo docente formado por professores experientes e titulados. O curso, ora oferecido, foi elaborado dentro das Diretrizes Curriculares do MEC, de acordo com padrões de ensino superior da mais alta qualidade e com pesquisa de mercado. Assim, apresentamos neste material o trabalho desenvolvido pe- los professores do COC que, junto à tecnologia da informação e comu- nicação, proporciona ensino inovador e sempre atualizado. Este livro junto ao AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem – e a teleaula integram a base que viabiliza os estudos. Este material tem como objetivo ser a base dos conhecimentos necessários à sua formação, além de auxiliá-lo(a) nos estudos e incentivá-lo(a), com as indicações bibliográ- ficas de cada capítulo, a aprofundar cada vez mais seus conhecimentos. Procure ler os textos antes de cada aula para poder acompanhá-la melhor e, assim, interagir com o professor nas aulas ao vivo. Não deixe para estudar no final de cada módulo somente com o objetivo de pas- sar pelas avaliações; procure ler este material, realizar outras leituras e pesquisas sobre os temas abordados e estar sempre atualizado, afinal, num mundo globalizado e em constante transformação, é preciso estar sempre “ligado”, atualizado e informado. Procure dedicar-se ao curso que você escolheu, aprovei- tando-se do momento que é fundamental para sua formação pessoal e profissional. Leia, pesquise, acompanhe as aulas, realize as atividades on-line, você estará se formando de maneira responsável, autônoma e, certamente, fará dife- rença no mundo contemporâneo. Sucesso! A pr es en ta çã o A pr es en ta çã o Apresentação O Módulo 2.1 É natural que o estudante de Ciências Con- tábeis estranhe o fato de encontrar, entre as disci- plinas oferecidas no curso, as matérias de Economia, Sociologia e Português. Afinal, poder-se-ia questionar como o estudo dessas matérias – que, a princípio, não estabelecem ne- nhuma relação com a contabilidade – contribuirá na sua formação. Será mesmo que, para o pleno exercício da profissão, o contabilista necessita tomar ciência desses ramos do conhecimento? Em que medida tais disciplinas contribuem no aperfeiçoamento do trabalho do bacharel em Ciências Contábeis? O objetivo deste módulo é, justamente, demarcar a importância dessas áreas do conhecimento entre as habilidades adquiridas pelo Contador. A Contabilidade, como sabemos, é uma ciência social. Dessa forma, requer do profissional noções de conhecimentos gerais das diferentes ciências que se inter-relacionam e que compõem o universo de atuação do Contador. Assim, serão tratados aqui temas, conceitos e ideias que fornecerão as bases para você, profis- sional da área contábil, compreender o cenário mais geral, do qual a Contabilidade é integrante. Neste módulo serão oferecidas as disciplinas de Macroeconomia, Sociologia Geral e Português Instrumental. Em Macroeconomia serão tratados os assuntos que abordam os acontecimentos econô- micos que, como sabemos, afetam diretamente a vida de todas as pessoas, principalmente daque- las que precisam tomar decisões importantes baseadas nesses acontecimentos, como é o caso dos administradores de empresas, dos contadores etc. Por isso, é importante que tenham um conheci- mento no mínimo razoável a respeito dos fenômenos econômicos, para serem bons profissionais. No contexto das ciências econômicas, a Macroeconomia é o segmento responsável pelo estudo de fenômenos que englobam toda a economia. Um economista que estuda questões macroeconômicas estará sempre analisando o comportamento dos chamados agregados macroeconômicos, que são números que representam a economia como um todo, sob determinado aspecto. Os três principais agregados macroeconômicos são o PIB, a taxa de emprego e a taxa de inflação, variáveis cujo estudo é fundamental para a tomada de decisões dos agentes econômicos. Na disciplina Português Instrumental, o objetivo é oferecer ao aluno os subsídios neces- sários à compreensão das normas que regem a língua portuguesa. Serão abordadas as diferenças entre a norma coloquial ou popular e a norma culta, bem como as regras gramaticais, o uso correto de acentuação e de pontuação e outros tópicos que permitirão ao aluno ampliar a visão e o conhe- cimento da língua. Consequentemente, a disciplina oferecerá as bases para a variação e a amplia- ção dos usos da língua no cotidiano, expandindo, assim, as habilidades adquiridas pelo aluno. O conhecimento das normas e suas principais características fornecerão os subsídios necessários ao futuro Contador na elaboração de textos usuais e necessários em sua carreira. A disciplina de Sociologia Geral, por sua vez, oferece ao aluno as bases para que ele possa compreender crítica e profundamente seu ambiente de trabalho e a forma como ele está estruturado. Nesse sentido, o conhecimento de tal disciplina constitui um diferencial impor- tante entre as habilidades do Contador, na medida em que proporciona a este o entendimen- to da inter-relação entre o indivíduo e seu meio social. Aqui, neste módulo, veremos que a Sociologia constitui um campo de conhecimento e origem histórica. Analisaremos, também, os diferentes modelos explicativos da realidade social e seus conhecimentos fundamentais. Com isso, o aluno será capaz de apreendê-los, valorizá-los e aplicá- -los na sua formação profissional. Será capaz, dessa forma, de formar pontos de vista, interpretar e compreender melhor a realidade e a interação entre os grupos sociais nos seus mais diversos aspectos. Fica nosso convite para que você leia com atenção a apostila aqui proposta. Além disso, esperamos que você participe efetivamente do cur- so, fazendo as atividades propostas, discutindo os temas com os colegas, enviando suas dúvidas, enfim, buscando, cada vez mais, informação e conhecimento. Conte conosco para ajudá-lo. Bons estudos! Profa. Emiliane Januário Prof. Luis ClaudioDallier Profa. Heloísa Maria dos Santos Toledo Sociologia geral Acredito que todos nós, em algum mo- mento, já tivemos contato com essa ciência, muitas vezes sem nos darmos conta ou mesmo entendermos a que, de fato, ela se refere. Quantas vezes você já se deparou com análises e questiona- mentos sobre a nossa realidade e as diferentes relações entre cultura, economia e política? Será que existe relação entre uma determinada realidade social e suas bases cultu- rais? As desigualdades sociais e o desemprego são questões pessoais e isoladas de uma sociedade ou estão relacionadas com as estruturais mais gerais de um meio social? O que difere a reali- dade da população de um país quando comparado com outro? Essas são algumas questões que a Sociologia procura investigar e que podem ser melhor compreendidas quando conhecemos um pou- co mais dessa ciência social. O objetivo dessa disciplina é oferecer a você, futuro contador ou administrador, algumas bases que irão permitir o reconhecimento e a compreensão mais profunda do seu ambiente de trabalho e da forma como ele está estruturado. É um diferencial impor- tante que, entre as suas habilidades, esteja a capacidade do entendimento da inter-relação existente entre o indivíduo e seu meio social. A pr es en ta çã o U ni Ua Ue U U ni Ua Ue U Processo de ensino-aprendizagem Nessa primeira unidade, iremos con- tar um pouco da história do surgimento da Sociologia como ciência social e o contexto histórico desse fato, explicando seus objetos e os principais pensadores considerados, ainda hoje, clássi- cos dessa ciência. Ao final dessa unidade, procuraremos responder a uma questão comum entre os estudantes de Administração e Ciências Contábeis: “para que serve essa disciplina?” Objetivos da aprendizagem Ao final da unidade, você será capaz de compreender por que o homem é diferente de outros animais; identificar o contexto histórico do surgimento da Sociologia e os principais pensadores dessa ciência; saber o que é Sociologia e por que ela é uma ciência social; e compre- ender a importância do estudo dessa disciplina. Você se lembra? Você se lembra da última vez que viu ou ouviu um sociólogo analisando determinado acontecimento social? Lembra-se das vezes em que, em conversas com amigos ou familiares, vocês buscavam interpretar e com- preender algum fenômeno da realidade? A Sociologia constitui-se, jus- tamente, como a ciência que busca elucidar as questões que envolvem nosso convívio em sociedade. 16 Sociologia geral A educação formal é aquela em que o aprendizado depende da instituição escolar. A educação informal, por sua vez, é aquela em que o indivíduo desenvolve o aprendiza- do fora da escola, em família, com amigos, nas igrejas etc. O homem é um ser socialU.U Todo ser humano vive em sociedade. Assim, pode-se dizer que todo homem é um ser social. Para entender o que é Sociolo- gia, precisamos compreender quem é o ser humano e por que é necessária uma ciência para estudá-lo em sociedade. O homem não é apenas um conjunto de componentes físicos e orgânicos, ele é também um ser que pensa, sente, relaciona-se com outros homens, modifica a natureza à sua volta e cria coisas novas. Para atuar no mundo em que vive, o homem precisa passar por um aprendizado que lhe permita ter um comportamento adequado à convivência com outros seres iguais a ele. O homem eventualmente criado longe do convívio social é incapaz de se humanizar, deixando apenas aflorar suas características instintivas, assemelhando-se aos animais. Mas o que diferencia o homem dos animais? O homem é o único animal que não age apenas por instinto, porque ele passa por um processo de aprendizado, de socialização e porque precisa da linguagem para se comunicar com seus semelhantes. A socialização é, então, um processo que dá o caráter humano ao homem, diferenciando-o do animal. A educação (formal e informal) é fundamental para a socia- lização do ser humano. Quando sociali- zado, o ser humano age socialmente, ou seja, suas ações, seus senti- mentos e pensamentos estão diretamente ligados a outros seres humanos: é na convivência (boa ou ruim) com o outro que ele aprende a ser homem. A socialização é, então, esse aprendizado. É pela socialização que o ser humano aprende a cultura de sua época, de seu lugar. Conexão: Dica de filme: Procure assistir ao filme O enigma de Kaspar Hauser, de 1976, no qual o cineasta alemão Werner Herzog trata exatamente desse tema. 17 Unidade 1 EA D -1 1- C C 2 .1 Unidade 1 O tema específico da cultura será visto mais para a frente. Por en- quanto, o que importa, para se entender o que é Sociologia, é saber que a cultura é o conjunto de valores, hábitos, costumes e normas que organi- zam a vida em sociedade. O homem adequado ao seu meio social é aquele que foi socializado, ou seja, aprendeu como agir socialmente. Veja como o ser humano se transforma em ser social: EDUCAÇÃO APRENDIZAGEM SOCIALIZAÇÃO LINGUAGEM CULTURA A Sociologia chama de socialização o processo pelo qual o indivíduo assimila os valores, as normas e as expectativas sociais de um grupo ou de uma sociedade. Esse pro- cesso, responsável pela transmissão da cultura, é contínuo e se ini- cia na família, quando se realiza a chamada socialização primária. Depois é assumido pela escola, pelo grupo de referência e pelas di- ferentes formas de treinamento e ajuste a que o indivíduo se subme- te no decorrer de sua existência e que caracterizam a socialização secundária” (COSTA, Cristina. Sociologia. Introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Editora Moderna, 1997, s/p.). Até aqui, vimos como se dá o processo de socialização dos seres hu- manos. Agora, vamos ver como entender esse processo pela Sociologia? A Sociologia é uma ciência socialU.2 As formas de organização social do ser humano são objeto de estu- do da Sociologia. Você achou estranho chamar de “objeto” de estudo? Mas é esse o termo que as ciências usam: o que elas estudam convencionou-se chamar de “objeto de estudo”, que é o alvo para o qual se direciona o estudo. A Sociologia é uma das três ciências sociais básicas, que são: a an- tropologia, a sociologia e a ciência política. 18 Sociologia geral Resumidamente, podemos dizer que a antropologia estuda mais especificamente as diferentes culturas no mundo (diferenças de costumes e valores de um lugar para outro, de um grupo para outro). A ciência po- lítica estuda as relações de poder que se estabelecem na sociedade (sejam nas relações cotidianas, como os poderes, entre homens e mulheres, pa- trões e empregados, pais e filhos, ou, no nível governamental, como nos cargos políticos). A Sociologia estuda as relações sociais que os homens estabelecem com outros homens por meio das instituições sociais (escola, família, Estado, igreja, sindicato, empresa etc.). Até hoje ainda existem pessoas que perguntam se é possível fazer ciência da sociedade ou se a Sociologia é mesmo uma ciência. Esta des- confiança é perfeitamente compreensível, na medida em que sabemos o que é que está por trás das concepções que essas pessoas têm de ciência e de cientista: maçãs caindo das árvores e provando a força da gravidade; cientistas malucos que transferem líquidos coloridos de um vidro ao outro provocando fumaças; lunetas gigantes para conhecer os mistérios do céu; equações matemáticas monstruosas que fundem a cabeça de qualquer mortal; corpos humanos e animais dissecados; ratinhos de laboratório etc. Mas, quando conhecemos a história da ciência em geral e das ciên- cias sociais em particular, tudo começa a ficar mais claro, um pouco mais perto do real. Breve história Ua ciênciaU.3 A ciência – ou scientia – é conhecimento, saber sistematizado que busca leis universais e cuja legitimidade baseia-se na comprovação empí- rica: “é preciso ver para crer”, é preciso comprovar que a realidade é real. Esta visão de ciência, que está na base de nossacultura e que sustenta os nossos valores, começou a ser formulada no século XVI, quando a per- cepção do mundo mudou significativamente. Nos séculos XVI e XVII, a perspectiva medieval de ciência, que se baseava na razão e na fé, mudou radicalmente, e o mundo, a partir de estudos da física e da astronomia, começou a ser compreendido como uma máquina. Copérnico, Galileu, Bacon, Descartes e Newton são os grandes cientistas dos séculos XVI e XVII, conhecidos como a Idade da Revolução Científica. Nicolau Copérnico (Itália) modifica a noção do mundo quando contraria a concepção geocêntrica da Igreja para defender sua concepção heliocêntrica, na qual a Terra não é o centro do universo. Galileu Galilei 19 Unidade 1 EA D -1 1- C C 2 .1 (Itália), que inventou o telescópio, foi pioneiro na abordagem empírica e no uso da descrição matemática da natureza e tornou-se referência nas teorias científicas até hoje. Francis Bacon (Inglaterra) foi o primeiro a for- mular uma teoria clara do método indutivo, ou seja, realizar experimentos e extrair deles conclusões gerais. Isaac Newton (Inglaterra) forneceu uma consistente teoria matemática, hoje conhecida como cálculo diferencial, para descrever o movimento dos corpos. Foi Newton quem inspirou sua teoria na famosa queda da maçã. René Descartes (França) é considerado o fundador da filosofia mo- derna, com a qual pretendia criar uma nova ciência que fosse capaz de distinguir a verdade do erro em todos os campos do saber: a ciência é o conhecimento certo, é a verdade. Descartes, para quem ciência era sinônimo de matemática, influen- ciou de forma marcante todos os ramos da ciência moderna, por isso merece destaque. É graças a ele que hoje as pessoas estão convencidas de que o método científico é o único meio válido para se compreender o universo. Tomando a dúvida como ponto fundamental de seu método, chamado de cartesiano, e duvidando de tudo, Descartes chegou à famosa afirmação Cogito, ergo sum: “Penso, logo existo”. AFP / ROGER_VIOLLET René Descartes Assim, concluiu que o pen- samento é a essência da natureza humana e que, portanto, tudo o que o ser humano pensa, intui (intuição) e deduz (dedução) é verdadeiro. Sua maior contribuição à ciência é seu método analítico, que consiste em decompor pensamentos e pro- blemas em partes e organizá-los em uma ordem lógica. E m b o r a i n e g a v e l m e n t e importante para o pensamento científico até hoje, o cartesianis- mo de Descartes foi responsável pela fragmentação do pensa- mento em geral e das disciplinas acadêmicas e também por alimentar a crença reducionista da ciência: todos os aspectos dos fenômenos complexos podem ser compreendidos quando reduzidos às suas partes. 20 Sociologia geral O cogito cartesiano, como passou a ser chamado, fundou o dualismo que separa a mente da matéria, a natureza dos seres humanos, o mundo físico do mundo social e espiritual. A atitude das pessoas em relação ao meio ambiente, à cultura e ao ser humano em geral sofreu consideráveis transformações a partir de Des- cartes. Sua concepção mecanicista, que tinha o universo como um sistema mecânico, tornava homem e máquina uma mesma coisa. A ideia de tratar os organismos vivos – homens e animais – como nada mais do que má- quinas teve consequências adversas tanto para as ciências humanas como para as ciências biológicas. Este reducionismo é evidente na medicina, por exemplo, em que a adesão ao modelo cartesiano tem impedido os médicos de compreenderem muitas doenças, na medida em que entendem o corpo humano por partes, e não pelo todo. A medicina holística tem, nos últimos anos, procurado romper com esta compreensão mecanicista do corpo huma- no, propondo uma nova compreensão do corpo humano e de sua saúde. O paradigma mecanicista sustentou a ciência clássica do século XVI até o início do século XX, quando novas maneiras de compreender o conhecimento científico começaram a marcar presença e ser aceitas. O dualismo cartesiano foi uma das premissas mais importantes desse para- digma, mostrando que toda a história do conhecimento científico é a his- tória da busca de uma verdade universal. As revoluções e as novas formas Ue U.4 organização social O final do século XVIII e o início do século XIX são marcados por dois acontecimentos históricos da maior importância: a Revolução Francesa e a chamada Revolução Industrial, que coincidiram com a desagregação da sociedade feudal e com a consolidação do capitalismo. Estes acontecimen- tos históricos geraram problemas sociais que os pensadores da época não conseguiram explicar. Assim, o social e a sociedade começaram a requerer um olhar próprio, uma ciência própria que até então não existia. Modelo, padrão Cada uma das proposições que servem de base para a conclu- são. Ponto de que se parte para armar um raciocínio. 21 Unidade 1 EA D -1 1- C C 2 .1 A Revolução Francesa foi responsável por inigualáveis transforma- ções sociais e políticas, que ocorreram graças à proclamação de valores como liberdade e igualdade e por uma, até então, inédita valorização do indivíduo como cidadão. O que hoje consideramos comum, como a demo- cracia e o Estado de Direito, também nasceu nesse período. Foi com a Revolução Francesa que as pessoas passaram a ser vistas não apenas como portadoras de deveres, mas também de direitos. Elabo- rou-se, então, a Declaração Universal dos Direitos dos Homens. A Revolução Industrial, que se iniciou na Inglaterra e rapidamente se disseminou pela Europa e pelos Estados Unidos, não foi caracterizada somente pelas inovações técnicas a partir da máquina a vapor e pela in- dustrialização crescente, mas também por um conjunto de mudanças so- ciais e econômicas importantes, como a consequente migração do campo para as cidades, o crescimento da urbanização e um admirável aumento da população. A Revolução Industrial foi um marco para a vida moderna porque se trata, na verdade, de uma revolução científico-tecnológica que mudou a organização social definitivamente. Num prazo relativamente curto, de cerca de 100 anos, a Europa de sítios, rendeiros e artesãos passou a ser uma Europa de cidades e indústrias. Com a indústria, a produção começa a ser feita num ritmo acelerado e o crescimento urbano passa a ser significativo, separando os espaços rurais dos espaços urbanos. Com as indústrias e essa nova forma de produção, a economia também mu- dou, deixando de ser agrária para ser industrial. Além disso, expandiu- -se o comércio internacional em busca de matérias-primas e de escoamen- to das mercadorias produzidas. As principais mudanças ocorridas na sociedade em função da Revo- lução Industrial podem ser assim sintetizadas: grande concentração humana nas cidades inglesas, uma vez – que os camponeses saíram do campo em busca de nova vida nas cidades que surgiam em função das indústrias: há intensa migração do campo para a cidade; substituição progressiva do trabalho humano por máquinas; – divisão do trabalho em partes especializadas e necessidade – de coordenação: o aumento da produtividade se originou da organização do trabalho, e não do aumento das habilidades individuais; 22 Sociologia geral mudanças culturais no trabalho: os novos trabalhadores das – indústrias ainda estavam acostumados com o trabalho agrícola e o artesanato. Os industriais tiveram de impor uma disciplina desconhecida por esses trabalhadores, os quais tiveram que se submeter ao controle externo, exercido por capatazes; produção de bens em grande quantidade: as máquinas aumen- – taram o ritmo da produção e a quantidade de bens produzidos, além de possibilitarem a homogeneização (todos os bens saem iguais das máquinas, diferentemente dos bens feitos artesanal- mente); surgimento de novos papéis sociais: começa a se definir um – contorno distinto para o capitalista (o empresário é dono das empresas e das máquinas, compra o trabalho dos outros) e para o operário (o trabalhador não possui nada além desua força de trabalho e precisa vendê-la para se sustentar). Vamos continuar entendendo o contexto histórico que propiciou o surgimento da Sociologia? Nessa mesma época da Revolução Industrial (séc. XIX), houve um processo de revitalização da universidade, que se tornou, definitivamente, o lugar do saber por excelência. Com isso, configuraram-se a disciplinari- zação e a profissionalização do conhecimento. Como as ciências naturais nunca precisaram deste espaço institucionalizado para desenvolver seus trabalhos, pois sempre tiveram apoio dos governos, as transformações que aconteceram com a universidade foram fundamentais para abrir espaço às ciências humanas e marcar distinções entre ciências naturais e humanas. As mudanças provocadas pelas duas grandes revoluções europeias, a expansão do capitalismo (e, com ele, os interesses antagônicos) e a revitali- zação da universidade nos séculos XVIII e XIX – pe ríodo conhecido como Iluminismo –, podem ser consideradas o cenário que contextualiza as ori- gens das ciências sociais que surgem, exatamente, nesse período marcado por essas transformações do meio social. De posse dessas informações so- bre a contextualização histórica do surgimento da Sociologia, podemos se- guir adiante para compreendermos algumas das características dessa ciência e o processo do seu desenvolvimento e consolidação como uma das formas de compreensão da relação do homem com o seu meio social. Antagônico: oposto, contrário 23 Unidade 1 EA D -1 1- C C 2 .1 O senso comum e a ciência são duas formas de conhecermos e explicarmos a realidade. Enquanto o senso comum caracteriza-se pelo conhecimento que adquirimos em nosso cotidiano e que pode ser verdadeiro ou não, a ciência busca entender as razões e o porquê do acontecimento de determi- nados fenômenos. A Sociologia é uma ciência; portanto, difere do senso comum. O surgimento e o Uesenvolvimento Ua SociologiaU.5 A Sociologia é uma ciência e seu surgimento e consolidação como tal, juntamente com suas especificidades e seus métodos próprios de in- vestigação, diferenciam-na dos saberes do senso comum, proferidos por nós quando analisamos nossos comportamentos e experiências interpes- soais. Entendemos como senso comum ou conhecimento espontâneo o conhecimento que se acumula no nosso cotidiano (cheio de certezas e explicações imediatas) e que é transmitido de geração a geração por meio de nossos hábitos, costumes e tradições. Dessa maneira, acabamos repro- duzindo ideias que não são nossas, mas que são assimiladas e tomadas por nós como verdadeiras, por isso temos sempre uma opinião a respeito de assuntos que muitas vezes nem conhecemos. O homem sempre se preocupou em compreender a si mesmo e o universo, mas foi somente no século XVIII, com uma série de eventos que ocorreram na Europa e transformaram profundamente as estruturas da sociedade, suprimindo os pilares do velho regime feudal, incluindo o movimento intelectual do Iluminismo na França, que a “ciência” pôde se impor como uma maneira de pensar o mundo isenta dos pressupostos de- terminantes da religião e da tradição. Neste período, ocorreu também uma profunda valorização do homem, voltada para a crença na razão humana e nos seus poderes. Mais tarde, já no século XIX (1801-1900), com a Revolução Francesa, o pensamento sis- temático sobre o mundo social foi acelerado, assim como a necessidade dos homens de compreender os inúmeros problemas sociais decorrentes do processo de industrializa- ção. Sendo assim, podemos dizer que a Sociologia surgiu sob as condições das mudanças que derivavam principalmente do declínio do feudalismo, do fortalecimen- to do comércio e do surgimento de novos papéis sociais/especialização. 24 Sociologia geral Enfim, com a consolidação do sistema ca- pitalista de produção, surgia uma nova mentalidade, em que a razão e o saber se voltavam para o mundo terreno. As ciências existentes não apre- sentavam explicações convincentes nem mesmo o instrumental necessário para a compreensão de todas estas mudanças. Necessitava-se, então, de uma nova ciência (utilizando o mesmo referencial das ciências naturais) para tentar fazer isso. Vamos entender, então, a que se propõe a Sociologia e o históri- co do seu desenvolvimento? Turner (2003, p. 14), afirma que o objetivo da Sociologia é tor- nar as compreensões cotidianas mais sistemáticas e precisas, pois es- sas percepções vão além de nossas experiências pessoais. A Sociologia busca compreender todos os símbolos culturais que os seres humanos usam e criam para interagir com a sociedade e organizá-la. “É o estudo dos fenômenos sociais, da interação e da organização social.” De for- ma diferente do que as outras disciplinas fazem, ao estudar os aspectos sociais da vida do homem, a Sociologia estuda o fato social em sua totalidade, ou seja, a visão sistêmica do pesquisador deve lhe dar con- dições de perceber que cada ação social não está isolada na sociedade, mas sim que faz parte de um todo interligado, interferindo e sofrendo interferências. Para o sociólogo, o fato social é estudado não porque é econômi- co, jurídico, político, educacional ou religioso, mas porque é “social” e inclui tudo isso independentemente da especificidade de cada um. O pressuposto básico de uma análise sociológica é que a vida dos seres humanos é composta por várias dimensões que se desenvolvem com o processo de interação social. Justamente estas interações sociais são o objeto central de estudo da sociologia. (DIAS, 2005). No período do surgimento da Sociologia, a visão mecani- cista/cartesiana do mundo no século XVIII se estabelecia firme- mente, assim foi inevitável que a física se tornasse, naturalmen- te, a base de todas as outras ciências, inclusive da Sociologia. Conexão: Você já assistiu ao filme A lenda do cavaleiro sem cabeça? Nele, você poderá observar as inúmeras dificuldades da ciência em ser aceita como uma forma de conhecimento da realidade, como um campo de pes- quisa e produção de conhecimento. 25 Unidade 1 EA D -1 1- C C 2 .1 O nome Sociologia foi proposto por Auguste Comte, em substituição ao termo Física Social, acreditando ser possível submeter a ciência da sociedade aos mesmos pressupostos metodológicos advindos das ciências naturais. Acreditava também que descobrir as leis da organiza- ção da sociedade poderia significar a reconstrução de uma estrutura social mais humana. Seu pensamento enfatizava a sociedade europeia como exemplo de evolução, defendendo a proposta da ordem e do progresso em oposição aos conflitos sociais presentes neste contexto (influência do positivismo). Dessa forma, na tentativa de compreender as condições das mudanças que ocor- r i am nas soc iedades europeias e de conhecer suas prováveis conse- quências, era premente que surgisse uma ciência da sociedade, a qual foi proclamada como “física social”. O nascimento da Sociologia é atribuído tanto a Saint-Simon (1760-1825) quanto a Augusto Comte (1798- 1857), ambos franceses, que procuravam uma “física social” com métodos baseados nas ciências naturais, de forma a encontrar leis universais que re- gessem os fenômenos sociais. O conhecimento destas leis permitiria, segun- do Comte, controlar o destino do mundo – daí sua famosa fórmula Prévoir pour pouvoir (prever para poder), que reflete, na verdade, o pensamento positivista que atribui à ciência a capacidade de prever e de controlar a ação. A Sociologia nasce com o positivismo. Mas o que é isso, exatamente? REPROduçãO Augusto Comte 26 Sociologia geral O positivismoU.6 O positivismo pode ser considerado o berço que embala a Socio- logia há mais de um século, desde o seu nascimento. Assim, conhecer a história da Sociologia exige um conhecimento básico do positivismo, so- bretudo por ele ser considerado um conjunto de pensamentos e ações que formam o sistema de vida típico do século XIX, mais do que apenas uma doutrina. Os positivistaseram pensadores conservadores que se preocupa- vam com a ordem, a estabilidade e a coesão social e consideravam que a sociedade moderna era dominada pela desordem, pela anarquia. Eles enfatizavam a importância da disciplina, da autoridade, da hierarquia, da tradição e dos valores morais para a conservação da vida social. A influên- cia da doutrina positivista ficou marcada na bandeira do Brasil pelo lema “Ordem e progresso”. Diante das transformações sociais que ocorriam no século XIX, eles viam a necessidade de criar uma ciência que resgatasse os princípios con- servadores, e não uma que objetivasse mudanças. Augusto Comte dividia hierarquicamente a filosofia positiva em cinco ciências: astronomia, físi- ca, química, fisiologia e física social. O “físico social” deveria, para Comte, buscar constantemente as leis universais imutáveis nos fenômenos sociais, à semelhança do que ocorria na física. Todos os fenômenos estudados deverim ser observados, experi- mentados, comparados e classificados, para serem considerados verdadei- ros e científicos. As características mais importantes do positivismo são: empirismo: submissão da imaginação à observação, à experi- – mentação e à comparação; classificação dos fenômenos sociais da maneira como é feita – com os fenômenos naturais; a ciência tem como função principal a capacidade de prever; – Emprirismo: doutrina filosófica que encara a experiência sensível como a única fonte fidedigna de conhecimento. O filósofo empirista baseia-se na observação e na experimentação para decidir o que é verdadeiro. Chega a conclusões através do emprego do método indutivo, baseado no que observou. 27 Unidade 1 EA D -1 1- C C 2 .1 o espírito humano deve investigar sobre o que é possível co- – nhecer, eliminando a busca das causas; o conhecimento científico positivo deve buscar a certeza, a – precisão e a ordem; valorização das especializações e horror ao ecletismo. – Como podemos perceber, a Sociologia surgiu como uma ciência social que tinha as ciências naturais como modelo, e os princípios do positivismo eram a maior representação disso. No esforço de organizar e estabilizar a nova ordem social que surgia, parecia que, quanto mais exata, positiva e neutra fosse a ciência, melhor seria. Pense: pode uma ciên- cia exata e neutra entender e explicar a sociedade e os homens nas relações sociais? Embora não seja desejável traçar linhas precisas que dividam a Sociologia em outras áreas de estudo, ela é uma ciência que precisa de métodos próprios, na medida em que o seu objeto de estudo, ao contrário dos objetos da física, está em constante transformação. As ciências sociais diferem das ciências naturais em dois aspectos essenciais: 1) consideram que as sociedades são criadas e recriadas pelas ações humanas o tempo todo; 2) entende que a sociedade é historicamente construída. De um modo geral, podemos dizer que as ciên- cias humanas se diferenciam das ciências naturais pelo fato de o homem ser, ao mesmo tempo, sujeito e objeto da investigação. Quando estudamos a sociedade, o comportamento social e as várias formas de interação social, somos, ao mesmo tempo, os in- vestigadores da realidade social e os membros que compõem esta mesma realidade. Ecletismo: diferentes gêneros ou opiniões. Método que reúne teses e sistemas diversos. Método filosófico dos que não se- guem sistema algum, escolhendo de cada um a parte que lhes parece mais próxima da verdade. 28 Sociologia geral As formas de organização social que existem hoje não foram sem- pre assim, pois a sociedade não é estática. Pense, por exemplo, na estrutura familiar do século XIX e na dos dias de hoje. Com o passar do tempo, de forma geral, as mulheres con- quistaram o direito de trabalhar fora e de não mais desempenhar apenas o papel de mãe e de esposa dependente do marido. Elas casam mais tarde ou nem se casam e muitas optam por não ter filhos. Elas, hoje, podem esco- lher seus maridos e não mais esperar um casamento arranjado pelos pais. Também não é necessário que as uniões sejam legalizadas no casamento civil ou que todos os casamentos sejam feitos com cerimônias religiosas. É muito mais comum que casamentos infelizes sejam desfeitos, e a mulher separada não gera mais tantos comentários perante a sociedade. O mode- lo de família nuclear clássico composto pelo pai, pela mãe e pelos filhos não é mais o modelo predominante. Hoje, é comum escutarmos casos de crianças que vivem um pouco na casa do pai e um pouco na casa da mãe. Os pais separados formam outras famílias. Os casamentos de homossexu- ais começam a ser legalizados em alguns países; em outros lugares, nem mesmo chegaram a ser condenados ou proibidos. Casais de homossexuais adotam crianças e formam uma família. Você está percebendo como as sociedades mudam suas formas de se organizar, seus valores e mesmo suas normas? A sociedade é construída e modificada pelos seres humanos dia- riamente. Assim, o ser humano e a sociedade são “objetos” de estudo em mutação. Com o passar do tempo, foi-se percebendo que, para estudar as sociedades, não era suficiente tratá-las como se fossem coisas. Imagine o seguinte: você deixa quatro cadeiras na sala de sua casa e viaja por dois anos. Quando você chega de volta e abre a porta da sala, o que você vê? As quatro cadeiras exatamente no mesmo lugar em que você as deixou. Claro que isso vai ocorrer se ninguém entrar na sua casa, se não acontecer nenhum terremoto ou outros fatores externos. Agora, imagine uma sala com quatro pessoas e você faz o mesmo procedimento: sai para viajar por dois anos. Quando você volta, o que terá acontecido? As pessoas estarão no mesmo lugar, sem mudar nada, nem fazer nada, como se fossem cadeiras? Claro que não, pois as pessoas não são coisas, são seres sociais que transfor- mam seu ambiente enquanto estabelecem relações sociais entre si. Estática: imóvel, parada 29 Unidade 1 EA D -1 1- C C 2 .1 Então, a Sociologia, que nasce no século XIX para entender as no- vas características da sociedade depois das Revoluções Industrial e Fran- cesa, não poderia continuar sempre entendendo os homens como coisa, assim como a química entende os componentes da matéria. Além de seu objeto estar sempre mudando, a Sociologia tem outra característica que a diferencia das ciências naturais e exatas: o pesquisador (cientista social) é também objeto de estudo da sua ciência. Ao mesmo tempo em que o sociólogo observa um fenômeno social, procurando compreendê-lo, ele está sofrendo influências da sociedade. Ele não é neutro diante de seus es- tudos, por mais que procure ser objetivo, ou seja, ir direto ao ponto central da questão, sem rodeios ou influências de sentimentos pessoais. Quando se afirma que o cientista social deve ser objetivo, isso significa que, mes- mo sendo humanamente possível, ele não deve se deixar influenciar por suas próprias crenças e valores. Mas isso é muito difícil, se não impossí- vel. Por exemplo, se o sociólogo tem preconceitos em relação aos negros, fica maior o desafio, para ele, de desenvolver um estudo “neutro” sobre o racismo. Se o sociólogo acha que o homossexualismo é uma aberração da humanidade, fica mais difícil para ele ser “objetivo” num estudo sobre esse tema. O caminho que liga ser humano e sociedade é um caminho de mão dupla: ambos relacionam-se, complentam-se, formam-se e tranformam-se. HOMEM SOCIEDADE Os clássicos Ua SociologiaU.7 As sociologias desenvolvidas por esses autores clássicos são bas- tante complexas. Não nos cabe, nesse curto espaço, conhecê-las a fundo. Você precisa apenas saber quais são os clássicos da Sociologia e o que marca suas teorias. É isso que vamos fazer nessa parte do capítulo: dar uma “pincelada” em cada uma das teorias clássicas. Se você se interessar por conhecer melhor esses clássicos, a bibliografia sobre eles é bastante vasta e você pode começar pesquisando os livros indicados ao final da apostila. 30 Sociologiageral Émile DurkheimU.7.U O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) foi o maior su- cessor de Augusto Comte e da sociologia positivista. Ele se preocupava em conferir à Sociologia status de ciência independente. Seu livro As re- gras do método sociológico, de 1895, deu uma contribuição à Sociologia ao indicar como deveria se dar a abordagem dos problemas sociais, esta- belecendo as regras a serem seguidas na análise de tais problemas. Sua metodologia foi utilizada no estudo sobre o suicídio, publicado em 1897, em que, em vez de especular sobre as causas do suicídio (eliminando a pesquisa histórica), planejou o esquema de pesquisa, coletou os dados necessários sobre as pessoas que se suicidaram e, a partir desses dados, construiu sua teoria do suicídio. REPROduçãO Émile Durkheim Durkheim defendia a ideia de que os fatos sociais deveriam ser tra- tados como “coisas”, no sentido de serem individualizados e observáveis. Durkheim distinguiu três características dos fatos sociais: 31 Unidade 1 EA D -1 1- C C 2 .1 1. Coerção social: os fatos exercem uma força sobre os indivíduos, levando-os a confrontarem-se com as regras da sociedade em que vivem, tanto que os indivíduos sofrem sanções ou punições quando se rebelam contra essas regras. 2. Exterioridade aos indivíduos: os fatos sociais independem das vontades individuais ou da adesão consciente a eles. As regras so- ciais de conduta, as leis e os costumes já existem quando o sujeito nasce e são impostos a ele pela educação. 3. Generalidade: é social todo fato que é geral, ou seja, que se repete em todos os indivíduos ou na maioria deles. As formas de habitação, de comunicação, os sentimentos e a moral são alguns exemplos. A generalidade do fato social garante sua normalidade, ou seja, sua aceitação pela coletividade. Para Durkheim, assim como para os positivistas, o cientista social deve guardar certa distância em relação ao seu objeto de estudo, resguardando a objetividade de sua análise. Para isso, o sociólogo deve deixar de lado suas pré- -noções, isto é, seus valores e sentimentos pessoais. Assim, Durkheim diria, por exemplo, que, ao estudar uma briga entre gangues, o sociólogo não deve se envolver nem permitir que seus valores interfiram na objetivi- dade de sua análise. A sociologia durkheimiana pauta-se prioritariamente em pesquisas quantitativas, ou seja, que medem e quantificam dados. Ela usa, portanto, estatísticas, equações matemáticas, gráficos e tabelas para apresentar os resultados de pesquisa. Max WeberU.7.2 Enquanto na França sedimentou-se o pensamento social positivista, na Alemanha outras correntes filosóficas influenciaram a Sociologia. A Alemanha se unifica e se organiza como Estado nacional mais tardiamente que o conjunto das nações europeias, o que atrasou seu ingresso na corrida industrial e imperialista da segunda metade do século XIX. Esse descompasso em relação às grandes potências vizinhas fez elevar no país o interesse pela história como ciência da integração, da memória e do nacionalismo. Por tudo isso, o pensa- mento alemão se volta para a diversidade, enquanto o francês e o inglês, para a universalidade. (COSTA, Cristina. Sociologia. Intro- dução à ciência da sociedade. São Paulo: Editora Moderna, 1997, p. 70). 32 Sociologia geral HuLTOn ARcHIVE / GETTy Im AGEs Max Weber Max Weber (1864-1920) foi o grande sistematizador da sociologia alemã. A posição positivista anula a importância dos processos históricos particulares, valorizando apenas a lei da evolução, a generalização e a comparação entre formações sociais. Weber, no entanto, se opõe a essa concepção e entende que a pesquisa histórica – ausente no positivismo – é essencial para a compreensão das sociedades. A pesquisa histórica, feita com a coleta de documentos, permite o entendimento das diferenças sociais. Portanto, o caráter particular de cada formação histórica deve ser respeitado. Assim, Weber introduz na Socio- logia a busca de evidências por meio do conhecimento histórico. Weber, entretanto, não achava que uma sucessão de fatos históricos fizesse senti- do por si mesma. Ele propunha o método compreensivo para o estudo dos fenômenos sociais. Mas em que consiste esse método? O método compreensivo consiste num esforço interpretativo do passado e de sua repercussão nas características peculiares das sociedades contemporâneas. Para decodificar o mundo social, Weber propõe que se compreenda a ação dos seres humanos do ponto de vista do sentido e dos valores, e não apenas a partir das causas e pressões exteriores. A essa ação humana ele chamou de ação social. 33 Unidade 1 EA D -1 1- C C 2 .1 Ação social é a conduta humana dotada de sentido. Assim, o homem passou a ter, na sociologia de Weber, uma importância enquanto sujeito que atribui sentido aos fatos. É o homem que dá sentido à sua ação social, estabelecendo a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos. Por estudar as ações sociais, a sociologia weberiana chama os homens de atores sociais. Mas, se cada indivíduo atribui um sentido às ações, como é que elas podem ser sociais? O caráter social da ação individual decorre da interdependência dos indivíduos. Um ator age sempre em função de sua motivação e da cons- ciência de agir em relação a outros atores, embora não consiga controlar todos os efeitos de sua ação. O cientista social deve captar os sentidos e os motivos produzidos pelos diversos atores sociais nas sociedades. Weber distingue ação social de relação social: para haver relação so- cial, é preciso que o sentido seja compartilhado. Vamos ver um exemplo? Um sujeito que pede uma informação na rua a outro pedestre realiza uma ação social: ele tem um motivo e age em relação a outro indivíduo, mas tal motivo não é compartilhado. Ambos os pedestres não chegam a travar uma relação social. Numa sala de aula, onde o objetivo da ação dos vários sujeitos é compartilhado (todos estão ali para aprender), estabelece-se uma relação social dos alunos entre si e dos alunos com o professor. Weber argumentava que os fatos sociais não são coisas e que a neutralidade do sociólogo é impossível. O cientista social parte de uma preocupação com significado subjetivo, pessoal. Sua meta é compreender, buscar nexos causais que deem sentido à ação social. A obra mais conhecida de Max Weber é A ética protestante e o espí- rito do capitalismo, em que analisa o papel do protestantismo (da religião) na formação do comportamento típico do capitalismo ocidental moderno. Weber descobre, nesse estudo, que valores do protestantismo como dis- ciplina, poupança, austeridade, vocação, dever e a propensão ao trabalho atuavam de maneira decisiva sobre os indivíduos, formando uma mentali- dade – ou uma ética – propícia ao capitalismo. Weber também se destacou pelo estudo das formas de dominação e da burocracia, como partes da racionalização do mundo moderno. A sociologia weberiana pauta-se em pesquisas de cunho mais quali- tativo, uma vez que dependem da interpretação subjetiva e da compreen- são dos fatos sociais. 34 Sociologia geral Karl MarxU.7.3 Vimos até agora como a Sociologia nasceu positivista e conserva- dora, pregando a necessidade de a ciência social colaborar para a manu- tenção da ordem (Comte e Durkheim), e vimos também como ela reorga- nizou os fatos sociais à luz da história e da subjetividade (Weber). Agora, vamos ver como a Sociologia pode ser também uma teoria do conflito e da mudança da ordem. Falaremos um pouco de outro clássico, também alemão, chamado Karl Marx (1818-1883), que fundou o marxismo enquanto movimento político e social a favor dos operários (chamados de proletariado). Ele tinha ideias revolucionárias e contrárias ao positivismo. Questionou a tese da neutralidade e objetividade do cientista social. AFP ARcHIVEs Karl Marx O pensamento marxiano é um dos mais difíceis e complexos, pois Marx produziu muito. Suas ideias se desdobraram em várias correntes
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