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HISTÓRIA MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA EM HISTÓRIA Eber Mariano http://unar.info/ead MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA EM HISTÓRIA PROGRAMA DA DISCIPLINA Ementa Procedimentos da pesquisa histórica: Métodos, técnicas e fontes. Pesquisa histórica e as diferentes correntes historiográficas. Subsídios para elaboração do TCC. Objetivos • Possibilitar espaço para iniciação à pesquisa em História; • Orientar e acompanhar as redações individuais de proposta de pesquisa em História; • Refletir sobre o procedimento histórico e a elaboração de projeto de pesquisa em História; • Oferecer condições para elaboração de propostas de pesquisa em História, respeitando-se as variadas opções temáticas e teórico-metodológicas. Bibliografia Básica DOSSE, François. A História em migalhas: dos annales à nova história. São Paulo: EDUSC, 2003. CERTEAU, Michel. A escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002. BURKE, Peter (Org.). A escrita da História: Novas Perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992. Bibliografia complementar ANDRÉ, Marli. O papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. 5ª ed. Campinas: Papirus, 2001. CARR, Hallet Edward. O que é história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002. CARDOSO, Ciro Flamarion e BRIGNOLI, Hector. Os Métodos da história. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Graal, 2002. CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo. Domínios da história. Rio de Janeiro: Campus, 1997. SCHAFF, Adam. História e Verdade. São Paulo: Martins Fontes, 1983. Programa da Disciplina Unidade 1 – O historiador e a produção do conhecimento histórico 1.1 Uma breve introdução aos estudos históricos 1.2 Campos e saberes historiográficos Unidade 2 – Fontes, métodos e pesquisa histórica: desafios e perspectivas para o historiador 2.1 Fontes históricas: domínios e métodos de interpretação Unidade 3 – O campo da história: abordagens, temas e linhas de pesquisa Unidade 4 – A elaboração do projeto de pesquisa histórica 4.1- O que é um projeto de pesquisa 4.2- A estruturação de um projeto 4.3 - Metodologia e cronograma de pesquisa APRESENTAÇÃO Caros alunos, Este módulo sobre “Métodos e Técnicas de Pesquisa em História” é parte do material didático que dá suporte às suas atividades de autoestudo e autoformação do curso Licenciatura em História na modalidade a distância, pela UNAR. Procure conhecer e explorar o máximo possível todo o material disponibilizado para o seu curso. É importante ter consciência de que este é um material básico, especialmente preparado para lhe oferecer uma visão essencial ao estudo do conteúdo de cada componente curricular. Por tanto, ele não tem o objetivo de ser o único material para pesquisa e estudo. Pelo contrário, durante o decorrer do texto, o próprio módulo sugerirá outras leituras, apontando onde você encontrará fontes para aprofundar, verticalizar e complementar estudos sobre a prática de pesquisa em história. Então, caro estudante, encare este material como um parceiro de estudo, dialogue com ele, procure as leituras que ele indica, desenvolva as atividades sugeridas e, junto com seus colegas, busque o apoio dos tutores e compartilhe suas experiências através do Ambiente Virtual de Aprendizagem. Seja autor da sua aprendizagem. Bons estudos! UNIDADE 1 - O HISTORIADOR E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade, vamos falar sobre as mudanças ocorridas na historiografia e sobre a importância da pesquisa dentro do contexto historiográfico. Para você compreender as possibilidades de pesquisa em história, busca-se nesta unidade apresentar uma síntese da obra O Campo da História: Especialidades e Abordagens, do historiador José D’ Assunção Barros. ESTUDANDO E REFLETINDO 1.1 Uma breve introdução aos estudos históricos Segundo Carvalho (2009), o estudo da História inicia-se quando o homem encontra elementos de sua existência e realizações passadas. Reunindo as interpretações construídas sobre o passado obtemos a historiografia, que é esse conjunto de obras sobre os temas históricos, como remete o próprio termo “história” e a “grafia” de escrever. Para o autor, o ato de fazer história, é compreender as experiências de homens e mulheres em suas múltiplas expressões e relações sociais, entretecidas a partir das realidades políticas, econômicas, sociais e culturais. Estas e outras questões cotidianas permeiam o ofício do historiador. Para Carvalho (2009) citando Pritchard (1962) o conhecimento histórico produzido no passado; (...) leva a uma compreensão mais profunda da natureza da vida social no presente. A história não é mera sucessão de eventos, mas sim a relação entre eles; seu processo de desenvolvimento. “O passado está contido no presente como este no futuro." (PRITCHARD, 1962) O trabalho do historiador e sua tarefa é procurar os fragmentos e, por meio destes, construir considerações possíveis. Vale ressaltar que, ao escolher determinado objeto de pesquisa, consequentemente, há que se considerar que o método – a forma pela qual se movimenta em meio à documentação – não está separado da escrita – resultado do trabalho. A partir deste aspecto, a produção do conhecimento em História não deve ser pensada somente no resultado final do trabalho, mas sim de forma múltipla, isto é, no olhar em conjunto lançado para os objetos, métodos e documentação. (CARDOSO, 2005) 1.2 Campos e saberes historiográficos Para você compreender as possibilidades de pesquisa em história, colocamos à sua disposição uma síntese da obra O Campo da História: Especialidades e Abordagens, do historiador José D’ Assunção Barros – a partir das considerações da professora Maria Abadia Cardoso. A obra de Barros (2004) traz para o leitor um panorama dos campos historiográficos em que se organiza a História hoje, esclarece em linguagem objetiva modalidades como Micro-História, História Cultural, História Política, História Econômica, História Demográfica, História das Mentalidades, História Quantitativa e outras. O historiador deve buscar o conhecimento dos possíveis campos e saberes historiográficos. As possibilidades de problematizações da pesquisa são inerentes a estes saberes. Há algumas discussões sobre as referências das supostas “divisões” da História em: Econômica, História Social, História da Cultura, História das Mentalidades, mas a amplitude efetiva da vida humana e da realidade social não se “enquadra” somente numa destas compartimentações, daí a necessidade de que, embora cada campo tenha as suas especificidades, o historiador necessita buscar as possibilidades do conhecimento histórico para desenvolver sua pesquisa à luz da Teoria e Metodologia (CARDOSO, 2005). Para os interessados em trabalhar com a História Demográfica, terão que conhecer a literatura baseada nas obras dos historiadores franceses, sobretudo Coubert e Pierre Vilar. Para utilizar uma imagem mais eloquente, a História Demográfica vai conectando os aspectos mais especificamente relacionados às categorias populacionais (como a mortalidade ou a natalidade), com frequência obtida através de métodos estatísticos e da abordagem quantitativa, para depois relacionar estes aspectos de modo a dar a perceber a vida social de uma determinada comunidade. Ainda que parta dos fatos demográficos, o historiador não pode deixar à margem os fatos culturais, econômicos, políticos e antropológicos. História da Cultura Material dedica-se aos objetos materiais em sua interação como os aspectos mais concretos da vida, correlacionando-os em seus usos e apropriações sociais. Os trabalhos de Fernando Braudel e Le Roy Ladurie aí se inscrevem. Nesta perspectiva: (...) móveis, objetos decorativos, ferramentas, máquinas, matérias primas que darão luz a objetos manufaturados, veículos queo transportarão ao longo de grandes avenidas e estradas com destino a determinados grupos de consumidores que por estes bens terão de pagar em moeda sonante...tudo isso pode ser objeto de uma História da Cultura Material. [...]. O historiador da cultura material estará frequentemente estudando o domínio da vida cotidiana, da vida privada, embora estes domínios também possam ser partilhados por historiadores voltados predominantemente para outras dimensões ou enfoques, como é também o caso da História das Mentalidades (BARROS, 2004 P. 31). A História das Mentalidades faz referências aos trabalhos de Robert Mandrou, Jean Delumeau, Philippe Ariés e Michel Volvelle. Os tratamentos que os historiadores das mentalidades têm empregado, como: abordagem serial, eleição de um recorte privilegiado e abordagem extensiva das fontes têm contribuído para ampliar a concepção documental, o que propicia uma abertura aos modos de fazer História, deixando inclusive marcas na Historiografia brasileira dos anos 1980. Como referência, o autor cita os trabalhos de Laura de Melo e Souza e João José Reis (CARDOSO, 2005). A História Cultural e História Antropológica tratam de uma diversidade de objetos (ciência, cotidiano, literatura, arte...); ao considerar os sujeitos produtores e receptores de cultura (sistema educativo, imprensa, meios de comunicação), ao abordar também práticas, processos e padrões, é totalmente rica e abriga em seu seio as diferentes formas de tratamento destes objetos. Sem contar as possibilidades trazidas pelas noções que acoplam o seu universo como “linguagens”, “representações” e “práticas”. (CARDOSO, 2005) Para alguns historiadores a reflexão encaminhada pela História Cultural evidencia elementos da ideologia, símbolo, representação e prática. Sob esses postulados, as representações baseadas na obra de Roger Chartier e mencionadas por Barros (2004): (...) inserem-se, “em um campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominação” – em outras palavras, são produzidas aqui verdadeiras lutas de representações. E estas lutas geram inúmeras apropriações possíveis das representações, de acordo com os interesses sociais, com as imposições e resistências políticas, com as motivações e necessidades que se confrontam no mundo humano (BARROS, 2004 P. 87). O trabalho de história voltado para as perspectivas das relações de poder tem em Foucault, na Arqueologia do Saber, análises sistemáticas sobre os discursos. Já a possibilidade de a História ser vista como narrativa inclui as reflexões de Hayden White e Dominick LaCapra. No que tange à História da Arte, cita Gombrich e Giulio Carlo Argan. (CARDOSO, 2005) A História Cultural, a História Social e a História Política da Escola Inglesa do Marxismo (Thompson, Hobsbawm, e Christopher Hill) repensam o materialismo histórico em suas noções de infraestrutura e superestrutura. “[...] Com os marxistas da Escola Inglesa, (...) “o mundo da cultura passa a ser examinado como parte integrante do ‘modo de produção’, e não como mero reflexo da infraestrutura econômica de uma sociedade.” (BARROS, 2004 P. 62) História Política é a prioridade no poder. Mas essa determinação é extremamente complexa como demonstra o autor: “Mas que tipo de poder? Pode-se privilegiar desde o estudo do poder estatal até o estudo dos micropoderes que aparecem na vida cotidiana.” (BARROS, 2004). O que é infraestrutura e superestrutura na obra de Marx ? A infraestrutura estabelece e se inter-relaciona dialeticamente com a superestrutura que representa a base ideológica de um determinado sistema de produção. Assim, a superestrutura representa as crenças, o direito, a política, a moral, as ideias, a religião, a arte de que justifica e é justificada por um determinado sistema de produção. Em suma, a infraestrutura refere-se à base material das relações de produção entre homem e natureza e homem e homem (relação proprietário e proletariado, por exemplo). A estrutura é o sistema produtivo (capitalismo) e a superestrutura é a forma de dominação no sentido ideológico e institucional (direito, religião e Estado Moderno, por exemplo). Adaptado: acesso em http://br.answers.yahoo.com A História Econômica descreve que dificilmente haverá dúvidas relativas aos objetos desta especialidade. Pode-se estudar qualquer um dos três aspectos envolvidos pelas atividades econômicas: Produção, Circulação e Consumo. Abordar os aspectos econômicos da História não pode significar apenas um trabalho de coleta quantitativista. Esse tipo de trabalho, para não cair na coleta anacrônica de fatos econômicos do passado, dever estar vinculado a uma posição que é também filosófica, teórica e metodológica. (BARROS, 2004 P. 131) Outras correntes historiográficas diversificadas para análises são advindas da História Oral, História do Discurso, História Imediata, História Serial e História Quantitativa, História Regional e Micro-História. Enfim, essas poucas observações são apenas uma parte das importantes asserções trazidas por esta obra, mas é necessário destacar que a inspiração de um olhar crítico para a literatura concernente à Historiografia nos auxilia a verificar as diversas possibilidades deste campo de conhecimento, obviamente sem perder de vista o rigor das análises perpassadas pelas questões teóricas e metodológicas. (CARDOSO, 2005) BUS CANDO CONHECIMENTO Eric Hobsbawm nasceu em 1917, em Alexandria, no Egito, e desenvolveu seus estudos em Viena, Berlim, Londres e Cambridge. Fellow da British Academy e da American Academy of Arts and Sciences, professor visitante em diversas universidades da Europa e da América, lecionou até aposentar-se no Birkbeck College, da Universidade de Londres. Desde então, ensina na New School for Social Research, em Nova York. Escreveu, entre outros, A Era do Capital, A Era dos Extremos, A Era das Revoluções, A Era dos Impérios, Os Bandidos, Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo, Rebeldes Primitivos, O Breve Século XX 1914-1991, e Ecos da Marselhesa, todos publicados no Brasil. Um dos últimos trabalhos de um dos mais respeitados historiadores marxistas ainda vivos é este livro, que, na verdade, é uma coleção de ensaios publicados pelo autor, muitos dos quais ainda inéditos, em que Hobsbawm analisa o significado e os compromissos envolvidos na tarefa da escrita da história. Com clareza e erudição, Hobsbawm, refletindo o papel do historiador, analisa problemas pertinentes para a atualidade como a indefinição das identidades nacionais na Europa e o uso ideológico do discurso histórico naquela realidade. O livro ainda analisa o legado de 150 anos do Manifesto Comunista, a herança de Marx aos historiadores, a revolução bolchevique, as relações entre história e economia e a noção de progresso no conhecimento histórico, entre outras questões. (Hobsbawm, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, Rodrigo Janoni. História e historiografia: uma reflexão necessária. Disponível em: < http://www.ceedo.com.br/agora/agora9/historiaehistoriografia_umareflexaonecess ar a_RodrigoJanoniCarvalho.pdf>. Acesso em: 23 mai. 2012. CARDOSO, Maria Abadia. O campo da história: especialidades e abordagens. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Julho/ Agosto/ Setembro de 2005. Vol. 2 Ano II nº 3. Disponível em www.revistafenix.pro.br. HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. MARUTTI, Mauri Daniel. A importância da história no contexto da sociedade contemporânea. Disponível em: < http://www.webartigos.com/artigos/a- importancia-da-historia-no-contexto-da-sociedade-contemporanea/4913/>. Acesso em 23 mai. 2017. PORTAL SÓ HISTÓRIA. Disponívelem: <http://www.sohistoria.com.br/ef2/paraqueserve/p3.php>. Acesso em 23 mai. 2017. PRITCHARD, Evans, E. E. Anthropology and history, in Essays in social anthropology. Londres: Faber and Faber, 1962. SOUZA, Evandro André de. Escola dos annales. Apostila de Processos Historiográficos. Indaial, 2006. SILVA, Pedro. As grandes correntes historiográficas: da antiguidade ao século XX. Disponível em: <http://historiaaberta.com.sapo.pt/lib/art001.htm>. Acesso em: 23 mai. 2017. http://www.ceedo.com.br/agora/agora9/historiaehistoriografia_umareflexaonecessar http://www.ceedo.com.br/agora/agora9/historiaehistoriografia_umareflexaonecessar UNIDADE 02 - FONTES, MÉTODOS E PESQUISA HISTÓRICA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS PARA O HISTORIADOR CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade, propomos que você se detenha aos objetivos enunciados sobre o conceito de fontes históricas. A partir do diálogo com a literatura, refletimos sobre o ofício do historiador em dominar métodos de interpretação em que as fontes devem ser criticadas e historicizadas. Como atividades práticas, você poderá explorar os roteiros propostos do uso da metodologia da história oral, da imprensa e da música como fontes e abordagens para a pesquisa histórica. ESTUDANDO E REFLETINDO 2.1 Fontes históricas: domínios e métodos de interpretação A História caracteriza-se pela longa luta do homem para compreender o meio em que atua e vive. A época atual tem evidenciado uma maior valorização da consciência dos fatos históricos. Deste modo, toda a manifestação humana, quer de cunho literário, quer proveniente da herança de uma memória coletiva, contém informações que devem ser estudadas e pesquisadas. Enfim, tudo o que o homem produz, ou produziu, torna-se objeto de reflexão e questionamento para o historiador. (VIEIRA, 1989). A história é construída e reconstruída a partir dos vestígios deixados por sociedades passadas e preservados pelo tempo. Os registros da experiência humana não estão somente em arquivos, museus e centros, mas por toda parte, ao alcance de todos, por isso é importante compreender o conceito de “fontes históricas”, como todas as formas de expressões construídas a partir das relações sociais vividas. A relação do historiador com as fontes é uma das bases sobre as quais se edifica a pesquisa histórica, pois: (...) as fontes são a matéria-prima básica do historiador, indispensáveis para a reconstituição do passado. Esta é uma construção do historiador, portanto, parte da operação historiográfica. O ponto de partida de uma pesquisa não é a análise de um documento, mas a formulação de um questionamento. A problematização das fontes é fundamental porque elas não falam por si são testemunhas, vestígios que respondem a perguntas que lhes são apresentadas. (ABREU, 2012). O conceito de fonte histórica ampliou-se significativamente, entendendo- as como vestígios de diversas naturezas deixados por sociedades do passado. Entretanto, o historiador deve dominar métodos de interpretação, entendendo que as fontes devem ser criticadas e historicizadas. Desde metade do século XIX, quando a História se estabelece como disciplina acadêmica, métodos rigorosos de análises foram impostos, privilegiando o documento escrito e oficial, pautando-se na autenticidade do documento, tendo este como o “relator da verdade”, do fato histórico em si. Essa concepção está intimamente ligada à escola metódica de preceitos positivistas, que acreditava que a comparação de documentos permitia reconstituir os acontecimentos do passado, desde que encadeados numa correlação explicativa de causas e consequências (JANOTTI, 2005, p.11). Após 1930, com a contribuição da escola dos Analles, influenciados pelas teorias de Karl Marx sobre a pretensa objetividade imparcial da história e o materialismo histórico, o fato descrito através dos documentos oficiais deixa de ser visto como portador de uma verdade irrefutável, uma vez que o fato histórico deveria ser construído pelo historiador a partir de uma conjunção entre o presente e o passado. Desta forma, o próprio sentido dado ao documento também se ampliou deixou de ser apenas o registro escrito e oficial e não importava mais a veracidade do documento. (SILVA, 2006, p.159) A pesquisa documental dentro do campo histórico é muito significativa porque a maior parte das fontes escritas é composta por documentos, sejam eles contemporâneos ou retrospectivos, também é de grande valia quando a pesquisa científica necessita de complementos, de informações adicionais, que, muitas vezes, são primordiais para desvendar novos aspectos sobre determinado assunto ou problema. Segundo Silva (2006): [...] a fonte histórica passa a ser a construção do historiador e suas perguntas, sem deixar de lado a crítica documental, pois questionar o documento não é apenas construir interpretações sobre eles, mas também conhecer sua origem, sua relação com a sociedade que o produziu. (SILVA, 2006, p.162) 2.2 Abordagens, problemas e novos objetos de estudo na história: roteiros de música, imprensa e história oral Na historiografia contemporânea foram colocadas em debate novas abordagens, novos problemas, novos objetos e destaca-se a ampliação das fontes para o estudo da história. Desde as apresentações enunciadas por Jacques Le Goff, Pierre Nora, Paul Veyne, Michel de Certeau, entre outros, temos que todos trouxeram contribuições para pensar a produção do conhecimento histórico e a Fonte escrita (manuscritas ou impressas) – livro, jornais, periódicos, atas, anais, relatórios governamentais, regulamentos, certidões, cardápios, atestados, leis, decretos, mensagens presidenciais, revistas, dados eleitorais, listas de preços, dados populacionais, orçamentos, prescrições médicas, letras de músicas, registros judiciais, correspondências, roteiros de filmes, diários, memórias. Fonte material e visual – vestígios arqueológicos, obras de arte, fotografias, caricaturas, cartazes, filmes, mapas, slides, cd-rom, reclames. Fonte oral – depoimentos, biografias, entrevistas, histórias de vida. apresentação de novos temas, como uma história do clima, da cozinha, do inconsciente, do cinema, das festas, do mito, etc. (JANOTTI, 2005, p.15). Para entendermos melhor essas novas abordagens e como o historiador deve trabalhar metodologicamente com estes objetos – apresentaremos roteiros de atividades para a problematização de músicas, o trabalho com a imprensa e a produção de pesquisa com análises de narrativas, ou seja, a história oral. BUSCANDO SABERES ROTEIRO DE ATIVIDADES PARA PROBLEMATIZAÇÃO DE MÚSICAS É importante lembrar que na caracterização, problematização ou análise de uma música, quem fala o tempo todo é o compositor (é com ele que estamos dialogando). Ele constrói a narrativa, seja através do desenho dos personagens, seja por situações, tensões, etc. O intérprete que não seja o compositor pode atribuir sentidos próprios à melodia e à letra. Os pontos a seguir buscam encaminhar a análise de músicas. Todavia, em cada novo material, dependendo da problematização, é possível acrescentar ou subtrair questões: 2- Identificar temas e questões presentes na letra/música. Exemplos: problemas sociais, ambientais, regionais etc. 1- Sinopse: (resumo reconstituindo tema, personagens e enredo geral do texto) ROTEIRO DE ANÁLISE DA IMPRENSA PERIÓDICA Para uma melhor compreensão deste tópico, elaboramos um roteiro técnico para análise da imprensa periódica. A apresentação sugerida a partir deste roteiro de conteúdos deve ser considerada como tendo dimensões simultâneas e 3- Análise da narrativa (muitas vezes a letra da músicaassume contornos de uma crônica.) a) Desenvolvimento e sequenciação: temporalidade da narrativa (linear, flashback, instantâneo, lenta); como na obra articula-se presente/passado/futuro. b) A construção dos personagens e a relação entre eles (se for o caso). c) Identificar conflitos e tensões da narrativa. Estes conflitos e tensões podem ser constituídos por meio de situações, personagens (perfil geral, atributos físicos, valores, etc.), ambiente, temporalidade, etc. d) Identificar o foco narrativo: procurar identificar a perspectiva do narrador, o que implica em lidar com o tempo da narrativa, desvendar se o narrador é implícito ou explícito, se fala através de um ou mais personagens. 4- Identificar temas, articulações, tensões e conflitos que o autor considera constitutivos do social. Qual a experiência prática que o autor vive e sua relação com o mundo. 5- Discutir a temporalidade do autor/compositor: como o compositor se relaciona com o seu tempo? Com quem polemiza? Com quem se solidariza? Como relaciona presente-passado- futuro? Articular a obra à experiência social do compositor. 6- Identificar como o compositor encaminha as seguintes questões: a) Constituições de sujeitos sociais, inclusive de si próprio e do público. Prestar atenção na relação que o autor estabelece com o público (autoritária ou dialógica). b) Construção de espaços sociais no mundo não ficcional da música; c) Construção de temporalidade em relação com o mundo não ficcional da música. A temporalidade expressa na letra. articuladas, não sendo tomados como etapas que possam sugerir hierarquização e sequência. Este roteiro faz parte das reflexões apontadas pelas autoras Heloisa de Faria Cruz e Maria do Rosário Cunha Peixoto, ambas as Professoras integram o Departamento de História da PUC-SP. 1- Identificação do Periódico Título: Subtítulo: Datas-Limites da publicação: Periodicidade: Classificação na Instituição: 2- Projeto Gráfico/Editorial Propõe indagar sobre a organização e distribuição de conteúdos nas diversas partes, assim como seus modos de articulação e expressão: Capas e Primeiras Páginas Partes e Cadernos Cadernos Especiais e Suplementos Edições Comemorativas Seções: Colunas Fixas e Assinadas Iconografia: ilustrações, charges, desenhos, gráficos Manchetes, Legendas, Colunagem e Frisos Anúncios e Publicidade B. Produção e Distribuição Propõe indagar sobre algumas outras dimensões da publicação relativas às suas formas de produção e distribuição, pensadas como processo social e não meramente técnico e que nos remetem aos grupos produtores, aos públicos leitores e às redes de comunicação que aí se constituem. Os grupos produtores remetem às forças sociais que conduzem a publicação e suas condições de produção. A análise das referências sobre circulação e distribuição propõe a reflexão sobre públicos leitores e redes de comunicação. B.1. Grupos Produtores Proprietários, Diretores, redatores e colaboradores. Condições Técnicas: tecnologias de produção e impressão, organização da redação e sucursais e serviços de apoio. B.2. Circulação e Distribuição Tiragem, Preço e Formas de Venda e Distribuição. Espaços de Circulação e Distribuição A partir destas análises é possível compreender as posições políticas defendidas pelo periódico, assim como de questões, sujeitos sociais, espaços e temas que prioriza para a agenda pública que remetem a correlação de forças e ao campo das lutas sociais do momento. Como espaço privilegiado de poder e mobilização da opinião pública, a imprensa atua sob normas e condições que expressam uma determinada correlação de forças com as quais interage de forma ativa. CRUZ, Heloísa de Faria & Maria do Rosário da Cunha Peixoto. Na oficina do historiador: Conversas sobre História e Imprensa. In: História e Imprensa. Revista Projeto História. São Paulo, SP: Educ, 2007. ROTEIRO DE ATIVIDADES PARA PROBLEMATIZAÇÃO DE HISTÓRIA ORAL A apresentação sugerida a partir deste roteiro de conteúdos sobre a metodologia de história oral deve ser considerada como tendo dimensões simultâneas e articuladas, não sendo tomados como etapas que possam sugerir hierarquização, sequência, ou proposta única. 1- Para a elaboração de um roteiro orientador para a coleta dos depoimentos, é interessante que você se detenha aos seguintes objetivos: • Ler obras (textos, livros) que focalizem de alguma forma o objeto de pesquisa (tema) a ser pesquisado; • Ter contato com pesquisadores que estejam trabalhando seu tema ou temas afins; • Assistir a filmes, vídeos, áudio visuais, que focalizem o fenômeno a ser pesquisado; • Realizar entrevistas informais com pessoas que tenham vivenciado ou sejam contemporâneas aos fenômenos que você pretende estudar; 2- Utilizar desde o início da pesquisa a ajuda do instrumento Diário de Campo (caderno) que deve ser elaborado diuturnamente registrando impressões, dicas, orientações e informações que nos sejam passadas das mais diferentes formas, desde a fase inicial do trabalho, em contatos profissionais e informais. 3- Elaborar sempre, durante a coleta do depoimento, a Ficha do Informante onde devem constar as seguintes informações: Nome do Informante e Apelido Data de Nascimento Escolaridade Profissão no Presente e no Passado (quando, geralmente, vivenciou só fatos que nos interessam) Escolaridade dos Pais Local de Residência Observações Complementares É aconselhável captar tais informações ao fim da gravação do depoimento, para evitar processos de intimidação do informante. 4- A Coleta de material: utilizar a gravação em vídeo ou CD, aconselha-se gravador digital que garante som de melhor qualidade. A coleta deve ser em lugar indicado pelo informante, que seja calmo para não haver interrupções. 5- Registros paralelos sobre a situação de coleta da entrevista devem ser feitos pelo pesquisador, em seus diários de campo, descrevendo o clima geral da entrevista, as interrupções, a disponibilidade ou não do entrevistado em conceder o relato, seus sentimentos durante a coleta, etc. Tais registros devem ser feitos logo após a realização da entrevista para que nenhum detalhe seja esquecido, os quais serão úteis na fase posterior de análise dos relatos. 6- Uso do vídeo para registro de depoimento é desaconselhável, a não ser que haja um longo contato anterior entre entrevistador e informante criando clima de muita confiança e permitindo que a presença da câmera de vídeo não venha tolher a espontaneidade do relato oral. O vídeo pode ser realizado, depois de várias sessões de coleta de depoimento oral, em novo depoimento, não excedendo a 10 minutos e versando sobre aspectos do tema que dominam melhor. 7- A duração das Sessões de Coletas de Depoimentos – não devem exceder uma hora e meia, pois após esse período tanto entrevistador como informante se cansam e o rendimento decai nitidamente. É aconselhável, sempre que necessário, marcar novas sessões, ao invés de alongar o período de cada uma delas. É aconselhável ouvir-se detidamente a gravação da 1ª entrevista antes da realização da 2ª, anotando pontos duvidosos e lacunas nas informações para completá-los na 2ª sessão de coleta de material. 8- Transcrições dos relatos O trabalho de transcrição das fitas gravadas deve ser realizado, preferencialmente, pelas mesmas pessoas que coletaram os depoimentos. Deve-se manter no texto escrito todas as informações constantes da gravação: erros de gramática, entonação de voz, gírias, dúvidas titubeios, expressões coloquiais, gaguejos, silêncios, emoções, etc. Deve-se escrever entre parênteses essas informações ou desenvolver um código de sinais para indicar esses pontos, os quais serão relevantes para a análise posterior do relato oral. A transcrição deve ser digitada em computador,a versão original arquivada, trabalhando para efeito de análise do relato com arquivos paralelos à transcrição. É sempre útil que o pesquisador revejam cuidadosamente o texto transcrito para captar todos os detalhes do mesmo e corrigir alguma possível má compreensão da fala do informante. 9- Organização dos Dados Coletados Os dados constantes das entrevistas ou depoimentos serão fichados por temas. Esses temas serão aqueles constantes do roteiro orientador acrescidos de outros, muitas vezes inesperados e originais, introduzidos pelos próprios informantes e incorporados ao roteiro inicial pelos pesquisadores. Nessa fase o pesquisador precisará ler o texto das entrevistas, seguidas vezes, para ser capaz de definir os diferentes temas que o informante aborda em sua fala. Esses temas são anotados nas margens do texto que depois será, via computador, transformado em vários arquivos temáticos. Os diferentes trechos serão parte de um arquivo contendo o nome do tema e anotando, antes de cada trecho incorporado, o nome do informante e a página da entrevista de onde ele foi retirado. Para realizar essa organização segue-se a ordem de realização das entrevistas, aparecendo em cada arquivo as falas do 1º, 2º e 3º entrevistado, na ordem em que foram coletadas. Um mesmo trecho de entrevista poderá conter informações interessando a um ou a mais arquivos temáticos. Ele deverá constar de cada um dos diferentes arquivos para poder ser analisado sob diferentes enfoques. 10- Análise dos Dados Coletados A análise final se fará por temas, comparando as informações e abordagens que possuímos anteriormente, resultantes da bibliografia, das leituras e dos contatos realizados com a versão fornecida pelos diferentes informantes entrevistados. Se na pesquisa as imagens fotográficas foram incorporadas como dados então elas também depois de analisadas e farão parte dessa comparação de dados empíricos. Nessa comparação aparecerão confirmações, negações, novos dados e novas maneiras de enfocar a realidade, que deverão ser interpretados pelos pesquisadores, tendo como pano de fundo o contexto social mais amplo, onde os fatos aconteceram, contexto esse fornecido pela bibliografia de apoio utilizada na pesquisa. 11- Elaboração do Roteiro Final O relatório final de pesquisa será elaborado de maneira mais fácil, seguindo a ordem temática organizada através das entrevistas. Exemplos: Como aparecem as transformações da cidade na fala dos moradores? O que mudou? Quais são as imagens projetadas por outras fontes (imprensa, fotografias) sobre isso? Os moradores compartilham as experiências com a visão oficial ou eles contestam? • Cabe ao historiador problematizar e confrontar as narrativas, produzidas a partir da fonte oral. REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS ABRÃO, Janete. Pesquisa & História. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. ABREU, Sandra Elaine Aires de. Pesquisa e análise documental. Disponível em: <http://www.unievangelica.edu.br/gc/imagens/noticias/1817/file/01.pdf>. Acesso em: 28 mai. 2017. ALBERTI, V. História oral: a experiência do CPDOC. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1990. ANDRADE, Celeste Maria Pacheco de. Ficção: Intérprete de realidade, fonte de pesquisa histórica. Disponível em: < http://www.anpuhba.org/anaisvencontro/C/Celeste_Maria_Pacheco_de_Andrade.p df>. Acesso em: 28 mai. 2017. CRUZ, Heloisa de Faria; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha. Na oficina do historiador: conversas sobre história e imprensa. Disponível em: < http://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/2221>. Acesso em 28 mai. 2017. JANOTTI, Maria de Lourdes. O livro Fontes históricas como fonte. In: Fontes históricas. PINSK, Carla Bassanezi (org). São Paulo: Contexto, 2005 SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes Von. Roteiro didático – Laboratório de História Oral. Disponível em: < http://www.unicamp.br/suarq/cmu/laho/roteiro.html>. Disponível em: 28 mai. 2017. SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, edição n. 2, 2006. VIEIRA, Maria do Pilar, PEIXOTO, Maria do Rosário, e KHOURY, Yara Aun. A Pesquisa em História. São Paulo, Ática, 1989. 159). UNIDADE 03 - O CAMPO DA HISTÓRIA: ABORDAGENS, TEMAS E LINHAS DE PESQUISA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade, o aluno encontrará algumas abordagens e temas que compõem as linhas de pesquisa em história. Conhecer estas linhas de pesquisa confere ao pesquisador um fio condutor, e poderá ajudá-los a articular as atividades do programa, conferindo-lhe suporte e tarefas. ESTUDANDO E REFLETINDO Dentro do universo do historiador, a escolha do tema da pesquisa é de suma importância, pois é ele que orienta o objetivo geral do estudo; quando bem elaborada a pesquisa contribui para o desenvolvimento científico e o ensino da História, fazendo uma conexão entre ensino, extensão e pesquisa. As linhas de pesquisa são, portanto, indicativas da construção e definição gradual que se busca imprimir ao eixo temático na medida em que se conferem coerência de propósitos à investigação científica. Servem de fio condutor, de vetores aptos a articular organicamente as atividades do programa, conferindo-lhe suporte e substância. A linha de pesquisa é uma indicação de tarefas, são pressupostos, mas pressupostos heurísticos e que, no caso do historiador, têm muito a ver com as fontes e não com escolhas técnicas a priori. (CIAMPI, 2000). Cada pesquisador deve, dentro de suas preferências, escolher uma área com a qual ele se identifique para que esta seja investigada, de qualquer forma o mais importante é que o estudo seja pertinente e que traga novos conhecimentos para o historiador e que contribua de alguma forma para gerar conhecimento. Importante salientar que as sugestões aqui propostas são apenas exemplos e que as possibilidades de estudo não se esgotam. A seguir serão apresentadas diversas sugestões de estudo dentro do campo histórico. Teoria e Historiografia • As pesquisas destinadas a esta linha de estudo enfatizam a história da história, a história dos conceitos e análises focadas em questões teóricas. Uma de suas diretrizes reside na investigação das diferentes concepções de cultura e de suas interfaces com outros conceitos e noções que operam no campo da história. História Social História Social da Cultura • Tem como objetivo desenvolver uma reflexão metodológica, política e historiográgica sobre o universo da cultura centrada nos sujeitos históricos e em sua diversidade, dando ênfase aos confrontos culturais presentes em diferentes espaços e práticas sociais. • O estudo pode ser destinado tanto para assuntos como escravidão, pós-escravidão e a história dos índios (desenvolvimento de estudos sobre a trajetória histórica e sociocultural dos povos nativos da América, desde o período pré-colonial até os dias de hoje, essa abordagem pode ser associada também à antropologia). Outro aspecto interessante é o folclore, as tradições festivas e coletivas de rua que ajudaram a compor a identidade brasileira. História Social do Trabalho • Tem como foco a experiência dos trabalhadores urbanos e rurais em sua diversisdade, dando ênfase aos diferentes aspectos presentes no trabalho como os processos produtivos, as relações de produção no local de trabalho, a organização dos trabalhadores, movimentos sociais, movimentos de migração, o cotidiano do trabalhador (condições de vida, práticas, lazer e moradia), os projetos e disputas políticas, assim como as relações dos trabalhadores com as intituições e espaços públicos. História da Arte Estudo das Tradições Clássicas • Este estudo tem como objetivo traçar uma trajetória dos temas clássicos relacionados à historiografia da arte, arte antiga e medieval, projeções e pesquisas sobre o renascimento,literatura artística, história das técnicas artísticas, todas as pesquisas podem ter origem desde a antiguidade até os dias atuais. História da Arte Moderna e Contemporânea • Tem como foco os temas que caracterizam os problemas centrais do domínio da arte e da cultura, do Renascimento aos nossos dias. São áreas de concentração de estudo: a história da Arquitetura, a renovação das formas culturais e artísticas, o iluminismo e as tradições do século XVIII, a modernidade artística do século XIX, as questões ligadas às experiências formais das vanguardas e das produções paralelas, história da crítica de Arte, e também as formas culurais artísticas ligas ao surgimento da Contra- Reforma e do Absolutismo. História Cultural • Volta-se ao estudo e definição dos vários temas que circunscrevem o campo, as questões, as dimensões e os agentes do universo cultural. São temas propostos: a história cultural das religiões, o papel da igreja na normatização de condutas e sua relação de poder, correntes historiográficas nacionais e internacionais como produções culturais, gêneros, subjetividades, cartografias e cultura material, investigação de formas históricas de manifestação de poder e dos contra-poderes (relacionados à classe, gênero, raça e etnia). Cidadania, Política, Memória e Cidade Cultura, Cidade e Patrimônio • Envolve a pesquisa sobre o universo urbano, a sociedade moderna e a construção da história das cidades a partir de várias áreas de estudo. Trabalha a representação das cidades pelos meios de comunicação e pela produção artística, além de questões relativas aos processos de presentes na formação do patrimônio histórico e artístico. Estuda também a cidade e o espaço urbano a partir da perspectiva histórica em toda a sua complexidade. Politica, Cultura e Memória • Essa linha contempla temas como as manifestações do pensamento político, as situações históricas que exteriorizaram pensamentos e práticas, a análise de práticas políticas como governabilidade (indivíduo, liberdade, trabalho, revoluções, Estado, partidos, entre outros assuntos), simbologia, e representações culturais presentes neste meio (fotografia, literatura, cinema e ilustrações), a pesquisa abrange também os estudos sobre os vínculos entre a memória e a história, levando-se em conta tanto os aspectos multidisciplinares para o trabalho com a memória, como as formas de apropriação recíprocas da memória pela história. Cidadania e Direitos • Reúne trabalhos voltados para pesquisas empíricas e discussões teóricas sobre a construção da cidadania no Brasil. Também estão presentes neste tema as pesquisas sobre a relação entre as noções de cidadania e de identidade nacional e o estudo dos processos de afirmação e de apropriação de direitos políticos, sociais, culturais e civis. Estado, Imprensa e Poder Mídia e Poder • Tem como objetivo descrever a produção dos meios de comunicação de massa e as esferas de participação política da sociedade. Outros aspectos focados são o papel da mídia na agenda política, a constituição da opinião pública e as contribuições dadas pela imprensa ao estudo historiográfico. Também pode estudar a compreensão da estrutura gerencial e de tomada de decisões das empresas de comunicação e a efetivação de controles democráticos e de instituições capazes de garanti-los. Estado e Poder • O objetivo desta área é estudar as práticas sociais relacionadas ao Estado e ao Poder. O Estado é visto sob a ótica das relações estabelecidas entre os agentes sociais e o poder é entendido como algo amplo, vindo das mais variadas organições da sociedade civil. Movimentos Sociais e Instituições • Esta linha de pesquisa tem como foco os movimentos sociais, sejam eles no campo ou na cidade, assim como as instituições do estado (como governo, exército, assembleias legislativas) ou da sociedade civil (associações, sindicatos, organizações religiosas e políticas). As análises têm como referência a noção de fronteira, da forma mais abrangente, incorporadas a fatores de gênero, culturais, étnicos, políticos, religiosos, sociais, entre outras. • Esta área de estudo se desenvolve em meio a um intenso diálogo entre a História e as Ciências Sociais e mediante a valorização de diversas tipologias documentais, como as fontes orais, imagéticas, manuscritas e/ou impressas. História Ambiental • A História Ambiental tem como objetivo a pesquisa na reconstrução de ambientes naturais do passado, estudo dos modos humanos de produção e seu impacto sobre o ambiente e a análise da história das ideias, das percepções e dos valores sobre o mundo natural. • Para fazer um estudo nesta área, muitas vezes faz-se necessária uma integração com conhecimentos de outras áreas como geografia, ecologia, biologia ou geologia. História Ambiental e Desastres • Objetiva a pesquisa de desastres naturais e tecnológicos na história e como estes eventos impactaram as relações entre humanos e a natureza. Ciência e Natureza • Objetiva a leitura histórica da híbris tecnológica em torno dos mais variados processos de "domesticação" do mundo natural. História Ambiental e Gênero • Enfoca as relações sobre o meio ambiente e as diferenças de percepção do mundo natural entre homens e mulheres e como são as preocupações e repercussões ambientais nos diversos setores da sociedade. História Regional • Esta linha de pesquisa visa compreender e identicar os processos históricos do desenvolvimento de uma determinada região por meio de fatores históricos, culturais, socioambientais, políticos, geográficos e econômicos. BUSCANDO SABERES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CIAMPI, Helenice. A história pensada e ensinada: da geração das certezas à geração das incertezas. São Paulo: EDUC, 2000. Para a construção desta unidade foram utilizadas áreas de pesquisa oferecidas pelos programas de pós-graduação de algumas universidades; existem várias outras áreas, porém, aqui, está apenas uma pequena amostra. Fica a dica ao aluno que quiser saber mais, para que visite alguns sites, como os sugeridos abaixo: UUNIFESP: http://humanas.unifesp.br/novo/index.php?option=com_content&task=view&id=73&Itemid=57 UUFPA: http://www.ufpa.br/pphist/index.php?option=com_content&view=article&id=49&Itemid=59 FFGV: http://cpdoc.fgv.br/pesquisa/linhas UUFRRJ: http://www.ufrrj.br/posgrad/cphistoria/linha.php UUFSC: http://ppghistoria.ufsc.br/linhas/ UUnisinos: http://www.unisinos.br/mestrado-e-doutorado/historia/linhas-de-pesquisa UUFPR: http://www.humanas.ufpr.br/portal/historiapos/linhas-de-pesquisas/ FFURG: http://www.poshistoria.furg.br/index.php?option=com_content&view=article&id=25&Itemid=24 UUSP: http://www.historia.fflch.usp.br/posgraduacao/hs http://humanas.unifesp.br/novo/index.php?option=com_content&task=view&id=73&Itemid=57 http://www.ufpa.br/pphist/index.php?option=com_content&view=article&id=49&Itemid=59 http://cpdoc.fgv.br/pesquisa/linhas http://www.ufrrj.br/posgrad/cphistoria/linha.php http://ppghistoria.ufsc.br/linhas/ http://www.unisinos.br/mestrado-e-doutorado/historia/linhas-de-pesquisa http://www.humanas.ufpr.br/portal/historiapos/linhas-de-pesquisas/ http://www.poshistoria.furg.br/index.php?option=com_content&view=article&id=25&Itemid=24 http://www.historia.fflch.usp.br/posgraduacao/hs UNIDADE 04 - A ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA HISTÓRICA CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Nesta unidade, conheceremos como é elaborado e estruturado um projeto de pesquisa. Colocamos à disposição os principais tópicos que compõem um projeto de pesquisa, como: tema, objetivos, problema, cronograma, dentre outros aspectos importantes que darão suporte para que o aluno crie seu projeto de forma concisa. ESTUDANDO E REFLETINDO 4.1 O que é um projeto de pesquisaUm projeto de pesquisa consiste numa apresentação detalhada e sistemática das nossas intenções de investigação histórica. Nele, apresentamos nossos planos de estudo para uma banca examinadora que, além de aprovar, sanciona e (se for o caso) também financia o empreendimento da pesquisa. O projeto de pesquisa, portanto, é uma espécie de diálogo entre um jovem pesquisador e a comunidade profissional na qual ele quer ingressar. Ambos conversam sobre as novas formas e possibilidades de investigação da história e, principalmente, sobre a plausibilidade dessas investidas inéditas. O problema é que todo esse diálogo possui um formato. Quer dizer, ele não é livre. E, embora admita fartas doses de coloquialidade, obedece a certas regras de apresentação. Então, é exatamente isso que você vai encontrar aqui: um guia que o ajudará a confeccionar seu primeiro projeto de pesquisa. (CORTES, 2003). A pesquisa é desenvolvida por meio de conhecimentos disponíveis, com base em métodos, técnicas e outros procedimentos científicos. A pesquisa envolve diversas fases, que vão desde a formulação do problema até a apresentação dos resultados. (Gil, 2002). Há duas classificações que determinam uma pesquisa: O projeto de pesquisa se torna importante porque apresenta um conjunto de ações a serem realizadas durante uma pesquisa. 4.2 A estruturação de um projeto De acordo com Silva (2004) e Cardoso (2012), um projeto de pesquisa deve conter: • Identificação do Problema de Pesquisa - Identificação do Problema de Pesquisa - Definição do tema e título - Objetivos - Justificativa - Hipótese - Método Científico - Cronograma - Orçamento Razões de ordem intelectual – desejo de conhecer pela própria satisfação de conhecer. Razões de ordem prática – desejo de conhecer com vistas a fazer de maneira mais eficiente e eficaz. O problema de pesquisa surge quando o historiador se interessa por determinada área de estudo e este deseja investigar um assunto ainda não muito difundido ou para acrescentar informações a estudos já existentes (quando, por exemplo, o pesquisador esteja em desacordo com algum conhecimento ou teoria existente). O problema consiste em uma dificuldade específica com a qual o pesquisador por meio da pesquisa pretende resolver. Ele deve ser proposto de forma clara e compreensível e que tenha uma solução proposta dentro de padrões científicos. • Definição do tema e título Com relação a este item, segundo Cardoso (2012), devem ser avaliados quatro critérios fundamentais: 3- Critério da originalidade – Cada atividade concreta de pesquisa deve contribuir com algo novo ao corpo do saber. Deve-se levar em consideração se o tema trabalhado ainda não foi pesquisado, pois isso torna possível um preenchimento nas lacunas do conhecimento, ou até mesmo propor novas soluções para problemas já estudados. 4- Critério de interesse pessoal – O pesquisador tem melhor rendimento ao trabalhar com assuntos que lhe interessam. Convém, pois, no projeto de pesquisa, especificar a natureza e a origem do interesse pessoal sobre o tema estudado. 1- Critério de Relevância – O tema deve ser “importante”, ter relevância social e científica. 2- Critério de viabilidade – Não basta que um tema seja interessante e válido, também é preciso que seja possível pesquisá-lo com os recursos a que se tem acesso, sejam eles financeiros, humanos ou de disponibilidade de tempo. • Objetivos Os objetivos devem ser descritos de maneira breve e clara, pois isso facilita muito a leitura e o entendimento do projeto até mesmo por um não especialista. Podem ser subdivididos em: • Justificativa A justificativa apresenta respostas à questão: por quê? É um item muito importante, pois se ela estiver bem construída e embasada, a pesquisa terá uma maior aceitação por parte do leitor. Ela pode ser descrita como uma apresentação resumida e breve “das razões de ordem teórica e dos motivos de ordem prática que tornam importante a realização da pesquisa.” (CARDOSO, 2012) Para ajudar na construção de uma justificativa bem elaborada, o autor destaca os seguintes pontos a serem descritos: • Hipótese A hipótese tem o mesmo significado de suposição. A hipótese pode ser definida como uma suposição, que tente responder ao problema de pesquisa. Funciona como uma pré-solução para o problema proposto; com base nisto, o 1- Como se encontra a teoria a respeito do tema estudado. 2- As contribuições teóricas trazidas pela pesquisa. 3- A importância do tema. 4- A possibilidade de sugerir mudanças a estudos já existentes. 5- A descoberta de soluções para casos gerais e/ou particulares. Gerais – Uma visão global e abrangente do tema. Específicos – Um maior detalhamento e descrição dos objetivos gerais. projeto de pesquisa poderá confirmar ou negar a hipótese levantada pelo pesquisador. A hipótese pode ter diversos focos de forma que o pesquisador possa, por meio dela, analisar e obter novos conhecimentos. As hipóteses possuem algumas classificações: • Método Científico A metodologia depende basicamente do tema escolhido, da teoria inicial, das hipóteses, dos documentos disponíveis e da escolha dos métodos e técnicas de análise mais adequada a cada pesquisa. Partindo da concepção que método é um procedimento ou caminho para alcançar determinado fim e que a finalidade da ciência é a busca do conhecimento, pode-se dizer que o método científico é um conjunto de procedimentos adotados com o propósito de atingir o conhecimento. (DIAS; FERNANDES, 2000) De acordo com Almeida (2012), a metodologia de pesquisa apresenta algumas especificações: Frequência de acontecimentos – Apresentação de características que ocorrem com maior e menor frequência em determinado grupo, sociedade ou local. Hipóteses que estabelecem relação de associação entre variáveis – Podem apresentar variações, diferentes valores, são mudáveis, inconstantes. Hipóteses que estabelecem relação de dependência entre duas ou mais variáveis – Variáveis que interferem em outra, o que gera uma dependência (assimetria) entre as variáveis. Casuísticas – São compostas de casos únicos, quando são apresentadas características de um objeto, uma pessoa ou um determinado fato específico. • Cronograma O cronograma pode ser definido como a especificação do tempo que se pretende utilizar em cada fase do processo da pesquisa. Ele pode ser elaborado em forma de quadro, como podemos verificar neste modelo elaborado por Cardoso (2012). Método indutivo – Método empirista, o qual considera o conhecimento como baseado na experiência. Método hipotético dedutivo – Enquanto o método dedutivo procura confirmar a hipótese, o hipotético‐dedutivo procura evidências empíricas para derrubá‐las. Método dialético – Considera que os fatos não podem ser considerados fora de um contexto social; as contradições dão origem a novas, que requerem soluções. Método fenomenológico – Preocupa-se com a descrição direta da experiência como ela é; a realidade é construída socialmente e entendida da forma que é interpretada. Método dedutivo – Pressupõe a razão com a única forma de chegar ao conhecimento verdadeiro. • Orçamento O orçamento descreve quais serão os recursos necessários para a realização da pesquisa. É feita uma relação de materiais a serem utilizados, bem como do custo de cada um deles, como, por exemplo, xerox, papel, aquisição de livros, entre outros fatores. BUSCANDO SABERES Como sugestão de consulta para ampliação do conhecimento, sugere-se o Guia Prático de Metodologia e Organização doprojeto de pesquisa, elaborado por Cassandra Ribeiro Silva, que contém esquemas e sínteses sobre os principais pontos a serem descritos em um projeto de pesquisa. O guia pode ser encontrado no endereço http://www.ufop.br/demet/metodologia.pdf http://www.ufop.br/demet/metodologia.pdf REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS ALMEIDA, Maurício B. Noções básicas sobre metodologia de pesquisa científica. Disponível em: <http://mba.eci.ufmg.br/downloads/metodologia.pdf>. Acesso em 27 mai. 2017. CARDOSO, Ciro Flamarion S. Como elaborar um projeto de pesquisa. Disponível em: < http://www.historia.uff.br/stricto/files/CARDOSO_Ciro_Como_elaborar_projeto_pes quisa.pdf>. Acesso em: 26 mai. 2017. CORTES, Norma. Como escrever um projeto de pesquisa em história. Disponível em: < http://pt.scribd.com/doc/43621842/CORTES-Norma-Como-escrever-um- projeto-de-pesquisa-em-historia>. Acesso em: 26 mai. 2017. DIAS, Claudia; FERNANDES, Denise. Pesquisa e método científico. Disponível em: < http://www.reocities.com/claudiaad/pesquisacientifica.pdf>. Acesso em: 26 mai. 2017. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2007. SILVA, Cassandra Ribeiro de O. Metodologia e Organização do projeto de pesquisa (Guia Prático). Disponível em: < http://www.ufop.br/demet/metodologia.pdf>. Acesso em: 26 mai. 2017. Av. Ernani Lacerda de Oliveira, 100 Parque Santa Cândida CEP: 13603-112 - Araras / SP (19) 3321-8000 ead@unar.edu.br www.unar.edu.br 0800-722-8030 POLO EAD MATRIZ http://www.unar.edu.br http://www.unar.edu.br http://www.unar.edu.br http://www.unar.edu.br http://www.unar.edu.br http://www.unar.edu.br http://www.unar.edu.br http://unar.info/ead http://www.unar.edu.br http://www.unar.edu.br Página 1 Página 2
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