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1 CURSO: Engenharia de Produção DISCIPLINA: Gestão da Inovação PROFESSOR: ANTONIO IACONO Aula 9 Políticas Públicas e Financiamento para a Inovação Meta Nesta aula vamos apresentar e discutir o papel das políticas públicas na promoção da inovação. Objetivos O objetivo principal desta aula é mostrar a importância e o papel das políticas públicas para a inovação. Para isso, vamos explorar os seguintes pontos: • Identificar de que maneira as políticas públicas podem influenciar as empresas; • Apresentar os principais mecanismos de financiamento e incentivos à inovação no Brasil. Após esta aula, você será capaz de: • Compreender o papel das políticas públicas para a promoção da inovação; • Identificar os principais programas de apoio e financiamento voltados para a inovação no Brasil. 2 Introdução Temos buscado ao longo dos capítulos mostrar a dinâmica da inovação, e por meio de suas várias abordagens compreender seus diferentes aspectos. Fundamentalmente, vimos que o desenvolvimento tecnológico e o sucesso da inovação são influenciados por fatores internos e externos à organização. Pudemos também evidenciar que a promoção da inovação envolve um conjunto de atores e agentes econômicos. A interação entre empresas e instituições geradoras de conhecimento são cruciais para seu sucesso. Todavia, as interações, apesar de fundamentais, não são suficientes para promover a inovação. Dada a incerteza, inerente de seus processos, e aos elevados custos, a inovação vai exigir graus elevados de investimento e apoio. É nesse contexto que o Governo, por meio do financiamento e de políticas públicas de apoio, passa a ter um papel fundamental na promoção da inovação no país. As políticas públicas de apoio à inovação são conhecidas como Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação (PCTI). Neste capítulo vamos discutir a importância e o papel das políticas públicas para a promoção da inovação e apresentar as principais ações de PCTI adotadas pelo Brasil a partir dos anos 2000. 1. A importância e o papel das políticas públicas para a inovação As experiências históricas de crescimento econômico sustentado têm relacionado um conjunto de instituições complementares e políticas públicas. Um elemento fundamental dos países que conseguiram sucesso semelhante aos dos países líderes, reside no apoio do governo ao processo de catching- up, envolvendo várias formas de proteção e subsídios diretos e indiretos (IACONO, 2015). Corroborando este entendimento, Cassiolato e Lastres (2014) afirmam que em países de industrialização tardia, como o Brasil, a política se faz necessária, em especial, por dois fatores: primeiro, porque as situações de atraso se caracterizam pela ausência de elos centrais na estrutura produtiva e institucional. Tal condição exige uma ação estruturante do Estado para induzir (ou mesmo assumir a responsabilidade direta por meio de empresas estatais) a rachel Highlight rachel Highlight rachel Highlight rachel Highlight 3 montagem de determinados setores na matriz produtiva, envolvendo uma ruptura radical das rotinas preexistentes. Segundo, porque é necessário criar capacitações nas atividades essenciais para a existência da produção industrial. As políticas públicas podem influenciar as empresas tanto internamente quanto do ponto de vista externo. Internamente, as políticas públicas podem impactar significativamente no processo de aprendizado tecnológico, por meio de políticas industriais, de comércio e de ciência e tecnologia. Externamente, as políticas públicas influenciam as interações das organizações tanto do ponto de vista de mercado internacional, por exemplo, ao regulamentar o fluxo de tecnologias estrangeiras, como no de mercado doméstico, quando, por exemplo, agem sobre as instituições de apoio nacionais e sobre a qualidade das instituições educacionais. Em outras palavras, essas políticas definem os ambientes macroeconômicos em que as empresas operam, afetando de maneira direta e indireta no processo de aprendizado tecnológico (KIM, 2005) As políticas públicas têm sido importantes elementos estratégicos de desenvolvimento nacional, especialmente em países em processo de catching- up, com apoio e promoção do processo de aprendizado tecnológico (CIMOLI et al., 2006). Os diferentes domínios de intervenção das políticas, e como eles se projetam em diferentes medidas de políticas estão representados no Quadro 1, a seguir. Vale destacar que nos dias de hoje os países desenvolvidos apresentam elevados graus de intervenção, sejam eles conscientemente concebidos como políticas industriais ou não. As políticas influenciam na construção das capacidades tecnológicas das empresas e o ritmo em que elas conseguem aprender. Podemos afirmar que combinações adequadas de políticas podem promover novas trajetórias de desenvolvimento. rachel Highlight rachel Highlight rachel Highlight 4 Quadro 1: Áreas de intervenção e medidas de políticas Áreas de intervenção de políticas Medidas de políticas (i) Oportunidades de inovação científica e tecnológica Políticas científicas, cursos de pós-graduação, projetos tecnológicos “de fronteira”. (ii) Aprendizado e aptidões tecnológicas socialmente distribuídos. Políticas educacionais e de treinamento em sentido amplo. (iii) Medidas de apoio direcionadas à indústria, afetando, por exemplo, os tipos de firmas, etc. – primordialmente a estrutura, a propriedade e as formas de governança das firmas mercantis (locais versus estrangeiras, empresas de propriedade familiar versus companhias de capital aberto, etc.) Da formação de empresas de propriedade do Estado à privatização das mesmas, das políticas para “campeões nacionais” a políticas que afetam os investimentos de empresas transnacionais, passando por toda a legislação relativa à governança empresarial. (iv) As capacidades dos agentes econômicos (em primeiro lugar as formas mercantis) em termos de conhecimentos tecnológicos incorporados a eles, a eficiência e velocidade com que buscam o acesso a novos avanços tecnológicos e organizacionais, etc. Cf. especialmente os pontos (ii), (iii) e também as políticas de P&D e políticas que afetam a adoção de novos equipamentos, etc. (v) Os sinais e os incentivos econômicos percebidos pelos agentes com fins lucrativos (incluindo preços e taxas de lucratividade reais e esperados, condições para a apropriabilidade de inovações, barreiras à entrada, etc.) Regulações de preços, tarifas e quotas no comércio internacional, regimes de Direitos de Propriedade Intelectual, etc. (vi) Mecanismos de seleção (superpostas às acima mencionadas). Políticas e legislação antitruste e que regulam a concorrência, o ingresso no mercado e as falências; alocação de financiamento; mercados para propriedade empresarial, etc. (vii) Padrões de distribuição de informações e de interação entre os diferentes tipos de agentes, tais como clientes, fornecedores, acionistas, administradores, trabalhadores, bancos etc.) Governança dos mercados de trabalho, dos mercados de produtos, relações entre os bancos e o setor produtivo, etc., passando por todos os arranjos coletivamente compartilhados para o controle e a mobilidade do compartilhamento de informações no interior das firmas, formas de cooperação e concorrência entre as firmas rivais, etc. Fonte: Cimoli et al. (2006) Podemos afirmar então, que as intervenções governamentais são de grande importância para determinar a estrutura e a capacitação tecnológica das empresas. Suas ações têm por objetivo compensar falhas de mercado na construção das capacidades necessárias para o desenvolvimento industrial. O Estado, nesses termos, possibilita a competição de sua indústria em setores de maior conteúdo tecnológico, possibilitando a ampliação do mercado egeração de externalidades. rachel Highlight 5 2. Políticas recentes de Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil Conforme já destacamos, as intervenções governamentais são de grande importância para determinar a estrutura e a capacitação tecnológica das empresas. Elas são necessárias para superar falhas de mercado na construção das capacidades necessárias para o desenvolvimento industrial. O Estado, nesse sentido, pode impulsionar sua indústria a competir em setores de maior conteúdo tecnológico, promover um maior ciclo de aprendizagem e possibilitar a ampliação do mercado e geração de externalidades. A política de ciência e tecnologia, centrada na inovação, tem início no final da década de 1990. Há o reconhecimento da importância dos investimentos em ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento do país. Mas é a partir dos anos 2000 que as políticas de inovação passam a ser mais efetivas. É importante destacar que anteriormente a esse período, havia no Brasil também uma política tecnológica, só que baseada no modelo de substituição de importações e com barreiras à entrada de produtos de outros países. Esse modelo trouxe um importante benefício como o do desenvolvimento de um sólido parque industrial, mas por outro lado houve pouco desenvolvimento tecnológico quando comparado ao da fronteira tecnológica. Como consequência, quando o mercado se abriu, na década de 1990, a indústria brasileira encontrava-se distante do cenário competitivo internacional. Sendo assim, surge a necessidade de se criar uma política que incentivasse a pesquisa e estimulasse o setor empresarial a investir e desenvolver novas tecnologias para o mercado internacional. Início do Box de explicação Substituição de importações, em economia, é um processo que leva ao aumento da produção interna de um país e a diminuição das suas [importações] . Ao longo da história econômica mundial, os processos de substituição de importações foram desencadeados por fatores políticos ou econômicos, e foram resultado de ações planejadas ou imposição das circunstâncias. Suas principais ideias são "Produzir internamente tudo aquilo que antes era importado ou aquilo que iríamos importar", fomentando a indústria nacional. https://pt.wikipedia.org/wiki/Economia rachel Highlight rachel Highlight 6 O processo de substituição de importações, quando fruto de política econômica, é geralmente obtido por controle de taxas de importação e manipulação da taxa de câmbio. Entre as décadas de 1960 e 1970 a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) defendia que o desenvolvimento das economias do Terceiro Mundo passava pela adoção da política de substituição de importações. Esta política permitiria a acumulação de capitais internos que poderiam gerar um processo de desenvolvimento autossustentável e duradouro. No Brasil a política de substituição de importações foi implementada com o objetivo de desenvolver o setor manufatureiro e resolver os problemas de dependência de capitais externos. Muitos analistas acreditam que a recente fase de prosperidade das economias asiáticas é resultado da adoção de políticas que estimularam a substituição de importações e que permitiram o desenvolvimento de uma indústria voltada para a exportação... A substituição das importações foi implantado em muitos países da América Latina, como o Brasil, o México, a Argentina e na África, a África do Sul. Tais países viram na industrialização por substituição de importações a grande chance para evoluírem tecnológica e socialmente. Aproveitando para explorar uma grande quantidade de mão-de-obra barata e desqualificada, as transnacionais se instalaram e se beneficiaram de políticas de isenções de tributos, sem a pressão de sindicatos, leis ambientais ou conflitos étnicos. Tais países, grande territorialmente e ricos em recursos minerais e energéticos, conseguiram avançar tecnologicamente mas ficariam à mercê das decisões externas do FMI e do BIRD e das oscilações do mercado externo que ditavam de fora os passos para o tratamento das políticas sociais. De fato, foi um período de crescimento econômico destes países e de grande avanço tecnológico. Mesmo assim, não foi suficiente para proporcionar uma efetiva redução dos índices de desigualdades sociais internas. Países como Brasil e México alcançaram um nível de desenvolvimento econômico e tecnológico suficiente para serem classificados como países subdesenvolvidos https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_econ%C3%B4mica https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_econ%C3%B4mica https://pt.wikipedia.org/wiki/Taxa_de_c%C3%A2mbio https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1960 https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%A9cada_de_1970 https://pt.wikipedia.org/wiki/Comiss%C3%A3o_Econ%C3%B4mica_para_a_Am%C3%A9rica_Latina_e_o_Caribe https://pt.wikipedia.org/wiki/Comiss%C3%A3o_Econ%C3%B4mica_para_a_Am%C3%A9rica_Latina_e_o_Caribe https://pt.wikipedia.org/wiki/Terceiro_Mundo https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%BAstria https://pt.wikipedia.org/wiki/Tigres_asi%C3%A1ticos https://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%BAstria https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica_Latina https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica_Latina https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9xico https://pt.wikipedia.org/wiki/Argentina https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81frica https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81frica_do_Sul https://pt.wikipedia.org/wiki/Transnacionais https://pt.wikipedia.org/wiki/Incentivo_fiscal https://pt.wikipedia.org/wiki/Sindicato https://pt.wikipedia.org/wiki/Recursos_minerais https://pt.wikipedia.org/wiki/Recursos_minerais https://pt.wikipedia.org/wiki/Recursos_energ%C3%A9ticos https://pt.wikipedia.org/wiki/FMI https://pt.wikipedia.org/wiki/BIRD https://pt.wikipedia.org/wiki/Mercado_externo https://pt.wikipedia.org/wiki/Mercado_externo https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_social https://pt.wikipedia.org/wiki/Desigualdades_sociais https://pt.wikipedia.org/wiki/Desenvolvimento_econ%C3%B4mico https://pt.wikipedia.org/wiki/Pa%C3%ADses_subdesenvolvidos rachel Highlight 7 industrializados tardiamente ("países emergentes") e com grandes desigualdades sociais e alto custo ambiental. Fonte: Wikpédia, 2018 Fim do Box de explicação Em 2003, então, a fim de se promover o progresso técnico e a competição internacional, é elaborada a Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação – PNCT&I, sob coordenação do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Vale destacar que a PNCT&I surge como uma nova abordagem, caracterizada pela alocação de recursos públicos em atividades empresariais voltadas para a inovação, em especial, pelas agências de fomento CNPq (Conselho Nacional e Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Além do CNPq e Finep, outra importante fonte de financiamento para a inovação é o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Como muitos países, o Brasil utiliza um conjunto de instrumentos de apoio à P&D e inovação, dentre os quais podemos destacar os incentivos fiscais e subvenções, considerados apoios diretos e indiretos, respectivamente. Início do Verbete Incentivo fiscal fazem parte do conjunto de políticas econômicas que visam a facilitar o aporte de capitais em uma determinada área através da cobrança de menos impostos ou de sua não cobrança, visando ao aquecimento econômico do respectivo território principalmente com capitais exógenos (de fora). Aparece frequentemente na forma de isenção fiscal. Subvenção é um auxílio pecuniário, em geral concedido pelo poder público. É uma modalidade de transferência de recursos financeiros públicos, para instituições privadas e públicas, de caráter assistencial, sem fins lucrativos, com o objetivo de cobrir despesas de seus custeios. Fonte: Wikpédia, 2018 Fimdo Verbete De acordo com MCT (2007), as prioridades estratégicas da PNCT&I podem ser resumidas em quatro eixos, conforme mostrado, a seguir: a) Expansão e Consolidação do Sistema Nacional de C,T&I: expandir, integrar, modernizar e consolidar o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e https://pt.wikipedia.org/wiki/Pa%C3%ADses_emergentes https://pt.wikipedia.org/wiki/Desigualdades_sociais https://pt.wikipedia.org/wiki/Pol%C3%ADtica_econ%C3%B4mica https://pt.wikipedia.org/wiki/Capital_(economia) https://pt.wikipedia.org/wiki/Imposto https://pt.wikipedia.org/wiki/Isen%C3%A7%C3%A3o_fiscal https://pt.wikipedia.org/wiki/Dinheiro https://pt.wikipedia.org/wiki/Poder_p%C3%BAblico rachel Highlight rachel Highlight rachel Highlight rachel Highlight rachel Highlight 8 Inovação (SNCTI); b) Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas: intensificar as ações de fomento à inovação e de apoio tecnológico nas empresas. Acelerar o desenvolvimento de um ambiente favorável à inovação nas empresas; c) Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Áreas Estratégicas: fortalecer as atividades de pesquisa e inovação em áreas estratégicas para a soberania do País; e d) Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Social: promover a popularização e o aperfeiçoamento do ensino de ciências nas escolas, bem como a produção e a difusão de tecnologias e inovações para a inclusão e o desenvolvimento social. Quadro 2: Prioridades estratégicas, linhas de ação e programas da PNCT&I Prioridades estratégicas Linhas de ação e programas Expansão e Consolidação do Sistema Nacional de C,T&I: 1. Consolidação institucional do Sistema Nacional de C,T&I • Consolidação institucional do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) 2. Formação de recursos humanos para C,T&I • Formação, qualificação e fixação de recursos humanos para C,T&I. 3. Infraestrutura e fomento da pesquisa científica e tecnológica • Apoio à infraestrutura das Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs) e de Institutos de Pesquisa Tecnológica (IPTs). • Fomento ao desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação. • Programa Nova RNP – internet avançada para educação e pesquisa. • Unidades de pesquisa científica de tecnológica do MCT. Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas 1. Apoio à Inovação Tecnológica nas Empresas • Apoio financeiro às atividades de P,D&I e à inserção de pesquisadores nas empresas. • Apoio à cooperação entre empresas e ICTs. • Iniciativa nacional para inovação. • Capacitação de recursos humanos para inovação. • Implementação de centos de P,D&I empresariais. 2. Tecnologia para a inovação nas empresas • Sistema Brasileiro de Tecnologia – SIBRATEC 3. Incentivo à Criação e à Consolidação de Empresas Intensivas em Tecnologia • Programa Nacional de Apoio às Incubadoras e aos Parques Tecnológicos. • INOVAR – Fomento à criação de à ampliação da indústria de capital empreendedor no Brasil. • Uso do poder de compra para estimular o desenvolvimento tecnológico nas empresas nacionais de tecnologia. Fonte: Elaborado a partir de MCT (2007) 9 Uma explanação maior dos eixos Expansão e Consolidação do Sistema Nacional de C,T&I e Promoção da Inovação Tecnológica nas Empresas, podem ser vistos no Quadro 2, acima. 3. Políticas de incentivo à inovação tecnológica no Brasil: fontes de financiamento As políticas recentes de incentivo à inovação tecnológica no Brasil, quando comparadas a períodos anteriores, mostram um avanço considerável. De acordo com os dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, os investimentos com atividades de CTI passaram de R$ 9,5 bilhões em 2002, para R$ 15 bilhões para 2006. Se considerarmos a parcela de participação sobre o PIB, os investimentos brasileiros em C,T&I, em 2005, atingiram 1,28%. Não há dúvida que os investimentos têm sido importantes, mas é importante ressaltar que ainda não alcançaram patamares desejados, há décadas, de 2% do PIB. Com destaque, apresentam-se os investimentos do CNPq para a pesquisa, que passou de menos de R$ 50 milhões, em 1996, para mais de R$ 350 milhões em 2006. Em relação aos recursos da Finep (reembolsáveis e não reembolsáveis) houve também um avanço importante. Em 1999 eram de R$ 278 milhões e passaram para aproximadamente R$ 1,5 bilhões, em 2006 (MCT, 2007). Vamos agora apresentar os principais programas para promoção da inovação delineados pelo CNPq, pela Finep e pelo BNDES. 3.1 Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq As atividades do CNPq para o fomento à inovação têm fundamentalmente duas orientações: uma voltada à pesquisa científica e tecnológica, e outra direcionada para a formação de recursos humanos para pesquisa no Brasil, representando uma parcela significativa dos recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia. Os recursos são aplicados através da concessão de bolsas de pesquisa, para pesquisadores e instituições científicas e tecnológicas. Dentre os programas de fomento para o desenvolvimento de inovações tecnológicas podemos destacar quatro: 10 Programa RHAE-Inovação O Programa RHAE é um programa de formação de recurso humanos para áreas estratégicas, cujo objetivo é o de estimular a inserção de pesquisadores (mestres e doutores) em atividades de P&D nas empresas. Através de editais a empresa apresenta um projeto de pesquisa tecnológica e de inovação, que esteja alinhado às áreas da política industrial e tecnológica brasileira. Programa DCR – Desenvolvimento Científico e Tecnológico Regional O Programa DCR está inserido no programa geral de fortalecimento da capacitação científica e tecnológica. Consiste na concessão de bolsas e têm por objetivo promover a fixação de recursos humanos, com experiência em ciência, tecnologia e inovação em empresas públicas de P&D, empresas privadas que atuem em investigação científica ou tecnológica. Bolsas de Pós-Graduação para Pesquisadores de Empresas O programa de bolsas de pós-graduação para pesquisadores de empresas é constituído por dois tipos, a saber: PDI e SWI. A Bolsa PDI refere-se a uma bolsa de pós-doutorado, voltada para o ambiente empresarial e industrial, que visa possibilitar ao pesquisador a consolidação e atualização de seus conhecimentos, assim como agregar competência às ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação das empresas no país. A Bolsa SWI, por sua vez, corresponde a uma bolsa de doutorado sanduíche empresarial, que tem como finalidade incentivar o pesquisador em curso de doutorado, a realizar a parte experimental de sua tese em um ambiente empresarial, participando de ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação em empresas no país. Além das Bolsas Empresariais, outras bolsas de apoio às atividades de extensão, desenvolvimento tecnológico e inovação, tais como as Bolsas Tecnológicas e as Bolsas de Extensão, se destacam. As Bolsas Tecnológicas são utilizadas por estudantes universitários, técnicos de laboratório, pesquisadores, especialistas e consultores, participantes de projetos tecnológicos apoiados pelo CNPq. As principais modalidades são a (i) Iniciação Tecnológica e Industrial (ITI), destinada a alunos de graduação e ensino médio, 11 cujo objetivo é estimular o interesse para a pesquisa tecnológica; e (ii) Desenvolvimento Tecnológico e Industrial (DTI), voltada a profissionais com experiência em pesquisa, desenvolvimento e inovação. O aumento de concessão de a concessão de bolsas nessas modalidades, entre 2002 e 2006 foi de 75% e 86%, respectivamente. O CNPq oferece ainda as modalidades Especialista Visitante, de longa duração e de curta duração, e Estágio/Treinamento no País e no exterior. Programa TIB – Tecnologia Industrial Básica O Programa TIB tem por objetivo adequar e expandir a infraestrutura de serviços tecnológicos em metrologia, normalização, tecnologias de gestão e serviços de suporteà propriedade intelectual, e à informação tecnológica. O Programa TIB é importante para a adequação técnica ao comércio internacional, decorrente da crescente sofisticação do mercado e das exigências de certificação da qualidade. Está estruturado em dois subprogramas: i) Infraestrutura de Tecnologia Industrial Básica; e ii) Serviços Tecnológicos para Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia. em resumo, as ações de fomento têm por objetivo consolidar uma rede de serviços tecnológicos, conduzida pelos institutos e centros de pesquisa e desenvolvimento tecnológico e entidades tecnológicas setoriais. Buscam oferecer suporte a estrutura produtiva brasileira, no que se refere ao atendimento aos requisitos de qualidade em produtos, serviços e sistemas de gestão, de forma a aumentar a capacidade das empresas de competir tanto no mercado interno como no externo. Por outro lado, contribui para a proteção do mercado interno da entrada de produtos e serviços que não atendam aos critérios de qualidade requeridos (LAPLANE ET AL., 2007). 3.2 Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP A Financiadora de Estudos e Projetos – Finep é uma empresa pública de direito privado, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e integra o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI) como uma de suas principais agências. Tem como propósito promover e financiar a inovação e a pesquisa científica e tecnológica em empresas e Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs), por meio de recursos financeiros, sejam reembolsáveis e 12 não reembolsáveis. Em especial, a Finep destina financiamento a todos os segmentos que o compõem - universidades, institutos de pesquisas, instituições governamentais, organizações não governamentais e empresas. Possibilita a utilização de diferentes tipos de recursos financeiros, ou seja, recursos próprios, de terceiros e recursos de amplo uso no financiamento de atividades ligadas à inovação, incluindo desde a pesquisa básica até a popularização da ciência. A Finep atua com três modalidades de apoio: (i) apoio financeiro não reembolsável; (ii) financiamentos; e (iii) investimentos. Apoio financeiro não reembolsável Essa modalidade de apoio, inicialmente, foi destinada apenas às instituições sem fins lucrativos, para a realização de projetos de pesquisa científica, tecnológica ou de inovação, e realização de estudos, eventos e seminários voltados ao intercâmbio e difusão de conhecimentos. As instituições elegíveis para esse tipo de financiamento são as ICTs, que incluem universidades e outras instituições de ensino e pesquisa públicas ou privadas. A partir de 2006, o apoio financeiro não reembolsável passou a ser aplicado também a empresas, por meio de concessão de subvenção econômica. Financiamento reembolsável Referem-se às operações de crédito para financiamento de projetos de empresas. Essa modalidade de financiamento também pode incluir o mecanismo de equalização de juros, para reduzir os encargos totais a serem desembolsados pelas empresas. As empresas e outras organizações interessadas em obter crédito podem apresentar suas propostas à Finep a qualquer tempo. Investimentos Esta modalidade é destinada para as empresas inovadoras com alto potencial de crescimento através de investimento em fundos de capital de risco (capital empreendedor), do tipo fundos de venture capital e fundos de capital semente. A FINEP fomenta a construção de fundos nos quais participa de forma minoritária, junto com outros investidores. rachel Highlight rachel Highlight 13 Os principais programas das três modalidades de apoio, acima destacadas, são apresentados no Quadro 3. Quadro 3: Modalidades e principais programas da Finep Modalidades Programas Foco dos Programas Recursos reembolsáveis PRÓ- INOVAÇÃO Projetos de P,D&I e capacitação tecnológica, com prioridade para os setores da Política Industrial. JURO ZERO Inovação da produção à comercialização em Micro e Pequenas Empresas (MPEs), com parcerias regionais. FINEPSUL Apoio a projetos de infraestrutura de empresas brasileiras de consultoria de engenharia em Países da América do Sul. Recursos não reembolsáveis PAPPE Projetos de P&D de produtos e processos inovadores em fases que precedem a sua comercialização. Tem foco em pesquisadores e suas atividades desenvolvidas em empresas ou criação de MPEs tecnologicamente intensivas. SUBVENÇÃO ECONÔMICA PAPPE: Atividades inovadoras de empresas alinhadas à Política Industrial e setores estratégicos em parcerias com agentes regionais e estaduais, focando em MPEs. Inovação: Atividades inovadoras de empresas alinhadas à Política Industrial e setores estratégicos. Pesquisador na empresa: parcela da remuneração de mestres e doutores em atividades de inovação nas empresas. Investimentos INOVAR (Incubadora de Fundos) Capital empreendedor. INOVAR (Fórum de negócios) Capitalização de MPEs tecnologicamente intensivas. INOVAR SEMENTE Estruturação de fundos locais de capital semente. Fonte: Finep Vale salientar que, ao longo dos anos, a Finep revisou e ampliou seus programas de atuação de modo a adequá-los às demandas das políticas implantadas. 3.3 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES O BNDES está vinculado ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. O objetivo do BNDES é fomentar e apoiar operações associadas à formação de capacitações e ao desenvolvimento de ambientes inovadores, com o intuito de gerar valor econômico ou social e melhorar o posicionamento competitivo das empresas (BNDES,2018) rachel Highlight 14 Os programas de apoio atuam em diferentes estáticos da atividade de inovação. De acordo com Távora Júnior e Távora (2015), essa característica é importante pois possibilita a combinação de diferentes instrumentos financeiros. Os modelos de apoio ao financiamento da inovação oferecidos pelo BNDES são: Linha Inovação Tecnológica A linha Inovação Tecnológica tem como objetivo apoiar projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação com risco tecnológico e oportunidade de mercado, considerando que o desenvolvimento de produtos/processos seja novos ao menos para o mercado nacional, ou significativamente aprimorados Fundos de Investimentos – CRIATEC Os fundos Criatec são fundos de investimento em participações em MPME inovadoras. É destinado à capitalização das micro e pequenas empresas inovadoras. Tem por finalidade capitalizar micro e pequenas empresas inovadoras de capital semente e de prover um adequado apoio gerencial. Fundo Tecnológico (FUNTEC) Apoiam projetos de pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico e inovação (P, D & I). Destacamos alguns dos itens apoiáveis: • Aquisição de equipamentos novos de pesquisa, produzidos no País, necessários à realização do projeto de P, D & I; • Aquisição de equipamentos de pesquisa importados novos, sem similar nacional; • Aquisição de software desenvolvido com tecnologia nacional ou, quando não houver similar nacional, com tecnologia de procedência estrangeira; • Despesas com treinamento e capacitação tecnológica relacionadas ao projeto de P, D & I; • Aquisição, transferência e absorção de tecnologia a ser utilizada no projeto. Vale destacar que no levantamento dos programas de PD&I existentes no Brasil, verificamos iniciativas de várias instituições públicas, muitas delas com 15 mais de uma modalidade de apoio. Entretanto, pesquisas de inovação tecnológica no Brasil (Pintec) constatam que, aproximadamente um quinto das empresas industriais brasileiras que realizaram algum tipo de inovação, utilizam algum instrumento de apoio governamental, sendo a maior parte dos gastos com PD&I oriundos de recursos próprios. De acordo com Luna et al. (2008), as razões para a baixa aderência aos programas de incentivo são várias, dentreelas podemos destacar os gastos em pessoal e o grau de incerteza sobre os resultados. Quanto ao pessoal, os gastos são elevados em função da necessidade de se ter profissionais altamente qualificados para atuarem nas atividades de Pesquisa &Desenvolvimento (P&D). Para termos uma ideia da representatividade desses gastos, eles giram em torno de 50% do investimento em P&D, portanto, não é de fácil manutenção. Em relação à incerteza, o investimento precisa prever que nem sempre o processo de inovação resulta em um caso de sucesso. É preciso considerar que as percepções de risco entre empreendedores e investidores não é a mesma. Esta assimetria de informação gera uma diferença entre o custo de capital interno e de terceiros, e acaba sendo determinante na escolha do tipo de financiamento. Atividades 1. Explique por que é importante o apoio governamental para a promoção da inovação? 2. Quais as principias razões para o baixo índice adesão às políticas públicas de apoio a inovação no Brasil? 3. De que forma as políticas públicas podem influenciar as empresas interna e externamente? rachel Highlight rachel Highlight 16 Conclusão Podemos concluir nesta aula, que as políticas públicas são cruciais para o desenvolvimento da inovação, entretanto, ainda precisam superar obstáculos para sua implementação e maior adesão por parte das empresas. Disponililizar recursos financeiros, embora importantes, não são suficientes para a promoção da inovação no Brasil. É necessário avançar no desenvolvimento de um sistema nacional de inovação, no sentido de capacitar melhor as empresas, as instituições de ensino, a partir da formação de mão de obra especializada para a tecnologia, e outros agentes produtivos e econômicos. Resumo Nesta aula vimos a importância e o papel das políticas públicas para a promoção da inovação. Foi possível identificar os principais programas e linhas de financiamento disponíveis no Brasil para as empresas. Apesar de necessárias, as políticas públicas para a promoção da inovação no Brasil nem sempre estiveram presentes. Até o início da abertura econômica mundial, o Brasil optou por desenvolvimento baseados na substituição de importações. Tal modelo trouxe benefícios para o país, em termos de formação da estrutura industrial, mas não conseguiu avançar no desenvolvimento tecnológico e competir internacionalmente. Após este período de pouco incentivo para o desenvolvimento tecnológico, o Brasil retoma nos anos 2000 uma política industrial e tecnológica centrada no desenvolvimento da inovação. Para isso, vários programas de incentivo e linhas de financiamento têm sido disponibilizadas e passaram a desempenhar um papel importante na promoção da inovação no país. Embora ainda insuficientes para um desenvolvimento tecnológico competitivo, do ponto de vista internacional, houve um avanço importante nas últimas décadas. rachel Highlight 17 Leitura recomendada BESSANT, J.; TIDD, J. Inovação e empreendedorismo. Bookman, 2009. DAVILA, T.; EPSTEIN, M.J.; SHELTON, R. As regras da inovação. Bookman, 2009. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. Competindo pelo futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. Gulf Professional Publishing, 2005. TIDD J, BESSANT J. Gestão da Inovação. Porto Alegre: Bookman, 2015. Referências Bibliográficas CASSIOLATO, J. E.; LASTRES, H. M. 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