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ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS Vanessa Ramos Teixeira Implementação da política pública Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identi� car o ciclo das políticas públicas. Analisar as particularidades na implementação das políticas públicas. Veri� car como são implementadas as políticas públicas. Introdução A fase de implementação das políticas públicas está diretamente ligada aos processos de formação de agenda, de formulação de políticas e de tomada de decisões, os quais estruturam o modelo e a abrangência das políticas implementadas. Neste texto, você irá entender mais sobre implementação da política pública. Ciclo das políticas públicas De acordo com seus estudos sobre as políticas públicas, você já sabe que elas surgem como uma resposta do Estado às necessidades do coletivo, e se con- cretiza por meio do desenvolvimento de ações e programas, que objetivam o bem-comum e a diminuição da desigualdade social. Esses programas e ações precisam ser estruturados de maneira funcional e sequencial de modo a tornar possível a produção e organização do projeto. Afinal, o que seria o ciclo das políticas públicas? Trata-se de um pro- cesso formado por vários estágios, que considera, segundo Secchi (2010), a participação de todos os atores públicos e privados na elaboração das políticas públicas (governantes, políticos, trabalhadores e empresas); o poder que esses atores possuem e o que podem fazer com ele; o momento atual do país no aspecto social (problemas, limitações e oportunidades) e a organização de ideias e ações. Elaboração e Implementação_U3_C13.indd 1 17/10/2017 18:01:22 O ciclo das políticas públicas (policy cycle) é um ciclo deliberativo, cons- tituído pelos seguintes estágios: identificação do problema; formação da agenda; formulação de alternativas; tomada de decisão; implementação; avaliação. Segundo os estudos de Souza (2006), algumas vertentes do ciclo da política pública focalizam nos participantes dos processos decisórios, ao passo que outras focam no processo de formulação. Ainda de acordo com a autora, o ciclo das políticas públicas dificilmente reflete a realidade da vida política, pois elas se apresentam misturadas, as sequências se alternam, em alguns contextos, a identificação do problema está muito mais relacionado ao fim do processo do que ao início e os momentos de avaliação acontecem antes da definição do problema. Também denominadas de modelo sequencial, as políticas públicas são tomadas como resultado de um processo que se desenvolve em etapas, em um ciclo político que se repete. Nesse sentido, o importante não é uma explicação de como funciona o sistema político, mas sim a compreensão dos modos da ação pública, demonstrando as continuidades e/ou as rupturas, assim como as regras que são essenciais para funcionamento das políticas públicas. Agora que você já entendeu essas questões, é possível esquematizar as fases e formas de uma política pública, bem como entender os intervenientes para sua formação. Você verá, portanto, o processo que sucede à tomada de decisão e antecede os primeiros esforços avaliativos, verá o processo de im- plementação, ou seja, o momento em que as regras, as rotinas e os processos sociais são convertidos em intenções, ações e resultados. Modelos de implementação de políticas públicas Seguindo os estudos de Secchi (2010), podemos considerar que há dois modelos de implementação das políticas públicas: o de cima para baixo (modelo top-down, centralizado, aplicação do governo para a sociedade) e o de baixo para cima (modelo bottom-up, descentralizado, aplicação da sociedade para Implementação da política pública2 Elaboração e Implementação_U3_C13.indd 2 17/10/2017 18:01:23 o governo). No modelo de cima para baixo, poucos atores participam das deci- sões e das formas de implementação. Trata-se de uma concepção hierárquica da administração pública, sendo as decisões cumpridas sem indagações. No modelo de baixo para cima, os favorecidos pelas políticas, atores públicos e privados, são chamados para participar do processo. Observe a Figura 1. Figura 1. Modelos de implementação de políticas públicas. Fonte: Adaptada de Secchi (2010). Para o modelo apresentado na Figura 1, você pode perceber o processo de tomada de decisão no topo da hierarquia ou longe do topo da hierarquia em uma organização, respectivamente, seja ela do âmbito público ou privado, que pode ser centralizada ou descentralizada. A escolha pelo modelo centrali- zado ou descentralizado considera uma série de fatores, como distribuição de poder, grau de formalização, complexidade do ambiente, cultura e estratégia empresarial, tecnologia e recursos empregados, entre outros. A centralização é a maneira em que a localização da tomada de decisão está próxima do topo hierárquico da organização. Já na descentralização os níveis hierárquicos mais baixos estão pressionados a tomarem decisões. Contudo, essa tendência não significa que todas as organizações deveriam descentralizar todas suas decisões. Cada organização deve ter a localização da tomada de decisão na hierarquia de acordo com a sua necessidade. Analisando o modelo top-down (de cima para baixo), Secchi (2010, p. 46) afirma que sua característica marcante se deve: 3Implementação da política pública Elaboração e Implementação_U3_C13.indd 3 17/10/2017 18:01:23 [...] pela separação entre o momento da tomada de decisão e de imple- mentação, em fases consecutivas. Esse modelo é baseado na distinção entre “Política e Administração”, no qual os tomadores de decisão (polí- ticos) são separados dos implementadores (administração). Você pode notar que nesse modelo há uma visão funcionalista e tecnicista de que o processo de elaboração das políticas públicas se limita à esfera pública, sendo o processo de implementação um “esforço” administrativo de se chegar aos meios para os fins previamente estabelecidos. Já o modelo bottom-up (de baixo para cima) tem como característica a liber- dade de ação dos burocratas somados à rede de atores que se auto-organizam para planejar o modelo de implementação da política pública. Veja como Secchi (2010, p. 48) o define: Nesse modelo é reconhecia a limitação da decisão tecnológica. Os im- plementadores têm maior participação no escrutínio do problema e na prospecção de soluções durante a implementação e, posteriormente, os tomadores de decisão legitimam as práticas já experimentadas. A imple- mentação é predominantemente avaliada pelos resultados alcançados a posteriori, em vez da avaliação baseada na obediência cega a prescrições. Se no modelo top-down há uma visão funcionalista e tecnicista do processo de elaboração das políticas públicas, no modelo bottom-up existe a possi- bilidade de modificá-las e ajustá-las por parte dos gestores e burocratas. A política pública é, portanto, passível de (re)modelação por parte daqueles que a implementaram. Esse fato não é considerado como um desvirtuamento, mas como uma necessidade de ajustes daquele que se depara e olha criticamente para os problemas práticos que surgem durante o processo de implementação. O modelo top-down é o mais indicado para se verificar a falhas na dinâmica da im- plementação (falhas na administração), ao passo que o modelo bottom-up é o mais sólido para se verificar as falhas na dinâmica da elaboração de soluções e tomada de decisão (falhas na elaboração da política). Implementação da política pública4 Elaboração e Implementação_U3_C13.indd 4 17/10/2017 18:01:23 Agora que você analisou cada um dos modelos é capaz de identificar alguma diferenciação entre eles? A implementação de uma política pública, segundo a perspectiva top-down, terá sua atenção inicial voltada para os documentos que formalizam os detalhes da política a ser implementada (objetivos, elementos de punição ou recompensa, delimitação do grupo ao qual sedestina, etc.) para, a partir de então, se analisar em campo as falhas da implementação. Já pela perspectiva bottom-up, teremos uma observação empírica de como a política pública tem sido aplicada na prática, quais estratégias utilizadas pelos imple- mentadores e policy makers, os problemas e obstáculos práticos, para a partir de então verificar como a política pública deveria ser, ou seja, entender os porquês das desconexões, e tentar compreender como o processo de elaboração da política pública chegou a imprecisões prescritivas (SECCHI, 2010, p. 48-49). Policy makers: Segundo os estudos realizados por Herbert Simon em 1957 (apud SECCHI, 2010), este termo pode ser entendido como a criação de um meio racional de estruturas que possa satisfazer as necessidades próprias dos tomadores de decisão. Importância do processo de implementação de uma política pública Partindo das análises de Secchi (2010) para o desenvolvimento de um bom processo de implementação, é preciso, entre outros fatores, que: o programa disponha de recursos suficientes; a política implementada tenha um embasamento teórico adequado em relação ao problema e a sua solução; haja uma só agência implementadora ou baixo nível de dependência entre elas; exista completa compreensão dos objetivos a serem atingidos, bem como das tarefas a serem realizadas; ocorra aprimorada comunicação entre os elementos envolvidos no programa. 5Implementação da política pública Elaboração e Implementação_U3_C13.indd 5 17/10/2017 18:01:23 Dessa forma, a implementação não se reduz apenas a um problema técnico ou administrativo, mas, a partir de um grande “emaranhado” de elementos políticos previamente “bem-intencionados” se corretamente planejados, podem e são implementados resultado em políticas públicas eficiente com retorno significativo para a sociedade. Você deve estar se questionando sobre qual a importância de se estudar a implementação de uma política pública? A importância desse estudo está na possibilidade de visualização, a partir de instrumentos analíticos estruturados (dados estatísticos, análise de resultados, pesquisas, etc.), dos obstáculos e falhas que costumam ocorrer nessa fase do processo em diversas áreas das políticas públicas, por exemplo, na saúde, educação, habitação, meio ambiente, saneamento, políticas de gestão, entre outras. Ao estudar previamente a fase de implementação, também temos a pos- sibilidade de visualizar os possíveis erros anteriores à tomada de decisão, identificando os problemas que foram mal formulados, os objetivos que não foram bem traçados, as falhas de formulação, etc. De acordo com Secchi (2010), a fase da implementação é o momento em que a administração pública realiza a transformação das intenções políticas em ações concretas, ou seja, é o momento em que as regras, rotinas e processos sociais se convertem intenções a ações e resultados. Você deve, portanto, atentar que o processo de implementação também deve ser gerenciado, ou seja, as funções administrativas (líderes políticos, coordenadores de ações públicas) devem ser capazes de compreender os elementos motivacionais dos atores envolvidos, as barreiras técnicas e legais presentes no processo, os conflitos e interesses políticos potenciais, as defi- ciências organizativas, além de agir diretamente em negociações somadas à cooperação por parte da população. Implementação da política pública6 Elaboração e Implementação_U3_C13.indd 6 17/10/2017 18:01:23 1. A qual etapa se refere a implementação de políticas públicas? a) Refere-se à quinta etapa. b) Refere-se à terceira etapa. c) Refere-se à segunda etapa. d) Refere-se à sexta etapa. e) Refere-se à sétima etapa. 2. Quais são os modelos utilizados para a compreensão da fase de implementação das políticas públicas? a) Somente o modelo o top-down. b) O modelo top-down (de cima para baixo) e bottom-up (de baixo para cima). c) O modelo top-up (de cima para baixo) e bottom-down (de baixo para cima). d) Somente o modelo bottom- down (de baixo para cima). e) Somente o modelo top-up (de baixo para cima). 3. O processo de implementação de políticas públicas no modelo top-down refere-se a um processo tecnicista em que: a) os atores políticos nas fases de tomada de decisão e de implementação da política pública são os mesmos. b) os atores políticos na fase de tomada de decisão podem ou não ser os mesmos da fase de implementação da política pública. c) há diferença entre os atores políticos em todas as fases da implementação da política pública. d) há diferença entre os atores políticos na fase de tomada de decisão e na fase de implementação da política pública. e) os atores que implementam as políticas públicas são todos os mesmos, menos na fase de implementação da política pública. 4. O modelo bottom-up pressupõe que: a) há maior participação dos atores políticos envolvidos, mas não há vontade política para solucionar o problema. b) há maior participação dos atores políticos envolvidos e entendimento acerca do problema a ser resolvido, seja por vontade política ou pela participação do problema. c) os atores políticos não estão muito envolvidos no processo de solução do problema. d) há pouco envolvimento dos atores políticos, pois eles fazem parte de fases diferentes do ciclo de implementação das políticas públicas. e) há uma maior participação dos atores políticos envolvidos e um grande entendimento acerca do problema a ser resolvido, mas há pouca participação das pessoas que realmente fazem parte do problema. 5. O modelo bottom-up permite mais ações assertivas, já que no momento da implementação da política pública este modelo: a) permite outras fontes de financiamento para implementação da política pública. 7Implementação da política pública Elaboração e Implementação_U3_C13.indd 7 17/10/2017 18:01:24 SECCHI, L. Políticas públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos. São Paulo: Cengage Learning, 2010. SOUZA, C. Política públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano 8, n. 16, p. 20-45, jun./dez. 2006. Leituras recomendadas ARAUJO, L.; RODRIGUES, M. L. Modelos de análise das políticas públicas. Sociologia, Problemas e Práticas, Lisboa, n. 83, p. 11-35, 2017. CAPELLA, A. C. N. Perspectivas teóricas sobre o processo de formulação de políticas públicas. In: HOCHMAN, G.; ARRETCHE, M.; MARQUES, E. (Org.). Políticas públicas no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2007. p. 87-121. SECCHI, L. Políticas públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2013. b) tem maior flexibilidade, pois permite que o Estado intervenha mais na implementação da política pública. c) permite mais discussões acerca do problema a ser enfrentado, auxiliando em ajustes e alinhamentos mais eficazes, pois todos os envolvidos fazem parte do problema. d) tem maiores informações acerca do problema, permitindo, assim, ações mais focadas; porém é o Estado que conduz esses ajustes. e) tem mais flexibilidade, pois permite que todas as esferas políticas tenham acesso, ao mesmo tempo, à implementação da política pública. Implementação da política pública8 Elaboração e Implementação_U3_C13.indd 8 17/10/2017 18:01:26 Conteúdo:
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